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SEMINÁRIO:

Experiência de adoecimentos e condições


crônicas: perspectivas socioantropológicas

Organizadoras: - Silvia Portugal


- Reni Barsaglini
PROGRAMA
MANHÃ (10:30-12-30h)
•Reni Barsaglini, Experiência: conceito e a abordagem pela perspectiva socioantropológica
•Sílvia Portugal, Para uma leitura da experiência: contributos dos paradigmas das redes, da
dádiva e do cuidado
•Tiago Pires Marques, “Dizer-se de outra maneira”. Construções da experiência na pesquisa em
saúde mental
•Joana Alves, A(s) experiência(s) do cuidado

Comentadora: Fátima Alves

TARDE (14:30-17h)
•Bruno Sena Martins, Experiência incorporada e os mundos locais do sofrimento
•Rogério Lima, Um percurso pela autoetnografia

Comentador: João Arriscado Nunes


Experiência:Esta
conceito e a abordagem
apresentação:
pela perspectiva socioantropológica

Objetivo:

- Apresentar a fundamentação do conceito de experiencia a


partir da distinção e relação entre vivência e experiência
(Erlebnis e Erfahrung) como pressupostos da abordagem da
experiência pela perspectiva socioantropológica
MOTIVAÇÃO:

- pesquisando/2003 e orientando/2008: experiência,


adoecimentos/condições crônicas e cotidiano de
profissionais

- confusões:
=> experiência como conceito e abordagem
=> experiência / vivência
ESTUDOS DA EXPERIÊNCIA:

- reação às análises dos fenômenos sociais: primazia


perspectiva objetivista, macroestrutural, positivista em
alternativa subjetivista, situacional, compreensiva. [século XX]

- Polarizações, dicotomias

- Fins do século XX: do retorno do sujeito às inflexões de


seu descentramento, morte, dissolução na esteira do ideário
do “pós” -humanismo, -modernismo, -estruturalismo, -
humano, -gênero, -colonial ...
EXPERIÊNCIA como:

- Conceito (objeto nos seus conteúdos/sentidos, expressões, construções)

dia a dia e princípios práticos das pessoas no mundo da vida: como


interpretam contexto, construção cotidiana do mundo social, gênese dos
significados partilhados, mecanismos p/ compreenderem uns aos outros

- Abordagem:

pressupostos e recursos assumidos na produção cientifica p/


compreensão da experiência como objeto/tema/fenômeno
propriamente
A BUSCA DA DISTINÇÃO EXPERIENCIA/VIVÊNCIA:

“não se funda uma disciplina [ou um conceito] sem os atrelar às


questões filosóficas” (VANDENBERGHE, 2013)

Então => prática liminar, fronteiriça ou interdisciplinar comum


nas Ciências Sociais e Humanas, especialmente, na sua
interface com a saúde.
EXPERIÊNCIA E VIVÊNCIA:

- MUITAS REFERENCIAS => Wilhelm Dilthey, Martin


Heidegger, Friedrich Nietzsche, Walter Benjamim, Hans-
Georg Gadamer, Victor Turner, François Dubet [...]

ERLEBNIS & ERFAHRUNG

OPÇÃO: vertentes teóricas que vemos interlocução com


conceitos que abraçamos considerados pertinentes aos
estudos implementados
[Jorge Luiz Viesenteiner]
VIVÊNCIA EXPERIÊNCIA

. .

. .
.

ERLEBNIS ERFAHRUNG
ERLEBNIS [vivência]
Contexto em que foi gestada:

- em meio movimentos intelectuais => oposição intransigente,


crítica à frieza da especulação metafísica e ao racionalismo
do Iluminismo (Aufklärung) – sec. XVII-XVIII

- reflexões sobre a “particularidade da poesia e da estética na


época do Sturm und Drang e do Romantismo alemães” –
fins sec. XVIII-XIX
ILUMINISMO: Inglaterra, Europa (sec. XVII-XVIII), a Razão

ROMANTISMO: movimento artístico, político e filosófico, mas


acima de tudo estético / fins sec. XVIII-XIX
reação à Razão iluminada (literatura, pintura, música)
 lirismo, subjetividade, sentimento, emoção, eu

Sturm und Drang (“Tempestade e ímpeto”): movimento


alemão meados sec. XVIII,
=> reação ao racionalismo/Iluminismo; pregava superioridade
dos sentimentos e emoções; a vida como valor supremo e
recusa todas as normas que limitam o desenv/o humano
ERLEBNIS – três aspectos relacionados:

1) imediatez com o mundo, entre o homem e a vida, o próprio


fluir e sentir a vida;

2) significabilidade do que foi vivenciado;

3) significado estético: não é possível comensurar


racionalmente o conteúdo de uma vivência, enquanto nela
estamos.
ERLEBNIS...

 como contra-conceito da razão / pathos: paixão, afeto, dor,


sofrimento (padecer/sofrer algo que nos passa, portanto,
opõe-se à ação/não intencionalidade) => ligação imediata
com a vida, travessia significativa;

 tão logo conceitualizamos uma Erlebnis, ela deixa de ser


uma vivência pathetica deixando, também, de ser original e
radicalmente individual: como pathos, foge da racionalização
ERLEBNIS...

 âmbito global do sentimento/dimensão estética: o que se


sente, se apercebe, do sentir na pele o atravessamento do
mundo em nossa constituição humana, histórica e temporal,
não sendo, portanto, presidido pela razão;

 o fluxo existencial e sensibilidade para consigo e para com o


mundo de forma una ao que, apenas, se sentiu, presenciou

“Enfim, é o instante imediato, significativo e estético da vida


e, portanto, simplesmente pathos” (VIESENTEINER, 2013, p. 147):
com isso, distingue-se da Erfharung – a experiência.
ERFAHRUNG [experiência]

 encontra condições de possibilidade na Erlebnis e a ela se


relaciona sem exceção

 envolve intencionalidade relação com a consciência na


construção objetividade: sujeito  objeto (interdependência)

 se constitui p/ mediação lógica (sem imediatez da Erlebnis),


só apreendida aproximativa/e aos respectivos sentidos;

 significar implica visão reflexa do ato, portanto, só


retrospectivamente aos atos passados/memória => seletiva
=> aquilo que, na travessia, nos marca
ERLEBNIS - ERFAHRUNG

Contudo...
 não são estanques: conexão na reflexão sobre o fluxo da
experiência em curso no momento vivido pelo Sujeito (mundo
espaço-temporal) e a reflexão no encontro com o conteúdo
da sua memória (duração) => experiência viva / vivida.

GUMBRECHT - noção de PRESENÇA (coisas e fenômenos


ocupam espaço, são tangíveis aos nossos corpos e não apreensíveis,
exclusiva e necessariamente, por uma relação de sentido)
Ex: na experiência estética (sistema da arte) => efeitos de
sentido e de efeitos de presença.

Sempre que a arte se apresente a nós, devemos viver essa


simultaneidade como uma tensão ou oscilação o que “dota o
objeto de experiência estética de um componente
provocador de instabilidade e desassossego”
ERLEBNIS - ERFARHUNG
 relação em que fronteiras se confundem, tem contornos
imprecisos como é próprio de toda fronteira.

- FRONTEIRA: demarca diferenças ao mesmo tempo precisa


delas para existir,
- ambivalências, contatos, trânsitos, tensões, por isso, diálogo,
trocas, conflitos, passagens, fluxos, limiares, permeabilidade
no entremeio, no interstício ou num “entre-lugar”.

- como devir, guarda possibilidades e incompletude perenes.

- Assim, em recursividade, pensamos na => ...


Experiência: perspectiva socioantropológica

 escolha entre várias tradições,

Perspectiva compósita: não julgar o potencial de uma teoria


para aquilo que ela não se propõe

 objeto é construído de tal forma que não cabe nela, mas não
a recusa => composição artesanal, arcabouço aberto. Isso
porque muitas coisas acontecem naquela zona fronteiriça
Experiência – pressupostos:

 “vivência/Erlebnis remete à jornada, à travessia e à


exposição ao mundo e a experiência/Erfahrung, refere-se ao
que retiramos desse encontro eu-mundo” (Lacoue-Labarthe
apud MATEUS, 2014) .

 construção/elaboração de sentido do conjunto daquilo que


acontece na existência de uma pessoa, grupo, comunidade
particular. Não tudo o que acontece e que se vivencia, mas
aquilo que afeta, marca

 transcorre no cotidiano
 nos episódios diários/ordinários/da vida diária que se
manifestam os níveis normativos do plano macrossocial
refletindo ou refratando o complexo jogo de regras que
modelam as interações sociais ali onde se efetivam as
dobras indivíduo/sociedade, indivíduo/cultura.
Considerando que

 experiência é a forma original como sujeitos concretos


vivenciam o seu mundo no fluxo da vida cotidiana, será para
este fluxo que o pesquisador solicita que os interlocutores em
uma pesquisa, voltem o olhar impelindo-os a editar e
(re)apresentar processos/fenômenos sob investigação
(relato, narrativa, silêncios, desenhos, gestos, textos, etc.

 rememorar: retrospecção / interpretação / o que marcou /


afetou (lugares, acontecimentos pessoas/personagens/grupos)
Experiência:
 limites circunscritos e editados: pela memória, pelos juízos
de valor compartilhados, pelas interações sociais (pessoais,
institucionais, tecnológicas), pelas percepções sensoriais
(apreendidas pelos sentidos) radicadas em um corpo; pela
subjetividade e o mundo material das estruturas sócio-
político-culturais mais estáveis/cristalizadas.

processos históricos posicionam sujeitos participando da


construção da experiência E recursivamente sujeitos são
constituídos por meio das experiências
Experiência:

 abertura para as ações de forma original, mas em um


campo de possibilidades (VELHO, 2003)

 há filtros ou matrizes de significados e de práticas para a


ação (prática, sensível, interpretativa), favorecendo ou
constrangendo, => crivos ou marcadores sociais na
abordagem da experiência.
Enfim, a perspectiva socioantropológica:

• reconhece a singularidade do agir nas situações cotidianas


(de sofrimento, adoecimento) que só ganham sentido e serão
compreendidas se remetidas às peculiaridades biográficas
que incluem marcadores sociais modeladores dessa
experiência (gênero, sexualidade, classe, raça, etnia, geração, etc),
aos contextos relacionais (pessoas, grupos, instituições,
organizações, tecnologias etc), localizadas em tempo e espaços
socio-históricos mais amplos.

• Ou seja, fenômenos vividos por pessoas concretas, imersos


na subjetividade, vida cotidiana e estrutura social, cujas
distinções destes termos se faz meramente como artifício.
Perspectiva socioantropológica:
• (...) nem a sociedade, nem os indivíduos, encarados como
entidades separadas, mas as relações entre indivíduos (no
sentido amplo e não só as interações face a face), bem como
os universos objetivados que elas fabricam e que lhes
servem de suportes, enquanto eles são constitutivos, ao
mesmo tempo, dos indivíduos e dos fenômenos sociais
(CORCUFF, 2001, p. 24).

Não desconsiderar os termos nas análises, mas recusa à


essencialização/pureza ou fixidez deles para pensá-los
localizados, em interação, em tensões,
continuidades/descontinuidades, conexões/desconexões e
fluidez cotidianas/ordinárias que faz esmaecer supostas
fronteiras.

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