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Seminário Antropologia II: Vídeo Etnográfico

Profª. Claudia Turra Magni

ETAPAS DA REALIZAÇÃO FÍLMICA EM


ANTROPOLOGIA VISUAL
ETAPAS DA REALIZAÇÃO FÍLMICA EM ANTROPOLOGIA VISUAL
(a partir da tradução de Jenny Maggi: Introduction au cours: Méthodes audiovisuelles en
sciences sociales e de elementos do Curso de Roteiro – Casa de Cinema de Porto Alegre,
1996)

Cinema = linguagem (sistema de SIGNOS usado pelos indivíduos e que podem ser
percebidos pelos sentidos: tato, olfato, gustação, AUDIÇÃO E VISÃO - únicos à disposição no
cinema, atualmente)

Etapas da realização fílmica:

1 | PROJETO

2 | DOCUMENTAÇÃO E REFERENCIAIS

3 | REGISTRO

4 | EDIÇÃO
1 | PROJETO

O QUE?
 tema (o que se quer contar ou explorar)




POR QUE?
 justificativa (pessoal e social)
PARA QUEM?
 principal público estimado

ONDE, COM QUEM ?
 universo de pesquisa


COMO?
 método (etnográfico)

OBSERVAR :

Ponto de vista, lugar de fala (perspectiva de quem)?
Quem conta a história?
Ponto de vista do realizador, dos personagens?
Dos diferentes agentes envolvidos no campo (em acordo ou desacordo entre si)?
(evitar neutralidade jornalística e descompromisso)
1 | PROJETO | A ESCOLHA DA ESCRITURA FÍLMICA :
O documentário não permite roteiro definido previamente, mas geralmente requer um pré-
roteiro que guia o registro de imagens;
O roteiro virá depois dos registros, para guiar a edição
A gramática fílmica se elabora a partir de elementos de base, imagens e sons carregados de
sentido
A escritura fílmica difere da textual (tese, TCC, etc.) e deve ser definida previamente (aspectos
técnicos, estéticos e semânticos):
Texto: letras, palavras, frases, parágrafos, capítulos, partes...
Filme: imagens, planos, cenas, sequências e partes...

a | IMAGEM :
Menor unidade da escritura fílmica registrada em vídeo

No filme: 24 imagens/segundo (principais suportes: filme 35 mm ou 16 mm)

No vídeo: 30 (NTSC) ou 25 (PAL-M) imagens/segundo


1 | PROJETO | A ESCOLHA DA ESCRITURA FÍLMICA :
b | PLANO:

Segunda unidade da escritura, constituída por um conjunto de imagens delimitadas pela


duração de tempo entre a ativação e a interrupção da câmera

Conselho : evitar planos de menos de 10 segundos por razões estéticas e técnicas de


montagem)

c | CENA
A cena é composta pela montagem de uma sucessão de planos consagrados à mesma ação
ou ao mesmo sujeito
(encadeamento de plano 1 + plano 2 + plano 3, etc. = cena1)

d | SEQUÊNCIA

Constituída por uma sucessão de cenas consagradas à mesma ação, tema ou sujeito
(encadeamento de cena 1 + cena 2 + cena 3, etc. = sequência1)
1 | PROJETO | A ESCOLHA DA ESCRITURA FÍLMICA :
e | PLANO-SEQUÊNCIA

Apresenta várias cenas encadeadas e representa uma progressão narrativa

f | PARTE
Encadeamento de sequências ou de plano(s)-sequência

A estrutura diacrônica do filme é formada pelo encadeamento de conjuntos


(plano, cenas e sequências)
1 | PROJETO | BASES DA NARRATIVA FÍLMICA:
Um filme é uma história, uma narração, um discurso fundado sobre uma narrativa que guia o
espectador num caminho concebido pelo realizador

- Que história quero contar?


- Qual(is) personagens conduzem essa história?
- Como representar a passagem do tempo? (enxugamento, dilatação, elipses, etc.)

Ex de escolha do modo narrativo:


- História guiada por um texto escrito ou comentários em off (com informações colhidas
durante a filmagem – predomina o olhar do realizador)
- Um personagem principal conduz a história (voz in ou off, eventualmente completada por
outros personagens)
- Comentários e narrativas se alternam
- Narrativas cruzadas (palavra de vários personagens que contam e testemunham sobre um
mesmo tema, complementando-se, reforçando-se ou contradizendo-se mutuamente)
2 | DOCUMENTAÇÃO E REFERENCIAIS
- Buscar conhecimento prévio sobre o tema e pesquisá-lo com base nos métodos
etnográficos (observação participante, conversas, entrevistas, análise do material empírico)

- A partir do recorte temático escolhido, definir as escolhas narrativas, planificar as situações


(onde, quando, como) a serem filmadas, identificar as pessoas com potencial de se tornarem
personagens centrais da história, etc.

- Atenção às atmosferas, ambientes relacionais, luzes, prever dificuldades e oportunidades no


momento do registro;

- Considerar tabus, honras, respeito, hierarquias, entrosamento em jogo na relação entre


equipe e pessoas filmadas.
3 | REGISTRO
FILMAGEM:

- O momento certo : ativar a câmera antes que o evento se produza (intuição, instinto
melhoram com a experiência, e parar o registro um pouco depois, considerando as
folgas necessárias à montagem);

- Deixar folga inicial na fita;

ENQUADRAMENTO:

- O enquadramento se encerra num todo, excluindo o que está fora do quadro (hors-
champ), que não se vê, mas pode-se perceber. A escolha do enquadramento leva em
conta aspectos estéticos, mas também semânticos e contextuais

- Regra : para cada centro de interesse, registrar uma grande variedade de planos,
evitando movimentos de câmera desnecessários.
3 | REGISTRO | ENQUADRAMENTO E MOVIMENTO:
- O ângulo do quadro, o valor do plano devem ter um sentido e se explicar (ex.: close pode
revelar intimidade, revelações importantes; plano de conjunto, plano aberto, afastamento
podem sugerir distância; entrevistas requerem plano médio seguido de aproximação, etc.)

- Quadro fixo ou movimento de câmera são escolhas estéticas, mas os movimentos devem se
justificar (câmera móvel pode dar sensação de vertigem – ver se isso se justifica ou não na
proposta narrativa)

a | PLANOS
3 | REGISTRO | ENQUADRAMENTO E MOVIMENTO:

b | ÂNGULO LATERAL c | ÂNGULO VERTICAL


3 | REGISTRO | ENQUADRAMENTO E MOVIMENTO:
d | PROFUNDIDADE
- esquerda;
- direita;
- em cima;
- em baixo;
- ao fundo;
- fora do quadro
- composição

e | MOVIMENTO DE CÂMERA:
- pan(orâmica): no tripé horizontalmente, move-se sobre o eixo = acompanhar o cenário;
ponto de vista de quem vê;
- tilt: no tripé verticalmente, move-se sobre o eixo;
- horizontal/vertical.
- traveling:
- lateral, vertical (grua);
- aproximação/recuo.
3 | REGISTRO | ENQUADRAMENTO E MOVIMENTO:
f | ZOOM
- Não existe na natureza; usar com moderação (salvo escolhas estéticas propositais);
privilegiar planos fixos, sem mexer a câmera (o movimento será dado na montagem)
- O zoom serve para mudar de quadro (ex: passar sem interrupção de um plano próximo
a um plano aberto, e na montagem, se elimina o movimento)
Se for preciso usar o zoom, mudar um pouco o quadro

g | PLONGÉE (SUPERIOR), CONTRA-PLONGÉE (INFERIOR):

Escolha estética e de sentido :

- O plongée revela um olhar do alto (pode significar situação de subordinação e pressão);


- Contra-plongée revela uma visão de baixo pra cima (pode significar a visão de uma
criança)
3 | REGISTRO
AÇÃO DRAMÁTICA

- no personagem;
- entre os personagens;
- do personagem em relação a outros ou outro elemento.

LUZ

- Utilizar o mais que possível as fontes naturais de luz, as luzes disponíveis no local;
- Jamais colocar a câmera diante a principal fonte de luz do local, mas sim atrás dela;
- Filmar nas melhores condições de iluminação possíveis, fazendo, eventualmente
reajustes (abertura de janelas, cortinas, ligar ou desligar outras luzes, usar velas)
3 | REGISTRO
SOM

- É extremamente importante (uma imagem ruim não estraga necessariamente um


filme, mas um som ruim, sim)
- No início da filmagem, escutar a acústica do lugar, identificar o som central do ponto
de vista do sentido
- O enquadramento dos sons e sua proximidade são concebidos em relação direta com
a imagem, em função do valor do plano;
- Para evitar cortes de som no momento da filmagem, e facilitar a montagem de som,
não interromper o registro quando houver mudança de planos e de zoom (guardar a
continuidade do som)
4 | EDIÇÃO
MONTAGEM
- Última fase da escritura fílmica, quando a narrativa se organiza de forma estruturada;
Importância de dispor de tempo de trabalho adequado, permitindo a reflexão, as
últimas escolhas, as hesitações, os erros …
- A montagem é uma elaboração, um trabalho de construção de uma história, de
construção de sentido.

DERUSHAGEM
- Trabalho de transcrição das imagens brutas (rushs);
- Para organizar a sucessão dos fatos, é usual modificar a ordem das situações filmadas ,
pois as ações podem sofrer mutações espaço-temporais no momento de seu
gerenciamento, e a ordem diacrônica do filme montado pode diferir muito da
cronologia dos fatos reais, tais como foram filmados
- O volume dos rushs (frequentemente, dezenas de horas) é submetido a variáveis (as
vezes, às exigências da difusão (15 min, 26 min, 30 min, 35 min, 45 min, 52 min, 90 min)
4 | EDIÇÃO
ESTRUTURAÇÃO DA MONTAGEM
- É a organização da continuidade narrativa (em imagens, planos, cenas, sequências e
partes), criando a história concebida por uma escritura (ou uma idéia), posteriormente
elaborada em imagens e sons no momento da filmagem.
- Restituição das ambiências, das atmosferas relacionais, da psicologia dos personagens,
das situações sociais
- Estruturação da obra em um tempo que lhe seja próprio e que integra o tempo da
história
4 | EDIÇÃO
ESTILÍSTICA DA MONTAGEM
- Ela reencontra, em certos aspectos, a escritura textual: o ritmo de uma cena ou de uma
sequência se constrói como o ritmo de uma frase;
- A elipse substitui uma duração de tempo maior, através da eliminação de planos
repetidos, de mexidas de câmera e de planos desfocados (exceto se forem
significativos); - Os documentários costumam amenizar efeitos de edição
(aceleração, câmera lenta, fusão, etc.)
- Campo e contra-campo: alternação de planos de cada um dos dois personagens que
dialogam face-à-face ou lado-à-lado. Nesse caso, as câmeras não são colocadas em
oposição (180°), mas entre 90 et 120° de oposição.
«Regra dos 180 ° » : as câmeras devem estar do mesmo lado linha em que estão os dois
personagens. Um personagem é visto sempre de perfil direito e o outro de perfil
esquerdo – o que dá uma sensação de coerência ao espectador e facilita a comprrensão
da cena.
4 | EDIÇÃO
CORTE
- corte propriamente (seco);
- fusão;
- sobreposição;
- fade in / fade out

ESTÉTICA DA MONTAGEM:
As abordagens teóricas da montagem são variadas:
2 vertentes principais influenciaram o cinema documentário:
- Vertov (Escola soviética, como Eisenstein, Kuleshov): ex: L’homme à la caméra
- Flaherty: ex: Nanook of the North
Outras abordagens: Godard (Montage, mon beau soucis) ; Gilles Deleuze (L’image-
mouvement), Jean-Paul Colleyn (Le regard documentaire), etc.
4 | EDIÇÃO
MONTAGEM DE SOM
- As montagens acontecem numa só timeline, enquanto a música é montada em mais
(2, 3 ou mais). Ex : uma para música, uma para som ambiente, uma para eventuais
comentários, etc..

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