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Resumo
2.1. Introdução
Este texto enfoca um tema que usualmente não faz parte dos currículos de graduação: a
TV digital interativa. Apesar de algumas disciplinas o tratarem indiretamente, a maioria
dos currículos de graduação carece de um enfoque maior no assunto, se restringindo a
sistemas multimídia e hipermídia e codificação e compressão de vídeo. Além disso, esse
tema é multidisciplinar, englobando áreas como telecomunicações, engenharia elétrica,
computação, jornalismo e sociologia, para citar só algumas. Essa ampla abrangência
torna praticamente impossível que o tema seja abordado de forma holística em qualquer
curso de graduação, exigindo que o aluno complemente sua formação com cursos
extracurriculares e leituras autodidatas.
Além disso, para um entendimento completo dessa matéria, é imprescindível
que o aluno tenha noções de outras áreas, muitas vezes não técnicas. Já não é mais
possível separar o desenvolvimento de hardware e software sem considerar a finalidade
da tecnologia. Questões relativas à usabilidade podem afetar alguns requisitos de
hardware ou gerar novas demandas de software. Por isso, a influência de áreas como
jornalismo e sociologia torna-se necessária quando falamos de TV digital e interativa.
O principal objetivo deste texto é oferecer uma visão geral sobre os conceitos de
TV digital e interativa, além de abordar as tecnologias envolvidas. Após o estudo deste
texto, o leitor deverá saber o que é TV digital e interativa, a evolução da tecnologia, que
propicia mais essa evolução tecnológica e o conseqüente surgimento de uma nova
mídia. Além disso, o leitor terá contacto com os principais componentes de um sistema
de TV digital, a saber: modulação, codificação, transporte, middleware e aplicações.
Dentro desse contexto, serão apresentados os objetivos do governo com o
Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), que vai nortear as discussões em torno da
transição analógico/digital. Dessa forma, o leitor poderá, primeiro, entender a discussão
sobre o assunto, para depois, ter uma participação mais ativa, interferindo inclusive no
debate sobre a escolha de um padrão estrangeiro ou o desenvolvimento de um nacional.
Para que esse debate atinja toda sociedade, é fundamental que as pessoas saibam do que
trata esse complexo assunto, que pelos conceitos envolvidos afasta as pessoas não
acostumadas com o dia-a-dia das telecomunicações ou dos conceitos de multimídia e
radiodifusão.
Este texto está dividido em nove seções, de acordo com os conceitos envolvidos
e tecnologias utilizadas. Os estudos começam com conceitos teóricos, que vão migrando
gradativamente para a composição técnica da TV digital e interativa, visando facilitar a
compreensão do leitor.
Amplitude
Tempo
Sensor
Sinal elétrico analógico
(ex. microfone)
Ondas sonoras correspondente à forma
de onda de áudio
Figura 2.2. Captura de um sinal analógico.
Ainda existe uma outra etapa que será discutida mais adiante neste texto que é a
codificação, ou seja, a escolha da forma de representação (código) dos bits a ser usada.
Sinal analógico Sinal amostrado Sinal digital
amostragem quantizaçã
período de amostragem
supressão de
Baseada seqüências
em tid
entropia
codificação eliminação de
estatística redundância
2.5.4. Codec
As etapas de amostragem e quantização não são as últimas do processo de digitalização
das mídias de áudio e vídeo. Existe a necessidade de representar a informação digital
usando algum código. O processo de representação de mídias de áudio e vídeo no
formato digital é denominado codificação; e o processo inverso, de transformação da
mídia digital em sinal analógico é denominado decodificação. Por esse motivo, o
padrão usado para codificação dessa mídia é usualmente denominado codec
(codificação e decodificação).
Atualmente, muitos codecs são adotados para mídias digitais:
• Imagem: JPEG (adequado para imagens capturadas), GIF (adequado para
imagens sintetizadas pelo ser-humano), PNG, TIFF e PCX.
• Vídeo: MPEG, DivX, Soreson, Real Vídeo e MS-MPEG-4.
• Áudio: MPEG-Áudio (MP3), WAVE e MIDI.
Muitos desses codecs citados são proprietários, adotados apenas por algumas
empresas e aplicados em contextos específicos. Em contraste, os codecs abertos,
padronizados e reconhecidos por comitês, consórcios ou organizações de companhias,
tais como os MPEG-1, MPEG-2 e MPEG-4, serão vistos mais adiante neste texto.
2.5.5. Modulação
Na TV digital, áudio, vídeo e dados precisam ser transportados desde sua origem até a
casa do usuário (podendo passar ou não por estações intermediárias). Nesse sentido, um
sistema de comunicação é usado para esse transporte. Contudo, as informações não
podem ser enviadas diretamente pelo sistema de comunicação sem antes sofrer uma
modulação no envio, e uma demodulação na recepção.
A modulação é necessária por causa das características dos enlaces de
comunicação – seja por cabo, ondas de rádio, satélite, etc. – que enfrentam problemas
de atenuação por perdas de energia do sinal transmitido, ruídos provocados por outros
sinais, e distorções de atraso. Essas últimas são causadas pelas velocidades desiguais
das freqüências de um sinal no enlace.
Esses problemas são fortemente relacionados com a freqüência usada no sistema
de comunicação. Uma forma de resolver esse problema é modular um sinal. A
modulação é o processo, através do qual, alguma característica de uma onda portadora é
alterada de acordo com o sinal da informação a ser transmitida. Essa onda portadora é o
sinal que possui uma faixa de freqüências controlada de forma a sofrer as menores
interferências, distorções e atenuações possíveis durante uma comunicação de dados. A
modulação oferece três benefícios [Haykin 1999]:
I B
B B
P B
B B
I
tempo
Sinal de Codificador
vídeo de vídeo
2.6.4. MPEG-2
As especificações MPEG-1 foram congeladas no momento em que foi lançado o padrão
MPEG-2 em 1994. O MPEG-2 (especificado pela ITU sob o nome de H.262) é
constituído de 10 partes, sendo as mais importantes [Tektronix 2002]:
• ISO/IEC 13818-1 Systems.
• ISO/IEC 13818-2 video coding.
• ISO/IEC 13818-3 audio coding.
• ISO/IEC 13818-6 data broadcast and DSM-CC.
O padrão MPEG-2 é direcionado, principalmente, para áudio e vídeo de alta
qualidade e alta resolução, sendo utilizado por todos os sistemas atuais de TV Digital.
Contudo, além da TV Digital, existem muitas aplicações que adotam a codificação
MPEG-2. Essas aplicações podem ter requisitos muito diferentes com relação à taxa de
compressão e resolução. Esses diferentes requisitos de qualidade implicam que
dificilmente iria se conseguir desenvolver um único decodificador que atendesse a toda
essa variedade de situações (ou esse decodificador se tornaria demasiadamente caro).
Dessa forma, foram especificados diferentes níveis e perfis para as aplicações alvo
MPEG-2 (Tabela 2.2.).
Enquanto os níveis se referem principalmente às diferentes possibilidades de
resolução do vídeo, os perfis definem diferentes esquemas de codificação. Entre as doze
combinações válidas, a Simple Perfil Main Level (SP@ML) é a que supostamente mais
se aproxima das necessidades de difusão de um vídeo com qualidade padrão (SDTV); e
a Main Perfil High Level (MP@HL) foi criada para ser usada com TV de alta definição
(HDTV).
O MPEG-2 Áudio e MPEG-2 Vídeo usam os mesmos princípios dos algoritmos
de compressão do MPEG-1, porém com diversas extensões e melhorias.
Tabela 2.2. Níveis e perfis de vídeos MPEG-2.
Perfil Perfil Perfil Perfil Perfil Perfil
SIMPLE MAIN 4:2:2 SNR Spatial Scalable HIGH
Scalable
Nível 1920 x 1152 1920 x 1152
HIGH --- 80 Mbps --- --- --- 100 Mbps
I, P, B I, P, B
Nível 1440 x 1152 1440 x 1152 1440 x 1152
HIGH-1440 --- 60 Mbps --- --- 60 Mbps 80 Mbps
I, P, B I, P, B I, P, B
Nível 720 x 576 720 x 576 720 x 576 720 x 576 720 x 576
MAIN 15Mpbs 15 Mbps 15 Mbps 15 Mbps --- 20 Mbps
sem quadros B I, P, B I, P, B I, P, B I, P, B
Nível 352 x 288 352 x 288
LOW --- 4 Mbps --- 4 Mbps --- ---
I, P, B I, P, B
2.6.5. MPEG-2 TS
De forma semelhante ao que ocorre com o MPEG-1, o MPEG-2 Systems também lida
com a multiplexação de fluxos elementares de áudio e vídeo. Porém, o MPEG-2
Systems define dois esquemas de multiplexação: programa e transporte. Um MPEG-2
Programa (MPEG-2 PS) é similar ao do MPEG-1 Sistema. Já o MPEG-2 Transporte
(MPEG-2 TS) é formado por pacotes fixos de 188 bytes e, diferentemente do padrão
anterior, não obriga a existência de uma base comum de tempo.
MPEG-2 PS e MPEG-2 TS possuem diferentes objetivos. O primeiro foi
especificado visando armazenamento local de dados (ex. armazenamento de vídeos em
um DVD); o MPEG-2 TS é voltado para o transporte (difusão) de dados. Esse último
padrão tem uma série de características visando torná-lo imune a erros de transmissão
(por isso, um tamanho pequeno de pacotes, 188 bytes, pois facilita a ressincronização
caso haja perdas de pacotes).
vídeo
Programa áudio
MPEG-2 dados
Transporte
vídeo
Programa áudio
dados
Na Figura 2.8 é possível observar que o PAT enumera três serviços, cujos PIDs
são 200, 300 e 400. Os serviços com os PIDs 200 e 300 possuem fluxos elementares de
vídeo e de áudio (com PIDs 100 e 102, respectivamente) que são compartilhados entre
eles. Esses serviços poderiam representar o mesmo vídeo sendo difundido com duas
legendas diferentes (as legendas possuiriam os PIDs 103 e 106). O PAT ainda ”aponta”
para um serviço (um PMT) com PID 400, que possui apenas um fluxo elementar de
dados com PID 107 (um datacasting).
Alguns programas (serviços) podem ser abertos, acessíveis a todos, contudo
outros podem necessitar assinatura especial para acessá-los. Nesse sentido, todo PSI
possui um CAT com dados usados para acesso condicional (criptografia), cujo PID
sempre é 1 (portanto, fácil de identificar).
Provedor de Serviço
de Interação Canal de retorno
Codificador Codificador
MPEG-2 MPEG-2
Injetor de Multiplexador
dados
Modulador
UpConverter
Meios de Difusão:
Cabo Radiodifusão Satélite
O modulador gera um sinal analógico em baixa freqüência. Esse sinal precisa ser
convertido em um sinal de freqüência maior para poder ser difundido pelos diversos
meios. O equipamento responsável por essa conversão é o UpConverter.
Sintonizador
sinal
Demodulador
fluxo de transporte
Demultiplexador
fluxos elementares de
Decodificador áudio, vídeo e dados
MPEG-2
Dados B
Dados A
Dados C
MPEG-2 TS
Figura 2.13. Sistema de arquivos MHP sobre carrossel de objetos [TAM 2003].
Aplicações
EPG t-gov internet t-comércio
Middleware
DASE MHP ARIB
Transporte
MPEG-2
Transmissão
Modulação 8-VSB COFDM
A idéia por detrás da arquitetura é a de que cada camada oferece serviços para a
camada superior, e usa os serviços oferecidos pela camada inferior. Dessa forma, uma
aplicação que executa em TV digital interativa faz uso de uma camada de middleware,
que intermedeia toda a comunicação entre a aplicação e o resto dos serviços oferecidos.
A finalidade da camada de middleware – ou camada do meio – é oferecer um
serviço padronizado para as aplicações (camada de cima), escondendo as peculiaridades
e heterogeneidade das camadas inferiores (tecnologias de compressão, de transporte e
de modulação). O uso de middleware facilita a portabilidade de aplicações, que podem
ser transportadas para qualquer receptor digital (ou set-top box) que suporte o
middleware adotado. Essa portabilidade é primordial em sistemas de TV digital, pois é
muito complicado considerar como premissa que todos os receptores digitais sejam
exatamente iguais.
As principais especificações existentes de TV digital – norte-americano, europeu
e japonês – adotam diferentes padrões para middleware em seus receptores digitais.
Dessa forma, na seqüência deste texto, esses padrões de TV digital e seus middlewares
são introduzidos e comparados.
Referências
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