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A arte cristã da Alta Idade Média não atribuía aos judeus nenhum traço em
particular. É apenas a partir do século XIII, à medida que se acentuavam as
tensões entre cristãos e judeus, que a iconografia medieval atribuiu a esses
últimos traços distintivos exprimindo selvageria, como o nariz adunco ou a
barba. Taís características acrescentam-se aos atributos mais evidentes como a
rodela ou o chapéu pontudo. À mesma época, a iconografia se enriquece com
associações simbólicas entre, de um lado, a Sinagoga e os judeus, e de outro
todos os tipos de animais. Assim, a cabeça de um bode entre as mãos de uma
Sinagoga personificada era tida como expressão de deboche ou da teimosia; o
basilisco simbolizava o perigo mortal das influências judaicas; o escorpião
encarnava a falsidade, a traição, a peçonha.
Entre os séculos XIII e XIV apareceu nas igrejas e edifícios profanos, públicos
e privados, uma nova imagem esculpida: o judeu mamando em uma porca (Judensau).
Diante da carne de porco, o mundo cristão rapidamente adotou uma atitude
radicalmente oposta à dos judeus. A fim de romper com os ritos judaicos, dos
quais eram originários, os cristãos consumiam o porco. Melhor: eles
organizavam em torno dele uma cultura culinária específica. Os bispos reunidos
em Antioquia no século III contaram que, muito cedo, a Igreja recomendou a seus
fiéis essa carne que desprezava a Sinagoga. Para a cultura medieval, o porco
simbolizava a riqueza, a abundância, as festas opulentas, opostas aos jejuns e
às épocas de escassez. Sinal de fartura e boa gestão, o animal tornou-se
igualmente, por oposição ao interdito judaico, um sinal de pertencimento à
cristandade.
A figura do excluído que se formou na Idade Média Central retomava certos traços
do banido da Alta Idade Média. Todos dois, por exemplo, eram considerados
biologicamente diferentes do resto dos mortais. Mas essas duas figuras não têm
a mesma origem. A primeira parece muito antiga. Os paralelos entre, de uma
parte, o exilado, o fugitivo e o estrangeiro, e de outra parte o lobo, não eram
raros nas culturas indo-européias. A Antigüidade os conhecia, as legislações
hititas não estavam isentas deles e são reencontradas no folclore de tribos
americanas, africanas e australianas. Apenas mais tarde, não sem relação com
os topoi de combatividade e agressividade que essas cerimônias guardavam, é
que se impôs o par banido/lobo.
A despeito das grandes mudanças ocorridas na cultura medieval entre as leis bárbaras,
o IV Concílio de Latrão e os séculos em que seus éditos entraram em vigor,
as premissas ideológicas da exclusão continuaram na longa duração em muitos
pontos as mesmas. Filtradas, depuradas de seu contexto teológico, essas construções
facilmente passaram para o folclore e instalaram-se duradouramente, atacando às
vezes de forma violenta inimigos tradicionais ou novos. Na época da caça às
feiticeiras, os juízes que as acusavam de parentesco com o bode examinavam os pés
das suspeitas e apalpavam suas frontes à procura da menor excrescência que
pudesse ser assimilada a um chifre.
A imagem do excluído continuava igualmente ligada à idéia da morte, herdada
da Antigüidade e da Alta Idade Média. Ela é reencontrada no rito de admissão
dos leprosários, na eterna danação prometida aos heréticos e aos infiéis,
na recusa a enterrar os usurários e os malfeitores culpados de crimes
infamantes.
A Idade Média Central não esquecia tampouco que a exclusão era ligada à errância.
Uma vez mais, a Bíblia servia de referência. Comparar o povo de Israel a Caim
era um tema constante nas polêmicas antijudaicas. A tríade exclusão/exílio/errância
era claramente perceptível na jurisdição do século XIV, que considerava a
vagabundagem como um modo de vida criminoso. Esse problema colocou-se no século
seguinte em relação aos ciganos. As populações autóctones, vendo-os chegar,
não deixaram de lhes atribuir origens egípcias, como aos judeus.