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ATLAS DO AMBIENTE
NOTÍCIA EXPLICATIVA
ATLAS DO AMBIENTE
NOTÍCIA EXPLICATIVA
VII.3
Resumo...................................................................................................
Summary................................................................................................
Résumé...................................................................................................
Introdução...............................................................................................
Caracterização geológica e geomorfológica................................
Factores climáticos ......................................................................
Descrição da Carta..................................................................................
Interesse da Carta.....................................................................................
Nascentes minerais........................................................................
Referências bibliográficas........................................................................
Resumo
Ilha da Madeira
A formação geológica da ilha da Madeira iniciou-se no Miocénico
prolongando-se até ao Quaternário, sendo essencialmente constituída por três
fases de actividade vulcânica, seguidas por importantes estados de acalmia a
que correspondem quase sempre episódios sedimentares.
A primeira fase iniciou-se através de erupção submarina de natureza
predominantemente explosiva, dando origem a materiais piroclásticos de
granulometria variável, normalmente muito alterados e argilificados em
virtude do longo período sujeitos a actividade erosiva.
No interior destas formações ocorrem, por vezes em profundidade,
intercalações de materiais mais grosseiros, brechas basálticas pouco alteradas
e de aspecto escoriáceo, possivelmente relacionadas com condições
tectónicas e geomorfológicas então prevalecentes, condicionando localmente
o seu comportamento e interesse hidrogeológico.
Esta unidade ocupa a zona central da ilha, formando as cabeceiras
das ribeiras Brava, dos Socorridos e de S. Jorge, constituindo ainda a base de
grande parte das bacias hidrográficas das ribeiras de S. Vicente, do Porco, de
Machico e da Metade.
A segunda fase de actividade eruptiva é caracterizada por erupções,
tanto do tipo explosivo como efusivo, originando um complexo de
alternância de materiais piroclásticos com escoadas lávicas, cujo
desenvolvimento é variável de local para local, função da proximidade e do
posicionamento dos aparelhos vulcânicos.
Os afloramentos deste complexo ocupam predominantemente as
vertentes situadas a sul, desde a linha de costa até altitudes da ordem dos 900
a 1000 m, adquirindo espessuras e morfologias diversas de acordo com a
cota atingida pela unidade de base.
Tal facto origina comportamentos hidrogeológicos distintos confor-
me o predomínio e espessura do material lávico, existindo por vezes
condições geomorfológicas favoráveis à infiltração aquífera, como é o caso
do Santo da Serra.
A terceira fase, de carácter efusivo, deu origem a três subunidades
vulcânicas, praticamente sucessivas, com larga representação na faixa
planáltica central e nas vertentes norte da ilha, incluindo-se aqui as erupções
mais recentes que ocorreram provavelmente no Quaternário.
Inicia-se com um espesso complexo de escoadas de basalto com
disposição subhorizontal, por vezes com disjunção prismática e com níveis de
escórias e tufos finos bem estratificados. Estes afloramentos são visíveis nas
áreas subjacentes e envolventes do Paul da Serra, do Fanal e da Bica da Cana,
atingindo também a zona litoral norte, assim como a periferia do Chão dos
Balcões, Poiso, Achada do Teixeira e Queimadas.
Nalguns locais as escoadas apresentam lavas do tipo “aa” passando a
escórias e brechas de escórias, tornando-se difícil estabelecer correlações de
camadas entre as várias sequências observadas.
No topo desta subunidade, aparecem alguns níveis de escoadas
basálticas vacuolares separadas por basaltos escoriáceos seguidas por tufos e
argilas vermelhas, por onde se iniciou o traçado da Galeria do Rabaçal.
A este complexo sucede outro, composto por escoadas lávicas mais
compactas e com raros níveis de tufos, atingindo a parte superior do planalto
do Paul da Serra e aflorando ainda nas áreas do Poiso, João do Prado e Chão
dos Balcões.
As manifestações mais recentes da actividade vulcânica, que ocorre-
ram provavelmente no Holocénico, estão representadas nos vales das ribeiras
de S. Vicente, do Seixal e da Janela, tratando-se de alternância de lavas
escoriáceas com basaltos porosos, chegando a formar perfeitas cavidades de
tipo “tubo lava”. Durante este período a lava escorreu para os vales referidos
a partir de várias crateras secundárias situadas nos flancos do maciço do Paul
da Serra, cuja superfície topográfica deveria ser semelhante à actual.
Este vulcanismo recente parece ainda estar representado através de
cones vulcânicos quase intactos em Porto Moniz, Ponta do Pargo, Arco da
Calheta e nalguns pontos da costa sul nas proximidades do Funchal.
O sistema filoniano encontra-se visível em todas as formações dos
complexos vulcânicos descritos, quer em afloramentos quer no interior das
galerias, não atingindo por vezes a superfície topográfica e terminando na
formação onde foram inseridos. A distribuição espacial é variável, havendo
áreas onde existe grande concentração de diques e, normalmente, em relação
com os centros vulcânicos, outras, em que são menos abundantes ou quase
inexistentes.
Factores climáticos
Ilha da Madeira
O clima da ilha da Madeira encontra-se muito influenciado pela
localização geográfica e pelas características do relevo, o que origina uma
variabilidade na distribuição dos valores de precipitação e temperatura.
Os ventos dominantes oriundos do norte e responsáveis pela
ocorrência de elevada precipitação e nevoeiro encontram um obstáculo no
posicionamento E-W da ilha e na presença de relevos com altitudes
compreendidas entre 1500 e 1800 m .
Assim, o valor da precipitação é geralmente alto nas vertentes
situadas a norte, enquanto que a sul é menor, verificando-se ainda que para
cotas iguais poderá haver diferenças da ordem dos 500 mm entre as duas
vertentes. Os valores mais elevados oscilam entre os 2500 e os 3000 mm e
ocorrem nas zonas do maciço leste do Pico Ruivo-Areeiro (cotas de 1860 m)
e no maciço oeste do Paul da Serra (cotas de 1500), decrescendo com a
altitude.
A distribuição da precipitação é variável ao longo dos meses do ano,
sendo normalmente, e em ano médio, mais intensa nos meses de Outubro a
Maio; o período menos chuvoso decorre de Julho a Setembro.
O valor médio da pluviosidade anual cifra-se em 750 x 106 m3, não
se tendo aqui considerado o contributo da condensação da humidade, valor
ainda desconhecido mas factor importante na recarga dos aquíferos.
Quanto à temperatura verifica-se que varia também com a altitude,
atingindo valores negativos e ocasionalmente queda de neve nos picos de
maior cota, enquanto que na zona litoral se torna mais amena e com valores
médios de 16o a 18o .
Descrição da Carta
Caracterização hidrogeológica
Ilha da Madeira
O comportamento hidrogeológico das formações vulcânicas na ilha
da Madeira, encontra-se em estreita ligação com a idade dos complexos onde
estão inseridas, e consequentemente com o tipo de litologia nelas
prevalecente.
Outro factor importante prende-se com a existência de estruturas
geotectónicas, que sob a forma de fracturas ou de filões condicionam as
diferentes unidades aquíferas, quer em dimensões e continuidade, quer nas
condições de infiltração e permeabilidade.
É evidente que a percolação aquífera subterrânea se torna por vezes
de extrema complexidade, quando os factores litológicos se encontram
influenciados por perturbações estruturais; há ainda a realçar que os valores
de porosidade e permeabilidade não permanecem constantes ao longo da
mesma escoada ou dos materiais de projecção.
A variabilidade da porosidade e da permeabilidade poderá estar
relacionada não só com o estado de alteração e compacidade das formações,
mas também com a distribuição espacial de níveis de escórias e brechas de
escórias no interior das escoadas lávicas e, ainda, com a variação
granulométrica dos materiais piroclásticos.
Com base nestes conceitos foram estabelecidas quatro unidades
hidrológicas que passamos a descrever.
Ilha da Madeira
Para satisfação das necessidades de abastecimento de água, o
aproveitamento dos recursos hídricos subterrâneos na Madeira iniciou-se no
século XV, através de um sistema de transporte em aquedutos denominados
“levadas“, que captavam as numerosas descargas subterrâneas desde as zonas
altas e as conduziam para a costa sul, onde a concentração populacional era
maior devido às condições mais favoráveis de clima e relevo.
Em 1947 iniciaram-se as obras do Plano Geral de Aproveitamentos
Hidráulicos com a construção da nova e extensa rede de levadas para
condução da água das emergências de maior débito, conjuntamente com
algumas escorrências superficiais da zona norte para sul. Esta água,
distribuída por gravidade, era essencialmente usada para irrigação, produção
de energia eléctrica e, em parte, para uso doméstico.
Em 1960 inicia-se a construção do Túnel dos Tornos cujo sucesso
veio demonstrar a vantagem deste tipo de captação quando se conjugam
condições favoráveis de constituição geológica, topográficas e de recarga.
Posteriormente, foram realizadas novas galerias cujas produtividades têm
vindo a satisfazer as necessidades de consumo, embora se tornem muito
influenciadas pela variação do regime pluviométrico.
O aumento populacional e o desenvolvimento económico e turístico
vieram aumentar a necessidade de obtenção de maior volume de água para
abastecimento e regadio, tendo-se iniciado em 1978 a construção de capta-
ções tubulares nas zonas baixas das principais linhas de água, de modo a
interceptar o elevado potencial aquífero basal existente nessas áreas.
Ilha da Madeira
A composição físico-química das águas ocorrentes na região é função
do percurso realizado, do tempo de residência e da maior ou menor
permeabilidade das formações atravessadas, variando a sua fácies com a cota
a que se encontra.
As águas das captações tubulares instaladas nos aquíferos basais e
relacionadas com a acumulação de reservas nas zonas costeiras, costumam
apresentar uma fácies bicarbonatada a cloretada e em que os catiões
prevalecentes são o Na+ e o Ca2+.
Trata-se de águas fracamente mineralizadas, com condutividades que
não ultrapassam os 300 µS/cm e com pH entre 6,9 e 7,7. A mineralização
destas águas diminui em função do afastamento da linha de costa, provavel-
mente devido a uma maior concentração de sais nas zonas de descarga.
As águas das emergências apresentam uma composição físico-
química variável e em relação com a altitude, apresentando-se essencialmente
cloretadas até à cota de 700m, passando depois a bicarbonatadas até cerca dos
1300 m, seguindo-se finalmente outro grupo em que a concentração
hidrogeniónica e a mineralização é menor e a sua fácies varia entre
bicarbonatada e cloretada.
A variabilidade vertical destas águas poderá atribuir-se às diferenças
dos valores de precipitação e temperatura, à distribuição vertical dos
diferentes tipos litológicos e necessariamente da permeabilidade, ao aumento
do tempo de residência e, ainda, à concentração de sais nas zonas mais
próximas do litoral.
A água das galerias, embora reflectindo um quimismo relacionado
com a cota a que se encontram instaladas, possuem em regra uma
mineralização mais elevada que a das emergências, ocasionada pelo maior
tempo de contacto da água com o material rochoso no percurso de
percolação.
Ilha da Madeira
A bibliografia refere a ocorrência de três nascentes de água
consideradas como minerais, as quais se encontram localizadas nas zonas de
Santo António (Funchal), Ponta da Queimada (Machico) e na Baía de Abra
(Ponta de S. Lourenço), denominadas respectivamente por Águas do
Jamboto, Águas de São Roque e Águas do Salitre.
Estas águas estão classificadas de acordo com a composição físico-
química determinada em análises referidas nos elementos consultados e
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