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Introdução a leitura de

Paul-Michel
FOUCAULT
Cronologia
15/10/1926 – nascimento em Poitiers/FR

1930-1940 – aluno brilhante do Liceu Henri-IV de Poitiers

1940 – Colégio Saint-Stanislas – inicia estudar filosogia

1945 – muda-se para Paris

1946 – 4º lugar concurso de ingresso à École Normale Superieure – Paris

1948 – licencia-se em Filosofia – Sorbonne

1949 – licencia-se em Psicologia – Sorbonne

1952 – torna-se professor assistente na Universidade de Lille.

1954 – livro Doença mental e personalidade. Estuda com Lacan


1955-1958 – leciona na Universidade de Uppsala, Suécia onde coleta material
sobre a loucura na época clássica

1958 - Transfere-se da Suécia para a Polônia

1959 – Transfere-se de Varsóvia para Hamburgo

1960 – conhece Daniel Defert

1960 – Tese Loucura e Desrazão publicada novamente como História da


Loucura

1965 – primeira viagem ao Brasil (SP)

1966 – publica As palavras e as coisas

1969 - publica A arqueologia do saber e é eleito para o Collège de France


1970 – 2/12/1970 aula inaugural : A ordem do discurso1971 – Funda o Grupo
de Informações sobre as Prisões (GIP)

1973 – Eu, Pierre Rivière que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão

1973 - 21 a 25/05 profere palestras no RJ : A verdade e as formas jurídicas.

1975 – publica Vigiar e punir (- meu primeiro livro!)

1976 – Publica História da sexualidade – A vontade de Saber

1978 – publica Herculine Bardin, chamada Alexina B.

1984 – publica História da sexualidade – O uso dos prazeres e História da


sexualidade – O cuidado de si
25/06/1984 – morre aos 58 anos : deixa inacabado o último volume de A
história da Sexualidade – As confissões da carne
Foucault
Filósofo edificante (R. RORTY)

Nos mostrou como as práticas e os saberes vem funcionando


para fabricar o sujeito moderno

“O sujeito não é uma substância. É uma forma, e esta forma


não é, sobretudo nem sempre, idêntica a si mesma” (FOUCAULT
APUD CASTRO, 2009, P.407)

Sujeito não é uma instância de fundação, mas sim o efeito de


uma constituição (CASTRO, 2009, p.408).

Sujeito: subjetivação, processo


Perspectiva foucaultiana

Não há lugar para Perguntar como as coisas


metanarrativas e funcionam e acontecem
expressões como e ensaiarmos Social molda e é
“natureza humana” e alternativas para que moldado pela ação
“história da elas venham a funcionar humana
humanidade” (VEIGA-NETO, e acontecer de outras
2005:21-22) maneiras
Cuidados

O racional não é
um a priori. A
crítica racional é
A critica se apóia
uma atitude
sempre
filosófica de Liberdade
provisoriamente
permanente
no acontecimento.
reflexão e
transgressão , uma
atitude-limite.
Os três Foucault?
Difícil sistematização
Critério metodológico e cronológico
Arqueológica Genealógica Ética

• História da loucura • Ordem do Discurso • História da


(61) (71) sexualidade 2- UP
• Nascimento da • Vigiar e punir • História da
clínica (63) • História da sexualidade 3 - CS
• As palavras e as Sexualidade 1-VS
coisas (66)
• A arqueologia do
saber (69)

Que posso Que posso Quem sou


Deleuze

saber? fazer? eu?


Três Eixos: Morey
• Sublinha a centralidade da ontologia do presente

Ser-saber Ser-poder Ser-consigo

Como nos tornamos o que somos como sujeitos

de conhecimento de ação Constituídos pela moral

PC, AS, HL, NC HL, VP, OD HL, HS

Ontologia Fonte: veiga-Neto, 2005:48


Ontologia do Presente
Três Domínios da ontologia foucaultiana – Veiga-Neto

Domínios Método Obras


Ser-saber arqueológico PC, AS, HL
Ser-poder genealógico VP, HL
Ser-consigo Arqueogenealógico HS

Saberes: teorias sistemáticas que se manifestam por meio de


discursos científicos tidos por verdadeiros

vídeo
Eu gostaria de dizer, antes de mais nada, qual foi o objetivo
do meu trabalho nos últimos vinte anos. (...) foi criar uma
história dos diferentes modos pelos quais, em nossa cultura,
os seres humanos tornaram-se sujeitos. Meu trabalho lidou
com três modos de objetivação que transformam os seres
humanos em sujeitos. O primeiro é o modo de investigação,
que tenta atingir o estatuto de ciência (...) [o segundo] a
objetivação do sujeito naquilo que eu chamei de “práticas
divisórias” (...) [o terceiro] o modo pelo qual o ser humano
torna-se sujeito (...) como os homens aprenderam a se
reconhecer como sujeitos de “sexualidade” ( FOUCAULT,
1995:231-2)
ARQUEOLOGIA GENEALOGIA
Descrição Explicação
“Como um texto vem a ser o que é?” Demonstra uma gênese no tempo
Busca as regularidades

Escavar as camadas de discursos já Parte dos acontecimentos para explicar


pronunciados para entender como os como se inventaram os pontos de apoio
saberes apareciam na história.
Discursividades locais A partir da discursividade local coloca os
saberes em jogo
Examina o momento Examina o processo (teia discursiva)
Isola as práticas discursivas busca as Amplia o campo de investigação,
regras de produção e transformação estudando também as práticas não
dessas práticas discursivas , a relação não-
discursividade/discursividade

Ambas buscam escrever a história sem referir a análise à instância fundadora do


sujeito (Castro, 2009)
sujeito

Submetido, sujeito
pelo controle e pela
dependência de outro;

Ligado, sujeito a
própria identidade
pelas práticas e pelo
conhecimento de si.
Prática
A racionalidade ou a regularidade que organiza o que os homens fazem, que
tem um caráter sistemático (saber, poder, ética) e geral (recorrente) e, por
isso constituem uma “experiência” ou um “pensamento” (Castro, 2009:338).

Regras as quais o sujeito está submetido quando pratica o discurso e que


determinam diferentes posições de sujeito (Lecourt apud Veiga-Neto,2005).

Práticas Discursivas (formação discursiva): Conjunto de regras anônimas,


históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definem para
uma época dada e para uma área social, econômica, geográfica ou linguística
dada, as condições de exercício da função enunciativa (Foucault, AS).
Experiência
1ºmomento: busca retomar a significação da experiência cotidiana para compreender de
que maneira o sujeito que eu sou é realmente fundador – lugar em que é necessário
descobrir as significações originárias. Local de fundação do sujeito.

2º momento: experiência-limite que arranca o sujeito dele mesmo e lhe impõe sua
fragmentação ou sua dissolução, impedindo-o de ser o mesmo. É um empreendimento de
dessubjetivação. Experiência como passagem ao limite.

3º momento: forma histórica de subjetivação

ELEMENTOS

formas de
relações de relação consigo
Jogo de verdade
poder mesmo e com os
outros
EXEMPLO: Referindo-se ao possível
desaparecimento do homem (consciência
autônoma e objeto de conhecimento
privilegiado)

“uma experiência está prestes a nascer onde o


que está em jogo é o nosso pensamento; sua
iminência já visível, mas absolutamente vazia
não pode ainda ser nomeada” (DE1)
Pensamento
“Por pensamento entendo o que instaura, em
suas diferentes formas possíveis, o jogo do
verdadeiro e do falso e que, em consequência,
constitui o ser humano como sujeito de
conhecimento; o que funda a aceitação ou o
rechaço da regra e constitui o ser humano
como sujeito social e jurídico; o que instaura a
relação consigo mesmo e com os outros e
constitui o ser humano como sujeito ético”
(DE4).
Discurso

Conjunto de enunciados que


provém de um mesmo sistema
de formação (discurso clínico,
discurso econômico, discurso
psiquiátrico).
PODER
Capítulo aberto

Análises históricas sobre o funcionamento do poder – não uma teoria


– “filosofia analítica do poder”

Forma de relação
Não são a manifestação de um consenso, nem a renúncia à liberdade

Exercido sobre sujeitos livres, ou seja, que dispõem de um campo de


várias condutas possíveis.
Por que estudá-lo?

Razões internas: formação do saber - práticas discursivas e


práticas não discursivas _ saber e poder se entrelaçam
mutuamente

Fenômenos políticos da modernidade: Estado centralizado,


burocracia, políticas de saúde.... Processos de racionalização da
modernidade e as formas de exercício de poder

“em nenhuma outra sociedade encontramos uma


combinação tão complexa de técnicas de individualização
e de procedimentos de totalização” (DE4)
Poder

Poder visto desde suas extremidades “de baixo”.


Não como algo que se possui, mas que se exerce.
Poder concebido como LUTA, enfrentamento (1º)
Forma positiva, como produtor de individualidade - Indivíduo
(não é passivo) receptor e emissor de poder (rede)
Ações sobre ações – GOVERNO(2º)
O Poder consiste em conduzir condutas e dispor de suas
probabilidades, induzindo-as, afastando-as, facilitando-as,
dificultando-as, limitando-as, impedindo-as (Castro, 2009:326)
CONDUTA – O exercício do poder consiste em conduzir condutas e
dispor a probabilidade = governo
Cabe as perguntas:
A)Que sistemas de diferenciação permitem que uns atuem sobre os
outros? Diferenças jurídicas, tradicionais, competências cognitivas....)

B)Que objetivos se perseguem? (manter um privilégio, acumular


riqueza, exercer uma profissão....)

C)Que modalidades instrumentais se utilizam? (palavras, dinheiro,


vigilância.....)

D) Que formas de institucionalização estão implicadas? ( costumes,


estruturas jurídicas, hierarquia,....)

E) Que tipo de racionalidade está em jogo? (tecnológica, econômica,


científica,....)
Poder Pastoral

Exercido sobre o “rebanho” e não sobre


territórios

Reelaborações modernas – Estado:


polícia, judiciário, economia... – da
salvação para: a disciplina, para o
governo dos corpos, da população , da
saúde, da vida, da morte
Transformação do poder no ocidente

Modalidades de exercício do poder nas


sociedades ocidentais modernas

Séc. XVII - As Disciplinas – corpo individual,


máquina

Séc. XVIII - Uma Biopolítica - população, o


corpo-espécie, corpo-vivente como
suporte dos processos biológicos
Nossas sociedades
São sociedades de normalização
Norma
Domínio em que é exercido o poder na sua forma moderna
(diferente da lei), não reprime simplesmente uma
individualidade, uma natureza já dada, mas constitui, forma.

A norma afeta todas as condutas, refere todos os atos e as


condutas individuais a um campo de diferenciação: o normal.

As instituições disciplinares (exercito, hospital, fábrica,


escola) são instâncias de normalização.
Disciplina
Uma forma de exercício de poder
Anátomo-política dos corpos

1) é uma arte da distribuição dos indivíduos no espaço

2) não exerce seus controles sobre os resultados, mas


sobre os procedimentos

3) implica uma vigilância constante sobre os indivíduos

4) supõe um registro permanente de dados sobre os


indivíduos
Panoptismo

É o princípio geral de
uma nova “anatomia
política” cujo objeto e
finalidade são as
relações de disciplina
- invenção tecnológica
da ordem do poder
Biopoder

Poder sobre a vida (políticas


da vida biológica, políticas
da sexualidade)

Poder sobre a morte


(racismo)
Governamentalidade

Práticas de governamento ou da
gestão governamental que tem na
população seu objeto, na economia
seu saber mais importante e nos
dispositivos de segurança seus
mecanismos básicos (Veiga-Neto,
2005:86)
Governamentalidade
1º - Objeto de estudo das maneiras de governar;

A) conjunto constituído pelas instituições, procedimentos , análises e


reflexões , cálculos e táticas que permitem exercer essa forma
complexa de poder e que tem como alvo a população.

B)tendência que em todo ocidente conduziu incessantemente a


primazia desse tipo de poder (de governo) sobre todos os outros,
soberania, disciplina...

Resultado do processo através do qual o Estado de justiça (idade


média) se tornou Estado administrativo e foi sendo
governamentalizado (tecnologia político-militar e polícia)
Governamentalidade

2º - encontro entre as técnicas de


dominação exercidas sobre outros e as
técnicas de si;

- Exame das artes de governar: estudo do


governo de si (ética), o governo dos outros
(formas políticas de governamentalidade)
e as relações entre governo de si e
governo dos outros.
Individualização

As disciplinas modernas marcaram uma inversão do eixo da individualização: soc.


Feudal- máxima individualização para quem exerce o poder

No regime disciplinar: são fortemente individualizados aqueles sobre os quais se exerce


o poder, mediante a vigilância contínua e o exame.

“A individualização não se opõe ao poder; ao contrário, nossa individualidade, a


identidade obrigatória de cada um é o efeito e um instrumento de uma forma de
exercício do poder, o poder disciplinar”(DE2)

“A espiritualidade cristã e sua técnica é uma busca crescente de individuação” (DE3)

“Pode-se ver no Estado moderno uma matriz de individualização e uma nova forma de
poder pastoral” (DE4)
Racionalidades

Ocidentais: razão X desrazão;


Logos grego não tem contrário
A razão não é originária, mas é a cesura que lhe faz existir
O momento em que a razão busca apoderar-se da não-razão para buscar sua
verdade = racionalidade (séc. XVII: idade clássica)
Diferentes formas de racionalidades que organizam a ordem das práticas;
racionalidade científica, racionalidade de Estado; racionalidade do
comportamento
Não se trata de abordas a história da razão que se reveste de um caráter global e
unitário,
Se trata de uma história da verdade
modernidade

A modernidade começa quando o acesso do sujeito a verdade está


determinado apenas por exigências cognoscitivas. (...) se entrou na
época moderna no dia em que se admitiu que o que dá acesso à
verdade, as condições sob as quais o sujeito pode ter acesso à
verdade, é o conhecimento e apenas o conhecimento (HS)

Na antiguidade, o acesso do sujeito a verdade se dava através de


uma série de técnicas e exercícios variados.
Moral: conjunto de valores e de regras de ação que são impostas aos
indivíduos e aos grupos por diferentes aparelhos prescritivos (família, igreja,
escolas...)

Atos (condutas): comportamento das pessoas em relação ao código

Ética: a maneira pela qual o indivíduo constitui a si mesmo como um sujeito


moral. Dado um código, há diferentes maneiras de o indivíduo conduzir-se
moralmente, que ao agir não opere simplesmente como agente, mas como
sujeito moral dessa ação (Ditos e Escritos V, p.211-212)

Substância ética: parte de nós ou de nosso comportamento que importa


para o juízo ético, matéria a ser trabalhada pela ética (Foucault, 1995, p. 263)
Estética da Existência
Modo de sujeição, uma das maneiras pelas quais o indivíduo se encontra
vinculado a um conjunto de regras e de valores.

ideal de ter uma vida bela e deixar a memória de uma existência bela.

A vida é o material de uma obra de arte.

Comportamento moral da Grécia clássica onde a maneira de viver em


que o valor moral não provém da conformidade com um código, mas de
princípios gerais onde há liberdade (não-escravidão aos prazeres,etc...).
Substância ética (Foucault, 1995:265-268)
Ética Substância ética Modo de Práticas Finalidade
sujeição Ascéticas
grega Aphrodisia (atos Escolha pessoal Técnicas Existência bela
ligados ao prazer estético-política corporais, Maestria de si
e ao desejo) economia das
leis
cristã Desejo, Obediência a lei Autodecifração Imortalidade,
concupiscência, divina confissão pureza
Carne
contemporânea A sexualidade Saber científico Para explicitar a Revelação do
verdade do sexo eu
Morte do homem
O homem aparece (na episteme moderna, com o
desaparecimento do discurso clássico e o surgimento das
ciências humanas), em uma posição ambígua: objeto do
saber e sujeito que conhece. Objeto finito e sujeito finito.

Finitude expressa na positividade dos saberes. O Homem


é dominado pela vida, trabalho, linguagem, que são
anteriores a ele.

O homem, para as ciências humanas, é um objeto de


conhecimento para que ele [homem] possa converter-se em
sujeito de sua própria liberdade e de sua própria existência.
Como essas ciências não chegam nunca a encontrar o que é
próprio do homem, uma essência humana, o homem
desaparece, não como objeto de saber, mas como sujeito de
liberdade e de existência.

O homem desaparecerá assim que essa figura encontre uma


forma nova.
Bibliografia
• CASTRO, E. Vocabulário de Foucault – um percurso pelos seus temas,
conceitos e autores. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
• DRAYFUS, H. ; RABINOW, P. Michel Foucault – Uma trajetória filosófica:
para além do estruturalismo eda hermenêutica. Forense Universitária,
1995.
• FOUCAULT, M. Dits et éscrits. Paris: Gallimard
• REVEL, J. Foucault: conceitos essenciais. São carlos: Claraluz, 2005.
• VEIGA-NETO, A. Foucault e a Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
• VEIGA-NETO, A. Teoria e método em Michel Foucault (im)possibilidades.
Cadernos de Educação. FaE/PPGE/UFPel | Pelotas [34]: 83 - 94,
setembro/dezembro, 2009.

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