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O velho nativo está mostrando ao homem branco, que parece ser um antropólogo
pálido e pançudo, como acender um fogo. Eles estão agachados no chão, em
volta de uma pilha de gravetos, e o neto de 10 anos do velho também está
agachado, prestando atenção em cada movimento. O velho risca as pedras
algumas vezes, mas não consegue acender o fogo. Finalmente, o homem branco
resmunga, como se já tivesse gasto filme suficiente, vasculha em seu bolso, puxa
um isqueiro e se estende, sem dizer uma palavra. Acende, a chama dispara, os
gravetos estão acesos. O menino ergue os olhos para o homem branco, depois
para o seu avô, em seguida os olhos se estreitam novamente em direção ao
homem branco. Fica imóvel. Um poder inteiramente novo e dominante, jamais
sonhado, entra na sua vida. E vem do pai ou avô de outro menino, não do dele.
(Bevis, 1995, citado por Thompson, 1999).
Dedico este trabalho a todos que confiam
no conhecimento como meio de
chegarmos a um convívio solidário e justo
para a maioria.
AGRADECIMENTOS
Cláudia Silva Teixeira, graduada em Engenharia Florestal, pela Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro, em 1982, com cursos de especialização em Planejamento Ambiental
(UFF, 1984), Sensoriamento Remoto Aplicado à Análise Ambiental (UNESP, 1985) e
Teoria e Práxis do Meio do Ambiente (ISER, 1994) e Mestrado em Desenvolvimento,
Agricultura e Sociedade (CPDA/UFRJ, 2001). Desde 1987 tem trabalhado em projetos de
planejamento e gestão socioambiental, com uma trajetória profissional diversificada quanto
aos tipos de estudos e projetos, sempre em equipes multidisciplinares, envolvendo
principalmente análise ambiental de projetos de engenharia, diagnósticos e prognósticos
socioambientais em áreas indígenas; diagnósticos, estudos e projetos para gerenciamento de
unidades de conservação; e programas/projetos de gestão de recursos hídricos, controle de
erosão e recuperação de mananciais. Principais trabalhos: de 1987 a 1991 fez parte da
equipe de meio ambiente da Internacional de Engenharia S/A, como responsável pelos
estudos de vegetação e uso do solo dos projetos de aproveitamento hidroelétrico realizados
pela empresa; entre 1992 e 1994 trabalhou para organizações não-governamentais (CEDI –
Programa Povos Indígenas no Brasil [hoje Instituto Socioambiental] e Núcleo de Cultura
Indígena) em estudos de impacto da exploração madeireira, de ocupação do entorno e de
manejo florestal sustentado em áreas indígenas na Amazônia; desde 1994 tem trabalhado,
como consultora do PNUD, IICA e UNESCO, em programas e projetos de planejamento e
gestão de recursos hídricos em bacias hidrográficas, especialmente em estudos e projetos
para controle de erosão e proteção de mananciais na bacia do rio Paraíba do Sul (MG, RJ e
SP), desenvolvidos no Laboratório de Hidrologia da COPPE/UFRJ.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................................11
ANEXOS ........................................................................................................................................................168
QUADROS
GRÁFICOS
Gráfico 1 – Situação das florestas no mundo e por região, segundo o WRI, 1997 169
Gráfico 2 – Países com maiores taxas de desmatamento no período 1990-2000 170
FIGURAS
As florestas tropicais vêm sendo destruídas a uma velocidade sem precedentes. Extração
madeireira, expansão agropecuária, queimadas descontroladas e outras causas diretas dessa
destruição fazem parte de um contexto político, social e econômico historicamente
construído sob duas visões hegemônicas sobre as florestas: o eldorado, cuja riqueza em
recursos naturais deve ser explorada em nome do “desenvolvimento”, e o paraíso perdido,
que deve ser preservado da presença humana em “santuários de biodiversidade”. Ambas as
visões têm em comum o “paradigma do vazio selvagem”, que não reconhece os habitantes
das florestas tropicais e suas formas tradicionais de uso/manejo florestal. No cerne do
debate sobre sustentabilidade, um novo paradigma se contrapõe a essas visões e busca
reconhecer/validar esse conhecimento tradicional e estabelecer um diálogo com a ciência
ocidental. Pesquisadores, técnicos, instituições governamentais e não governamentais vêm
trabalhando, desde os anos 1970, em projetos de pesquisa e desenvolvimento em florestas
sociais, visando atender às necessidades básicas das populações rurais pobres e melhorar as
condições ambientais. Esta dissertação discute as perspectivas desse novo campo de p&d
frente aos fatores que determinam a destruição das florestas tropicais, considerando sua
historicidade e o capital simbólico acumulado por diferentes atores na luta por poder sobre
as florestas.
ABSTRACT
Tropical rain forests have been rapidly destroyed. Logging, expanding farming,
uncontrolled burning and other direct causes of forest destruction are part of a political,
social and economic context, historically contructed under two prevailing conceptions of
forests: the El Dorado, in which natural resources must be explored in the name of
“development”, and the Lost Eden, that must be preserved from human presence in
“biodiversity sanctuaries”. Both views have in common the “wild emptiness paradigm”,
which does not recognize the traditional dwellers of the forests and their own means of
resource management. In the heart of the debate on sustainability, a new paradigm emerges
to contest those views, which aims at recognizing/validating the traditional knowledge and
at establishing a dialogue with the Western science. Since the 1970’s, researchers,
technicians, and both governmental and non-governmental organizations have worked on
research and development projects on social forestry, in order to meet the basic needs of
rural poor people and to improve the environmental conditions. This work discusses the
perspectives of this new field of research and development vis-à-vis tropical forest
destruction, considering its historical context and the “symbolic capital” accumulated by
different actors in their struggle for power over the forests.
INTRODUÇÃO
Lidar com a complexidade dos fatores sociais e suas interações com os fatores ambientais é
o grande desafio que se coloca para os que buscam entender e promover a sustentabilidade
no uso dos recursos naturais. Um desafio que exige um diálogo entre as ciências humanas,
físicas e biológicas que ainda não se estabeleceu de fato. Como disse o sociólogo Mauro
Leonel (1998), ao analisar o tema da interdisciplinaridade, “apesar da grande demanda, não
tem havido um esforço adequado de análise e reflexão no campo do conhecimento
socioambiental”.
O CPDA é uma instituição onde se procura realizar esse diálogo e na qual encontrei
subsídios para minhas pretensões de dialogar com a sociologia. Ingressei no mestrado com
o propósito principal de pesquisar o tema florestas sociais. Minhas primeiras incursões na
bibliografia já indicavam que este novo campo de pesquisa & desenvolvimento traz a
possibilidade de discussão e compreensão de muitas questões para as quais não se encontra
respostas na ciência florestal convencional.
trabalhado em nosso país, que deveria ser um pioneiro nessas iniciativas, tendo em vista
abrigar a maior floresta tropical do mundo e também a maior taxa de desmatamento das
últimas décadas.
CAPÍTULO 1
As florestas vêm ocupando um ‘espaço’ cada vez maior no cenário das atenções
sobre a crise ambiental, que atingiu escala planetária nesta virada de milênio. As florestas
tropicais ocupam lugar de destaque nesse cenário, basicamente porque “contêm mais da
metade das espécies da biota mundial; a imensa riqueza da biodiversidade tropical é um
reservatório ainda pouco explorado de novos alimentos, produtos farmacêuticos, fibras,
substitutos do petróleo e outros produtos; e estão sendo destruídas tão rapidamente que
provavelmente desaparecerão no próximo século, levando com elas centenas de milhares de
espécies à extinção” (Wilson, 1997).
1
“Em sensoriamento remoto, resolução é a habilidade para distinguir entre dois objetos muito próximos numa
imagem. Quando dois objetos estão mais próximos do que o limite de resolução, aparecerão como um único
objeto na imagem.” (Garcia, 1982).
16
caracterização geral dos recursos florestais. E, a cada dois anos, a instituição elabora um
documento intitulado “Situação Mundial das Florestas” (cuja sigla em inglês é SOFO),
apresentando e discutindo dados e fatos ocorridos quanto à situação das florestas em geral,
com destaque para os acontecimentos dos dois anos precedentes. O último SOFO (1999),
por exemplo, destaca o problema das queimadas que destruíram grandes extensões de
florestas tropicais em vários países nos anos de 1997 e 1998.
2
consultado em janeiro/2001 via Internet, em www.bsrsi.msu.edu/overview/pathfinder1ft.htm
17
estas podem ter até mais de 50% de erro”. Alguns resultados parciais do Projeto Pathfinder
para a Amazônia Brasileira serão comentados mais adiante, neste item.
Os documentos mais recentes da FAO sobre a situação das florestas no mundo são
o SOFO 1999 e o FRA 2000 (FRA - Forest Resources Assessment). O FRA 2000, embora
já esteja disponível na Internet (na home page da FAO Forestry), deverá sofrer algumas
modificações até a sua apresentação oficial, que ocorrerá em 12 de março3, na próxima
reunião do Comitê sobre Florestas (COFO-FAO). No entanto, essas modificações não
deverão ser “dramáticas”, segundo informe do Diretor de Projeto do FRA-FAO, Peter
Holmgren (comunicado via e-mail, em 12/02/2001).
3
data de entrega desta dissertação aos membros da banca examinadora.
18
naturais” das áreas de “florestas plantadas”. No entanto, a área total de plantações arbóreas
identificada pela FAO é irrisória (inferior a 5%) frente ao total de florestas (quadro 1.2). A
Ásia é a única Região que se destaca em área plantada, com cerca de 116 milhões de
hectares (21% do total de florestas).
Em 1997, o World Resource Institute – WRI (ONG internacional com sede nos
EUA), apresentou resultados muito diferentes dos que a FAO encontrou. Apresentado
como “o primeiro levantamento científico das condições das florestas do mundo”, o estudo
intitulado Últimas Fronteiras Florestais – Ecossistemas e Economias no Limiar (WRI,
1997) estima que existam hoje cerca de 33,4 milhões de km² de florestas no mundo,
remanescentes de um total de 62,2 milhões de km² que cobriam a superfície terrestre a
cerca de 8.000 anos atrás.
podem ser os resultados obtidos para períodos próximos, a partir de diferentes abordagens e
métodos de avaliação. Somente os resultados encontrados para a Ásia e para Europa/Rússia
não foram extremamente discrepantes entre as avaliações do WRI e da FAO.
Com uma abordagem mais voltada para as ameaças sobre a “integridade” dos
ecossistemas florestais, o estudo conduzido pelo WRI procurou avaliar a extensão do que se
poderia considerar florestas “intactas” entre as florestas remanescentes no mundo, ou seja,
as áreas de florestas que ainda não estão diretamente afetadas pela extração madeireira e
pelo avanço da ocupação agropecuária ou outras atividades impactantes. Essas áreas,
batizadas de “fronteiras florestais”, são consideradas “valiosas porque abrigam culturas
indígenas, protegem a biodiversidade global, mantêm ecossistemas, estocam carbono,
contribuem para o crescimento econômico local e nacional e provêm recursos para
recreação, ecoturismo, necessidades espirituais e estéticas” (WRI, 1997). O quadro 1.4
apresenta as estimativas de fronteiras florestais para todas as regiões do mundo,
comparadas percentualmente com as estimativas de florestas originais e remanescentes.
21
Quadro 1.4: Área total de florestas no mundo - original, atual e intacta (“fronteiras
florestais”), segundo o World Resource Institute (WRI).
Floresta
Remanescente Florestas Florestas
Floresta Floresta como % da Florestas Intactas como Intactas como %
Região Original Remanescente Floresta Intactas % da Floresta da Floresta
(000 Km2) (000 Km2) Original (000 Km2) Original Remanescente
África 6.799 2.302 34% 527 8% 23%
Ásia 15.132 4.275 28% 844 6% 20%
América do Norte
12.656 9.453 75% 3.909 31% 41%
e Amér. Central
América Central 1.779 970 55% 172 10% 18%
América do Norte 10.877 8.483 78% 3.737 34% 44%
América do Sul 9.736 6.800 70% 4.439 46% 65%
Rússia e Europa 16.449 9.604 58% 3.463 21% 36%
Europa 4.690 1.521 32% 14 0,3% 1%
Rússia 11.759 8.083 69% 3.448 29% 43%
Oceania (i) 1.431 929 65% 319 22% 34%
Mundo 62.203 33.363 54% 13.501 22% 40%
Nota: (i) Oceania consiste de Papua Nova Guiné, Austrália e Nova Zelândia
Fonte: WRI, 1997.
De acordo com a avaliação da FAO, a África foi o continente que apresentou a mais
alta taxa de redução de cobertura florestal tropical no período 1990-2000, seguido da
América do Sul e depois da Ásia. Entre os países tropicais, o Brasil apresentou a maior
perda média de cobertura florestal total – 2,23 milhões ha/ano. O segundo país com a maior
perda de florestas tropicais foi a Indonésia – 1,31 milhão ha/ano. E o terceiro foi o Sudão,
com uma redução de 959 mil ha/ano. Dos países com maior extensão de florestas tropicais
(acima de 50 milhões de hectares), a Índia foi o único país que não apresentou redução na
cobertura florestal total no período 1990-2000.
24
Quadro 1.6: Variação na extensão de florestas tropicais no mundo entre 1980-90 e entre
1990-2000, com e sem plantações.
Região Variação Tropical 1980-90 Variação Tropical 1990-2000 Variação Tropical 1990-2000
(sem plantações) (sem plantações) (com plantações)
000 ha/ano 000 ha/ano 000 ha/ano
África -4 101 - 5.564 -5.295
Ásia -3 922 - 5.632 -2.419
Oceania -131 - 133 -122
Europa (e Russia) - - -
América Norte & Central -1.202 - 1.039 -958
América do Sul -6.204 - 3.507 -3.373
Total Tropical -15.560 - 15.876 -12.166
Fonte: FAO - FRA1990 e FRA2000.
período 1980-90 (perda de 3,67 milhões ha/ano), mais da metade da taxa total de
desmatamento da América do Sul naquela década.
As plantações arbóreas ocupam grandes áreas na maior parte dos países. Excluindo-
se a Europa, nas demais Regiões, o conjunto de países (tropicais e não tropicais) que têm
mais de 500 mil hectares de área total plantada responde por mais de 90% da área total de
plantações do mundo. Desse conjunto de países com mais de 500 mil ha de área plantada,
os países tropicais aparecem com 33% do total de área de plantações arbóreas no mundo. A
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Índia, a Indonésia, a Tailândia e o Brasil são os que possuem as maiores áreas plantadas. Os
quatro países juntos somam 85% da área total de plantações dos países tropicais (somente a
Índia responde por mais da metade disso). Com relação às espécies plantadas nas regiões
tropicais, cerca de 28% da área total de plantações estão ocupados com diversas espécies de
folhosas, 21% com eucalipto, 13% com borracha (Hevea), 11% com acácia, 9% com pinus,
8% com tectona e 4,5% com outras coníferas. Esses percentuais variam de acordo com a
Região (quadro 1.7).
Na África, os eucaliptos ocupam uma área um pouco maior que as demais espécies,
mas não é expressiva em relação à área total que a espécie ocupa no conjunto de países
tropicais. Na Ásia, as “outras folhosas” ocupam área de destaque, seguidas do eucalipto, da
borracha e da acácia (três espécies que ocupam grandes áreas). Na Região das Américas do
Norte e Central, os pinus ocupam a maior área, embora relativamente pequena.
O gênero florestal mais amplamente cultivado nos países tropicais – Eucalyptus spp
– ocupa cerca de 14,5 milhões de hectares, dos quais mais da metade (8,0 milhões de ha –
27
55%) estão na Índia, 21% no Brasil e o restante distribuído em menores áreas por diversos
países. A principal área de ocorrência natural do eucalipto é o continente Australiano, mas
foi largamente difundido nos trópicos, em vista de sua rapidez de crescimento, rusticidade e
diversidade de usos (madeira serrada, celulose, carvão, dormente, poste, etc.). Existem
diversas polêmicas quanto aos impactos ambientais e sociais das monoculturas exóticas,
principalmente as de eucaliptos, que serão brevemente comentadas em outros itens dessa
dissertação.
Quadro 1.8: Países com maiores áreas de florestas naturais e maiores taxas de desmatamento.
PAÍSES TAXA ANUAL DE ÁREA TOTAL DE DEADLINE
DESMATAMENTO FLORESTAS NATURAIS
1990 – 2000 2000 EM ANOS (*)
(hectares / ano) (hectares)
1 Brasil - 2.234.550 527.499.500 236
2 Índia - 1.896.660 31.535.400 17
3 Indonésia - 1.686.950 95.115.500 56
4 Sudão - 1.002.652 60.986.482 61
5 Zâmbia - 853.620 31.170.800 37
6 Mianmar - 575.500 33.598.000 58
7 Tailândia - 551.500 9.842.000 18
8 Rep. Dem. Congo - 537.870 135.110.300 251
9 Nigéria - 452.610 12.823.900 28
10 Malásia - 403.750 17.542.500 43
11 Zimbabwe - 325.580 18.899.200 58
12 Argentina - 323.000 33.722.000 104
13 Peru - 314.400 64.575.000 205
14 Venezuela - 278.500 48.643.000 175
15 Irã (NT) - 220.530 5.014.700 23
Fonte: FAO, FRA 1990 e FRA 2000. (*) Número de anos para extermínio total das florestas, mantidas as taxas atuais
de desmatamento. (NT) – não tropical.
29
Quadro 1.9: Países com as maiores extensões de florestas naturais, suas taxas anuais de variação da
cobertura florestal natural e área total de plantações arbóreas
Regiões / Países Total Florestas Naturais Variação de cobertura Total de Plantações
2000 florestal 1990-2000 2000
000 ha 000 ha / ano 000 ha
Rep Dem do Congo 135.110 -538 97
Angola 69.615 -126 141
Sudão 60.986 -1.003 641
Tanzânia 38.676 -89 135
Zâmbia 31.171 -854 75
Moçambique 30.551 -66 50
Zimbabwe 18.899 -326 141
Nigéria 12.824 -453 693
Chad 12.678 -83 14
África do Sul (NT) 7.363 -67 1.554
Marrocos (NT) 2.491 -22 534
Argélia (NT) 1.427 3 718
ÁFRICA 641.830 -5.625 8.036
China (NT) 118.397 481 45.083
Indonésia 95.116 -1.687 9.871
Mianmar (ex-Birmânia) 33.598 -576 821
Índia 31.535 -1.897 32.578
Malásia 17.543 -404 1.750
Japão (NT) 13.399 ? 10.682
Tailândia 9.842 -552 4.920
Turquia (NT) 8.371 -163 1.854
Vietnã 8.108 28 1.711
Filipinas 5.036 -144 753
Irã (NT) 5.015 -221 2.284
Paquistão 1.381 -121 980
Bangladesh 709 -22 625
ÁSIA 426.242 -6.347 115.874
Austrália (NT) 157.037 -104 1.043
Papua Nova Guiné 30.511 -119 90
Nova Zelândia (NT) 6.404 -115 1.542
OCEANIA 198.315 -353 2.848
Canadá (NT) 244.571 - -
Estados Unidos (NT) 209.755 1.236 16.238
México 54.938 646 267
Cuba 1.867 -4 482
Costa Rica 1.790 31 178
AMÉRICA NORTE E CENTRAL 531.773 2.323 17.533
Brasil 527.500 -2.235 4.982
Peru 64.575 -314 640
Venezuela 48.643 -279 863
Argentina 33.722 -323 926
Chile 13.519 -121 2.017
Uruguai 670 4 622
AMÉRICA DO SUL 863.739 -3.946 10.455
Fonte: FAO, FRA 1990 e FRA 2000. NT – não tropical.
30
Analisando 563 artigos que apresentavam uma clara referência geográfica, Rudel et
al. (2000) concluíram que a literatura aponta a exploração madeireira como principal causa
de desmatamento no Sudeste da Ásia, enquanto que a demanda por lenha parece conduzir a
maior parte do processo de desmatamento nas regiões mais secas e populosas do Leste da
África e do Sul da Ásia. O crescimento populacional parece direcionar o desmatamento em
31
uma extensão maior na África e na Ásia, mais do que na América Latina, onde programas
de colonização, associados à construção de estradas e à expansão das fazendas de gado têm
aparentemente induzido os desmatamentos das florestas tropicais. A agricultura, em
pequena e larga escala, a expansão do mercado e as políticas públicas parecem agir com
igual intensidade em todas as regiões.
Quadro 1.10: Tendência ao longo do tempo das causas atribuídas aos desmatamentos,
expressa em número de estudos que citam as causas.
Causa Pré-1980 1980s 1990s Total
Pequena agricultura 56 193 150 399
Extração de madeira 41 149 123 313
Fazenda de gado 36 123 72 231
Colonização 37 122 67 226
População 27 105 83 215
Agricult. em larga escala 28 83 68 179
Expansão do mercado 17 79 81 177
Construção de Estradas 27 80 66 173
Extração de lenha 11 77 52 140
Dívida Externa 0 28 18 46
Total 88 335 268 691
Fonte: Rudel et al. (2000).
Como fatores mais recentes, a análise da literatura, realizada por Rudel et al. (2000)
identifica dois fatores relacionados à globalização que vêm crescendo em importância nos
32
estudos realizados nos anos 1990, que são: a) expansão dos mercados, com o crescimento
das populações urbanas, o desenvolvimento dos transportes e a busca por matéria-prima em
locais mais distantes; e b) o crescimento da dívida externa dos países em
desenvolvimento, que resultou em “acordos de ajuste estrutural”, levando a uma renovada
ênfase na expansão das culturas de exportação às expensas das florestas. Aos autores da
pesquisa bibliográfica resta a dúvida quanto à correlação entre os fatores apontados na
literatura e a real influência desses nos processos de desmatamento tropical (além das
ressalvas quanto à própria interpretação da equipe que pesquisou a literatura em questão),
dúvida esta que os autores entendem só poderia ser sanada com uma pesquisa mais apurada
nas regiões em que ocorrem os desmatamentos.
Os estudos mais recentes sobre a situação das florestas vêm evoluindo no sentido de
diferenciar as causas dos desmatamentos (ou, mais amplamente, do declínio das florestas)
em causas diretas e indiretas (ou subjacentes). As causas diretas são identificadas como
aquelas que se observam na ação de desmatamento, tais como a extração madeireira e a
expansão de fazendas de gado e de monoculturas agrícolas comerciais. Essas causas diretas
são influenciadas ou mesmo determinadas por outras causas – as subjacentes - tais como
pressões de mercado, crescimento populacional, dívida externa, políticas macroeconômicas,
etc., que muitas vezes se originam ou se localizam muito longe do local do desmatamento.
Os analistas que fizerem uma viagem curta para trás, na corrente de causalidade do
declínio das florestas, podem entender que a pobreza é uma causa subjacente.
Outros, olhando mais atrás ainda, poderiam argumentar que a verdadeira causa
subjacente está nas desiguais estruturas de poder político e econômico, que, por sua
vez, estão enraizadas nas bases da sociedade e, portanto, a pobreza não é outra coisa
senão o efeito de tais estruturas de poder. Para estes, a pobreza é o resultado de outra
causa subjacente que opera em um nível mais alto. (...) Os analistas que concluírem
que a pobreza é a causa subjacente aos desmatamentos tenderão a emitir prescrições
políticas para acelerar o crescimento da renda e o combate à pobreza. Mas os
pensadores que vejam o desmatamento como resultado de estruturas desiguais de
poder lançarão prescrições voltadas para mudanças nas relações sociais, econômicas
e políticas, necessárias para alterar o modo pelo qual diferentes grupos obtêm
controle sobre bens produtivos. Eles podem incluir mudanças radicais, tais como
reforma agrária e expropriação de bens produtivos. (Contreras-Hermosilla, 2000: 6).
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a) Agricultura de “corte-e-queima”
b) Agricultura Comercial
Segundo Matthews et al. (2000), estima-se que cerca de 1,8 bilhão de metros
cúbicos de madeira sejam queimados anualmente como combustível, o que eqüivale a mais
da metade da quantidade de madeira explorada no mundo e corresponde a 15% em média
do consumo primário de energia dos países em desenvolvimento e mais de 80% do
consumo total de energia de alguns países da África e da Ásia. No entanto, de acordo com
esses autores, as florestas parecem suprir apenas 1/3 desse consumo energético; a maior
parte vem de bosques secundários, plantios comunitários, resíduos da indústria madeireira,
quintais e beiras de estradas. Pesquisas realizadas na África demonstram que grande parte
da lenha consumida pelos pobres das zonas rurais é proveniente de matas derrubadas para a
expansão agrícola (WRM, 2001: 3).
e) Exploração Madeireira
f) Incêndios Florestais
Os incêndios florestais nas regiões tropicais são quase sempre iniciados por ação
humana, agravados por condições ambientais desfavoráveis. Nos recentes anos de
influência do fenômeno climático conhecido como El Niño, que provocou longos períodos
de estiagem, foram registrados grandes incêndios florestais, como o que ocorreu em
Roraima, no Brasil, em 1997. Nos anos de 1997 e 1998 os incêndios destruíram milhões de
hectares de florestas em várias regiões do mundo. Segundo Rowell e Moore (1999), os
incêndios atingiram cerca de 3,3 milhões de hectares no Brasil, dos quais mais da metade
no Estado de Roraima; no Sudeste da Ásia, várias regiões florestadas foram atingidas por
incêndios, o pior deles na Indonésia, onde estima-se tenham sido destruídos mais de 4,5
milhões de hectares de florestas; outras áreas florestadas também foram queimadas na
América Central, no México, EUA, Canadá e Rússia; no total, estima-se que, nos anos de
1997-98, ao menos 22 milhões de hectares de terras foram atingidos por incêndios, dos
quais 14 milhões em áreas de florestas, afetando ainda a saúde de mais de 130 milhões de
pessoas.
O uso do fogo para limpeza de terreno é uma prática antiga e geralmente de difícil
controle, especialmente em condições climáticas favoráveis à propagação de incêndios,
com estiagens prolongadas e ventos fortes. Como já visto, nas regiões de fronteiras
florestais a extração madeireira tem sido identificada como facilitadora da propagação de
incêndios, pela abertura de clareiras e produção de matéria orgânica seca proveniente da
vegetação morta e cortada.
Apesar das plantações arbóreas comerciais serem classificadas pela FAO como
florestas, muitas florestas nativas foram destruídas para dar lugar a extensas monoculturas
arbóreas que em nada se assemelham às florestas que existiam no lugar. Desde meados do
século XX, em muitos países “em desenvolvimento” vêm sendo implantadas monoculturas
arbóreas, principalmente para atender à demanda das indústrias de celulose e papel. No
Brasil, muitos ecossistemas florestais foram destruídos para este fim e ainda são. O projeto
Jari, na Amazônia, é dos mais fortes exemplos.
39
Roper et al. (1999) reconhecem que muitas áreas de florestas naturais heterogêneas
foram e ainda são cortadas para dar lugar às monoculturas de rápido crescimento para o
setor de celulose e papel, como no caso das plantações de Acacia para a crescente indústria
de celulose da Indonésia, mas relativizam a importância das plantações no processo de
desmatamento, considerando que a área anualmente ocupada com plantações nos 10 países
com as maiores taxas de desmatamento não é significativa porque representa menos de
10% da taxa anual de desmatamento desses países.
i) Desenvolvimento de Infraestrutura
Contreras-Hermosilla (2000), podem ser desmatados entre 400 e 2000 hectares de floresta
para cada quilômetro de estrada construída.
As barragens hidroelétricas têm sido consideradas uma das principais causas diretas
e indiretas da perda de florestas e muitas delas têm resultado em amplos abusos aos direitos
humanos. Existem mais de 40.000 grandes barragens, cujos reservatórios cobrem um total
superior a 400 mil km². Muitos desses reservatórios inundaram milhares de hectares de
florestas tropicais, sem nem mesmo aproveitar a madeira (WRM, 2001). Segundo a
Comissão Mundial de Barragens, criada a cerca de 3 anos para avaliar os impactos sociais e
ambientais das barragens e estudar alternativas para o desenvolvimento dos recursos
hídricos e hidroenergéticos, quase metade dos rios do mundo tem ao menos uma grande
barragem e as estimativas mundiais apontam que entre 40 e 80 milhões de pessoas foram
deslocadas pelas barragens, das quais muitas não foram indenizadas ou mesmo
reconhecidas. Apesar da grande mobilização que surgiu nos últimos anos a respeito dos
impactos das barragens, projetos hidroelétricos ainda vêm sendo implantados sem
considerar os impactos ambientais e principalmente sociais que geram.
Nos últimos 5 anos, uma atenção especial e crescente tem sido dada às causas
subjacentes ao declínio das florestas. Em 1995, a Comissão das Nações Unidas Sobre
Desenvolvimento Sustentável estabeleceu um Painel Intergovernamental sobre Florestas
(IPF) voltado para um amplo leque de questões relacionadas às florestas, incluindo um
componente intitulado “Causas Subjacentes do Desmatamento e da Degradação Florestal”.
Desde então, várias instituições vêm se empenhando no estudo dessas causas em diversos
países e com enfoque principal sobre a situação das florestas tropicais. Esses estudos têm
formado parte importante do processo de discussão e delineamento de políticas de controle
dos desmatamentos.
Cada uma das três publicações enunciou de modo diverso as causas consideradas
subjacentes. Verolme e Moussa (1999) identificaram que, embora os casos estudados
tenham particularidades ambientais, políticas, culturais e sócio-econômicas, existe um
conjunto de causas comuns e freqüentemente citadas em todos eles, que se concentram nos
seguintes temas: Posse da Terra, Manejo dos Recursos e Participação; Comércio e
Consumo; Relações Econômicas e Fluxos Financeiros Internacionais; e Valoração dos
Bens e Serviços da Floresta.
natureza humana, que permeiam todos os aspectos da sociedade e não estão relacionadas
somente ao uso da terra.”
Para Roper et al. (1999), “sem dúvida, uma das mais importantes condições que
predispõem ao desmatamento tropical e a muitas outras dificuldades para se alcançar o
desenvolvimento sustentável é o nosso crescimento populacional”. Os autores destacam
que no último século a humanidade passou de 2,5 para 6,0 bilhões de indivíduos, dos quais
75% vivem nos países “em desenvolvimento”, com cerca de 1,0 bilhão na pobreza absoluta.
Estima-se que a população que vive nas florestas (ou próxima) e dependente dos recursos
florestais é da ordem de 500 milhões de habitantes.
A população rural pobre é vista por Roper et al. (1999) como uma espécie de agente
“involuntário” de desmatamento, na medida em que tem poucas opções de não exercer
pressão sobre as florestas, ao contrário daqueles agentes motivados pela “ganância e pelo
poder”. Sem condições de acesso à terra, à tecnologia e outras oportunidades de geração de
renda (muitas vezes limitados pelo analfabetismo e subnutrição), os pobres procuram as
florestas como solução de curto prazo para seus problemas econômicos. Roper et al. (1999)
acreditam que pressões populacionais e um “predominante clima de pobreza rural” são
condições importantes que facilitam a ocorrência de desmatamentos.
floresta acessível às pessoas que nela vão se assentar, tornando a densidade populacional e
o desmatamento resultados da atividade madeireira. Outro argumento é o de que, havendo
terras agricultáveis disponíveis e a possibilidade de uso de tecnologias que demandem mão-
de-obra intensiva, o crescimento populacional pode ser absorvido sem afetar as florestas.
que é mensurada em função da renda per capita e referida ao padrão norte-americano, torna
iguais diferentes povos do mundo (como os Zapotec do México e os Tuareg da África)
definindo-os não de acordo com o que eles são e querem ser, mas de acordo com o que lhes
falta de um modo de vida que não é o seu. Com a expansão capitalista pelo mundo, o
conceito ocidental de pobreza vai se legitimando, na medida em que tira as populações
tradicionais de uma condição de frugalidade (condição isenta do frenesi da acumulação
material) e os coloca em uma condição de escassez - dos recursos de que antes dispunham e
dos bens que agora o sistema social vigente produz, legitima e induz à demanda.
Nesse aspecto, há pelo menos duas questões de grande importância que podem ser
causas subjacentes aos desmatamentos: a) o não reconhecimento dos direitos territoriais dos
povos da floresta, indígenas ou não indígenas, questão comum a várias regiões de florestas
tropicais dos países do Sul e até mesmo em países do Norte; e b) a situação fundiária
desigual e irregular, com muitos problemas de grilagem de terras, concentração de terras na
mão de poucos e violência e injustiça social na luta pelo acesso à terra e aos recursos.
O não reconhecimento dos direitos dos povos das florestas, por parte dos governos
dos países tropicais, tem sido freqüentemente apontado em estudos de caso e diversas
publicações sobre o tema, geralmente citado na base dos problemas e conflitos relativos à
invasão de seus territórios por outros usuários e mesmo pelos próprios governos quando
ignoram ou expulsam comunidades locais para instalar um assentamento ou para delimitar
uma unidade de conservação ou outro objetivo qualquer de “interesse nacional”, incluindo
aí o apoio ou a conivência com os invasores.
Uma antiga luta de povos indígenas contra invasão de madeireiras e pela defesa de
seus direitos ancestrais sobre o território é o caso dos povos que habitam as florestas de
Sarawak, na Malásia. Sem reconhecimento de seus direitos e sem apoio do governo, eles
bloqueiam as estradas como forma de protesto à entrada das madeireiras, que não respeitam
acordos assinados entre as partes para limitar a exploração.
4
Sobre a situação das florestas Mau do Quenia, interesses do governo em programas de assentamento rural
têm sido apontados como a principal causa da redução das florestas a 10% de sua extensão original (Otani,
2000).
46
por realizar assentamentos de famílias em áreas florestadas. Segundo Viana (1997), a cada
ano, a Reforma Agrária expõe 1,5 milhão de florestas ao desmatamento e à degradação. “É
a política de baixo custo financeiro e alto custo ambiental, que, além de expor os assentados
a condições penosas de sobrevivência, constitui fonte de matéria-prima para a indústria
madeireira.” O Movimento dos Sem Terra (MST) tem apresentado, nesse sentido, uma
inusitada preocupação com as questões ambientais, no contexto das questões agrárias no
país, procurando assessoria técnica e parcerias para evitar danos ambientais e realizar um
manejo agroflorestal nos assentamentos.
– Santarém (PA) e a Manaus (AM) – Boa Vista (RR), entre outras obras incluídas no
Programa de Governo “Brasil em Ação”. Todas essas políticas setoriais são causas
subjacentes para o declínio da floresta amazônica, principalmente pela falta de estudos e
critérios ambientais e de controle dos impactos diretos e indiretos das atividades.
5
Esse conjunto compreende os seguintes países: Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar (ex-
Birmânia), Singapura, Tailândia e Vietnã.
49
conseqüência da corrupção. Para este autor, extração ilegal e corrupção são condições
facilitadas nos países tropicais pelo relativo isolamento em que se encontram as áreas em
exploração, pela falta de inventários precisos da madeira existente e pelo “substancial poder
de discrição” que têm os funcionários do governo.
Muitos serviços providos pelas florestas (bem como alguns custos do mal manejo
desses recursos) não têm preço no mercado e, portanto, não entram nas decisões
dos atores do setor privado. Por exemplo, um proprietário de uma floresta situada
no trecho de montante de uma bacia hidrográfica não recebe pagamento pelos
serviços que sua floresta provê a jusante para pescadores e fazendeiros. Esses
valores, incluindo a proteção do solo contra a erosão e a sedimentação de barragens
de irrigação ou geração de energia, podem ser substanciais para os usuários de
51
Esse discurso em prol da valoração financeira de bens e serviços da floresta “em pé”
reflete um mundo dominado por valores econômicos, onde tudo tem que ser traduzido em
dinheiro para fazer sentido à sociedade e sua ótica predominantemente materialista. E é
nessa direção que está caminhando o debate em torno do reconhecimento de valores não-
madeireiros das florestas e com grande expectativa de que esse caminho torne possível
conter os desmatamentos. Belezas cênicas podem gerar retorno financeiro através do
ecoturismo, biodiversidade pode conquistar interesse no mercado farmacêutico, etc. Mais
difícil será valorar financeiramente e achar mercado para os valores espirituais, filosóficos
e religiosos, reivindicados por alguns, como em Papua Nova Guiné, onde o estudo de caso
identificou que a falta desses valores era uma das principais causas subjacentes aos
processo de exploração madeireira, mineral e agrícola, promovida pelas fortes pressões do
mercado externo (Verolme e Moussa, 1999).
52
Segundo a análise de Roper et al. (1999), dos “10 mais” países desmatadores,
somente três exportam mais de 50% da madeira proveniente das florestas nativas -
Indonésia, Malásia e Mianmar, todos na Ásia, que exportam entre 50–60%. Nesses países,
“obviamente, o mercado externo é a principal força por trás da exploração madeireira e dos
desmatamentos”. Brasil, México e Tailândia não exportam mais de 10% do que produzem.
E nos demais países – Rep. Dem. do Congo, Bolívia, Venezuela e Sudão – as exportações
são insignificantes6.
6
Roper at al. (1999) utilizaram dados da FAO de 1995.
53
Mas, ainda que esses dados não sejam contestáveis e de fato a maior parte dos
produtos madeireiros esteja sendo consumida nos próprios países onde a madeira é
extraída, isso não significa que o problema do desmatamento é menor, porque o mais grave
é a forma predatória como vem ocorrendo a exploração desses produtos, seja para o
consumo externo ou interno. A demanda crescente de consumo nos países “em
desenvolvimento” é uma conseqüência natural e esperada da expansão do capitalismo em
todo o mundo. O sistema capitalista amplia o universo de carências humanas, pela
“ampliação quantitativa do consumo existente, pela extensão das carências existentes a um
círculo mais amplo e pela produção de novas carências e a criação de novos valores de
uso”, que, certamente, resultam em “exploração da natureza inteira” (Bensaïd, 1999).
O maior empenho internacional dos últimos anos para o tratamento das questões
sobre o uso e a degradação das florestas foi a criação do Painel Intergovernamental Sobre
Florestas (IPF), estabelecido em 1995 pela Comissão das Nações Unidas Sobre
Desenvolvimento Sustentável. Em fevereiro de 1997, o IPF produziu um relatório final
contendo um conjunto de 135 Propostas de Ação, formalmente endossadas em Junho de
1997 em Sessão Especial da Assembléia Geral das Nações Unidas (UNGASS) sobre a
implementação da Agenda 21. Em continuidade ao IPF, a UNGASS estabeleceu o Fórum
54
• Execução das decisões tomadas sobre florestas na Conferência Mundial Sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento (a Rio-92), incluindo os vínculos setoriais e intersetoriais;
7
Foram selecionados os seguintes países: Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador e Peru na América
Latina; Camarões e Gana na África; China, Índia, Indonésia, Japão e Malásia na Ásia; Austrália e Nova
Zelândia na Oceania; Alemanha, Finlândia, França e Federação Russa na Europa; e Canadá e Estados Unidos,
na América do Norte. Informações e relatórios do Keeping the Promise? estão disponíveis em
http://www.forestpolicy.org
55
a) Participação – como vem acontecendo em grande parte das formulações políticas mais
recentes, a participação de todos os interessados é enfaticamente ressaltada nas Propostas de
Ação do IPF e reconhecida como componente essencial para o manejo florestal sustentável.
Mas, embora se verifiquem avanços nesse sentido, ainda há muito que melhorar,
principalmente quanto à participação dos povos das florestas, das comunidades ou grupos
que vivem e dependem diretamente dos recursos florestais;
b) A execução das Propostas de Ação requer muito mais do que programas florestais
nacionais, ou seja, os governos dos países analisados apresentam seus programas de ação
como sendo abarcadores das propostas, mas estão muito aquém da abrangência e
complexidade das mesmas;
c) É necessário um reconhecimento muito maior dos valores múltiplos das florestas, ainda não
demonstrado nas iniciativas de gestão florestal dos países;
f) As questões sobre posse da terra necessitam ter um maior reconhecimento, tanto em países
do Sul como do Norte;
2. A maioria dos países não tem designado um local concreto ou agência responsável
dentro do governo para coordenar as atividades de execução do IPF;
5. Os poucos países que avaliaram a pertinência das Propostas raras vezes realizaram
uma análise das lacunas comparando as políticas nacionais existentes com as
Propostas ou estabelecendo prioridades para áreas nas quais os esforços existentes
eram deficientes;
6. Muitos governos declaram que seus atuais programas florestais já constituem uma
execução adequada das Propostas do IPF, ou que a perda e a degradação das
florestas não são problemas graves em seus países, sem apresentar provas que
corroborem com essas declarações e, freqüentemente, frente a evidências em
contrário;
7. Desde que concordaram com as Propostas de Ação, vários países têm revisado
suas políticas e programas florestais para denotar uma compreensão melhorada dos
problemas e soluções, mas raras vezes o fazem explicitamente à luz do consenso
internacional expressado em acordos internacionais recentes, entre os quais as
Propostas de Ação;
8. Vários governos deram a entender que o caráter não prescritivo das Propostas de
Ação é razão, em parte, para sua falta de execução. Outros indicam a falta de
especificidade ou clareza das Propostas. Alguns não fizeram parte sequer das
deliberações do IPF;
10. Nos informes dos países se coloca em destaque muitas iniciativas interessantes.
Sem dúvida, poucas dessas iniciativas parecem estar relacionadas explicitamente
com a execução das Propostas de Ação.
Fonte: Verolme et al. (2000).
57
3. Uma eficaz execução do IPF requer uma comparação objetiva dos programas
existentes frente as Propostas de Ação, incluindo uma análise das lacunas e uma
estrita coordenação com a execução das políticas e compromissos conexos. Devem
ser empreendidos esforços especiais para fazer participar neste trabalho os
interessados e para integrar as iniciativas de execução em todos os setores;
Com relação ao Brasil, um dos países analisados pelo Comitê das ONGs, os
resultados obtidos da avaliação do processo de implantação das Propostas de Ação do IPF
se resumem nos seguintes pontos principais:
• O Brasil não tem um local central ou um processo instituído para a execução das
Propostas de Ação e poucos interessados estão conscientes da pertinência das Propostas
como ponto de referência para a Política Florestal Nacional e o Programa Florestal
Nacional, que estão sendo elaborados;
• Os responsáveis pela formulação da Política Florestal Nacional no Ministério do Meio
Ambiente e no IBAMA não comparam as Propostas com iniciativas tais como o Projeto
Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais (PPG7) e o Programa Nacional de
Biodiversidade. As Propostas do IPF são desconhecidas no Brasil;
• Embora várias iniciativas estejam em andamento, como o combate aos incêndios
florestais e a criação das reservas extrativistas, não há um plano integral para combater
os desmatamentos. Além disso, há um vazio importante entre a formulação da política e
sua execução, refletido na limitada participação das organizações de base comunitária
no debate da política florestal.
• O Ministério das Relações Exteriores centraliza todas as negociações internacionais
sobre meio ambiente. O governo brasileiro mantém uma postura nas negociações
internacionais que evita a interconexão política e jurídica de questões através de
diferentes regimes.
sociais. Por pressão de ONGs e mesmo por um processo interno de reavaliação, o Banco
Mundial já avançou positivamente em direção a uma atuação menos comprometedora, a
partir da Política Florestal de 1991. No entanto, muitas questões ainda estão mal resolvidas,
inclusive quanto à realização das metas definidas em 1991, o que acabou por determinar a
necessidade de nova reformulação da política florestal, bem como de outros setores do
Banco Mundial.
Outro importante aspecto destacado nesta crítica diz respeito à revisão da política de
1991 quanto à proibição de financiamento da atividade madeireira comercial - o Banco não
deixa claro se irá ou não revogar a proibição e como irá fazê-lo. No estudo de caso
realizado sobre o Brasil para a FPIR, o Banco Mundial destaca que representantes
brasileiros sugeriram que a revogação da referida proibição de financiar a atividade
madeireira comercial poderia trazer o apoio do Banco aos experimentos em manejo
florestal, contribuindo assim para a conservação das florestas do país. Embora o Brasil seja
um dos maiores tomadores de empréstimo junto ao Banco Mundial, a maior parte se destina
a outros setores (saneamento básico, p. ex.). Após a criticada participação do Banco
Mundial nos projetos de desenvolvimento para a Amazônia, como o POLONOROESTE
(Rondônia e Mato Grosso, anos 80), os financiamentos do Banco para o setor florestal
brasileiro foram substancialmente reduzidos a partir da sua política florestal revisada em
1991. Atualmente, em relação ao setor florestal, o Banco financia parte do PPG7 e participa
de uma recente aliança com a WWF para a implantação de projetos de reflorestamento
(citados como projetos de SFM) visando à conservação das florestas e ao seqüestro de
carbono.
CAPÍTULO 2
Esta caracterização do “estado da arte” em florestas sociais nas regiões tropicais está
essencialmente baseada em análise bibliográfica. O levantamento da bibliografia foi
iniciado a partir de instituições já conhecidas no Brasil, como a AS-PTA e o IPEF (ver item
2.1.2). O material encontrado nessas instituições trazia referências de instituições e autores
de fora do Brasil. Através de contatos por correio e buscas na Internet, foram obtidas
publicações e conhecidas diversas instituições envolvidas com o tema de estudo. A busca
na Internet foi feita inicialmente através do site www.altavista.com, ramificando-se deste
para diversas home pages de universidades, ONGs, institutos de pesquisa, etc. Dentre as
universidades, destacou-se o sistema de busca bibliográfica da Universidade de Minnesota -
com a mesma palavra chave (social forestry), foram listadas cerca de 3.000 referências
bibliográficas, de 1985 para cá, ano a ano.
Após ter consolidado um cenário geral sobre o tema florestas sociais com a análise
do material bibliográfico, algumas questões-chave ainda estavam meio obscuras,
especialmente quanto ao conceito e à importância relativa das questões envolvidas no tema.
Sobre a pergunta-título da dissertação, não foi encontrada nenhuma bibliografia específica,
66
O termo florestas sociais8 vem sendo utilizado no Brasil (Mata, 1993, Castanho
Filho, 1993 e Queiroz, 1995) para traduzir a expressão original social forestry, criada em
1968 por Jack Westoby, na época um dos diretores da FAO. No entanto, a tradução mais
apropriada ao que se vem pretendendo como social forestry seria ciência florestal social ou
manejo florestal social, ou ainda manejo florestal comunitário, tendo em vista que o termo
community forestry (adotado pela FAO) vem sendo mais amplamente utilizado em vários
países.
8
Ou também silvicultura social, menos utilizado.
67
crescente escassez de produtos florestais e aumento de áreas degradadas por contínuo uso e
mal uso da terra em longos períodos, adotou a expressão social forestry em seus objetivos
de realizar plantios de árvores para o atendimento às necessidades básicas da população
rural e a recuperação das áreas degradadas (Shah, 1985).
Porém, seja qual for o termo utilizado, nas publicações disponíveis (encontradas na
revisão bibliográfica para este estudo) não há propriamente um conceito teórico do que
venha a ser social forestry ou community forestry. Em alguns trabalhos de revisão ou
avaliação sobre o tema, o que se apresenta é um processo ainda ‘em construção’ de um
conceito de florestas sociais (sob um ou outro termo “guarda-chuva”), cuja base conceitual
está apoiada na teoria de sistemas (Alavalapati e Gill, 1991) e será comentada mais adiante,
neste item. Em geral, o que se encontra nas publicações sobre florestas sociais são metas
gerais e objetivos práticos (e meios para alcançá-los) que procuram estar voltados para o
benefício dos “locais”9, com a participação dos mesmos no manejo das florestas existentes
ou nos plantios de árvores, metas que vão sendo revistas na medida em que os resultados
das iniciativas em curso vão sendo obtidos e avaliados.
Hyde e Köhlin (2000) consideram que social forestry se refere à produção e ao uso
de lenha, forragem, frutas e sementes, látex, resina e vários outros produtos florestais não
madeireiros em geral, incluindo usos domésticos e trocas no mercado de madeiras de
9
Nesta dissertação, adotei essa expressão sintética - “os locais” - como referência às pessoas que são objeto
de interesse dos projetos de florestas sociais, normalmente citados na literatura como “a comunidade local”,
ou “a população local”, ou “os moradores” (villajers), ou “a comunidade alvo”.
68
construção, mas não incluindo produção industrial de madeira ou pequena produção para
além do mercado local. Para esses autores, o sucesso das iniciativas em florestas sociais
deve ser avaliado em termos de sua contribuição ao bem estar humano, em contraste com a
visão de que a cobertura florestal (e, portanto, a proteção florestal e o reflorestamento) é um
fim útil por si mesmo.
Sob tal enfoque, Duinker et al. (1994) preferem utilizar o termo community forests
(e não forestry), explicando que, como o termo forestry “está ligado à profissão (de
florestal) e alude à ciência e à arte de manejo das florestas”, preferem discutir florestas
comunitárias – “florestas atuais e os arranjos comunitários para manejá-las”. Esses autores
criticam a definição da FAO, que consideram falha na colocação de três aspectos: (a) como
o tal “envolvimento íntimo” é ou pode ser estruturado? – quem tem a autoridade para a
70
tomada-de-decisão final?; (b) representação: quem está envolvido localmente e como são
selecionados?; e (c) igualdade: quem paga e quem recebe benefícios? Nesse sentido, os
autores consideram que a definição de florestas comunitárias deve reconhecer três
atributos: (a) quem decide; (b) quem é beneficiado; e (c) como são delimitados os objetivos
de manejo; e apresentam, enfim, sua própria definição de florestas comunitárias – “um
ecossistema dominado por árvores, manejado pela comunidade por múltiplos valores e
benefícios comunitários”.
Em área urbana, no Brasil, vale a pena citar o projeto Mutirão Reflorestamento, uma
experiência carioca que vem se destacando e sendo adotada em outras regiões do país. O
trabalho é planejado, coordenado e executado por técnicos florestais da Prefeitura do Rio
10
Marilyn Hoskins coordenou o Forest, Trees and People Program da FAO e atualmente assessora a Aliança
Banco Mundial/WWF.
72
de Janeiro em favelas da cidade, onde são plantadas árvores para recuperação ambiental e
paisagística das encostas, com a participação das comunidades. Esse trabalho tem sido
reconhecido e premiado no país e no mundo e foi a única iniciativa ambiental brasileira
selecionada para integrar, em conjunto com 8 (oito) outras iniciativas, um documento da
Organização das Nações Unidas (ONU) sobre inovações ambientais em megacidades
("Environmental Innovation for Sustainable Mega-Cities: sharing approaches that work").
No entanto, nem mesmo os responsáveis pela iniciativa a denominam como um projeto de
florestas sociais.
Carter (1999), embora reconheça uma ligação entre as áreas, não inclui agrofloresta
e fazenda florestal no conjunto das experiências classificadas pela autora como de “Manejo
Florestal Colaborativo (CFM)”, onde estão incluídos os termos ‘social forestry’ e
‘community forestry’, juntamente com desenvolvimento rural florestal, manejo florestal
integrado (JFM), manejo florestal compartilhado e manejo florestal participativo. Como
característica comum a essas abordagens, a autora cita a concordância de que a população
local é capaz de exercer um papel útil no manejo florestal e que sua habilitação de acesso
e/ou uso da floresta dá a ela o direito de participar em todas as decisões relativas à floresta.
73
Marilyn Hoskins (comunicação via e-mail), comenta que existe um forte debate em
relação a se uma iniciativa individual de manejo florestal ou agroflorestal poderia ser parte
integrante dos conceitos em florestas sociais. Em sua opinião, isto é possível e depende da
área onde está situado o indivíduo e se é importante desenvolver atividades de manejo
florestal social na propriedade individual. No entanto, Hoskins destaca que a participação
da comunidade deve ser ao menos de colaboração passiva nas iniciativas individuais, no
sentido de aumentar o “capital social positivo”, citando como exemplo uma situação em
que, se uma pessoa tem um pomar de frutas ou um viveiro de mudas, os vizinhos devem
colaborar para que crianças ou animais não danifiquem o pomar ou as mudas. Já no caso de
manejo comunitário tradicional de florestas já existentes, Hoskins considera que podem
existir sérias razões para apoiar e fortalecer as atividades de grupo (incluindo a ajuda para
manter de fora os “forasteiros”).
Alavalapati e Gill (1991) tentam realizar uma análise conceitual e teórica do que
seja social forestry. Entendendo que os denominadores comuns em todas as definições de
74
social forestry analisadas são “pessoas, suas necessidades e sua participação”, esses autores
propõem a seguinte definição: “Floresta social é uma atividade de cultivo, colheita e
processamento de árvores, exclusivamente ou em combinação com culturas agrícolas ou
forrageiras, individual ou comunitariamente, envolvendo as pessoas com o objetivo de
atender suas necessidades de subsistência, comerciais e ambientais.” Considerando que o
objeto de interesse da social forestry é multidisciplinar, esses autores entendem como
essencial que haja uma base teórica para a compreensão dos diversos aspectos envolvidos e
defendem que esta base esteja referida à teoria de sistemas - “a teoria de sistemas fornece
um modelo do mundo real e permite que suas variáveis interajam de modo realístico,
provendo um entendimento adequado do fenômeno em estudo”. Após analisar as
concepções de outros autores, propõem um modelo baseado na ecologia humana, que reúne
as diversas variáveis relativas a social forestry em quatro principais componentes –
população, organização social, tecnologia e ambiente – de tal maneira interligados, que
qualquer alteração em um deles repercutirá nos demais e no conjunto integrado.
O interesse por esse campo vem crescendo rapidamente, tal como o número de
publicações a respeito, grande parte em papers publicados em revistas, boletins e journals
patrocinados por instituições direta ou indiretamente envolvidas nos projetos. Neste item,
são listadas e descritas sucintamente as instituições às quais tive acesso na pesquisa
bibliográfica, que contribuem, direta ou indiretamente, para o campo de p&d em florestas
sociais.
11
Existem também muitos trabalhos sendo desenvolvidos em países da América do Norte e da Europa, mas
que não foram considerados, tendo em vista que o foco de interesse dessa dissertação está concentrado nas
regiões de florestas tropicais.
76
AS-PTA
Endereço: Rua da Candelária, 9 - 6º andar – 20021 – Centro – Rio de Janeiro
E-mail: aspta@ax.apc.org
Fundação Ford
Organização peruana sem fins lucrativos que desenvolve pesquisas sobre manejo
comunitário com populações tradicionais da Amazônia, em parceria com instituições
brasileiras, como o Instituto de Pesquisas da Amazônia (IPAM). Informações e
publicações do IBC no site http://www.biencomun-peru.org
78
Essa Rede foi criada, em outubro de 1998, com o objetivo de integrar instituições e
pessoas de todo o mundo que trabalham com manejo comunitário florestal. Além de
publicações, no site da Rede estão sendo organizadas informações sobre o assunto em cada
país, por região, tem links para diversas instituições por todo o mundo e uma lista de
discussão: http://www.forestsandcommunities.org
Na maior parte das publicações sobre projetos em florestas sociais encontra-se uma
discussão crítica a respeito do andamento e dos resultados obtidos, num processo constante
de avaliação interna (pelos próprios executores) ou feita por “observadores” externos –
geralmente consultores das instituições doadoras. Neste item, são apresentadas as questões
mais freqüentemente abordadas nessas publicações, com enfoque sobre as experiências e
avaliações realizadas em regiões de florestas tropicais, o que, invariavelmente, envolve
países do chamado Terceiro Mundo ou “em desenvolvimento”.
Lidar com esta complexidade, onde muitos aspectos de ordem “não-florestal” são
determinantes sobre o andamento dos projetos, demanda mudanças no modo convencional
de conduzir as intervenções. Uma rápida reflexão sobre esse termo – intervenção – já traz à
tona algumas questões importantes a serem consideradas nos propósitos de ajudar a
população local a resolver seus problemas de escassez de recursos e degradação ambiental,
desde que “intervir” pressupõe que os “interventores” tenham uma compreensão mais
profunda e abrangente sobre as causas e implicações dos problemas do que a população que
os vivencia e, mais ainda, que tenham o conhecimento, a experiência, os instrumentos e até
a sabedoria necessários para resolvê-los adequadamente. No entanto, não parece ser bem
esse o caso das iniciativas em florestas sociais, tendo em vista as inúmeras dificuldades,
relatadas na bibliografia, nos processos de elaboração e condução de projetos nesse campo,
reconhecendo-se que os ‘interventores’ ainda têm muito que aprender.
Para Chambers (1993), a questão está na necessidade de se romper com uma postura
profissional “normal”, cujos valores, modos de pensar, métodos e comportamentos, estáveis
e conservadores, estão ligados a estruturas “centro-periferia”, a posturas “top-down” de
poder e conhecimento, reproduzidas através do ensino e defendidas pela especialização;
“tais valores são voltados para os primeiros, são urbanos, industriais, de alta tecnologia,
masculinos, quantificadores e preocupados com coisas e com necessidades e interesses dos
ricos”. Ao contrário, o “novo profissionalismo” proposto por Chambers reverte os valores,
papéis e relações de poder do profissionalismo “normal”, colocando “o povo primeiro, e o
povo pobre antes de tudo”. 12
O slogan desse novo paradigma profissional - “putting the last first” - colocar os
últimos, os pobres, em primeiro lugar nos programas de desenvolvimento, embora possa
soar como um “apelo aos sentimentos humanitários dos planejadores”, conforme comenta
Cernea (1985), tem permeado um processo em construção de abordagens, métodos e
técnicas interdisciplinares e participativas, tanto em projetos de florestas sociais como em
outros tipos de projetos para áreas rurais (e também urbanas). Grande parte das concepções
político-metodológicas desse contexto baseia-se no pensamento e no trabalho do educador
brasileiro Paulo Freire (1921-1997), conhecido em muitos países:
12
Nessa mudança de “paradigma profissional” também caberia esclarecer o conceito de pobreza que mobiliza
esses esforços de ajuda internacional e participação, tal como nas considerações de que a pobreza é uma
causa subjacente do declínio das florestas tropicais (ver item 1.2.2, letra a).
83
Em muitos países, o Estado é detentor das terras florestadas, não reconhece direitos
tradicionais dos antigos habitantes das florestas e, nos projetos de florestas sociais, tende a
centralizar o poder de decisão e estabelecimento de regras dos acordos (‘contratos’) com as
comunidades para o manejo das áreas de projeto - acordos que normalmente não concedem
(ou não reconhecem) direitos claros e permanentes para os “locais” e às vezes fortalecem
mais ainda o controle governamental sobre a terra.
Conhecida como “tragédia dos comuns”, a teoria de Hardin (1968) diz que recursos
utilizados em comum estão condenados à sobre-exploração, na medida em que, com livre
acesso aos recursos em uma área de uso comum, cada usuário tenderá a aumentar
indefinidamente sua produção levando à ruína de todos. O exemplo de Hardin era o de um
pasto onde cada pastor iria sempre aumentar seu rebanho. Para Shiva e Bandyopadhyay
(1991), a inevitabilidade da ruína provém de duas suposições: a) Cada pastor trabalha em
seu próprio interesse, sem considerar-se como parte da comunidade e sem avaliar os custos
sociais de sua atitude; b) A produção é predominantemente para troca no mercado e,
portanto, não limitada pela manutenção do recurso. No entanto, conforme os autores, essas
pressuposições não valem para todas as situações sócio-históricas: “É importante
reconhecer que a consideração dos benefícios sem a consideração dos custos não tem sido
sempre a força propulsora das sociedades humanas. Em vastos setores das sociedades rurais
dos países do Terceiro Mundo, o princípio da cooperação, visando a manter recursos
naturais, ainda predomina, mais do que a competição para explorá-los.”
90
Sob condições de incerteza quanto à posse e aos direitos de uso da terra e dos
recursos, a desejada participação local nos projetos tende a ficar extremamente fragilizada,
especialmente tendo em vista o longo tempo de maturação das árvores e, portanto, do
aproveitamento, doméstico ou comercial, de seus produtos. “A posse das árvores sem a
posse da terra se torna gradualmente uma impossibilidade” (Shepherd, 1985).
pelas mulheres sobre o uso e o manejo das árvores; além disso, seus interlocutores com a
comunidade eram os homens (Wickramasinghe, 1999).
Just e Murray (1996) citam os relatos de disputas por terras e árvores em uma região
de Uganda, onde o reconhecimento oficial da posse da terra é muitas vezes relacionado à
presença de árvores, e quanto mais velha for a árvore maior a chance do plantador ter
assegurado o direito legal sobre a terra13. Por essa razão, mudas plantadas por mulheres
participantes de um projeto agroflorestal foram arrancadas pelos homens. Os autores citam
que essa e outras atitudes dos homens são entendidas pelas mulheres como ciúmes e que os
13
Essa condição difere da maioria dos países do Terceiro Mundo, onde, ao contrário, é a retirada das árvores
e a realização de “benfeitorias” (construções, pastagens ou lavouras) o que garante o direito de posse da terra.
93
homens não suportam ver as mulheres, mesmo suas esposas, obterem sucesso e ganharem
mais do que eles.
14
Esta questão é amplamente discutida no capítulo 3.
95
Nos últimos anos, esse enfoque convencional da ciência florestal tem sido criticado
e revisto, especialmente através das iniciativas em florestas sociais. No entanto, ainda
predomina nos técnicos florestais a tendência ao cultivo de espécies que atendem ao
mercado do “grande capital”, mesmo quando seus objetivos estão direcionados para as
necessidades básicas da população local. No caso do programa de florestas sociais da Índia,
a opção pelo plantio de eucaliptos, visando “em tese” produzir uma espécie arbórea de
rápido crescimento para o consumo doméstico de lenha, recebeu duras críticas. Shiva e
Bandyopadhyay (1991) consideraram o programa um “mero mecanismo de expansão da
silvicultura unidimensional sobre terras agrícolas de produção de alimentos”. Esses autores
apontam que a organização do programa, ao invés de produzir e fornecer mudas de espécies
nativas que as comunidades tradicionalmente sabiam manejar e aproveitar, deram
prioridade ao eucalipto, favorecendo com isso a demanda de mercado mais do que das
necessidades básicas das comunidades. Segundo Saxena (1990), os plantios de eucaliptos
no programa de florestas sociais da Índia não atenderam às necessidades básicas das
comunidades e também não geraram renda para os produtores, devido à saturação do
mercado e conseqüente queda de preços, além de problemas com atravessadores e com a
legislação do país.
Tornou-se cada vez mais evidente o erro em dar ênfase à produção de eucaliptos (ou
melhor, à monocultura), o que aconteceu não somente na Índia, mas também em outros
programas de florestas sociais em países da Ásia e da África. No Brasil, embora não tenha
se configurado como um programa de florestas sociais, houve igualmente uma política no
setor florestal que visava o plantio de pequenos lotes de eucaliptos em terras de pequenos e
médios proprietários rurais (Queiroz, 1995), com características semelhantes ao que
ocorreu na Índia e outros países quanto à ênfase na monocultura e mais a favor de um
mercado específico do que da satisfação das necessidades locais. Essa política florestal deu
ênfase ao fomento florestal para que pequenos e médios proprietários se transformassem em
“fazendeiros florestais”, na verdade “plantadores de eucalipto” - mais ou menos como fez o
programa governamental da Índia. Ainda hoje, a extensão florestal no Brasil segue, em
geral, essa mesma política. Mesmo que uma parte (menor) da produção possa ser utilizada
pelo produtor em suas necessidades domésticas (lenha, moirões, etc.), o problema maior
está na dependência fixada em um tipo de mercado (e, muitas vezes, em um único
96
Cultivos de árvores como eucalyptus, que produz somente um produto, como poste
ou polpa, podem ser problemáticos por serem potencialmente vulneráveis às
flutuações de mercado e portanto flutuações de renda. (...) Árvores com múltiplos
usos e sistemas multi-espécies estão mais aptos a contribuir para uma economia
doméstica mista de mercado/subsistência. (Arnold, 1992: p.15)
Árvores frutíferas tais como a jaca, o jaman, a manga, o tamarindo, etc., têm sido
componentes importantes das formas nativas de manejo florestal, tal como praticadas
através dos séculos, na Índia. Depois de um breve período de gestação, as frutíferas
fornecem safras anuais de biomassa comestível, em bases sustentáveis e renováveis.
Os tamarindeiros dão frutos por mais de dois séculos. Outras árvores, tais como
neem, pongamia e sal, fornecem colheitas anuais de sementes que produzem
valiosos óleos não comestíveis. Esses diversos rendimentos de biomassa fornecem
fonte importante de sobrevivência para milhões de pessoas, tribais ou rurais. O coco,
por exemplo, além de fornecer fruto e óleo, fornece folhas para cobrir cabanas e
sustenta a grande indústria de tamil (fibra de coco) no país. (Shiva e
Bandyopadhyay, 1991: 57-8).
população local, entre outros fatores que devem ser investigados em um processo de
diagnóstico participativo.
Hyde e Köhlin (2000) acreditam que o interesse pelo plantio de árvores e, portanto,
a probabilidade de sucesso em projetos de florestas sociais, depende da importância que os
produtos florestais tenham na vida das famílias ou comunidades, como parte da renda, do
orçamento ou do trabalho e consumo doméstico. Esses autores entendem que informações
sobre mercado devem ser sempre consideradas em projetos de florestas sociais, mesmo nos
casos de subsistência familiar ou comunitária, tendo em vista que decisões sobre consumo e
produção de bens têm a ver com oportunidades de substituição da força de trabalho e/ou de
produtos da floresta no mercado, em função das condições de escassez e variação de preços
dos produtos.
A desatenção com a importância dos produtos para a economia dos “locais” pode
contribuir para a inviabilidade do projeto e todo o investimento alocado poderá se perder de
seu objetivo. Não é raro, inclusive, que recursos financeiros de instituições doadoras para
projetos de florestas sociais sejam perdidos ou alocados em outras atividades, por falta de
um bom planejamento sócio-econômico e verdadeiramente participativo. Smith (1994), ao
analisar os resultados de um projeto na Bolívia, observa que os “incentivos” econômicos
acabam sendo uma forma de “suborno” para que as comunidades “participem” do plantio
de árvores e que, após a retirada dos recursos externos, a tendência é de abandono do
projeto, porque as pessoas só estavam mesmo interessadas na infraestrutura que veio como
“suborno” – estradas, postos de saúde, escolas, etc. Para Sonko e Camara (1999), a
participação não pode evoluir se os incentivos são dados para “comprar a boa vontade e a
motivação das pessoas”. Esses autores destacam que a experiência no Gâmbia tem
demonstrado que o uso desajeitado de incentivos causa mais problemas do que os resolve,
no mínimo por induzir paternalismo, criar conflitos e desvalorizar os objetivos de manejo
dos recursos.
Outro aspecto importante, sempre destacado na literatura, que pode determinar uma
“falta de entusiasmo” pelo plantio de árvores, refere-se à questão da conduta política e legal
do Estado quanto aos direitos sobre o corte e o uso dos produtos florestais, tal como os
direitos de posse da terra, já discutidos. Shepherd (1985: 15) cita que “em países onde,
98
legalmente, todas as árvores pertencem ao estado e não podem ser cortadas sem sua
permissão, os moradores racionalmente recusar-se-ão a plantar árvores até que a lei seja
revogada.” É o caso da Índia, conforme descreveu Saxena:
15
Estudo de caso realizado como prática da disciplina Tópicos Especiais em Sistema Agroalimentar e
Desenvolvimento Sustentável, no 2º semestre de 1999, no CPDA/UFRJ, prof. resp. Peter May.
99
Com a criação de novas RESEX, além do látex, outros produtos de extração vegetal
estão sendo alvo de interesse e de organização dos povos das florestas na Amazônia, para o
desenvolvimento de formas de aproveitamento econômico sustentável, inclusive a extração
de madeira. No entanto, estejam ou não em áreas protegidas (nas categorias de Uso
Sustentável, definidas no SNUC), a relação com o mercado é uma questão crucial para os
projetos de florestas sociais e ainda são muito incipientes os conhecimentos técnicos e as
discussões e formulações de normas e mecanismos que garantam de fato a sustentabilidade
100
Tal como ocorre com participação, há várias noções do que seja sustentabilidade e,
geralmente, essas noções variam extremamente quanto aos enfoques e aos contextos
políticos, sociais, econômicos, ambientais, etc. A partir do Relatório Brundtland16, que
definiu desenvolvimento sustentável como “aquele que atende às necessidades do presente
sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias
necessidades, (...) sobretudo as necessidades essenciais dos pobres do mundo, que devem
receber a máxima prioridade”, um amplo debate sobre o tema tem se desenvolvido em
todo mundo, no sentido de aprimorar essa definição, especificando melhor seus termos.
Os esforços para definir critérios e indicadores (C&I) para o manejo florestal vêm se
traduzindo em um crescente número de instituições e empresas certificadoras de produtos
florestais, credenciadas pelo Forest Stewardship Council (FSC), organização internacional
formada para o monitoramento da certificação de produtos florestais. De acordo com o
FSC, a certificação deve estar baseada em um conjunto de C&I que conferem se o manejo
florestal é ambientalmente apropriado, socialmente benéfico e economicamente viável. A
16
documento intitulado Nosso Futuro Comum, elaborado em 1987 pela Comissão Mundial sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, criada pela ONU e presidida por Gro Harlem Brundtland, ex-ministra de Meio
Ambiente da Noruega e, na época, líder do Partido Trabalhista Norueguês.
101
certificação, espera-se, deve garantir aos consumidores e à opinião pública em geral que os
produtos certificados, e logicamente os produtores em questão, têm a necessária
legitimidade ecológica para estar no mercado (e, inclusive, o selo de certificação justifica o
preço mais elevado que normalmente esses produtos atingem, tendo em vista a mão-de-
obra, os cuidados, o tempo, etc. necessários para atingir os três aspectos da certificação). A
maior parte das instituições certificadoras têm como alvo as empresas que exploram
madeira de florestas naturais em escala comercial.
pesquisas e experimentações nesse campo. O CIFOR considera que seu “modelo genérico”
de C&I é apenas uma “plataforma de partida” para que os interessados possam formular
conjuntos de C&I para as especificidades locais. A instituição desenvolve um programa (o
software CIMAT) para que os usuários do modelo genérico possam fazer adaptações às
condições locais.
Prabhu et al. (1999), coordenadores dos estudos de C&I do CIFOR, avaliaram que
os critérios ecológicos estavam sendo mais fáceis de aplicar do que os critérios sociais, na
medida em que estes últimos requerem um profundo entendimento da área, além dos
limites imediatos da unidade de manejo florestal. Segundo Poschen (2000), a formulação de
critérios e indicadores de sustentabilidade florestal, desde seu início, tem sofrido de uma
tendência para as questões ambientais e os interesses econômicos; os aspectos sociais têm
sido cobertos de modo variado e freqüentemente insatisfatório. Prabhu et al. (1999)
acrescentam que, além das questões sociais, há necessidade de trabalhar melhor as questões
relativas à biodiversidade, ao desenvolvimento de C&I para as plantações e aos meios de
unir informações do nível local ao nacional.
Carter (1996) destaca que, na maioria das situações, um ou mais desses critérios
será encontrado apenas parcialmente. No entanto, todos deveriam ser considerados e
direcionados, tanto quanto possível, em um plano de manejo florestal detalhado. Tal plano,
que, obviamente, deverá ser elaborado juntamente com a população “alvo” (através de
métodos de diagnóstico participativo), deverá conter uma descrição detalhada da floresta
existente, os objetivos do manejo e os meios para atingi-los. Com relação à produção para o
mercado, a autora adverte quanto à importância da certificação florestal, o que “em
princípio, aumenta os lucros para o produtor e provê incentivos para continuar a produção
sustentável”.
entanto, Irvine (2000) avalia que ONGs e empresas que apoiam comunidades no manejo
florestal fracassaram nesse apoio, ao assumir que acessar os mercados internacionais era a
solução, quando talvez fosse mais eficiente restringir a comercialização a mercados locais e
regionais e atingir níveis mais ou menos constantes de produção em um tempo mais
adequado aos ritmos da comunidade. Como a certificação florestal foi iniciada, nos anos
1990, com o propósito principal de forçar um controle maior sobre o comércio
internacional de madeira, a inserção de iniciativas de manejo florestal comunitário nesse
processo de certificação está em contradição com a concepção de que florestas sociais
devem priorizar o consumo próprio e se restringir a mercados locais (ver item 2.1).
Por outro lado, Kruedener (2000) argumenta que a certificação contribui para o
reconhecimento e a notoriedade das comunidades que manejam florestas, citando por
exemplo o caso dos “ejidos”, em Quintana Roo (México), para os quais a atenção
internacional tem ajudado a estremecer o criticismo de ambientalistas urbanos sobre os
impactos ecológicos do manejo florestal comunitário, bem como ajuda no reconhecimento
legal dos direitos tradicionais de ocupação e uso das terras florestadas, como no caso de
uma comunidade indígena na Bolívia.
Tendo em vista que as questões envolvidas nos projetos de florestas sociais, que
determinariam a sustentabilidade dos mesmo de acordo com os critérios básicos apontados
por Carter (1996), ainda se encontram em processo de discussão, com muitas questões
envolvendo participação e descentralização, direitos de uso e manejo da terra e dos
recursos, condições técnicas e econômicas de plantio, manejo e comercialização dos
produtos, entre outras, muitos aspectos deverão ser ainda investigados, esclarecidos e
discutidos para que possa chegar a algum consenso a respeito de sustentabilidade nas
iniciativas em florestas sociais.
105
As iniciativas em florestas sociais no Brasil parecem ser bem mais recentes, menos
numerosas e menos divulgadas, principalmente para fora do país. E, exceto por duas
dissertações de Mestrado que sugerem a adoção de “florestas sociais” para atender às
demandas de lenha, não foi encontrada nenhuma publicação sobre pesquisa ou
desenvolvimento de “florestas sociais” (utilizando esse termo). Tampouco se identifica um
movimento regularmente apoiado ou conduzido por iniciativas internacionais, como ocorre
em diversos países, onde instituições como a FAO e a RDFN/ODI participam
freqüentemente da realização de projetos em florestas sociais. Recentemente, começaram a
ser empreendidas e divulgadas algumas iniciativas de “manejo florestal comunitário” na
Região Amazônica.
17
Naquela década, 70% da população brasileira distribuída nas áreas rurais e nas periferias urbanas de baixa
renda dependiam da lenha para consumo doméstico. Em 1985, a lenha representava 93% do consumo
residencial rural de combustível em Minas Gerais (Mata, 1993).
108
eucalipto para o setor industrial de Minas Gerais (e de outros estados brasileiros) se reflete
na condução das pesquisas universitárias, em grande maioria demandadas e patrocinadas
pelas empresas do setor, ficando as necessidades da população rural pobre relegadas a
segundo plano.
Observa-se que o modo como o tema das florestas sociais é tratado por Mata (1993)
tem forte relação com o que Chambers (1995) chama de profissional “normal”. Embora
esteja objetivando o atendimento de necessidades da população carente, o autor priorizou
seu estudo nas questões quantitativas, utilizando métodos estatísticos e questionários
formais para levantamentos e análise de dados sócio-econômicos da população local. Suas
propostas para a implantação de florestas sociais não incluem idéias, sugestões e modos de
diagnosticar os problemas vividos pela própria “comunidade alvo” de seu estudo.
Um estudo semelhante foi realizado para o Estado do Rio de Janeiro, também como
pesquisa de Mestrado, defendida na Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio
109
Em relação aos aspectos internos aos projetos, Amaral e Amaral Neto (2000)
destacam ainda uma questão vista como limitante, que se refere ao nível de participação
dos membros da comunidade nos projetos, o que afeta a distribuição dos lucros com a
venda dos produtos, podendo causar problemas sociais na dinâmica de acesso e uso dos
recursos comuns. A questão do regime de propriedade comunitária é também destacada:
Apesar das muitas dificuldades e deficiências ainda enfrentadas por essas iniciativas
e do risco que pode haver de sobre-exploração da madeira além do previsto nos planos de
manejo, por pressões externas (mercado, políticas, etc.) e internas (como o enfraquecimento
do “espírito comunitário” da população local envolvida nos projetos), observa-se uma
tendência de crescente mobilização de base para atingir metas de sustentabilidade no uso e
manejo das florestas da Amazônia, com a consolidação de parcerias entre instituições,
aumento de recursos financeiros para pesquisas e experimentações.
De acordo com uma das publicações do Instituto del Bien Comun, cerca de metade
das florestas e a maior parte dos lagos da Amazônia são ocupados, utilizados e em certo
grau controlados por comunidades de povos indígenas, seringueiros, ribeirinhos e pequenos
agricultores economicamente marginalizados. “O bem-estar dessas pessoas – e dos
ecossistemas de florestas e várzeas onde vivem – dependerá do surgimento e da
consolidação de modelos de manejo e conservação dos recursos naturais de base
comunitária, que são viáveis a longo prazo e capazes de reduzir os impactos das atividades
humanas sobre os recursos para níveis sustentáveis” (Smith, 2000). Segundo o autor, a
pesquisa que está sendo realizada sobre gestão comunitária é orientada por três questões
fundamentais: 1) Que pré-condições são necessárias para iniciar um manejo de base
117
comunitária dos recursos que esteja apto a começar a funcionar em um curto prazo; 2) Uma
vez iniciado, que fatores condicionam a habilidade do Grupo de Usuários para manter um
sistema de manejo comunitário de modo a produzir resultados positivos no curto prazo; 3)
Que fatores condicionam a habilidade do Grupo de Usuários para manter um sistema de
manejo comunitário de modo a resistir e produzir resultados positivos a longo prazo?
Tendo em vista as inúmeras iniciativas em SAFs no Brasil, não foi possível realizar
um levantamento mais consistente desse campo de pesquisa e experimentação. Mas,
embora exista um crescente interesse no assunto, ainda não se pode falar em expressiva
participação dos SAFs no consumo de produtos agrícolas e florestais. As informações
obtidas indicam que os SAFs não estão sendo adotados necessariamente em um contexto de
gestão comunitária participativa. Existem iniciativas em SAFs tanto por parte de
empresários dos setores florestal e agropecuário como de instituições de pesquisa, ONGs
ambientalistas e pequenos produtores. Esse contexto justifica o entendimento de
Alavalapati e Gill (1991), de que os SAFs são apenas técnicas de cultivo consorciado de
espécies agrícolas e florestais e que podem ser utilizadas (ou não) em iniciativas de
florestas sociais, como parte importante de um conjunto maior de questões que envolvem
essas iniciativas.
Uma grande contribuição que se pode esperar dos SAFs está nas pesquisas e
experimentações de sistemas de produção de alimentos e de bens e serviços florestais,
consorciados, que podem apontar para melhores condições de uso da terra nas frágeis
condições ambientais dos solos tropicais. Viana et al. (1997) fazem um apanhado geral
sobre sistemas agroflorestais, incluindo conceitos, técnicas, expectativas, problemas e
exemplos de experiências no Brasil, com destaques para a urgência de maior investimento
em pesquisas etno/agroflorestais, no sentido de melhor aproveitamento do conhecimento
das populações tradicionais (índios, seringueiros, ribeirinhos, caiçaras, etc.).
119
Quadro 2.3. Características gerais dos projetos de manejo florestal comunitário na Amazônia.
Projetos/Enti Local e ano Tipos de Área de Método de Situação Situação Situação de
dade (atores do início florestas abrangência silvicultura legal da legal do financiam.
envolvidos) manejadas do projeto terra plano de (anos de
manejo apoio)
Mamirauá – Tefé Florestas de 260.000 ha exploração Reserva aprovado Atual
S.M.C. Amazonas várzea seletiva Estadual de CNPQ, DFID,
(ribeirinhos) 1996 manual Desenvolv. ProManejo
sustentável (5 anos)
Rio Cautário Cautário Floresta de 964 ha/ano exploração Reserva aprovado Atual
– OSR Rondônia terra firme seletiva Estadual WWF e PPG7-
(extrativista) 1995 mecanizada e Extrativista PDA (4 anos)
manual
Porto de Moz Porto de Moz Floresta de 13.700 ha exploração Área em em Aguardando
– LAET Pará terra firme seletiva processo de elaboração Comunidade
(ribeirinhos) 1995 estuário mecanizada demarcação Européia
(3 anos)
Kayapós – CI Redenção Floresta de 250.000 ha exploração Reserva em Atual
(índios) Pará terra firme seletiva demarcada elaboração Conservation
1997 manual International,
aguardando
ProManejo
Flona Santarém Floresta de 76.683 ha exploração Floresta a ser Aguardando
Tapajós – Pará terra firme seletiva Nacional elaborado ProManejo
PSA 1996 mecanizada
(ribeirinhos)
LASAT Marabá Floresta de 340 ha em exploração Área de aprovado Atual
(agricultores) Pará 1993 terra firme três seletiva ocupação de PPG7-PDA (2
comunidades mecanizada pequenos anos)
EMBRAPA Pedro Floresta de 440 ha exploração Projeto de aprovado Atual
(agricultores) Peixoto terra firme seletiva com colonização EMBRAPA
Acre 1995 tração animal oficial PDA
CTA Porto Dias Floresta de 3.000 ha exploração Projeto de aprovado Atual
(extrativista) Acre terra firme seletiva assentam. PPG7-PDA
1995 mecanizada e extrativista Aguardando
com tração Com Européia
animal (2 anos)
Arapiuns – Santarém Floresta de a ser definido exploração área de a ser Aguardando
Ipam Pará terra firme seletiva ocupação elaborado Comunidade
(agricultores) 1996 mecanizada Européia
Xikrins – ISA Parauapebas Floresta de 40.000 ha exploração Reserva aprovado Atual - Cia.
(índios) Pará terra firme seletiva Indígena Vale Rio Doce
1995 mecanizada e PPG7-PDA
Aguardando
ProManejo
Boa Vista dos Boa Vista dos Floresta de 5.000 ha exploração Áera de em Financiado
Ramos – Ramos terra firme seletiva ocupação elaboração ELF, Loteria
IMAFLORA Amazonas mecanizada Inglesa
(riberinhos) 1998 Fund Ford
FASE Gurupá Floresta de 860.000 ha exploração Área em Financiado
Gurupa Pará terra firme seletiva comunitária tramitação ICCO
(agricultores) 1994 mecanizada em proc. de
legalização
Uruará Uruará Floresta de 12.000 ha exploração Projeto de em Financiado
Fundação Pará terra firme seletiva colonização elaboração PDA/MMA
(agricultores) 1999 mecanizada oficial
reserva legal
FUNTAC Bujari Floresta de 1.070 ha exploração Reserva aprovado Financiado
(extrativistas)Acre terra firme seletiva Estadual ITTO
1989 mecanizada Antimary
Fonte: Amaral e Amaral Neto (2000).
120
CAPÍTULO 3
Neste capítulo, essa questão é discutida através de uma abordagem sobre o espaço
simbólico ocupado pelas florestas no campo de forças das disputas sociais pelos recursos
naturais. Pode-se dizer que nenhum ambiente natural é tão representativo das idéias sobre
degradação e conservação ambiental como a floresta; talvez por estar associada a outros
recursos essenciais (além das espécies da flora e da fauna), como o ar e a água, bem como a
muitos impactos de grande magnitude decorrentes dos desmatamentos, como a erosão dos
solos, as enchentes e as secas. Quando se pensa no verde (discursos verdes, partidos
verdes,...) a imagem mais próxima é geralmente a das florestas, não é a imagem do verde
dos campos cerrados, dos pampas, dos pantanais, das restingas, dos manguezais ou
qualquer outro ecossistema.
Basta um breve olhar sobre o modo como alguns importantes historiadores das
últimas décadas situam os impactos da ação humana no planeta, para se configurar um
certo ‘mal estar’ e uma impressão de que os Homo sapiens - nós e nossos antepassados -
nunca soubemos muito bem como lidar com a natureza, ou, em outras palavras, com a base
material de nossa existência. Em relação aos demais seres vivos (flora e fauna), as
observações, especulações e afirmações de historiadores, muitas vezes taxativas, levariam a
história da humanidade a uma provável condenação unânime em um eventual tribunal
ecológico do Universo que julgasse a capacidade dos humanos de sobreviver no planeta e
de conviver com os diversos animais e plantas que aqui encontraram.
O impacto do homem nos equilíbrios biológicos data da sua aparição sobre a Terra.
(...) O homem primitivo já dispunha de um instrumento cujo poder imenso não era
proporcional ao seu pequeno grau de tecnicismo: o fogo. (...) Em certas zonas da
África e da América, os autóctones já haviam cometido estragos consideráveis antes
da chegada dos Europeus. (...) Pode-se admitir que o equilíbrio biológico natural
entre o homem e a natureza desapareceu do mundo muito rapidamente, na melhor
das hipóteses logo que o caçador se transformou em pastor e, sobretudo, em
agricultor. (Dorst, 1973)
O historiador inglês Keith Thomas (1988) é outro autor que se refere a um passado
remoto para justificar a destruição das florestas: “desde os tempos mesolíticos, o progresso
humano dependeu de arrancar e destruir as árvores com que a maior parte da Terra estava
coberta.”.
18
Dinastias Tudor (1485-1603) e Stuart (1603-1714).
124
Não é objeto desta dissertação a discussão dos efeitos do sistema capitalista sobre as
florestas, mas a questão da produção de árvores como matéria-prima de bens de consumo
na sociedade capitalista (para madeira, celulose/papel, carvão vegetal, lenha, óleos, etc.)
traz em seu cerne os modos como esse sistema considera e incorpora a temporalidade
ecológica das espécies arbóreas e dos ecossistemas florestais dentro de suas metas
determinadas pela temporalidade econômica. Para “ajustar” ambas as temporalidades, os
produtores de árvores em grande escala buscam meios de reduzir a primeira ao máximo,
investindo em produtividade de espécies de rápido crescimento, e recorrem a subsídios e
apoios político-adminstrativos, entre outros meios, para diminuir os custos de produção e
otimizar os lucros com a venda dos produtos no mercado, especialmente no mercado
internacional.
Quando o povo deitar abaixo as matas, esgotar pantanais, romper estradas por toda a
parte, fundar vilas e cidades, e, assim, pouco a pouco, triunfar da luxuriante
vegetação e dos bichos daninhos, então todos os elementos da atividade humana
virão ao seu encontro e o recompensarão plenamente. (Spix e Martius, 1938)
Warren Dean, apesar de toda a sua preocupação com a destruição da Mata Atlântica,
revela a mesma ambigüidade entre o êxtase com a exuberância e os incômodos com a
hostilidade da floresta tropical que se observa na maioria dos relatos dos cientistas que se
embrenharam pelo Brasil no século XIX, como Spix e Martius. Dean (1996), ao mesmo
tempo que diz “Nenhuma pintura ou foto – que não passam de meras obras – consegue
captar a presença envolvente, misteriosa, da floresta, sua solidez plástica”, também afirma
que “a floresta tropical é um lugar inóspito para o homem” e que “embora nicho de nossos
ancestrais simiescos no passado, há muito fomos expulsos desse paraíso”. O autor segue
em um minucioso discurso sobre os incômodos com cipós, trepadeiras, espinhos, “legiões”
de carrapatos, pernilongos, mosquitos,... “micróbios letais”,... habitantes “solitários e
127
Desse modo, tanto na Roma Antiga como na Inglaterra descrita por Thomas (1988)
e provavelmente na maior parte do mundo civilizado, essa visão idílica e poética sobre
árvores e bosques é característica de habitantes urbanos. Conforme destaca René Dubos:
“A valorização do ambiente selvagem não foi devida aos indivíduos que moravam
no campo e aí tinham que ganhar a vida. Deveu-se antes aos habitantes da cidade,
quando perceberam que a vida humana havia sido empobrecida pelo divórcio com a
Natureza. Pessoas cultas queriam experimentar o ambiente selvagem não por amor a
ele, mas como forma de enriquecimento emocional e intelectual.” (Dubos, 1981: 26)
visões simbólicas sobre florestas e árvores, há um campo de disputas por terras e recursos
das florestas que sempre esteve presente no desenvolvimento das civilizações.
19
O conceito de perspectiva de conflito supõe que “a vida social é moldada por grupos e indivíduos que lutam
entre si por recursos e recompensas várias, resultando em distribuições peculiares de riqueza, poder e
prestígio” (Johnson, 1995).
20
Segundo Acselrad (2000), “as formas técnicas descrevem, sem dúvida, o momento mais direto pelo qual os
atores sociais transformam o meio biofísico. Tais técnicas não representam simples respostas às restrições do
meio, não sendo, portanto, determinadas unilateralmente pelas condições geofisiográficas do meio. São, ao
contrário, integralmente condicionadas pelas formas sociais e culturais, ou seja, pelas opções de sociedade e
pelos modelos culturais prevalecentes. Aquilo que as sociedades fazem com seu meio material não resume-se
a satisfazer carências, superar restrições materiais, mas consiste também em projetar no mundo diferentes
significados – construir paisagens, democratizar ou segregar espaços, padronizar ou diversificar territórios
sociais, etc.”
129
das minas de carvão, nas carretas e nos navios que transportavam o minério, etc. (Perlin,
1992).
21
Inclusive, a origem do termo “floresta” é referida a áreas de bosques reservadas ao uso dos reis ou daqueles
favorecidos com uma carta real – a palavra forest vem do latim foris = de fora e forestare = negar acesso
(Stieglitz, 1999).
22
Dinastia de Hanover - de 1714 em diante, mudando para Casa de Windsor no início do século XX.
130
23
Capital simbólico seria o conjunto de distinções (econômicas, culturais, políticas, etc.) acumuladas por um
determinado grupo no espaço social (ou campo de forças), onde se dão as disputas de poder (Bourdieu,
1994).
131
dificuldades existem entre intenção e gesto, predominando ainda uma tendência a enfatizar
a pobreza e o crescimento populacional como causas principais dos desmatamentos nas
regiões tropicais. Conforme já discutido no item 1.2.2, essa tendência está atrelada a uma
concepção superficial do problema dos desmatamentos, que se fixa nas causas diretas (ou
aparentes), menosprezando as causas subjacentes, especialmente as questões relativas à
distribuição de terras e recursos, às políticas macro-econômicas que incentivam os
interesses de lucros a curto prazo e às políticas locais de favorecimento a esses interesses.
Rocheleau e Ross (1995) discutem essa questão analisando o papel das árvores
como símbolos e instrumentos de luta material e ideológica dentro e entre agências de
Estado, ONGs e movimentos da população rural no caso de um projeto de floresta social na
República Dominicana. Colocando como um desafio à ecologia política a necessidade de
“criticar e propor alternativas ao excesso de iniciativas de manejo florestal e agroflorestal
que têm sido abrigadas na cortina discursiva das árvores como símbolos da bondade verde”,
as autoras entendem que a questão crucial não é tanto fazer ou não fazer manejo florestal ou
que árvores plantar, mas sim “de quem é a decisão, entre quais opções e sob que termos, em
um determinado local e a um dado momento na história.” Essa abordagem traz o foco da
atenção para as relações de poder entre os interessados nos recursos florestais, colocando
em questão o que está por trás da “bondade verde” em iniciativas de manejo florestal social.
O aspecto cultural tem sido um importante instrumento das lutas por direitos sociais
e ambientais de povos indígenas. Conforme Acselrad (2000), os fatos culturais são parte do
processo de construção do mundo, dando-lhes sentidos e ordenamentos, comandando atos e
práticas diversas a partir de categorias mentais, esquemas de percepção e representações
coletivas diferenciadas.” Moore (1996), referido às idéias de Gramsci, destaca que: “Os
padrões históricos de acesso e de exclusão aos recursos moldam entendimentos culturais
sobre direitos, relações de propriedade e titulação. (...) As lutas por terra e por recursos
ambientais são simultaneamente lutas por significados culturais. Por sua vez, esses
significados competitivos influenciam o uso da terra e dos recursos.”
É, portanto, esse contexto - onde árvores e florestas são recursos essenciais e objetos
de interesses conflitantes e onde os investimentos necessários para gerar/manter uma
produção contínua de produtos florestais, na temporalidade do sistema capitalista, são
elevados o suficiente para dificultar um equilíbrio de forças no campo das disputas por terra
e recursos florestais, o que fortalece o poder dos que já detêm maior capital simbólico
(principalmente capital econômico e político) – é esse contexto que precisa ser considerado
ao se tentar compreender o que significam e como interagem os diversos interesses atuais
sobre florestas e árvores, especialmente nos países do Sul, onde se concentra a maior parte
do que ainda resta de florestas naturais e de povos da floresta, para os quais o capital
simbólico ainda está muito aquém do necessário no campo de forças das tomadas de
decisão sobre ´de quem’ são as florestas e ‘para quem’ vão os recursos.
139
24
Sanyang (1999) exemplifica esse passado distante com a prática de queima da vegetação rasteira, que só era
realizada alguns dias antes da estação chuvosa e após comunicar previamente os vizinhos e tomar as medidas
necessárias para proteção da floresta em torno da área a ser queimada.
25
O que também inclui a expulsão de áreas destinadas pelos governos para a proteção ambiental (como
Parques, Reservas, etc.), no contexto das visões de vazio selvagem, discutidas anteriormente neste capítulo.
141
área requerida para manejo, contando com ajuda técnica do governo e apoio da GTZ. Em
1991, havia apenas três vilarejos envolvidos no manejo florestal comunitário, em uma área
de 563 ha. Em 1999, já eram 450 vilarejos envolvidos, cobrindo uma área de 18.400 ha.
Esse resultado em área ainda é modesto em relação à área total de florestas do país
(representa menos de 5%), mas significa um grande salto no interesse das comunidades e
na mudança de atitude do governo em relação à descentralização de poder sobre as áreas
florestadas, o que pode sinalizar um futuro promissor para outras áreas do país.
social para que as comunidades exerçam de fato o controle sobre as florestas e recebam os
benefícios do manejo de seus recursos (Veer et al., 1997). Na medida em que essas
comunidades identifiquem no manejo sustentado dos recursos florestais a melhor forma de
garantir sobrevivência e autonomia frente às pressões da economia de mercado, maiores
serão as chances de que as florestas sejam protegidas da exploração predatória. Sonko e
Camara (1999) consideram que o manejo florestal comunitário é “a chave” para a proteção
e a utilização racional das florestas.
má gestão dos governos, entre outras causas subjacentes aos desmatamentos e que afetam
os meios de empoderamento da população local. Os pesquisadores consultados destacaram
três questões principais para que as iniciativas em florestas sociais sejam bem sucedidas: a)
direitos formais de uso e propriedade; b) apoio do Estado e c) participação efetiva da
população local; questões consideradas ainda pouco desenvolvidas, apesar dos ganhos.
Uma dos aspectos relativos às iniciativas em florestas sociais que pode contribuir
para “fazer frente” ao processo de destruição das florestas tropicais diz respeito à mudança
de enfoque sobre as condições socioambientais das áreas “alvo” dos projetos. Carter (1999)
cita que o foco das atividades em florestas sociais tem se movido de uma assistência à
população local em programas de plantio de árvores (normalmente baseada em uma
concepção paternalista, tal como a necessidade de ensinar às pessoas a plantar árvores),
para um apoio mais colaborativo ao manejo sustentável das florestas naturais, com uma
ênfase mais voltada para os usos múltiplos dos recursos madeireiros e não madeireiros do
que na proteção ou regeneração da floresta, inclusive porque pode ser mais fácil obter renda
144
a partir de ambientes ainda florestados e que podem ser manejados nesse sentido do que de
plantações em áreas desflorestadas e degradadas. No entanto, essa abordagem implica em
lidar com pelo menos uma questão crucial em relação ao mercado: o risco da inserção das
comunidades das florestas na economia de mercado, especialmente diante das pressões da
exploração predatória de madeira.
26
Considerando, entre esses atores, aqueles diretamente envolvidos no projeto - a população local, os técnicos
do governo, os técnicos de agências de desenvolvimento, os pesquisadores e empreendedores de instituições
governamentais ou não-governamentais - e aqueles envolvidos nos interesses de mercado sobre as florestas –
madeireiros, fazendeiros, mineradores, governantes, políticos, etc.
147
Portanto, o que está em cena nesta virada de milênio para o setor florestal nos países
tropicais é o questionamento e a demanda por revisão das estruturas institucionais, das
políticas públicas, da legislação e, fundamentalmente, do papel dos profissionais desse
setor, em um momento histórico que reclama por eqüidade social e sustentabilidade
ambiental. Lembrando Paulo Freire, “a quem sirvo com a minha ciência?” é a pergunta
que cabe a esses profissionais em todos os campos de ação da ciência florestal e é parte de
uma necessidade global inerente às evidências de insustentabilidade do modelo dominante
de desenvolvimento. Conforme alerta Pádua (1999), “o que se faz necessário é superar a
ideologia convencional do desenvolvimento em favor de um debate ético-político sobre o
desenvolvimento enquanto direito das sociedades à melhoria das suas condições de vida em
um contexto de eqüidade e sustentabilidade planetárias.”
SÍNTESE
Porém, mais que tudo, essas visões simbólicas representam relações sociais de
disputa pelo uso das terras e dos valiosos recursos florestais. O modelo civilizatório se
desenvolveu ‘vendo’ as florestas naturais (especialmente as do Novo Mundo) como fonte
inesgotável de recursos (o eldorado) e como fonte de ‘deleite espiritual’ (o paraíso
perdido). Ambas as visões excluem os naturais habitantes das florestas. As populações
‘selvagens’, os pobres, marginalizados e excluídos do convívio e dos desfrutes nas áreas
152
urbanizadas viviam e ainda vivem isolados, dentro ou próximo das florestas, e sem direitos
reconhecidos sobre os territórios florestados, de onde o mundo civilizado sempre extraiu
madeira para aquecimento, construções, fornos industriais e outras demandas de um
crescente consumo de recursos naturais (a madeira sempre esteve presente na base de
sustento das civilizações e foi o principal combustível utilizado desde a Idade do Bronze até
a “recente” descoberta dos combustíveis fósseis e do carvão mineral).
Grande parte das populações rurais dos países “em desenvolvimento” depende da
lenha extraída das florestas para seu consumo doméstico, bem como depende das práticas
de cultivo agrícola denominadas itinerantes ou de corte-e-queima, onde pequenas áreas de
floresta (0,5 a 3,0 ha) são cortadas, queimadas e cultivadas com milho, mandioca, feijão,
etc. Após 2-3 anos de cultivo, a área é deixada em pousio para que a floresta cresça
novamente, recuperando a vitalidade do ecossistema e mantendo a possibilidade da área
voltar a ser cultivada. O processo de regeneração da floresta nessa área de pousio pode ser
relativamente conduzido pela comunidade, na medida em que a capoeira que vai se
formando pode ser ainda utilizada por muitos anos, com espécies frutíferas, apícolas e
também madeireiras (para construção de casas, embarcações, instrumentos vários, etc.). A
intensidade de uso e manejo dessas áreas depende de muitos aspectos ambientais, culturais
e sociais da dinâmica de ocupação e migração dos povos das florestas. Muitos estudos
etnobotânicos vêm registrando essas práticas em comunidades indígenas de várias partes do
mundo.
Nesse contexto, as populações que habitam e dependem dos recursos das florestas
nos países “em desenvolvimento” passaram a ser consideradas as principais responsáveis
pela destruição das florestas tropicais. O crescimento populacional, a fome, a pobreza e a
falta de recursos financeiros e tecnológicos dos ‘pobres rurais’ têm sido argumentos para
justificar que essas populações, “sem outra opção”, avançam regularmente sobre as
fronteiras florestais. Desse modo, equivocadamente, atribui-se aos pobres do Terceiro
Mundo a culpa pelos desmatamentos, quando na maioria das vezes os pobres são
“utilizados” nas frentes de ocupação das madeireiras e dos agro-pecuaristas, que causam os
maiores impactos sobre as florestas e seus habitantes tradicionais.
Não se pode dizer se é tarde ou não para modificar esse processo histórico de
ocupação predatória. Mas, se pode afirmar que movimentos nessa direção vêm surgindo e
crescendo dentro da própria sociedade civilizada e criadora da tecnologia que ajudou a
acelerar os interesses gananciosos sobre os recursos naturais. Não só as populações
habitantes da floresta (e a própria floresta) sobrevivem, resistem e lutam para se manter em
seus territórios, com direitos de uso respeitados pelos “forasteiros”, a despeito da violência
e rapidez com que são aviltadas, bem como vários setores da sociedade em geral estão se
voltando para compreender melhor o mundo do ‘outro’ e rever suas posições e paradigmas.
154
caracterizou a ação extensionista das ciências agrárias e a relação dos governos com o
povo. Metodologias de gestão participativa vêm sendo desenvolvidas, no sentido de
aproximar mais os interessados e criar meios de “escuta” e de diálogo em favor do
empoderamento dos “locais”.
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Gráfico 1
Situação das Florestas no Mundo e por Região, segundo o WRI, 1997 (em milhões km²)
70
60
Floresta Original
Floresta Remanescente
50
40
30
20
10
0
África Ásia Am. Central Am. do Norte Am. do Sul Europa Rússia Oceania Mundo
“Florestas Sociais: Uma Resposta à Destruição das Florestas Tropicais?” Dissertação defendida em março/2001 no CPDA/UFRRJ por Cláudia Teixeira
Gráfico 2
Países com maiores taxas de desmatamento no período 1990-2000 (hectares po ano)
Fonte: FAO, FRA 1990 e FRA 2000 (excluindo áreas de plantações arbóreas)
2.500.000
2.000.000
1.500.000
1.000.000
500.000
0
Indonesia
Tailandia
Argentina
Venezuela
Malasia
Iran (NT)
India
Nigeria
Myanma
Sudão
Zimbabwe
Peru
Zambia
“Florestas Sociais: Uma Resposta à Destruição das Florestas Tropicais?” Dissertação defendida em março/2001 no CPDA/UFRRJ por Cláudia Teixeira
Florestas do Mundo - Extraído e reduzido do mapa original da FAO, que pode ser obtido na Internet
(www.fao.org/forestry/fo/fra/index.jsp).
“Florestas Sociais: Uma Resposta à Destruição das Florestas Tropicais?” Dissertação defendida em março/2001
no CPDA/UFRRJ por Cláudia Teixeira
Detalhe do mapa anterior, incluindo a legenda, com destaque para a América da Sul, onde
ocorre a maior floresta tropical do mundo – a Floresta Amazônica – e a maior taxa de
desmatamento das últimas décadas.