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Tendo sido contemporâneo de Piaget, Vigotsky elaborou uma teoria que tem por base o
desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico e o papel de linguagem
e da aprendizagem neste desenvolvimento.
Para Vigotsky, as origens da vida consciente e do pensamento abstrato deveriam ser procuradas na
interação do organismo com as condições de vida social e nas formas histórico-sociais de vida da
espécie humana e não, como muitos acreditavam, no mundo espiritual e sensorial dos homens. Sendo,
portanto, necessário analisar o reflexo do mundo exterior no mundo interior dos indivíduos a partir da
interação destes com a realidade.
Há que se entender, no entanto, que tais divergências devem-se mais ao foco dos estudos de cada
pesquisador. O interesse primordial de Piaget era estudar o desenvolvimento das estruturas lógicas,
enquanto o de Vigotsky era o de entender a relação pensamento/linguagem e suas implicações no
processo de desenvolvimento intelectual.
Se, para Piaget, a linguagem não exerceria primordialmente papel cognitivo em novas explorações
feitas pela criança, para Vigotsky, é ela quem abre caminhos para a da Zona de Desenvolvimento
Proximal, isto é, ajuda a criança a avançar de um nível de desenvolvimento real para uma área de
potencialidades, através da mediação realizada pelo "outro".
Na perspectiva construtivista de Piaget, as pressões sociais e lingüísticas não se dão em bloco e vão
sendo exercitadas sempre em interação com as possibilidades de cada indivíduo, ao longo do processo
de desenvolvimento. Neste sentido, a linguagem transmite ao indivíduo um sistema que contém
classificações, relações, conceitos produzidos pelas gerações anteriores, porém a criança utiliza este
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sistema segundo sua estrutura intelectual. Desta forma, se a criança não tiver construído uma
operação de classificação, uma palavra relativa a um conceito geral será apropriada de forma indevida.
No entanto, ainda que mantendo uma certa divergência no papel da linguagem e da mediação do
"outro" na construção do conhecimento, ambos os autores (Piaget e Vigotsky) reconhecem o papel
ativo da criança na construção do conhecimento.
Vigotsky afirmará que "a experiência prática mostra que o ensino de conceitos é impossível. Um
professor que tentar fazer isto ocorrerá num verbalismo vazio, uma repetição de palavras pela criança,
semelhante a um papagaio, que simula um conhecimento dos conceitos correspondentes, mas que na
realidade oculta um "vácuo" (1987, p. 71).
Piaget, por outro lado, afirmará: "O objetivo da educação intelectual não é saber repetir verdades
acabadas, é aprender por si próprio..." (1973, p. 69).
Na realidade, pode-se afirmar que tanto um quanto o outro distinguem na educação o que precisa ser
construído pelos alunos: os conceitos.
LATAILLE, Yves et alii. Piaget, Vigotsky, Wallon: Teorias psicogenéticas em discussão. SP, Summus,
1992.
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