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MITOS E DESAFIOS

Introdução

O legado da Guerra do Golfo, que aconteceu logo após a vitória sem


derramamento de sangue da Guerra Fria, deixou a sociedade ocidental com uma
estilizada visão da guerra moderna. A tecnologia é vista hoje como sendo a
dona de todas as situações. Assombrantes vitórias podem ser alcançadas com
perdas mínimas do lado vitorioso, e com grande redução de danos colaterais em
inocentes do lado do inimigo. A guerra pode agora ser delegada a modernos
cavaleiros, que substituíram seus vistosos capacetes com plumas por visores
pretos de material compósitos, versão militar dos utilizados no filme Guerra
nas Estrelas e seus cavalos de batalha são agora aeronaves que custam milhões
de dólares. Esta é a percepção ocidental da utilização do Poder Aéreo na
guerra moderna. Entretanto, por exemplo, para os sérvios, o moderno Poder
Aéreo é apenas uma luz rósea e desfocada proveniente do escapamento dos
motores dos jatos da OTAN. Para os residentes em Grozny, o conceito de
pequenos danos colaterais em inocentes nunca existiu, enquanto que para os
Curdos do Iraque, o Poder Aéreo é algo bastante simpático, visto protegê-los
da áspera realidade de vida que tiveram quando sub-julgados por Saddan
Hussein, durante dez anos após a retomada da soberania do Kuwait.
A chegada o novo século não tornou o mundo um local mais seguro. Brigas
e disputas nacionalistas ou étnicas são as grandes ameaças à estabilidade e as
disputas territoriais continuam a prevalecer como pano de fundo das relações
internacionais, numa tentativa de unir pessoas dentro de uma mesma linha de
fronteira, para formar estado-nação. Racismo e intolerância estão cada vez
mais presentes no venal aparentemente civilizado estilo de vida. Os desejos

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naturais, especialmente nas empobrecidas nações, que buscam alcançar a
prosperidade ocidental, pouco ajudaram os povos a conviver com seus
desastres naturais. Os gastos militares e a pompa da chamada civilização
ocidental tornaram esses povos mais vulneráveis.
Contra esse cenário de destruição e desolação, quais são os desafios do
Poder Aéreo no mundo moderno e numa guerra moderna? Vamos explorar então
dez áreas chave, onde mitos devem ser explorados e os desafios tratados.
Essas dez áreas desafiantes foram escolhidas para estimular o debate, e não
apenas para expor as virtudes do Poder Aéreo. Através desses dez mitos ou
desafios, tornar-se-á evidente que um tema comum emergirá,
independentemente da tarefa a ser cumprida, a de como o der aéreo fará a
diferença do modo como combateremos numa guerra.

O Poder Aéreo pode fazer tudo sozinho – Douhet, Trenchard e Mitchell

O resultado da 1ª Guerra Mundial deixou uma marca que não se pode


apagar, em todos os que participaram do conflito, embora alguns poucos
tenham saído sãos e salvos. Muitos acreditam, que a guerra deva ser algo a ser
banido da humanidade. Para outros, com a introdução de 3ª dimensão (a guerra
aérea), a guerra de trincheiras acabaria com o terrível sofrimento dos homens.
O Royal Flying Corps sofreu elevadas perdas, especialmente devido às
dificuldades encontradas para treinar pilotos e observadores, tendo em vista a
grande quantidade de aeronaves produzidas. Mas essas perdas eram
diferentes das sofridas pelo exército nas trincheiras, pois os bombardeiros
que se auto-defendiam seriam capazes de levar a guerra no coração da pátria
inimiga, com impunidade. Mas Douhet, teórico italiano da guerra aérea,
escreveu em seu livro “O Comando do Ar”, que a guerra era essencialmente uma
batalha de pensamentos entre dois povos; a flexibilidade oferecida pelo Poder
Aéreo permitiria que ofensivas fossem dirigidas diretamente contra a moral da
população civil. Trenchard, provavelmente sem ter lido Douhet, canalizava sua
predileção na ofensiva, argumentando que o melhor modo de defender o Reino
Unido era atacando as bases e a indústria inimiga, seus centros vitais.
Trenchard endossou a importância dos “alvos de moral”, declarando que eles
tinham uma importância 20 vezes maior do que os alvos físicos. Stanley Baldwin
resumiu a convicção difundida na House of Commons em 1932, declarando que
“os bombardeiros sempre passarão”.
A realidade tecnológica da 2ª Guerra Mundial era tal que os
bombardeiros nem sempre conseguiram passar e muitas vidas humanas foram

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perdidas na guerra aérea e terrestre. O Poder Aéreo teve participação
importante em muitas áreas, desde a defesa da Grã Bretanha durante a
batalha da Inglaterra até a Campanha de Bombardeios, mas ele não pode dizer
que fez tudo isso sozinho. Os ataques atômicos contra Hiroshima e Nagasaki
podem ter levantado a possibilidade da supremacia do Poder Aéreo, como meio
final de uma guerra, embora a maioria dos cenários da Guerra Fria tenham
incluído todas as armas de guerra disponíveis.

O final da Guerra Fria,


sem derramamento de
sangue, foi seguido pela
invasão iraquiana ao
Kuwait, e das Operações
Desert Shield e Desert
Storm, que culminaram
com a expulsão das forças
de Saddan Hussein do
Kuwait. Essa vitória gerou
elogios ao Poder Aéreo,
por parte do Presidente
George Bush – A Guerra do
Golfo demonstrou o valor do Poder Aéreo – e do Secretário de Defesa Dick
Cheney – A campanha aérea foi decisiva para a vitória -. Nenhum teórico
denegriria a excelente contribuição e valor do Poder Aérea nesta campanha,
mas ele não pode nem conseguiu realizar tal feito sozinho.
A utilização subseqüente do Poder Aéreo se deu na Operation
Deliberate Force na Bósnia em 1995, que destacou os dilemas encontrados
pelos líderes políticos e parceiros das forças de coalisão, quando do uso efetivo
da moderna tecnologia militar nos ataques, tendo em vista a presença da
ostensiva da mídia. O Poder Aéreo tem a habilidade de demonstrar o desejo
político, e ainda permitir ao estadista “se engajar nas hostilidades aos poucos”,
embora isso também leve ao problema de o que fazer após a utilização de um
ataque aéreo, como aconteceu no Kosovo em 1999.
As operações aéreas sobre os Bálcãs começaram no dia 24 de março de
1999 e prosseguiram pelos 78 dias seguintes. O que começou como sendo uma
pequena e pontual operação voltada para derrubar o Presidente Milosevic,
tornou-se uma longa batalha de nervos. Os debates na impressa ficaram
concentrados em torno dos que acreditavam que o Poder Aéreo podia realizar

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tudo sozinho contra os “generais de cadeira” que defendiam a idéia que a
inserção de forças terrestres seria fundamental para o sucesso. Na realidade
a operação realizada pelas forças aéreas aliadas, foi uma operação conjunta
com as marinhas e os exércitos, cada uma dando sua contribuição específica,
embora a participação do Poder Aéreo tenha sido dominante e o centro das
operações conjuntas.
Apesar das esperanças dos otimistas, o emprego do Poder Aéreo nas
operações das forças aliadas, era apenas uma parte de toda a campanha. A
análise dos grandes e dos
pequenos conflitos mostra que
o Poder Aéreo foi
freqüentemente decisivo e
ocasionalmente dominante (pelo
menos em partes da campanha),
mas ele nunca foi sozinho o
único responsável pela vitória
final. Isso quer dizer, o Poder
Aéreo tem feito grande
diferença na conduta da
guerra, quando empregado de
modo adequado. O Poder Aéreo pode ou não participar da decisão diretamente,
mas sua utilização caracterizará pesadamente o processo decisório do
processo político-militar.

O Poder Aéreo é a primeira arma da escolha política

A poeira estava assentando-se após o colapso do Muro de Berlim, quando


os tesouros financeiros exigiam da OTAN seus dividendos pela paz. Vários
esquadrões foram enviados para o Golfo, sem certeza de que eles existiriam
quando do retorno. O fracasso na materialização da nova ordem mundial, quase
que inevitavelmente deixou as forças armadas inchadas de pessoal e com um
horizonte de expansão. A inerente flexibilidade e alcance do Poder Aéreo
fornecem aos fabricantes de política civil ou militar um escopo sem precedente
para projetarem sua influência próximo à decisão da mídia mundial. Mas, há
muito mais no exercício coercitivo da força para fins políticos, do que na
diplomacia de guerra. O envio de forças militares para qualquer rincão do
mundo em conflito, deve ser acompanhado de uma análise do problema a ser
encontrado pelas tropas, independentemente da missão a ser realizada – o

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processo de enfrentamento militar específico é projetado para assegurar que
este é o lugar ideal e correto pra envio das tropas. O Poder Aéreo pode ser a
arma para ser utilizada como a primeira escolha política, mas poucas, ou talvez
nenhum conflito político ou militar, pode ser resolvido apenas com sua
utilização. Demonstrações de força ou de apoio político podem ser
demonstradas num desfile aéreo, mas muitas das missões de paz, demandam
agora o emprego de força terrestre. Do mesmo modo, o Poder Aéreo é apenas
de utilidade limitada, e empregado em situações que requerem auxílio às
autoridades civis locais, como por exemplo, a Irlanda do Norte.

O Poder Aéreo é uma forma não usual de sedução do Poder Militar, em


parte porque, como o namoro moderno, ele parece oferecer satisfação sem
comprometimento (o Poder Aéreo
fica !!!!). Este grau de satisfação
pode ser demonstrado pelo Poder
Aéreo, quando ele fica disponível
facilmente aos líderes políticos, em
épocas de recursos escassos, quando
os interesses nacionais ou suas
sobrevivências pessoais, não são
ameaçadas diretamente.
Virtualmente, em qualquer situação
enfrentada por um governo nacional,
o Poder Aéreo é a forma mais adequada de demonstração de força. O papel do
Poder Aéreo pode ser o de vigilância, o de auxílio a refugiados ou ataque de
precisão. Não importa. Ele certamente fará a diferença.

O Poder Aéreo pode realizar ataques cirúrgicos, sem causar vítimas


indesejáveis

Capacidade de ataques cirúrgicos foi por muito tempo o Santo Gral dos
entusiastas do Poder Aéreo. Ele tornou-se quase uma realidade, de uma forma
limitada, nos dias de controle colonial do Iraque. Pequenas esquadrilhas,
operando em ambiente amigo (em termos de fogo hostil, pelo menos), lançariam
pequenas bombas a menos de 100 pés das residências dos civis, sem causar
vítimas. Isso era razoável contra inimigos relativamente não-sofisticados, mas
não funcionaria em grandes batalhas entre nações. Durante a 2ª Guerra
Mundial, a tecnologia disponível não era suficientemente avançada tanto em

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termos das bombas em si como na precisão de lançamento, particularmente
quando, por falta de escolta, os ataques passaram a ser realizados à noite. Os
planos da USAAF, cujos objetivos principais eram os ataques aos pontos
nevrálgicos da economia alemã, eram baseados numa precisão nunca alcançada.
Apenas no final da Guerra do Vietnã é que esses fatos se modificaram, com a
introdução de bombas guiadas.
As percepções dos eventos da Guerra do Golfo, acentuados pelas lentes
da mídia mundial, obrigou aos planejadores das operações aéreas no Kosovo a
não terem outra escolha se não utilizarem bombas de precisão. A realidade,
entretanto, é outra, pois apenas 8% dos mísseis
e bombas utilizadas na Guerra do Golfo foram
de precisão e guiadas. Elas, entretanto,
capturaram a imaginação da imprensa e do
público, possivelmente porque esse armamento e
seus resultados pareceram ser politicamente
mais corretos do que as imagens dos tapetes de
bombas lançados pelos B-52 no Vietnã. Durante
as operações aéreas no Kosovo, cerca de 35%
das 23 mil bombas e mísseis lançados eram do
tipo de precisão. O aumento da precisão dos
sistemas de lançamento necessitará também, de
melhoria dos equipamentos (avionics). A pressão
por precisão absoluta é, entretanto, inegável, e
falta pouco para chegarmos aos dias em que as bombas convencionais serão
armas de último recurso. Na realidade, a pressão sobre os chefes militares e
membros das forças armadas de todos os níveis, é algo considerável. Durante
as operações aéreas no Kosovo, ameaças de investigação por crimes de guerra
foram feitas com respeito a conduta de bombardeios.
Existe então, uma presunção de exatidão e precisão. Na realidade,
guerras como a do Kosovo, estão aumentando a expectativa dos líderes
políticos, militares, da imprensa e do povo em geral, de que “toda vítima é um
engano cometido, e os números de vítimas é uma falha”. Mas precisão nunca
pode ser definida ou absoluta. Falhas mecânicas ou elétricas ocorrem ou os
equipamentos são vulneráveis a contra-medidas. A maioria das armas tem sua
precisão medida em termos de um diâmetro, com centro no alvo, no qual 50%
de seus tiros caem ali. Nenhuma bomba de precisão evita radicalmente os
danos colaterais ou as vítimas. Cerca de 1200 civis foram mortos na Sérvia,

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durante as operações aéreas no Kosovo, e as vidas de muitos outros
influenciaram de sobremodo os bombardeios das pontes sobre o Danúbio.
Resta, porém, a seguinte conclusão: as armas modernas são muito mais
efetivas do que as antigas, a precisão aumentou em muito e o sonho do
Comando de Bombardeiros da RAF e da 8ª Força Aérea do Exército dos
Estados Unidos, tornou-se algo próximo à realidade.

O Poder Aéreo é glamoroso e amigo da mídia

O relacionamento entre os militares e a mídia foi sempre repleto de


pequenos problemas, mas quando foram menos cordiais, resultaram num grande
número de artigos sobre o tema. No centro de tudo isto está o aparente
conflito entre a indomável busca pela verdade e o desconfiado modo de ser do
guerreiro secreto, podendo isto ser exacerbado pela falta de treinamento e
pela convivência ocasional corrompida pelos métodos de questionar. Além disso,
alguns membros da imprensa são profundamente suspeitos de qualquer
instrução que eles avaliam ser diversionárias, enquanto que o militar ver essa
atitude como parte integrante de seu dia a dia. De onde nenhuma informação
está vindo, a especulação predomina, freqüentemente em detrimento da
segurança e da precisão da própria informação. Sempre que existe um erro, há
sempre um considerável interesse da imprensa e do público em geral,
independentemente de qual seja o conflito. Durante as operações aéreas sobre
a Sérvia na Primavera de 1999, a circulação de jornais aumentou em cerca de
15% (na Europa e Estados Unidos), refletindo o interesse da população. Com o
andar da guerra, o interesse diminuiu, e a circulação voltou ao normal.

O Poder Aéreo pode prover elevados resultados tecnológicos com o mínimo


de suporte

Em artigo, o General John Jumper, comandante da USAFE (United


States Air Force Europe) adverte para os perigos de se tirar lições genéricas
a partir de campanhas idiossincráticas como a do Kosovo. Uma das lições de
deve-se tirar dessa campanha, entretanto, foi que as Forças Aéreas
desconsideraram o perigo das Missões de Apoio Aéreo Aproximado realizadas.
O papel do reabastecimento em vôo é vital em qualquer operação aérea. Os
dias em que as missões eram iniciadas e terminadas em sua base, terminaram.
A realidade é que agora as missões têm longa duração, e envolvem vários
reabastecimentos em vôo. No Kosovo, por exemplo, a RAF com sua antiga força

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de aeronaves tanque, teve que realizar enorme esforço para poder apoiar suas
aeronaves em ação. Idem aconteceu quando do transporte dos helicópteros
Apache americanos da Alemanha para a Albânia, exigindo mais de 500 missões
dos cargueiros C-17. O Transporte Aéreo foi utilizado até o seu limite máximo,
de modo a poder levar os suprimentos necessários ao teatro de operações e a
suas vizinhanças. Essa capacidade incluiu, freqüentemente, o envio de forças
aero-móveis ou especiais.
A Supressão das Defesas Aéreas Inimigas (SEAD) e a Guerra Eletrônica
(EW) são funções igualmente vitais, mas raramente disponíveis em quantidade
suficiente. Igualmente, o salvamento de tripulantes abatidos é algo agora
esperado e enfatizado, pelos
políticos e líderes militares,
mas os recursos requeridos
para tais missões, não deve
ser subestimado. A utilização
de aeronaves com tecnologia
stealth, reduzirá a
dependência da SEAD e da
EW, mas a realidade das operações das forças de coalisão foi tal que, a
confiança nesses recursos permanecerá como sendo um fator principal a ser
considerado no planejamento.
Se o Poder Aéreo que fazer a diferença num conflito futuro, o apoio
aéreo aproximado deve ter a mesma atenção que é dada a unidades de caça e
de combate, pois de outro modo, uma guerra expedicionária sem meios de
projetar o poder, será apenas um sonho.

O Poder Aéreo não é pré-requisito

Existe um sentimento amplamente divulgado de que, se o controle do ar


é perdido, a batalha terrestre logo também o será.
Isto estava implícito nos escritos dos teóricos do
poder aéreo entre as guerras. Generais da 2ª Guerra
Mundial como Montgomery e Rommel eram inflexíveis
neste ponto de vista. Mais recentemente, os conflitos
da Coréia, Vietnã e Oriente Médio, só vieram a
acentuar a natureza vital do controle do ar.
Entretanto, após a Guerra do Golfo, e mais
recentemente no Kosovo, uma nova escola de pensadores surgiu considerando

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que, ou se tem superioridade aérea ou renuncia-se à luta. Esses argumentos são
apoiados por aqueles que tem interesse nos grandes contratos de venda de
caças, e apenas servem para criar mais debate sobre o assunto.
A realidade tanto no Kosovo quanto no conflito do Golfo (que ainda não
acabou) é que o controle do ar tem que ser conquistado, vencido e mantido a
todo custo. No Iraque, a condução das operações terrestres, nas primeiras 100
horas da ofensiva, teria sido bem diferente, se a força aérea da coalisão
tivesse encontrado um inimigo. No Kosovo, o Departamento de Defesa dos
Estados Unidos relatou que
85% dos Mig 29 sérvios e 35%
dos caças Mig 21, foram
destruídos. Os que restaram,
foram dispersos e protegidos,
mas restando ainda uma
potencial capacidade militar.
Se essas aeronaves tivessem
sido capaz de atuar, as operações aéreas sobre a Sérvia, teriam sido muito
mais perigosas, um importante fator quando a coesão aliada era o centro de
gravidade, e sua perda levaria a um desenlace desagradável. Resumindo, ter o
controle do ar faz uma diferença considerável na condução de uma campanha
militar. Sua perda é algo irreparável.

Importância do C2 / C4I

É redundância, de natureza das mais simples, acentuar que o comando, o


controle e a inteligência sempre tiveram papel vital na conduta de aventuras
militares. A importância de “saber o que está acontecendo do outro lado do
morro”, a formulação de planos coerentes, a disseminação clara por toda cadeia
de comando e a capacidade de se contrapor a situações reversas inesperadas,
são características que devem ser levadas em conta após anos de análises
teóricas dos tópicos acima. Mas a realidade é que essas lições são
freqüentemente reaprendidas a cada conflito, revelando que estruturas de
tempo de paz não são normalmente adequadas para tempos de guerra.
O grande desafio, a ser discutido, conforme entramos neste novo século,
está relacionado com a superabundância de vínculos de comando disponíveis
para um moderno comandante. A tecnologia nos permite reduzir o processo em
círculo de observar o inimigo, orientar as forças, decidir e agir (OODA), de
modo a termos em tempo-real todo controle sobre que armas estão sendo

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empregadas em cada alvo novo detectado, e assim, os canais de vigilância e
comunicações permitem que níveis mais elevados de comando estejam
inteirados da situação tática. Essa situação pode ser desejada em algumas
circunstâncias, mas muitos decisores participando do processo ao mesmo
tempo, representa uma involução do denominado negócio militar.

A Doutrina não é mais relevante

Alguns pensadores militares dizem que a Doutrina é como a lava de um


vulcão, pois tende a se solidificar conforme move-se lentamente, a menos que
seja sujeita a um constante e crítico relacionamento.
Como a tecnologia de ponta avança num ritmo aceleradíssimo, a maioria
das forças armadas do mundo tenta manter passo com o último estágio da
obsolescência, com pensamento conceitual aberto. Por isso é tarefa das mais
importantes dos comandantes das forças armadas converter todas essas
informações em insumos para atualização de sua Doutrina.
A Doutrina existe em três formas: a escrita forma, no pensamento
conceitual e na doutrina emergente resultante. Não podemos esperar sermos
capaz de aplicar Doutrina a toda situação militar, com precisão e utilidade,
como uma receita culinária. Mas ela deve estar sempre lá, como um guia de
nossas ações. Igualmente importante, viva e vibrante, a Doutrina é um
excelente modo pelo qual medimos nossos sucessos, ou fracasso, após a
ocorrência de um conflito. Lições devem ser identificadas, aprendidas e após
os conflitos, tomadas.
Se adotarmos uma atitude de que não precisamos de Doutrina, apenas
porque estamos adquirindo no mercado, algumas centenas de aviões modernos,
estaremos correndo o risco de construir uma Doutrina vazia e deserta, que foi
uma característica do pensamento formal dos anos entre guerras. Devemo-nos
também, precaver das armadilhas implícitas ao basearmos nossa emergente
Doutrina na aquisição de tecnologias ou capacitações que estão além de nosso
alcance.

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