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Aula da saudade

Inicialmente gostaria de agradecer o convite da “Turma Concluinte”.

Meus queridos formandos esta é uma manhã em que vocês, na presença de


amigos, parentes, professores e convidados celebram uma vitória, desde há
muito esperada. Hoje, vocês deixam de ser Turma para ser Eduardo,
Gilmara, Laércio, Patrícia, Adriano e Eliana.

De hoje por diante, a noção de Turma e o próprio sentido que a


Universidade conferiu à vida de vocês, ao longo desses anos, estarão
guardados para sempre em suas Memórias.

Esta memória estará adormecida até o momento em que a Saudade


provocar em vocês a inquietação da lembrança. Esta lembrança
proporcionará a vocês, além do sentimento de pertença, o direcionamento
do próprio exercício da vida profissional.

Mas como um sentimento como a Saudade pode direcionar à nossas vidas?

A Saudade, meus queridos formandos, é muito mais do que a expressão de


baixa pieguice; um sentimento rasteiro a que recorrem apenas os
apaixonados ou os reacionários, adeptos do status quo. Saudade é a
celebração de um conjunto de valores que enobrecerão cada um de vocês
com relação ao que vocês mesmos construíram ao longo desses anos. Sentir
saudade é reviver a academia em forma de aprendizado, pois saudade é,
acima de tudo, resultado de uma experiência.

A saudade nos faz refletir e, sobretudo, sentir com mais vigor, a presença
de uma ausência; a saudade como uma “máquina do tempo” possibilita-nos
viajar no tempo, o tempo que quisermos.

A saudade, meus queridos formandos, não é fraqueza de ânimo de encarar


corajosamente o presente e mesmo o futuro; pelo contrário, aos grandes
criadores e até inovadores em política, em arte, em ação social nunca lhes
faltou a capacidade de encontrar na saudade estímulos para os seus arrojos
de criação e para suas audácias de renovação.

A saudade de Camões vivida nos Lusíadas revigorou o espírito coletivo de


sua gente fazendo Portugal reeguer-se em 1640;
A saudade do Brasil fez com que José Bonifácio renunciasse as vantagens
que lhe foram oferecidas pela Europa e viesse a ser o grande organizador
do futuro brasileiro;foi a saudade do Brasil que inspirou Gonçalves Dias
escrever no exílio os mais brasileiríssimos versos em “Minha terra tem
Palmeiras”;a saudade da Bahia nunca impediu Rui Barbosa de estar em dia
com os saberes jurídicos de sua época e a se preocupar com o futuro
brasileiro;a saudade de Pernambuco inspirou um de nossos mais estimados
poetas Manuel Bandeira a imortalizar em versos o seu querido Recife;sem
a saudade do tempo de sua meninice, vivida em torno da casa-grande, teria
sido impossível a José Lins do Rego escrever o “Ciclo da cana-de- açúcar e
ter aberto um grande debate acerca do Nordeste agrário.

Tudo isto para lhes mostrar, queridos formandos, que a saudade, do


contrário que dizem, não mata e nem é sentimento reacionário.

Invoco para que todos vocês sintam saudade, pois ela, de hoje por diante,
agirá como um cordão umbilical que os manterá vivos e presentes, embora
ausentes desse espaço, notadamente do espaço da academia.

Como a estes autores acima citados que a “Saudade da Aula” sentida por
vocês, a partir de agora, os cerquem de criatividade e inovação; que as
dúvidas no exercício da profissão sejam banidas pela presença de um
“passado especifico” cheio de lições de Saudade; lições que vocês mesmos
foram atores.

Assim, quando o momento exigir conhecimento em Política que a Saudade


das aulas de Fábio e Hermano tragam até vocês o conhecimento de que
precisam. Se precisarem de antropologia, de sociologia ou filosofia é só
repetirem o processo, sentindo saudade.

Mas a saudade, meus queridos formandos, só trará aquilo que cada um de


vocês conseguiu dar a si mesmos ao longo desses anos.

A saudade, diferente de nós, não mente. Ela não é mágica. Ela será para
vocês o que vocês fizeram de si mesmos durante esse tempo. A saudade é
um bem particular carregado de sentido coletivo. É por isso que hoje vocês
deixam de ser a Turma Concluinte para desempenhar o Ser de cada um de
vocês, a desenvolver a humanidade que vocês aprenderam nas ciências
humanas. É chegada a hora da partida, da separação. É difícil dar adeus,
sentir que parte da gente se vai, deixando um vazio, tolhendo a liberdade do
encontro, imprimindo e fortalecendo nossa incompletude.

Foram poucos anos de convívio, mas que eternizarão em nossas vidas o


brilho impregnado por cada um de vocês. Desde Joana da Xérox, Jenilda,
Dona Graça, Sayonara, Maria com o seu sorriso contagiante, Joãozinho
com sua simpatia, Rui com ares de quem sempre quer servir, Cristina
Marin com sua vontade de ajudar, às vezes maior do que suas
possibilidades, seu jeito de mãe, de amiga e profissional competente, e
muitas outras pessoas que não caberiam nesta lista.

Sangra a partida, desnuda-nos de afetividade, retalhando e fragmentado o


que construímos em pouco tempo.

Portanto, em nome da Saudade criadora e inovadora desejo a todos vocês


um forte abraço cheio de Saudade. Muito obrigado!

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