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UNIFACS

Mestrado em Administraçao

Métodos de Pesquisa I

Sergio Hage Fialho


Manoel Joaquim Fernandes de Barros
Conceitos Básicos
• Conhecimento, Realidade e Teoria
– “Enquadre”da Realidade
– Caráter especial da Teoria
– Natureza e Sociedade
Representação
Do
REAL

História Significados
Valores
Conhecimentos Observador
Social

REAL
Conhecimento Científico

FENÔMENO
Conhecimento Científico

FENÔMENO
Conhecimento Científico

FENÔMENO
O que transforma Informação em
Conhecimento ?
Questões Básicas das Ciências Sociais
• A questão central é a premissa teórico-existencial com relação
ao Homem e a Sociedade:
– Sociedade como processo histórico conflituoso e aberto à ação dos
grupos sociais, que interferem e são sobretudo condicionados por
estruturas econômicas, políticas e culturais (dinâmica de
destruição e criação de estruturas sociais). Essa abordagem muitas
vezes é comprometida pela falta de rigor na definição do referencial
teórico, na construção do modelo de análise e na articulação das
observações com o dispositivo teórico e analítico;

– Sociedade como estrutura que tem funcionalidades que podem


ser aperfeiçoadas e integradas progressivamente de forma
harmônica (modernização conservadora da estrutura social
básica). Essa abordagem muitas vezes é implícita à utilização de modelos
de análise baseados em variáveis muito específicas, que desconsiderem o
contexto social mais amplo onde os fenômenos ganham sentido.
Questões Básicas das Ciências Sociais

• Nesse quadro de referencia, o debate entre método qualitativo


e método qualitativo:

– Expressa um debate de nível procedimental, de forma de


observação, não de posicionamento teórico fundamental;

– No plano de método em ciências sociais, o procedimento de


observação é determinado pela natureza dos indicadores e
variáveis construídas no dispositivo de análise (referencial
teórico, modelo de análise).
 Thomas Khun (1922-1996) – A estrutura das revoluções
científicas (1968)

 Pré-Khun – a ciência se desenvolve em progresso linear


e gera um estoque crescente de verdades

 Khun – a ciência se desenvolve em fases, uma Normal e


outra Revolucionária, que se contrapõem
 Toda disciplina científica teve uma fase pré-paradigmática:
diferentes escolas, diferentes explicações, teorias, métodos
e pressupostos

 Quando uma escola consegue explicar por suas teorias os


problemas das escolas rivais, agrega cientistas rivais e,
principalmente, as novas gerações de cientistas

 Quando essa escola se consolida, surge um consenso e um


paradigma torna-se possível
Uma matriz disciplinar, composta por teorias,
regras, modelos, padrões, instrumentos, métodos,
crenças e valores de uma comunidade científica
 O paradigma, legitimado pela comunidade científica,
delimita quais os problemas relevantes, possibilitando
a concentração da pesquisa em uma faixa reduzida de
problemas
 No plano empírico: extensão do conhecimento sobre
os problemas delimitados e estabelecimento de
conexões entre a teoria e a natureza
 No plano teórico:
 Aumentar a precisão do paradigma e novas aplicações
 Reformular o paradigma esclarecendo ambiguidades
 Anomalias derivadas de pesquisa e descobertas
acidentais
 Anomalias assimiladas com pequenas alterações
 Anomalias que resistem à assimilação e são colocadas de
lado para futura solução
 Anomalias que desencadeiam uma crise na CIÊNCIA
NORMAL
 Perda de credibilidade do paradigma vigente
 Relaxamento das regras dominantes nas investigações
 Início de uma Revolução Científica / Fase da Ciência
Extraordinária
 Disputa entre 2 grupos: não só nem principalmente
pela lógica, métodos e problemas científicos, mas
também modos de vida comunitários estabelecidos
 A resolução da Fase Extraordinária vem pela adesão
dos novos cientistas ao desenvolvimento do novo
paradigma
 Metodológica – Não há medida comum, mudaram os
métodos de comparação e a avaliação

 Percepção/Observação – A observação não permite


uma base comum para a comparação das teorias, pois a
percepção é dependente da teoria

 Semântica – Não há como traduzir a linguagem de


teorias de paradigmas diferentes
“Todas as teorias das organizações estão
baseadas sobre uma filosofia da ciência e
uma teoria da sociedade”

Burrel e Morgan (1979)


 Natureza Ontológica – visão do Pesquisador sobre a
essência do Fenômeno sob investigação:

 Nominalista – Não admite uma estrutura real para o


mundo social externo: a cognição individual se faz por
nomes, conceitos, rótulos, usados pelos individuos para
estruturar a realidade

 Realista – O mundo social externo é um mundo real


tangível, com estruturas relativamente imutáveis
 Natureza Epistemológica – pressupostos sobre como
podemos compreender o mundo e como comunicar
esses conhecimento a outros humanos:

 Positivismo – Procura explicar e predizer o que


acontece no mundo pela busca de regularidades e
relações causais entre seus elementos constituintes

 Anti-positivismo – A pesquisa social é essencialmente


relativista e só pode ser compreendida do ponto de vista
dos indivíduos diretamente envolvidos nas atividades
estudadas
 Natureza Humana – ligada ao relacionamento entre o
ser humano e seu ambiente:

 Determinista – Considera o homem e suas atividades


como sendo completamente determinadas pela
situação/ambiente onde está localizado

 Voluntarista – O homem é completamente autônomo e


com livre escolha
 Natureza Metodológica – diferentes posicionamentos
(ontológicos, epistemológicos, da natureza humana)
inclina o pesquisador para diferentes metodologias:

 Ideográfica – O mundo só pode ser acessado través da


obtenção de conhecimentos diretos sobre o sujeito sob
investigação

 Nomotética – Ênfase na importância dos protocolos e


técnicas, para o teste de hipóteses de acordo com os
cânones das ciências naturais
SUBJETIVISMO (DIMENSÃO) OBJETIVISMO

Nominalismo ONTOLOGIA Realismo

Anti-Positivismo EPISTEMOLOGIA Positivismo

Voluntarismo NATUREZA HUMANA Determinismo

Ideográfico METODOLOGIA Nomotético


 Sociologia da Regulação – teorias que explicam a
sociedade em termos que enfatizam a sua Unidade e
Coesão

 Sociologia da Mudança Radical – teorias que


buscam explicações para a mudança radical, modos de
dominação, contradições estruturais, emancipação do
Homem das estruturas que limitam o desenvolvimento
de seu potencial
Sociologia da Mudança Radical

Humanismo Estruturalismo
Radical Radical

Subjetivo Objetivo

Interpretativismo Funcionalismo

Sociologia da Regulação
 Sociologia da Regulação + Objetivismo

 Fornecer explicações racionais do status-quo, da ordem social, do


consenso, da integração social

 Postura realista, positivista, determinista e nomotética

 Assume o mundo social como composto por artefatos empíricos e


relacionamentos relativamente concretos que existem fora da
consciência do indivíduo e que restringem o homem em suas atividades
cotidianas

 Esses elementos podem ser identificados, estudados e medidos por


abordagens derivadas das ciências naturais

 Possui orientação pragmática, focada na produção de conhecimentos


gerais da sociedade, aplicação a problemas práticos, busca de soluções
 Sociologia da Regulação + Subjetivismo

 Fornecer explanações sobre a realidade como ela é, mas


compreendida ao nível da experiência subjetiva do indivíduo

 O mundo social é visto como um processo social emergente e


contínuo, criado pelos indivíduos envolvidos nesse processo

 Postura nominalista, anti-positivista, voluntarista e ideográfica

 A realidade social não existe fora da consciência dos indivíduos, mas


em valores compartilhados subjetivamente

 Não busca a prescrição (como o funcionalismo), mas assume o


mundo social como coeso, ordenado e integrado
 Sociologia da Mudança Radical + Subjetivismo

 A realidade é socialmente criada e sustentada (como vê o


Interpretativismo), mas

 Considera que os seres humanos se aprisionam dentro de


fronteiras da realidade que eles mesmo criam e sustentam

 O processo de criação da realidade pode ser influenciado por


processos psíquicos e sociais que canalizam, restringem e
controlam as mentes dos seres humanos e os aliena em
relação às potencialidades inerentes a sua verdadeira natureza
de humanos
 Sociologia da Mudança Radical + Objetivismo

 Realista, Positivista, Determinista e Nomotético

 Foco nas relações estruturais dentro de um mundo social real

 Análise enfatiza conflito e contradições estruturais, modos de


dominação

 Amplo debate dentro do paradigma sobre as forças estruturais que


explicam as mudanças sociais

 Comum a todos teóricos é a visão de que a sociedade


contemporânea se caracteriza por conflitos fundamentais que
geram mudança radical através de crises politicas e econômicas
Metáfora Definição de Organização
Máquina As organizações são “maquinas feitas de partes que se interligam,
cada uma desempenhando um papel claramente definido no
funcionamento do todo”
Organismo As organizações “são sistemas abertos que necessitam de
cuidadosa administração para satisfazer e equilibrar
necessidades internas, assim como adaptar-se a circunstâncias
ambientais “
Cérebro “As organizações são sistemas de processamento de informação,
capazes de aprender a aprender”
Cultura “ Como culturas, as organizações são vistas como lugares onde
residem ideias, valores, normas, rituais e crenças que as
sustentam enquanto realidades socialmente construídas”
Sistema “Organizações são vistas como sistemas de governo. As
Politico atividades organizacionais são moldadas pelo conjunto de
interesses, conflitos e jogos de poder.” “ Os eixos principais para
se analisar uma organização são as relações entre interesses,
conflitos e poder “
Metáfora Definição de Organização
Prisão Psíquica As organizações são construídas socialmente e podem
transformar-se em mundos sociais limitadores e constrangedores
da criação e da inovação, tornando-se, portanto, prisões
psíquicas.”... “ As pessoas podem cair nas armadilhas de seus
próprios pensamentos e crenças, conscientes ou inconscientes, o
que dá às organizações um sentido oculto e quase nunca
desvelado.”
Fluxo e “A única característica permanente das organizações é a
Transformação mudança: podemos vê-las como um fluxo de mudanças e
transformação que ganha estabilidade ao longo do tempo, mas
que permanece mudando.”
Instrumento “ As organizações são instrumentos de dominação de alguns
de Dominação grupos sobre outros . As pessoas são usadas e exploradas para
atingir os fins organizacionais”. Há um “ lado avesso da vida
organizacional “.
 A adoção do paradigma Funcionalista no Brasil
teve, em grau importante, qualidade questionável
e critérios duvidosos, com raras exceções
 Não se atualizando nos desenvolvimentos teóricos,
essa adoção manteve-se restrita à ortodoxia
estruturalista-sistêmica, em especial no
contingencialismo
 Os cursos de graduação e pós-graduação e os
livros-texto de administração no Brasil, neste
cenário, passaram adiante uma versão limitada e
desatualizada da ortodoxia funcionalista
 A realidade pode ser totalmente apreendida a
partir do estudo das relações causais entre
variáveis
 Analisar a realidade é decompô-la em partes
menores até seu total entendimento
 A realidade é um todo estruturado e
matematicamente formalizado: o lado não
previsível e dinâmico é secundário
 Privilegia as estruturas e não as dinâmicas; aceita
modelos simplificados da realidade
 Adotando os métodos clássicos das ciências
naturais, pratica um reducionismo da realidade a
alguns de seus aspectos – os mensuráveis.

 “Críticos oriundos das ciências sociais assacam


contra esta expectativa a pecha reducionista e
ideológica de manutenção da ordem dominante, à
medida que, perdendo a verve questionadora do
conhecimento rebelde, declara-se como real o que
o método capta (DEMO, 2011)”
 O positivismo se apresenta como neutro, mas a neutralidade é
apenas uma utopia: não há como ser asséptico quando razão e
emoção são inseparáveis e contidas nos dois atores essenciais
do fazer ciência, o pesquisador e o pesquisado.

 “Logo, é mais honesto assumir que não captamos a realidade


como ela é, mas como a conseguimos ver”(DEMO, 2011)

 “As ciências sociais tem que compreender os fenômenos


sociais a partir das atitudes mentais e do sentido que os
agentes conferem às suas ações, para o que é necessário
utilizar métodos de investigação e mesmo critérios
epistemológicos diferentes dos correntes nas ciências
naturais”
 O sujeito e seus valores e experiências não se
separam do fazer ciência

 As ciências naturais são primeiramente sociais

 Este passo epistemológico é um dos mais decisivos


na atual transição paradigmática

 Essas mudanças são apenas o início da construção


de um novo paradigma
 Originou-se no campo prático, ou seja, já dentro do
paradigma positivista-funcionalista - por isso a força
positivista na administração, largamente entendida como
forma única da ciência
 Fortaleceu-se pelas suas próprias qualidades, de afastar
o amadorismo/apriorismo, buscar objetividades, estruturar
discursos bem formulados
 Em consequência também, adotar os critérios positivistas
(sofisticação estatística, p.ex.) pode ser um passaporte
para a elite acadêmica da área
 O risco de produzir ciência sob a perspectiva do paradigma
dominante significa ficar subalterno a uma lógica de
enquadramento limitante
 Pela teoria da relatividade de Einstein e a teoria
quântica de Max Plank: matéria como algo fluido e
relativo, quebra das certezas de tempo e espaço

 Pelo preço humano do desenvolvimento tecnológico


(Auschwitz e Hiroshima)

 Ficou insustentável a figura do cientista como


conhecimento objetivo e sujeito onisciente e da ciência
como vinculada naturalmente ao bem estar geral da
sociedade
O Método Científico
Premissas
Limites do Trabalho
• Conhecimento Científico é Conhecimento NOVO, novas
TEORIAS (isso é difícil até para profissionais experientes)

• O que nós, realisticamente, podemos almejar é:


– Compreender melhor o significado de um acontecimento ou
conduta
– Captar melhor as lógicas de funcionamento de uma organização
– Refletir acertadamente sobre as conseqüências de uma decisão
política
– Compreender como determinadas pessoas apreendem uma
situação e tornar visíveis alguns dos fundamentos das suas
representações do Real

• Para isso, precisamos de MÉTODO !


Natureza do Método
• Não é uma Receita de Bolo !

• Não é um procedimento específico de observação ou


análise

• É uma visão das grandes etapas da criação do


conhecimento científico, adaptável a várias teorias e
metodologias específica
Objetivos do Método

•OBJETIVOS:
– ajudar o Aluno a conceber por si próprio um processo de trabalho
– estimular o Aluno a refletir com lucidez sobre o sentido do seu
trabalho, a medida em que for produzindo
– evitar que o Aluno caia em duas grandes armadilhas:
• Na crença da possibilidade de estabelecer verdades definitivas e de
pretender adotar o rigor dos cientistas naturais
• Na negação da possibilidade do conhecimento científico

•Plantar na mente do pesquisador os valores de:


– AUTENTICIDADE
– CURIOSIDADE
– RIGOR
Examinando o Início do Início !
NÃO NOS INQUIETEMOS !
CAOS ORIGINAL
• Sabemos vagamente o É a marca de um espírito que não se
que queremos estudar, alimenta de simplismos e de certezas
mas como abordar ?????? estabelecidas !
• Desejamos um trabalho
útil, mas temos a sensação
PRECISAMOS APENAS:
de nos perdermos nele
antes mesmo de começar • Sair do CAOS sem demorar demasiado
!!!!!! • E sair com MÉTODO !

Refletir sobre essas questões poderá poupar Semanas ou Meses de Trabalho Inútil !

O QUE NÃO SE DEVE FAZER É FUGIR PARA A FRENTE !


O Que Deve Ser EVITADO !
• A GULA livresca ou estatística
– Encher a cabeça com muitos livros, artigos ou dados numéricos
em busca de luz !
– Desalento: muita informação mal integrada confunde as idéias !

– É Preciso:
• Refletir em vez de devorar
• Ler em profundidade poucos textos cuidadosamente escolhidos
• Interpretar judiciosamente alguns dados estatísticos
• Descongestionar o cérebro do excesso de números e palavras que o
impedem de funcionar de maneira ordenada e criativa
• Parar de acumular sem método informações mal assimiladas e
preocupar–se primeiro com o Procedimento
O Que Deve Ser EVITADO !

• A PASSAGEM apressada às Hipóteses/Objetivos


– Precipitar-se sobre a coleta de dados / aplicação prática de
técnicas antes de saber exatamente aquilo que se procura

• A ÊNFASE que obscurece


– Exprimir-se de forma pomposa e ininteligível (raciocínio idem)
– Assentar os pés na terra e mostrar mais simplicidade e clareza
– AUTO-VERIFICAÇÃO: explicar para si mesmo as palavras e
frases já escritas

O QUE É, ENTÃO, O MÉTODO ?


Princípios Gerais do Método
• Grande parte de nossas idéias se inspiram nas aparências
imediatas e em posições parciais
RUPTURA • Construir sobre essas premissas é construir sobre areia
• A RUPTURA consiste em romper com os preconceitos e as
falsas evidências

• A Ruptura só pode ser efetuada a partir da construção de


um Modelo (de Análise) da Realidade, que reflita a lógica de
funcionamento da realidade
• Só com base no Modelo de Análise é possível organizar o
CONSTRUÇÃO Plano de Pesquisa e as Proposições explicativas
• O Modelo é construído com base na:
– Bagagem conceitual validamente construída
– Trabalho racional do Pesquisador (lógica)

• Uma Proposição só será científica se puder ser verificada


VERIFICAÇÃO nos fatos !
Conhecimento Científico

FENÔMENO
As Etapas do Procedimento

Etapa 2

A
Exploração

Etapa 1 As Leituras Etapa 4 Etapa 5 Etapa 6 Etapa 7


Etapa 3
A A A A As
Pergunta Construção Observação Análise das Conclusões
de A do Modelo Informações
Partida Problemática de Análise
As
Entrevistas
Exploratórias
ETAPA 1

A Pergunta de Partida
Aspectos Gerais
• É um ERRO (que dificulta ou até impede o trabalho) pretender formular de
início um Projeto de Investigação de forma totalmente satisfatória
• Uma investigação é um caminhar para um melhor conhecimento, que deve
ser aceito com todas as hesitações, desvios e incertezas
• Isso não deve ser motivo de Angústia, mas de Estímulo !
O Investigador deve obrigar-se a escolher rapidamente um primeiro fio condutor
tão claro quanto possível para:
• iniciar sem demora
• estruturar-se com coerência

Pouco importa se o ponto de partida pareça banal e a reflexão imatura


Esse ponto é provisório (é infinito enquanto dure)

A melhor maneira de iniciar o Projeto de Investigação é construir uma


PERGUNTA DE PARTIDA
Exprimir, o mais claramente possível, o que procura saber ou
compreender melhor
A Pergunta
A formulação da PERGUNTA obriga o investigador a uma
clarificação, sempre muito útil, das suas intenções e
perspectivas espontâneas.

“A desigualdade de oportunidades em relação ao ensino tem tendência a


diminuir nas sociedades industriais ?”

“A luta estudantil (em França) é apensas uma agitação em que se


manifesta a crise da universidade, ou contém em si um movimento social
capaz de lutar em nome de objetivos gerais contra uma dominação
maior ?”

“O que predispõe algumas pessoas a frequentarem os museus, ao


contrário da grande maioria das que não os frequentam ?”
Os Critérios de Uma Boa Pergunta
Fazer uma Pergunta de Partida só é útil se for corretamente formulada, o que não
necessariamente é fácil.

É essencial buscar compreender em profundidade os critérios, estudando os


exemplos com cuidado, mesmo que pareçam evidentes e claros à primeira vista.
Esse processo de exame e re-exame é o que nos obriga a romper com os
preconceitos e as noções prévias !

Uma boa PERGUNTA DE PARTIDA deve poder ser tratada:


•deve ser possível trabalhar eficazmente a partir dela
•deve ser possível fornecer elementos para lhe responder

CLAREZA
EXEQUIBILIDADE
PERTINÊNCIA
A qualidade da CLAREZA

PRECISÃO E CONCISÃO DO MODO DE FORMULAR A PERGUNTA DE


PARTIDA

• A Pergunta deve ser PRECISA


• Deve cobrir um campo de análise DEFINIDO
• Deve ser tão CONCISA e CLARA quanto possível

• Como assegurar a CLAREZA ?

• Apresentar a um pequeno grupo de pessoas (sem comentar !)


• Convidar cada pessoa a explicar como entendeu a Pergunta
• Verificar se as compreensões são convergentes, e convergentes com a
intenção do Autor
Verificando a CLAREZA
“Qual é o impacto das mudanças na organização do espaço urbano sobre
a vida dos habitantes ?”

• VAGA
• Que tipos de mudança ?
• Que se entende por “vida dos habitantes”?
• Social ?
• Profissional ?
• Cultural ?
• Familiar ?
• Alude-se a facilidades de transportes ?
• Alude-se às disposições psicológicas ?
Verificando a CLAREZA
“Em que medida o aumento das perdas e emprego no setor da construção
explica a manutenção de grandes projetos de trabalho público, destinados
não só a manter o esse setor, mas também a diminuir os riscos de
conflitos sociais inerentes a esta situação ?”

• LONGA
• DESORDENADA
• NÃO DEIXA CLARO A PRIORIDADE DA INVESTIGAÇÃO

UMA BOA PERGUNTA:


“Quais as causas da diminuição dos empregos na Bélgica nos anos 80 ?”

A Pergunta pode ser Restrita ou Ampla, tem que ser é PRECISA !


A qualidade da EXEQUIBILIDADE

CARÁTER REALISTA OU IRREALISTA DO TRABALHO IMPLICADO PELA


PERGUNTA DE PARTIDA

• Como assegurar a EXEQUIBILIDADE ?

• Assegurar-se de que seu CONHECIMENTO, TEMPO, DINHEIRO e MEIOS


LOGÍSTICOS permitem obter elementos válidos para responder a Pergunta

• Especialmente, não subestimar o TEMPO necessário ! (é o caso mais


comum !) – SENÃO, AS FASES MAIS NOBRES SERÃO SACRIFICADAS !
Verificando a EXEQUIBILIDADE

“Os dirigentes empresariais dos diferentes países da Comunidade


Européia tem uma percepção idêntica da concorrência econômica entre os
Estados Unidos e o Japão ?”

• IRREALISTA

• Precisa de 2 anos, vários milhões de dólares, e de colaboradores competentes,


eficazes e poliglotas
A qualidade da PERTINÊNCIA
COMPREENDER O NÍVEL ONDE SE ENQUADRA A PERGUNTA:
• EXPLICATIVO
• NORMATIVO
• PREDITIVO

• Como assegurar a PERTINÊNCIA ?


• Não confundir ANÁLISE com JUIZO DE VALOR (isso é muitíssimo comum !)
• Uma Pergunta é MORALIZADORA quando a resposta que lhe damos, só tem
sentido em relação aos Valores de quem faz a Pergunta
• Uma boa Pergunta não procura JULGAR, mas COMPREENDER
• Os aspectos Éticos e Políticos são indispensáveis a um bom Projeto:
• Investigação com sentido para a Sociedade
• Investigação dos sistemas de valores e normas – a vida social não é
compreensível sem eles
• Mas o investigador não deve permitir-se confundir os registros: na Investigação,
o Real é abordado como Objeto de Análise, não de Julgamento Moral
Verificando a PERTINÊNCIA

“Será que os patrões exploram os trabalhadores ?”

• “FALSA PERGUNTA” = uma Afirmação disfarçada de Pergunta


• Na mente de quem fez, já há uma resposta a priori (Sim ou Não)
• Nesse tipo de pergunta, é sempre possível “provar”as duas respostas, bastando
selecionar os critérios adequados e apresentar como convier

• Devem ser examinadas, pela Pergunta, a motivação e a intenção do autor


• O objetivo do autor é de Conhecimento ou de Demonstração ?
• Uma pergunta “verdadeira” é uma pergunta Aberta:
• permite encarar várias respostas diferentes
• não se tem a certeza de uma resposta preconcebida
• permite ANALISAR e ampliar o conhecimento sobre o fenômeno
Verificando a PERTINÊNCIA

“Que mudanças afetarão a organização do ensino nos próximos 20 anos ?”

• INGÊNUA = Ilusão quanto ao alcance de um trabalho de investigação social


• Quer previsões sobre a evolução de um setor da sociedade:
• Um astrônomo conta com Leis Estáveis
• As atividades humanas nunca podem ser previstas com certeza
• Podemos prever tendências gerais e banais, não mais que isso

• Uma investigação poderá dizer coisas sobre o futuro em que sentido ?


• captando os constrangimentos e as lógicas que determinam uma situação
• permitindo análise de tendências, mas não uma previsão no sentido estrito
• O foco é sempre no que existe e funciona aqui e agora, nas tendencias que se
vê no presente a partir do passado

Uma boa Pergunta estuda o que existiu ou existe, e não o estudo do que ainda
não existe

Uma boa Pergunta não estudará a mudança sem examinar o funcionamento !


Verificando a PERTINÊNCIA

“Os jovens são mais afetados pelo desemprego do que os adultos ?”

• Induz uma DESCRIÇÃO, conhecer os dados de uma situação


• É um pouco “curta”, limitada, não busca conhecer o fenômeno

• Caberá uma descrição que tenha uma finalidade de compreensão dos


fenômenos estudados
• Descrever as relações de poder dentro de uma organização
• Descrever as condições de vida de uma parte da população
• Essa descrição compreensiva, implica:
• uma reflexão acerca do que é essencial salientar
• uma seleção das informações a recolher
• uma classificação das informações para descobrir lógicas e conhecimentos
Uma boa Pergunta visará um melhor conhecimento dos fenômenos estudados,
e não apenas sua descrição
Procura destacar os processos sociais, econômicos, políticos e culturais que
permitem compreender melhor os fenômenos, interpretá-los melhor
ETAPA 2

A Exploração
As Etapas do Procedimento

Etapa 2

A
Exploração

Etapa 1 As Leituras Etapa 4 Etapa 5 Etapa 6 Etapa 7


Etapa 3
A A A A As
Pergunta Construção Observação Análise das Conclusões
de A do Modelo Informações
Partida Problemática de Análise
As
Entrevistas
Exploratórias
Aspectos Gerais
• O trabalho intelectual visa sempre ultrapassar o conhecimento existente, no
nível do poder explicativo das teorias e no nível de interpretações mais
esclarecedoras dos fenômenos
• A capacidade de ultrapassagem não cai do céu, depende:
– Formação teórica e cultura intelectual do pesquisador (alargar as idéias e questões)
– Explorar as teorias e investigações existentes exemplares (é muito pouco provável
que o assunto não tenha sido tratado por outras pessoas)
– Refletir antes de começar a fazer (não priorizar as técnicas, mesmo sofisticadas)
• É importante insistir, desde o início, na exigência de situar claramente o trabalho
em relação a quadros conceituais reconhecidos (Validação Externa)
• Ainda que seja uma investigação modesta (estudo honesto sobre uma questão
particular), é indispensável tomar conhecimento de um mínimo de trabalhos de
referencia sobre o tema ou sobre problemáticas relacionadas
• Mas geralmente não há tempo para a leitura de dezenas de obras: QUE FAZER ?

Selecionar cuidadosamente um pequeno número de leituras

•Utilizar um método de leitura que possibilite tirar o máximo proveito


dessas leituras
A EXPLORAÇÃO
•Como explorar o terreno para construir uma problemática de investigação ?

Assegurar a qualidade da
LEITURAS problematização

ENTREVISTAS Ter contato com a realidade vivida


+ pelos atores sociais
MÉTODOS
COMPLEMEN-
TARES
ETAPA 3

A Problemática
As Etapas do Procedimento

Etapa 2

A
Exploração

Etapa 1 As Leituras Etapa 4 Etapa 5 Etapa 6 Etapa 7


Etapa 3
A A A A As
Pergunta Construção Observação Análise das Conclusões
de A do Modelo Informações
Partida Problemática de Análise
As
Entrevistas
Exploratórias
Conhecimento Científico

FENÔMENO
A PROBLEMÁTICA
Após a EXPLORAÇÃO, trata-se agora de adotar uma Abordagem Teórica que
possibilite tratar o problema colocado pela Pergunta de Partida
É definir a maneira de interrogar conceitualmente o fenômeno estudado:

COMO VOU ABORDAR ESTE FENÔMENO ?

OS 2 MOMENTOS DE UMA PROBLEMÁTICA

•FAZER O BALANÇO DAS ABORDAGENS POSSÍVEIS:

•ATRIBUIR-SE UMA PROBLEMÁTICA


ETAPA 4

A Construção do Modelo de Análise


As Etapas do Procedimento

Etapa 2

A
Exploração

Etapa 1 As Leituras Etapa 4 Etapa 5 Etapa 6 Etapa 7


Etapa 3
A A A A As
Pergunta Construção Observação Análise das Conclusões
de A do Modelo Informações
Partida Problemática de Análise
As
Entrevistas
Exploratórias
REVISÃO DE TERMOS

CONCEITO Construção abstrata que representa um Fenômeno


percebido na Realidade

DIMENSÕES/VA Aspectos do Conceito, ainda abstratos, selecionados


RIÁVEIS como relevantes para a análise da Pergunta do
Investigador

INDICADORES Manifestações objetivamente observáveis e


mensuráveis das Dimensões/Variáveis
MODELO DE ANÁLISE

NOÇÕES Suicídio como fenômeno social: causas

CONCEITOS Relação entre Coesão Social e Taxa de Suicídio

DIMENSÕES Coesão Religiosa Coesão Familiar

INDICADORES Importância Influência Taxa de suicídio


dada ao livre- da religião como dado
exame no cotidiano estatístico

Importância Caráter legal Prática


numérica do das coletiva de
clero prescrições ritos
Conceitualização

• Determinar as Dimensões que o Conceito tem,


que o conectam com o Real

• Precisar os Indicadores que permitem medir as


Dimensões (quando os conceitos e suas
dimensões não são diretamente observáveis)
ETAPA 5

A Observação
As Etapas do Procedimento

Etapa 2

A
Exploração

Etapa 1 As Leituras Etapa 4 Etapa 5 Etapa 6 Etapa 7


Etapa 3
A A A A As
Pergunta Construção Observação Análise das Conclusões
de A do Modelo Informações
Partida Problemática de Análise
As
Entrevistas
Exploratórias
Aspectos Gerais

Engloba as operações através das quais o Modelo de Análise


é submetido ao teste dos fatos (confrontado com os dados
observáveis)

OBSERVAR O QUE ?

OBSERVAR EM QUEM ?

OBSERVAR COMO ?
OBSERVAR O QUE ?

•Observar os dados definidos pelos Indicadores

•A qualidade da observação depende, em primeiro lugar, da


Pergunta e do Modelo de Análise

•É preciso reflexão e bom senso para formular


perguntas/questões que:

– atendam com precisão aos indicadores definidos


– sejam de direta e clara compreensão
– considerem o contexto emocional/relacional
OBSERVAR EM QUEM ?

•É preciso delimitar o Campo empírico:


– no espaço geográfico
– no espaço social (instituições)
– no tempo

•A sociologia estuda os conjuntos sociais como totalidades


diferentes da soma de suas partes

•Quando a indicação do próprio objeto não o delimita, será


preciso fazer escolhas sustentadas:

– no Modelo de Análise (conceitos, dimensões, indicadores)


– no Bom-Senso
OBSERVAR EM QUEM ?

Totalidade da População

Amostra Representativa

Componentes Típicos
As Etapas do Procedimento

Etapa 2

A
Exploração

Etapa 1 As Leituras Etapa 4 Etapa 5 Etapa 6 Etapa 7


Etapa 3
A A A A As
Pergunta Construção Observação Análise das Conclusões
de A do Modelo Informações
Partida Problemática de Análise
As
Entrevistas
Exploratórias
ETAPA 6

A Análise das Informações


A Análise

• Descrever os dados coletados e prepará-los para a Análise

• Avaliar as Variáveis face aos dados

• Avaliar as relações entre as Variáveis

• Quando for o caso, comparar os resultados esperados com os


resultados observados, procurar a explicação das diferenças

• Comparar os resultados encontrados com estudos similares


revistos no trabalho

• Procurar o significado das avaliações face a Pergunta


ETAPA 7

As Conclusões
As Conclusões

1
Recapitular sinteticamente o procedimento
lógico adotado e as conclusões da análise

2
Apresentar pormenorizadamente as
contribuições para o conhecimento decorrentes
do trabalho realizado
As Conclusões

Perspectivas Práticas ?

As conclusões de uma investigação raramente


conduzem a aplicações práticas e indiscutíveis

Entre a análise e a decisão prática, não é possível


contornar a questão do juízo moral

No sentido mais negativo, a ideologia pode consistir


em fixar de forma indevida conclusões normativas em
nome de pretensas verdades científicas

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