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A ESPECIFICIDADE DA

TÉCNICA ANALÍTICA
 A Escuta do Inconsciente
 A Linguagem

 O Simbólico
Implicações da Linguagem na constituição
do Sujeito
 Na Psicanálise, foi Lacan que permitiu o
estabelecimento rigoroso e sistemático do conceito
de estrutura. Ele apropriou-se dos instrumentos
conceituais da antropologia social e da lingüística
para formular que o campo psicanalítico é fundado
na e pela linguagem.

 O modelo da linguagem seria a matriz teórica para


se representar a existência e o funcionamento
psíquico do registro do inconsciente.

 Lacan sublinhou que o registro simbólico seria a


instância dominante no psiquismo humano e
fundante do sujeito do inconsciente, não existindo
qualquer possibilidade de se enunciar o mesmo fora
do registro simbólico.
Implicações da Linguagem na constituição
do Sujeito

 De acordo com Lacan, a linguagem constitui um


dos aspectos centrais na compreensão de
conceitos chaves na abordagem psicanalítica.

 Ao ancorar-se nessa perspectiva para falar da


constituição do sujeito, Lacan discorre acerca de
“um universo que fala ”, desde o momento anterior
ao nascimento do sujeito. Este se encontra inserido
em uma instância simbólica antes mesmo de poder
tomá-la como sendo própria.

 Dessa forma, para que a instauração do registro


simbólico possa se dar e, por conseguinte, a
submissão desse sujeito ao campo da linguagem,
faz-se necessária a existência do Outro, que exerce
a função materna.
Implicações da Linguagem na Constituição
do Sujeito

 Para que a apropriação do simbólico seja feita


pelo infans, a presença do Outro não é, todavia
suficiente em si mesma. É preciso que se faça
presente, sobretudo, o desejo do Outro.

 O posicionamento assumido por Lacan aponta,


desse modo, para um pensamento onde o bebê
só pode ingressar no simbólico a partir de uma
relação fundamental com o Outro. Este precisa
representar, para ele, não apenas o mediador da
linguagem enquanto código, mas também, de
um discurso que lhe atribua um lugar a ocupar.
IMPLICAÇÕS DA CONCEPÇÃO DO
SUJEITO
 Lugar que aponta para a criança a questão
mesma da existência ao ser responsável por
localizá-la subjetiva e socialmente, a partir
de significantes provenientes do Outro.
Sendo assim, esses significantes norteiam
um modo de ver e de organizar o mundo que
será, para sempre marcado pelo discurso do
Outro, uma vez que a cadeia de significantes
advém do campo do Outro.

 O surgimento do sujeito resulta numa


intrincação irreversível do desejo, da
linguagem e do inconsciente, cuja estrutura
organiza-se em torno da ordem significante.
IMPLICAÇÕS DA CONCEPÇÃO DO
SUJEITO
 É a partir da relação estabelecida com o Outro
que a possibilidade de entrada de um terceiro
na relação, até então dual, existente entre a
mãe e o bebê, se faz possível.

 Com isso, a constituição subjetiva ocorre de


modo que, ao final do Édipo, o sujeito será
levado a fazer uma escolha que culminará na
formação básica de sua estrutura.

 Isto dependerá da entrada do pai simbólico,


da instalação da metáfora paterna que pode
ser facilitada, ou não, pela mãe.
Implicações da Linguagem na Constituição
do Sujeito
 Para Lacan, a própria obra freudiana convoca à
introdução de certos conceitos da lingüística no
campo teórico da psicanálise.

 A originalidade da obra lacaniana consistiu em


elaborar esta articulação entre a psicanálise e a
lingüística através da formulação de uma
hipótese geral sobre o inconsciente.

 A analogia estrutural entre certos processos da


linguagem e o dinamismo do inconsciente exige
uma incursão prévia no campo da lingüística.
Implicações da Linguagem na Constituição
do Sujeito

 A noção de estrutura só é central na obra


lacaniana na medida em que ela é
constantemente referenciada à estrutura
da linguagem.

 Em primeiro lugar, na medida em que esta


estrutura é colocada por Lacan como a
estrutura à qual o inconsciente deve ser
relacionado.

 Em segundo lugar, porque é o próprio ato


da linguagem que faz advir o inconsciente
e o lugar onde ele se exprime.
Implicações da Linguagem na Constituição
do Sujeito
 Esta analogia pode ser melhor identificada a partir de dois dos
principais princípios destacados por F. Saussure: por um lado,
a distinção radical entre significante e significado; por outro
lado, a discriminação dos dois eixos da linguagem.

 O signo lingüístico que não une uma coisa a um nome, mas um


conceito a uma imagem acústica.

 A imagem acústica não é apenas um som material, uma coisa


puramente física, mas a marca física desse som, a
representação que nos é dada por nossos sentidos; ela é
sensorial; o material aqui colocado refere-se à distinção que é
preciso ser feita entre o abstrato e o concreto.
Implicações da Linguagem na Constituição
do Sujeito
 São as expressões marca psíquica e representação
que prefiguram a distinção fundamental entre a
linguagem, a língua e a fala.
 As unidades lingüísticas são entidades psíquicas que
participam do registro da língua e não procedem da
fala. A linguagem deve ser considerada como a
utilização/articulação de uma língua falada por um
sujeito.
 Para Saussure, a língua é a linguagem menos a fala.
 O signo lingüístico pode ser visto, então, como uma
entidade psíquica de duas faces cujos elementos são
instituídos numa relação de associação.
Implicações da Linguagem na Constituição
do Sujeito
 Se o signo lingüístico é, antes demais nada,
relação, essa relação, que é aparentemente
fixa no sistema da língua, é suscetível de
modificações na dimensão da linguagem.

 Apesar de Saussure manter o termo signo


para exprimir a unidade lingüística, ele
prefere substituir significado por conceito e
significante, por imagem acústica.

 O signo torna-se, portanto, uma relação de


um significado a um significante. Esta relação
é apresentada
Conceito
como Significado
uma relação de oposição
S
separando
Imagem os elementos entre si, assim:
Significante S
acústica
Significante x Significado
 Tornou-se evidente, a partir de Freud, que a
psicanálise é uma experiência de fala, que exige
um reexame do campo da linguagem e de seus
elementos constitutivos, os significantes.

 Significante é o elemento do discurso, situável


tanto ao nível consciente como inconsciente, que
representa e determina o sujeito.

 Para Saussure, o significante é a representação


psíquica do som tal como os nossos sentidos o
percebem, ao passo que o significado é o conceito
a que ele corresponde.
Significante x Significado
 Para Saussure, o signo lingüístico é uma entidade psíquica
de duas faces: Ex.: O significado ou o conceito da palavra
árvore é a idéia de árvore e não o referencial, a árvore
real.

 O significante, igualmente uma realidade psíquica pois se


trata não do som material que se produz quando se
pronuncia a palavra árvore, mas da imagem acústica desse
som, que se pode ter na cabeça quando se declama uma
poesia mesmo sem pronunciá-la em voz alta.

 Lacan usa o conceito saussuriano de significante,


transformando-o, e enfatizando a sua autonomia.
Significante x Significado
 No sentido analítico, como na lingüística, o
significante é separado de sua referência real,
mas é igualmente definível além de qualquer
articulação com o significado, pelo menos num
primeiro momento.

 O jogo sobre os fonemas, cujo valor é totalmente


essencial nas crianças, demonstra a importância
que a linguagem possui para o ser humano,
antes de qualquer intenção de significar.
Significante x Significado
 Por outro lado, a psicose é uma outra ocasião para se
apreender, de uma forma direta, o que seria um
significante sem significação.

 Por exemplo, a frase que um psicótico ouve, em sua


alucinação, visa a ele, refere-se a ele, impõe-se a ele.
Por não estar relacionada com uma outra referência,
não possui uma verdadeira significação, nem tem a
função de comunicação com um interlocutor.

 O que Lacan se propõe salientar, é a existência de uma


barra entre o significante e o significado que afeta o
sujeito humano, em virtude da existência da
linguagem, e que faz com que, uma vez falando, ele
não saiba o que está dizendo.
Significante x Significado
 Se for concebida a autonomia do significante em
relação à significação, ele irá, portanto, assumir
uma função completamente diferente da de
significar: a de representar o sujeito e também de
determiná-lo.

 Tais significantes se associam e se repetem sem


qualquer controle do eu, se ordenam em cadeias
determinadas com rigor, da mesma forma como a
gramática determina a ordem da frase, revelando-se
completamente constrangedoras para o sujeito
humano.

 A questão do significante remete à da repetição:


retorno regular de expressões, de seqüências
fonéticas, de simples letras que destacam a vida do
sujeito, prontas a mudar de sentido a cada vez que
ocorrem, que insistem sem qualquer significação
definida.
Implicações da Linguagem na Constituição
do sujeito
 Em relação à oposição significante-significado,
Lacan a explorará no sentido da autonomia do
significante em relação ao significado, o que só é
concebível na medida em que o significante e o
significado não estão numa relação fixa.

 Sendo o signo lingüístico o elemento fundamental


do sistema da língua, um exame pormenorizado
de seu funcionamento no sistema faz surgir
certas propriedades que podem parecer
contraditórias. Essas propriedades são as
seguintes:
a) o arbitrário do signo;
b) a imutabilidade do signo;
c) a alteração do signo;
d) o caráter linear do significante.
Implicações da Linguagem na constituição
do Sujeito
a) O Arbitrário do Signo manifesta-se ao nível da própria
associação do significante e do significado. Não parece
existir elo necessário entre um conceito e a montagem
acústica que serve para representá-lo. Uma prova disto
é que de uma língua para outra a imagem acústica
varia para um mesmo significado dado.

o Entretanto, o arbitrário do signo não significa que o


signo tenha caráter aleatório. O arbitrário só vale para
o conjunto de uma determinada comunidade
lingüística: A palavra arbitrário não deve dar a idéia de
que o significante depende da livre escolha do sujeito
falante. Significa que ele é imotivado, arbitrário, em
relação ao significado com o qual não tem nenhuma
ligação natural na realidade, mas está atrelado a língua
culturalmente instituída.
Implicações da Linguagem na Constituição
do sujeito
a) Observações clínicas sobre o arbitrário
do signo

o É possível observar o problema do caráter aleatório


do signo lingüístico tanto a nível das linguagens
delirantes, quanto nas glossolalias psicopatológicas.

o É principalmente nos esquizofrênicos que é possível


encontrar distúrbios bastante profundos da
linguagem, nos quais parece que a estruturação
delirante da locução interpela a diferença que existe
entre o caráter arbitrário do signo e o caráter
aleatório do signo.
Implicações da Linguagem na Constituição
do Sujeito
a) Observações clínicas sobre o arbitrário do
signo:

o Sem perder de vista o ensino de Freud, que insiste em


explicar que na esquizofrenia as representações de palavras
põem-se a funcionar como representações coisas, Saussure
elucidou, a partir da noção de signo lingüístico, essa
possibilidade de associação aleatória de um significado com
um significante.

o É esse mecanismo de desconexão do significante e do


significado que levará Lacan a falar de desenfreamento do
significante. O que pode aparecer como esse desenfreamento
é efeito de uma alteração específica da utilização do signo
lingüístico que seria o momento em que o significante
depende da livre escolha do sujeito falante.
Implicações da Linguagem na Constituição
do Sujeito
o Serge Leclaire mostra como dois processos podem
intervir na alteração do signo: um mesmo significado
pode encontrar-se associado a qualquer significante;
ao mesmo tempo em que um mesmo significante pode
encontrar-se associado a qualquer significado.

o Nos dois casos, há um arbitrário do signo


estritamente individual, estritamente subjetivo que,
portanto, não é mais um arbitrário próprio à uma
comunidade lingüística, neste caso, é mais adequado
chamá-lo de aleatório.

o Na medida em que se trata aqui do arbitrário próprio


e pontual de um sujeito, a associação
significado/significante pode ser considerada como
totalmente submetida às possibilidades de
combinações aleatórias.
Implicações da Linguagem na Constituição
do Sujeito
a) A glossolalia é uma aptidão para inventar e falar línguas
novas, estritamente incompreensíveis para todos, exceto
para aquele que as fala. Nestas construções lingüísticas
originais, é possível observar que uma estrutura sintática,
mais ou menos rudimentar, existe com esta característica de
ser quase sempre análoga à da língua materna daqueles que
sofrem de glossolalia.

o Na glossolalia, o processo de associação é aleatório e


extemporâneo. O signo surge como que à revelia do sujeito,
de tal forma que o sujeito está como que alucinado pelo
produto de suas próprias invenções lingüísticas.

o Essas associações significados/significantes podem


construir-se apesar do sujeito, podendo até espantá-lo.
Implicações da Linguagem na Constituição
do Sujeito
b) A Imutabilidade do Signo

o O arbitrário intrínseco ao signo deve-se ao fato de que o


significante é livremente escolhido com relação à idéia que
ele representa. Entretanto, uma vez escolhido, este
significante impõe-se à comunidade dos falantes e, neste
sentido, se torna imutável, faz parte da língua falada pela
comunidade.

o É preciso, portanto, admitir que o arbitrário do signo é o


que, de certa forma, dá origem à submissão de uma
comunidade lingüística à língua. Sobre isto, diz Saussure:
“Não somente um indivíduo seria incapaz, se quisesse, de
modificar no que quer que fosse a escolha feita, mas
também a própria massa não pode exercer soberania sobre
uma única palavra, ela está ligada à língua tal como ela é.”
Implicações da Linguagem na Constituição
do Sujeito
b) A Imutabilidade do Signo
o Isto tende a mostrar até que ponto um sujeito é
submetido à sua língua, e quanto é verdadeiro o fato de
que tudo se passa como se a língua tivesse um certo
caráter de fixidez, em razão do consenso que a
comunidade lingüística adota em relação a ela.

o Por uma convenção arbitrária do signo, a comunidade


lingüística instala, necessariamente, este signo numa
tradição, no tempo. Diz Saussure a este respeito: “Existe
uma ligação entre dois fatores antinômicos: a convenção
arbitrária do signo, em virtude do qual a escolha é livre, e
o tempo, graças ao qual o signo é fixado. É por ser
arbitrário que o signo não conhece outra lei que a tradição
e é por fundar-se na tradição que pode ser arbitrário.”
Implicações da Linguagem na Constituição
do Sujeito
c) A Alteração do Signo
o A alteração do signo é o resultado da prática social da
língua ao longo do tempo. Se é por ser imutável que o
signo lingüístico pode perdurar, é por perdurar no
tempo que ele pode se alterar.

o Há, portanto, uma relação de reciprocidade


contraditória entre imutabilidade e mutabilidade.

o De modo geral, a alteração do signo é sempre da ordem


de um deslocamento da relação entre significante e
significado.

o No nível do significante trata-se de alterações fonéticas;


ao passo que ao nível do significado, trata-se de uma
modificação do conceito enquanto tal. A alteração do
significado é coextensiva a uma modificação de
compreensão e de extensão do conceito.
Implicações da Linguagem na Constituição
do Sujeito
d) O Caráter Linear do Significante
o A língua é uma estrutura porque além dos seus elementos
componentes, os signos, supõe leis que governam esses
elementos entre si. Essas leis intervêm quando o caráter
linear do significante é abordado.

o A seqüência orientada na organização significante dá


origem ao que Lacan denominou cadeia significante. Com a
cadeia significante vêem-se colocados dois problemas
específicos: por um lado, o problema das concatenações
significativas; por outro, a questão das substituições
suscetíveis de intervir nos elementos significativos.

o Essas duas ordens de problemas são sancionadas em toda


língua, pela existência de leis internas de natureza diferente
segundo rejam as concatenações ou as substituições.
Implicações da Linguagem na Constituição
do Sujeito
Os Dois Eixos da Linguagem

 Falar implica efetuar duas séries de operações simultâneas:


de um lado, o plano da seleção, eixo paradigmático, que
supõe a escolha de um termo entre outros, implicando uma
possibilidade de substituição dos termos entre si.

 Por outro lado, o plano da combinação, eixo sintagmático,


que requer um certo tipo de articulação das unidades
lingüísticas, a começar pela configuração de uma certa
ordem nas unidades de significação.

 Esses dois planos dizem respeito à distinção que Saussure


faz entre a língua e a fala. Essas duas dimensões participam
da linguagem e cada uma opera segundo um dos dois eixos.
Implicações da Linguagem na Constituição
do Sujeito
 O eixo das seleções diz respeito ao sistema da língua
enquanto escolha lexical. O eixo das combinações está
ligado à fala, enquanto utilização dos termos lexicais
escolhidos.

 Os estudos de Jakobson sobre a afasia o levaram a


considerar o sistema da linguagem em função do modo
pelo qual os termos se encontrem associados: por
similitude ou por contigüidade.

 Ele isola dois tipos de afasia, que podem ser distinguidos


de acordo com o tipo de processo que esteja deteriorado:
de seleção ou o processo de combinação. Quando a
deterioração recai sobre a escolha lexical, a seleção, o
afásico encontra dificilmente as palavras. Ele utiliza, então,
no lugar da palavra procurada uma palavra que se
encontra numa relação de contigüidade com esta. Quando
é a articulação dos termos lexicais, combinação, que está
deteriorada, o afásico procede por similitude.
Implicações da Linguagem na Constituição
do Sujeito
 O desenvolvimento do discurso pode se dar
ao longo de duas linhas semânticas
diferentes:
Eixo sintagmático
eixo da fala
Combinação – Contigüidade - Metonímia
Seleção – Similitude - Metáfora
Eixo paradigmático
eixo da linguagem
Implicações da Linguagem na constituição
do Sujeito
 A versão freudiana apresenta um paradoxo: não
somente o signo não é para ser lido em sua relação
contextual, que equivale ao valor em Saussure, como
também o significado do significante não é um
conceito delimitável no interior do campo lingüístico
propriamente dito, ele é o desejo.

 Como foi visto, o significante, para Saussure, é a


representação psíquica do som tal como nossos
sentidos o percebem, e o significado é o conceito a
que ele corresponde. O signo lingüístico seria uma
entidade psíquica de duas faces:

 Por exemplo, o significado, ou conceito, da palavra


árvore é a idéia de árvore e não o seu referencial, a
árvore como tal na realidade.

 O significante é, igualmente, uma realidade psíquica,


pois se trata não do som material que se produz
quando se pronuncia a palavra árvore, mas da imagem
acústica desse som.
Implicações da Linguagem na constituição
do Sujeito

 As operações metafóricas e metonímicas em ação na


linguagem e a abordagem clínica das psicoses, em que o
signo lingüístico é alterado por uma invasão do
significante, levam Lacan a inverter o algoritmo de
Saussure para afirmar a supremacia do significante sobre
o significado: o significante vai consistir na estrutura
sincrônica do material da linguagem, ao passo que o
significado o rege historicamente.

 Esta modificação introduzida por Lacan, acentua a


existência de uma barra entre o significante e o
significado que afeta o ser humano e que faz com que,
falando, ele não saiba o que diz. O sintoma, por exemplo,
diz alguma coisa de modo indireto, inaudível e pode ser
considerado como o significante de um significado
inaccessível para o sujeito.
Implicações da Linguagem na constituição
do Sujeito
 Se o significante for concebido como autônomo em relação
à significação, ele irá, portanto, assumir uma função
complementar diferente da de significar: a de representar
o sujeito e também a de determiná-lo.

 Exemplo: Um homossexual confessa espontaneamente sua


preferência por jovens de um certo estilo, de uma certa
idade, que, para ele, seriam mais bem descritos como “os
pequenos soldados”. Sua análise leva à lembrança de uma
grande harmonia com a sua mãe, lembrança cristalizada
em torno da recordação das tardes de verão, nas quais,
após longos passeios, ela o levava ao café e pedia: “ ah,
para ele, uma soda pequena”. Evidentemente, esse tipo de
lembrança não implica que, de acordo com a psicanálise,
tudo na vida seja esclarecido por algumas palavras ouvidas
na infância. Porém, isso ajuda a caracterizar, no sujeito
humano, a função do significante.
Implicações da Linguagem na constituição
do Sujeito
 A forma como esse homem nomeia o objeto do seu desejo, e,
portanto, determina seus traços, nada mais faz do que remetê-lo a
um significante ouvido na infância, que tanto mais irá insistir
quanto menos for reconhecido como tal.

 Segundo a fórmula de Lacan, “um significante é aquilo que


representa o sujeito para outro significante”, é possível ver no caso
que o que conta, no “soldado”, não é sua significação, em relação,
por exemplo, à vida militar, mas sua significância, isto é, aquilo
que é produzido diretamente pela própria imagem acústica da
palavra ( uma soda pequena = pequeno soldado).

 Tais significantes que se associam e se repetem sem qualquer


controle do eu, que se ordenam em cadeias determinadas com
rigor, revelam-se constrangedoras para o sujeito humano.
Implicações da Linguagem na constituição
do Sujeito

 A questão do significante remete à da repetição:


retorno regular de expressões, de seqüências
fonéticas, de simples letras que decompõem a
vida do sujeito, prontas para mudar de sentido a
cada vez que ocorrem, que insistem sem qualquer
significação definida.

 O signo representa alguma coisa para alguém,


enquanto o significante representa o sujeito para
um outro significante.

 Lacan introduz inovações no sentido do


estabelecimento de uma relação de um fluxo de
significantes com um fluxo de significados.
Implicações da Linguagem na constituição
do Sujeito
 Para Lacan , não se trata mais de aceitar a idéia de um corte que
uniria o significante ao significado, ao mesmo tempo em que
determina a ambos, mas de introduzir esta delimitação através de
um conceito original que ele chama de ponto de estofo.

 Esta inovação é diretamente comprovada pela experiência


analítica, que demonstra que a relação do significante com o
significado é sempre fluída, prestes a se desfazer. A experiência
psicótica também ratifica a delimitação lacaniana do ponto do
estofo, ao mostrar que esse tipo de enlace entre o significante e o
significado parece precisamente faltar.

 Para Lacan, o ponto do estofo é a operação pela qual o


significante se associa ao significado na cadeia discursiva,
detendo, assim, o deslizamento, de outra forma indeterminado e
infinito, da significação.
Implicações da Linguagem na constituição
do Sujeito
 Com Lacan, a delimitação da significação fica
circunscrita ao conjunto da seqüência falada,
e não a unidades elementares sucessivas. É
sempre retroativamente que um signo faz
sentido, na medida em que a significação de
uma mensagem só advém ao final de sua
própria articulação significante.

 É na dimensão da posterioridade que o ponto-


de-estofo detém o deslizamento da
significação. A ambigüidade do problema da
enunciação fica suspensa, em grande parte, a
esta delimitação na posterioridade da
articulação.
IMPLICAÇÕS DA CONCEPÇÃO DO
SUJEITO
 Os significantes estão sempre relacionados a
uma repetição não intencional do sujeito
enquanto dotado de linguagem. A existência
de tais elementos se dá mediante ligações
estabelecidas com outros significantes, os
quais constituem conjuntamente uma
seqüência denominada por cadeia.

 Esta, por sua vez, somente apresenta seu


sentido quando lida retroativamente, pois
em si mesmas suas unidades nada
significam. Seus desdobramentos e efeitos
constituem o inconsciente do sujeito e,
portanto, governam a ele e seu discurso a
sua revelia, sem que esse se aperceba.
IMPLICAÇÕS DA CONCEPÇÃO DO
SUJEITO
 O ser humano, por depender da linguagem em sua
própria origem, se constitui como sujeito dividido,
alienando uma parte do seu ser no lugar do
inconsciente, inaugurado por esta mesma divisão.

 O desejo do sujeito tem como única saída fazer-se


palavra endereçada ao outro. O sujeito do desejo,
identificado ao sujeito do inconsciente, dissimula-
se sob a máscara do sujeito do enunciado a quem
parece reportar-se esta palavra, o dito, para não
se fazer ouvir senão pelo outro a quem esta
palavra se endereça em sua enunciação, no seu
dizer.
IMPLICAÇÕS DA CONCEPÇÃO DO
SUJEITO
 Lacan introduz uma diferenciação importante
entre a necessidade, o desejo e a demanda, que
induz uma estrutura peculiar com relação ao
desejo inconsciente do sujeito. Este desejo
tende a organizar-se numa relação com o outro
apoiada na intencionalidade da necessidade, é
que ele viverá ao longo desta experiência seu
desejo como sendo, antes de mais nada, desejo
do desejo do Outro.

 O resultado disso se expressa em todo seu


alcance nesta tese: o inconsciente é o discurso
do Outro, e define-se a função de tal desejo na
inserção que mantém com o inconsciente do
sujeito.
A NECESSIDADE – O DESEJO – A
DEMANDA
 A problemática do desejo ao ser articulada por Lacan em
relação à necessidade e à demanda, só toma seu sentido
pleno ao utilizar como referência a concepção freudiana
das primeiras experiências de satisfação onde Freud situa
a essência do desejo e a natureza de seu processo.
 O processo pulsional manifesta-se inicialmente na criança
pelo surgimento de um desprazer ocasionado pelo estado
de tensão inerente à fonte de excitação da pulsão. A
criança está numa situação de necessidade que exige ser
satisfeita. Sob este ponto de vista, neste nível da
experiência primeira de satisfação, o processo desenrola-
se num registro essencialmente orgânico.
A NECESSIDADE – O DESEJO – A
DEMANDA
 Conseqüentemente, o objeto que lhe é
proposto para a satisfação, lhe é proposto
sem que ela o busque e sem que lhe seja
dado uma representação psíquica dele. Ela
não sabe nomear o que precisa, seu
desamparo inicial torna indispensável um
Outro para decodificar sua necessidade. Sua
dependência deste Outro é absoluta.

 Nestas condições, o processo pulsional em


ação nesta primeira experiência de satisfação
é da ordem da pura necessidade, uma vez
que a pulsão é satisfeita sem mediação
psíquica. Por outro lado, esse processo de
satisfação está na origem de um prazer
imediato ligado à redução do estado de
tensão originário da pulsão.
A NECESSIDADE – O DESEJO – A
DEMANDA
 Esta primeira experiência de satisfação deixa um
traço na memória no aparelho psíquico, na medida
em que a satisfação irá encontrar-se ligada, daí em
diante, à imagem do objeto que proporcionou esta
satisfação. Este traço constitui a representação o
processo pulsional para a criança.

 Quando o estado de tensão reaparecer, o traço de


memória será reativado, e o traço de memória
deixado pela satisfação será reinvestido. Após a
primeira experiência de satisfação, a manifestação
pulsional não pode mais aparecer como uma mera
necessidade. Necessariamente, tornou-se uma
necessidade ligada a uma representação mnésica
de satisfação.
A NECESSIDADE – O DESEJO – A
DEMANDA
 No decorrer da experiência de satisfação seguinte, esta
representação, reativada pela excitação, vai ser identificada
pela criança. No entanto, a criança irá confundir, num primeiro
tempo, a lembrança da satisfação passada com a percepção do
acontecimento presente. A confusão se dá entre o objeto
representado da satisfação passada e o objeto real capaz de
proporcionar uma satisfação no presente.

 A criança tende a a satisfazer-se, neste primeiro momento, sob


a forma de uma satisfação alucinatória. Somente após uma
certa repetição das experiências sucessivas de satisfação, a
imagem mnésica da satisfação será distinguida da real. Só
então, a criança irá utilizar essa imagem mnésica para orientar
suas buscas em direção ao objeto real de satisfação, na medida
em que este objeto esteja em conformidade com a imagem.
Esta imagem constitui-se como modelo do que será buscado na
realidade para satisfazer a pulsão.
A NECESSIDADE – O DESEJO – A
DEMANDA
 A imagem mnésica funciona no aparelho psíquico
como uma representação antecipada da satisfação
ligada ao dinamismo do processo pulsional.

 Para Freud, “o desejo nasce de um reinvestimento


psíquico de um traço mnésico de satisfação ligado à
identificação de uma excitação pulsional”. É graças
`primeira associação produzida no psiquismo que o
reinvestimento da imagem mnésica pela pulsão
tornou-se possível.

 Este reinvestimento é um processo dinâmico visto


que, por outro lado, pode antecipar a satisfação de
modo alucinatório. A essência do desejo deve ser
procurada neste dinamismo.
A NECESSIDADE – O DESEJO – A
DEMANDA
 Uma conclusão se impõe: não existe, em última
análise, satisfação do desejo na realidade. Apesar
das acomodações discursivas que levam a evocar a
“satisfação” ou “insatisfação” do desejo, a dimensão
do desejo não tem outra realidade que não seja uma
realidade psíquica.

 É a pulsão que encontra, ou não, um objeto de


satisfação na realidade. O que ela pode fazer em
função do desejo, é mobilizar o sujeito em direção ao
objeto pulsional, mas como tal, o desejo não tem
objeto na realidade.

 Lacan vai precisar a razão de ser desta ausência de


encarnação real do objeto do desejo.
A NECESSIDADE – O DESEJO – A
DEMANDA
 Com Lacan, a dimensão do desejo aparece ligada
intrinsecamente a uma falta que não pode ser preenchida
por nenhum objeto real. O objeto pulsional só pode ser um
objeto metonímico, deslocado, do objeto do desejo.

 Apoiando-se nos conceitos freudianos sobre a pulsão,


Lacan evidencia que a pulsão precisa ser distinguida da
necessidade: enquanto a necessidade é uma função
biológica ritmada, a noção de pulsão proposta por Freud,
aparece submetida a uma pressão constante.

 Por outro lado, se a satisfação da pulsão é atingir seu alvo,


como descreve Freud, Lacan objeta a esta tese todo o
problema da sublimação, como sendo um dos destinos
possíveis da pulsão, onde a pulsão é inibida quanto ao seu
alvo, colocando em questão a idéia de satisfação.
A NECESSIDADE – O DESEJO – A
DEMANDA
 A partir desta questão, Lacan destaca que a pulsão não
seria necessariamente satisfeita por seu objeto.

 Examinando o estatuto do objeto, Lacan aponta para a


diferença radical entre o objeto da necessidade e o
objeto da pulsão. Diz que nenhum objeto da
necessidade pode satisfazer a pulsão. A pulsão que
experimenta seu objeto descobre que não é através
deste objeto que ela se satisfaz. Por exemplo, o que
satisfaz a a pulsão na necessidade alimentar não é o
objeto alimentar, mas o prazer da boca.

 Diz ele: “Quanto ao objeto da pulsão, saiba-se que, na


realidade, ele não tem importância nenhuma. É
totalmente indiferente”.
A NECESSIDADE – O DESEJO – A
DEMANDA
 O objeto da pulsão capaz de preencher esta
condição não poderia ser um objeto da
necessidade. O único objeto que poderia
responder a esta propriedade só pode ser o
objeto do desejo, este objeto que Lacan
denominou como objeto a, objeto do desejo e
ao mesmo tempo objeto causa do desejo,
objeto perdido.

 Assim, o objeto a, enquanto eternamente


faltante, inscreve a presença de um vazio que
qualquer objeto pode vir a ocupar.

 Segundo Lacan, tal objeto, pode encontrar seu


lugar no princípio da satisfação de uma pulsão,
desde que aceitemos que a pulsão o contorne à
maneira de um circuito.
A NECESSIDADE – O DESEJO – A
DEMANDA
 O alvo da pulsão não é outra coisa senão o retorno em
circuito da pulsão à sua fonte, o que permite entender
como uma pulsão pode ser satisfeita sem atingir seu alvo.

 A dimensão do desejo pressupõe, em sua gênese, para


além da necessidade, a presença do Outro. O desejo só
pode inscrever-se no registro da relação simbólica com o
Outro e através do desejo do Outro.

 É preciso lembrar que as manifestações corporais da


criança só adquirem sentido na medida em que o Outro
lhes atribui um sentido. Deste ponto de vista, é o Outro
que inscreve a criança neste referente simbólico. A criança
fica assim irredutivelmente inscrita no universo do desejo
do Outro, na medida e que é cativa dos seus significantes.
A NECESSIDADE – O DESEJO – A
DEMANDA
 A mobilização significante das manifestações
corporais da criança constitui-se numa verdadeira
demanda de satisfação imperativamente esperada.

 Com esta demanda, é entabulada a comunicação


simbólica com o Outro, que encontrará depois uma
resolução através da metáfora paterna, com o
domínio da linguagem articulada. Por intermédio
desta demanda, a criança testemunha sua entrada no
universo de desejo, desejo este que como formula
Lacan, se inscreve sempre entre a demanda e a
necessidade.

 Se a demanda é antes de mais nada expressão de


satisfação de necessidade, perfila-se a demanda do
“a mais” que é antes de tudo demanda de amor.
A NECESSIDADE – O DESEJO – A
DEMANDA
 De uma maneira geral, a demanda é, portanto, sempre
formulada e endereçada a outrem. Ainda que ela incida
sobre um objeto de necessidade, é fundamentalmente
não essencial, porquanto demanda de amor na qual a
criança deseja ser o único objeto de desejo do Outro que
satisfaz suas necessidades.

 Este desejo do desejo do Outro encarna-se no desejo de


um “re-encontro” com a satisfação originária onde a
criança foi totalmente satisfeita sob a forma de um
gozar que não demandou nem esperou.

 O caráter único deste gozo procede de sua imediatitude


na experiência primeira de satisfação, onde ele não é
mediado por uma demanda.
A NECESSIDADE – O DESEJO – A
DEMANDA
 Já a segunda experiência de satisfação, que exige mediação,
confronta a criança com a perda. Alguma coisa se perdeu na
diferença que se instaura entre o que é dado imediatamente
à criança, sem mediação psíquica, e o que lhe é dado
mediatamente através das demandas.

 O surgimento do desejo fica pois suspenso à busca, ao “re-


encontro” da primeira experiência de gozo. Mas a partir da
segunda experiência de satisfação, a criança, tomada pela
submissão ao sentido, é intimada a demandar para fazer
ouvir o seu desejo.

 A criança é, portanto, conduzida a significar o que deseja. Em


geral, a mediação introduz uma inadequação entre o que é
desejado e o que se faz ouvir deste desejo na demanda. É
esta inadequação que dá a medida do impossível re-encontro
do gozo primeiro com o Outro: não é possível resgatar a
primeira satisfação proveniente de uma relação imediata,
sem demanda e nem significação.
A NECESSIDADE – O DESEJO – A
DEMANDA
 Este Outro que fez a criança gozar, por mais que seja
buscado, permanece inacessível e perdido devido à
cisão introduzida pela demanda.

 Este Outro perdido torna-se a Coisa – das Ding - da


qual a criança deseja o desejo, mas que nenhuma de
suas demandas, nas quais se apóie este desejo, jamais
poderá dar um significado adequado.

 A Coisa é inominável e sua essência está votada a um


impossível registro simbólico, na medida mesma em
que o fato da designação ratifica a relação impossível
com a Coisa; quanto mais a demanda se desenvolve,
mais aumenta essa distância com a Coisa.
A NECESSIDADE – O DESEJO – A
DEMANDA

 De demanda em demanda, o desejo se


estrutura como desejo de um objeto
impossível que está além do objeto da
necessidade. Objeto impossível que a
demanda se esforça por querer significar.

 O desejo renasce idêntico a si próprio,


sustentado pela falta que a Coisa deixou,
de tal forma que este vazio constitui-se
tanto como o que causa o desejo, como
aquilo a que o desejo.
A NECESSIDADE – O DESEJO – A
DEMANDA
 Além do fato de que esse vazio circunscreve um
lugar a ser ocupado por qualquer objeto, tais
objetos irão sempre constituir-se como objetos
substitutivos do objeto faltante.

 Neste sentido, não existe, na realidade, objeto


do desejo, a não ser que se designe tal objeto
como um objeto eternamente faltante,
equivalente ao objeto a, que por ser
testemunha de uma perda, é, em si mesmo,
objeto produtor de falta, na medida em que
essa perda é impossível de ser preenchida.

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