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John Wesley
'Não são todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor dos que hão de
herdar a salvação?' (Hebreus 1:14)
3. Um poeta antigo, um que viveu algumas eras antes de Sócrates, falou mais
especificamente sobre este assunto. Hesíodo [poeta grego] não teve escrúpulos em dizer:
'Milhões de criaturas espirituais caminham na terra, invisíveis'.
2. Mas quais dos filhos dos homens podem compreender qual o entendimento de um
anjo? Quem pode discernir quão longe a vista deles alcança? Análoga à vista dos homens,
embora não a mesma; mas, assim, somos constrangidos a falar, utilizando-nos da pobreza
da linguagem humana. Provavelmente, não apenas superior a um hemisfério da terra; sim,
ou dez vezes mais o comprimento deste terreno; ou mesmo o sistema solar; mas, tão longe,
que cobre, em um só olhar, toda a extensão da criação! E nós não podemos conceber
qualquer deficiência em sua percepção; nem qualquer equívoco em seu entendimento.
Mas, de que maneira eles usam seu entendimento? Nós não devemos, de modo
algum, imaginar que eles rastejam de uma verdade a outra, através daquele método
vagaroso que nós chamamos de raciocínio. Sem dúvida, eles vêem, em um só relance,
qualquer que seja a verdade que se apresente ao entendimento deles; e esta, com toda a
certeza e clareza com que nós mortais vemos o mais indiscutível axioma. Quem, então,
pode conceber a extensão do conhecimento deles? Não apenas da natureza, atributos, e
obras de Deus, quer da criação ou providência; mas das circunstâncias, ações, palavras,
temperamentos; sim, todos os pensamentos dos homens. Porque, embora apenas 'Deus
conheça os corações de todos os homens' ('junto aos quais são conhecidas todas as suas
obras'), junto com as mudanças que eles são submetidos, 'desde o início do mundo'; ainda
assim, nós não podemos duvidar de que seus anjos conhecem os corações daqueles a quem
eles mais imediatamente ministram. Muito menos, podemos duvidar do conhecimento deles
dos pensamentos que estão em nossos corações em qualquer momento particular. O que
poderia obstruir a vista deles, quando estes surgem? Não o fino véu de carne e sangue.
Estes podem interceptar a visão de um espírito? Mais do que isto, paredes dentro de paredes
não podem barrar mais a passagem deles, do que o espaço desobstruído de ar líquido.
Muito mais facilmente, então, e muito mais perfeitamente do que podemos ler os
pensamentos de um homem em sua face, esses sagazes seres lêem nossos pensamentos,
assim que eles surgem em nossos corações; considerando que eles vêem o espírito
semelhante, mais claramente do que vemos o corpo. Se isto parece estranho a alguém que
não foi advertido para este fato antes, que ele considere apenas: suponha que meu espírito
esteja fora do corpo, um anjo não poderia ver meus pensamentos, até mesmo, sem que eu
exprima qualquer palavra? (Se palavras são usadas no mundo dos espíritos). E esses
espíritos ministradores não podem vê-los, exatamente tão bem agora que eu estou no
corpo? Parece, portanto, ser uma verdade inquestionável (embora, talvez, não comumente
observada) que os anjos conhecem não apenas as palavras e ações, mas também os
pensamentos daqueles a quem eles ministram. E, de fato, sem este conhecimento, eles
seriam muito mal qualificados para executarem as várias partes do ministério deles.
3. E que sabedoria inconcebível eles devem ter adquirido, através do uso de suas
faculdades espantosas, acima daquelas que eles foram dotados originalmente, no curso de
mais de seis mil anos! (já que fomos informados que eles 'cantaram juntos, quando as
fundações da terra foram colocadas'). Quão imensamente a sabedoria deles deve ter
aumentado, durante tão longo período, não apenas, examinando os corações e modos dos
homens em suas sucessivas gerações, mas observando as obras de Deus; suas obras de
criação, suas obras de providência, suas obras da graça; e, acima de tudo, por
'continuamente observaram a face do Pai que está nos céus!'.
4. Que medidas de santidade, assim como de sabedoria eles derivaram deste oceano
inesgotável! Um abismo enorme e insondável, sem fundo e sem margem!
Eles não são, por esta mesma razão, através do caminho da eminência, denominados
de anjos santos? Que bondade, que filantropia, que amor ao homem eles delinearam desses
rios que estão à direita dele! Tal que não podemos conceber ser sobrepujado por alguém, a
não ser aquele que vem de Deus nosso Salvador. E eles ainda assim bebem mais amor desta
'fonte de água viva'.
7. Os anjos de Deus têm grande poder, em particular, sobre o corpo humano; poder
tanto para causar, quanto para remover dores e doenças; tanto para matar quanto para curar.
Eles entendem perfeitamente bem do que fomos feitos; eles conhecem todos as fontes desta
curiosa máquina, e podem, sem dúvida, pela permissão de Deus, tocar algumas delas, tanto
para parar quanto para restaurar seus movimentos. Deste poder, até mesmo em um anjo do
mal, nós temos um claro exemplo no caso de Jó, a quem eles 'golpearam com feridas', por
todo o corpo, 'desde a coroa da cabeça, até a sola dos pés'. E, neste exemplo,
indubitavelmente, ele o teria matado, se Deus não salvasse sua vida. Por outro lado, do
poder dos anjos para curar, nós temos um exemplo notável no caso de Daniel. Não havia
'força alguma' restante 'em mim', disse o profeta; 'nem fôlego. Então tornou a tocar-me um
que tinha a semelhança dum homem, e me consolou. E disse: Não temas, homem muito
amado; paz seja contigo; sê forte, e tem bom ânimo. E quando ele falou comigo, fiquei
fortalecido, e disse: Fala, meu senhor, pois me fortaleceste. Ainda disse ele: Sabes por que
eu vim a ti? Agora tornarei a pelejar contra o príncipe dos persas; e, saindo eu, eis que
virá o príncipe da Grécia. Contudo eu te declararei o que está gravado na escritura da
verdade; e ninguém há que se esforce comigo contra aqueles, senão Miguel, vosso
príncipe'. (Daniel 10:17-20). Por outro lado, quando eles foram incumbidos do alto, eles
não poderiam ter colocado um fim na vida humana? Não existe coisa alguma improvável
no que o Dr. Parnell supõe que um anjo diga ao eremita, concernente à morte de um filho:
II
Assim, perfeitamente, os anjos de Deus são qualificados por seus nobres ofícios.
Resta perguntar, como eles se encarregam de seus ofícios. Como eles ministram para os
herdeiros da salvação?
1. Eu não irei dizer que eles não ministram a todos aqueles que, através de sua
impenitência e descrença, deserdaram-se do reino. Este mundo é um mundo de
misericórdia, em que Deus derrama muitas misericórdias, até mesmo, sobre o mal e ingrato.
E muitos desses, é provável, são entregues, mesmo para eles, para o ministério dos anjos;
especialmente, por quanto tempo eles têm algum pensamento de Deus, ou algum temor de
Deus, diante de seus olhos. Mas é a tarefa favorita deles, seu ofício peculiar, ministrar para
os herdeiros da salvação; para aqueles que estão agora 'salvos pela fé', ou, pelo menos,
buscando a Deus na sinceridade.
2. Não é o primeiro cuidado deles ministrarem para nossas almas? No entanto, não
devemos esperar que isto seja feito com consciência; de tal maneira, que possamos
claramente distinguir o trabalho deles do trabalho de nossas próprias mentes. Nós não
temos mais motivos para buscarmos isto do que de vê-los em sua forma visível. Sem isto,
eles podem, de milhares de maneiras, acomodarem-se ao nosso entendimento. Eles podem
nos assistir em nossa busca pela verdade; remover muitas dúvidas e dificuldades; iluminar
o que era antes escuro e confuso; e nos confirmar na verdade que é segundo a santidade.
Eles podem nos advertir da dissimulação do mal; e colocar o que é bom, em uma luz clara e
forte. Eles podem, gentilmente, mover nossa vontade para abraçar o que é bom, e fugir do
que é mal. Eles podem, muitas vezes, diminuir nossas afeições grosseiras; aumentar nossas
esperanças santas ou temor filial, e nos assistir mais ardentemente para o amor Dele, que
primeiro nos amou. Sim, eles podem ser enviados de Deus para responder toda aquela
oração, colocada em nossas bocas, através do devoto Bispo Ken:
Embora que a maneira disto ser feito, nós não seremos capazes de explicar enquanto
habitarmos no corpo.
3. Eles não podem ministrar também a nós, com respeito ao nosso corpo, de
milhares de maneiras, que nós não entendemos agora? Eles podem impedir nossa queda em
muitos perigos, aos quais não estamos conscientes, e podem nos livrar de muitos outros,
embora não saibamos de onde nosso livramento vem. Quantas vezes nós temos sido
maravilhosamente e inexplicavelmente preservados, de quedas repentinas e perigosas! E
seria bom que não imputássemos essa preservação ao acaso, ou à nossa própria sabedoria
ou força. Não é desta forma: Foi Deus que mandou seus anjos cuidarem de nós, e em suas
mãos eles não nos fazem desanimar. Na verdade, os homens do mundo irão sempre imputar
tais livramentos à coincidência ou segundas causas. A estes, possivelmente, alguns deles
teriam imputado a preservação de Daniel na toca do leão. Mas ele mesmo atribui isto à
causa verdadeira. 'Meu Deus enviou seu anjo, e fechou a boca dos leões' (Daniel 6:22).
5. Parece que o que são usualmente chamados de sonhos divinos pode ser
freqüentemente atribuído aos anjos. Nós temos um exemplo notável deste tipo, relatado por
alguém que dificilmente pode-se pensar seja um entusiasta; porque ele era um ateu, um
filósofo, e um Imperador: Eu estou falando de Marco Antonio. 'Em suas Meditações, ele
solenemente agradeceu a Deus, quando ele estava em Cajeta, por revelar-se a ele, em um
sonho, o que curou totalmente o fluxo de sangue; que nenhum dos médicos foi capaz de
curar'. E porquê nós não podemos supor que Deus deu a ele esta notícia, através do
ministério de um anjo?
6. E quão freqüentemente Deus nos livra dos homens iníquos, através do ministério
de seus anjos! Sobrepujando quaisquer que sejam suas iras, ou malícias, ou sutilezas,
maquinadas contra nós. Estes estão ao redor de suas camas, e em seus caminhos e deixam a
par de todos os seus desígnios sombrios; e muitos deles, indubitavelmente, eles trouxeram a
nocaute, por meios que nós não pensamos a respeito. Algumas vezes, eles destroem seus
esquemas favoritos no início; algumas vezes, quando eles estão exatamente prontos para a
execução. E isto eles podem fazer, através de milhares de meios que nós não estamos
informados. Eles podem checá-los, a meio caminho, através de suas forças geratrizes, ou
transformando sua sabedoria em tolice. Algumas vezes, eles trazem para a luz as coisas das
trevas, e nos mostram as armadilhas que estão colocadas para nossos pés. Nestes vários
outros caminhos, eles derrubam as armadilhas dos iníquos em pedaços.
7. Um outro grande ramo do ministério deles é contraporem-se aos anjos maus, que
estão continuamente ao redor, e não apenas rosnando como leões, buscando a quem eles
possam devorar; mas, mais perigosamente ainda, como anjos de luz, buscando a quem eles
possam ludibriar. E quão grande é o número desses! Eles não se comparam às estrelas do
céu em sua quantidade? Quão grande são suas sutilizas! Amadurecidas, através da
experiência de mais de seis mil anos. Quão grande é a força deles! Apenas inferior àquela
dos anjos de Deus. O mais forte dos filhos dos homens não passa de gafanhoto diante deles.
E que vantagem eles têm sobre nós, através daquela simples circunstâncias, a de que eles
são invisíveis! Assim como nós não temos força para repelir a força deles, então, nós não
temos habilidade para diminuí-la. Mas o Senhor misericordioso não nos deu para a vontade
de nossos inimigos: 'Seus olhos', ou seja, seus anjos santos, 'percorrem toda a terra'. E se
nossos olhos fossem abertos, nós poderíamos ver que 'existem mais daqueles que são por
nós, do que daqueles que são contra nós'. Nós poderíamos ver que: -- Uma escolta auxilia;
uma multidão de amigos invisíveis ministra.
E, quando quer que aqueles nos assaltem na alma ou no corpo, estes são capazes,
dispostos e prontos para nos defender; e são, pelo menos, igualmente fortes, igualmente
sábios, e igualmente vigilantes. E quem poderá nos ferir, enquanto temos exércitos de
anjos, e o Deus dos anjos, do nosso lado?
8. Nós podemos, ainda, fazer uma observação geral: qualquer que seja o auxílio que
Deus dá aos homens, através dos próprios homens, o mesmo, e freqüentemente em um grau
maior, Ele lhes dá, por meio dos anjos. Ele não administra para nós, através dos homens, a
luz, quando estamos nas trevas; a alegria, quando estamos deprimidos; o livramento,
quando estamos em perigo; alivia e cura, quando estamos doentes e com dores? Então, não
se pode negar que Ele freqüentemente envia as mesmas bênçãos, através do ministério dos
anjos. Não de maneira tão perceptível, de fato, mas extremamente eficaz; embora os
mensageiros não sejam vistos. Afinal, Ele não nos livra, freqüentemente, por meio de
homens, da violência e sutilezas de nossos inimigos? Muitas vezes, Ele opera o mesmo
livramento, através desses agentes invisíveis. Esses fecham a boca dos leões humanos, de
modo que eles não têm poder para nos ferir. E, freqüentemente, unem-se aos nossos amigos
humanos (embora nem eles, ou nós, estejamos conscientes disto), dando sabedoria,
coragem, ou força, com o que todo o trabalho dos inimigos sejam infrutíferos. Assim, eles
ministram secretamente, em inúmeras instâncias, aos herdeiros da salvação, enquanto
ouvimos apenas as vozes dos homens e vemos apenas eles ao nosso redor.
9. Mas as Escrituras não ensinam que: 'O auxílio que é feito sobre a Terra, o
próprio Deus o faz?'. Mais certamente Ele faz. E Ele é capaz de fazer isto, pelo seu próprio
imediato poder. Ele não tem necessidade de usar quaisquer instrumentos, afinal, que no céu,
ou na terra. Ele não precisa de anjos ou homens, para cumprir todo o desígnio de sua
vontade. Ele sempre forjou, através de tais instrumentos como melhor lhe agrada: Mas,
ainda assim, é o próprio Deus quem realiza o trabalho. Portanto, qualquer que seja o
socorro que temos, quer através de anjos ou homens, é obra de Deus, como se Ele fosse
propagar seu poderoso braço, e operar sem quaisquer meios, afinal. Mas Ele tem se
utilizado deles, desde o início do mundo: Em todas as épocas, Ele tem usado o ministério
de ambos, homens e anjos. E, por meio disto, especialmente, é vista 'a múltipla sabedoria
de Deus na igreja'. Enquanto isto, a mesma glória redunda a Ele, como se Ele não usasse de
instrumentos, afinal.
10. A grande razão, porque Deus se agrada de assistir aos homens, por meio de
homens, preferivelmente, do que através de Si mesmo, é, sem dúvida, para valorizar-nos,
uns aos outros, através desses bons ofícios mútuos, com o objetivo de aumentar nossa
felicidade, ambos no tempo e na eternidade. É pela mesma razão, que Deus se agrada de
enviar seus anjos para cuidarem de nós: Ou seja, para que possamos valorizar-nos, uns aos
outros; e, através do aumento de nosso amor e gratidão a eles, possamos encontrar um
aumento proporcional de felicidade, quando nos encontrarmos no reino de nosso Pai.
Enquanto isto, embora não possamos adorá-los (a adoração é devida apenas ao nosso
Criador comum), ainda assim, podemos 'estimá-los muito grandemente no amor, por causa
de suas obras'. Também podemos imitá-los em toda sua santidade; adequando nossas vidas
à oração que nosso Senhor nos ensinou; trabalhando para fazer sua vontade na terra, como
seus anjos a fazem nos céus.
Eu não posso concluir este discurso melhor do que na admirável coleta [oração que precede
a Epístola] de nossa Igreja:
'Ó eterno Deus, que tem ordenado e constituído os ministérios dos anjos e homens, de uma
maneira tão maravilhosa; concedendo que, assim como seus anjos sempre realizam teus
ofícios nos céus, então, através de tua determinação eles possam nos socorrer e defender
na terra, através de nosso Senhor Jesus Cristo'.
[Editado por Amber Powers, estudante da Northwest Nazarene College (Nampa, ID), com correções
de George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]