Professional Documents
Culture Documents
Freire, Paulo.
Introdução.
Freire defende a necessidade de conscientização do povo, para que este posa, a partir de
então, constituir-se sujeito de sua própria história. Aos que alegam que a conscientização crítica
poderia levar à desordem, a arnaquia, conduzindo as pessoas a um “fanatismo destrutivo”, o autor
afirma justamente o oposto, pois a consciência crítica faz justamente o contrário: o fanatismo é
resultado da dominação exercida sobre a consciência das pessoas, levando-as a agir segundo
objetivos e interesses externos a si próprio.
O medo à liberdade (medo na maioria das vezes inconsciente), propicia pela consciência
crítica, conduz as pessoas a não desejarem, ou mesmo, combaterem uma forma de vida ou de
educação que lide com tais problemas. Esse medo à liberdade confunde-se, como diz o autor, com a
manutenção dos privilégios de classes, ou seja, dos “status quo”. A consciência crítica levará as
pessoas a lutarem por uma alteração desse “status quo”. Daí,... “Melhor será que a situação concreta
de injustiças não se constitua num ‘percebido’ claro para a consciência dos que a sofrem” (pág. 24).
É por isso que Freire defende o radicalismo humanista. Ou trabalhamos para a
conscientização das pessoas, ou as estamos manipulando. O radicalismo, nutrindo-se em uma
consciência crítica, liberta: enxergar a realidade como ela é, e deseja sua mudança. Ao contrário, o
sectarismo advém de uma consciência alienada e alienante, que conduz à dominação dos homens.
Freire é claro: “Parta de quem parta, a sectarização é um obstáculo à emancipação dos
homens”. Tal afirmativa prende-se ao fato de que, muitos radicais – portanto revolucionários – ao
responder a violência da sectarização de direita, caem no sectarismo, deixando-se levar por posições
fatalistas.
Esse aspecto é básico para a pedagogia do Oprimido: se por um lado, o sectário é um ser que
não deseja a liberdade dos homens, que enxerga a realidade, não de forma objetiva, mas de forma
mítica, que se encerra em sua verdade e não admite discussão, enfim, por constituir-se em um ser
“sem dúvidas”, e por outro, se a tarefa a ser realizada é radical, ele não poderá dela participar, antes,
será um obstáculo a ser também vencido.
Aspecto básico que atravessa toda a obra é a crescente “desumanização”da sociedade. E a
partir daí, sobressai o espírito de humanização do autor, sua profunda preocupação com o ser
humano, o respeito e o amor que nutre para com os homens. Essa preocupação está apoiada na sua
convicção de que os homens, “seres inconclusos” estão constantemente em busca da sua
humanização. Esse é o esteio filosófico básico – os homens possuem uma vocação ontológica pela
humanização. Essas vertentes humanistas, que indubitavelmente passa pela obra de Rousseau, há
que ser resgatada a todo o momento, se deseja entender o posicionamento radical de Freire. E
apesar de ser uma vocação, ela é negada, porém, “também afirmada na própria negação” (pág. 30).
Ela é negada pela situação de injustiça, de opressão, de exploração e violência praticadas pelos
opressores. Mas ao contrário do que poderíamos imaginar, também os opressores são seres
desumanizados. Essa dialética é a mesma do contexto senhor/escravo, sádico/masoquista, etc. A
desumanização seria enfim, resultado de uma “ordem injusta que gera a violência dos opressores, e
esta o ‘ser menos’”. O par contrário do “ser menos”, próprio dos oprimidos numa situação de
violência, é a do “ser mais”, próprio dos opressores.
A superação dessa contradição se dará, segundo Freire, somente a partir da luta dos
oprimidos contra “quem os fez menos”. A luta somente terá um caráter efetivamente revolucionário
e humanista, se buscar a humanização tanto de oprimidos como opressores. Os detentores do poder
não poderiam portanto, fazer essa revolução, já que teriam que abdicar do próprio poder, do próprio
“status quo”. E estes, ao tentarem uma amenização da situação opressora, não conseguem ir além de
uma “falsa generosidade”, ou de uma “falsa caridade”, já que, caridade e generosidade estão em
lutar contra causas que provocam a mão estendida do miserável.
Outra preocupação básica é um formular um método cuja construção dá-se no próprio
processo, ou seja, é um conjunto de situações construídas com os homens e não para os homens.
Ocorre que os oprimidos, depois de gerações seguidas de opressão, passam a olhar o mundo com os
olhos do opressor, eles “hospedam” o opressor dentro de si, vivendo uma dualidade: ao iniciar-se o
processo pedagógico, os homens desejam libertar-se – mas o seu modelo de homem livre é ainda o
seu opressor, ou seja, eles simplesmente vêem como solução o deslocar-se para o pólo dialético
oposto: ao invés de empregado, ser patrão, ao invés de ser oprimido, passa a opressor. É o que
Freire denomina de “aderência” ao opressor (pág.32): o oprimido não consegue objetivar o
opressor, já que ele está dentro de si. Somente após adquirir uma consciência dessa situação de
“hospedeiro” do opressor, poderá o oprimido passar a “admirar” o opressor, ou seja, a “descobri-lo
fora de si”. Aí sim, ele estará apto a construir um método dele e seus semelhantes, que conduza a
um processo de libertação, ou seja, superar a contradição oprimido/opressor.
Além disto, ao hospedarem o opressor, ou numa linguagem psicanalítica, ao introjetarem o
opressor, eles próprios, os oprimidos, passam a lutar contra o processo de superação da contradição,
visto que isto implica em alterações conceituais básicas – ele se descobrirá, de repente, com um
“vazio” de alguma coisa (já que foi ‘coisificado’ pelo opressor). Ele terá que abdicar do lugar
cômodo de não pensar e refletir terá que tomar para si a responsabilidade de preencher esse vazio, e
passar a construir a sua história.
O autor compara esse processo a um “parto doloroso” – eu diria mais, é um parto sem
período de gestação pré-determinado, que evolui, que distócico, opõe resistência ao nascimento,
fato que às vezes nunca ocorre.
A superação da contradição opressor/oprimido, tanto pelos oprimidos como pelos
opressores, não se estabelece no simples fato da consciência dessa contradição. Da mesma forma
que a situação de opressão é objetiva, é real, para superá-la é necessário, de ambos, um gesto radical
de mudança, ou seja, “a radical exigência da transformação da situação concreta que gera a
opressão” (pág. 37).
A ênfase na objetividade de luta pela transformação radical de situação opressora visa
combater uma outra situação: o imobilismo subjetivista que se propõe a aguardar que as coisas
mudem por si mesmas. O autor, valorizando a subjetividade, descarta os subjetivismos, os
objetivismos e afins, que apenas servem de engodo, deixando o campo livre para os opressores.
Portanto, subjetividade e objetividade estão juntas no processo, não havendo uma sem a
outra. Elas se encontram no ato da reflexão e ação, ou seja, na práxis criadora e redentora dos
homens. Essa unidade de ação e reflexão conduz ao que Freire denomina de “que fazer”.
É nessa perspectiva que deve ser entendida a Pedagogia do Oprimido – ou seja, uma
pedagogia libertadora, humanista, mas não humanitária. Freire vê dois momentos de atuação: o
primeiro, ocasião em que os oprimidos vão formando a consciência crítica e se comprometendo
com a práxis libertadora. E o segundo momento, que ocorre depois da superação da condição de
opressão, passando a ser então, a pedagogia dos homens livres. Essa dualidade não significa uma
estagnação do processo, já que a dialética, base de toda essa teoria, não o admite.
A superação da contradição leva ao surgimento de um novo homem, nem opressor, nem
oprimido, mas “homem libertando-se” (pág 43).
Mas a luta pela libertação dos homens encontrará resistências mesmo após a superação da
situação de opressão: tanto os antigos opressores, como os antigos oprimidos (que carregam dentro
de si os fantasmas da opressão), agem no sentido de retornar à antiga situação opressora. É
necessário então que seja colocado um freio no sentido de que não se permita que tal situação
retorne. Na concepção de Freire, esse freio não pode ser considerado “opressão”, pois o que
caracteriza opressão seria a condição que levaria os homens a ‘ser menos’, a dominação de uns
pelos outros. Este é o momento em que tantos movimentos de libertação se perdem, enrijessem e se
burocratizam, passando a utilizar as mesmas armas que os opressores. Deixam eles, então de serem
revolucionários, para tornarem-se reacionários e sectários.
Freire destaca que a passagem, ou melhor, a “adesão” de parcela de exploradores à causa dos
oprimidos é um fato que sempre se observará, mas que terá suas conseqüências: aqueles estarão
impregnados de suas crenças e preconceitos. Uma dessas marcas é a desconfianças que nutrem no
povo, apesar de, em seu discurso, falarem do povo. Essa dualidade de comportamento não pode ser
compactuada com a realidade revolucionária – essa parcela de adesão é estimulada, mas não deverá
ter espaço nem oportunidades para liderarem o processo.
No lado dos opressores destaca-se característica como “autodesvalia”, que os induz a
necessitarem de um processo prescrevedor dominante. Essa autodesvalia tende a um
comportamento novo, de reencontro consigo mesmo, no processo de educação libertadora.
Neste panorama opressor/oprimido, os últimos tendem a perceberem-se como ‘coisas’,
coisificados, identificam-se com o opressor, mas sem uma identidade própria – eles dependem, no
pensar e no agir, dos seus opressores.
Um diálogo crítico e libertador deverão ser realizados com os oprimidos, para que esses
possam descobrir-se no processo dialético. O mais importante é que a reflexão e a ação estejam
sempre presentes, constituindo a verdadeira práxis. Se, ainda com boas intenções, destinarmos aos
oprimidos apenas a ação, estaremos impedindo o seu crescimento e impingindo-os ao ativismo. Ao
mesmo tempo, nesta luta, não cabe a utilização de estratégias de “marketing”, tão utilizadas pelos
dominadores. Se desejamos homens com poder de reflexão, não devemos utilizar as armas de
mercadização, de “sloganização”, já que assim estaremos contribuindo para a dominação e
manipulação ao invés de sua libertação.
Essa mesma característica do dirigirmos – seja através da propaganda, seja através de outro
recurso qualquer, sempre marcou o processo educador/educando em condições de opressão.
Essa condição é definida pelo autor como educação bancária, ou seja, os conceitos são
traduzidos de uma realidade outra que não a dos educandos. São narrados e estocados, sem que
estes consigam descobrir a serventia dos conhecimentos a eles impingidos. A relação se estabelece
de cima para baixo:
• O educador é o que educa; os educandos, os que são educados;
• O educar sabe; os educandos são ignorantes;
• O educador escolhe o conteúdo programático; os educandos se adaptam a
eles;
• O educador é o sujeito do processo; os educandos são objetos.
A educação bancária encaixa-se como luva no ideário da dominação – ajuda a fazer dos
homens seres sem criticidade, que aceitam as regras do jogo e as perpetuam. Ajudam a construir
consciências dominadas que vêem nos processos de mudança, ameaças, e a eles reagem. Constroem
homens que não aceitam o processo de diálogo franco. A educação bancária vem para dominar os
oprimidos, para moldar-lhes o comportamento.
Outra característica da educação bancária é a dicotomia que ela estabelece entre o homem e
o mundo. Não existem, ou se impede de ver as relações existentes entre os objetos e o ser humano,
ou seja, a totalidade da realidade.
Freire chama atenção que, ao denunciar a prática necrófila exercida pela educação bancária,
não pretende que as elites dominadoras abdiquem de sua prática. O que deseja é “chamar a atenção
dos verdadeiros humanistas para o fato de que eles não podem, na busca da libertação, servir-se da
concepção ‘bancária’, sob pena de se contradizerem em sua busca”. (pág. 66).
Contrapondo-se à educação bancária o autor propõe a educação problematizadora: tal
educação propõe o processo comunicativo educar/educando como elemento básico. Não mais a
acumulação de conceitos, não mais a teoria narrativa e prescritiva, onde o educador é o sujeito e o
educando objeto de acumulação.
A educação problematizadora coloca a necessidade de superar, de imediato, a contradição
existente entre educador/educando na forma bancária de educação. Somente com tal superação
surge a possibilidade do diálogo franco – ou seja, o que existe agora é o educador-educando e o
educando-educador. Nesta prática, não é o educador que educa o educando, mas a educação surge
num processo de encontro de homens, numa comunhão entre seres iguais que se vêem iguais, e
assim se consideram.
Tal prática se diz problematizadora porque, ao contrário da educação bancária, que busca
tecer uma falsa realidade para perpetuar o processo de opressão, aquela busca justamente o
contrário: desnudar a realidade, problematizar os fatos para que ocorra uma “emersão das
consciências”, resultando numa postura crítica do homem em relação à realidade.
O autor crê que a vocação dos homens é pela busca constante em direção à liberdade, ao ‘ser
mais’. Mas não aceita a postura pacata de que, ao crer em tal vocação ontológica, espere que o
próprio desenrolar da história conduza a esse estado de coisas. Daí o papel que cabe à liderança
revolucionária: não esperar a efetivação do processo para iniciar a educação libertadora, já que
assim estaria praticando a educação bancária dos opressores.
Outra proposta de Freire é que faça parte desse material, sempre que possível entrevista
gravada com dois especialistas sobre uma mesma matéria, o estudo de editoriais dos jornais sobre o
mesmo assunto, etc. Essa analise possibilita a agudização do senso crítico do povo, que passará a
perceber os interesses que cercam as políticas que estão sendo propostas no seu dia-a-dia.
Após o preparo de todo esse material, a equipe de educadores deverá apresentar ao povo o
programa geral do trabalho; e porque participaram de sua coleta e elaboração, não se sentirão como
estranhos. Essa dialogicidade é que marca a grande diferença da educação bancária.
O autor utiliza do recurso de enfatização dos valores básicos que norteiam este trabalho:
mais uma vez reafirma que os homens são seres do ‘que fazer’, ou seja, seres da práxis. Sendo a
práxis revolucionária imediatamente oposta a práxis imposta pelos dominadores aos oprimidos,
torna-se importante diferenciar em uma teoria, essas duas posições. Cita os seguintes aspectos
básicos da prática antidialógica:
a) necessidade de conquista: exprime o caráter antidialógico da objetificação: o dominador possui
ou deseja possuir o dominado, que assim é coisificado. No entato, ao objetificar um dos pólos da
relação, terá sido conseqüentemente também coisificado. Essa prática condena os oprimidos à
alienação e mesmo à crença nos valores dos dominadores. Difunde-se a ideologia dominadora:
existência de uma liberdade para trabalhar, o respeito aos direitos das pessoas, que basta trabalhar
para ser bem sucedido, o direito à educação, à saúde, etc.
Os meios utilizados para a conquista são os mais variados – vão desde a opressão física, até a
dominação subliminar, as aculturações, a sloganização, todas de caráter alienante.
b) necessidade de dividir e enfraquecer o adversário: constitui tanto causa como conseqüência do
primeiro aspecto. Os oprimidos são impedidos de exercer a real cidadania, desenvolver a sua cultura
e se inserirem, criticamente, em um processo de crescimento. Novamente, a alienação, os
treinamentos de lideranças fora de seu meio cultural, contribuem para que os oprimidos não atinjam
a consciência critica da realidade.
c) manipulação: esse instrumento é básico para fornecer um toque sutil de participação, de
cooperação, de diálogo, já visto como impossíveis num contexto dominador/dominado. Freire
chama atenção especial para o pacto político entre as classes dominantes e dominadas, onde o pacto
só é válido enquanto favorecer os primeiros: “os pactos, em última analise, são meios de que se
servem os dominadores para realizar suas finalidades” (pág. 145).
d) invasão cultural: que faz com que os dominados ou invadidos culturalmente passem a se
identificar com os invasores, a manifestarem o mesmo gosto, a se vestirem, a pensarem como os
invasores. O objetivo é tornar claro quem é superior e quem é inferior na esfera social. A partir
dessa dominação cultural, a repressão fica inter-instituicional, ou seja, o próprio dominado cuida de
se reprimir e transmite tal comportamento aos seus próximos.
Do lado oposto acha-se a prática dialógica, que deve utilizar determinados instrumentos para
que possa permitir ao povo libertar-se. Por isso, a teoria dialógica substancia-se em determinadas
características que possibilitam tal empreendimento. É necessário contrapor-se à conquista.
Freire sugere a dialética do eu-tu, na medida que, ao superar-se as contradições do eu/isto
(típica do modelo antidialógica) surgem dois sujeitos, nem dominadoras, nem dominados, numa
relação de co-laboração, ou seja, “sujeitos que se encontram para a pronuncia do mundo” (pág.
167).
Esse aspecto deve ser bem compreendido pela liderança revolucionária, sob o risco de
confundindo-se, passar a dominar e direcionar as massas, “dando-lhes gratuitamente, a libertação”.
É necessário construir também um sentimento de união popular, que valorize e possa manter
sua cultura e seu projeto de vida própria.
O autor parte da premissa que o homem busca como meta o viver libertário, a sua unidade e
socialização dialógica. Logo, a luta pela união dos homens só ocorrerá a partir de um
desvirtuamento desse principio, ou seja, a partir de uma conquista de homens sobre outros homens.
Essa ação de conquista, como vimos, utiliza a ideologia da opressão, e os recursos de
massificação e aculturação. O trabalho da liderança revolucionária não pode, portanto, utilizar as
mesmas regras, já que o objetivo não é alienar, mas sim criar uma consciência crítica para a
libertação dos homens.
Por fim, é necessário pensar na organização das massas populares para garantir o processo
de libertação e contrapor-se à organização das elites, que também se organizam para manter e
perpetuar o estado de dominação.
CONCLUSÃO.
Assistimos à queda dos regimes totalitários na América Latina, mas não contemplamos,
infelizmente, a libertação do homem, ou mesmo um aumento significativo de sua analise crítica da
realidade. As contradições dominador/dominado, objeto principal do livro de Freire, persistem,
reforçadas por uma superespecialização tecnológica informatizada, que conferem ao pólo
dominante poderes e graus de coação antes inimagináveis. Se antes o escravo de galés que se
rebelava era açoitado (às vezes até a morte), hoje, conforme Pagès, o descontente (na práxis) com a
ideologia dominante é posto à margem da sociedade, na marginalidade inútil, numa sociedade sujo
valor básico é a competitividade.
Aliados a este fator presenciam hoje, não a interinstitucionalização como afirma Freire, mas
a institucionalização global como metáfora do desenvolvimento. Conforme Ianni “o paradigma
clássico que sempre definiu o objeto de estudo do cientista social está sendo alterado – surge a
sociedade global, o novo paradigma das ciências”. Aponta-se para uma mudança qualitativa da
função do Estado nacional, e a invasão cultural que ora se internacionalização da economia
mundial.
A grande contribuição de Freire é a sua crença na humanidade, na busca da humanização,
num mundo cujo paradigma global é o mercado. Segundo Santos “nesses espaços de racionalidade,
o mercado torna-se tirânico e o Estado tende a ser impotente. Tudo é disposto para os fluxos
hegemônicos corram livremente, destruindo e subordinando os demais fluxos”. Este novo mundo
que se descortina trará, com certeza, de acordo com os indicadores sociais e econômicos recentes,
grandes contingentes populacionais de miseráveis, à margem do processo produtivo regido pelo
mercado. Valores tidos como universais até agora, com igualdade de direitos entre os homens,
tenderão a serem “flexibilizados” para fornecer a justificativa ideológica necessária a esse novo
período da humanidade. E assim, numa sociedade mundializada, os limites e as justificativas para o
desenvolvimento deixaram de conter um ideário ético e moral até então aceito para simplesmente
obedecerem aos critérios de competitividade, produtividade, eficiência e eficácia.
Apesar deste cenário desumanizador, aos humanistas revolucionários cabe uma tarefa árdua:
encontrar, nessa estrutura aparentemente monolítica, os espaços e as brechas, que infelizmente, não
deixarão de existir, para basearem a sua atuação libertadora.
BIBLIOGRAFIA.
Freire, Paulo – Pedagogia do Oprimido – S.Paulo – Paz e Terra – 22a. Edição – 1993.