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Instituto Bíblico Betel Brasileiro

Seminário Teológico Evangélico


Coordenação de Ensino Presencial
Disciplina: Exegese do Antigo Testamento
NOÇÕES DE EXEGESE DO ANTIGO TESTAMENTO.

CONCEITO

Exegese significa narrar, expor, explicar detalhadamente, contar, relatar,


interpretar, descrever.
Portanto , exegese trata de esclarecer e de interpretar minuciosamente
um texto, extraindo do mesmo os pensamentos do escritor, bem como as
suas atitudes.
Sendo assim, o exegeta assume a responsabilidade de expressar, da
melhor forma possível, as características linguísticas, históricas, religiosas
e culturais do escritor. Para tanto, o exegeta utiliza-se de ferramentas
para que seu trabalho alcance o máximo de precisão a qual se pode
chegar.
A exegese constitui o alicerce para todo e qualquer trabalho de tradução,
e para tal, é extremamente necessário que haja um prévio conhecimento
do significado das palavras e expressões contidas no texto.
O que é necessário

- Buscar orientação divina;


- Delimitar o texto a ser analisado;
- Analisar de acordo com a história;
- Análise gramatical;
- Comparar versões;
- Fazer uma analogia entre textos variantes;
- Analisar o contexto teológico;
- Analisar o contexto geográfico;
- Análise literária;
- Anotar comentário explicativo;
- Valor da mensagem para o tempo em que ela foi escrita;
- Reparos na tradução.
Buscar orientação divina

Apesar da natureza científica, a exegese, em se tratando de sua aplicação


nas Sagradas Escrituras, é carente de uma orientação divina, visto que é a
própria palavra de Deus que está sendo analisada. Com a orientação do
autor, podemos ter uma compreensão clara, ampla, saudável e correta.
Como dependentes que somos da direção de Deus, devemos ter em
mente que a ação do Espírito Santo é substancialmente necessária para a
compreensão e a interpretação da Bíblia.
Delimitar o texto a ser analisado

O texto bíblico original não apresentava divisões como vemos hoje. Tais
divisões podem tornar o manuseio mais prático, porém pode, por outro
lado, tirar o foco do leitor.
Para uma boa exegese é necessário delimitar cuidadosamente o texto
que será trabalhado, e para tal, podemos observar elementos que:
1)Indicam um novo início (por exemplo: novos personagens, mudança de
estilo, mudança de assunto);
2)Indicam término (por exemplo: partida, aspectos temporais, término de
diálogo, verbos como “sair”, “expulsar”);
3)Surgem ao longo do texto (por exemplo: episódio dentro de um
episódio, ação).
Delimitar o texto – exemplo

Números 13 a Números 14.20


Números 13:
1.Deus manda Moisés enviar homens para espiara a terra de Canaã.
2.Moisés envia os cabeças dos filhos de Israel.
3.Os enviados espiam e voltam após 40 dias, relatando o que viram.
Números 14:
1.Ao ouvir o relato, o povo de Israel chora, murmura e deseja voltar para o
Egito.
2.Josué tenta animar o povo, mas não tem sucesso.
3.A glória do Senhor aparece na tenda da congregação a todo o povo.
4.Deus diz a Moisés que ferirá e rejeitará aquele povo, e que fará através
de Moisés um povo maior e mais forte.
5.Moisés intercede pelos filhos de Israel, e Deus o ouve e perdoa.
Análise histórica
A Bíblia foi feita dentro de um contexto histórico. Sendo assim, deve ser
analisada à luz da história.
Ao menos três aspectos devem ser considerados durante a análise
histórica:
- Situar o fato narrado dentro de sua época, para descobrir e
compreender a biografia dos personagens, os costumes locais, o
panorama econômico, as crenças e demais tradições;
- Situar o texto na época em que ele foi produzido, e enfatizar a
importância de compreender a razão de sua produção;
- A situação histórica do povo hebreu e dos povos vizinhos, bem como as
situações sociais observadas no Antigo Textamento.
É muito válido lembrar que em muitas ocasiões o texto escrito e o fato
não são contemporâneos, ou seja, comumente a história é narrada /
escrita mais tarde.
Exemplo: Gênesis 1.
Análise histórica – Exemplo: livro de Números

Autor: Moisés.
Data da escrita: entre 1440 e 1400 a.C.
Características gerais: a maior parte dos eventos descritos no livro de
Números ocorre no deserto, em especial no período compreendido entre o
2º e o 40º ano da peregrinação.
Seus primeiros 25 capítulos mostram as experiências da primeira geração de
Israel na passagem pelo deserto. Esta geração desobedeceu e, como vemos
em Nm.14.23, não viram a terra prometida aos seus pais, exceto Calebe e
Josué.
Os capítulos seguintes relatam as experiências da segunda geração.
Temas como obediência e rebelião são bem presentes em todo o livro.
Outro tema muito presente é o da santidade que Deus requer de seu povo.
Análise gramatical

Visto que os textos bíblicos tratam de assuntos valiosos, todo o trabalho


exegético deve ser realizado de forma cuidadosa no que diz respeito à
classificação gramatical de cada palavra envolvida no texto. Uma palavra
que é classificada como preposição, por exemplo, não pode ser
erroneamente compreendida como um adjetivo.
Quando a palavra pertencer a mais de uma categoria, é necessário que o
exegeta faça uma análise de todo o contexto, para que a interpretação
não fique corrompida ou tendenciosa.
Ainda dentro da análise gramatical, sempre que possível, é válido
conhecer as línguas envolvidas na criação do texto bíblico (hebraico,
aramaico, grego) e as línguas que em alguns trechos contribuíram com
palavras e expressões (assírio, árabe, fenício, siríaco, ugarítico).
Um dos aspectos mais importantes na análise gramatical é saber que uma
palavra não pode ser interpretada isolada do texto e do contexto.
Análise gramatical - Preposições
Na língua hebraica, temos a existência das Preposições, que podem mudar de
significado de acordo com a oração em questão.
A preposição por exemplo, pode significar objeto direto, e também pode ter
sentido de desvantagem, de benefício, direcional, norma, especificação ou locativo.

Em Nm.32.14, ela apresenta o sentido de desvantagem:

Eis que vós, raça de pecadores, vos levantastes em lugar de vossos pais para
aumentar ainda mais a ira do Senhor contra Israel.

No Salmo 25.1, tem sentido direcional:

A (até) ti, Senhor, elevo a minha alma.

Em Js.11.5, tem sentido locativo:

Todos esses reis se ajuntaram, vieram e acamparam junto às águas de Merom, para
pelejarem contra Israel.

Vemos, então, que a análise gramatical é uma etapa de suma importância na exegese.
Comparar versões
Todas as versões apresentam diferenças, e este é um aspecto que nenhum
exegeta pode relegar a segundo plano.
Por mais que as diferenças sejam, em alguns momentos, abismais, não
devem ser desprezadas. É prudente e até mesmo enriquecedor que se leve
em consideração o quê as versões existentes e disponíveis da Bíblia podem
oferecer.
Ao fazer as comparações, o trabalho exegético recebe maior estrutura no
momento de escolher a tradução que mais coerência apresenta.
Também é válido lembrar que:
- A ação de comparar versões não significa necessariamente acatar a todas
elas.
- O trabalho de tradução bíblica, quando tem o objetivo de ser publicado,
empreende grande esforço por parte dos tradutores, para que se chegue o
mais próximo possível do significado original. Portanto, por mais divergente
que possa parecer, sempre pode contribuir nas demais versões que estão
com sua tradução em andamento.
Comparar versões – Exemplo

Nm.13.30, ARC (Almeida revista e corrigida): Então Calebe fez calar o


povo perante Moisés e disse: Subamos animosamente e possuamo-la
em herança; porque certamente prevaleceremos contra ela.

Nm.13.30, NTLH (Nova tradução na linguagem de hoje): Aí o povo


começou a reclamar contra Moisés, mas Calebe os fez calar e disse: -
Vamos atacar agora e conquistar a terra deles; nós somos fortes e
vamos conseguir isso!
Analogia entre textos variantes

Para o estudante da Bíblia, o melhor e principal texto que se tem disponível


atualmente é a Bíblia Stuttgartensia, que é uma reprodução do Códice de
Leningrado. Este, por sua vez, é o mais antigo manuscrito do Antigo
Testamento, e data de 1009 d.C
Há também o aparato crítico da Stuttgartensia, no qual encontram-se
sugestões de variantes na leitura que é proposta.
Compreender as informações do aparato crítico da Biblia Stuttgartensia é um
trabalho complexo, visto que tal aparato apresenta um resumo das
abreviações mais utilizadas e também os termos latinos.
Alguns autores dedicaram grande tempo e esforço para trazer a lume uma
pesquisa mais profunda desta obra.
Uma ferramenta de muito valor na compreensão do aparato crítico encontra-
se na consulta dos comentários técnicos, realizados por exegetas renomados.
Análise do contexto teológico

Nesta análise é necessário, ao menos, averiguar o que o texto traz acerca de


Deus e suas relações com o homem e o universo.
Também é preciso comparar conceitos vistos no texto em questão e esses
mesmos conceitos em outros contextos e épocas.
Importante é observar se o assunto em foco apresenta alguma alteração,
tanto no aspecto prático quanto no aspecto teórico. Quando esta observação
é feita, aspectos diversos (como a época e a autoria, por exemplo) podem vir
à tona e colaborar de forma significante no trabalho exegético.
Um exemplo sobre análise do contexto teológico referente à palavra
“SACRIFÍCIO”
- No Antigo Testamento: I Cr.29.21 – E, ao outro dia, sacrificaram ao Senhor
sacrifícios...
- No Novo Testamento: Ef.5.2 – E andai em amor, como também Cristo vos
amou e se entregou a si mesmo por nós em oferta, e sacrifício a Deus, em
cheiro suave.
Análise do contexto teológico – exemplo: livro de Números
A obediência traz ao povo de Israel a vitória, ao passo que a
desobediência e a incredulidade geram muitos prejuízos. Por causa da
rebelião, Israel permaneceu no deserto por 40 anos.
O capítulo 19 retrata o sacrifício da novilha vermelha perfeita, sem
defeito, prefigurando o sacrifício de Cristo.
Temas que podem ser observados no livro de Números:
Purificação;
Pena de morte;
Bebida forte;
Murmuração;
Restituição.
Análise de contexto geográfico

É uma análise importante, porém, nem sempre possível. No entanto,


sempre que puder ser realizada, a análise do contexto geográfico não
deve ser deixada de lado, pois traz grande contribuição para a
interpretação e para a compreensão de aspectos inerentes ao texto em
questão.
Para tal análise, o aluno pode lançar mão de dicionários bíblicos e de
mapas, nos quais é possível encontrar vasta gama de informações acerca
das características geográficas no qual o texto bíblico foi produzido.
Análise do contexto geográfico - exemplo

O livro de Números foi escrito por Moisés nas planícies de Moabe, e relata os
fatos ocorridos:
- No Monte Sinai (1.1 a 12.16), onde Israel recebe as Leis;
- Em Cades (13.1 a 22.1), que mostra a primeira geração dos hebreus após o
êxodo, que vai do Sinai até Cades;
- Nas planícies de Moabe (22.2 a 36.13), perto de Jericó, que faz fronteira a
Leste de Canaã. Mostra os meses finais da peregrinação, como também a
segunda geração pós-êxodo, que abrange desde as planícies de Cades até as
planícies de Moabe.
Análise do contexto literário

Diversas formas literárias podem ser observadas nos textos bíblicos, e igualá-
los ou ignorá-los seria, no mínimo, um desperdício. Cada forma tem sua
riqueza, sua forma de ensinar a mensagem e de alcançar o leitor.
O impacto de um provérbio, por exemplo, é diferente do impacto que causa
um sermão, e cada estilo literário requer uma abordagem e interpretação
diferente. Não há como tratar todos os gêneros literários como se eles
possuíssem as mesmas características.
Exemplos de formas literárias:
Pv.22.1 – Mui digno de ser escolhido é o bom nome do que as muitas
riquezas; e a graça é melhor do que a riqueza e o ouro.
II Cr.7.1 – E acabando Salomão de orar, desceu fogo do céu e consumiu o
holocausto e os sacrifícios, e a glória do Senhor encheu a casa.
Análise do contexto literário - exemplo

A forma literária predominante no livro de Números é a narração, onde


Moisés descreve todo o processo que o povo israelita passou até alcançar a
terra prometida.
No entanto, alguns trechos narram Moisés em terceira pessoa, levando-nos a
crer que alguma edição posterior à morte de Moisés foi realizada.
Outros aspectos literários podem ser observados:
- Profecias;
- Lista de censos;
- Poesia;
- Manual de organização do acampamento do povo israelita;
- Instruções para conquista e posterior divisão da terra;
- Regras religiosas;
- Leis acerca de rituais e sacrifícios.
Valor da mensagem para o tempo em que ela foi escrita

Ao debruçar-se sobre as etapas anteriores, que são imprescindíveis à boa


exegese, o estudante da Bíblia acaba por aprender qual o valor do texto
que ele acabou de analisar minuciosamente, e este aprendizado rende a
ele aplicações inerentes ao contexto de quando a mensagem foi escrita e
entregue ao ouvinte.
Executando as etapas anteriores, torna-se totalmente possível enxergar
com clareza os objetivos teóricos e práticos que a mensagem em foco
possuía em sua época de disseminação, ou seja, no período do Antigo
Testamento.
Valor da mensagem para o tempo em que ela foi escrita - exemplo

O livro de Números mostra o amor, a misericórdia e o sustento que Jeová


oferece. Mostra também a santidade de Deus, a necessidade de obedecer
as ordens divinas, a fidelidade divina à aliança feita no Sinai, a presença
de Jeová no meio de Israel, as instruções divinas para que o povo que
antes era escravo se tornasse uma nação de sacerdotes.
Mostra ainda as duras consequências da incredulidade, da murmuração e
da desobediência que Israel praticou, a despeito de todo o cuidado de
Deus para com os seus filhos.
Reparos na tradução
Ao findar todas as análises, é possível empregar ao texto estudado uma
visão com maior amplitude de seus aspectos (características históricas,
geográficas, teológicas, gramaticais etc).
Cabe ao exegeta dedicar um tempo de seu trabalho para corrigir
determinadas traduções que porventura possam apresentar uma
compreensão incompleta ou inadequada. Neste momento, uma revisão
geral da tradução é bem-vinda, para que haja uma reavaliação das
primeiras interpretações aplicadas, e para que acertos sejam inseridos.

Exemplo: livro de Números

De posse de um léxico, um dicionário e algumas versões bíblicas, anotar


palavras e expressões que possam necessitar de alteração na tradução,
no livro de Números.
Comentário do exegeta

Após proceder as etapas anteriores, é importante redigir um comentário


contendo todas as partes do trabalho de exegese, seja para si ou para
uma apresentação a outras pessoas. Nesta etapa, o exegeta expõe sua
interpretação acerca do significado do texto estudado, bem como as
razões que o levaram a escolher determinada tradução.
Nesta fase do trabalho exegético é importante selecionar o que de fato
deve ser apresentado ao público.
Perguntas a serem feitas na exegese:

1 – Quem escreveu o texto?


2 – Quando o texto foi escrito?
3 – Onde o texto foi escrito?
4 – Para quem o texto foi escrito?
5 – A partir de que o texto foi escrito?
6 – Como o texto era usado?

Tais perguntas formam uma rede acerca de características interligadas,


presentes no texto.
Exemplo de exegese da palavra “VIDA”.
A palavra “vida”, nas Sagradas Escrituras, pode significar:
- Vida física: Sl. 146.2 - Louvarei ao Senhor durante a minha vida;
cantarei louvores ao meu Deus enquanto viver.
- Vida espiritual: Jo. 17.3 – E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só
por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo a quem enviaste.

Exemplo de exegese da palavra “MORTE”.


A palavra “morte”, na Bíblia, pode significar:
- Morte física: I Sm. 22.23 – Fica comigo, não temas, porque quem
procurar a minha morte também procurará a tua, pois estarás salvo
comigo.
- Morte espiritual: Ap. 2.11 – Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito
diz às igrejas: O que vencer não receberá o dano da segunda morte.

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