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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO

PROCESSUAL CIVIL
A ÇÕ E S I M P UG N A TI VA S A U TÔ N O M A S – 06/09/2008
Prof. Melvin Bennesby

I – Ação Rescisória Comment [T1]: Conceitos: JCBM


Chama-se de rescisória a ação por meio da
Os recursos, em regra geral, não dão margem a uma nova relação processual, algo diverge das ações qual se pede a desconstituição de sentença
transitada em julgado, com eventual
impugnativas autônomas, tal como a ação rescisória. rejulgamento, a seguir da matéria nela
julgada.
A ação rescisória é uma demanda autônoma e não um recurso. Por isso mesm, não integra a relação de
recursos do CPC. O ajuizamento da rescisória tem por finalidade abrandar o rigor da coisa julgada
material, visando rescindir julgados que contenham algum dos vícios previstos nos incisos do Art. 485 do
CPC.

I.1 – Natureza Jurídica

É uma Ação Autônoma de Impugnação, tendo natureza constitutiva negativa ou desconstitutiva.

I.2 – Competência

O CPC não traz regras sobre a competência para o julgamento das ações rescisórias. A CRFB traz alguns
dispositivos sobre o tema, tais como o Art. 102 I “j”, 105 I “e”, 108 I “b”. As Constituições Estaduais
também regulam a competência dos TJ’s para a rescisória (CERJ 161 IV “h”). A questão da competência é
complementada pelas regras contidas nos Regimentos Internos dos Tribunais.

A regra geral é que o Tribunal deve julgar as descisões por ele próprio proferidas (através do órgão
especial). No caso das sentenças, tendo a mesma transitado em julgado, será competente o Tribunal
que conheceria, em tese, da apelação.

Há que se saber qual a decisão que transitou em julgado (efeito substitutivo), havendo o conhecimento Comment [T2]: Art. 512. O julgamento
proferido pelo tribunal substituirá a
do recurso, o que transitará em julgado será a decisão que enfrentou o juízo de mérito do recurso. Sem
sentença ou a decisão recorrida no que
conhecimento do recurso, isso é, sem o juízo positivo de admissibilidade, não há substituição e o que tiver sido objeto de recurso.
transita em julgado é a decisão recorrida.

I.3 – Questões Polêmicas

AR ajuizada perante TRF ou TJ visando a rescisão de acórdão do STJ ou STF, havendo assim
desrespeito à regra constitucional de divisão de trabalho entre os órgãos do Poder Judiciário: Extinção
do processo sem resulução do mérito, por ausência de investidura de jurisdição, que é pressuposto de
validade (Câmara) ou Aplicação das regras gerais de competência, declinando-se para o Tribunal
competente (Dinamarco).

AR ajuizada visando rescindir aresto proferido em apelação, quando o RESP foi conhecido e julgado
em seu mérito. Considerando-se que a AR visa rescindir acórdão que não transitou em julgado, tendo
em vista o efeito substitutivo, o que foi alvo do trânsito em julgado foi o agravo do STJ, que julgou o
mérito do RESP. Estaríamos diante de um pedido juridicamente impossível, a ocasionar a extinção do
mérito por impossibilidade jurídica da demanda, nos termos do Art. 267 IV do CPC.

Thiago Graça Couto


thiagocouto@gmail.com
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AÇÃO RESCISÓRIA – FGTS – ÚLTIMA DECISÃO DE MÉRITO PROFERIDA PELO STJ - COMPETÊNCIA –
ARTIGO 113, § 2º, DO CPC.
1. Não se aplica o disposto no artigo 113, § 2º do CPC, quando a ação rescisória de competência
originária desta Corte foi proposta erroneamente perante o Tribunal a quo. Ao tribunal de origem
não cabe remeter os autos ao STJ, devendo o processo ser extinto sem julgamento do mérito.
Recurso especial improvido. (Resp 796.008/PR)

Ação Rescisória ajuizada perante TJ quando a competência seria de outro TJ (idem em TRF de região
trocada). Ausência de competência a ocasionar o declínio de competência para o Tribunal competente
(Câmara)

Qual a competência para a rescisória quando há diversos “capítulos da sentença” apreciados por
órgãos judiciários diversos? Ex. Cumulação de pedidos: pagamento de DANOS MORAIS e MATERIAIS e
cumprimento de OBRIGAÇÃO DE FAZER. Sentença: procedentes os pedidos de Dano Moral e Obrigação
de Fazer e improcedentes o pedido de Dano Material. Há apelação somente do Réu, tendo sido a
mesma parcialmente provida, julgado improcedente o pedido de dano moral, e o réu, atacando a
improcedência do Dano Moral apresente Resp, que é conhecido e desprovido.

Em resumo:

a) O capítulo de Dmaterial (improcedente) transitou em julgado com a sentença;


b) O capítulo de Ofazer (procedente) transitou em julgado com o acórdão da apelação;
c) O capítulo de Dmoral (improcedente) transitou em julgado com o acórdão do STJ.

Segundo doutrina respeitáve, o Réu deveria distribuir a rescisória no TJ, e já o Autor poderia distribuir
tanto no TJ como no STJ. José Carlos Barbosa Moreira, sempre defende que podem ser ajuizadas tantas
quantas forem adequadas ações rescisórias perante órgãos jurisdicionais competentes para tanto. Para
ele, não se pode desconsiderar a regra de competência prevista na CFB. Desta feita, ele se alinha contra
entendimentos atuais do STJ e STF. Para Pontes de Miranda, há tantas ações rescisórias quantas as
instâncias. Talamini tem a mesma posição. Comment [T3]: Coisa Julgada e sua
Revisão, p. 192.
Em contraposição, haveria a absorção da competência, onde o órgão hierarquicamente superior, teria
competência para rescindir todos os julgados, conforme anterior orientação do STF.

O STJ tem entendido que é competente para o julgamento de todos os pedidos.

Se o acórdão rescindendo decidiu parte do mérito da causa, é competente o STJ para apreciar e
julgar o pedido rescisório, mesmo que seu objeto envolva matéria além daquela por ele
apreciada. (AR2895)

PROCESSO CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. Havendo decidido parte do mérito da causa, compete ao
Superior Tribunal de Justiça julgar, na integralidade, a ação rescisória subseqüente, ainda que o
respectivo objeto se estenda a tópicos que ele não decidiu. Agravo regimental conhecido e
provido. (AgR na AR 1115)

Thiago Graça Couto


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Em manifestação recente do STF.

A competência do STF para conhecimento e julgamento da ação rescisória fica firmada desde
que o Tribunal tenha enfrentado uma das questões de mérito - ainda que para não conhecer do
recurso (Súmula STF n° 249). (AR 1572)

I.3.1 – O termo sentença de mérito abrange também as decisões interlocutárias, quando houver
decisão de mérito?

Sim, primazia ao conteúdo em detrimento da forma, admitindo tal interpretação Dinamarco, HTJ,
dentre outros. Yarshell aduz quue, o elemento decisivo para que caiba desconstituição por ação
rescisória, além do trânsito em julgado, não é propriamente o veículo, isto é, o ato judicial, mas sim o
respectivo conteúdo.

Ex: Reconhecimento de prescrição ou decadência de um dos pedidos.

Neste sentido, destaca-se decisão do STJ:

Processo civil. Recurso especial. Execução iniciada em 1.987. Posterior edição da Lei nº 8.009/90.
Alegação, no curso da execução e após a penhora, de impenhorabilidade do bem de família.
Rejeição. Reiteração do pedido, quatro anos depois, em face da adjudicação do imóvel pelo
credor. Propositura de ação rescisória para desconstituir a segunda decisão interlocutória que
reiterou a inaplicabilidade da Lei nº 8.009/90. Procedência. Possibilidade de rescisão de decisões
interlocutórias que possuam carga meritória. Perda do prazo decadencial para a propositura da
ação rescisória afastada em face da Súmula nº 106/STJ, mas reconhecida em face da existência
de duas decisões sobre o mesmo tema, resumindo-se a irresignação apenas à última delas.
Violação ao art. 535 do CPC.
- Não se reconhece violação ao art. 535 do CPC quando ausentes omissão, contradição ou
obscuridade no acórdão.
- Em face do art. 485 do CPC, que se refere à 'sentença de mérito', doutrina e jurisprudência, no
geral, entendem como possível o juízo rescindendo de decisão interlocutória apenas em
situações muito específicas.
- Os executados, ao atravessarem petição, no curso da execução, pedindo fosse a eles concedido
o privilégio previsto na Lei nº 8.009/90, provocaram uma manifestação jurisdicional sobre
questão que poderia, se acolhida, representar óbice à satisfação do crédito do exeqüente. Assim,
dentro dos limites e objetivos do processo executivo, a decisão relativa à incidência ou não da Lei
nº 8.009/90 tem o condão de resolver, antecipadamente, a pretensão deduzida pelo autor da
ação de execução. (REsp 628.464).

I.3.2 – O termo sentença de mérito abrange também as decisões interlocutárias, quando NÃO houver
decisão de mérito?

A matéria é controvertida.

Em acórdão de 2008, do STJ:

Thiago Graça Couto


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PROCESSUAL CIVIL – AÇÃO RESCISÓRIA: DESCABIMENTO – ART. 485 DO CPC – ACÓRDÃO QUE
AFASTOU A EXISTÊNCIA DE ERRO MATERIAL – MC 13.379/PR PREJUDICADA
1. Acórdão recorrido limitou-se tão-somente a concluir que inexistia erro material e, portanto, o
julgador não poderia ter, de ofício, efetuado a revisão do montante executado.
2. Descabe a ação rescisória para desconstituir acórdão que não adentrou nomérito. Inteligência
do art. 485 do CPC. (REsp 1000445/PR)

I.3.3 – Questões de Mérito de que não Comportam Ação Rescisória

a) Decisões que não alcançam coisa julgada material: Ex: Sentenças proferidas em ACP ou AP cujo
pedido é julgado improcedente por ausência de provas. Descabida a AR, mas poss[ivel a
interposição de nova AC/ACP;

b) Decisões que alcançam a coisa julgada material, mas há vedação expressa quanto ao cabimento
de AR: JEC’s (Art. 59 da Lei 9099/95), ADIN, ADC e ADPF.

I.3.4 – Cabem AR’s nos JEF’s?

Existe enunciado do FONAJEF, n. 44, dizendo que não cabe AR no JEF eis que o Art. 59 da Lei 9099/95
está em consonância com os princípios do sistema processual dos Juizados Especiais, aplicando-se
também ao JEF.

I.3.5 – Recaindo o último dia do prazo bienal para o ajuizamento da AR durante as férias forenses,
prorroga-se, até o primeiro dia útil, esse lapso temporal?

Existe jurisprudência autorizadora, desde que de fato o Tribunal não esteja em regular funcionamento.

I.3.6 – Valor da Causa

Esta questão é importante, eis que o Art. 488 determina a depósito de 5% do valor da causa da
rescisória.

Não há regulamentação específica no CPC. Uma corrente (Bermudes) aduz que o valor da causa deverá
ser proporcional ao valor da causa anteriormente julgada, devendo ser monetariamente atualizado.
Poderá haver proporcionalidade, no caso de se desejar rescindir apenas parte da sentença.

Outra corrente (JCBM) aduz que o valor da rescisória deve guardar correlação com o benefício
patrimonial a ser auferido com a desconstituição do julgado rescindendo.

Problema Prático: Sentença ultra petita com condenação em valor exorbitante, o que poderá inviabilizar
o ajuizamento de AR pelo Réu em função de AR. Como solucionar? Pagamento ao final e pedido de
dispensa são algumas das soluções.

I.3.7 – Cabe a rescisória por violação de princípios jurídicos?

Corrente capitaneada por Tereza Arruda Alvim Wambier, entende que deverão ser admitidas, eis que a
lei deve ser obedecida tal como entende a jurisprudência dominante, baseada na doutrina e nos

Thiago Graça Couto


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princípios por ela versados. As vezes os princípios desempenham função tão relevante na formação da
solução normativa que acabam por contribuir para a produção de uma decisão contrária a lei, mas
perfeitamente compatível com o sitema.

O STJ em 2007 (Resp 1428) entendeu ser possível a AR por violação a proibição da reformatio in pejus.

Thiago Graça Couto


thiagocouto@gmail.com

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