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REENCANTAR O MUNDO

ONG Auto-sustentável a Partir das Características


Autopoiéticas do Girassol e Impactos sobre o Dualismo
Estrutural

João Batista da Silva Oliveira

IPORÁ – GOIÁS
DEZEMBRO/2008
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ONG Auto-sustentável a Partir das Características Autopoiéticas do Girassol e


Impactos sobre o Dualismo Estrutural

João Batista da Silva Oliveira1

RESUMO

Situa na área da Teoria do Desenvolvimento Econômico e tem como tema as


instituições Não-governamentais sem fins lucrativos num ambiente de subdesenvolvimento
econômico. E responder quais os impactos do modelo de ONG Auto-sustentável inferido a
partir das características autopoiéticas do Girassol sobre a expansão da forma capitalista de
produção (EFKP) é o principal problema a responder. Tem objetivo maior de apresentar o
Girassol como referencial ao conceito de sustentabilidade. Possui como objetivo geral
demonstrar os impactos do modelo de ONG Auto-sustentável sobre a dinâmica da expansão da
forma capitalista de produção e sobre o dualismo estrutural. O trabalho fora elaborado mediante
a hipótese que a ONG Auto-sustentável inferida a partir das características autopoiéticas do
Girassol ao atuar com uma determinada atividade econômica, utilizando parte dos lucros
realizados como forma de financiar sua expansão econômica, tende a tornar-se auto-sustentável.
Não obstante, a alterar, desta forma, o padrão de concorrência vigente em determinado setor,
devido a sua extrema política de responsabilidade social. E que ao reinvestir parte de seus lucros
em projetos sociais tende a redistribuir a renda, senão o excedente captado, reduzindo o
excedente estrutural de mão-de-obra, eliminando o dualismo estrutural, amenizando os efeitos
perversos da expansão da forma capitalista de produção.

Palavras-chaves: Subdesenvolvimento Econômico. Autopoiese. Girassol. ONGs.


Sustentabilidade
JEL Classification: L310, Y800

INTRODUÇÃO

A analise de Lewis tenta demonstrar que a expansão da forma capitalista de


produção tenderia a eliminar o dualismo estrutural, ou seja, a coexistência de setores
econômicos atrasados e avançados num mesmo espaço, ao incorporar o excedente
estrutural de mão-de-obra de uma economia pré-capitalista. No entanto Furtado (1986)
ao criticar a analise de A. Lewis vai demonstrar que longe disso, a expansão da forma
capitalista não eliminaria, mas tenderia a aprofundar o dualismo estrutural.
Por outro lado o novo modelo de Organização Não-governamental inferido a
partir das características autopoiéticas do Girassol atesta que uma Organização Não-
governamental que outrora possuía um mecanismo exógeno de financiamento, a saber,
por meio de doações da sociedade e transferências do governo federal. Ao tornar seu
1
Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Goiás – Unidade Universitária
Itumbiara – Goiás (UEG – UnU Itumbiara)
e-mail: reencantaromundo@gmail.com

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mecanismo de financiamento endógeno, por meio da realização de uma atividade


econômica com o intuito de gerar lucros e deste modo financiar seus projetos de
expansão econômica, não obstante os projetos sociais que realiza torna-se auto-
sustentável, autônoma, portanto. E mediante sua estratégia concorrencial, a saber, por
meio de responsabilidade social, tende a alterar o padrão de concorrência no setor
ganhando mercado ou eliminado rivais. Por outro lado sua política de distribuição de
renda ocorre no sentido de que esta tende a redirecionar o excedente realizado no
processo produtivo e captado por ocasião da venda, à população. E ainda, mesmo que,
marginalmente, reduzindo o excedente estrutural de mão-de-obra, incorporando a mão-
de-obra de uma economia pré-capitalista na atividade econômica da organização, bem
como nas atividades relacionadas a políticas públicas, reduzindo, desta forma
marginalmente a figura do capitalista do processo produtivo.
Com base neste contexto e neste tipo de organização, o presente trabalho situa
na área da Teoria do Desenvolvimento Econômico e tem como tema as instituições não
governamentais num ambiente de subdesenvolvimento econômico. Responder quais os
impactos do modelo de ONG Auto-sustentável sobre a expansão da forma capitalista de
produção é o principal problema a responder. Sendo assim, tem como objetivo maior
demonstrar os impactos do modelo de ONG Auto-sustentável sobre a dinâmica da
expansão da forma capitalista de produção, a saber, sobre o dualismo estrutural. Para
tanto será necessário; a) Apresentar a crítica que Furtado (1986) faz a analise de A.
Lewis; c) Apresentar o modelo de ONG proposto à partir das características
autopoiéticas do Girassol; e) Apresentar os impactos do modelo de ONG sobre a
dinâmica da expansão da forma capitalista de produção.
O trabalho fora elaborado mediante a hipótese que a ONG Auto-sustentável
inferida a partir das características autopoiéticas do Girassol, ao atuar com uma
determinada atividade econômica utilizando parte dos lucros realizados como forma de
financiar sua expansão, tende a tornar-se auto-sustentável. Não obstante, a alterar, desta
forma, o padrão de concorrência vigente em determinado setor, devido a sua extrema
política de responsabilidade social. E que ao reinvestir parte de seus lucros em projetos
sociais tende a redistribuir a renda, senão o excedente captado, reduzindo o excedente
estrutural de mão-de-obra, eliminando o dualismo estrutural, amenizando os efeitos
perversos da expansão da forma capitalista.

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A metodologia consiste em revisão bibliográfica da obra dos autores tais como,


Humberto Maturana2 e Francisco Varela3, bem como de um dos principais teóricos da
dependência econômica, a saber, Celso Furtado4, bem como na analise de textos e
relatórios elaborados pela Associação Brasileira de Organizações Não-governamentais
(ABONG).
O trabalho fora organizado de tal modo que, primeiramente apresentaremos a
crítica que Furtado (1986) faz a analise de A. Lewis, onde este demonstra que a
expansão da forma capitalista de produção ao contrário de eliminar o dualismo
estrutural, tenderia a aprofundá-lo. Na segunda seção apresentamos com base nas
características autopoiéticas do Girassol um modelo de Organização não-
governamental, qualificando-a como auto-sustentável, onde por meio de uma atividade
econômica, tal organização reinvestiria partes dos lucros gerados em sua expansão, se
tornando e outra parte na realização de políticas públicas. E finalmente, na terceira
seção, ao substituir o núcleo capitalista apresentado por Furtado (1986) pela
Organização Não-governamental Auto-sustentável demonstraremos o impacto desta
sobre a acumulação do excedente, sobre a expansão da forma capitalista de produção e
sobre o dualismo estrutural.

2 A CRÍTICA DE FURTADO A ANALISE DE ARTHUR LEWIS

Para Lewis citado por Furtado (1986) a expansão da forma capitalista de


produção romperia com o dualismo estrutural ao incorporar toda a mão-de-obra no
processo produtivo, eliminando também o desemprego estrutural.
No entanto, para Furtado (1986) ao apresentar o modelo de A. Lewis com o
intuito de entender a expansão da forma capitalista de produção através da acumulação
de excedente. Demonstra que a acumulação, a expansão capitalista não romperia com a
coexistência de um setor avançado e de um setor atrasado, pelo contrário, a expansão da
forma capitalista de produção tenderia a aprofundar essa coexistência.

2
Doutor em Biologia (PhD) pela Universidade de Harvard. Professor titular da Universidade do Chile.
Prêmio Nacional de Ciências 1994. Co-criador da Teoria denominada Autopoiese.
3
Doutor em Biologia (PhD) pela Universidade de Harvard. Professor titular do CNRS, Paris. Co-criador
da teoria denominada Autopoiese
4
Economista
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Primeiramente para efetuar sua analise Furtado (1986) parte do exemplo de uma
economia pré-capitalista. As características desta economia são tais que a população
sobreviva da agricultura ou do artesanato, uma economia de subsistência, portanto.
Num segundo momento Furtado (1986) insere o capitalista em sua analise. O
capitalista, por sua vez, organiza um núcleo de produção. Fixa o salário um pouco
acima do custo de reprodução da mão-de-obra observado na referida economia e desta
forma capta excedente, ou seja, acumula capital que posteriormente será reinvestido
gerando economias de escala, externas e progresso técnico, absorvendo toda a mão de
obra da economia pré-capitalista.
O gráfico 01 mostra a dinâmica deste processo.

Gráfico 01 – Critica de Furtado a Analise de A. Lewis

Fonte: Furtado (1986, p.151 )

De acordo com o gráfico apresentado, o ponto ótimo em que o capitalista


absorverá mão-de-obra será o ponto ( N1, D1) abaixo deste ponto ele não maximiza a
captação do excedente, que é representado pela área N1,S,B1. Ao reinvestir o excedente
captado ele eleva o volume de mão-de-obra para D2 e passa a captar o volume que
corresponde a área (N2,S,B2) e posteriormente N3,S,B3. Enfim, quanto mais re-
investimentos ele fizer mais ele contrata mão-de-obra e mais ele capta excedente.

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A respeito do modelo de A. Lewis, Furtado (1986, p. 152) “...pretendem explicar


o processo pelo qual a forma capitalista de organização da produção se difunde e tende
a absorver todos os fatores de uma coletividade cuja economia esteve anteriormente
organizada a base de critérios pré-capitalista.” Tal modelo traz subjacente a hipótese de
pleno emprego dos fatores de produção, uma vez que o capitalista tenderia a reinvestir
até o ponto em que houvesse contratado toda a mão-de-obra disponível na economia
pré-capitalista.
Entretanto Furtado (1986) questiona esta hipótese ao afirmar que tal economia
cresceria mediante o impulso das exportações e que no caso onde a demanda interna
fosse determinante à alocação de recursos com taxas de salários baixas e estáveis
inexistiria o pleno emprego.
Segundo Furtado (1986) estas características, tais como taxas de salários
estáveis, concentração de renda, estabilidade no consumo de operários geraria uma
dependência das elites, donas dos meios de produção em importar bens de consumo,
não obstante maior dotação de capital por pessoa empregada. A partir de um momento o
capitalista deixará de re-investir todo o excedente e se lançará a importar outros artigos.
Enfim, ao deixar de re-inverter todo o excedente, este deixará de contratar uma
determinada quantidade de mão-de-obra, gerando assim desemprego. No gráfico, este
desemprego e representado pelo intervalo situado entre D3 e D4.
Enfim, a não re-inversão que fora destinada à importação mantém um exército
de reserva somada à taxa de desemprego devido ao aumento na dotação de capital.
Desta forma, Furtado (1986) demonstra que a expansão da forma capitalista de
produção longe de se desenvolver as taxas de desemprego persistiriam e a baixos
salários, bem como concentração de renda, que dizer a coexistência de diferenciais de
consumo, desigualdades sociais, dentre outras.
Na próxima seção apresentaremos um tipo de Organização sem fins lucrativos
onde esta por teria como meio para a captação de recursos a oferta de produtos no
mercado. Nossa intenção é substituir o núcleo capitalista apresentado por Furtado por
este tipo de organização e verificar as conclusões.

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3 DEFINIÇÃO DE UM MODELO DE ORGANIZAÇÃO NÃO-


GOVERNAMENTAL AUTO-SUSTENTÁVEL A PARTIR DAS
CARACTERÍSTICAS AUTOPOIÉTICAS DO GIRASSOL

3.1. As Características Autopoiéticas do Girassol

O Girassol conhecida pelo nome cientifico de Helianthus annus segundo Blanco


trata-se de uma planta de porte majestoso, onde a palavra “Helianthus” significa "Flor
do Sol" fazendo referência a seu comportamento de acompanhar o Sol. Trata-se de uma
planta muito bonita, utilizada, portanto, como planta ornamental, de grande utilidade,
de tal forma que deste tudo se aproveita, desde flores, sementes e ramos. Trata-se de
uma planta anual, que se reproduz por meio de sementes, com floração na primavera e
no verão, no entanto, pode florescer o ano todo, especialmente sob temperaturas entre
18º C e 30º C.
Ademais, como todas as plantas, e isto deve ser enfatizado, possui
características autopoiéticas notáveis que a torna possível ser tratada como perfeito
referencial ao conceito de sustentabilidade, uma vez que, o relacionamento entre planta
e meio ocorre de maneira harmônica, sem gerar nenhum dano.
Dentre as características autopoiéticas citamos o fato de:
a) Estar fechada organizacionalmente ao seu meio, onde planta e
meio se constituem em um único sistema, um ecossistema;
b) Reciclar os dejetos
Apesar de captar nutrientes do meio que a circunda, nenhum destes são
transformados em lixo, resíduo. De tal modo que, os dejetos do Girassol são
aproveitados pelo ecossistema, onde impera o princípio da reciclagem. Por exemplo, as
folhas da planta que caem ao solo são decompostas e utilizadas como alimento por
outros seres, decompostas em nutrientes, enriquecendo o solo. Tais nutrientes,
posteriormente são reaproveitados pelo próprio Girassol e por outras árvores do
ecossistema. Poderíamos citar ainda como exemplo, o oxigênio emitido pelo Girassol,
que é utilizado pelos animais. De outro modo, as emissões de gás carbônico, emitidas
pelos animais e pela decomposição de materiais orgânicos são utilizados pelo Girassol
em seus processos de fotossíntese, onde o carbono oriundo dos processos de
fotossíntese processados pelo Girassol possuem como fonte, a energia solar, que por sua

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vez, estas quantidades de carbono serão transformados e alojados no caule da planta


como reserva de energia solar.
c) Recompor componentes desgastados

Sendo assim, por meio do processo de fotossíntese e reciclagem, o girassol


recompõe o próprio ambiente, ou seja, participando do meio do qual pertence.
Ademais, pelo princípio da reciclagem e das relações recorrentes entre meio e
planta, esta especifica os próprios limites, ou seja, o único produto que gera é sua
estabilidade, sua permanência no tempo e no espaço. Portanto, enquanto em seu
acontecer, o Girassol se ocupa, unicamente em criar as próprias condições de sua
própria sobrevivência, ela recria seu ecossistema numa relação harmoniosa, de parceria
e cooperação. Isto é auto-criação, auto-produção, autopoiese, senão sustentabilidade.
Logo, de acordo com o exposto acima, a relação do Girassol com seu ambiente
pode ser vista como autopoiética, auto-sustentável. E não apenas, podemos também
visualizar o Girassol como um modelo perfeito de sustentabilidade a ser copiado por
nossos sistemas sociais.
Tais processos observados na natureza são processos circulares em rede e
autoprodutores. Não há ai o fenômeno competição e tampouco o desperdício. A
competição pode, neste caso, ser encarada como uma singularidade num processo maior
de cooperação. E é por meio destes que um ecossistema, qualquer ecossistema mantem
sua estabilidade, sua autocriação sem recorrer ao meio. Ou seja, o Girassol ao demandar
materiais e energia de seu meio, não elimina dejetos ou resíduos. O Girassol é auto-
sustentável por meio da flexibilidade, da diversidade e da parceria entre seus
componentes, e ainda, pela constante reciclagem de materiais e energia numa intricada
teia de relações não-lineares.
As relações entre o ecossistema e Girassol, desta forma se estruturam no formato
de rede, onde um componente determina o todo que, por sua vez, é determinado pelo
todo. Enfim, cada componente é resultado e causa ao mesmo tempo, cada componente é
produto e produtor ao mesmo tempo. Nestes termos a configuração de um ecossistema
pode ser vista como autopoiética. Mais resumidamente, O Girassol cria as suas próprias
condições ao participar da criação do ecossistema. De outro modo o ecossistema cria as
suas próprias condições de sobrevivência ao participar da criação do Girassol.
Do ponto de vista financeiro, as Organizações Não-governamentais, de outro
modo são vistos como alopoiéticas, pois necessitam constantemente recorrer ao meio e
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captar recursos para manter seu padrão de organização. De tal forma que para obter a
sustentabilidade o desafio que se propõe é dotá-las de uma configuração similar a do
Girassol, portanto, sustentável, senão autopoiética.
Ao olharmos para a vida, para o Girassol e seu modo de se relacionar com o
meio, poderíamos tirar lições, desenhos, figurinos e princípios importantes e aplicá-los
às nossas instituições, tramando assim para o reencantamento da episteme, das ciências,
do cientista e do mundo. Portanto, é nossa intenção aqui olhar para a vida e, à partir daí,
apresentar algumas destas lições, destes desenhos propostos pelo Girassol às
Organizações Não-governamentais, visando a manutenção de seus projetos sociais ao
longo do tempo. E ademais, alterando as condições não apenas culturais, mas sociais e
econômicas de uma coletividade.
Portanto, O Girassol pode ser descrito pela Teoria da Autopoiese. Esta teoria
trata de um tipo especial de organização que define os seres vivos, de tal forma que,
quando começa a vida o que começa é este tipo especial de organização. Ao analisar
este tipo de organização nota-se que este se qualifica pela ligação em rede entre seus
componentes, por ser caracterizar como uma rede fechada, e ademais por esta ter como
função criar a si mesma.

3.2 Definição de Organização Não–governamental a Partir das


Características Autopoiéticas do Girassol

Com base nos princípios e características do Girassol acima descritas pode se


inferir um tipo de organização não-governamental, que do ponto de vista de seu modo
de financiamento se caracterize como auto-sustentável. Internalizando um modo de
financiamento, explorando uma atividade definida com objetivo de gerar lucros, e por
sua vez, reinvesti-los em políticas públicas. A seguir passaremos a descrever este novo
tipo de organização não-governamental.
A organização descrita aqui trata-se:
a) de uma associação entre indivíduos;
b) Tal associação tem como objetivo a realização de políticas públicas para uma
determinada coletividade, portanto, trata-se de uma associação sem fins lucrativos;
c) Num primeiro momento tal associação sobrevive de doações da própria
coletividade, ou seja, o mecanismo de financiamento é exógeno à própria organização;

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d) num segundo momento ela instala uma atividade econômica e com uma
estratégia concorrencial tem como objetivo conquistar maior poder de mercado,
eliminando rivais;
e) Tal organização, por meio da realização de lucros, passa a ter como objetivo o
financiamento da expansão de sua atividade econômica e o financiamento das políticas
públicas, deste modo, tal organização se faz auto-sustentável. O mecanismo de
financiamento de políticas públicas se faz endógeno à própria organização.
A organização descrita aqui, deixa, portanto, de ser alopoiética, para adquirir
uma configuração similar à dos organismos vivos, portanto do Girassol, dotada de
características autopoiéticas. Do ponto de vista de seu financiamento a organização se
torna auto-sustentável e difere de um sistema aberto, podendo ser vista como um
sistema fechado. Torna-se auto-criadora, e toda retro-alimentação ocorre no interior a
ela e não recorre deste modo ao meio para manter sua organização, sua própria
estabilidade.
A ONG Auto-sustentável, baseada nas características autopoiéticas do Girassol
se constitui num tipo de organização que possui dois componentes, a saber. A atividade
econômica da organização de um lado e a atividade social de outro, que tenta
transformar a realidade social de seu público alvo. Esta relação pode melhor visualizada
por meio da figura 01.

Figura 01 - Modelo de Organização não-governamental Auto-sustentável a


partir das Características Autopoiéticas do Girassol

Fonte: Elaboração própria.

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Tal organização possui uma característica notável, a saber, seus componentes. A


atividade social e a atividade econômica são organizadas de tal modo que se constitui
num sistema auto-produtor, que produz estes mesmos componentes, a atividade
econômica e a atividade social. Onde, a atividade social da ONG, por meio de
interações e transformações gera a atividade econômica. E a atividade econômica, por
sua vez, gera a atividade social. Onde um produz o outro, enfim, estabelecendo laços
retro-alimentadores positivos (feed-back loops).
Esses componentes, por sua vez, possuem cada um deles a função de:
a) Gerar as relações de produção que os produzem, por meio de suas contínuas
interações e transformações. A atividade econômica por meio de suas interações com a
atividade social tem a função de gerar as relações de produção que as produzem, e isto,
é válido também para a atividade social que tem a função de gerar as relações de
produção que produzem os dois componentes.
Ademais, é esta relação de sucessivas transformações e interações que constitui
a organização como um todo, como uma unidade no espaço e no tempo. E é deste modo
que tal organização por meio de uma rede, que cria a si mesma, especifica e produz a
organização, por meio da produção de seus componentes.
Desta forma, a função de cada componente, a saber, da atividade econômica é
participar da produção ou da transformação de outros componentes da rede, por
exemplo, da atividade social. E de outro modo, a função da atividade social da
organização é participar da produção e da transformação de outros componentes da
rede, da atividade econômica, por exemplo.
Sendo assim, tal rede, continuamente, "produz a si mesma". Ela é produzida
pelos seus componentes e, por sua vez, produz esses mesmos componentes. Em outros
termos, a associação entre atividade econômica e atividade social da Organização Não-
governamental produz a própria organização, aquilo que é produto, a atividade social, é
indispensável na produção da organização., ou seja, a organização passa a ser produzida
por seus componentes, atividade econômica e atividade social. Desta forma conclui-se
que esta nova organização, é autônoma e não pode ser vista como alopoiética,
dependente de fatores externos a ela, auto-sustentável, portanto.
Concluindo. A ONG proposta aqui pode ser descrita como o estabelecimento de
uma rede entre atividade econômica e atividade social, ou, pela interligação em rede de
seus componentes. As relações que se estabelecem entre atividade econômica e social
possuem como objetivo criar a própria organização, onde a atividade econômica cria a
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si mesma, por meio das reinversões e expansão da atividade econômica, determinando,


por sua vez, toda a rede, ou seja, os projetos sociais da organização. Sendo assim, a rede
de componentes, ou as relações ente atividade econômica e atividade social da
Organização Não-governamental é auto-criadora, auto-geradora.
As relações entre atividade econômica e social são devidas, pois estes dois
componentes estão interligados por laços retroalimentadores, onde a atividade
econômica se beneficia da atividade social ao gerar a possibilidade de maior conquista
de mercado, devido a imagem positiva estabelecida entre consumidores. E por sua vez,
a atividade social se beneficia da atividade econômica ao gerar os recursos a serem
reinvestidos em seus projetos sociais. E consequentemente, estabelecendo um círculo
vicioso, onde os reinvestimentos dos lucros na atividade social elevam as vendas no
mercado devido à boa imagem da organização, gerando, ainda, uma transformação
econômica (aumentos nos níveis de emprego, renda, renda per capita e consumo).
Oportunamente, os investimentos na atividade social, que, por sua vez, eleva as
margens de lucro, que eleva os gastos em políticas públicas, assim ao infinito.
Nestes termos, diz-se que, os componentes, ou seja, a atividade econômica e a
atividade social se beneficiam de externalidades mútuas e positivas, podendo
estabelecer uma relação funcional do tipo logística entre as margens de lucro e gastos
em políticas públicas realizadas. Onde margens de lucro ocorrem em função dos gastos
em políticas públicas. E por sua vez, políticas públicas ocorrem em função das margens
de lucros. Estabelecendo assim uma alça de retro-alimentação positiva.
Este fenômeno é demonstrado pelo gráfico 02, onde a organização ao se lançar
no mercado com uma atividade definida no fim do período 01 realiza os lucros (L1),
sem, no entanto, ter efetuado nenhuma política social, isto se deve, pois, devido à
credibilidade que os consumidores depositam na organização quando esta entra no
mercado. Num segundo momento, representado por (G1) a organização realiza gastos
em políticas públicas e realiza num período posterior os lucros, representados por (L2) e
à medida que esta eleva seus gastos, reinvestindo parte dos lucros em políticas públicas,
estes, oportunamente se elevam, num período posterior. No entanto, à partir de um
ponto crítico (Z) a realização de lucros passam a independer da reinversão destes em
políticas públicas, a geração de lucros passa a ocorrer por si mesma, de maneira
autônoma em relação aos gastos em políticas públicas.

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Gráfico 02 - Relação entre Gastos em Políticas Públicas e Margens de Lucro


Realizadas por uma ONG Auto-sustentável

Fonte: Elaboração própria.

A nova organização, desta forma, não precisa recorrer ao meio para efetuar o seu
próprio financiamento, não se caracteriza, portanto, em ser alopoiética. Independe,
portanto, das doações do governo federal e da sociedade ao tornar endógeno o seu modo
de financiamento. Caracteriza-se ainda, por se tratar de uma rede cooperativa, de tal
forma, que quanto maior o número de componentes maior sua flexibilidade, maior seu
poder de autocriação e menor a possibilidade que esta venha a se desintegrar. Desta
forma, um dos pilares vitais de tal organização é sua diversidade de componentes, de
produtos sendo ofertados no mercado, bem como sua diversidade de políticas sociais
empreendidas.
A ONG aqui proposta se caracteriza por ser auto-sustentável. Sobretudo, devido
ao princípio de reciclagem. Pois além de não captar recursos ao meio circundante, os
recursos derivados da atividade econômica não são enviados para fora da própria
organização, mas reintegrados à organização para sua preservação no espaço e no tempo
por meio de investimentos em responsabilidade social ao realizar seus projetos sociais.
De forma que, os recursos gerados circulam indefinidamente no interior da própria
organização.
A ONG Auto-sustentável, portanto é, em muitos pontos similar ao inter-
relacionamento do Girassol e meio. Caracteriza-se por suas interações em rede, entre
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atividade econômica e atividade social. Por estar fechada organizacionalmente, quer


dizer, por especificar seus próprios limites, não necessitando captar recursos por meio
de doações da sociedade e governos, reinvestindo os próprios recursos em sua própria
organização e nas políticas públicas que financia. Enfim, inexistindo a emissão de
lucros, recursos para fora do sistema, mantendo a própria estabilidade. Tornam-se
similares àqueles, devido à existência de parceria, cooperação entre atividade
econômica e atividade social, onde ambas se beneficiam de externalidades mútuas e
positivas geradas, devidas a tal interligação.
Na próxima seção ao substituir o núcleo capitalista apresentado por Furtado
(1986) pela Organização Não-governamental Auto-sustentável trataremos de visualizar
os impactos desta sobre o dualismo estrutural e a expansão da forma capitalista de
produção.

4 IMPACTOS DO MODELO DE ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL


AUTO-SUSTENTÁVEL SOBRE A EXPANSÃO DA FORMA CAPITALISTA DE
PRODUÇÃO

Recapitulando. Para Lewis citado por Furtado (1986) a expansão da forma


capitalista de produção romperia com o dualismo estrutural ao incorporar toda a mão-
de-obra de setores atrasados no processo produtivo, eliminando, assim o desemprego
estrutural.
No entanto, para Furtado (1986) ao apresentar o modelo de A. Lewis com o
intuito de entender a expansão da forma capitalista de produção demonstra que a
expansão da forma capitalista de produção não romperia com a coexistência de um setor
avançado e de um setor atrasado. Pelo contrário, devido a extração do excedente esta
tenderia a aprofundar essa coexistência, ou seja, o dualismo estrutural.
No entanto, nossa hipótese é de que a substituição do núcleo capitalista de
produção por uma associação que incorpore uma atividade econômica e tenha como
objetivo a distribuição do excedente captado tenderia a incorporar toda a mão-de-obra
de setores atrasados em sua atividade econômica e em suas obras públicas. Tal
organização teria como efeito, portanto, a absorção de toda mão-de-obra, rompendo,
assim com o dualismo estrutural.
Reescrevendo Furtado (1986) ao partir do exemplo de uma economia pré-
capitalista, caracterizada por uma população que sobreviva da agricultura ou do
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artesanato, uma economia de subsistência, portanto. A partir de um momento que


substituímos a figura do núcleo capitalista pelo tipo de Organização Não-governamental
aqui proposto, se caracterizando este por, por se tratar de (a) uma associação entre
indivíduos daquela coletividade, ou seja, da referida econômica pré-capitalista; b) Tal
organização tem como objetivo a realização de políticas públicas para aquela
coletividade; c) Num primeiro momento tal associação sobrevive de doações da própria
coletividade, ou seja, o mecanismo de financiamento é exógeno à própria organização;
d) num segundo momento ela instala uma atividade econômica, propriamente dita; e)
por meio da captação do excedente, dos lucros, terá como objetivo o financiamento da
expansão de sua atividade econômica e o financiamento das políticas públicas ou de sua
atividade social. Deste modo, tal organização se faz auto-sustentável, o mecanismo de
financiamento de suas políticas públicas se faz endógeno à própria organização.

Gráfico 03 – Impacto de ONG Auto-sustentável Sobre o Dualismo Estrutural e a


Expansão da Forma Capitalista de Produção

Fonte: Elaboração própria. Adaptado de Furtado (1986, p. 151)

De acordo com o Gráfico 03 para atingir seus objetivos, a organização fixa o


salário um pouco acima do custo de reprodução da mão-de-obra observado na referida
economia. Desta forma capta o excedente, acumula capital que posteriormente será
reinvestido na expansão da própria atividade econômica por meio da compra de meios

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de produção e força de trabalho, gerando economias de escala, externas e progresso


técnico. Outra parte do excedente captado ou dos lucros realizados, que seria em outro
caso embolsado pelo capitalista, será reinvestido à população por meio de políticas
públicas, ou seja, parte do excedente, da mais valia realizada retorna às mãos do
assalariado na forma de políticas públicas. Deste modo a organização, não obstante,
absorver grande parte da mão-de-obra disponível na economia pré-capitalista em sua
atividade econômica, gerará um outro departamento, ou seja, um departamento de obras
públicas que absorverá outra parte da mão de obra que porventura tenha ficado
desempregada. E mesmo que, no caso do argumento de Furtado (1986) ocorra
desemprego estrutural, este será eliminado por meio da criação de um setor de obras
públicas.
A nova dinâmica ocorrerá no sentido de que, o salário antes fixado abaixo do
custo de reprodução de mão-de-obra à medida que esta for sendo contratada devido a
reinversão do excedente captado e conseqüente expansão da atividade econômica da
organização e da reinversão do excedente por meio de políticas públicas tenderá a
elevar-se gradualmente. Ou seja, os salários antes fixados apresentarão uma tendência a
elevar-se à medida que se torna escassa a mão-de-obra, à medida que o excedente
estrutural for sendo absorvido. A atividade econômica da organização e as atividades
relativas a políticas públicas devido a reinversão do excedente captado apresentará uma
tendência a absorver toda a mão-de-obra do setor atrasado nas atividades econômicas da
organização e nas atividades relacionada a obras públicas, eliminando, desta forma o
dualismo estrutural, ou seja, a coexistência e a interdependência de setores atrasados e
avançados no mesmo espaço. Tal organização terá o efeito de ao longo do tempo em
eliminar as disparidades de renda, a concentração do capital, as desigualdades sociais,
dentre outras.

5 CONCLUSÃO

O presente trabalho situado no âmbito da Teoria do Desenvolvimento


Econômico tratou em demonstrar os impactos do modelo de Organização Não-
governamental inferido a partir das características autopoiéticas do Girassol sobre o
dualismo estrutural e a expansão da forma capitalista de produção.
Concluímos que o modelo de ONG proposto afeta a dinâmica da expansão da
forma capitalista de produção, ao atuar com uma determinada atividade econômica
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utilizando parte dos lucros realizados como forma de financiar sua expansão. Não
obstante, a alterar, desta forma, o padrão de concorrência vigente em determinado setor,
devido a sua extrema política de responsabilidade social. E que ao reinvestir parte de
seus lucros em projetos sociais tende a redistribuir a renda, senão o excedente captado.
Este fenômeno tem como efeito uma tendência marginal de reduzir o papel do
capitalista no processo produtivo, reduzindo o excedente estrutural de mão-de-obra,
eliminando o dualismo estrutural e amenizando os efeitos perversos da expansão da
forma capitalista.
O trabalho ainda evidencia a necessidade de se realizar um estudo mais
aprofundado mediante a Teoria da Dependência Econômica com o objetivo de verificar
os impactos desta sobre os níveis de acumulação interna, sobre os fenômenos do
intercâmbio desigual, vulnerabilidade econômica, fragilidade financeira, enfim sobre o
subdesenvolvimento econômico.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: Uma Nova Compreensão Científica dos Sistemas
Vivos. São Paulo: Cultrix, 1996, 294 p

_____________. As Conexões Ocultas: Ciência para uma vida sustentável. São Paulo:
Cultrix. 2002, 296p.

ECO, Umberto. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva, 1977. 170 p.

FURTADO, Celso. Teoria e Política do Desenvolvimento Econômico. São Paulo: Nova


Cultural, 2ª ed. 1986, p.

MATURANA, H. R.; GARCIA, J.V.G. De Máquinas e Seres Vivos: Autopoiese – A


organização do vivo. 3ªed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997, 140 p.

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