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Sobre o Zelo

John Wesley

'É bom ser zeloso, mas sempre do bem, e não somente quando estou presente
convosco'. (Gálatas 4:18)

1. Existem poucos assuntos, em toda a extensão da religião, que são de tão


grande importância do que este. Porque, sem o zelo, é impossível, tanto obtermos
algum progresso considerável na religião, quanto executarmos algum serviço
considerável em nosso próximo; quer com respeito às coisas espirituais; quer nas
coisas temporais. E, ainda assim, nada tem causado mais desserviço à religião, ou
mais dano para a humanidade, do que um tipo de zelo que tem, por diversas eras,
prevalecido, tanto nas nações pagãs, maometanas, quanto cristãs. De tal maneira, que
se pode verdadeiramente dizer que o orgulho, a cobiça, a ambição, a vingança, têm,
em todas as partes do mundo, matado seus alguns milhares; mas o zelo, seus muitos
milhares.

Exemplos terríveis disto ocorreram nos tempos antigos; na maioria das nações
pagãs civilizadas. A ele, principalmente, foram devidas as perseguições desumanas
aos protestantes, através da Igreja de Roma. Foi o zelo que acendeu os fogos em nossa
nação, durante o reinado sangrento da Rainha Mary. Foi o zelo que, logo depois, fez
de tantas províncias da França, um campo de sangue. Foi o zelo que assassinou tantos
milhares de protestantes submissos, no massacre a nunca ser esquecido de Paris. Foi o
zelo que ocasionou o ainda mais horrendo massacre na Irlanda – igual ao que, tanto
com respeito ao número de assassinatos, e às circunstâncias chocantes, na qual muitos
desses assassinatos foram perpetrados, eu sinceramente acredito, nunca ocorrera antes
desde o início do mundo. Quanto às outras partes da Europa, um escritor alemão
eminente esforçou-se para buscar tanto os registros nos vários locais, quanto as mais
autênticas histórias, com o objetivo de obter algum conhecimento competente do
sangue que tem se espalhado, desde a Reforma, e calculou que, parcialmente, devido à
perseguição privada; parcialmente, devido às guerras religiosas, no decurso de
quarenta anos, contando desde o ano de 1520, acima de quarenta milhões de pessoas
foram destruídas!

2. Mas não é possível distinguir o zelo correto do errado? Sem dúvida que é.
Mas torna-se difícil; tal a falsidade do coração humano; tão habilmente exercendo
suas paixões do seu modo. E existem excessivamente poucos tratados sobre o assunto,
pelo menos na Língua Inglesa. A este respeito, eu tenho visto e ouvido alguns poucos
sermões; e estes foram escritos há mais de cem anos atrás, pelo Dr. Sprat, Bispo de
Rochester; de modo que agora é excessivamente raro.

3. Eu alegremente apostaria minha moeda, com a assistência de Deus, para


esclarecer esta importante questão, com o objetivo de capacitar homens de
compreensão, que estão desejosos de agradar a Deus, a distinguirem o zelo cristão
verdadeiro, de suas várias falsificações. E isto é mais necessário, neste momento, do
que foi durante muitos anos. Sessenta anos atrás, raramente pareceu existir uma tal
coisa como zelo religioso, restante na nação. As pessoas, em geral, eram
surpreendentemente indiferentes e despreocupadas com respeito a esta insignificância
religiosa. Mas, desde então, é fácil observar que tem existido uma alteração muito
considerável. Muitos milhares, quase em toda parte da nação, têm sentido um desejo
real de salvar suas almas. E eu estou persuadido de que existe, no momento, mais zelo
religioso na Inglaterra, do que existiu há século.

4. Mas este zelo tem sido de uma forma correta ou errada? Provavelmente,
tanto de um modo, quanto de outro. Vamos ver se nós podemos separá-los; de modo
que possamos evitar o último, e sermos fiéis ao primeiro. Com este objetivo, eu
gostaria de inquirir:

I. Qual a natureza do verdadeiro zelo cristão?

II. Quais são as propriedades dele?

III. Esboçar alguns exemplos práticos.

Em Primeiro Lugar, qual é a natureza do zelo em geral, e do verdadeiro zelo


cristão, em particular?

1. A palavra original, em sua significação primitiva, quer dizer quentura; tal


como a quentura da água fervente. Quando ela é figurativamente aplicada à mente, ela
significa alguma emoção ou afeição calorosa. Alguma coisa que é tomada por inveja.
Assim nós entendemos em (Atos 5:17), onde lemos: 'E, levantando-se o sumo
sacerdote, e todos os que estavam com ele (e eram eles da seita dos saduceus),
encheram-se de inveja', -- embora possa ser também afirmado que eles foram
preenchidos com zelo. Algumas vezes, ela é tomada por ira e indignação; algumas
vezes, por desejo veemente. E quando algumas de nossas paixões são fortemente
voltadas para a religião, quer por causa de alguma coisa boa, ou contra alguma coisa
que nós concebemos ser má, isto nós denominamos de zelo religioso.

2. Mas nem tudo que é chamado de zelo religioso, é merecedor deste nome.
Não se trata propriamente de zelo religioso ou cristão, se não estiver unido à caridade
(amor). Um escritor primoroso (Bispo Sprat) levou o assunto ainda mais adiante: 'Tem
sido afirmado', diz aquele grande homem, 'que nenhum zelo é correto, que não seja
amoroso, mas a maioria das vezes, é assim. Caridade, ou amor, não é apenas o único
ingrediente, mas o principal ingrediente nesta composição'. Nós podemos ir ainda
mais longe? Nós não podemos dizer que o zelo verdadeiro não é, na maioria das
vezes, caridade, mas totalmente assim? Quer dizer, se levarmos a caridade, naquilo
que Paulo significou como sendo amor; o amor de Deus e nosso próximo. Porque é
uma verdade certa (embora pouco entendida no mundo) que o zelo cristão é todo
amor. E nada mais. O amor de Deus e homem preenchendo toda a natureza.

3. Ainda assim, esta apelação não é feita para todo grau daquele amor. Pode
existir algum amor, um pequeno grau dele, onde não existe zelo. Mas é, propriamente,
amor em um nível mais elevado. É o amor fervoroso. O verdadeiro zelo cristão não é
outro do que a chama do amor. Esta é a natureza, a essência interior dela.

II
1. Disto, segue-se que as propriedades do amor são as propriedades do zelo
também. Agora, uma das principais propriedades do amor é a humildade: 'Amor não
se ensoberbece'. Assim sendo, está é uma propriedade do zelo verdadeiro: a
humildade é inseparável dele. Como é o grau de zelo, tal é o grau de humildade: eles
podem se erguer e cair juntos. O mesmo amor que preenche um homem com zelo por
Deus, o torna pequeno, pobre e vil aos seus próprios olhos.

2. Uma outra das propriedades do amor é a mansidão: conseqüentemente, é


uma das propriedades do zelo. Ela nos ensina a sermos mansos, assim como
modestos; para sermos igualmente superiores à ira ou orgulho. Assim como a cera se
derrete ao fogo; assim, diante desta chama sagrada, todas as paixões turbulentas se
derretem, e deixam a alma serena.

3. Ainda uma outra propriedade do amor, e, conseqüentemente, do zelo, é a


paciência inabalável: porque 'o amor suporta todas as coisas'. Ela arma a alma com
inteira resignação, para com todos os dispositivos da Providência Divina, e nos ensina
a dizer em toda ocorrência: 'É o Senhor; que ele faça o que lhe pareça bom'. Ela nos
capacita, em qualquer que seja o estado, a estarmos satisfeitos; a não nos queixarmos
de coisa alguma, 'mas em todas as coisas, darmos graças'.

4. Existe uma quarta propriedade do zelo cristão, que merece ser mais
particularmente considerada. Isto nós aprendemos das mesmas palavras do Apóstolo:
'é bom sermos zelosamente afetados sempre'. (Gálatas 4:18) 'mas sempre do bem, e
não somente quando estou presente convosco'.(não ter toques passageiros de zelo,
mas uma disposição firme e enraizada), 'nas boas coisas: no que é bom': porque o
objeto apropriado do zelo é bom, no geral; ou seja, tudo que é bom; realmente tal,
aos olhos de Deus.

5. Mas o que é bom aos olhos de Deus? O que é aquela religião, da qual Deus
sempre se agrada? Como as partes desta ergue-se uma encima da outra? E qual o valor
comparativo delas?

Este é um ponto excessivamente pouco considerado, e, portanto, pouco


entendido. Da divindade concreta, muitos têm algum conhecimento sobre. Mas
poucos sabem alguma coisa da divindade comparativa. Eu nunca vi, a não ser um
tratado sobre este assunto; um esboço, o qual pode ser de uso anexar.

Em um crente cristão, o amor se situa sobre o trono que é erguido no mais


profundo da alma; ou seja, o amor de Deus e homem, que preenche todo o coração, e
reina sem um rival. Em um círculo, perto do trono estão todos os temperamentos
santos; -- longanimidade, gentileza, mansidão, fidelidade, temperança; e se algum
outro for incluído nele, 'a mente que estava em Jesus'. No exterior do círculo, estão
todas as obras de misericórdia, se para as almas, ou para os corpos dos homens.
Através dessas, nós exercitamos todos os temperamentos santos – através dessas, nós
os aperfeiçoamos continuamente, de modo que todos esses são meios reais da graça,
embora isto não seja comumente aludido a respeito. Próximo a estas, estão aquelas
que são usualmente denominadas obra de devoção – lendo e ouvindo a palavra;
através de oração pública, familiar, privada; recebendo a Ceia do Senhor; jejuando ou
abstendo-se.
Por fim, para que seus seguidores possam mais efetivamente estimular, um ao
outro, ao amor, temperamentos santos, e boas obras, nosso abençoado Senhor os tem
unido em um só corpo, a igreja, dispersa por toda a terra – um pequeno emblema da
qual, da igreja universal, nós temos em toda congregação cristã particular.

6. Esta é aquela religião que nosso Senhor tem estabelecido sobre a terra,
desde a descida do Espírito Santo, no dia de Pentecostes. Este é o sistema completo,
associado do Cristianismo: e, assim, as diversas partes dele erguem-se uma sobre a
outra, do ponto mais baixo, onde nos encontramos, para o mais alto – o amor
entronado no coração. E disto, é fácil compreender o valor comparativo de cada ramo
da religião. Disto, apenas, nós aprendemos a quinta propriedade do zelo verdadeiro.
Que como sempre é exercitada no que é bom; sendo sempre proporcionada para
aquele bem, para o grau de bondade que está no seu objetivo.

7. Por exemplo: Todo cristão deve, sem dúvida, ser zeloso pela igreja; tendo
uma forte afeição para com ela, e sinceramente desejando sua prosperidade e
crescimento. Ele deve ser assim zeloso, também para a igreja universal, orando por
ela continuamente; e, especialmente, também, por aquela igreja particular da
sociedade cristã, onde ele próprio é um membro. Para isto, ele deve lutar com Deus na
oração; entretanto, usando todos os meios em seu poder para ampliar seus limites, e
para fortalecer seus irmãos, para que eles possam adornar a doutrina de Deus, nosso
Salvador.

8. Mas ele deveria ser mais zeloso pelas ordenanças de Cristo do que pela
própria igreja; pelas orações em público e privado; pela Ceia do Senhor; por ler, ouvir
e meditar em Sua palavra; e pelo muito negligenciado dever de jejuar. Esses ele deve
sinceramente recomendar; primeiro, pelo seu exemplo; e então, através de conselho,
argumento, persuasão, exortação, tanto quanto a ocasião ofereça.

9. Assim, ele deveria mostrar seu zelo pelas obras de devoção; mas muito mais
pelas obras de misericórdia; vendo que 'Deus quer misericórdia, e não sacrifício'; ou
seja, preferivelmente, do que sacrifício. Quando quer, portanto, que alguém interfira
com o outro; as obras de misericórdia devem ser preferidas. Mesmo o ler, ouvir, e orar
devem ser omitidos, ou serem adiados, 'diante do poderoso chamado da caridade';
quando nós somos chamados para aliviar a aflição de nosso próximo, quer no corpo,
ou na alma.

10. Já que somos assim tão zelosos para com todas as boas obras, nós devemos
ser ainda mais zelosos pelos bons temperamentos; para plantarmos e promovermos,
em nossas próprias almas, e em todos com quem tivemos intercurso, a mansidão de
mente, misericórdia, gentileza, longanimidade, satisfação, resignação, junto à vontade
de Deus, e morte para o mundo e as coisas do mundo, como único meio de estarmos
verdadeiramente vivos para Deus. Porque dessas provas e frutos da fé viva, nós não
podemos ser também zelosos. Nós devemos 'falar deles, quando estivermos em
nossas casas'; 'quando caminharmos pela rua'; 'quando nos deitarmos; e 'quando nos
levantarmos'. Nós devemos fazer deles motivo contínuo de oração; como sendo muito
mais excelente do que qualquer obra exterior que seja: vendo que as outras se
extinguirão quando o corpo tombar; mas essas continuarão conosco para a eternidade.
11. Mas nosso zelo preferido poderia ser reservado para o próprio amor – a
finalidade do mandamento, o cumprimento da lei. A igreja, as ordenanças, as obras
exteriores de qualquer tipo; sim, todos os outros temperamentos santos, são inferiores
a isto, e se erguem em valores, apenas quando chegam mais e mais perto dele. Aqui,
então, está o grande objetivo do zelo cristão. Que todo crente verdadeiro em Cristo
consagre-se, com todo espírito de fervor, a Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus, para
que seu coração possa ser mais e mais ampliado no amor para com Deus e toda a
humanidade. Que ele faça apenas isto: que ele 'estimule-se para este prêmio de nosso
do alto chamado por Deus, em Jesus Cristo'.

III

Resta apenas esboçar algumas inferências práticas das observações


precedentes.

1. Em primeiro Lugar, se o zelo, o verdadeiro zelo cristão, for nada mais do


que a chama do amor; então, o ódio, em todos os tipos e grau, toda sorte de amargura
em direção a esses que se opõem a nós, está tão longe de merecer o nome de zelo, que
chega a estar diretamente em oposição a ele. Se o zelo for apenas amor fervoroso,
então ele se situa a uma distância extrema do preconceito; ciúme, conjecturas
diabólicas; vendo que 'o amor não deseja o mal'. Então, a idolatria de qualquer tipo, e
acima de tudo, o espírito de perseguição, são totalmente inconsistentes com ele.
Portanto, que nenhum desses temperamentos profanos proteja-se debaixo deste nome
sagrado. Uma vez que todos esses são obras do diabo, que eles apareçam em suas
próprias formas, e não mais debaixo daquele disfarce ilusório enganando os filhos
desavisados de Deus.

2. Em Segundo Lugar, se a humildade for uma propriedade do zelo, então, o


orgulho é inconsistente com ele. É verdade, que algum grau de orgulho pode
permanecer antes que o amor de Deus se espalhe, para fora do coração; já que este é
um dos últimos males que será arrancado, quando Deus fizer todas as coisas novas;
mas ele não pode reinar, nem reter qualquer poder considerável, onde o amor
fervoroso é encontrado. Sim, fôssemos dar caminho a ele, ainda que pouco, ele iria
sufocar aquele fervor santo e, se nós não voltássemos imediatamente para Cristo, ele
iria extinguir completamente o Espírito.

3. Em Terceiro Lugar, se a mansidão for uma propriedade inseparável do


zelo, o que poderemos dizer daqueles que chamam seu trado, por este nome? Com
que objetivo eles fazem isto? Para que eles confundam a verdade totalmente; para
que, em um sentido mais completo, eles coloquem trevas no lugar de luz, -- e luz, no
lugar de trevas. Nos não podemos ser tão vigilantes contra esta ilusão, porque ela se
espalha sobre todo o mundo cristão. Quase em todos os lugares, zelo e ira passam por
termos equivalentes; e bem poucas pessoas estão convencidas de que existe alguma
diferença entre eles. Quão comumente nós ouvimos dizer: 'Veja quão zeloso o homem
é!'. Não. Ele não pode ser zeloso; isto é impossível, porque ele age com paixão; e a
paixão é tão inconsistente com o zelo, quanto a luz com a escuridão, ou o céu com o
inferno!

Seria bom que todo este ponto fosse totalmente entendido. Vamos considerá-lo
um pouco mais além. Nós freqüentemente observamos alguém que leva o caráter de
um homem religioso, veementemente irado com seu próximo. Talvez, ele chame seu
irmão de Raca [termo injurioso siríaco, empregado na linguagem bíblica; pessoa
mentecapta, sandia, sem juízo], ou Tu, tolo. Ele traz uma acusação infamante contra ele.
Você moderadamente o adverte de sua veemência. Ele responde: 'É meu zelo!'. Não: é
o seu pecado; e, a menos que você se arrependa dele, ele irá mergulhar você ainda
mais fundo do que a sepultura. Existe bem mais desse zelo, no abismo sem fim. É
para lá que todo o zelo deste tipo vai; e é para lá que ele irá, e você com ele, a menos
que você seja salvo dele, antes que siga adiante!

4. Em quarto Lugar: Se a paciência, contentamento, e resignação são as


propriedades do zelo, então, o murmúrio, mau humor, descontentamento, impaciência,
são completamente inconsistentes com ele. E ainda assim, quão ignorante é a
humanidade disto! Quão freqüentemente, nós vemos os homens lamentando da
incredulidade, ou dizendo a você, que eles estão sem paciência para com tais ou tais
coisas, e denominando tudo isto de zelo! Ó, não economize esforços, para abrir-lhes
os olhos! Se for possível, mostre a eles do que se trata o zelo; e os convença de que
todo murmurar, ou queixar-se do pecado, é uma forma de pecado, e não tem
semelhança, ou ligação com o verdadeiro zelo do Evangelho.

5. Em Quinto Lugar, se o objeto do zelo for aquele que é bom, então, o


fervor para alguma coisa má não é zelo cristão. Eu cito como exemplo a idolatria, a
adoração de anjos, santos, imagem, a cruz. Ainda que, conseqüentemente, um homem
esteja tão sinceramente ligado a algum tipo de adoração idolátrica, que ele poderia até
'entregar seu corpo para ser queimado', preferivelmente, a se refrear dela, você
poderá chamar a isto de fanatismo ou supertição, se lhe agradar, mas não o chame de
zelo; que é completamente uma outra coisa.

Das mesmas premissas, segue-se que o fervor por coisas indiferentes não é
zelo cristão. Mas quão excessivamente comum é este engano também! De fato,
alguém poderia pensar que os homens de entendimento não seriam capazes de tais
fraquezas. Mas, ai de mim! A história de todas as épocas prova o contrário. Quais
foram os homens de mais entendimento, do que o Bispo Ridley, e o Bispo Hooper? E
quão fervorosamente, esses e outros grandes homens desta época disputaram a
respeito dos paramentos sacerdotais! Quão impetuosa, foi a contenda, por quase cem
anos, pró e contra usarem uma sobrepeliz! [Vestidura eclesiástica, branca, de tecido fino,
caindo do ombro até a cintura, pouco mais ou menos, com mangas soltas ou muito largas, ou
ainda sem elas, que os eclesiásticos envergam por cima da batina, e que também é usada pelos
leigos que desempenham funções dentro da igreja]. Oh! Envergonhe-se, homem! Eu
poderia, tão logo, ter disputado a respeito de uma palha ou um grão de cevada. E isto,
realmente, deve ser chamado de zelo! E por que não foi, antes, chamado de sabedoria
ou santidade?

6. Segue-se, também, das mesmas premissas, que o fervor por opiniões não é
zelo cristão. Mas quão poucos estão sensíveis disto! E quão inumeráveis são os danos
que mesmo essas formas de zelo falso têm ocasionado no mundo cristão! Quantas
vidas têm sido destruídas, por esses que foram zelosos pelas opiniões católicas!
Quantos dos mais excelentes da terra têm sido mortos pelos zelotes; pelas opiniões
insensíveis de transubstanciação! [Transformação da substância do pão e do vinho, durante
a consagração da missa, na substância do corpo e sangue de Jesus Cristo] Mas será que toda
pessoa imparcial não vê que este zelo é 'mundano, carnal, demoníaco'; e que ele se
situa no extremo oposto daquele zelo que é aqui recomendado pelo Apóstolo?

Que excesso de amor é este, então, que nosso grande poeta expressa em seu
'Poema sobre o Dia Final', onde ele fala do encontro no céu:

Esses que pelas feridas mútuas expiraram, queimados, pelo zelo de suas
distintas persuasões!

Zelo, realmente! Que tipo de zelo foi este, que os conduziu a cortarem, um a
garganta do outro? Estes que foram queimados com este espírito, e morreram nisto,
irão, sem dúvida ter sua porção, não no céu (apenas o amor está lá), mas no fogo que
nunca será extinto'.

7. Finalmente, se o zelo verdadeiro for sempre proporcionado pelo grau de


santidade que está em seu objetivo, então, ele se ergueria mais e mais alto, de acordo
com a escala mencionada acima; de acordo com o valor comparativo das diversas
partes de religião. Por exemplo, todo aquele que verdadeiramente temesse a Deus
seria zeloso pela igreja; tanto pela católica, quanto pela igreja universal, e por toda
parte dela onde eles são membros. Este não é o objetivo dos homens, mas de Deus.
Ele viu que "não seria bom aos homens estarem sós"; mesmo neste sentido, mas que
todo o corpo de seus filhos poderia estar 'unido, e fortalecido, através daquilo que
toda união supre'. E ao mesmo tempo, eles seriam mais zelosos pelas ordenanças de
Deus; pela oração pública e privada; por ouvir, e ler a palavra de Deus; pelo jejum e
Ceia do Senhor. Mas eles poderiam ser mais zelosos pelas obras de misericórdia, do
que mesmo pelas obras de devoção. Ainda assim, deveriam ser mais zelosos ainda,
com respeito aos temperamentos santos, humildade, mansidão, resignação: e ainda
mais zelosos, pelo que é a somatória e a perfeição da religião: o amor a Deus e ao
homem.

8. Resta apenas fazer uma aplicação pessoal e honesta, dessas coisas, às nossas
próprias almas. Nós todos sabemos a verdade geral, de que 'é bom sermos sempre
zelosamente afetados nas boas coisas'. Mas agora, que cada um de nós, o aplique à
sua própria alma em particular.

9. Esses, de fato, que ainda estão mortos nas transgressões e pecados, têm
nenhuma parte, nem porção neste assunto; nem esses que vivem em algum pecado
declarado, tais como bebedeira, quebra do Sabbath, ou juramento profano. Esses nada
têm a ver com o zelo; eles não têm negócio algum, afinal; até mesmo, para colocarem
a palavra em suas bocas. É insensatez e impertinência extrema, alguém falar de zelo
por Deus, enquanto está praticando as obras do diabo. Mas, se vocês têm renunciado
ao diabo e todas as suas obras; e têm colocado em seus corações: 'Eu irei adorar o
Senhor meu Deus, e a Ele apenas irei servir'; então, cuidem de serem, nem frios, nem
esquentados; assim sendo, sejam zelosos por Deus. Vocês podem começar pelos
passos menores. Sejam zelosos pela Igreja, mais especialmente, por aquele ramo
particular, em que sua sorte está lançada. Planejem o bem-estar desta, e,
cuidadosamente, observem todas as suas regras; por causa da consciência. Mas, neste
meio tempo, cuidem de não negligenciarem alguma das ordenanças de Deus; uma vez
que, por causa delas, em uma grande medida, a própria igreja foi constituída: de modo
que seria altamente absurdo falar de zelo pela igreja, se vocês não foram mais zelosos
por elas. Mas vocês são mais zelosos pelas obras de misericórdia, do que mesmo
pelas obras de devoção? Vocês seguem o exemplo de nosso Senhor, e preferem a
misericórdia, mesmo antes do sacrifício? Vocês usam de toda diligência, para
alimentar o faminto, vestir o nu, visitar aqueles que estão doentes e na prisão? E,
acima de tudo, vocês usam de todos os meios em seu poder para salvar as almas da
morte? Se, quando vocês têm tempo, 'fazem o bem a todos os homens', ainda que
'especialmente àqueles que são da casa da fé'; seu zelo pela igreja é agradável para
Deus: mas se não, se vocês não forem 'cuidadosos para manterem as boas obras', o
que vocês farão com a igreja? Se vocês não têm 'compaixão para com seu próximo',
nem seu Senhor terá compaixão por vocês. 'Não tragam mais vãs oferendas'. Todos os
seus serviços são 'uma abominação para o Senhor'.

10. Vocês foram melhores instruídos, a não separarem o que Deus tem
juntado? A não separarem as obras de devoção das obras de misericórdia? Vocês são
uniformemente zelosos de ambas? Se assim for, vocês caminham agradavelmente
para Deus; ou seja, se vocês continuamente têm em mente que Deus 'sonda o coração
e reina nele'; que 'Ele é um Espírito; e aqueles que o adoram, devem adorá-lo, em
espírito e verdade'; que, conseqüentemente, nenhuma obra exterior é aceitável para
Ele, a menos que brote dos temperamentos santos, sem o que, nenhum homem poderá
ter um lugar no reino de Cristo e Deus.

11. Mas de todos os temperamentos santos, e acima de todos os outros, vejam


que vocês sejam mais zelosos pelo amor. Considerem todas as coisas menores, em
comparação a isto – o amor a Deus e à toda humanidade. É mais certo que, se vocês
deram todos os seus bens para alimentarem o pobre; sim, se seus corpos forem
queimados, e não tiveram amor humilde, gentil e paciente, de nada aproveitarão. Que
isto esteja profundamente gravado em seus corações: 'Tudo isto é nada, sem amor!'.

12. Então, considerem toda a religião junta, exatamente como Deus tem
revelado em Sua palavra; e sejam uniformemente zelos por cada parte dela, de acordo
com seu grau de excelência. Alicerçando todo nosso zelo nesta única fundação: 'Jesus
Cristo e Nele crucificado'; abraçando, o mais rápido possível, este único princípio: 'A
vida que eu agora vivo, eu vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou, e deu a si
mesmo por mim'; tornando seu zelo proporcional ao valor de seu objetivo. Sejam
calmamente zelos, portanto, primeiro pela Igreja; 'todo o estado da igreja de Cristo
militante aqui na terra': e, em particular, por aquele ramo, com o qual vocês estão
mais imediatamente ligados. Sejam mais zelosos por todas essas ordenanças que
nosso abençoado Senhor tem designado; para continuarem nelas, até o fim do mundo.
Sejam mais zelos pelas obras de misericórdia; esses 'sacrifícios dos quais Deus se
agrada'; essas marcas, por meio das quais o Pastor de Israel conhecerá suas ovelhas
no dia final. Sejam ainda mais zelosos pelos temperamentos santos, pela
longanimidade, gentileza, mansidão, humildade, resignação; mas sejam mais zelosos
do que tudo, pelo amor, a rainha de todas as graças, a mais alta perfeição na terra e
céu, a própria imagem do Deus invisível, tanto nos homens abaixo, quanto nos anjos
acima. Porque 'Deus é amor; e aquele que habita no amor, habita em Deus, e Deus
nele'.

[Editado anonimamente para o Memorial University of Newfoundland com correções


de George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]

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