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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO

SUL

Direito Internacional
dos Direitos Humanos
O sistema Interamericano de
proteção dos direitos humanos
• O caso Ximenes Lopes versus Brasil
Roteiro
• Direitos Humanos: antecedentes históricos;
• A Constitucionalização dos direitos humanos;
• A Internacionalização dos Direitos Humanos;
• Sistema global e o sistema especial de proteção dos
direitos humanos
• Os sistemas regionais de proteção dos direitos
humanos
• O sistema interamericano de proteção dos direitos
humanos
• O caso de Ximenes Lopes versus Brasil
Direitos humanos:
antecedentes históricos
• O Direito natural. Antiguidade e religiões.
• Magna Carta (1215), Habeas Corpus Act (1679),
Bill of Rights inglês (1689); Bill of Rights do
Estado da Virginia 1776
• “...all men are by nature equally free and
independent, and have certain inherent rights, of
which, when they enter into a state of society, they
cannot, (…) deprive or divest their posterity;
namely, the enjoyment of life and liberty, with the
means of acquiring and possessing property, and
pursuing and obtaining happiness and safety”.
O advento dos direitos
humanos
• Declaração norte-americana de Independência
1776
• all Men are created equal, that they are endowed by their
Creator with certain unalienable Rights; that among
these are Life, Liberty, and the Pursuit of Happiness (…).
• Declaração francesa dos Direitos do Homem e do
Cidadão (1789). Declaração dos direitos da
Mulher (Olympe de Gouges)
• O advento do Estado moderno: de Leviatã à Locke
e Rousseau (contratualismo)
• Kant e a dignidade humana. O homem como fim
em si mesmo (iluminismo)
Constitucionalização dos
direitos humanos
• 1ª Dimensão dos Direitos Humanos:
• Estado liberal-burguês
• Direitos de defesa do indivíduo frente ao Estado
(dimensão negativa)
• vida, liberdade, propriedade, igualdade perante a lei, garantias
processuais
• 2ª Dimensão dos Direitos Humanos:
• Industrialização -> problemas sociais -> socialismo
• Dimensão positiva. Justiça social através do Estado
• Igualdade material. Direitos sociais, econômicos
trabalhistas
• 3ª Dimensão dos Direitos Humanos:
• Direitos coletivos e difusos; pertencentes a grupos
• Direitos culturais e ambientais; paz; autodeterminação
A internacionalização dos direitos
humanos
• Antecedentes: direito humanitário, Liga das
Nações, Organização Internacional do Trabalho
• Segunda Guerra Mundial e a necessidade de
proteção internacional mais eficaz:
• a Nova Ordem Mundial
• A Carta das Nações Unidas (1945)
• Art. 55. “(...) as Nações Unidas favorecerão: c) o respeito universal e efetivo dos
direitos humanos e das liberdades fundamentais para todos, sem distinção de
raça, sexo, língua ou religião.

• Declaração Universal dos Direitos Humanos


(1948)
• Dignidade da pessoa humana, fraternidade
universal, liberdade e igualdade
A internacionalização dos
Direitos Humanos
• A relativização do conceito da soberania
• A Proteção internacional do indivíduo
• Obstáculos à universalidade
• Multiculturalismo, relativismo cultural, Estado-nação
• instrumentalização do discurso dos direitos humanos pelos interesses
econômicos e geopolíticos das potencias hegemônicas.
• Complementaridade entre sistema global, sistemas
regionais e Constituições federais
• Normas internacionais:
• Norma objetiva, jus cogens, obrigações erga omnes;
Subsidiariedade
O Sistema global de proteção dos
Direitos Humanos
• International Bill of Rights
• Carta das Nações Unidas (1945)
• Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)
• Pacto internacional de Direitos Civis e Políticos
(1966)
• Pacto internacional de Direitos Sociais, Econômicos e
Culturais (1966)
• Rio de Janeiro: Conferência Mundial sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento (1992);
• Viena: Conferência Mundial sobre direitos
humanos. (1993)
• Interdependência e indivisibilidade
O Sistema especial de proteção
• Enquanto no sistema geral, os sujeitos de direito são toda e
qualquer pessoa genericamente concebida
• No sistema especial o sujeito de direito é o individuo
historicamente situado, concreto, na peculiaridade e
particularidade de suas relações sociais
• Exemplos:
• Convenção pra Prevenção e repressão do Crime de Genocídio
(1948)
• Convenção sobre eliminação de todas as formas de discriminação
racial
• Convenção sobre tortura
• Convenção sobre eliminação de todas as formas de discriminação
contra a mulher
• Convenção sobre o direito das crianças
• Tribunal Penal Internacional
Sistemas Regionais de Protecao
dos DDHH

Europeu

Africano Asiático

Sistemas
Regionais Árabe
Interamericano
de Proteção
dos DDHH
O Sistema regional Europeu
• Vulnerabilidade politica, econômica e social da
região
• Plano Marshall (reconstrução europeia)
• Guerra Fria: Liberalismo versus Socialismo
• Roma: Convenção Europeia de Direitos e Liberdades
Fundamentais (1950)
• Corte Europeia de Direitos Humanos
• Possibilidade do individuo peticionar diretamente
• Fácil acesso à Corte
• Decisões da Corte em matéria de DDHH são
aceitas como regra de precedente
O Sistema regional Africano
• Movimentos pela libertação do
colonialismo
• 1963 Organização da Unidade Africana
• 1981 Carta Africana dos Direitos Humanos
e dos Povos ou Carta de Banjul
• Ato Constitutivo da União Africana
• Estatuto do Tribunal Africano de Justiça
e Direitos Humanos
O Sistema Interamericano
Estrutura institucional de proteção
• Declaração Americana dos Direitos e Deveres do
Homem e Carta da Organização dos Estados
Americanos (1948);
• Comissão Interamericana de Direitos Humanos
(1959)
• Convenção Americana sobre Direitos Humanos -
Pacto de San Jose da Costa Rica (1969, em vigor
1979)
• Amplia as funções da Comissão e cria a
• Corte Interamericana de Direitos Humanos
O Sistema Interamericano –
história e contexto
• Pan-americanismo bolivariano. Cooperação e
independência
• Interesse norte americano na região (doutrina Monroe –
Corolário Roosevelt)
• 1889-1990 Primeira Conferência Internacional dos Estados
Americanos
• 1948 Nona Conferência Internacional (Bogotá)
• Carta da OEA + Declaração Americana dos Direitos e
Deveres do Homem (direito costumeiro, não vinculante)
• Guerra Fria: Hegemonia norte americana e
afastamento da ideologia comunista
• Intervenções militares e apoio a ditaduras locais
O Sistema Interamericano –
História e contexto
• OEA: instrumento de legitimação do imperialismo?
• Politica externa Norte-americana focada em combater o
comunismo
• Isolamento de Cuba (1962) e intervenção militar na
Republica Dominicana (1965)
• movimentos antissegregacionistas abalam liderança dos
EUA
• 1959 – Comissão Interamericana
• 1969 - San José , Costa Rica - Convenção Americana
(desenhada para impor obrigações legalmente vinculantes
aos signatários).
• Altera competências da Comissão e Estabelece a Corte.
• Entra em vigor em 1978, quando o 11º estado ratifica
Estrutura e funcionamento
• Comissão Interamericana de Direitos Humanos (1959) e
Corte Interamericana de Direitos Humanos (1978) exercem
papeis distintos porém complementares:
• A Corte resolve disputas contenciosas e emite pareceres
consultivos
• A comissão age como um primeiro degrau no processo de
ADMISSIBILIDADE dos casos contenciosos; Promove
soluções amistosas entre as partes e Investiga e
apresenta relatórios sobre condições de direitos humanos
em Estados Americanos
• Após a Convenção: a Comissão passou a examinar
petições individuais, propor acordos, sugerir medidas,
encaminhar para a corte
Composição
• 7 membros tanto na Corte quanto na Comissão
• Juízes: 6 anos + reeleição; Comissários: 4 anos + reeleição
• escolhidos por estados-membros, votados pela assembleia
geral.
• Requisitos: “jurists of the highest moral authority and of
recognized competence in the field of human rights.”
• perigos de nominações políticas ou outros interesses
• Article 55: a country (…) may appoint a national to be
involved in the hearing of that case only, if there is not
already one member of the bench from that country.
• Risco de abusos (designar juízes ad hoc visando obter decisões
mais favoráveis)
Funções da Corte
• Opera como fórum de último recurso para queixas de
violação de direitos humanos não devidamente
tratadas internamente;
• Tem poder de emitir ordens juridicamente
vinculativas para o Estado (artigo 61 e seguintes da
Convenção);
• Determina se é competente para julgar o caso; aponta
exceções preliminares, se um Estado cometeu uma
violação dos direitos humanos;
• A Corte tem poder para ordenar medidas provisórias
(cautelares) para evitar danos irreparáveis em casos
de extrema gravidade e urgência;
• Pode emitir pareceres consultivos a pedido de
Estados-membros, ou qualquer órgão da OEA,
incluindo a Comissão;
Funções da Comissão
• Recebe e processa as petições individuais
• Se o pedido é admissível e tem mérito, a Comissão procurará
negociar uma solução amigável entre o Estado agressor e o
lesado, ou verificar falhas e apresentar recomendações
sobre a forma como o Estado deve resolver o assunto
• Se o Estado não cumprir as recomendações e tiver aceitado a
competência contenciosa da Corte, a Comissão poderá
submeter a questão à Corte
• A comissão monitora a situação dos direitos humanos
em todos os países do hemisfério, publicando relatórios
em diversos assuntos e países de
• ela também pode estabelecer relatorias para chamar a
atenção para assuntos e temas de preocupação na Américas
• pode propor alterações e protocolos adicionais à Convenção,
a ser votada pela Assembleia Geral da OEA.
Jurisdição
• Ambas interpretam e aplicam os tratados de Direitos
Humanos da OEA (podem considerar outros tratados
ratificados por determinado Estado)
• A Comissão pode investigar e relatar a situação dos direitos
humanos em qualquer Estado do hemisfério
• A Corte pode exercer jurisdição contenciosa somente
em Estados que reconhecem a jurisdição da Corte
• O Estado deve ratificar a Convenção e emitir uma
declaração em separado aderindo a jurisdição da Corte
• A Corte deve se certificar de que o peticionário exauriu os
recursos domésticos disponíveis
• O caso só deve ir à Corte depois de esgotados os
procedimentos de resolução de conflitos da Comissão
O Procedimento jurisdicional
• Petições individuais são propostas à Comissão por
qualquer pessoa, grupo de pessoas ou ONG; São enviadas
ao Estado para comentários e observações
• Análise prévia diante da Comissão. Os Requisitos do juízo
de admissibilidade
• 1. a petição deve alegar fatos que estabeleçam uma
violação dos direitos humanos reconhecidos.
• 2. o requerente deve ter remédios razoavelmente exaustos
disponíveis no sistema jurídico interno, e deve ter
apresentado a petição no prazo de seis meses após a
notificação da decisão interna definitiva.
• 3. a petição não deve duplicar processo em outro organismo
internacional (ausência de litispendência - ou coisa
julgada - internacional)
O Procedimento jurisdicional
• Julgada a admissibilidade, o caso é aberto
• Peticionários -> observações; Estados -> respostas
• A Comissão pode requisitar oitiva e investigações no local
• Fase conciliatória: Se as partes estiverem de acordo
(principalmente a vitima e seus parentes), a Comissão
tentará negociar uma acordo
• Não havendo acordo, julga-se o mérito
• Se Comissão concluir que tenham ocorrido violações dos
direitos humanos , ela preparara um relatório preliminar
incluindo as suas recomendações sobre como o Estado deve
corrigir a violação,
• A Comissão poderá emitir um relatório final, concluindo pela
atribuição de responsabilidade e contendo recomendações
(este relatório não é juridicamente vinculante)
Processo Jurisdicional na Corte
Se um Estado não cumprir as recomendações (e nenhum acordo for
fechado), a Comissão protocola seu relatório final e leva o caso à
Corte, que possui poder para emitir conclusões juridicamente
vinculantes
• As partes se manifestam; o Estado responde (ataca preliminar +
mérito); marca-se a oitiva e inquirição de testemunhas
• Após deliberações, a Corte decide as objeções preliminares e o
mérito
• As reparações são decididas somente após nova tentativa de acordo

Apos reformas de 2009, as vítimas possuem maior controle dos


procedimentos (agência). A Comissão (que antes atuava como um
promotor nos procedimentos da Corte) passa a ter papel coadjuvante

Os Pareceres Consultivos podem ser solicitados por Estado-membro,


pela Comissão e por outros órgãos da OEA
Jurisprudência e execução
• Jurisprudência: Predominância de casos sobre direitos civis.
(Protocolo adicional à Convenção Americana na área de direitos
econômicos, sociais e culturais foi adotado em 1988 e ratificado
1999
• Importante papel na interpretação das normas do sistema
interamericano
• Ex.: Artigo 1 da Convenção Americana (Obrigação de respeitar os
direitos) interpretado como um dever de quarto dimensões:
prevenir, investigar, punir e reparar as violações de outras
disposições direitos substantivos da Convenção
• Execução
• Não há órgão de monitoramento (como o Comitê de Ministros do
Conselho da Europa) . Papel desempenhado pela Corte
• Relatórios anuais. Assembleia Geral -> sanções (econômicas)
• Estados geralmente cumprem
• Tática do “Name and Shame”
Efetividade
• Paradoxo: Liderança moral em matéria de DDHH, apesar da
instabilidade democrática na região
• Limites:
• Falta de vontade política para fortalecer o sistema
interamericano (principalmente dos membros mais influentes
da OEA, EUA e Canadá)
• poucos recursos. Pouca capacidade. Necessidade de selecionar
casos.
• Abordagem dos direitos econômicos, sociais e culturais ainda
recente.
• Singularidades:
• Foco em resoluções amistosas
• Visitas da Comissão para investigação in loco
• Jurisprudência consultiva
O Problema de Cuba e a
fronteira cultural
• Um sistema latino-americano de proteção dos DDHH
• EUA, Canadá, Caribe e Cuba: pouca participação.
• Cuba: membro fundador em 1948. Excluída da OEA em 1962, em
razão da aproximação com a URSS
• Democracia em Cuba como condição para readmissão na OEA?
• Único governo não democrático
• Não foi esse o padrão adotado durante as ditaduras.
• Proposta de Readmissão de Cuba
• Condições limitadas: exigir a ratificação da Convenção e do
Protocolo de San Salvador, mas não o reconhecimento da
jurisdição da Corte
• A fronteira cultural: a não-participação dos países Anglo-
americanos
• Federalismo? Língua? Sistema da Coroa Britânica? Suficiência de
recursos nacionais? Corte Caribenha?
Ximenes Lopes versus Brasil
• Resumo dos fatos
• 1999 – denúncia apresentada à Comissão contra o
Estado brasileiro
• violação aos direitos à vida, à integridade pessoal, à proteção
da honra e dignidade, direito a recurso judicial
• 90 dias para resposta: silêncio do Estado brasileiro
• Presentes os requisitos, a Comissão admitiu a denúncia
• Comissão propôs solução amistosa: inércia do Estado
brasileiro
• Relatório de Admissibilidade aprovado, com julgamento de
mérito
• Violação direitos humanos à integridade pessoal, à vida, à
proteção judicial (recurso efetivo) e às garantias judiciais
(investigação dos fatos) reconhecida
Ximenes Lopes versus Brasil
• A Comissão recomenda adoção de medidas para reparar
violações -> Brasil não cumpre (apresenta relatório parcial +
contestação)
• 2004 – o caso é submetido à Corte para decidir se o Brasil era
responsável pela violação dos artigos 4 (direito à vida), 5 (direito
à integridade pessoal), 8 (garantias judiciais) e 25 (proteção
judicial) da Convenção Americana + artigo 1.1 (obrigação de
respeitar os direitos) do mesmo instrumento
• A Comissão solicitou reparação, ressarcimento de custas e
gastos, adoção de medidas para garantir a não repetição
• 2005 – Audiência pública. Estado apresenta exceção
preliminar de não esgotamento dos recurso internos. Foi
negado: sentença confirma que juízo de admissibilidade compete
à Comissão
Ximenes Lopes versus Brasil –
a sentença
• Reconhecimento da responsabilidade do Estado brasileiro por
ato de particular sob a supervisão e fiscalização do poder
público
• As pessoas com deficiência, por sua extrema vulnerabilidade,
exigem do Estado maior zelo e prestações positivas de
promoção de seus direitos
• Presunção do livre-arbítrio da pessoa com deficiência mental
e a autodeterminação do tratamento
• Supervisão por ricochete: Convenção Interamericana dos
Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência (Convenção da
Guatemala) e o Pacto de San José
• Violação à integridade psíquica dos familiares de Damião
• Direito à vida exige políticas públicas para implementar mínimo
existencial
Ximenes Lopes versus Brasil –
a sentença
• Delonga do Poder Judiciário na punição penal é
violação de direitos humanos (direito à duração
razoável do processo)
• Reparações: pagamento de danos materiais e morais + custas
• Reconheceu dever do Estado de investigar e punir
• Publicação da sentença no DOU e em jornal
• Brasil deve continuar a desenvolver programa de formação e
capacitação para o pessoal médico, de psiquiatria e psicologia,
de enfermagem e auxiliares de enfermagem, bem como para
todas as pessoas vinculadas ao atendimento de saúde mental
• Artigo 68.1 da Convenção "Os Estados-partes na Convenção
comprometem-se a cumprir a decisão da Corte em todo caso
em que forem partes"
Referências bibliográficas
• AGUIAR, Marcos Pinto. Acesso à Justiça nos sistemas
internacionais de proteção de direitos humanos. Primeira
condenação do Brasil na Corte Interamericana de Direitos
Humanos – caso Ximenes Lopes versus Brasil. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2014.
• SHAVER, Lea. The Inter-American Human Rights System:
an effective Institution for Regional Rights Protection.
Washington University Global Studies Law Review, vol. 9,
2010, p. 639-676.
• PAIXÃO, Cristiano. et al. Caso Ximenes Lopes versus Brasil -
Corte Interamericana de Direitos Humanos Relato e
Reconstruçã o Jurisprudencial. Casoteca DIREITO SP, São
Paulo, 2007. Disponível em:
http://direitosp.fgv.br/sites/direitosp.fgv.br/files/narrativ
a_final_-_ximenes.pdf>

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