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10
novembro
2008
ficina
EMILY
DICKINSON
uma vida e obra repleta
de lirismo e melancolia
SAMIZDAT 10
novembro de 2008
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Sumário
Por que Samizdat? 6
Henry Alfred Bugalho
ENTREVISTA
Rui Zink 8
MICROCONTOS
Henry Alfred Bugalho 12
Denis da Cruz 13
Volmar Camargo Junior 14
RECOMENDAÇÕES DE LEITURA
Esmagado pelo Sistema 16
Henry Alfred Bugalho
CONTOS
Companhia Limitada 22
Volmar Camargo Junior
O Paradoxo da Morte 24
Henry Alfred Bugalho
Toque de Saída 28
Joaquim Bispo
O Gato Jeremias 32
Maria de Fátima Santos
Reencontro 34
Guilherme Rodrigues
Pastel de Vento 36
Zulmar Lopes
Encontro com Joaquim Maria 38
Giselle Natsu Sato
As Noivas de Preto 42
Maristela Scheuer Deves
TRADUÇÃO
A Estrada não Percorrida 46
Robert Frost
Poemas de Emily Dickinson 48
TEORIA LITERÁRIA
Você conhece o indriso? 52
Volmar Camargo Junior
A Atualidade do Conto 54
Henry Alfred Bugalho
CRÔNICA
Angústias Urbanas 56
Giselle Natsu Sato
Novas Tendências 57
Joaquim Bispo
POESIA
Náufrago 58
Marcia Szajnbok
Lua-Sol-Eu 59
Guilherme Rodrigues
Poemas 60
Maria de Fátima Santos
Laboratório Póetico 62
Volmar Camargo Junior
Esquecimento 63
Volmar Camargo Junior
Três Poesias 64
José Espírito Santo
Poemas 65
Pedro Faria
Ninfa 66
Dênis Moura
SEÇÃO DO LEITOR
Agora o leitor da SAMIZDAT também pode colaborar com a elaboração da revista.
Envie-nos suas sugestões, críticas e comentários.
Você também pode propor ou enviar textos para as seguintes seções da revista: Rese-
nha Literária, Teoria Literária, Autores em Língua Portuguesa, Tradução e Autor Convi-
dado.
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Por que Samizdat?
“Eu mesmo crio, edito, censuro, publico,
distribuo e posso ser preso por causa disto”
Vladimir Bukovsky
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Entrevista
RUI ZINK
Assisti a um vídeo seu favor. Só peca por tímida.
num programa (creio Quero que os meus filhos
que seja de televisão), possam viajar pelo mundo
chamado Sempre em Pé, em português e ganhem
no qual você compara a dinheiro falando português.
atuação do professor com Isso só é possível graças ao
o fazer stand up comedy. Brasil, desde há mais de um
No Brasil há muito dis- século o nosso maior em-
so, de o professor “atuar” baixador.
em escolas particulares e
nos chamados “cursinhos
pré-vestibular”. A minha Um aluno ou um escritor
pergunta é a seguinte: em início de carreira de-
o professor, o bom pro- vem ser penalizados por
fessor, é o que dá mais escrever com pontuação
prioridade ao “o que” incorrecta, mas a mesma
ensina, ou o que prioriza que é usada por escrito-
o “como” ensina? Há um res aclamados como Lobo
meio-termo para isso? Antunes?
Rui Zink (Lisboa, 1961) é um R. Z.: Sim, um aluno deve
Rui Zink: Há uma infini-
escritor português com extensa ser penalizado. Primeiro
dade de meios-termos. O
e variada obra publicada de bom professor começa dominar as regras, depois
que salienta os romances Hotel por compreender quem é quebrá-las. Lobo Antunes,
Lusitano (1987), Apocalipse e adaptar a panóplia de tal como antes dele Joyce,
Nau (1996), O Suplente (1999) métodos disponíveis – mui- Faulkner, Guimarães Rosa,
e Os Surfistas (2001), e os livros tos deles contraditórios – à Raymond Queneau, etc.,
de contos A Realidade Agora a sua personalidade. A regra domina-as com mestria. O
Cores (1988) e Homens-Aranhas é parecida com a escrita: eu caso dum escritor é dife-
(1994). Lança o seu último ro- faço o que posso, não o que rente do de um aluno, mas
mance, O Destino Turístico, em quero ou gostava de fazer. qual o interesse de escrever
finais deste Outubro. Recebeu o Sem comunicação eficaz “tal e qual” outro escritor?
Prémio do P.E.N. Clube Portu- não há aprendizagem, sem Escritor, para mim, é aque-
guês pelo romance Dávida Divi- nada para dizer também le que cumpre o ditado:
na (2004), e tem representado o não. Mas uma antecede a “Quem conta um conto
outra. Preciso de saber se os acrescenta um ponto.” Tudo
país em eventos como a Bienal
interlocutores entendem o o mais é redundante. E, sim,
de São Paulo, a Feira do Livro
que digo antes de começar a maioria dos nossos tele-
de Tóquio ou o Edimburgh Book escritores são nesse sentido
Festival. Professor universitário, a dizer, né?
redundantes. Porque se
é dado como o introdutor dos limitam a pisar caminho
cursos de escrita criativa em Você é professor, escritor trilhado, a pôr os pés nas
Portugal. e leitor em Língua Portu- marcas alheias, tanto no
guesa. Qual é a sua opi- que dizem como no modo
nião sobre a nova reforma como dizem.
Mais informações no seu site: ortográfica?
http://ruizink.com/
R. Z.: Sou inteiramente a
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julho de
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O que o fez iniciar os lixos calhamaços. Mas a bons e quem achar o con-
cursos de escrita criativa? busca da palavra exacta trário (a começar pelos pró-
R. Z.: A poetisa Ana Ha- parece-me tão aconselhável prios) está lamentavelmente
therly, minha mentora, sabia como a busca da nota certa. equivocado. Mas eu próprio
que eu tinha estado nos Senão somos como aquele gosto de ler maus livros, tal
EUA e me interessava pelo aluno a quem o professor como há bons autores que
assunto. E desafiou-me a pediu quanto eram 2+2 e não me convenço a ler.
fazer isso com alunos da que responde 3, 4, 5, 6, 7,
[Universidade] Nova, em 8, 9, e fica espantado por
chumbar, já que deu a res- Uma história construída
1991. Acredito que o jogo com o objectivo de trans-
com as palavras e as ideias posta certa.
mitir uma ideia política,
pode ajudar as pessoas a filosófica ou científica
tornarem-se melhores escri- Um escritor principiante pode ser boa literatura?
tores do que eram e, sobre- deve ousar experimentar Como?
tudo, melhores leitores. novas estruturas narra- R. Z.: Pode. É o caso de
tivas ou deve ater-se às Gonçalo M. Tavares, Musil,
É possível aprender a ser consagradas pela literatu- Brecht, Soeiro Pereira Go-
escritor, ou seja, é possí- ra? mes. Mas é raro.
vel estudar para sê-lo? Há R. Z.: E porque não ambas?
“técnicas” para isso? Com peso e medida umas
vezes, sem peso nem medi- Quando acha que al-
R. Z.: É possível aprender guém escreve muito bem,
e apreender técnicas, tal da outras.
aconselha-o a continuar
como é possível aprender a a escrever, ou a publicar?
tocar piano ou a pintar ou Ter um “estilo próprio” Ou seja, para si, é a escri-
a dançar. Naturalmente que é coisa a acalentar como ta que deve ser incentiva-
dar o passo extra depende virtude ou é um vício de da ou a publicação?
de algo que não se pode escrita a combater?
ensinar e que a pessoa tem R. Z.: A escrita é íntima,
ou não em bruto dentro R. Z.: É um objectivo a a publicação não. Se acho
dela. Mas o treino, a técnica acarinhar. Mas não ser- que uma pessoa tem talen-
e a teimosia ajudam, e não ve de nada pensar muito to para cantar, aconselho-a
há artista digno desse nome nisso. Ou se chega ou não tentar gravar um disco, pois
sem nenhuma destas três se chega. Só é escritor, para é simpático partilhar. Além
coisas. mim, quem alcança uma de que, publicando e tendo
voz própria. eco (aplausos, bombons,
dinheiro), a pessoa tem in-
Qual é o seu primeiro centivo para trabalhar mais
conselho a um aspirante a Existe má literatura? Que e crescer.
escritor? critério tem para dizer
que um texto é boa ou
R. Z.: Ler e copiar, copiar má literatura? Prosperar na carreira de
muito. E, já agora, viver. escritor é uma questão de
R. Z.: Sim, existe. Aquela
que maltrata a linguagem talento, sorte ou persis-
Concorda com o apelo à ou se limita a reproduzir tência?
concisão de Saul Bellow? ideias e frases gastas de tan- R. Z.: Depende do que se
Onde termina uma nar- to uso. Margarida Rebelo entende por “prosperar”. De
rativa literária concisa Pinto, José Rodrigues dos qualquer modo, uma conju-
e começa uma listagem Santos e Miguel Sousa Ta- gação das três ajuda sem-
de frases ligadas por um vares não são (até à data) pre. Não há receitas.
mesmo tema? bons escritores, o que não
R. Z.: Boa questão. Obvia- significa que os seus li-
vros não entretenham nem Ao escrever, o que o
mente o apelo de Bellow decide a optar por um
tem uma batota: ele fê-lo desmereçam de ser lidos ou
comprados. Mas não são conto ou por um roman-
depois de ter escrito pro- ce: o tamanho da história
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a contar; a intensidade ção de que o escritor não e tem a dentição completa,
pretendida; ou o quê? fazia ideia do que estava a só comê papinha c’a mamã
R. Z.: O tempo que eu acho falar e nos soaram a falso, dá.
que a história pede. O não é?
Bicho da Escrita não aguen- Ultimamente têm proli-
tava mais de oito páginas,
Após o sucesso de O Có- ferado nas livrarias, pelo
embora pudesse ser estica-
digo Da Vinci, multipli- menos do Brasil, os ro-
do por duzentas. O Destino
caram-se as obras sobre mances ambientados em
Turístico exige uma leitura
“mistérios” ligados a sei- culturas bem distintas da
prolongada – sobretudo umtas, escondidos pela Igreja nossa, com destaque para
longo primeiro capítulo ou por antigas irmanda- as histórias que se pas-
(que vai até metade do livro
des. Esse filão não acaba sam em países de maioria
e dura tanto como os dozepor tornar-se repetitivo? muçulmana. Isso se deve
seguintes). Os escritores estão escre- à natural curiosidade
vendo sobre para com o que é diferen-
isso ape- te do que conhecemos? É
A leitura é um prolongamento, por nas porque um modismo? Ou faltam
letras, de um acto que fazemos viram que bons livros ambientados
desde o nascimento até à morte: tem leitura no Brasil/Portugal?
ou porque R. Z.: Nihil obstat, desde
ler o mundo, ler os sinais, unir os temas que o autor tenha dado o
os pontos no desenho, não para atuais estão seu melhor. Um autor é
esgotados?
atingir o desenho que o autor livre de escrever sobre o
R. Z.: Quem que quiser com o seu tem-
imaginou, mas um outro, sempre não quer ser po livre. E uma pessoa não
um outro. papagaio não escreve sobre o que quer,
lhe vista a escreve sobre o que pode.
pele. Há assuntos sobre os quais
eu gostava de versejar, mas
Na sinopse que você mes- sinto/sei que não consigo.
mo dá (foi você mesmo?) Existe mesmo uma indús- Felizmente, com sorte, apa-
ao livro Homens-Aranha, tria cultural que controla rece sempre alguém que o
você menciona o fato de os destinos do mundo ca- faz melhor.
que “as melhores histó- pitalista, ou isso é intriga
rias” são as que ao autor da oposição? Independen-
não é necessário inven- te de existir ou não, em Em mais de 100 anos de
tar nada. Há quem diga, um cenário de poucos lei- Prêmio Nobel, apenas um
embora não recorde quem tores (como o Brasil), é vá- único autor de língua
o diga, que a literatura lido que se leia porcarias portuguesa foi laureado.
não deve ser autobiográfi- desde que se esteja lendo? A que você atribui esta
ca. Até onde a “vida real” Ou é isso que “eles” que- indiferença global em re-
deve ser a massa da fic- rem que pensemos? lação aos autores lusófo-
ção? R. Z.: Comer um hambúr- nos? É uma questão quali-
guer é melhor que não co- tativa, lingüística, política
R. Z.: Tal como eu não pos- ou o quê?
so pintar a cor verde com mer, ou mesmo que comer
tinta vermelha, também não caviar podre. Mas obvia- R. Z.: Os suecos são um
posso imaginar sem ser a mente que a leitura que me povo maravilhoso, mas não
partir da pessoa que sou e ajuda a crescer como leitor encontrei nenhuma passa-
fui. O que somos é a ma- pode, um dia, já só servir gem da Bíblia onde diga:
téria-prima a utilizar, mas para me impedir de crescer. “E a Academia Sueca dirá
obviamente que é apenas Isto tanto funciona para os qual é o melhor escritor
o trampolim, não o salto. livros de entretenimento do mundo.” Obviamente a
E todos nós já lemos livros como para a papa Nestlé. limitação é deles, que lêem
em que tivemos a percep- É triste se um adulto pleno, poucas línguas, e a vergo-
que já não vive com a mãe nha é para eles, não para
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Guimarães Rosa, Clarisse R. Z.: Prefiro sinergias a
Lispector, Jorge Amado, Lígia adaptações. Mas tenho o
Fagundes Telles, João Cabral maior respeito por todas
de Melo Neto, Drummond essas formas, de que sou
de Andrade, Moacyr Scliar, consumidor – e, de muitos
Rubem Fonseca… autores, admirador.
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Microcontos
Presente de Natal
Henry Alfred Bugalho
Neurótica
Henry Alfred Bugalho
Autoconhecimento
Henry Alfred Bugalho
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Microcontos
Coelho — Sim.
Rato — Tá com problemas no trabalho?
Coelho — Não.
Rato — Doença na família?
Coelho — Nada.
Rato — Grana?
Coelho — Nem.
Rato — O que é então? Coelho? Coelho? Por que tá
me olhando assim?
Coelho — É que você tem umas orelhinhas tão sexy...
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Recomendações de Leitura
Esmagado
pelo Sistema
Henry Alfred Bugalho
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Autor em Língua Portuguesa
Machado de Assis
POETA
Marcia Szajnbok
Machado de Assis dispensa apresentação.
Neste ano, centenário de sua morte, muito se
tem comentado na imprensa, tanto sobre o
homem, quanto sobre sua extensa obra. Dela
fazem parte alguns dos melhores textos em
prosa já produzidos em língua portuguesa.
Seus contos e romances são leitura obrigató-
ria, quer nas lições do colégio, quer por gosto
da literatura. Escritor completo, entretanto,
Machado de Assis não escreveu apenas pro-
sa. Há também teatro e poesia, gêneros aos
quais não se dedicou tanto, o que nem por
isso lhe diminui a qualidade de suas produ-
ções.
Classificam-se, em geral, os textos macha-
dianos num primeiro momento, romântico,
que inclui Helena, Ressureição, Iaiá Garcia, e
num segundo, por vezes considerado realista,
por vezes inclassificável, onde estão as obras
que se lhe consideram primas, como Dom
Casmurro e Memórias Póstumas de Brás
Cubas, entre tantas outras. Se classificar os
textos em prosa já suscita discussões, no que
que, em síntese, toda poesia carrega em si:
tange à sua poesia as classificações são ainda
a possibilidade de produzir no leitor, por
menos precisas. Que os primeiros poemas
uma combinação mágica de forma e conte-
enquadram-se bem nos cânones do romantis-
údo, um frêmito, uma emoção, um estado de
mo, não há dúvida. Mas seus temas passam
alma. Eis aqui uma pequena amostra desse
pelo indianismo, e sua forma, mais tardia,
aspecto menos popularizado, do texto de
se aproxima dos parnasianos. Independente
Machado de Assis:
dessas questões acadêmicas, o que Machado
de Assis nos traz com seus versos é aquilo
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LUA NOVA E um ancião, que a saudara já muitos,
Muitos dias: “Jaci, doce amada,
Dá que seja mais longa a jornada,
Mãe dos frutos, Jaci, no alto espaço
Dá que eu possa saudar-te o nascer,
Ei-la assoma serena e indecisa:
Quando o filho do filho, que hei visto
Sopro é dela esta lânguida brisa
Triunfar de inimigo execrando,
Que sussurra na terra e no mar.
Possa as pontas de um arco dobrando
Não se mira nas águas do rio,
Contra os arcos contrários vencer.”
Nem as ervas do campo branqueia;
Vaga e incerta ela vem, como a idéia
E eles riam os fortes guerreiros,
Que inda apenas começa a espontar.
E as donzelas e esposas cantavam,
E eram risos que d’alma brotavam,
E iam todos; guerreiros, donzelas,
E eram cantos de paz e de amor.
Velhos, moços, as redes deixavam;
Rude peito criado nas brenhas,
Rudes gritos na aldeia soavam,
— Rude embora, — terreno é propício;
Vivos olhos fugiam p’ra o céu:
Que onde o gérmen lançou benefício
Iam vê-la, Jaci, mãe dos frutos,
Brota, enfolha, verdeja, abre em flor.
Que, entre um grupo de brancas estrelas,
(Americanas, 1875)
Mal cintila: nem pôde vencê-las,
Que inda o rosto lhe cobre amplo véu.
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Contos
COMPANHIA LIMITADA
Volmar Camargo Junior
v.camargo.junior@gmail.com
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Contos
O Paradoxo da Morte
Henry Alfred Bugalho
henrybugalho@gmail.com
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bamento (é óbvio, a porta mas após se encontrar, possi- Antes, Antônio roncando,
estava aberta), sem testemu- velmente no plano astral, com Maria se masturbando em
nhas, sem suspeitos, ou seja, um demônio, abandonou to- silêncio.
de antemão, um crime inso- das as crenças na imortalida-
lúvel. de da alma, em reencarnação, Antônio abriu os olhos,
e todas estas bobajadas que donde lágrimas escorriam.
Este tipo de resposta ja- não passavam de devaneios O sol nascia pela persiana
mais satisfaria Antônio. Sua da mente. da janela da sala; olhou ao
mulher foi assassinada, porra! seu redor, e a cozinha esta-
O mínimo que ele queria Mas que não eram deva- va diferente de quando ele
era pôr as mãos no culpa- neios porcaria nenhuma. havia chegado; a mancha no
do, e que ele apodrecesse na chão havia desaparecido. Ele
cadeia! Ouvindo sua respiração, se levantou, caminhou até o
livrando-se dos pensamentos, quarto e gentilmente abriu a
Naquela manhã, Juliana aquietando a angústia de seu porta, ele e Maria dormiam.
viu o cadáver da mãe, chorou coração, Antônio começou
muito. Implorou ao pai que a voltar, mentalmente, no Não era sua mente que
descobrisse quem era o as- tempo. havia voltado no tempo
sassino, ele jurou que o faria, apenas, era ele, em pessoa,
abraçaram-se. Uma hora atrás, a poça no que havia voltado. O coração
chão. de Antônio saltou no peito.
Maria foi velada, vieram Estava aí uma oportunidade
parentes de longe, primos, Duas horas atrás, a poça
no chão. não somente para descobrir o
tios, pai, mãe; pãozinho assassino, como para também
francês com margarina sendo Um dia atrás, a poça no evitar o crime.
mastigado na copa da casa chão.
funerária, piadas sussurradas Ele tinha de descobrir um
pelos cantos, rezas sobre a Dois dias atrás, ele, ao lado lugar para se esconder naque-
morta. Maria foi sepultada, da esposa morta. le apartamento minúsculo.
os parentes voltaram para
Minutos antes, Maria, Lembrou-se que Juliana
suas cidades, Juliana pra casa
esvaindo-se em sangue, ago- sairia de casa antes que ele
da tia Paula, e Antônio para
nizando. e Maria deixassem o quarto.
seu apartamento, tentar cum-
prir com o que prometera à Por isto, sentou-se em silên-
Antes, um homem, mas-
filha. cio na sala, pegou um livro
carado, luvas, faca na mão,
com capa reluzente (nunca
degolando Maria.
Perto da mesa de jantar, sequer havia sido folheado
aquela mancha negra, sangue Antes, ele, pondo a guia antes) e fingiu ler.
coagulado; Antônio se deitou em Lisa e saindo.
sobre ela, na mesma posição A porta do quarto de
em que encontrou a esposa; Antes, ele, coçando o saco Juliana se abriu e a menina
cerrou as pálpebras, respirou diante da TV. saiu, pijamas e remelas:
fundo. Há vinte anos não fa- — Nossa, pai, você está len-
Antes, o casal almoçando.
zia isto, desde quando era um do? E nestas horas da manhã!
adolescente, crente em tudo Antes, Juliana saindo de
que era esotérico ou místico. casa para ir ao balé. — Sempre há hora para
Havia praticado meditação, se começar a criar o hábito.
ioga e aspirado ao nirvana. Antes, Maria e Antônio se Talvez você também devesse
Teve experiências estranhas, espreguiçando na cama. tentar.
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Contos
Toque de
Saída Joaquim Bispo
Aos dez para as oito, uma postura de grande auto- – O que é que se passa,
estava a cruzar o portão confiança. Riram-se as três, Susana?
da escola. A Mariana já lá nervosamente, quando ele
estava. Quando chegou a olhou de longe para elas. Al- – Nada, mãe, foi a Catari-
Catarina, abraçaram-se as gumas perguntas percorriam na que nos arranjou bilhetes
três, pulando e gritando de o íntimo de cada uma. para ir ver o Harry Potter no
alegria. Era tão bom revê-las,
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sábado. Posso ir? ga. Virou-se de barriga para não digas nada as colegas.
baixo e deixou as lágrimas
Susana ficou sem saber se escorrer para a colcha. Sen- Com um convite destes,
o rubor que lhe queimava a tia-se a rapariga mais infeliz não duvidava que Filipe
face era por ter mentido à do mundo. Logo agora, que arranjaria uma desculpa para
mãe, se por perceber que este pensava que iria viver um cancelar a sessão de cinema
ano escolar iria ser muito romance bonito. E magoava-a com a Mariana. E quando
diferente dos anteriores. que tivesse sido a própria ele ali chegasse no sábado, a
amiga a trai-la, mesmo sem imaginar uma tarde de «mar-
Com o pretexto de orga- melada», havia de as encon-
nizar os cadernos, foi para o o saber.
trar às três, a rir da cara dele,
quarto logo a seguir ao jantar Revoltada, pegou no tele- pelo logro em que caíra, e
e deitou-se em cima da cama móvel, alterou a identidade tudo acabaria em galhofa.
a imaginar como seria o para «anónimo», e escreveu:
sábado: o que levaria vestido, Ou não... Mais uma vez,
se ele lhe pegaria na mão, se Veja por onde anda a sua hesitou antes de enviar a
trocariam algum beijinho. filha. Sabe aonde ela vai saba- mensagem. Voltou a cabeça
Ele seria atrevido ou tímido? do? e encarou-se no espelho do
Hesitava na resposta: dizer roupeiro. Viu uma miúda,
que sim, sem mais, ou dizer Seleccionou o número apenas, a querer brincar aos
que ainda não sabia se podia de telemóvel da mãe da crescidos. E, não estava a
ir, para ter tempo de o ava- Mariana, mas hesitou antes gostar de se ver nestes papéis
liar melhor. Até podia dizer de enviar. Não podia fazer mesquinhos de adultos en-
que no dia seguinte falariam esta maldade à amiga. Ela cornados. Uma coisa eram as
sobre a ida ao cinema. não tinha culpa nenhuma e, histórias das telenovelas, ou-
mesmo que tivesse, era uma tra, as situações com pessoas
O telemóvel retiniu de amiga de muitos anos. Apa- reais. Apagou a mensagem e
novo e Susana, de novo, gou a mensagem, pensativa. escreveu:
saltou a apanhá-lo. Tinha a
certeza que era o Filipe, já Passado um bocado e Sabado não posso desculpa
impaciente. Mas não. Era aceite o fracasso, começou
a sentir que, vistas bem as Enviou a mensagem para
a Mariana. Feliz da vida,
coisas, até tinha sido útil não o Filipe, desligou o som do
porque o Filipe lhe tinha
ter respondido logo ao Filipe telemóvel e foi-se deitar que
enviado uma mensagem a
e ter, assim, percebido que no dia seguinte era mais um
convidá-la para ir ao cinema.
tipo de rapaz ele era. Uma dia de escola e queria che-
– Que bom, Mariana! E o ideia começou a germinar gar cedo para estar com os
que lhe vais dizer? – interes- na sua cabeça. Para alguma amigos. Todos.
sou-se Susana, com o tom coisa haviam de servir as te-
mais natural do mundo. lenovelas. Pegou no telemóvel
e escreveu:
– O que já disse. Que sim,
claro! Achas que eu ia dizer Eu ate gostava Filipe mas te-
que não? Vamos ver o Harry nho que ficar em casa porque
Potter ao centro comercial. os meus pais vao para fora e
eu tenho que tomar conta dos
Susana desculpou-se di- caes. Não queres vir tu ca a
zendo que tinha que ajudar casa? Vamos para o meu quar-
a mãe e acabou rapidamente to e vemos o senhor dos anéis
a conversa radiosa da ami- que eu saquei da net. Sim? Mas
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Contos
O Gato Jeremias
Queria escrever-lhe. va, segurando o gato, num Nada nunca mais foi. Des-
Colocar uma folha de pa- fim de tarde de Maio. Sorria de esse dia de Maio, nunca
pel branca, sem linhas nem na fotografia. Sorria-me. Fui nada mais foi.
quadrados, em cima da buscar uma caneta. Uma
secretária ou num canto da qualquer, desde que escreves-
mesa da cozinha. Ao lado da se em azul. Um azul de tinta, Era preciso que eu lhe
folha, a sua fotografia. Aquela muito azul. Um azul como escrevesse. Eu queria escre-
em que está, de mãos sujas, o azul do céu do começar a ver-lhe. Já tinha a folha de
segurando o Jeremias. noite naquele Maio em que a papel e a caneta que escrevia
fotografei segurando o gato naquele tom de azul.
Jeremias, o nosso gato cin- com as mãos sujas de fari-
zento, enorme. nha. O que eu escrevi foi uma
Queria, pois, escrever-lhe carta assim.
Porque desceu ela a escada
uma carta sob o seu olhar. em vez de entrar em casa?
O olhar com que me olha-
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Contos
REENCONTRO
Guilherme Rodrigues
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Contos
PASTEL DE VENTO
Zulmar Lopes
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Contos
Encontro com
Joaquim Maria
Giselle Natsu Sato
http://zrak7.ifrance.com/ouvidor-1890.jpg
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fresco. Algumas são cortesãs lemos o melhor, eis que surge - Mas logo agora? Vai
disfarçadas em busca de ro- algo desconcertante. perder a leitura, Machado vai
mance. Se a sorte for benfa- nos dar a honra do primeiro
zeja, ofereço meus préstimos, Senti um pequeno des- capítulo.
carrego alguns pacotes e falo conforto ao ouvir aquele
nome, o segundo Machado - Então fique e aproveite,
um pouco de francês. Voilá!
em uma tarde. Para não ser não precisa me acompanhar.
Convido para um chá na
grosseiro, folheei o livro, um Insisto que fique, é seu autor
confeitaria, acompanho até a
pouco desatento. No primei- preferido.
residência...
ro parágrafo, senti que não
conseguiria descansar, até - Imagine, nunca aban-
Finalmente a livraria, um
completar toda leitura. donaria o amigo, faço com-
lugar com certa exclusivida-
panhia até que melhore e
de, longe dos pobretões que
Extraordinário estilo, per- retornamos.
embaçam as vitrines. Sinto
que estou no meu mundo, feito em todos os aspectos,
tão bom que senti vergonha - Pacheco, deixe-me em
escritores, intelectuais, polí- paz! Preciso respirar, estou
ticos: do meu manuscrito.
angustiado.
- Joaquim, Joaquim Maria. Fui para casa terminar
a leitura do romance. Não - Não precisa ser
Quanto tempo! Que bons grosseiro,não quer ser visto
ventos trouxeram meu me- pude controlar a inveja, o
rancor, o ódio pelo tal es- com um simples comercian-
lhor amigo de volta? te. Hoje está no meio dos
critor brasileiro. Seis anos
jogados no lixo, meus sonhos seus, não precisa da compa-
- Pacheco Leitão! Que pra-
desfeitos em uma tarde, nhia do velho amigo Pache-
zer, cheguei semana passada.
minha existência reduzida co. Não tenho seus estudos,
Mas já estou querendo voltar.
ao limbo. Por um Machado, meus pais não me mandaram
- Joaquim, não seja tão um machado destruidor de para Europa. Minha mãe
severo! Faz parte da nata da sonhos. achou um desperdício, meu
sociedade, freqüenta festas pai mal sabe assinar o nome,
maravilhosas, cassinos, usu- No dia seguinte, mais e agora esta desfeita...
frui do bom e do melhor. E calmo, soube que o escritor,
recém eleito meu favorito, Deixei meu amigo falando
nem mencionei os bordéis!
estaria na livraria. O espaço sozinho, nunca tive paciência
Não é suficiente?!
estava apinhado de gente para ouvir sermão, muito
- Sim, o suficiente para vinda de todos os pontos menos do Pacheco. Perdi a
quem se contenta com pou- da cidade. Muitos aplausos noção do tempo enquanto
co. Quero muito mais, hoje anunciaram a chegada. A caminhava, o peito transpas-
entrego meu primeiro ro- turba ruidosa, movimentava- sado de vergonha. Não havia
mance para impressão. se impedindo a visão de seu percebido a fina ironia no
semblante. Quando consegui breve diálogo com o mulato
- Um amigo escritor é ardiloso.
uma honra e tanto. Está com espaço suficiente, reconheci
sorte, hoje chegou o últi- o homem que havia salvo Enxerguei o romance
mo de Machado: Memórias meu envelope. Quis morrer por um novo ângulo. Agora
Póstumas de Brás Cubas. É naquele instante: eu via a desfaçatez mas-
uma obra-prima, todos estão - Pacheco, está abafado de- carada nos diálogos dos
comentando. Se bem que mais, preciso sair um pouco personagens,a personalidade
Machado sempre surpreende. e respirar. complicada dos protagonis-
Quando pensamos que já tas, a estratégia da redação
A aversão machadiana
crescia como um tumor pes-
tilento. Esquecido da vida, os
sentidos embotados pela vin-
gança, não percebi o veículo
descontrolado. Por ironia do
destino, um importado inglês,
mal conduzido por um jo-
vem inexperiente.
Morri.
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Contos
As Noivas de
Preto
Maristela Scheuer Deves
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uma caixa de madeira, que depois de tudo ter acontecido
colocou sobre a mesa, cha- que minha sogra, sua avó,
mando-me para ver o conte- contou-me que isso acontecia
údo. Ali estavam as antigas há quatro gerações. Desde
fotos que eu vira ainda crian- que uma tia-avó do seu avô
ça, num baú no sótão dos fora rejeitada pelo restan-
meus avós. E também outras, te da família por se casar
muitas outras, todas mostran- grávida, obrigada a casar de
do noivas vestidas de preto. véu negro, ela amaldiçoou a
Lá estavam minha avó, todas todos, dizendo que, dali por
as minhas tias por parte de diante, nunca mais uma mu-
pai... Aturdida, fiquei passan- lher da família se casaria de
do uma a uma, sem saber o branco. E, até hoje, isso vem
que dizer. se cumprindo...
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Tradução
A Estrada não
percorrida Robert Frost
tradução: Henry Alfred Bugalho
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Obras
A produção literária de Frost é
variada e abundante. Sua poesia
inclui sonetos, poemas em forma
Robert Lee Frost (San Francisco, em sua vida: casa-se com Eli- de diálogo, poemas curtos, poemas
Califórnia, 26 de março de 1874 - nor White em 19 de dezembro; o longos. Escreveu três peças teatrais
29 de janeiro de 1963) foi um dos primeiro filho nasce no ano se- (A Way Out, In an Art Factory e The
mais importantes poetas dos Estados guinte (teria seis ao todo), e passa Guardeen). São numerosíssimos
Unidos do século XX. Frost recebeu a envolver-se cada vez mais com a os registros de suas conferências.
quatro prêmios Pulitzer. vida no campo: em 1901 já admi- A correspondência, os ensaios e as
nistra sua própria fazenda. Adquire histórias merecem o mesmo comen-
o hábito de escrever seus poemas à tário. Frost tem a capacidade de dar
Biografia
noite, na mesa da cozinha. A partir um tratamento simples e ao mesmo
O pai bebia, jogava e era excêntrico de 1906, quando começa a lecionar
e irascível. A mãe era o oposto: re- tempo profundo a temas elementa-
em tempo integral na Pinkerton res (fogo, gelo, natureza), tirando
ligiosa e culta, foi quem apresentou Academy, a vida profissional de
ao filho o mundo da literatura. Com verdadeiras “lições de moral” de
Frost não se dissociaria mais do suas observações do mundo natural
a morte do pai em 1885, a família ramo das letras. Começa a proferir
muda-se para a Nova Inglaterra, (lições nem sempre otimistas, como
palestras e conferências, atividade se pode notar em Nothing Gold Can
região à qual Frost e sua poesia que não abandonaria até a morte.
seriam permanentemente associados Stay). Tal traço, aliado à modernida-
Entre 1912 e 1915 viveu na In- de de sua linguagem (Frost era um
no futuro (embora o poeta também
glaterra, país onde publicou seus defensor do uso da linguagem ver-
tenha passado longas temporadas
dois primeiros livros de poemas, A nácula nas obras literárias), fez com
em Michigan e na Flórida).
Boy’s Will (1913) e North of Boston que Frost jamais deixasse de figurar
Em 1890, publica seu primeiro (1914). Os livros foram bem recebi- entre os escritores prediletos dos
poema, começa a dar aulas e realiza dos pela crítica européia, e Frost é norte-americanos, ao lado de nomes
pequenos serviços em fazendas e apresentado a poetas famosos, como como Whitman, Emerson e Thore-
moinhos. A vida que levava nesse Ezra Pound, Ford Madox Ford e W. au. Seu poema The Road Not Taken
período moldou sua personalidade B. Yeats. é peça obrigatória em qualquer
poética: Frost foi um dos poetas antologia poética de língua inglesa.
Em 1915 volta aos Estados Uni-
norte-americanos que melhor com- Prova adicional de sua popularidade
dos, e no mesmo ano publica em
binou em seus versos o popular e o são as várias referências em filmes
seu país natal seus dois primeiros
moderno, o local e o universal. como Sociedade dos Poetas Mortos
livros. Com a carreira literária cada
Em 1895, inicia-se uma nova fase vez mais sólida, recebe o Pulitzer e Daunbailó.
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Tradução
Poemas de Emily
Dickinson tradução: Henry Alfred Bugalho
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Não posso viver contigo
E eu, eu permanecerei
E ver-te-ei expirar,
Sem meu direito de expirar,
Privilégio da morte?
E se tu decaísses, também,
Mesmo que meu nome
Tenha soado mais alto
Na fama celestial.
E se tu fosses salvo,
E eu condenada a estar
Onde tu não estás,
Isto seria o inferno para mim.
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Teoria Literária
vOCÊ CONHECE O
INDRISO?
Volmar Camargo Junior
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Teoria Literária
A ATUALIDADE DO
CONTO
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Crônica
Angústias urbanas
Giselle Natsu Sato
Foto: José Cordeiro/Agência O Globo
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Poesia
náufrago
http://www.flickr.com/photos/r_catalano/2171631233/sizes/l/
Marcia Szajnbok
marciasz@hotmail.com
náufrago
num momento qualquer, se decidiu
Guilherme Rodrigues
A Lua solitária
Que ama o Sol
Sempre tão bela no céu
Queria vestir véu
E se casar.
Olhando.
Eu, solitário,
Me convenço
Que assim devo ficar.
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Poesia
poema II - maresias
Tinhas um ar descalço.
Odoravas salgado,
Nu.
poema I - requium Algas e sargaço.
Ela encostou-se.
Um cotovelo.
Tu mastigavas um rissol.
Viscoso.
Feio. Insaboroso.
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Poesia
LABORATÓRIO POÉTICO
Volmar Camargo Junior
v.camargo.junior@gmail.com
Distância
entre nós
um dois
espaço
O Sonho
Sonho que o sonho é o fim.
O Verso e o Nada
Haveria canção no Universo
E o outro finge;
O terceiro acontece.
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Poesia
Três
Poesias José Espírito Santo
Hoje sou...
Tronco oco pouco do nada,
flutuar ao abandono para lugar nenhum,
muitos diversos tantos e tanto não tanto um...
Cor, de cor, acção, decoração de coração! Sou o Hoje, o eu e o tu, sou assim
Luz pálida de diferente dizer de adeus,
És entrada e saída de lixo e não te interessas Restos que voam de restos de mim...
Desaire, de Zaire, transmitido, exclusivo directo
Falta demorada de tecto, de morada, detecto
Sempre de ti partes e a ti enroscado regressas
Sentir
Cor, de cor, acção, decoração de coração!
Como leve tocar nas barbas do riso do vento
Bichinho de conta, em mundo “faz de conta” falcão Como um ter de corpo em escarnecer do tempo,
Nessa com posição decomposição de composição és vitória doce e ser outro ser como se de nós fosse
Jogando tudo e o todo e os outros todos pro vento
Quando mais conta na conta teu gordo provento Como observar nítido com o olhar fechado,
em mundo infinito, em dor e amor e grito calado,
és um ser de não mais ter, és tanto tão querer
Num quarto escuro você está enclausurada Pois num vale próximo me chama
Porta alguma você vê ou deseja Para perto, uma flor em domo de vidro.
Dele, excelsa luz emana.
Satisfeita está, com sua morada.
Encantado, minutos passei encarando
Um dia, porém, em seu peito flameja A bela flor, que não vi ao lado
Calor tal, que a impele à retirada De cabelos longos, homem estranho.
De si mesma, onde sua alma é presa.
- “Da flor sou guardião” -, disse irritado
Muito tempo passa, mas chave certa encontra “Ela me escolheu, então vá andando”
Para abrir tal negríssima porta “De onde veio, para o outro lado”.
Que à sua vista cansada desponta.
Entristecido, segui a trilha lentamente
Imagem da flor, como que marcada
Tal tristeza, que em seu coração aporta A fogo assombrava minha mente.
Pois dum mundo novo visão a assombra
Que você deseja cair morta. Por horas andei, até minha cabeça cansada
Exigir-me descanso, então parei finalmente
Súbita coragem em seu coração nasce E deitei-me sobre a grama esverdeada.
Tal a Estrela da Manhã num lindo céu
Que leva a melancolia ao escape. Num sonho me veio profético aviso
O melro me disse: “Refaça o caminho”
“Em tomar a flor não há mais perigo”.
Por longo corredor você caminha, e véu
Negro, como batina de padre “Ela agora jaz em sua redoma, sozinha,
Ascende de sua visão, a um fogaréu. Livrou-se de seu guardião antigo
Mas procura outro para completar seu destino”
Vendo duas portas, uma delas aberta
E a outra, tão duramente cerrada Corri então pela trilha, com notável destreza
Escolhe a segunda, ignora o alerta. Até a luz brilhante que me cega
Só para encontrar horrível surpresa:
Pois a primeira, a todo bem lhe guiava
Guardião a flor já tinha, de mim se esquecera
Escolheu mal, e agora enxerga
Meu coração foi tomado de grande tristeza
O quarto escuro, a porta era a errada. E condenado fiquei à eterna espera.
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Poesia
Ninfa
Dênis Moura
SAMIZDAT
SOBRE OS AUT
ORES DA
SAMIZDAT
SOBRE OS AUTORES DA
SAMIZDAT
s
erto Barro s-
Carlos Alb e nordestino
s, desenhi
, fi l h o d or m a d o ,
Paulistano plástico f
d e s e m p r e , artista o fi s s i o nal como
ta des a v ida pr
Come ç o u s u u seu ras-
escritor. t ã o , já deixo
, de s d e e n Culturais,
educador e l a s e Centros -
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67
Giselle Sato
Giselle se autodefine apenas como uma contadora de his-
tórias carioca. Estudou Belas Artes e foi comissária de bordo
— cargo em que não fez muita arte, esperamos. Adora viajar
(felizmente!) e fala alguns idiomas.
Atualmente se diverte com a literatura, participando de
concursos e escrevendo para diversos sites pela net. Gosta de
retratar a realidade, dedicando-se a textos fortes que chegam
a chocar pelos detalhes, funcionando como um eficiente pa-
norama da sociedade em que vivemos, principalmente daquilo que é
comumente jogado
para baixo do tapete pelos veículos de comunicação.
gisellesato@superig.com.br
http://www.trilhasdaimensidao.prosaeverso.net/
Guilherme Rodrigues
Estudante Letras na
Universidade do Sagrado
Coração, em Bauru, onde
sempre morou. Nutre
grande paixão por Línguas,
Literatura e Lingüística,
áreas em que se dedica
cada vez mais.
o
Henry Alfred Bugalh
a pela UFPR, com
É formado em Filosofi ra e
pecialista em Literatu
ênfase em Estética. Es as
atro romances e de du
História. Autor de qu
.
coletâneas de contos
Nova York, com sua
Mora, atualmente, em
sua cachorrinha.
esposa Denise e Bia,
.com
henrybugalho@gmail
www.maosdevaca.com
Joaquim Bispo
Ex-técnico de televisão,
xadrezista e pintor amador,
licenciado recente em His-
tória da Arte, experimenta
agora o prazer da escrita,
em Lisboa.
marciasz@hotmail.com
Volmar Camargo Ju
nior é gaúcho. Form
em Letras pela Unive ado
rsidade de Cruz Alta,
leciona por sua próp nã o
ria vontade. Entrou na
em 2004, e desde en ECT
tão já morou em meia
de “Pereirópolis” pelo dúzia
Rio Grande. Atualm
vive com a esposa Na en te
tascha em Canela, na
Gaúcha. Dividem o ap Serra
artamento com Marie,
uma gata voluntario
sa e cínica.
v.camargo.junior@gm
http://recantodasletra ail.com
s.uol.com.br/autores/v
cj
Zulmar Lopes -
ca. Formado em jorna
Zulmar Lopes é cario , tra ba lh a
de Gama Filho
lismo pela Universida ciana e
prensa. Alma provin
como assessor de im en-
contra-se provisoriam
coração suburbano, en irro
olita Copacabana, ba
te exilado na cosmop e sit ua ções
personagens
fonte de inspiração de ra fu gir
ntos. Escreve pa
que compõem seus co
do marasmo.
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