Professional Documents
Culture Documents
dirigem, não apenas ao público potencialmente de na melhor tradição da Saúde Coletiva latino
consumidor, mas antes de tudo aos médicos, americana.
que deverão ser os principais agentes na difusão
dos produtos. Isso envolve múltiplas estratégias Referências bibliográficas
voltadas à grande mídia, mas principalmente
aos veículos de divulgação científica, ou seja, Baker P 2001. The international men’s health movement
congressos e periódicos. Não por acaso, os au- [Editorial]. British Medical Journal 323: 1014-1015.
Bass BA 2001. The sexual performance perfection industry
tores (Collier & Iheanacho, 2002) citam como and the medicalization of male sexuality. Family Jour-
ilustração desses mecanismos o apoio da Pfizer nal Counseling & Therapy for Couples & Families 9(3):
– empresa farmacêutica que produz o Viagra® 337-340.
– ao Men’s Health Fórum (http://www.mens- CollierJ & Iheanacho I 2002. The pharmaceutical industry
healthforum.org.uk). as an informant. The Lancet 360 (November):1405-
1409.
Homens e mulheres apresentam muitas di- Griffiths S 1996. Men’s health: unhealthy lifestyles and an
ferenças, mas ao compartilharem o mesmo con- unwillingness to seek medical help [Editorials]. Bri-
texto sociocultural podem ter mais semelhan- tish Medical Journal 312: 69-70.
ças entre si do que se comparados, respectiva- Kalache A 2001. Men’s health: North-South prospects, pp.
mente a outros homens e mulheres de diferen- 47-48. Abstract book. 1st World Congress on Men’s
Health & Gender. Vienna, Austria, November 2-4.
tes grupos sociais, o que torna obrigatório con- Krieger N & Fee E 1994. Man-made medicine and women’s
textualizar achados empíricos e articular gênero health: the biopolitics of sex/gender and race/ethni-
com outras categorias analíticas, como classe city. International Journal of Health Services 24(2):
social, raça/etnia e geração. Rigorosamente, 265-283.
poucas diferenças biológicas justificam assis- Loe M 2001. Fixing broken masculinity: Viagra as a tech-
nology for the production of gender and sexuality.
tência especializada e ainda assim as especiali- Sexuality & Culture: an Interdisciplinary Quarterly
dades médicas devem ser integradas, no sentido 5(3):97-125.
de assegurar a integralidade da atenção. Mesmo Montorsi F 2004. Oral pharmacotherapy for erectile
na saúde reprodutiva tem-se proposto a incor- dysfunction: a personal view of experiences with
poração dos homens nas consultas de pré-natal, three different drugs [Editorial]. Journal of Men’s
Health & Gender 1(1):29-31.
no momento do parto e nos serviços de contra- Penson D & Krieger JN 2001. Men’s health: are we missing
cepção. Sendo assim, na organização da atenção the big picture? Journal of General Internal Medicine
à saúde, enfatizar as especificidades pode reite- 16(10):717.
rar o essencialismo; mas incorporar a perspec- Potts A, Grace V, Gave N & Vares T 2004. “Viagra stories”:
tiva de gênero pode contribuir para adequar os challenging ‘erectile dysfunction’. Social Science &
Medicine 59: 489-499.
serviços às necessidades de homens e mulheres Rohden F 2001. Uma ciência da diferença: sexo e gênero na
e superar mecanismos e atitudes de discrimina- medicina da mulher. Rio de Janeiro: Fiocruz. [Antro-
ção. Isso pode envolver ações e estratégias vol- pologia e Saúde]
tadas a grupos de homens ou de mulheres em Schraiber L, Gomes R & Couto M 2005. Homens e saúde
particular, sem a segmentação de espaços e no- na pauta da Saúde Coletiva. Ciência e Saúde Coletiva
10(1):7-17.
vas especialidades. Scott JW 2001. “La querelle des femmes” no final do sécu-
Com um atraso histórico em relação a ou- lo XX. Estudos Feministas 9(2):367-388.
tras áreas do conhecimento, a Saúde Coletiva Vieira EM 2002. A medicalização do corpo feminino. Fio-
vem se abrindo à incorporação das análises de cruz. Rio de Janeiro. (Antropologia e Saúde).
gênero sobre variados aspectos da saúde. Isso Wingard DL 1984. The sex differential in morbidity, mor-
tality, and lifestyle. Annu Rev Public Health 5: 433-
não se dá sem controvérsias ou simplificações 458. (Review)
(por exemplo, com a mera substituição de se- Winton MA 2000. The medicalization of male sexual
xo por gênero em muitos estudos epidemioló- dysfunctions: an analysis of sex therapy journals.
gicos). Existe hoje uma vasta e rica literatura Journal of Sex Education & Therapy 25(4):231-239.
produzida não apenas por distintas correntes
do feminismo, mas também oriunda dos estu-
dos críticos sobre masculinidades e das verten-
tes construtivistas dos estudos sobre sexualida-
de. Iniciativas como a organização desse suple-
mento e dessa seção de debates podem enri-
quecer a reflexão sobre gênero e saúde. Mas é
preciso recusar o essencialismo – seja biológico
ou cultural – e politizar as necessidades de saú-