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O ESTUDO DA ENUNCIAÇÃO:

SUJEITOS E SUBJETIVIDADE
Discurso:
- supõe a atividade de sujeitos, logo é marcado pela
inscrição de um sujeito (ser social)
- é um acontecimento:atividade de um certo
sujeito, em dado momento e em um determinado
lugar

Os sujeitos são os protagonistas do discurso.

Até a teoria da enunciação, (i) a língua era


concebida como um objeto abstrato, passível de ser
descrito apenas na sua organização interna e (ii) o
termo sujeito era uma categoria gramatical.
TEORIA DA ENUNCIAÇÃO
Relações (i)entre os enunciatários, (ii) do
enunciador com o enunciado e (iii) com os outros
elementos da situação de enunciação.

Enunciação:momento único, que pressupõe


sujeitos enunciatários, um momento e um lugar
determinados.
ABORDAGENS
Charles Bally: estilística
Émile Benveniste: pioneiro; aparelho formal da
enunciação;dêiticos
Mikhail Bakhtin: perspectiva interacional;
dialogismo
Oswald Ducrot: perspectiva linguística
Patrick Charaudeau: modo enunciativo;
Dominique Maingueneau:conceito de ethos
CHARLES BALLY (1865-1947)

Publica Tratado de estilística francesa

Estudo da expressividade das formas linguísticas

A enunciação é um termo antigo no domínio da


filosofia que foi utilizado na lingUística de forma
sistemática por Charles Bally (Linguistique générale
et linguistique française, 1932).
BAKHTIN (1895-1975)
• “A verdadeira substância da língua não é
constituída por um sistema abstrato de formas
linguísticas nem pela enunciação monológica
isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua
produção, mas pelo fenômeno social de
interação verbal, realizada através da
enunciação ou das enunciações”. (Bakhtin,
1986, p. 123)
Interesse pelo funcionamento social da língua, com foco
na interlocução entre os indivíduos.

Enunciação:o fenômeno de interação social,produto da


interação de indivíduos socialmente organizados, ainda
que o interlocutor seja virtual ou não esteja fisicamente
presente.

O texto é constitutivamente dialógico, já que encerra


um diálogo entre os interlocutores e um diálogo com
outros textos (os elementos situacionais).Essa
polifonia é constitutiva da subjetividade
Todo discurso se constitui tendo em vista um
interlocutor presente ou suposto, logo instaura um
diálogo ao ser orientado para um destinatário real ou
virtual.

“a enunciação é o produto da interação de dois


indivíduos socialmente organizados e, mesmo que não
haja um locutor real, este pode ser substituído pelo
representante médio do grupo social ao qual pertence o
locutor”.(BAKHTIN, 1979,p.122).
Todo enunciado pressupõe um destinatário uma vez que
dirigir-se a um tu já indica a busca de responsividade. Se
a língua é fato social, ela está sempre orientada para um
outro que é a condição mesmo de existência do
enunciado.

O sujeito depende do outro para que ele exista: o sujeito


constitui-se enquanto tal através do reconhecimento do
outro e do auto-reconhecimento através de um processo
de alteridade. O reconhecimento de si acontece pelo
reconhecimento do outro.
SUJEITO PARA BAKHTIN
ser social, um sujeito histórico e ideológico porque
entrecruzado por diferentes vozes sociais;

O sujeito não existe fora da ação discursiva que ele produz; o


sujeito está circunscrito nas vozes que ele enuncia.

Essa concepção de sujeito se opõe ao sujeito cartesiano “eu


penso” tomado como uma identidade permanente e sinaliza
não apenas o condicionamento social da atividade
enunciativa, como também a dimensão dialógica do sujeito
em enunciação.
BENVENISTE
Inaugura uma perspectiva centrada na subjetividade da linguagem por
tratar do papel do sujeito falante na posição do locutor:inova ao
ultrapassar uma visão centrada nas condições de emprego das formas
para postular uma análise voltada para o fenômeno da enunciação (as
condições de emprego da língua);

Insere na linguística as noções de sujeito e de referência: elabora uma


teoria da enunciação, que analisa o posicionamento do sujeito falante.
considera que “as formas lingüísticas que constituem as marcas da
subjetividade na língua”.
O Aparelho Formal da Enunciação

“A enunciação é este colocar em funcionamento


a língua por um ato individual de utilização”.
(1989, p. 82)

A situação de enunciação é constituída pelo


conjunto dos parâmetros que permitem a
comunicação, tais como o locutor, o interlocutor,
o lugar e o momento da interlocução.
O locutor se apropria do aparelho formal da língua e
ele enuncia sua posição por meio de índices
específicos.

Portanto, a enunciação é condição para a constituição


do sujeito no e pelo discurso que produz, ela é a
conversão individual da língua em discurso.
SUBJETIVIDADE
A linguagem e a comunicação só se efetivam quando o locutor se coloca
como sujeito, referindo a si próprio como eu e assim, postulando o outro
como tu. Portanto, a subjetividade se instala na língua a partir da relação
entre eu e tu; trata-se de uma relação que pode ou não ser revelada
pelas marcas formais do discurso.

Essas marcas são chamadas de “índices de ostensão” por serem


indicadores da dêixis. Os dêiticos indicam o processo pelo qual um sujeito
se refere à situação de seu discurso de forma a marcar o tempo e o
espaço no qual se situa o sujeito da enunciação.
CATEGORIA DE PESSOA

Pronomes pessoais: não se referem a um conceito ou


a um indivíduo; funcionam como signos vazios já que o
eu e o tu só podem ser identificados a partir da
instância do discurso que os produz.

A enunciação tem estrutura de diálogo: desenvolve-se


nesse jogo entre eu e tu. Quando o indivíduo se
apropria da linguagem, o eu, ao proferir eu, leva o
locutor a propor-se como sujeito, ou seja, instala a
subjetividade.
MARCAS DE SUBJETIVIDADE
Modalidades da enunciação (referem-se à
relação subjetiva que o locutor instala com o
interlocutor): interrogação, asserção e
intimidação, por exemplo;

Modaliddes do enunciado (referem-se ao


dictum): advérbios, modos verbais, por
exemplo.
Os dêiticos espaço-temporais
• “São os indicadores da dêixis, demonstrativos,
adjetivos, que organizam as relações espaciais
e temporais em torno do sujeito tomado
como ponto de referência: ‘isto, aqui, agora’ e
as suas numerosas correlações ‘isso, ontem,
no ano passado, amanhã’ etc. têm em comum
o traço de se definirem somente com relação
à instância de discurso na qual são produzidos,
isto é, sob a dependência do eu que aí se
enuncia”. (BENVENISTE, 1995, p. 28)
A categoria de tempo
Temporalidade instaurada no presente da
enunciação:passado e o futuro se organizam
e têm como ponto de referência o presente
da temporalidade.

Tempo é a categoria linguística pela qual eu


localizo os acontecimentos em função do
momento da enunciação; é simultâneo à
enunciação;
A categoria de espaço
• É marcada por pronomes
demonstrativos, advérbios de lugar
ou adjunto adverbial de lugar.


PLANOS DA ENUNCIAÇÃO

Benveniste opõe discurso e récit (ou história)

Discurso:tipo de enunciação vinculada a uma situação de


enunciação, como, por exemplo, você virá amanhã. Há vários
índices da enunciação, com marcas dêiticas. A referência é o tempo
da enunciação.
Récit (ou história):tipo de enunciação sem nenhum vínculo com a
situação de enunciação, como, por exemplo César ataca os
inimigos. Marcado pela ausência de elementos lingüísticos que
informam sobre o ato e o sujeito da enunciação; uso de 3ª pessoa
e sem marcas dêiticas. A referência é o tempo do acontecimento
enunciado.
OSWALD DUCROT
Não foca a contextualização histórica da atividade enunciativa:
aborda as formas linguístico-discursivas

Esboço de uma teoria polifônica da enunciação:o autor de um


enunciado coloca em cena diferentes sujeitos, que são os
responsáveis pelo sentido do enunciado:polifonia

Ducrot (1984):considerando que o indivíduo que produz o enunciado


não é necessariamente a instância que assume a responsabilidade
sobre ele, define a enunciação como “um acontecimento
constituído pela aparição de um enunciado”.
Para ele, a enunciação acontece independente de seu autor e não
estabelece qualquer vínculo com a sua historicidade.
ENUNCIAÇÃO

É o fato de aparecer um enunciado e o enunciado é


uma entidade observável, uma entidade linguística
que não se repete. Assim, cada enunciado comporta
apenas uma enunciação: proferido por duas pessoas
ou proferido em dois momentos diferentes pela
mesma pessoa, teremos dois enunciados diferentes.
DUCROT
- contesta a unicidade do sujeito falante;
- postula que os enunciadores são seres que se
expressam através da enunciação;
-distingue três níveis ou três figuras
enunciativas:sujeito falante empírico, locutor e
enunciador
1-Sujeito falante empírico: produtor efetivo do enunciado e
exterior ao seu sentido; elemento real da experiência.

2-Locutor: responsável pelo dizer;tido como fonte do


discurso; não é um ser do mundo; é uma “ficção discusiva”
porque é a ele que se referem o pronome eu e outras marcas
da primeira pessoa; é o produtor físico do enunciado e está
inscrito no próprio sentido do enunciado;

3-Enunciador:corresponde ao ponto de vista dos


acontecimentos apresentados.
EXEMPLOS
“então a mãe de Chapeuzinho Vermelho
disse: filha, leve esses doces para a
vovozinha”

“O delator disse que o político pediu mais 10


milhões”

“Pedro parou de fumar”

“Me mantenha sempre fechada”


NIVEIS DE POLIFONIA
1-Nível dos locutores: em um mesmo
enunciado,locutores diferentes embora haja um só
sujeito falante. Exemplo: discurso relatado em estilo
direto, citações, referências etc.

2-Nível dos enunciadores: perspectivas enunciativas


diferentes;no mesmo enunciado, há mais de um
enunciador. Exemplo:pressuposição, da ironia, do
discurso indireto livre . Não há marcação linguística.
A TEORIA SEMIOLINGUÍSTICA
PATRICK CHARAUDEAU

Abordagem discursiva:socio-comunicativa
Sujeitos:envolvidos em uma encenação
Contrato:espaço de limitações e de
estratégias

Sujeitos
Modo enunciativo
ATO ALOCUTIVO: RELAÇÃO DO LOCUTOR COM SEU
INTERLOCUTOR

o sujeito falante enuncia sua posição em relação ao


interlocutor, buscando agir sobre ele; existe uma relação
de influência do locutor para com seu interlocutor

EXEMPLO: “Você poderia explicar novamente a terceira


questão da prova? “; “Quem você pensa que é para
falar assim comigo? “
ATO ELOCUTIVO: RELAÇÃO DO LOCUTOR COM SEU DITO
(ou com seu propósito)

o sujeito falante enuncia sua posição em relação ao que ele


diz (propósito referencial), sem implicar em uma tomada de
posição por parte do interlocutor; posição apreciativa.

EXEMPLOS: Eu adoro sorvete de creme com calda quente de


chocolate; Não creio ser preciso ampliar o horário do curso.
Eu prometo, eu estou de acordo, eu acho
ATO DELOCUTIVO: RELAÇÃO DO LOCUTOR COM O OUTRO

O sujeito falante se apaga no seu ato de enunciação e não


implica nele seu interlocutor, o que resulta em uma
enunciação aparentemente objetiva

EXEMPLOS: Dizem que as eleições serão marcadas por


muito baixaria.É impossível não se apaixonar pelas histórias
em quadrinhos.
SUJEITOS DO ATO DE LINGUAGEM
Dois circuitos que se intercondicionam:

1- um dito “interno”, que compreende o “circuito da fala”;


nele situam-se o sujeito enunciador e o sujeito destinatário,
que são um desdobramento do sujeito comunicante e do
sujeito interpretante, respectivamente, que se encontram no
“mundo real”. Os sujeitos que se encontram no “mundo da
palavra” são seres instituídos na singularidade de cada
processo enunciativo.

2-um circuito dito “externo”, que corresponde ao “mundo


real”. Os sujeitos desse mundo real são sujeitos socialmente
inscritos e determinados, indivíduos instanciados em uma
realidade histórico-cultural determinada.
EUc: indivíduo “real”, pois sujeito comunicante ou falante que a
cada situação de interação verbal cria um Eue

EUe:sujeito da “palavra”; responsável pelos efeitos que o uso da


linguagem pode ter sobre o sujeito interpretante (leitor ou
ouvinte);esse sujeito enunciador dirige-se a um Tud

TUd:sujeito interpretante idealizado, ou seja, destinatário fictício.


O objetivo do EUc/EUe é fazer com que as interpretações deste
destinatário idealizado coincidam com aquelas atribuídas ao
destinatário “real”, o Tui

TUi: sujeito interpretante exterior ao texto; pertence ao circuito


externo do ato de linguagem.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail .Problemas da poética de Dostoiévski. Rio
de Janeiro: Editora Forense Universitária, 1997.
BAKHTIN, Mikhail (VOLOCHINOV) (1929). Marxismo e Filosofia
da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 1979.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo:
Martins Fontes, 1992.
BENVENISTE, Émile. Problèmes de linguistique génerale.
Paris: Gallimard, Vol II, 1974
BENVENISTE, Émile. Problèmes de linguistique génerale.
Paris: Gallimard, Vol I, 1966.
DUCROT, Oswald. O dizer e o dito. Campinas: Pontes,1974.
PAVEAU, Marie-Anne & SARFATI, George Elia. As grandes
teorias da linguística: da gramática comparada à pragmática.
São Carlos: Clara Luz, 2006.
ZANDWAIS, Ana (org). Mikhail Bakhtin: contribuições para a
filosofia da linguagem e estudos discursivos. Porto alegre: Editora
Sagra Luzzato, 2005.

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