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Para uma concepção orgânica, de forma bem diferente, o poder político não
se encontra atomizado, disperso pelos vários indivíduos de que se compõe a
comunidade. O poder apenas se constitui no agregado social quando este se
constitui em pessoa moral autônoma. E, ao constituir-se, o poder não é um
simples somatório de pequenas parcelas, sendo antes uma espécie de
propriedade — é uma realidade moral. Isto é, existe uma realidade moral no todo,
e que não resulta da simples soma das partes. Um exemplo clássico muito
referido, retirado do mundo físico, ajuda a explicar essa “espécie de propriedade”
que define a realidade moral de todo o poder político (ou soberania): a água,
resultado da junção de oxigênio e hidrogênio, tem uma natureza que a define e
que é diversa do simples somatório das propriedades dos elementos que a
constituem. De modo análogo, também a soberania não é apenas a soma das
vontades dispersas pelos membros da comunidade. A soberania é algo que só
existe na comunidade enquanto sociedade política constituída.
Mas, para que fique bem claro, importa responder à seguinte questão:
porque é que, para um defensor da concepção orgânica, existe sofisma ou
embuste no sufrágio exclusivamente individualista (inorgânico)?
Porque nesse tipo de sufrágio, — além de não se respeitar a pluralidade dos
grupos que compõem a sociedade, e as diversas aspirações dos seus membros
com seus direitos e interesses — apenas contam os indivíduos agregados em
torno de projetos ideológicos acerca dos quais a grande maioria é incapaz de
formular opiniões fundadas.