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Direito da Infância e Juventude

Professor Nailson Junior


DA JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE

• Art. 145. Os estados e o Distrito Federal


poderão criar varas especializadas e exclusivas
da infância e da juventude, cabendo ao Poder
Judiciário estabelecer sua proporcionalidade
por número de habitantes, dotá-las de
infraestrutura e dispor sobre o atendimento,
inclusive em plantões.
• Estado é autônomo para editar a sua lei de
organização judiciária, dispondo a respeito da
criação e extinção de Varas comuns ou
especializadas.
• há várias Comarcas de médio e grande porte
que ainda não as possui...
Juiz- Vara
cumulativa

principal anexo
• Lembremos que um processo civil parado no
escaninho do cartório é negativo para as
partes e para a imagem da Justiça, mas um
procedimento referente a uma criança em
acolhimento institucional, largado no
escaninho, é um rombo em parte da vida de
uma pessoa, que jamais será recuperado.
• Simone Franzoni Bochnia, em crítica realista, acerca da
Vara da Infância e Juventude, diz: “a Justiça da Infância
e da Juventude não terá condições de executar as leis
se não dispuser de meios e recursos necessários à sua
instalação e funcionamento. Em contrapartida, o que
se impõe aos técnicos é observar e avaliar cada
situação, vendo expurgar o viés do sentido
culpabilizante ou moralizante, com a busca da
neutralidade. (...) O cerne do problema, entretanto, é
que ‘muitos têm como certo que quem decide é o
profissional do Serviço Social, e não o magistrado’
• A demora da equipe interprofissional;
• A falta de recursos.
Do Juiz

• um burocrata ou um missionário?
• ... deve ser um vocacionado
• há certas áreas do exercício jurisdicional que
são particularmente complexas e delicadas,
demandando, além da vocação, um especial
talento do juiz para cuidar com sucesso dessas
questões polêmicas por si mesmas.
Três campos da magistratura, que chamaremos
de especiais:

• a) Vara da Infância e Juventude (em primeiro


lugar);
• b) Varas de Execução Penal (em segundo);
• c) Varas de Família e Sucessões (em terceiro);
d) Varas do Júri (em quarto).
• O juiz somente burocrata é obstáculo para essa
justiça especializada.
• Magistrado tem que ter plus, relacionado ao trato
atento com o ser humano, à sensibilidade de
saber ouvir, à energia de saber se impor no
momento adequado, à vontade de se superar no
cotidiano, vencendo não somente os processos
numericamente, mas resolvendo conflitos sociais
de grande envergadura, na medida das suas
possibilidades
• O vocacionado magistrado da infância e
juventude projetaria seu filho na pele de cada
criança ou adolescente com quem lida, razão
pela qual não iria permitir o abandono jurídico
de vários deles em abrigos, por longos
períodos, sem solução real.
• Há de se lutar para criar critérios de
provimento de Varas específicas, exigindo
conhecimento técnico destacado e particular
empenho do magistrado.
Pesquisas realizadas pela Associação Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça
e Defensores Públicos da Infância e Juventude (ABMP) demonstra o seguinte quadro:

• “5.561 municípios brasileiros; 92 apenas com


Varas da Infância; 18 com mais de uma Vara
da Infância; SP: 15 Varas; Fortaleza: 5; Porto
Alegre: 4; DF: 1” (Simone Franzoni Bochnia, Da
adoção. Categorias, paradigmas e práticas do
direito de família, p. 149).
• Não tem requisito específico para ser juiz da
Infância e Juventude.
• O ingresso na carreira se dá por concurso de
provas e títulos (art. 93, inciso I, da
Constituição Federal) e a promoção, por
antiguidade e merecimento.
• O magistrado e a sociedade.
Juiz que apenas exerce a função da área da Infância e
Juventude

• “Os processos que envolvam (menores) de


idade, que não tramitem em Juizados da
Infância e da Juventude, são isentos de custas
e, diante do princípio da proteção integral,
cabível a concessão da gratuidade de justiça.
Agravo de instrumento provido” (AI
70069372936 – RS, 7.ª Câm. Cível, rel. Jorge
Luís Dall’Agnol, 29.06.2016, v.u.).
Subjetivismo das decisões judiciais

• Ana Paula Motta Costa diz que “algumas vezes


os magistrados da Infância e Juventude
demonstram em suas sentenças disposição de
enfrentar o requisito legal da fundamentação,
afirmando estar comprovada a materialidade
e a autoria, porém em verdade não o fazem,
justificando sua convicção em provas
testemunhais, não confirmadas, ou mesmo no
apelo social pela decretação da medida
• Obs.:princípio de presunção de inocência,
• Não é possível, portanto, a aplicação de
medida socioeducativa de internação com
base apenas em provas testemunhais ou
justificando, em comum acordo com o
Ministério Público e a defesa, que a medida de
privação da liberdade pode ser positiva para o
adolescente”
Art. 147. A competência será determinada:

• I – pelo domicílio dos pais ou responsável;


• II – pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à falta
dos pais ou responsável.
• § 1.º Nos casos de ato infracional, será competente a autoridade
do lugar da ação ou omissão, observadas as regras de conexão,
continência e prevenção.
• § 2.º A execução das medidas poderá ser delegada à autoridade
competente da residência dos pais ou responsável, ou do local onde
sediar-se a entidade que abrigar a criança ou adolescente.
• § 3.º Em caso de infração cometida através de transmissão
simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais de uma comarca,
será competente, para aplicação da penalidade, a autoridade
judiciária do local da sede estadual da emissora ou rede, tendo a
sentença eficácia para todas as transmissoras ou retransmissoras do
respectivo estado.
Competência absoluta em razão da matéria:

• os temas ligados à infância e à adolescência,


previstos neste Estatuto, constituem matéria
firmada em competência absoluta dos juízes.
Isso significa que o juiz da Vara cível (ou
criminal) não pode decidir questão ligada à
adoção de uma criança, a menos que detenha
competência cumulativa no tocante à infância
e juventude. Havendo Vara privativa da
Infância e Juventude, na Comarca, a decisão
tomada pelo juiz civil é nula.
Competência em razão do território:

• pelo território do domicílio dos pais ou


responsável ou, em segundo lugar, pelo local
onde se encontre o menor, faltando pais ou
responsável.
• Se um juiz territorialmente incompetente tomar
alguma medida no tocante à proteção cautelar do
menor, retirando-o de casa por sofrer abusos, por
exemplo, seu ato é válido, mesmo que, depois,
envie os autos ao magistrado competente.
• na esfera penal, o juiz pode reconhecer de
ofício a sua incompetência, determinando a
remessa ao juízo competente.
Jurisprudência
• Segundo a jurisprudência do STJ, a competência
para dirimir as questões referentes ao menor é a
do foro do domicílio de quem já exerce a guarda,
na linha do que dispõe o art. 147, I, do ECA.
Considerada a condição peculiar da criança como
pessoa em desenvolvimento, sob os aspectos
dados pelo art. 6.º do ECA, os direitos dos
menores devem sobrepor-se a qualquer outro
bem ou interesse juridicamente tutelado, não
havendo que se falar em prevenção” (CC 92.473 –
PE, 2.ª Seção, rel. Luis Felipe Salomão,
14.10.2009, v.u.). Competência absoluta.
Jurisprudência 2
• TJRJ: “1. Decisão agravada que, atendendo a requerimento do Ministério
Público, declinou da competência para a Comarca de Três Lagoas, Mato
Grosso do Sul, o Foro da Comarca de Itabuna-BA. 2. Declínio de
competência que se coaduna com o princípio do melhor interesse da
criança, facilitando-lhe o acesso à justiça (CRFB, art. 227), bem como com
o disposto no art. 147, incisos I e II, do Estatuto da Criança e do
Adolescente, que dispõe que a competência será determinada ‘pelo
domicílio dos pais ou responsável’ ou ‘pelo lugar onde se encontre a
criança ou adolescente, à falta dos pais ou responsáveis’. 3. Entendimento
do STJ no sentido de que a regra inserta no art. 147, inc. I, do ECA é
absoluta, haja vista que deve preponderar o interesse do menor, ainda
que a troca de domicílio ocorra no curso da ação, de forma a permitir sua
tramitação mais célere e tal medida não implique qualquer óbice ao
regular curso da lide (CC 92473/ PE, rel. Min. Luis Felipe Salomão, 2.ª
Seção, j. 14.10.2009, DJe 27.10.2009). Negativa de provimento ao recurso”
(AI 0065683-57.2015.8.19.0000 – RJ, 20.ª Câm. Criminal, rel. Mônica de
Faria Sardas, 01.06.2016).
Domicílio dos pais ou responsável:

• é o local onde os pais ou responsável fixaram a


residência, com ânimo definitivo, denominado
domicílio.
• O juiz pode reconhecer, de ofício, a sua
incompetência, determinando siga o
procedimento ao local onde residem os pais ou
responsável.
• Se os pais morarem em Comarcas diferentes,
resolve-se pela prevenção, ou seja, o primeiro juiz
que conhecer do feito afirma a sua competência.
Jurisprudencia 3
• TJSC: “A competência para julgar ações que envolvam
guarda de menores é a do domicílio do guardião ou, na
falta dos genitores ou responsáveis, no foro do lugar
onde se encontra o infante, em atenção ao princípio do
juiz imediato e do melhor interesse da criança e do
adolescente – inteligência do art. 147, incisos I e II, da
Lei 8.069/90 e da Súmula 383 do Superior Tribunal de
Justiça. Ademais, por se tratar de competência
absoluta, uma vez que visa proteger o melhor interesse
da criança e do adolescente, deve ser declarada ex
officio pelo Magistrado, sendo inadmissível a sua
prorrogação.” (AI 2015.059122-2 – SC, 4.ª Câm. de
Direito Cível, rel. Joel Figueira Júnior, 18.02.2016, v.u.).
Lugar onde se encontra a criança ou
adolescente:
• é o foro residual; se os pais não forem
conhecidos ou tiverem abandonado o filho,
ainda bebê, sem deixar domicílio conhecido,
certamente a criança deve estar em
acolhimento institucional ou familiar.
Jurisprudência 4
• TJPI: “1. É absoluta a competência do foro do lugar em
que reside o menor e, pois, a detentora da sua guarda
para as ações que têm por objeto a modificação dessa
guarda. 2. Como é sabido, em processos que versem
sobre interesses de criança ou adolescente, deve
prevalecer o princípio do juízo imediato, segundo o
qual a competência será determinada pelo domicílio
dos pais ou responsável ou, à falta destes, pelo lugar
onde se encontre o menor, conforme assenta o art.
147, I e II, do ECA. 3. Súmula 383 do Superior Tribunal
de Justiça. 4. Recurso conhecido e improvido.” (AI
201500010105070 – PI, 1.ª Câm. Especializada Cível,
rel. Fernando Carvalho Mendes, 12.07.2016, v.u.).
Lugar do ato infracional:
• Na lei processual penal, destaca-se o lugar do
resultado do delito, como local da infração.
Neste Estatuto, adotando-se a teoria da
atividade, acolhe-se o local da ação ou
omissão, ainda que o resultado se dê em lugar
diverso. Seja onde se deu a conduta ou o
resultado, o ponto principal é apurar a
infração onde se concentram as provas, para
que se facilite a sua colheita.
Conexão:

• o critério de conexão é o estabelecido pelo


Código de Processo Penal
• A conexão é chamada material ou substantiva,
quando efetivamente tiver substrato penal, ou
seja, quando, no caso concreto, puder
provocar alguma consequência de ordem
penal. No mais, ela será sempre instrumental
– útil à colheita unificada da prova.
Súmula 235 do Superior Tribunal de Justiça:

• “A conexão não determina a reunião dos processos, se um


deles já foi julgado”. Preceitua o art. 76 do CPP: “a
competência será determinada pela conexão: I – se,
ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido
praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas,
ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o
tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as
outras;
• II – se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas
para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir
impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;
• III – quando a prova de uma infração ou de qualquer de
suas circunstâncias elementares influir na prova de outra
infração”.
Continência:
• o critério de continência é o estabelecido pelo
Código de Processo Penal – e não pelo de
Processo Civil.
• Continência é a interligação de infrações
cometidas por duas ou mais pessoas em
concurso. Unem-se os processos para uma
apuração conjunta, favorecendo a colheita da
prova e evitando decisões díspares para
coautores ou partícipes.
• art. 77 do CPP: “a competência será
determinada pela continência quando:
• I – duas ou mais pessoas forem acusadas pela
mesma infração;
• II – no caso de infração cometida nas
condições previstas nos arts. 51, § 1.º, 53,
segunda parte, e 54 [atuais arts. 70, 73,
segunda parte, e 74, segunda parte] do
Código Penal”.
Prevenção:

• é a regra residual para a fixação de


competência, significando que, quando mais
de um juiz é igualmente competente para
conhecer e processar determinado ato
infracional, o primeiro a tomar alguma decisão
torna-se competente.
Lugar de execução da medida socioeducativa:

• TJMA: “1. A execução de medidas


socioeducativas ‘(...) poderá ser delegada à
autoridade competente da residência dos pais
ou responsável, ou do local onde sediar-se a
entidade que abrigar a criança ou
adolescente’, conforme o art. 147, § 2.º, do
ECA (Lei 8.069/90). 2. Agravo de instrumento
improvido.” (AI 0037242016 – MA, 1.ª Câm.
Cível, rel. José de Ribamar Castro, 28.04.2016,
v.u.).
Infração administrativa:
• Trata-se do art. 247: “divulgar, total ou parcialmente, sem autorização
devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou documento de
procedimento policial, administrativo ou judicial relativo a criança ou
adolescente a que se atribua ato infracional: Pena – multa de três a vinte
salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência. § 1.º
Incorre na mesma pena quem exibe, total ou parcialmente, fotografia de
criança ou adolescente envolvido em ato infracional, ou qualquer
ilustração que lhe diga respeito ou se refira a atos que lhe sejam
atribuídos, de forma a permitir sua identificação, direta ou indiretamente.
§ 2.º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou emissora de rádio
ou televisão, além da pena prevista neste artigo, a autoridade judiciária
poderá determinar a apreensão da publicação”. Cabe ao juiz do lugar onde
a emissora (ou rede) tem sua sede estadual, ainda que a transmissão
atinja vários lugares. Tratando-se de transmissão nacional, possuindo a
emissora várias sedes, deve-se resolver pela prevenção.
• Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para:

• I – conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração de ato


infracional atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis;

• II – conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo;

• III – conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes;

• IV – conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos afetos à


criança e ao adolescente, observado o disposto no art. 209;

• V – conhecer de ações decorrentes de irregularidades em entidades de atendimento,


aplicando as medidas cabíveis;

• VI – aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações contra norma de proteção à


criança ou adolescente;

• VII – conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar, aplicando as medidas cabíveis.

• Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adolescente nas hipóteses do art. 98, é
também competente a Justiça da Infância e da Juventude para o fim de:
• a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;
• b) conhecer de ações de destituição do poder familiar,
perda ou modificação da tutela ou guarda;
• c) suprir a capacidade40 ou o consentimento para o
casamento;
• d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna
ou materna, em relação ao exercício do poder familiar;
• e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando
faltarem os pais;
• f) designar curador especial em casos de apresentação de
queixa ou representação, ou de outros procedimentos
judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança
ou adolescente;
• g) conhecer de ações de alimentos;
• h) determinar o cancelamento, a retificação e o
suprimento dos registros de nascimento e óbito
• Obrigado!!

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