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Movimento de Mulheres Camponesas 1

Mulheres camponesas
rompendo o silêncio
e lutando pela não violência
2 Rompendo o silêncio e lutando pela não violência

Publicação do
Movimento de Mulheres Camponesas - MMC Brasil

Janeiro de 2004

Elaboração:
Sirlei Antoninha Kroth Gaspareto
Justina Inês Cima
Zenaide Collet
Vanderléia L. P. Daron

Desenhos:
Márcia Aliprandini

Diagramação:
MDA Comunicação

Apoio Financeiro:
SPM/PR - Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
da Presidência da República

Impressão:
Gráfica Coringa

Secretaria Nacional do Movimento de Mulheres Camponesas


Rua dos Andradas, 2832 - Bairro Boqueirão - 99010–035 Passo Fundo/RS
Fone/Fax: (54) 312 9683
E-mail: secretaria@mmcbrasil.com.br
www.mmcbrasil.com.br
Movimento de Mulheres Camponesas 3

Amigas e companheiras
O Movimento de Mulheres Camponesas – MMC está apre-
sentando a cartilha Mulheres camponesas rompendo o si-
lêncio e lutando pela não violência. Este material tem o
objetivo de contribuir nos grupos de base do MMC e outras
organizações no debate das raízes da violência praticada contra
as mulheres.
Entendemos que para superar a violência é necessário com-
preender suas causas, romper com o silêncio e nos organizar-
mos para combatê-la de forma coletiva buscando construir uma
nova sociedade com igualdade de direitos.
A cartilha esta organizada em três encontros:
1º Encontro: A sociedade capitalista e patriarcal
aprofunda a violência
2º Encontro: A violência é uma construção social
3º Encontro: O sonho do ser humano viver bem e
feliz é possível
É importante que as dirigentes convidem todas as mulhe-
res da comunidade, prepararem com antecedência os encon-
tros a partir da realidade de cada grupo de base, organizem um
local bem acolhedor e providenciem os materiais e símbolos.
Desejamos um bom estudo e com isto estaremos
fortalecendo a luta em defesa da vida, todos os dias!
4 Rompendo o silêncio e lutando pela não violência
Movimento de Mulheres Camponesas 5

Ambiente: Escrever em um cartaz a frase: A sociedade capi-


talista e patriarcal aprofunda a violência. Utilizar como
símbolo a bandeira do MMC.
Coordenadora: Com muita alegria quero desejar as boas vin-
das a todas vocês que aceitaram o convite para participar de
nossos encontros, que irão tratar sobre as causas da violência
contra a mulher camponesa. Sejam bem vindas e muito obri-
gada pela presença. Vamos iniciar cantando.
Canto: Sem medo de ser mulher
Coordenadora: Vamos ler juntas a frase deste cartaz:
A sociedade capitalista e patriarcal aprofunda a violência.
A violência contra as mulheres é uma prática muito antiga na
humanidade. Contudo, as diferentes formas de violência que
são praticadas contra as mulheres não podem ser vistas como
simples atos culturais. São crimes que precisam ser denuncia-
dos, condenados e combatidos com urgência.
Para iniciar nossa conversa sobre as causas da violência con-
tra a mulher camponesa, precisamos compreender que a for-
ma como se organiza a sociedade capitalista e patriarcal
6 Rompendo o silêncio e lutando pela não violência

aprofunda a violência. O que vocês pensam dessa forma, de


como a sociedade capitalista está organizada?
(Deixar falar e depois pedir para olhar os desenhos)

Coordenadora: Agora vamos olhar os desenhos e cada uma


pode dizer o que está vendo.
Os desenhos mostram que nós vivemos numa sociedade di-
vidida em classes sociais. Mesmo com todo o avanço da
modernidade, das técnicas, dos meios de produção, da co-
municação entre outros, a vida da população em geral, é
muito desigual.
Como podemos observar nos desenhos acima, de um lado,
temos um pequeno grupo - os poderosos que são donos e
controlam as riquezas, como: a terra, os bancos, os meios de
comunicação social, as indústrias, as máquinas, enfim os meios
de produção. Por outro lado, temos a grande maioria da po-
pulação – os trabalhadores e trabalhadoras que vendem a
força de trabalho e vivem em condições desumanas porque
aquilo que eles recebem é injusto diante daquilo que eles
produzem com o seu trabalho.
Movimento de Mulheres Camponesas 7

Leitora 1: Este jeito de organizar a sociedade onde uns possu-


em os meios de produção e ganham muito dinheiro e outros
vendem a força de trabalho e são explorados, se chama soci-
edade capitalista. Por que é uma sociedade que explora a
força de trabalho, esse modelo de sociedade domina, explora
e aliena a classe trabalhadora, criando dependência das pes-
soas aos poderosos, principalmente através do patrão.
E mais que isso, a grande maioria das pessoas pensam que
tudo isso é normal, que sempre foi assim e que não existe
outras formas das pessoas se organizarem para viver numa
sociedade diferente, igualitária e justa. Muitas pessoas traba-
lhadoras se contentam com migalhas que lhes são oferecidas
em forma de emprego, integrações das famílias agricultoras
às agroindústrias, salário, preços injustos dos produtos, altos
impostos, que por vezes origina as brigas criando inimizades
entre vizinhos e divisões entre os pobres.

Pirâmide
Musica Angolana Pirâmide
A terra dos homens pensada em pirâmide
Os poucos de cima esmagam a base
Os poucos de cima esmagam a base
Ó povo dos pobres,
povo dominado que fazes aí
Com ar tão parado.
O mundo dos homens
tem que ser mudado
levanta-te povo
Não fiques parado.
8 Rompendo o silêncio e lutando pela não violência

Leitora 2: Outra questão importante que devemos pensar é


que nós vivemos numa sociedade patriarcal, aonde a visão de
mundo criada é de que “o homem tem mais valor que a mu-
lher”. O homem recebe mais que a mulher por trabalho igual.
O homem manda e a mulher obedece. Os trabalhos da casa, o
cuidado dos filhos, idosos, doentes, portadores de deficiências
são, na maioria das vezes, tarefas de mulher. Além disso, entre
a mulher branca e a mulher negra há discriminação e racismo.
Esta sociedade onde o homem é mais valorizado que a mu-
lher, chamamos de sociedade patriarcal. Nesta forma patriarcal
da sociedade ser também a grande maioria das pessoas aca-
bam pensando que tudo isso é normal, que sempre foi assim e
que não existe outras formas das pessoas se organizarem para
viver numa sociedade diferente, igualitária e justa.
Leitora 1: Este modelo de sociedade capitalista e patriarcal
aprofunda a violência. Dados mostram que 23% das mulhe-
res brasileiras sofrem a violência doméstica. Em se tratando
das mulheres camponesas a violência se manifesta de várias
formas, como: 32,18% das
entrevistadas revelaram que
já sentiram-se humilhada por
exercer a profissão de traba-
lhadora rural, chamando-as
de burra, relachada, colona
grossa, entre outros. 44%
das entrevistadas disseram
que já foram enganadas nos
direitos. A pesquisa da conta
de que em Santa Catarina no
meio rural, 48% das entrevis-
tadas conhecem amigas que
são espancadas.
Movimento de Mulheres Camponesas 9

Leitora 2: Pois é companheira! Tudo isto que conversamos é


violência. Recebemos uma educação, um modo de ser, uma
cultura de violência que reforça o capitalismo. Assim a socie-
dade passa a legitimar, consentir e transmitir violência como
atitudes comuns, isto quer dizer, como algo normal, entre os
seres humanos. Desta forma, a sociedade capitalista se repro-
duz e se fortalece.
Leitora 1: Nós do Movimento de Mulheres Camponesas con-
denamos o sistema capitalista patriarcal porque é um sistema
baseado na desigualdade, na exploração, nos privilégios de
poucos, nas leis, nas normas e nas políticas sociais que fun-
damentam a inferioridade da mulher e a superioridade dos
homens. Este jeito de organizar e educar a sociedade é a raiz
da violência. E nós condenamos esta sociedade capitalista e
patriarcal porque estamos convencidas de que, como seres
humanos dotados de capacidade criadora podemos criar ou-
tros modos de vida onde as relações sociais são baseadas na
igualdade, no direito e na justiça.
10 Rompendo o silêncio e lutando pela não violência

Leitora 2: O capitalismo e o patriarcado só se mantém usando


da exploração e da violência contra os mais fracos. Entre eles
as mulheres são as que mais sofrem, pois são herdeiras e
vítimas de uma cultura milenar de violência e dominação.
Entretanto, quando estudamos, quando nós nos organizamos
e debatemos nossa vida em grupos como este encontro de
hoje, quando lutamos pelos direitos já estamos construindo
outras possibilidades de vida digna.

Para conversar:
1. O que você pensa sobre a seguinte afirmação: “a violência
é conseqüência desta sociedade patriarcal e capitalista”?
2. Como nós agimos diante da violência?
3. O que queremos para nós e nossas filhas?

Coordenadora: O que você achou do conteúdo desta nossa


reunião?
Vamos pegar a bandeira e cada uma vai dizer através de uma
palavra, como gostaria que fosse a vida das mulheres e como
gostaria de ver a sociedade.
Canto: Axé

Encaminhamentos: Marcar o próximo encontro. Que horas


inicia? Quem vai coordenar? Quem vai fazer as leituras? Que
tal trazer um lanche ou frutas, para partilhar?
Movimento de Mulheres Camponesas 11

Ambiente: Organizar o ambiente com flores e escrever em


tarjetas as palavras: valores, imposições.

Coordenadora: Sejam todas bem vindas ao nosso 2o. Encon-


tro do Movimento de Mulheres Camponesas que tem como
tema: A violência é uma construção social. Para iniciar
vamos ouvir uma estória.
Leitora 1: Certa lenda conta que estavam duas crianças pati-
nando em cima de um lago congelado. Era uma tarde nubla-
da e fria. As crianças brincavam sem preocupação. De repen-
te, o gelo se quebrou e uma das crianças caiu na água. A
outra criança, vendo que seu amiguinho se afogava de baixo
do gelo, pegou uma pedra e começou a golpeá-la com todas
as forças, conseguindo salvar seu amiguinho.
Quando os bombeiros chegaram e viram, o que havia acon-
tecido, perguntaram ao menino:
- Como você conseguiu fazer isso? É impossível que você
tenha quebrado o gelo com essa pedra e suas mãos são tão
pequenas!
Nesse instante apareceu uma anciã e disse:
12 Rompendo o silêncio e lutando pela não violência

- Eu sei como ele conseguiu.


Todos perguntaram: como? E então a mulher respondeu:
- Não havia ninguém ao seu redor para dizer-lhe que
ele não seria capaz.”
(Albert Einstein)

Coordenadora: O que chamou mais atenção nesta história?


(Deixar o grupo falar)

Leitora 2: Pois é, sempre disseram que nós mulheres somos


inferiores, que não temos capacidade, que o estudo não é
para nós. Esse tipo de violência gera dentro de nós sentimen-
to de inferioridade, passividade e acomodação. Devemos lem-
brar, como disse o poeta que: “cada uma de nós carrega em
si o dom de ser capaz e de ser feliz”!
Canto: Entrei na luta (ou outra música conhecida do grupo).
Coordenadora: Quem lembra o que conversamos na última
reunião? (deixar falar)
Vimos que a sociedade capitalista e patriarcal que vivemos
reproduz a violência sobre a classe trabalhadora e sobre as
mulheres. Muitas se submetem, acham que é normal, pen-
sam que é a única alternativa que existe. Outras reagem,
questionam os hábitos, costumes dos antepassados e pro-
põem novas práticas, novas relações. Nós já sabemos, tudo
está para ser construído e reconstruído.
Vamos formar os grupos para conversar sobre valores e im-
posições que aprendemos e herdamos de nossa cultura,
seja relacionado à religião, cuidado com a saúde, vida afetiva:
namoro, casamento, educação dos filhos, vida sexual, mens-
truação, gravidez, etc: Vamos responder duas perguntas:
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1. Que valores herdamos e aprendemos de


nossa cultura?
2. Que imposições herdamos e aprendemos
de nossa cultura?

(Dar tempo para as mulheres conversarem e depois ouvir cada grupo)

Leitora 1: Em todas as culturas, classes e religiões as mulheres


sofrem violência.
Leitora 2: A cada minuto que passa, muitas mulheres são abu-
sadas, humilhadas, agredidas, violentadas, espancadas, ex-
ploradas, mortas na maioria das vezes por homens próximos
a elas.
Leitora 1: A violência aparece na
esfera privada, quer dizer no
meio da família, no casamento,
no relacionamento pais e mães,
filhos e filhas. Essa violência se
expressa de muitas maneiras,
como: estupro conjugal, contro-
le psicológico, crime de honra,
assassinato de esposa, namora-
da, difamação, humilhação.
Leitora 2: Além da violência co-
tidiana no mundo privado, na
vida pública a violência é reproduzida através da pornografia
em revistas, jornais, propaganda, músicas. Acontece também
de outras maneiras como a esterilização em massa, assédio
sexual e moral no trabalho, nos espaços de lazer e diversões,
entre outras.
14 Rompendo o silêncio e lutando pela não violência

Coordenadora: Quem lucra com o uso e abuso do corpo da


mulher? A quem beneficiam? Pensemos um pouco...
Leitora 1: Precisamos pensar também como os valores da socie-
dade capitalista estão dentro de nós. A raiz da dominação das
mulheres está em acreditar que o homem é maior e melhor,
sabe e é mais inteligente que a mulher.
Leitora 2: A sociedade capitalista se mantém pelo viés do pa-
triarcado combinada com a exploração das trabalhadoras(es).
Quem de nós já ouviu de sua mãe ou conhecida contar que
não teve oportunidade de escolher seu parceiro? Ou então,
foram obrigadas a casar com um homem de “bem”, traba-
lhador, que tinha terra, dinheiro para preservar a honra e o
nome da família, normalmente escolhido pelo pai. Em todos
os tempos sempre existiu mulheres corajosas que reagiram
contra todo e qualquer tipo de violência, se organizaram e
lutaram por relações de respeito e igualdade entre as pessoas
e por condições dignas de trabalho. Por isso nossa luta é de
gênero e classe, ou seja, nossa luta é enquanto mulher e en-
quanto trabalhadora.
Leitora 1: Outra questão séria é o trabalho da mulher campo-
nesa, além de ser pouco valorizado, é um trabalho penoso e
difícil. Por exemplo: quando a produção de leite é pequena e
feita de forma manual é tarefa da mulher. Pois o que sobra
para a venda é pouca coisa. Já quando a produção de leite
aumenta é feita com ordenhadeira, a maioria das vezes o
homem assume este trabalho e a comercialização do leite. Ao
mesmo tempo ele recebe e controla o dinheiro. Mais uma vez
prevalece a cultura de que a mulher fica com as coisas pe-
quenas. A partir do momento em que a atividade cresce o
homem passa a coordenar.
Movimento de Mulheres Camponesas 15

Leitora 2: O uso de agrotóxicos,


que vem envenenando gente,
animais, água, terra e todo o
ambiente é uma grande violên-
cia. Estamos ficando doentes,
morrendo e destruindo a
biodiversidade. Esta prática é
uma violência contra nós mes-
mas e contra a vida. Este mo-
delo agrário e agrícola que veio
com o pacote da revolução ver-
de é fruto do modelo capitalis-
ta por isso violenta as mulhe-
res e suas famílias tornado-as
vitimas e dependentes das
multinacionais. Através da venda de sementes híbridas,
agrotóxicos, transgênicos, medicamentos, garantem o lucro
para um pequeno grupo de empresários. Este tipo de violên-
cia precisa acabar.
Leitora 1: As conseqüências da violência para a nossa vida são
graves e se manifestam na:
 Vergonha porque somos agredidas na intimidade e inte-
gridade física e psicológica.
 Culpa de não ter resistido diante das formas de violência.
 Agressão física sendo a primeira conseqüência na saú-
de, lesões, hemorragias, hematomas, morte... e conseqü-
ências psicológicas: medos, depressão, desânimo, incapa-
cidade etc.
 Medo de reagir e de se colocar como mulher capaz de
transformar essa situação e construir um outro mundo.
16 Rompendo o silêncio e lutando pela não violência

Leitora 2: Esses sentimentos negativos que vão se constituin-


do na vida das mulheres vão deixando marcas de medo, de
impotência e colocando a mulher cada vez mais em situação
de submissão, reproduzindo essa cultura com seus filhos e
filhas. A violência é uma das formas de controle da sociedade
sobre a vida das mulheres.
Para conversar
1. Podemos reagir diante da violência?
2. O que podemos sugerir?

Leitora 1: Temos muitos caminhos para reagir diante das situ-


ações de violência. Com o modelo de sociedade patriarcal e
capitalista a violência continuará. A primeira atitude que de-
vemos tomar é entender que a violência não é algo normal,
não é natural. A violência é produzida por esta sociedade
capitalista e patriarcal, que se reproduz através das relações
desiguais e desumanas entre as pessoas. Tudo em nome do
LUCRO que fica para um pequeno grupo. Ninguém gosta de
apanhar, ninguém quer passar fome,
nenhum ser humano deseja viver
humilhado. Nós precisamos lutar A violência
por uma sociedade, onde a vida não é algo normal,
do ser humano esteja acima de não é natural. A
tudo. violência é produzida
Leitora 2: As mulheres oprimi- por esta sociedade
das vão superando a violência capitalista e
na medida em que vão toman- patriarcal
do consciência das situações de vi-
olência e do direito de viver bem e
feliz.
Movimento de Mulheres Camponesas 17

Leitora 1: Precisamos nos organizar exigindo programas


educativos que promovam a igualdade nas relações de gêne-
ro, nas relações entre as pessoas, com a natureza construindo
a dignidade humana.
Leitora 2: Precisamos denunciar todo o tipo de violência. To-
mar posição frente as diferentes situações de violência e lutar
contra a impunidade dos agressores.
Leitora 1: Precisamos conversar e construir uma cultura de
igualdade, fraternidade, respeito às diferenças e justiça em
nossas práticas individuais e coletivas
Leitora 2: Sabemos que para construir uma nova sociedade só
será possível se tivermos as mulheres e o povo organizado.
Para nós mulheres camponesas, é fundamental fortalecer o
nosso Movimento, pois através de nossos grupos de base cons-
truímos as raízes de uma nova sociedade.

Encerramento: Convidar as mulheres para partilharem as flo-


res e as frutas que cada uma trouxe como um sinal de fortale-
cimento para que juntas se possa enfrentar a violência. Tam-
bém é importante marcar nosso próximo encontro e tarefas.
18 Rompendo o silêncio e lutando pela não violência

Coordenadora: Sejam todas bem vindas ao nosso terceiro


encontro. Hoje vamos continuar a conversa sobre as situa-
ções de violência que enfrentamos. Sintam-se todas acolhi-
das através desta mensagem.
O que espera aquela mulher,
que saiu bem cedo,
com vontade de viver...
E a vida lhe responde: injustiça, preconceito,
discriminação, sonhos negociados.
Mas ela não desiste, pois tem vontade de viver.
Não espera. Levanta-se. Caminha. Luta. Resiste.
E está aqui buscando um outro jeito de viver.
Canto: Mulher Agricultora.
Coordenadora: A sociedade capitalista prega e valoriza o indi-
vidualismo como uma forma de explorar o mais fraco. E diz
que para a pessoa viver bem e ser feliz precisa ser esperta,
trabalhar bastante, saber fazer as coisas e obedecer. Essa pes-
soa é que se dá bem na vida e será feliz. (Achamos este
trecho um pouco esquisito!)
Movimento de Mulheres Camponesas 19

Leitora 1: Nós vimos nas outras reuniões que não é bem as-
sim. O individualismo é mais uma forma de violência que
escraviza o homem e a mulher. Queremos ser respeitadas
individualmente e coletivamente. Paulo Freire dizia: “Ninguém
se educa sozinho, ninguém educa ninguém, a gente se educa
em comunidade”. Portanto, para as mulheres e nossas famíli-
as viverem bem, precisamos ter organização. Quanto mais
nós nos organizarmos, maior será nossa força para conquis-
tar uma vida melhor.

Leitora 2: A mulher vítima da violência passa ser a culpada da


violência. Existe uma idéia de que “quando um não quer dois
não brigam”. A mulher deve ser obediente, submissa, dócil, se
vestir decentemente, entender que o homem é diferente e pode
fazer o que quer. Se a mulher reagir e não aceitar essa situação
e for violentada, é a responsável pela violência.
Leitora 1: Além disso, quando sofre violência na sociedade é
porque não sabe ficar no seu lugar, se meteu aonde não foi
chamada, etc. Quando a violência acontece contra uma cri-
ança, adolescente, filha, filho é porque a mãe não soube edu-
car, deu mau exemplo.
20 Rompendo o silêncio e lutando pela não violência

Leitora 2: Talvez seja por isso que é tão difícil falar sobre o
tema da violência de forma madura, séria, com espírito de
solidariedade e de perceber o quanto é doloroso para quem
está com o problema.
Leitora 1: E para falar da violência que está acontecendo com
a gente, é mais difícil ainda porque a cultura que herdamos
de sermos a “rainha do lar”, esteio da casa e de que se estamos
vivendo algum tipo de violência é porque somos culpadas.
Mas o grande causador de tudo isto é o modelo de sociedade
que estamos vivendo. Muitas vezes as situações de violência
em casa é provocada pelas injustiças. Por exemplo: Na venda
dos produtos o preço baixo e falta as coisas em casa, para as
filhas e filhos, daí o pai desanima, bebe, briga em casa com a
mulher, com os filhos e o relacionamento fica muito difícil. As
pessoas não se sentem bem, destrói o diálogo, rompe com a
amizade, machuca o coração da mulher, das crianças, jovens
enfim de todos em casa.
Leitora 2: Então na maioria das vezes nos calamos e muitas
vezes fazemos de conta que não percebemos. Por isso, uma
das primeiras medidas para superar a violência é conse-
guir perceber e começar falar sobre isso, pois o silêncio
é cúmplice da violência. É claro que não podemos fazer isto
com qualquer pessoa, mas é muito importante ter alguém
para partilhar e quem sabe para ajudar pensar formas de aos
poucos ir mudando esta situação.
Leitora 1: Neste sentido, nosso grupo de base precisa estudar, e
pensar para enfrentar este grande problema que é a violência
praticada contra a mulher. Com certeza é uma grande luta.
Leitora 2: Nós já vimos que violência é crime. A causa, a raiz
da violência está na sociedade capitalista e patriarcal.
Movimento de Mulheres Camponesas 21

Então para avançar na construção de uma sociedade mais


humana, fraterna, com igualdade de direitos precisamos de
muito dialogo, organização e pensar juntas saídas para mu-
dar as situações de violência seja na casa, na produção, no
trabalho, na escola em todo o lugar. Porque o sonho do ser
humano viver bem e feliz é possível.

Para conversar:
1. Que atitudes podemos tomar para enfrentar a violência?
2. Que proposta podemos sugerir para o MMC avançar na
luta contra a violência?

 É importante que o grupo envie para a Secretaria Nacional


do MMC, no endereço a baixo, sua contribuição, encami-
nhando sujestões e propostas do que podemos fazer para
superar a violência.

Endereço:
Secretaria Nacional do
Movimento de Mulheres Camponesas
Fone/Fax: (54) 312 9683
E-mail: secretaria@mmcbrasil.com.br
Rua dos Andradas, 2832 - Bairro Boqueirão
99010–035 Passo Fundo/RS

Coordenadora: Vamos ficar de pé e todas segurar a bandeira


do MMC, para ouvirmos a mensagem final.
22 Rompendo o silêncio e lutando pela não violência

Mulher
(Autor desconhecido)
Mulher

A libertação há de chegar pela luta.


Pela nossa esperança.
Esta esperança que é partilhada
Quando nos reunimos.
Quando conversamos e vemos
Que os problemas são os mesmos.
As saídas devem ser buscadas
Em conjunto e em harmonia.
Esta harmonia que reconstruirá o mundo
E apontará uma nova mulher.

Canto: Sem medo de ser mulher.


Movimento de Mulheres Camponesas 23

1. Mulher agricultora
Letra e música: Antonio Gringo

Mulher Agricultora, mostra a tua cara.


Entra nessa luta, com a tua garra.
Vamos construindo a nova sociedade
Brigando por direitos, justiça e igualdade.
Busquemos com coragem e com muita paixão,
ternura e esperança em nosso coração,
exigindo respeito e participação
Declarando guerra aos que nos dizem não.
É o novo jeito de parir a vida.
Trabalhar a terra, produzir comida.
Homens e Mulheres, nesta relação,
é a sociedade em transformação.
Mulher agricultora, desperta vem lutar
Unidas e conscientes iremos caminhar.
Sabemos que o futuro está em nossa mãos,
Mostramos nossa força e organização.
24 Rompendo o silêncio e lutando pela não violência

2. Como águia que voa


Letra: Reneu Zortea / Música: José Corso

Como águia que voa que voa,


No mais alto do céu pra encontrar,
Um tesouro escondido do além,
Pra poder todas águias voar.
Nós também buscamos um tesouro,
Escondido nas lutas por vida.
Na mais linda vitória da águia.
Na linda vitória da águia,
Que aprendeu não viver oprimida.
Como águia na vida aprendemos.
A voar com as asas que temos.
Bem mais longe do nosso terreiro.
Sei que posso deixar o poleiro.
Pois na vida o bem se alcança,
Se voarmos com muita esperança,
sem temer ameaças que vem,
se é na praça gritamos também,
como águia que voa, que voa.
Como posso ficar sem voar!
Se aprendemos ser livres e amar.
Como águias que fortes voaram,
e pra morte nunca mais voltaram.
Vamos lá de bandeira na mão.
Punho erguido e cantando a canção,
que já vem a vitória sonhada.
Na história das lutas travadas,
como águia que voa que voa.
Movimento de Mulheres Camponesas 25

3. Entrei na luta
Letra e música: MMA/SC

Entrei na luta, da luta eu não fujo.


Pelos direitos, da eu não fujo
Pela igualdade, da luta eu não fujo.
Prá construir uma nova sociedade.
A flor na terra desabrocha e floresce.
O sol aquece com seu brilho e esplendor.
Chegou o tempo de colher, nossos frutos,
que juntos plantamos regando com amor.
A mulher explorada, da cidade e da roça,
acredita sempre na sua força de união.
Se organiza reclamando seus direitos,
perde a vergonha, luta com fé e decisão.

4. Pra mudar a sociedade


Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer,
Participando sem medo de ser mulher.
Porque a luta não é só dos companheiros
Participando sem medo de ser mulher
Pisando firme sem medir nenhum segredo
Participando sem medo de ser mulher
Pois sem mulher a luta vai pela metade
Participando sem medo de ser mulher
Fortalecendo os movimento populares
Participando sem medo de ser mulher
26 Rompendo o silêncio e lutando pela não violência

Na aliança operária e camponesa


Participando sem medo de ser mulher
Pois a vitória vai ser nossa com certeza
Participando sem medo de ser mulher

5. Axé
Irá chegar um novo dia, um novo céu,
uma nova terra, um novo mar.
E neste dia os oprimidos numa só voz
a liberdade irão cantar.

Na nova terra a mulher terá direitos


não sofrerá humilhação e preconceitos.
O seu trabalho todos vão valorizar,
nas decisões ela irá participar.

Na nova terra o negro não vai ter corrente, e o


Nosso índio vai ser visto como gente. Na nova
Terra o negro, o índio e o mulato, o branco todos
Vão comer do mesmo prato.

Na nova terra o fraco, o pobre e o injustiçado,


serão juízes deste mundo de pecado.
Na nova terra o forte, o grande e o prepotente,
irão chorar e até ranger os dentes.
Movimento de Mulheres Camponesas 27

6. Mulher rendeira
Olê mulher rendeira,
olê mulher renda
Se a mulher ficar em casa,
nunca vai se libertar

Em qualquer parte do mundo


Se trabalha pra viver
Tem mulher no meio da roça
Dando duro pra valer
Com força e dignidade, sempre acham o que fazer

Minha mãe teve três filhas


Com o nome de Maria
Trabalhava sempre em casa
E o meu pai é que saia
Hoje tenho orgulho delas, que criaram autonomia

As mulheres do nordeste
Criam fama de valente
Mesmo as semi-analfabetas
No trabalho é competente
Por justiça e liberdade, brigam até com o presidente

Quando quis fazer um verso


E as mulheres exaltar
Me lembrei de Margarida
Que era muito popular
E deixou uma semente, para a gente cultivar.
28 Rompendo o silêncio e lutando pela não violência

7. Apelo de mulher
Não sou escrava, nem sou objeto
Para fazer de mim o que bem quer
Não tenho dono, não sou propriedade
Eu quero liberdade, me deixa ser mulher!

Eu quero ser, me deixa ser o que mereço


Eu quero ser o que sou
Eu tenho meu valor e este não tem preço

Eu quero ser amiga e companheira


Quero mostrar a força do amor
Quero viver como tenho direito,
Não quero preconceito, me deixa ser quem sou.

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