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• Com essas observações, Lênin chegava a uma formulação original da questão agrária russa: era nela que se fundava a base
social de uma aliança politicamente conservadora entre velhos proprietários fundiários e uma nova burguesia industrial.
Reabrir a questão agrária significava identificar a possibilidade de uma revolução burguesa de outro tipo, pois se ainda se faria
nos marcos do capitalismo, teria como protagonista o campesinato que se mostraria interessado numa ruptura com a
estrutura social vigente.
• Havia, aqui, então, uma inovação em relação ao marxismo da época, a questão agrária inesperadamente ganhava
centralidade. O valor heurístico das hipóteses formuladas por Lênin para as vias de desenvolvimento do capitalismo está nesta
relação estabelecida entre a questão agrária e o sentido político da modernização. De qualquer forma, a questão agrária havia
introduzido um problema novo no âmbito teórico, abrindo um campo novo de análise, o da singularidade do
desenvolvimento do capitalismo tardio e periférico.
5 Lênin (Fim)
• As vias de modernização do mundo rural em Lênin:
• O campo é, para ele, o lugar da preservação das tradições, da família, das raízes nacionais, da força comunitária espontânea, daquilo que pode constituir
a especificidade russa contra os ataques do pretenso universalismo ocidental. O modo de vida camponês é visto como ideologicamente oposto ao
capitalismo. Por esta razão, o estudo da unidade de produção camponesa exige a elaboração de categorias de pensamento diferente daquele oferecido
pelas ciências sociais da época (nem pela economia política marxista, nem pelos neoclássicos). Num país que às vésperas da Revolução tinha 82% de sua
população vivendo no campo e mais de 17 milhões de estabelecimentos agrícolas, não é de se espantar que surja a utopia camponesa.
• Mais do que um teórico da economia camponesa, Chayanov elaborou uma teoria do funcionamento das unidades produtivas baseadas
fundamentalmente no trabalho da família: enquanto a renda dependesse do trabalho familiar, haveria um balanço entre a penosidade deste trabalho e
as necessidades de consumo da família, sendo que, uma vez preenchidas as necessidades, cada unidade adicional de trabalho passaria a ter, para a
família, valor decrescente. Nesse sentido, era cético quanto ao potencial dos agregados familiares camponeses em produzir excedente agrícola, o que
implica que ela não se desenvolverá no capitalismo sem algum fator adicional externo.
• Contudo, ele não era o teórico do isolamento camponês. Seria ingênuo contar apenas com a produção familiar. Ao contrário, o último capítulo de sua
obra preconiza o cooperativismo e a integração vertical, citando explicitamente o exemplo da Dinamarca como forma mais eficiente de construção do
socialismo na agricultura. Chayanov já antevia o desastre que ocorreria caso predominassem as teses que sustentavam a integração horizontal, ou seja,
a formação de grandes unidades coletivas. Não que ele fosse contra as grandes fazendas coletivas, apenas não queria que se perdesse a organização
social camponesa já existente na Rússia.
• Entre os camponeses, ele acreditava que tanto as formas tradicionais de cooperação quanto as implantadas com a modernização (que se iniciou com a
emancipação dos servos em 1861) podiam ser a base de um processo de cooperação no qual o trabalho familiar e, sobretudo, a iniciativa dos indivíduos
fossem valorizados. O tema da obra de Chayanov, neste sentido, conserva toda a sua atualidade: de que maneira as sociedades contemporâneas podem
compatibilizar o progresso técnico com o aproveitamento da energia e da iniciativa social que repousa nos indivíduos e nas famílias?
7 Max Weber e a modernização alemã
Estudos Agrários (1892-1900)
• Weber era um crítico da aliança da burguesia alemã com os proprietários feudais que marcava muitos países à época. O ponto central dos estudos de Weber é a
desagregação do patriarcalismo nas fazendas do Leste alemão, que formavam uma sólida organização social com base nas relações de dependência e
“comunidade de interesses” entre os camponeses e a classe de dirigentes senhoriais, os junkers. Esta “comunidade de interesses” que possibilitava a direção
política dos proprietários sobre o conjunto da população rural, que fazia deles representantes autênticos dos interesses de seus dependentes em matéria de
política econômica.
• O avanço da agricultura comercial solapava as bases de legitimidade desta relação. A paisagem do Leste, que havia sido marcada pela estabilidade de suas grandes
propriedades, conhecia uma intensa modificação a partir da introdução da agricultura comercial em larga escala e dos efeitos da concorrência no mercado
mundial, pressionando a introdução de métodos mais propriamente capitalistas de gestão. A agricultura comercial exigia que os fazendeiros se envolvessem
diretamente na luta econômica, tornando sua base material menos segura e diminuindo sua capacidade de poder. A ameaça de perda de posses para uma nova
burguesia comercial, e de mercado para competidores estrangeiros, forçou os proprietários a se tornarem o que eles não eram: empreendedores trabalhando sob
princípios comerciais.
• Grande parte dos problemas agrícolas enfrentados no Leste dizia respeito à demanda periódica de força de trabalho. No passado, a força de trabalho era
imobilizada nas fazendas segundo os sistemas de prestação de serviços e contrapartidas senhoriais, numa relação de dominação que se desfez com a abolição da
servidão e com a legislação agrária, que passou a determinar a arregimentação de trabalhadores por contrato. Formaram-se dois grandes grupos de trabalhadores,
os vinculados à propriedade (mediante contratos fixos, que cobriam geralmente moradia e outros benefícios) e os trabalhadores “livres” (de contrato temporário).
Soma-se a isso a substituição dos trabalhadores agrícolas alemães por imigrantes poloneses, que aceitavam salários mais baixos e condições mais precárias,
ocasionando um rebaixamento das condições de trabalho. Com isso desaparece progressivamente a remuneração com base em direitos compartilhados, sendo
substituída por salários monetários. O “morador” (Instmann) vinha sendo progressivamente substituído pelo “empregado fornecido” (Deputant), sem direitos
sobre o produto da fazenda.
7 Max Weber e a modernização alemã
(continuação/Fim)
• Mas este não era um movimento promovido apenas pelos proprietários: Weber percebia que, ao lado dos requisitos de
racionalidade econômica, havia fortes componentes subjetivos na desagregação da ordem patriarcal. A direção do
movimento observado por Weber é a desorganização das antigas relações sociais, é a mudança de uma constituição do
trabalho de tipo patriarcal para uma outra, de tipo capitalista, com todas as suas consequências políticas.
• Weber era especialmente crítico do que chamava de uma deserção burguesa, ou seja, a aceitação por parte da
burguesia da condução política junker. A questão agrária se ligava então a uma questão nacional, na medida em que a
posição secundária ocupada pela burguesia na coalizão dirigente ameaçava o futuro do país como potência
internacional. A consequência era a falta de apetite “imperialista” que confinava o capitalismo alemão aos marcos de
um Estado nacional ensimesmado, sem maiores pretensões (fora da corrida neoimperialista).
• Criava-se na Alemanha um padrão de mudanças que preservava no mundo agrário controles de tipo tradicional, e com
isso limitava-se a expansão do mundo tipicamente burguês. Weber, assim como Lênin, usou a imagem americana como
contraste ao padrão alemão. Ele via no mundo agrário americano a singularidade de um desenvolvimento livre da
influência de uma estrutura social sedimentada. A questão não era apenas a afirmação de um princípio econômico, mas
a ligação entre economia e política. Para Weber, o desenvolvimento econômico não realiza direitos, ao contrário,
deixados a si, os interesses materiais caminhavam em sentido contrário à democracia. Ele considerava que os impulsos
democráticos estavam se esgotando com o desaparecimento de novas terras livres, com a prevalência da renda sobre o
lucro, com o conformismo, colocando em risco os ideais de “liberdade”. Iria nesse sentido também a burocratização da
economia e do Estado.
A questão agrária no brasil
Professor Marcos Beal
a) O regime de sesmarias e os latifúndios
improdutivos (1530-1822)
• O início da colonização do território brasileiro se fez com a doação de
grandes extensões de terras particulares, denominadas de sesmarias.
Daí surgiram os latifúndios escravistas, aos quais, geralmente, se
agregavam pequenos agricultores, que pagavam uma renda ao
proprietário pelo uso da terra. Estes latifúndios eram relativamente
autossuficientes, especialmente na produção de alimentos. Todavia,
sempre que o preço do açúcar variava positivamente, a produção de
alimentos diminuía para que se maximizassem os lucros, ocasionando
fome.
b) A extinção das sesmarias (1822) e a lei de
Terras de 1850
• Em 1822, a extinção do regime de sesmarias, aliada à ausência de outra
legislação regulando a posse das terras devolutas, provoca uma rápida
expansão dos sítios desses pequenos produtores. Em meados desse
mesmo século começou a declinar o regime escravocrata. Em 1850 surge
uma nova legislação definindo o acesso à propriedade - a Lei de Terras de
1850 – que rezava que todas as terras devolutas só poderiam ser
apropriadas mediante a compra e venda, e que o governo destinaria os
rendimentos obtidos nessas transações para financiar a vinda de colonos
da Europa. Matavam-se, assim, dois coelhos com uma só cajadada: de um
lado, restringia-se o acesso às terras apenas àqueles que tivessem dinheiro
para comprá-las; de outro, criavam-se as bases para a organização de um
mercado de trabalho livre para substituir o sistema escravista.
c) A substituição da mão de obra escrava pela
livre no campo
Patronal Familiar
Completa separação entre gestão e trabalho. Trabalho e gestão intimamente relacionados.
Direção do processo produtivo diretamente assegurada pelos
Organização centralizada. proprietários ou arrendatários.
Ênfase na especialização. Ênfase na diversificação.
Ênfase nas práticas padronizáveis. Ênfase na durabilidade dos recursos e na qualidade de vida.
Predomínio do trabalho assalariado. Trabalho assalariado complementar.
Tecnologias dirigidas à eliminação das decisões “de Decisões imediatas, adequadas ao alto grau de
terreno” e “de momento”. imprevisibilidade do processo produtivo.
Os anos 1990 e A Agricultura familiar
• Fora do campo científico, nas lutas sociais, ao longo dos anos 90, sindicatos de trabalhadores estavam
substituindo suas bandeiras de luta (reforma agrária direitos trabalhistas) pela reivindicação de um
projeto alternativo de desenvolvimento Rural baseado na agricultura familiar;
• Entre fim dos anos 90 e início dos anos 2000, o paradigma de estudos sobre a ruralidade avançou para o
entendimento de que as melhores configurações territoriais encontradas eram aquelas que
combinavam uma agricultura de base familiar forte com o entorno sócio-econômico diversificado e
dotado de infraestrutura (VEIGA 2001). O projeto Rurbano (1999) focalizou a formação das rendas entre
as famílias não urbanas para constatar um movimento relativamente generalizado de substituição dos
ingressos provenientes das atividades primárias por rendas não agrícolas, especialmente em virtude da
crescente interpenetração entre os mercados de trabalho tradicionalmente qualificados como urbanos
e Rurais: daí por diante o rural não poderia mais ser reduzido ao agrícola.
• Nesse sentido, duas questões sobressaem: qual é o novo lugar da agricultura e do rural nas sociedades
dos países de Capitalismo avançado? O que as novas relações entre o rural e o urbano revelam sobre os
processos de sociabilidade? Quais são os os traços constitutivos e como se reestruturam as dimensões
de conflito no mundo Rural contemporâneo?
Alguns dados do Censo Agro
Número de estabelecimentos
Total de Total de
UF, Mesorregião
estabelecimentos estabelecimentos Diferença