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“Sempre é uma

companhia”

peripécia final
“Sempre é uma companhia”: peripécia final
(esquema interpretativo)

Foi a primeira noite em que os - Caracterização dos ceifeiros (que


homens saíram da venda mudos e temem a perda da companhia da
taciturnos. Fora esperava-os o rádio).
negrume fechado. E eles voltavam - Predomínio de vocabulário do campo
para a escuridão, iam ser, outra vez, o lexical de “noite”, metáfora para a
rebanho que se levanta com o dia, ausência de perspetivas e solidão.
lavra, cava a terra, ceifa e recolhe - O termo “rebanho” remete para a
vergado pelo cansaço e pela noite. ideia de ausência de conhecimento e
Mais nada que o abandono e a de pensamento.
solidão. A esperança de melhor vida
para todos, que a voz poderosa do
homem desconhecido levava até à Retoma das ideias enunciadas,
aldeia, apagava-se nessa noite para reforçadas pela perda da voz que
ouviam, embora desconhecida.
não mais se ouvir.
“Sempre é uma companhia”: peripécia final
(esquema interpretativo)

Dentro da venda, o Batola está tão - Descrição de Batola semelhante à


desalentado como os ceifeiros. O mês descrição do início da narrativa, onde o
passou de tal modo veloz que se esqueceu “chapeirão” domina a figura.
de preparar a mulher. Sobe ao balcão, - Destaca-se o advérbio “magoadamente”
desliga o fio e arruma o aparelho. Um que caracteriza o modo como observa o
pouco dobrado sobre as pernas arqueadas, aparelho, indiciador da dor que esta
com o chapeirão a encher-lhe a cara de separação causa a Batola, e o adjetivo
“preciosa”, para caracterizar a rádio, não
sombra, observa magoadamente a
pelo valor material, mas pelo que significa
preciosa caixa.
naquele “deserto”.
Assim está, quando um pressentimento
o obriga a voltar a cabeça: junto da porta - Momento que marca a alteração do “fim”
que dá para os fundos da casa, a mulher anunciado.
olha-o com um ar submisso. «Que terá
acontecido?», pensa o Batola, admirado de
a ver ainda levantada àquela hora. - Mudança de postura da mulher de Batola.
- António - murmura ela, adiantando-se
até ao meio da venda. - Eu queria pedir-te
uma coisa...
“Sempre é uma companhia”: peripécia final
(esquema interpretativo)

Suspenso, o homem aguarda.


Então, ela desabafa, inclinando o
rosto ossudo, onde os olhos negros - A mulher apresenta uma
brilham com uma quase expressão “expressão de ternura”.
de ternura:
- Olha... Se tu quisesses, a
gente ficava com o aparelho. - O conector condicional “Se”,
Sempre é uma companhia neste introduzindo a condição para que o
deserto. rádio fique.

Manuel da Fonseca, O fogo e as cinzas, Lisboa,


- Alteração do tipo de relacionamento
Editorial Caminho, 2011, pp. 159-160.
entre Batola e a mulher graças ao
aparelho de rádio que passou a ser
uma companhia naquele “deserto” em
que viviam.

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