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MITOS DA OCEANIA

Em primeiro lugar, se queremos falar da mitologia da região,


devemos começar situando a Oceania no contexto físico, dado que,
embora se fale dela como se se tratasse de mais um continente, não
é tão simples precisar com claridade a sua justificação geográfica O
acordo mais recente que se tomou sobre os seus limites precisa que
é um conjunto de terras dividido em duas zonas. Australásia e
Melanésia, que compreendem a Austrália e Nova Zelândia, por um
lado, e a Melanésia, propriamente Micronésia e Polinésia. Mas
também se costuma considerar a Oceania dividida em quatro
grandes itens.

O primeiro é Austrália com a maior massa de terra firme. Atrás dela estão
Micronésia, Melanésia e Polinésia, este último grupo é o mais extenso dos
insulares dado que compreende todas as ilhas encerradas num polígono que
vai desde as duas maiores ilhas, as de Nova Zelândia, até a ilha de Páscoa, a
mais próxima da costa americana, passando pelas Havai, Taiti e Samoa.
Portanto, foram abandonadas as antigas convenções que supunham que
Malásia, a atual Indonésia, ou uma parte dela, Filipinas e outras ilhas, como o
arquipélago japonês das Kuris, faziam parte desta quinta região continental.
Oceania é uma zona eminentemente insular, dado que, à parte do grande
território continental de Austrália mais a ilha de Tasmânia, Papua e as duas
ilhas da Nova Zelândia, o resto está composto por mais de dez mil ilhas e
ilhéus, com uma extensão total de uns 120.000 quilômetros quadrados, o que
vem a dar uma (enganosa) média de pouco mais de dez quilômetros
quadrados por ilha, cifra que dá idéia da escassa concentração humana, da
dispersão da sua população e da elevada quantidade de áreas separadas que
formam este conjunto tão heterogêneo.
Quanto à divisão da sua população digamos autóctone, há dois grandes grupos
étnicos muito diferenciados: melanésios, de rasgos predominantemente
negróides, e micronésios, de rasgos mais mongolóides.
Os micronésios, por sua vez, se distribuem aproximadamente em dez zonas
lingüísticas diferentes. A população primeira desta região chegou
principalmente da Ásia (já que também houve emigrações menores da
América) por sucessivas ondas há só uns vinte mil anos, e muitos dos
territórios insulares mais orientais são de muito recente população, alguns até
receberam a sua população primitiva no primeiro milênio da nossa era, como é
o caso particular das ilhas Havai, que receberam primeiros imigrantes, vindos
das ilhas Marquesas, no século V, com a segunda emigração que chegou do
Taiti, nos séculos IX e X.
UMA CONSTANTE ANIMISTA
Em toda a Oceania, especialmente na Melanésia, o animismo é o sistema de
crenças mais importante. Este sistema animista, como apontava Sir James G.
Fraser, que realizou um dos melhores estudos da zona, é a demonstração de
que aqui a magia dominou a religião e venceu-a em toda a linha. Porque o ser
humano, ao sentir-se impotente perante as forças da natureza, ao não poder
aceder ao seu controle, ou pelo menos, ao não poder prever o seu
desenvolvimento, trata de improvisar um ritual que lhe dê a possibilidade de
recuperar parte da confiança perdida.
O animismo tem duas notas peculiares: o particularismo e o ceremonialismo.
Tenta-se trabalhar a alma, o espírito particular, individual e definido, de cada
um dos elementos sobre os quais se deseja atuar e, ao considerar a sua
personalidade espiritual, se quer descobrir a maneira de agradar ou atemorizar
o espírito em questão. Para isso, o pretendido conhecedor dessas almas
desenvolve a cerimônia que melhor lhe parece que pode resultar, de acordo
com a sua intenção. Neste caso, resulta claro que não há necessidade de
mediador, de sacerdote, porque as regras se vão criando segundo aparece a
necessidade correspondente. O espírito da coisa, do animal, ou do fenômeno
em questão, é uma alma concreta e o praticante também o é; portanto, a
cerimônia animista é uma conversa, um contato pessoal entre o espírito e o
demandante, que se ajuda com a magia que ele conhece, que aprendeu dos
seus maiores ou que intuiu que é a mais indicada para essa alma, a melhor
para essa ocasião concreta.

O ANIMISMO HOJE
Temos um interessante exemplo atual deste culto animista na Papua Nova
Guiné, a metade independente da ilha de Nova Guiné, com uma extensão de
perto de meio milhão de quilômetros quadrados e uma escassa população,
pouco mais de três milhões de habitantes; ora bem, neste novo país, no qual
apenas três por cento da população se declara oficialmente não cristã, existe o
culto animista mais moderno que se conhece. Começou com a chegada dos
europeus e a sua exibição de grandes embarcações, das quais desciam
portentosas maquinarias, instrumentos e bens, até a essa altura
desconhecidos para os papus (nome malaio que se refere ao cabelo
encrespado dos aborígenes). Pois bem, desde a Segunda Guerra Mundial, num
momento em que os papus assistiram a um portentoso incremento de
transportes militares na sua ilha, Papua viu como se acelerava e se
institucionalizava o culto da carga (Cargo Cult), com cerimônias
particularizadas na espera dos papus para que cesse a intervenção maléfica do
homem branco, o estrangeiro que muito bem sabem que foi quem desviou a
carga a eles destinada, primeiro nos barcos e agora nos aviões; no ritual
coletivo deste culto oficia-se através de modelos de aviões feitos
ingenuamente em madeira, com os quais se invoca os de verdade; a cerimônia
desenvolve-se periodicamente nas imediações do aeroporto da capital, em
outra maquete ritual do aeroporto de Port Moresby, precisamente para fazer
com que a magia atue em substituição, ao ser evidente que os aborígenes não
têm o poder nem os meios técnicos necessários para reclamar pela força essa
carga tão ansiada que exigem. Com certeza, se afirma que não há signos de
que este culto tenha remetido com a passagem do tempo, ao contrário, cada
dia parece mais estabelecido e melhor definido. Mas, ao mesmo tempo que
existe este culto moderno, se continua julgando que Kat foi o herói que trouxe
a noite aos humanos. A magia, em toda a Oceania, se assimila a uma forma de
defesa perante a realidade e a sua última conseqüência, a magia destrutiva é
simplesmente uma arma utilizada pelo oficiante num ato de legítima defesa
para destruir o inimigo, que não se pode parar doutro modo, mas esta magia
destrutiva só reveste o inofensivo aspecto (para nós, que não temos a
maldição) de um sortilégio pronunciado com todas as condições prescritas pelo
ritual.

O TOTEMISMO, O OUTRO PILAR


Uma visão especialmente significativa foi a que obteve da Austrália o grande
sociólogo Emile Durkheim, que descreveu na sua obra "As formas elementares
de vida religiosa" (1915) tudo o que pôde observar sobre o totemismo na
Austrália, nos núcleos de população indígena, definindo esse totemismo com
uma forma de pensamento que concebe os seres humanos como outra das
diversas partes integrante duma única natureza. No totemismo, a vida inteira é
uma unidade, e a vida religiosa, a crença, está tudo encadeado ao conjunto
universal. As cerimônias são a parte mais importante desta forma de crença e,
mais ainda, as grandes cerimônias (como em todas as religiões estabelecidas)
são também outra forma direta de explicar a sociedade; por isso, nos escassos
grupos aborígenes que vivem no interior da Austrália, ainda se podem
encontrar grandes ritos onde a presença da mulher está vetada. Esta proibição
é outra forma de acentuar a diferença social entre homens e mulheres. Estas,
por sua parte, também tinham e têm cerimônias exclusivas e separadas, como
separada na sua vida civil. Naturalmente, trata-se duma sociedade em que a
poligamia era uma forma habitual de construção familiar, com um número de
esposas variável dentro do continente australiano, mas oscilando entre um
mínimo de duas ou três e um máximo de vinte e nove entre os tiwi. No
estabelecimento do número de esposas, o critério mais importante era o dos
meios de que dispunha o cabeça de família e, como em todas as poligamias,a
primeira ou primeiras esposas eram as que pediam que se tomassem novas,
dado que a incorporação de esposas jovens descarregava de trabalho as
existentes e se traduzia num aumento da potência econômica do grupo
familiar.

PRÁTICAS TOTÉMICAS DA AUSTRÁLIA


Entre as práticas religiosas próprias da Austrália é possível encontrar em
Arnhem verdadeiros cantores tradicionais do ritual da "alcovitagem", oficiantes
em transe que recitam o que os espíritos lhes estão comunicando no seu
especial diálogo pessoal. Mas a prática totémica mais representativa do
território Ananda, na Austrália, está nos Tjurunga, os objetos sagrados
elaborados sobre pedras ou peças de madeira, com decoração e linguagem
sagradas,feito à base de incisões rituais.Outros ritos totêmicos de Arnhem
foram desde tempo imemorial os maraiin e os rangga. Os primeiros eram
representações realistas de pessoas, animais, plantas e objetos; os rangga
eram postes cerimoniais. Mas tudo isso construído sem nenhuma idéia de
permanência, dado que se tratava de objetos que se sabiam perecedouros,
porque só estavam destinados a servir de mensagem ritual nessa ocasião
concreta. No totemismo, a preocupação transcendental dos seres humanos
centra-se unicamente em dois pontos: em primeiro lugar, que as estações não
interrompessem a sua habitual sucessão nem variassem na sua forma
climática; depois, que a vida mantivesse também o seu ritmo habitual e que
decorresse com a continuidade esperada, isto é, que os seres vivos pudessem
continuar vivendo tranqüilamente, como sempre se tinha vivido, dentro das
coordenadas conhecidas através de gerações, sem que se tivesse que sofrer
por conseqüência de alguma mudança inesperada e não desejada.

A FÁCIL ENTRADA DOS EUROPEUS


Na Oceania, o homem branco que acaba de chegar à zona não encontra
oposição alguma, nem à sua presença nem às suas idéias. Só os fortes núcleos
maoris da Nova Zelândia, os habitantes mais guerreiros de toda a Oceania, se
enfrentam aos recém-chegados homens brancos e fazem-no durante um longo
período, sem se importarem com as numerosas baixas causadas por um
inimigo melhor armado e ainda melhor informado. São duas as causas desta
aceitação tão rápida, à parte do caráter aberto dos diferentes grupos de
população estabelecida. Nas ilhas de menor tamanho e população da Polinésia
e, sobretudo nas Havai, torna-se evidente a superioridade dos recém-chegados
e os habitantes, com um pragmatismo admirável, preferem seguir em tudo os
ditados dos europeus, até no concernente às suas diversas doutrinas cristãs
que trataram com eles, para tomarem todo o tempo necessário, até chegarem
a estabelecer a forma mais conveniente de atuar depois. Por outra parte, na
Melanésia,a cor pálida das peles européias está relacionada com a morte, com
os sagrados espíritos dos mortos. É esse aspecto esbranquiçado o que torna os
homens brancos respeitáveis aos olhos dos melanésicos e, em conseqüência,
se acata a sua presença e se obedecem as suas ordens, porque são a gente
vinda do mais-além, não só do outro lado do mar e, para maior evidência,o
poder que emana deste heterogêneo,mas decidido grupo de marinheiros,
penados, soldados, traficantes, missionários e aventureiros, com as suas
grandes e até a essa altura desconhecidas embarcações, as suas armas de
fogo e as suas inexplicáveis posses e energias, só faz reforçar o primeiro
conceito de que pertencem a um grupo diferente de seres sobrenaturais, pelo
menos.

MITOS COMUNS
Há muitos pontos comuns na mitologia dos diferentes agrupamentos insulares
da Oceania. Mas, naturalmente, as coincidências são tantas como as
discrepâncias e as peculiaridades de cada etnia ou grupo, digamos nacional,
sobretudo porque a enorme dispersão geográfica torna impensável que,
embora se partisse da mesma raiz religiosa, fosse possível conservar
inalterada a essência após pouco mais de um par de gerações, principalmente
na cultura de transmissão oral, na qual três gerações é o máximo passado que
se pode estabelecer com precisão cronológica. Portanto, a característica
primeira da mitologia de toda a região da Oceania é que se misturam com
facilidade os cultos gerais da zona com os desenvolvidos localmente, sem que
exista absolutamente nenhuma colisão ou oposição a esse casamento. Um dos
seres legendários e semi-divinizados que aparece com maior freqüência nas
diferentes áreas é Maui ou, mais exatamente, Maui-Tiki-Tiki, que é o herói
legendário, o ser divinizado de origem um humano pescador. Foi capaz de
realizar o descobrimento do fogo. E, como em tantas e tantas mitologias, esse
herói proporcionador do supremo bem do fogo não atuava em seu proveito,
porque o grande Maui-Tiki-Tiki, uma vez que possuiu o segredo do fogo,
cedeu-o generosamente aos seus companheiros os humanos. Também se tem
o grande Maui por divindade dos primeiros frutos nalgumas zonas da Polinésia
e Micronésia. Na Nova Zelândia, para os maoris, Maui é a divindade que
representa o Céu; nas ilhas Havai, Maui-Tiki-Tiki é o mesmo deus que
Kanaroa, isto é, é o deus supremo do seu panteão, enquanto nas ilhas Tonga,
ao noroeste da Nova Zelândia, Maui é somente um dos deuses simplesmente
importantes do seu abigarrado olimpo local. Mas também em Nova Zelândia,
no Havai e nas Tonga, coincide-se em relacionar Maui, o pescador, com a
origem da terra; firme, dado que nas três zonas, tão diversas, se fala do
pescador Maui como do artífice desse prodígio que foi recuperar a terra seca e
habitável das profundidades do mar. Noutras zonas da Austrália, como
Queensland ou New South Wales, conta-se que Maui marcou de vermelho a
cauda de um pássaro local, porque a ave quis roubar-lhe o fogo que ele tinha
descoberto, que é uma lenda muito similar à que se conta dos pássaros e do
fogo nas ilhas Havai.

A ILHA DE PÁSCOA. NO EXTREMO ORIENTAL


A ilha de Páscoa, Rapa-Nui no seu toponímico original, marca o confim oriental
da Oceania, numa longínqua avançada que se situa a mais de duas mil milhas
marinhas da Polinésia Francesa, a mais de mil milhas de Pitcairn e a outras
duas mil milhas da costa do Chile, país ao qual agora está adscrita, quase em
zona de ninguém.Esta ilha, à parte das estupidezes extraterrestres que se
tramaram a partir da surpreendente presença dos moais, as suas peculiares
estátuas monolíticas, é também a amostra de que a separação implicou a
perda da tradição original maori, embora se conserve grande parte do idioma
primigênio na linguagem atual.
No caso concreto da ilha Rapa-Nui, também há que dizer que as sucessivas
erupções dos seus três vulcões, que praticamente chegaram a acabar com
quase toda a vida humana na sua superfície, são a causa deste esquecimento
das tradições, junto com as mortíferas incursões de piratas e as não menos
cruéis expedições a partir das costas americanas à procura de mais escravos
para dotar de mão de obra barata as grandes plantações continentais, o que
leva à perda da capacidade de compreensão e interpretação completa da
linguagem autóctone dos pictogramas que se conservam nas escassas
tabuinhas supervinientes, nas poucas rangorango não destruídas. O que sim se
mantém em parte é a lenda do rei Hotu Matua, de um ariki do desconhecido e
longínquo reino de Hiva, que se viu obrigado a abandonar a sua terra quando
as águas do mar circundante começaram todas a crescer, inundando pouco a
pouco a ilha de Hiva, destruindo tudo com a sua imparável enchente, homens,
animais e cultivos. Hotu Matua mandou um dos seus mais leais súbditos, o fiel
Hau Maka, que realizasse uma viagem de exploração, submerso nos poderes
de um sonho mágico, para encontrar uma nova terra para onde levar a parte
do seu povo que pudesse salvar. Hau Maka sonhou em primeiro lugar com os
ilhéus que rodeiam Rapa-Nui, e deu-lhes os nomes dos netos que teria no
futuro; de lá viu a ilha grande e para ela foi. Percorreu-a toda, pela costa e o
interior, vendo as praias e subindo aos vulcões, pondo a todos os pontos o seu
devido nome até Anakena, na costa do norte da ilha,como lugar de chegada
para as canoas que tinham que vir trazer mais tarde toda a gente de Hiva que
pudesse escapar da morte segura.

A EXPEDIÇÃO A RAPA NUI


Despertado do seu sonho, Hau Maka comunica o conteúdo do mesmo ao ariki
Hotu Matua; o rei, contente com a precisa mensagem onírica recebida por Hau
Maka, ordena que sete homens saiam para a ilha para esperar nela a chegada
do grosso da emigração que tem que conduzir mais tarde o araki. Saem então
para a ilha salvadora de Rapa Nui os sete escolhidos: Ira, Raparenga, A-
Huatava, Ku-uku-u, Nomona A-Huatava, Ringingi A Huatava, Uure A-Huatava e
Makoi Ringingi A-Huatava. Cumprindo o real mandato, os sete chegam à ilha
indicada, mas o que vêem não lhes agrada, pois estão numa ilha arrasada
pelos ventos, rodeados por fortes correntes circulares que não permitem a
navegação para o mar aberto, numa má terra cheia de matagais e onde não
parece possível cultivo algum. Após os sete anos dedicados à construção dos
dois catamarans gigantes, chega, por fim,a Rapa Nui a expedição de Hiva, com
o ariki Hotu Mútua, com a ariki Vakai, comandando de um catamaran. No outro
vai a sua irmã Ava Rei Pua, esposa do ariki Tuu-ko-Ihu.Em total são duzentos
os passageiros das duas grandes embarcações, cem em cada uma delas. De
terra, os sete da ilha tratam de avisar para que não se deixem levar pelas
águas e saiam de lá, pois Rapa Nui não é um bom sítio para tentar continuar a
vida. Mas Hotu Matua responde que não há outra terra para eles senão essa
ilha. E se separam as duas pirogas, para que cada uma chegue a Anakena a
partir de um rumo diferente: Hotu Matua e a sua esposa Vakai fazem-no pelo
este, a sua irmã Ava Rei Pua aproxima-se pelo oeste. As duas mulheres parem
asim que pisam terra firme; Vakai teve um filho, a sua cunhada Ava Rei uma
filha; a estirpe real foi a primeira em nascer na nova terra. Após o duplo
nascimento, o rei e a sua comitiva plantaram as primeiras sementes, aquelas
sementes trazidas da Polinésia e que dão forma a uma ilha de Hiva
ressuscitada, apesar de que já não se pode sair de Rapa Nui e o povo de
navegantes esquece a navegação e fica confinado no último canto do Pacífico.

OS DEUSES DE RAPA NUI E OS MOAIS


No entanto, em todo este relato da saída do rei Hotu Matua (Matua significa
pai) da ilha Hiva e a posterior chegada dos maoris a Rapa Nui, não há
nenhuma explicação para os gigantescos moais, que nada significam para os
atuais habitantes, nem como ídolos sagrados nem como estátuas de
personagens históricos ou legendários respeitados, à parte do fato de
comentar-se que antes de estes maoris chegarem, habitava a ilha a gente de
orelhas largas, que o povo das orelhas curtas do araki Tuu-ko-Iho, o esposo de
Ava Rei Pua, matou tentando explicar o seu desconhecimento sobre a origem
dos moais, e a plausível versão da desaparição dos talhistas daqueles
monólitos antropomórficos,dos quais só sabem que muitos estão abandonados
nas canteiras das cimeiras,a meio talhar, sem que nenhum rapanuino tenha
podido dar conta de quando nem de como se produziu tal interrupção na sua
talha e posterior ereção nem a razão da sua presença nas ladeiras da ilha.
Quanto à mitologia da ilha de Páscoa, se menciona em primeiro lugar o deus-
pássaro Makumaku, do qual há multidão de talhas antigas,seguramente da
mesma época que a dos construtores de maois, nas rochas das montanhas
vulcânicas da ilha: se fala da existência dos Aku-aku, os espíritos invisíveis que
dão a chave das almas à população de origem maori; se pensa em outros
deuses secundários, como são Hava, Hiro, Raraia Hoa e Tive, mas não existe
uma doutrina sólida que una estes deuses e espíritos duma maneira coerente,
nem sequer que possa estabelecer um nexo entre as esculturas e os
povoadores atuais, dado que os nomes do mito que se mantiveram após a
cristianização só são personificações animistas residuais que dão sentido a
determinadas manifestações visíveis das forças mais temidas da natureza.

DE REGRESSO À AUSTRÁLIA
Embora Austrália seja um continente-ilha duma enorme extensão, com quase
oito milhões de quilômetros quadrados, a desertização do interior fez com
que,desde tempo imemorial, os núcleos de população aborigem da Austrália se
tenham dispersado nas mais férteis zonas costeiras; por essa razão, são muito
diversos os desenvolvimentos mitológicos próprios, com influências exteriores
ou sem elas. Entre os deuses principais está Upulera, o Sol, mas nas tribos de
Queensland diz-se que o Sol (que é feminino) foi criado pela Lua, e a tribo
Arunta pensa que o Sol é uma mulher nascida da terra e que ascendeu ao céu
com uma tocha, embora muitos grupos acreditem que o Sol saiu do interior de
um grande ovo de emú lançado para o Céu, recebendo o deus do Céu
advocacias como Koyan e Peiame.Como se pode ver,a Lua é uma divindade de
mais categoria que o Sol, o seu criador em muitas ocasiões, e se dá bastante
mais importância ao seu percurso noturno do que ao diurno do Sol. Em Vitória,
no sudoeste australiano, é o deus Pungil ou o seu filho Pallian, o criador do
primeiro homem, que modelam, um ou outro, do barro, embora outras tribos
do país falem do excremento dos animais como a base da sua criação, ou de
homens feitos de pedras e mulheres feitas com a madeira dos arbustos, ou
tiradas do fundo dum charco, com Pungil como pai dos homens e Pallian como
pai das mulheres. Também se cita os irmãos gêmeos Inapertwa como os dois
criadores dos primeiros seres humanos, sendo o deus Nurrudere o criador do
Universo completo. Em Queensland, no nordeste, Molonga é o nome dado ao
demônio. O demônio Potoyam é outra das personificações do mal, sendo Wang
o nome das almas sem corpo dos defuntos,enquanto Ingnas é o apelativo dado
aos duendes e o de Kobone é o nome de um animal totêmico com poderes
mágicos. Mas, como já se comentou antes, são as explicações animistas dos
animais as que figuram no primeiro lugar da mitologia indígena australiana,
com os pássaros ocupando, por sua vez, o degrau principal dos totens
zoomórficos, sobretudo nas lendas relacionadas com o descobrimento do fogo,
dado que são pássaros tão diferentes entre si como o corvo, a gralha, o falcão,
o régulo, os que roubam, trazem ou conseguem diretamente com o seu
esforço o primeiro brote da chama viva; mas também os pássaros são
mensageiros do dia e da noite, da vida e da morte, pescadores e caçadores
primigênios, e até uma grande ave terrestre, como é a avestruz australiana, o
emú. É mãe involuntária do Sol, porque de um ovo seu saiu o astro-rei.

NOVA ZELÂNDIA
Os maoris foram os mais combativos e aventureiros povoadores da área,
emigrantes eternos dos mares da Oceania; com eles se estenderam também
as suas divindades, sob a presidência do deus Tangaroa, que é o ser supremo
e com a inevitável presença da divindade mais ubíqua, Maui, que é o deus do
Céu e está acompanhado pela sua esposa Innanui. Nesse céu brilha Rona, o
Sol do dia, e Moramá, a Lua da noite, embora exista Papa, a Mãe, que também
representa a Lua, sendo então Rangi ou Raki, o seu companheiro e o deus do
Céu para outros grupos da Nova Zelândia, para quem esta é a dualidade
suprema. A raça humana começou com Oranova e Otaia, sendo Dopu, o filho
de Otaia, o senhor das trevas. No paraíso reina Higuleo e é Hne-Nui-Te-Po que
se encarrega de levar lá os espíritos dos humanos após a sua morte, porque é
a deusa das almas, enquanto Tokai representa na terra o poder do fogo e o
perigo dos vulcões, e no céu está Tawhaki, deus das nuvens e o trovão, um
dos seis filhos de Papa e Rangi, e irmão de Tane Mahuta, que é uma divindade
da selva. Estes dois irmãos, fiéis aos seus pais, enfrentaram os outros quatro
maiores, que queriam matar Papa e Rangi para que a luz do céu lhes chegasse
a eles, e conseguiram o seu propósito, embora na briga, a fúria do combate
arrastasse grande parte da superfície sob as águas do mar, por isso ficou tanta
extensão de água e tão pouca de terra firme. Finalmente, os animais totémicos
Kobong de Nova Zelandia cumprem a mesma função dos seus homônimos, os
fetiches Kobone da Austrália.

A POLINÉSIA FRANCESA
O Taiti goza-se duma rica mitologia, com o casamento dos deuses Tane e
Tarra como seres supremos e criadores de tudo o que existe no nosso Universo
visível, incluídos os seres humanos, como também o são em partes da Nova
Zelândia, onde Tane, criador da primeira mulher,teve com ela os humanos. No
Taiti, o divino casal está acompanhado na sua glória por outras deidades como
são: Po, a noite; o deus Aie, representação do céu; Avié, divindade da água
doce; Atié deidade do Mar, ou Malai, divindade do Vento. No céu estão o
luminoso Mahanna, o deus do Sol e as suas mulheres, como Topoharra, que
também é a divindade das rochas, e Tanu. Mas há uma grande deusa, a deusa
Pelé, a divindade do respeitado, por temível, interior dos vulcões,que tem na
maligna divindade de Tama-Pua, o porco-homem, o seu inimigo mortal e
eterno, embora Pelé conte com uma grande família de muitos irmãos e irmãs,
tão vulcânicos como ela, sempre dispostos a ajudá-lo na sua luta. Trata-se de
irmãos como Kamo-Ho-Arii, o deus dos vapores vulcânicos; Tané-Heitre, o
terrível bramido; Ta-Poha-I-Tahi, a explosão do vulcão; Te-ua-Te-Po, o da
chuva noturna, e o furioso Teo-Ahitama-Taura, o filho da guerra que cospe
fogo. As mais importantes irmãs da deusa Pelé são oito, desde as doces Ópio,
a personificação da juventude, e Tereiia, a que faz as guirnaldas de flores, até
Ta-bu-ena-ena, a personificação da montanha em chamas, passando por
Hiata-Noho-Lani, a Mãe e Senhora do Céu, Taara-Mata, a deusa dos olhos
brilhantes, Hi-te-Poi-a-Pelé, a que beija o seio de Pelé, Makoré-Wa-Wa-hi-aa, a
dos olhos fulgurantes que envia a brisa para as pirogas, e Hiata- WawahiLani,
a irmã que tem o poder de abrir os caminhos ao Sol e à Lua no céu e nas
nuvens.

OUTRAS MITOLOGIAS INSULARES


Os criadores, nas ilhas Havai, são Haumea e Akea, com Kanaroa, outra das
identidades do criador, como ser supremo, que também se conhece como o
Maui Tikitiki que reina sobre tantas ilhas do Pacífico, embora também se pense
que foram três os criadores do ser humano, os deuses Lono, Kane e Ku. Na
ilha de Molokai, Karai-Pachoa é o deus do Mal, enquanto o seu oponente,
Keoro-Eva, é o deus do Bem. O primeiro casal da Terra está formada por Rono,
que também é o deus do Mar, e a sua esposa Haiki-Vani-Ari-Apouma. No
grupo de cento 150 pequenas ilhas que formam o reino de Tonga, Kala-
Futonga é a deusa criadora verdadeiramente aborigem, enquanto Maui e
Tangaloa, adotados aqui como em tantas outras zonas de Oceania, são
simplesmente divindades importantes do panteão local, mas sem chegarem a
ser da entidade de Kala-Futonga, embora aqui também Maui seja o herói que
pescou a terra firme do fundo do mar e proporcionou a sua morada aos
humanos, embora fosse despedaçada em ilhas apartadas. Junto deles estão
Fenulonga, divindade da chuva: Tali-Ao-Tubo, da guerra; Alo-A-Io, divindade
dos elementos da natureza; Futtafua e a sua esposa Falkava, divindades do
mar,e os dois filhos de Tangaloa,Vaka-Ako-Uli e Tubo. Nas ilhas Fidji, como no
grupo das Tonga, outra deusa, Viwa, é a criadora primordial do Universo e de
tudo o que nele existe, incluídos os seres humanos, embora também esteja o
deus criador Onden-Hi, e Naengei seja um deus supremo à parte. Junto deles
estão Rua-Hata, divindade das águas e Rokowa, o ser legendário que se salvou
do dilúvio. Finalmente, para ajudar os humanos no êxito dos seus cultivos está
o deus Ratumaimbalu.

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