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Arquivo Upado por MuriloBauer - FileWarez
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Arquivo Upado por MuriloBauer - FileWarez
Brasil, México, África do Sul, Índia e China: diálogo entre os que chegaram
depois / organizadores Glauco Arbix... [et al]. – São Paulo: Editora
UNESP: Editora da Universidade de São Paulo, 2002.
02-6103 CDD-330.91724
Editora afiliada:
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Agradecimentos
Sumário
Sobre os autores 9
Introdução
Diálogo entre os que chegaram depois 13
Parte I
Desenvolvimento, liberalização e globalização
1 Diversidade e desenvolvimento 25
Rubens Ricupero
7
Arquivo Upado por MuriloBauer - FileWarez
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
Parte II
Agricultura e agroindústria
Parte III
Estado, integração regional e desenvolvimento
9 O papel do Estado na economia: um exame
teórico sobre o caso chinês 251
Zhiyuan Cui
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Sobre os autores
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
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Sobre os autores
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
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Introdução
Diálogo entre os que chegaram depois
Glauco Arbix
Alvaro Comin
Mauro Zilbovicius
Ricardo Abramovay
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Introdução
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Introdução
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evitou reformar o seu pesado regime industrial e comercial até que sua
economia começou a deslanchar nos anos 80. Mesmo assim, a economia
indiana continua sendo uma das mais protegidas do mundo. A polêmica
sobre essas políticas foi intensa, como era de se esperar, uma vez que,
flagrantemente, desafiam vários mandamentos da chamada moderna
economia da globalização.
Talvez um olhar sem preconceito para a América Latina produza re-
sultados distintos e melhores do que os que estamos colhendo e, de modo
instigante, resultados mais próximos dos que frutificaram no imediato pós-
guerra, baseados na hoje malvista política de substituição de importações.
Na verdade, muito da história econômica recente está pedindo ques-
tionamentos e correções, como a condenação in limine das políticas de
substituição de importações (muitas vezes injustamente apontadas como
usinas de ineficiências, o que tem mais a ver com o marco das instiuições
políticas em que foram implementadas e muito menos com os resulta-
dos sociais e econômicos alcançados, já que, se há, ainda, uma indústria
competente no Basil, ela é fruto dessas políticas) e do comportamento
proativo do Estado na articulação da economia e da sociedade. De um
ponto de vista histórico, a idéia do não-reconhecimento das desigualda-
des e clivagens sociais como ponto de partida e de chegada das estraté-
gias de desenvolvimento, aliada a um endêmico desamparo institucional,
insiste em colocar-se como hipótese de trabalho e pesquisa. Nesse sen-
tido, uma releitura da trajetória da América Latina dos anos 30 até o fi-
nal dos anos 70 ajudaria a reequacionar o fim do ciclo virtuoso de cresci-
mento e a estagnação subseqüente, à luz do êxito relativo dos países
asiáticos dos anos 90.
Na expectativa de novos estudos, não nos contentamos com as fra-
ses feitas e explicações ligeiras. Se é certo que os países em desenvolvi-
mento precisam reformar e construir novas instituições aptas a gover-
nar suas economias e sociedades, também é verdade que precisam de
tempo para isso. Tempo para que a discussão democrática se faça e os
agentes econômicos e sociais estejam persuadidos da necessidade de selar
um novo compromisso por seus países. Para tanto, ênfases precisam ser
mudadas. A integração na economia mundial deve ser vista como ferra-
menta para o desenvolvimento, não como um fim. A intensificação do
comércio e do fluxo de capitais também é meio, não objetivo. Se o capi-
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Introdução
Abril de 2002
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Parte I
Desenvolvimento, liberalização
e globalização
1
Diversidade e desenvolvimento
Rubens Ricupero1
1 Secretário-geral da Unctad.
2 O Prof. Rubens Ricupero recebeu, da USP, medalha de Honra ao Mérito durante o II Semi-
nário Internacional sobre “Novos Paradigmas de Desenvolvimento”, em agosto de 2002.
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Diversidade e desenvolvimento
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dendo analistas mais ortodoxos. Mas ele lembrou que esse é o título de
um artigo assinado por Tony Blair, a quem ninguém acusaria de ser um
adversário do pensamento predominante na economia mundial, e
relembrou uma série de exemplos concretos de como a Inglaterra, berço
do liberalismo, vem praticando uma política industrial extremamente
ativa, servindo-se de subsídios de todo tipo.
Há um debate em curso no Brasil sobre a existência ou não de alter-
nativas para a política econômica e social que vem sendo aplicada aqui e
em outros países da América Latina; alternativas capazes de preservar a
estabilidade e que, ao mesmo tempo, melhorem o crescimento e a dis-
tribuição da renda.
Seria real essa busca de outros caminhos? No fundo, o objetivo deste
seminário é explorar essa questão.
Está claro, hoje em dia, algo que a Unctad vinha anunciando há vá-
rios anos. A economia mundial enfrenta uma crise em que as três gran-
des economias industriais estão, ao mesmo tempo, desacelerando ou en-
trando em recessão. É uma situação extremamente preocupante, porque
se dá num momento em que a economia americana, que durante anos
foi a única grande fonte de demanda de importações, começa a perder
velocidade, sem que haja no horizonte nenhum indício claro de quanto
vai durar essa crise, quando começará a recuperação e como e com que
velocidade essa recuperação se fará. Não vou aqui perder tempo com esse
assunto – pois nem o Alan Greenspan conhece a resposta. Gostaria ape-
nas de dizer que esse problema não é apenas conjuntural.
O processo da globalização, que começou com ímpeto nos anos 90,
procurou justificar a idéia de um mundo sem alternativas, em que o de-
senvolvimento dos países se resumia a uma integração rápida e a mais
radical possível a esse processo, o mesmo processo que prenunciava cri-
ses econômicas, financeiras e monetárias, como a crise mexicana de de-
zembro de 1994. A partir da freqüência dessas crises, o processo de
globalização se descobre vulnerável. Não que esteja em estado terminal,
pois responde a forças muito profundas. Algumas, de natureza tecnoló-
gica. Outras, de natureza econômica, envolvendo a expansão das empre-
sas transnacionais e a transnacionalização da produção e da distribuição.
O que indica que essas forças vão permanecer.
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Diversidade e desenvolvimento
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Mitos e confusões
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Diversidade e desenvolvimento
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Diversidade e desenvolvimento
Opções e variações
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Países e monstros
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Diversidade e desenvolvimento
não exista. A prova é que a OCDE, a organização dos países ricos, está há
tempos tentando impor aos paraísos fiscais certas disciplinas e não con-
segue. É claro que atrás dos paraísos há protetores maiores. Mas a idéia
de que o micro-Estado não tem força alguma e tem que aceitar o que se
diz não é certa.
Isso diz respeito a um segundo mito que se propagou falsamente, o
do fim da soberania nacional. Na verdade, aquilo a que estamos assistin-
do é o desmesurado fortalecimento de algumas soberanias em detrimento
de outras. O país mais poderoso da Terra, os Estados Unidos, não faz
parte de uma lista imensa de tratados que são assinados por todos os
outros, invocando justamente a sua soberania. A posição deles, e eu não
digo isso para criticá-los, é simplesmente de que não atendem aos inte-
resses dos Estados Unidos e por isso não são assinados. Portanto, é pre-
ciso distinguir a imensa diversidade de situações existentes atualmente.
Um dos principais teóricos norte-americanos da guerra fria classifi-
cou alguns países como monster countries (países-monstros), países que
possuem um território continental e uma população de mais de 200 mi-
lhões de habitantes. Os dois elementos são importantes, porque alguns,
como o Canadá e a Austrália, têm a terra, mas não têm o homem; outros
têm gente, mas não a terra. Os dois elementos são importantes, porque
é essa interação entre muita gente e muita distância que cria a complexi-
dade, matriz da heterogeneidade. Foram detectados cinco países desse
tipo. Os Estados Unidos, a Rússia, a China, a Índia e o Brasil. A rigor,
talvez, com um pouco de boa vontade, se poderia incluir a União Euro-
péia, após a integração comercial, e a Indonésia, por sua população e as
milhares de ilhas em seu território. Esses países têm uma natureza pró-
pria, porque, para um país continental, a natureza do problema de inser-
ção na globalização é diferente da natureza de inserção de Cingapura ou
da Bélgica. Para estes, o comércio exterior representa mais de 150% de
seu PIB, porque são países de intermediação. Por isso, sua inserção sur-
ge naturalmente. Agora, a inserção da Rússia é um grande problema. Os
projetos mais ambiciosos de ampliação da União Européia nunca contem-
plam a Rússia. Por quê? Porque haveria risco de indigestão. Como a União
Européia conseguiria engolir 15 milhões de km2, com aquela complexi-
dade, com mais de cem línguas?
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Diversidade e desenvolvimento
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2
Estratégias de desenvolvimento
para o novo século1
Dani Rodrik2
1 Introdução
1 Este trabalho foi preparado para ser apresentado na conferência “Developing Economies
in the 21st Century” [Economias em desenvolvimento no século XXI], Institute for Developing
Economies, Japan External Trade Organization, 26-27 de janeiro de 2000, em Chiba, Japão.
2 Havard University.
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3 A última expressão é do World Development Report sobre o Estado (World Bank, 1997, p.27).
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Estratégias de desenvolvimento para o novo século
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Estratégias de desenvolvimento para o novo século
A maioria das nações que se saíram bem nesse período aplicou polí-
ticas de substituição de importações (Estratégia de Industrialização pela
Substituição de Importações – ISI). Elas estimularam o crescimento e
criaram mercados internos protegidos e, por conseguinte, lucrativos para
o investimento do empresariado nacional. Contrariando a convicção con-
vencional, o crescimento impulsionado pela ISI não produziu ineficiên-
cias tremendas em escala econômica. Aliás, o desempenho em produtivi-
dade de muitas nações da América Latina e do Oriente Próximo foi
comparativamente exemplar (ibidem, Quadro 4.2). No período de 1960
a 1973, países como o Brasil, a República Dominicana e o Equador, na
América Latina; o Irã, o Marrocos e a Tunísia, no Oriente Próximo; e a
Costa do Marfim e o Quênia, na África, tiveram crescimento do Fator de
Produtividade Total (FPT) mais rápido que o de qualquer país do Extre-
mo Oriente (com a possível exceção de Hong Kong, de que não há dados
comparáveis disponíveis). O México, a Bolívia, o Panamá, o Egito, a Ar-
gélia, a Tanzânia e o Zaire tiveram um crescimento do FPT mais elevado
que o de todos eles, com exceção de Taiwan. As estimativas do cresci-
mento da produtividade desse tipo não estão isentas de problemas sérios,
e é possível manipular as metodologias empregadas. No entanto, não há
por que acreditar que as estimativas de Collins & Bosworth (1996), das
quais retiramos esses números, sejam seriamente tendenciosas no modo
como classificam as diferentes regiões.
Portanto, como estratégia de industrialização destinada a aumentar
o investimento interno e a produtividade, a substituição de importações
aparentemente funcionou muito bem num amplo número de países até
pelo menos a metade da década de 1970. Apesar dos problemas, a ISI
conseguiu um recorde mais que respeitável. Se o mundo tivesse acaba-
do em 1973, a ISI não teria adquirido a reputação negativa que adquiriu,
nem se falaria em “milagre” no Leste da Ásia.
O colapso do crescimento
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5 Esse ponto é muito debatido e se opõe à visão oficial do FMI (Fischer, 1998). O argumento
segundo o qual os aspectos “estruturais” do modelo do Leste da Ásia não estavam na raiz
da crise é muito bem colocado por Stiglitz (1998) e Radelet & Sachs (1998). Isso não quer
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Estratégias de desenvolvimento para o novo século
dizer que tais economias não tivessem debilidades estruturais, particularmente uma depen-
dência excessiva do controle governamental da economia que, provavelmente, sobreviveu
a sua utilidade. Porém, como observa Stiglitz, as crises financeiras irrompem com certa
regularidade em economias que vão das escandinavas à dos Estados Unidos, todas com tipos
muito diferentes de gestão econômica e padrões de transparência.
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Algumas conclusões
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Os direitos de propriedade
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Instituições regulatórias
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7 Ver também o recente trabalho de Johnson & Shleifer (1999), que atribui o desenvolvi-
mento mais impressionante dos mercados de equity da Polônia, em comparação com os da
República Tcheca, às regulamentações mais fortes, no primeiro país, visando proteger os
direitos dos acionistas minoritários e impedir a fraude.
8 Ver em Hoff & Stiglitz (1999) uma análise e discussão úteis.
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pelo currency board. Segundo o cálculo argentino, não vale a pena ter um
banco central capaz de estabilizar ocasionalmente a economia, correndo o
risco de geralmente desestabilizá-la. A história do país dá muitos motivos
para pensar que essa não é uma aposta ruim. Mas será que isso também
vale para o México ou o Brasil ou ainda para a Turquia ou a Indonésia?
Uma substancial desvalorização real da rupia, operada via desvaloriza-
ções nominais, foi um ingrediente-chave do desempenho econômico
superlativo da Índia nos anos 90. O que talvez funcione na Argentina
pode não funcionar nos outros países. A polêmica sobre currency boards e
dolarização ilustra o fato óbvio, mas ocasionalmente negligenciado, de
que as instituições necessárias a um país não são independentes da his-
tória desse país.
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Estratégias de desenvolvimento para o novo século
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9 Talvez a Europa volte a entrar na moda. Recentemente, o The New York Times publicou um
importante artigo com o título “A Suécia, Welfare State, goza de uma nova prosperidade” (8
de outubro de 1999).
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6 Implicações na Governança e
na Condicionalidade Internacionais
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11 “Eu aprendi mais sobre o funcionamento do sistema financeiro internacional nos últimos
doze meses do que nos vinte anos anteriores”, reconheceu recentemente Allan Greenspan
(apud Friedman, 1999, p.71).
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12 Nossa análise detalhada cobre os quatro trabalhos provavelmente mais conhecidos na área:
Dollar (1992), Sachs & Warner (1995), Ben-David (1993) e Edwards (1998).
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8 Observações Conclusivas
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modelo a ser emulado nos anos 80. E 1990 foi claramente a década do
capitalismo livre e solto de estilo norte-americano. Adequadamente ava-
liados na perspectiva histórica, todos esses modelos foram igualmente
bem-sucedidos. A evidência da segunda metade do século XX é a de que
nenhum desses modelos domina claramente os outros. Seria um erro alçar
o capitalismo de estilo norte-americano como modelo para o qual o res-
to do mundo deve convergir.
Naturalmente, todas as sociedades bem-sucedidas estão abertas para
aprender, principalmente com os precedentes úteis das demais. O Japão
é um bom exemplo nesse aspecto. Quando se reformou e codificou o sis-
tema jurídico japonês durante a restauração Meiji, foram os códigos ci-
vil e comercial alemães que lhe serviram de modelo principal. Portanto,
minha ênfase sobre a diversidade institucional não deve ser encarada
como a rejeição da inovação via imitação. O importante é que a “cópia
azul” importada seja filtrada pelas práticas e pelas necessidades locais.
O Japão dá o exemplo uma vez mais. Como discutem Berkowitz et al.
(1999, p.11), a opção pelo sistema jurídico alemão foi uma escolha, não
uma imposição de fora: “exaustivos debates sobre a adoção do direito
inglês ou francês e diversos esboços baseados no modelo francês prece-
deram a promulgação dos códigos amplamente baseados no modelo ale-
mão”. Em outras palavras, os reformadores japoneses escolheram cons-
cientemente, entre os códigos disponíveis, aquele que lhes pareceu mais
adequado às suas circunstâncias.
O que vale para os países avançados de hoje também vale para os
subdesenvolvidos. Enfim, o desenvolvimento econômico deriva de uma
estratégia criada em casa, não do mercado mundial. Os formuladores da
política dos países em desenvolvimento devem evitar os modismos, co-
locar a globalização em perspectiva e empenhar-se na construção de ins-
tituições internas. Devem ter mais confiança em si e na construção de
instituições internas, e menos na economia global e nas cópias azuis que
dela provêm.
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Estagnação, liberalização e
investimento externo na América Latina
Glauco Arbix1
Mariano Laplane2
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Estagnação, liberalização e investimento externo na América Latina
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1985/ 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998
1990
PIB 1,6 - 0,2 3,9 3,2 4,1 5,6 0,4 3,5 5,3 2,3
Exportações 5,2 6,0 3,6 7,1 11,7 10,7 10,4 11,3 13,2 7,8
Formação 17,2* 18,2 n.a. 19,1 19,4 20,5 19,1 19,3 21,2 n . a .
de Capital
Inflação 686,5 1188,8 199,3 426,7 890,2 337,6 25,8 18,5 10,6 10,2
Fonte: Cepal, Statistical Yearbook for Latin America and the Caribbean, 1999. *Investment at constant
1980 prices.
83
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Estagnação, liberalização e investimento externo na América Latina
Continuação
Foco na Autoveículos:
eficiência México;
Eletrônico:
México, Caribe;
Vestuário:
Caribe,
México
Foco em
vantagens
estratégicas – – – –
especialmente
nova tecnologia
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Estagnação, liberalização e investimento externo na América Latina
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Em % Em % Em % Em %
Agricultura e
1,6 1,5
I. Extrativa
Indústria 55 18,4 Indústria (continuação)
Alimentos e bebidas 5,5 2,5 Mat. elet. eqs. comunic. 1,4 1,4
Fumo 1,7 0,6 Eqs. Méd. ót., autom. 0,4 0,1
Têxteis 1,2 0,3 Automobilística 6,7 4,6
Vestuário e acessórios 0,2 – Outros eqs. transp. 0,5 0,2
Art. de Couro Mobiliário 0,7 0,2
1 –
e calçados Reciclagem – –
Madeira 0,1 0,1
Papel e celulose 3,3 –
Edição e impressão 0,3 0,1 Serviços 43,4 80,1
Petroquímica e álcool – – Eletricid., gás e água – 14
Produtos químicos 11,2 3 Construção 0,5 0,7
Borracha e plástico 3,1 0,7 Comércio atacadista 5 4,8
Prod. Min. Comércio varejista 1,6 3,7
1,9 1,1
Não-metálicos Correio e telecomunic. 0,5 16
Metalurgia básica 6 0,4 Intermed. financeira 3 13,7
Produtos de metal 1,4 0,2 Seguros e prev. priv. 0,4 0,6
Máqs. e equipamentos 4,9 0,9 Atividades imobiliárias 2,5 0,3
Máqs. esc. eqs. inf. 1 1 Serv. prest. empresas 26,9 22,9
Máqs. eqs. apars. elét. 2,6 0,8
42.530 73.812
Fonte: FIRCE e Censo de Capitais Estrangeiros. (*) Acumulado até 1995.
Obs.: Para cálculo do fluxo de IDE para 1996/1997/1998/1999 consideraram-se apenas as empre-
sas com investimentos acima de US$ 10 milhões. A amostra representa 73,6%, 81,6%, 88,4%
e 89,7%, respectivamente, do valor total do investimento direto estrangeiro nesses anos.
88
Estagnação, liberalização e investimento externo na América Latina
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Surpresas e balanços
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Estagnação, liberalização e investimento externo na América Latina
Lista em expansão
11 Instituições regulatórias
12 Reforma política
13 Corrupção
14 Redes de proteção social
15 Flexibilização do mercado de trabalho
16 Acordos da OMC
17 Padronização financeira
18 Redução de pobreza
19 Abertura nas contas de capital
20 Regime cambial único
A lista, como se pode ver, não parou de crescer. É certo que o desta-
que dado ao necessário aprimoramento institucional dos países latino-
americanos tem especial importância. No entanto, essa recomendação
teria sido mais eficiente se formulada no início do processo de reformas,
quando, de fato, foi ofuscada pelas políticas de abertura da economia, de
estabilização da moeda e pelas privatizações.
A questão da oportunidade e do timing dessas reformas é de enorme
significado. Tempo é básico para efetivar reformas que tinham a inten-
ção de desmontar estruturas vigentes há décadas – no caso do Brasil,
pretendia-se a liquidação da herança varguista. No entanto, além das
dificuldades “naturais” e previsíveis dessa empreitada, os países latino-
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Aprender a aprender
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Estagnação, liberalização e investimento externo na América Latina
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Estagnação, liberalização e investimento externo na América Latina
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Estagnação, liberalização e investimento externo na América Latina
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4
Rompendo o modelo
Uma economia política institucionalista alternativa
à teoria neoliberal do mercado e do Estado
Ha-Joon Chang1
Introdução
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Rompendo o modelo...
2 Digo “aliança espúria” porque não é pequeno o abismo que separa essas duas tradições
intelectuais, como sabem os que conhecem, por exemplo, a crítica mordaz de Hayek (1949)
da economia neoclássica.
3 É interessante notar que, mais ou menos na mesma época, inúmeros marxistas fizeram
uma crítica muito semelhante, sublinhando o “caráter de classe” do Estado. Eles argumen-
tavam que, graças ao controle que tem sobre a renda do Estado, o financiamento político e
o aparato ideológico, a classe economicamente dominante (os capitalistas numa sociedade
capitalista) pode definir as políticas estatais a seu favor, sujeitas à necessidade de manter
certo grau de legitimidade entre as classes dominadas (ver o exame das teorias marxistas
da época em Jessop, 1982).
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Rompendo o modelo...
4 Esse ponto também ficou acerbamente ilustrado pelas experiências dos primeiros dias de
“reforma” nos antigos países comunistas. Na época, o que fascinou a imaginação das pes-
soas foi a linguagem austro-libertária de liberdade e espírito empreendedor, não a árida lin-
guagem neoclássica da Optimalidade de Pareto e do Equilíbrio Geral. No entanto, quando
os governos pós-comunistas desses países escolheram seus assessores econômicos estran-
geiros, foi sobretudo com base na posição que eles ocupavam na hierarquia acadêmica oci-
dental, a qual era determinada sobretudo pela capacidade que tinham de manejar os con-
ceitos e instrumentos da economia neoclássica.
5 Os trabalhos do economista comercial norte-americano Paul Krugman oferecem alguns dos
melhores exemplos. Em muitos artigos, ele lavra certos parágrafos de análise de “econo-
mia política pop”, aviltando a integridade e a capacidade do Estado, para desacreditar os
próprios e elaborados modelos da teoria estratégica do comércio que endossam a interven-
ção estatal, os quais constituem o corpo do artigo. Um destacado economista neoliberal, Robert
Lucas (1990), resenhando o livro de Krugman e Helpmann, perguntou por que, afinal de con-
tas, eles o haviam escrito, já que, no fim, iam dizer que as políticas intervencionistas oriun-
das de seus modelos não são recomendáveis em razão dos perigos políticos que trazem con-
sigo. Esse exemplo mostra que, nesta era neoliberal, um economista pode perfeitamente
construir modelos que recomendam a intervenção estatal, contanto que sejam “tecnica-
mente competentes”, mas deve comprovar a sua credencial política jogando no lixo os seus
próprios modelos por motivos políticos se quiser continuar nadando a favor da correnteza.
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Rompendo o modelo...
6 Isso também se manifesta na existência de muitas instituições que apóiam essa hierarquia
particular de direitos (por exemplo, educação universal, benefícios para as crianças).
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7 De fato, no fim do século XX, quando a escravatura já se tornara uma lembrança remota e,
portanto, menos sensível politicamente, alguns historiadores econômicos norte-america-
nos iniciaram um debate sobre a “eficiência” do trabalho escravo, embora muita gente te-
nha achado a iniciativa de mau gosto.
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
9 Dada a sua composição intelectual, a teoria austríaca do mercado, que nega a própria no-
ção de concorrência perfeita, podia ter sido a teoria do mercado neoliberal. Mas isso não
aconteceu, já que o verdadeiro sentido da aliança neoliberal era o de combinar os apelos
morais e políticos da tradição austro-libertária com a respeitabilidade “científica” da eco-
nomia neoclássica (ver a seção 2). É ocioso dizer que ainda há muitos economistas austría-
cos que rejeitam o modelo neoclássico de concorrência perfeita.
10 Recorde-se a famosa metáfora de Schumpeter (1987, p.84), segundo a qual a relação entre
os ganhos de eficiência da concorrência por meio da inovação e a da competição (neoclássica)
do preço era “como um bombardeio em comparação com o arrombamento de uma porta”.
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Rompendo o modelo...
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essa óptica, o Estado surgiu como uma solução “contratual” para o pro-
blema da ação coletiva de fornecer os bens públicos da lei e da ordem,
especialmente a segurança da propriedade privada, a qual é considerada
necessária (e muitas vezes suficiente) para que os mercados funcionem
(Nozick, 1974; Buchanan, 1986). Desse modo, explica-se inclusive a exis-
tência do próprio Estado como uma reação similar ao mercado (isto é,
contratual) à falha de mercado. É claro que se sabe perfeitamente que
tal explicação contraria a evidência histórica, como admitem até mesmo
vários de seus proponentes. No entanto, o fato de ela continuar sendo
levada a sério pelos pensadores neoliberais é sintomático de sua adesão
à hipótese da primazia do mercado, para a qual o “estado natural” é o do
mercado “livre” em grau extremo (inclusive na provisão da lei e da ordem)
e que a reação “natural” dos indivíduos a esse indesejável estado de coi-
sas é adotar um comportamento como o do mercado, que consiste em
celebrar voluntariamente um “contrato” social a fim de erigir o Estado
como provedor da lei e da ordem (ver uma crítica mais detalhada do ar-
gumento contratualista em Chang, 1994a, cap.1).
Neste ponto, cabe enfatizar que o fato de uma pessoa atribuir pri-
mazia institucional ao mercado não significa necessariamente que ela
endosse a visão do Estado mínimo.
Muitos economistas iniciam suas análises (pelo menos implicitamen-
te) tendo como ponto de partida a hipótese da supremacia do mercado,
mas se dispõem a endossar uma ordem relativamente ampla de inter-
venção estatal, assim como uma série de outras soluções “institucionais”
(por exemplo, Arrow, 1974). Todavia, eles continuariam vendo a inter-
venção estatal e as outras instituições extramercado e não-estatais (por
exemplo, a empresa) como sucedâneos criados pelo homem da institui-
ção “natural” chamada mercado.
A grande verdade é que, no princípio, não havia mercados. Os histo-
riadores econômicos já nos mostraram reiteradamente que, a não ser no
nível local (na satisfação das necessidades básicas) ou no nível interna-
cional (no comércio de artigos de luxo), o mercado não era uma parte
importante – e muito menos a dominante – da vida econômica humana
antes da ascensão do capitalismo. Aliás, embora até mesmo Joseph Stiglitz
(1992, p.75), um dos mais esclarecidos economistas neoclássicos da nossa
112
Rompendo o modelo...
13 No entanto, mais recentemente, Stiglitz (1999) se afastou dessa visão e adotou uma posi-
ção mais institucionalista (embora não completamente).
14 E Polanyi (1957, p.140) prossegue: “Os administradores tinham de manter uma vigilância
constante para garantir o funcionamento livre do sistema. Assim, mesmo aqueles que mais
ardentemente desejavam livrar o Estado de todas as funções desnecessárias e aqueles cuja
filosofia exigia a restrição das atividades estatais não puderam senão dotar esse mesmo
Estado dos novos poderes, órgãos e instrumentos necessários ao estabelecimento do laisser-
faire” (sublinhado no original).
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
15 Nesse período, poucos países tinham autonomia tarifária em razão ou do regime colonial,
ou de tratados desiguais – por exemplo, o Japão só adquiriu autonomia tarifária em 1899,
quando expiraram todos os tratados desiguais assinados a partir da abertura de 1853. Dentre
os países com autonomia tarifária, os Estados Unidos tinham as mais elevadas taxas
tarifárias. A partir de 1820, elas nunca estiveram abaixo de 25% e, geralmente, aproxima-
vam-se dos 40%, ao passo que nos outros países cujos dados estão disponíveis, como a
Áustria, a Bélgica, a França, a Itália e a Suécia, raramente ultrapassavam os 20%. Para mais
detalhes, ver World Bank (1991, p.97, Tabela 5.2) e Kozul-Wright (1995, p.97, Tabela 4.8).
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Rompendo o modelo...
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16 Para outras críticas da economia política neoliberal, ver, em ordem cronológica, King (1987),
Gamble (1988), Toye (1991), Stretton & Orchard (1994), Chang (1994a e 1994b), Weiss
(1998) e Woo-Cumings (1999).
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18 Cabe notar que as atividades políticas muitas vezes são fins em si e que as pessoas podem
derivar valor das atividades per se tanto quanto dos produtos de tais atividades (ver Hirsch-
man, 1982b, p.85-6).
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19 Tentei desenvolver elementos dessa teoria em vários trabalhos anteriores. Ver Chang (1994b,
1995, 1997) e Chang & Rowthorn (1995b).
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Rompendo o modelo...
Claro está que a ênfase que a EPI dá à natureza constitutiva das ins-
tituições não deve ser interpretada como a afirmação de que as motiva-
ções são mais ou menos determinadas pela estrutura institucional. Para
não redundar num injustificável determinismo estrutural, é preciso acei-
tar que os indivíduos também influenciam a formação e o funcionamento
das instituições, como fazem tipicamente os modelos da NEI. No entanto,
a EPI se distingue desta à medida que postula uma causação recíproca
entre a motivação individual e as instituições sociais, não uma causação
unilateral dos indivíduos para as instituições, muito embora concorde
que, em última instância, uma análise verdadeiramente institucionalista
deve considerar as instituições pelo menos “temporalmente” anteriores
aos indivíduos (Hodgson, 2000).
Tomemos agora alguns exemplos para ilustrar o modo pelo qual a
análise “institucionalista” da relação entre a motivação, o comportamento
e as instituições nos pode aprimorar o pensamento acerca do papel do
Estado.
Por exemplo, nas sociedades em que há muito se estabeleceram pa-
drões elevados de comportamento na vida pública, os funcionários do
governo podem agir com mais probidade em comparação com seus equi-
valentes nas sociedades que carecem de semelhantes normas, mesmo que
também estejam sujeitas a instituições com sanções e recompensas in-
dividuais do tipo recomendado pelos neoliberais (por exemplo, moni-
toramento mais completo, salários relativos mais altos, punições mais
severas). Mesmo reconhecendo a utilidade dessas instituições diretamen-
te voltadas para os comportamentos, a EPI argumentaria que também é
possível aperfeiçoar os padrões comportamentais e, em certos casos,
aperfeiçoá-los mais efetivamente alterando as motivações dos agentes
públicos. Isso, por sua vez, pode acontecer pela exortação ideológica di-
reta (por exemplo, enfatizar a ética do serviço público no treinamento
burocrático), mas talvez mais indiretamente (dado o papel constitutivo
das instituições) pela modificação das instituições que os cercam (por
exemplo, conceber sistemas de incentivos que recompensem o trabalho
de equipe na burocracia a fim de estimular o espírito de corpo).
Eu chegaria a avançar mais um passo e argumentar que algumas re-
comendações neoliberais destinadas a aprimorar os padrões comporta-
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4 Observações conclusivas
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Rompendo o modelo...
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Parte II
Agricultura e agroindústria
5
A dialética do progresso social:
a luta contínua pela igualdade na Índia rural
Jan Breman1
Introdução
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138
A dialética do progresso social...
cracia rural exercia sobre a maior parte dos recursos agrários. Uma gran-
de pressão nesse sentido veio das lideranças dos movimentos naciona-
listas, que não só se opunham ao domínio estrangeiro, como também
exigiam que a terra passasse para as mãos do campesinato. A redistri-
buição da terra foi particularmente dominada pela necessidade de au-
mentar a produção e a produtividade agrárias. Já naquela época, as con-
siderações sobre a eficiência econômica tinham muito mais relevância
que quaisquer argumentos inspirados pelo desejo de justiça social.
Nem sempre tiveram sucesso as ações destinadas a remover a clas-
se dos latifundiários. Por exemplo, nas Filipinas e no Paquistão, o seg-
mento feudal dominante parece ter perdido pouco do seu poder. Mesmo
ali, onde isso chegou a ocorrer, não foi de um dia para outro. A Índia
iniciou a reforma agrária imediatamente depois de conquistar a indepen-
dência, mas, em Bihar, em 1977, precisei viajar várias horas de automó-
vel para percorrer a terra ainda pertencente a um único proprietário.
Como de costume, a enorme extensão da propriedade estava encoberta
pelo registro no nome de parentes reais ou fictícios. Contaram-me que
esse zamindar exprimiu o desprezo que devotava à lei mandando inscre-
ver, no registro de imóveis, o nome de seu cachorro como proprietário
de uma porção de terra, tarefa de que se incumbiu o contador da família.
Não obstante, na maior parte da Índia, a oposição demonstrada por es-
ses interesses cristalizados à transferência de seus domínios aos que
verdadeiramente cultivavam o solo foi destruída efetiva e, em termos
comparativos, silenciosamente. Isso se deveu não só ao pagamento de
compensação garantido pelo Estado aos antigos proprietários, como tam-
bém à introdução do sufrágio universal. Na nova ordem social que as-
sim surgiu, o poder político da antiga elite ficou seriamente reduzido,
quando não totalmente extirpado. Então foi possível banir os patronos
econômicos e culturais de outrora como uma classe parasitária. Sua des-
classificação pôs fim a um estilo de vida que se caracterizava pela osten-
tação do ócio e do consumo.
Sem embargo, não houve nenhuma redistribuição radical dos recur-
sos agrários. Grande parte dos pobres do campo, principalmente os cam-
poneses sem-terra, continuou excluída de qualquer participação propor-
cional no excedente apropriado pela ação estatal. Low inicia seu livro com
uma citação de Asian Drama [O drama asiático], o estudo clássico de Gunar
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
Inclusão e exclusão
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A dialética do progresso social...
141
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
2 Em aula dada em 1960, Thomer, um perspicaz observador da situação rural, afirmou que o
Estado indiano parecia incentivar mais o crescimento do capitalismo que o do socialismo.
Alguns anos depois, ele substanciou essa tese com um raciocínio convincente. Ver Thorner
(1962, cap.1; 1980a e 1980b). O ensaio de Wertheim “Betting on the Strong” (1964, cap.12)
discute a dinâmica da Ásia como um todo, mas, nesse amplo arcabouço, dá muita atenção
às mudanças em curso na Índia.
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A dialética do progresso social...
3 As fontes mencionadas por Low (1977) incluem um de seus próprios estudos históricos,
no qual ele discute o apoio dado ao movimento de independência pelos proprietários ru-
rais dominantes da Índia britânica. Sobre a ambição das autoridades das Índias Orientais
Holandesas de formarem uma classe média agrária e usá-la para reverter a crescente onda
de nacionalismo, ver Breman (1983).
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4 Embora o livro tenha sido publicado em nome de Singh, é evidente que o texto é obra de
um ghost-writer.
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oriundo e ainda tenha vínculos com a elite fundiária do seu país de ori-
gem, é evidente que teria gostado de chegar a uma conclusão mais espe-
rançosa acerca do que os pobres do campo e o campesinato sem-terra
ganharam com a reforma do regime agrário.
Acaso os sistemas sociais baseados na igualdade são um apanágio
exclusivo da civilização ocidental? Essa visão convencional, fortemente
inspirada em noções orientalistas, voltou a ganhar predileção nos últi-
mos anos. Huntington (1996), adotando uma abordagem geopolítica,
prevê uma colisão entre diversas culturas mundiais, a maior parte delas
asiáticas, e o Ocidente livre, essencialmente formado pelo alinhamento
dos países do Atlântico Norte e seus rebentos de igual mentalidade em
outras partes do mundo. Na opinião desse cientista político, a liberda-
de, a igualdade e a tolerância (que têm forma concreta nos direitos hu-
manos, na democracia política e no espaço individual) não são valores
universais, e sim conquistas da comunidade dos povos euro-americanos.
Tais características singulares se opõem fundamentalmente à herança
hierárquico-autoritária de tendência fortemente comunitária que deter-
mina a estrutura e a cultura das civilizações não-ocidentais. A alegação
de Huntington, segundo a qual as relações internacionais estão demar-
cadas pela fissura que divide o mundo em culturas de primeira e de se-
gunda ordem, não deixa de ser uma convocação ao combate ao longo
dessas linhas. Os exames críticos chamaram a atenção para o pensamento
hegemônico que serve de base a essas doutrinas e a sua inclinação etno-
cêntrica inspirada pelo interesse próprio.
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A dialética do progresso social...
149
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
Referências bibliográficas
5 “Não está totalmente claro de onde vieram os primeiros e principais impulsos do ímpeto
igualitário” (Low, 1996, p.123).
150
6
Velhos e novos mitos do rural brasileiro:
implicações para as políticas públicas
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Os velhos mitos
O rural é atrasado
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Velhos e novos mitos do rural brasileiro...
153
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
tipo Renda Mínima, ainda que estas sejam também fundamentais como
medidas paliativas para determinados grupos sociais e regiões mais ca-
rentes em organização e infra-estrutura. É por isso que programas de com-
bate à fome e à miséria, por exemplo, têm de ser desenhados em conjunto
com programas de acesso à terra e apoio à agricultura familiar, como indi-
cado no Projeto Fome Zero.5 Caso contrário, corre-se o risco de arrancar
com uma mão o que se plantou com a outra, como é o caso da política de
assentamentos rurais do governo FHC que não consegue nem mesmo
reverter a tendência de redução dos agricultores familiares no país.
154
Velhos e novos mitos do rural brasileiro...
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8 Tenho insistido nesse significado de urbanizar como dar cidadania. Ver, a respeito, Graziano
da Silva (2001).
158
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Conta própria 194,77 -5,4 *** 139,85 2,9* 72,41 5,4 ** 12,27 4,6 419,30 -1,0
Agrícola 228,56 -4,2 ** – 82,49 6,7 *** 10,10 4,6 321,16 -1,6
Pluriativa 240,49 -5,3 ** 160,97 0,4 60,48 4,9 * 11,41 2,3 473,35 -2,2
160
Velhos e novos mitos do rural brasileiro...
9 Essas “novas” atividades agrícolas são, no fundo, o resultado da agregação de serviços re-
lativamente artesanais, mas de alta especialização e conteúdo tecnológico, a produtos ani-
mais e vegetais não tradicionalmente destinados a alimentação e vestuário. Assim, apesar
de serem também atividades agropecuárias em última instância, a forma da organização da
produção e, principalmente, o seu circuito de realização assentado em nichos específicos
de mercados recomendam que essas “novas” atividades agrícolas sejam tratadas de forma
separada da dinâmica a que engloba a produção agropecuária strictu sensu. E que seja consi-
derada também como uma demanda derivada do consumo final das populações urbanas.
Ver, a respeito, Del Grossi & Graziano da Silva (2001).
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
10 Infelizmente esse ponto essencial à compreensão de por que chamamos de “novo rural”
não nos parece suficientemente destacado na literatura disponível sobre geração de Ornas
na América Latina. Ver, a respeito, o número especial de World Development (v.20, n.3, mar.
2001) dedicado ao tema.
162
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
Os novos mitos
11 É interessante assinalar que o primeiro texto conhecido sobre a importância das ativida-
des rurais não-agrícolas foi demandado por instituições envolvidas com o estímulo de pe-
quenas e médias empresas urbanas. Ver, a respeito, Anderson & Leiserson (1978) e Chuta
& Liedholm (1979).
164
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
12 Esse fato é importante e chama a atenção para uma função da agricultura que não a produção
de mercadorias quaisquer, mas de alimentos, que, além de exercer um papel fundamental,
matar a fome das pessoas, também promove trocas e alimenta mercados locais (feiras locais
e pequenos comércios dos distritos).
166
Velhos e novos mitos do rural brasileiro...
fim da seca que assolou a região nos últimos anos. A PNAD registrou aí
mais 450 mil pessoas ocupadas nas áreas rurais em 1999 em relação ao
ano anterior, a grande maioria das quais em atividades agrícolas não re-
muneradas; e uma pequena redução da Orna, situação similar ao que já
havia acontecido entre 1993 e 1995. E essa “retomada da produção de
subsistência” é financiada em grande parte pelas transferências sociais
de renda (sendo a principal delas as provenientes da aposentadoria rural)
e pelo trabalho das mulheres dos pequenos produtores, as quais se tor-
nam empregadas domésticas nas cidades da região e respondem por parte
significativa das rendas monetárias das famílias de empregados rurais
no Nordeste.
Em resumo, a falta de desenvolvimento rural na grande maioria das
regiões “atrasadas” do país se deve a essa combinação de falta de desen-
volvimento agrícola e também não-agrícola. Ou seja, se uma determinada
região tem cidades com dinâmicas geradoras de emprego e renda, essas
mesmas dinâmicas tendem a se refletir no seu entorno rural. Daí a ne-
cessidade de superarmos essa dicotomia do rural/urbano e do agrícola/
não-agrícola e pensarmos no desenvolvimento do local, da região. E as
cidades têm de fazer parte disso: daí o desenvolvimento não poder ser
pensado como apenas rural e muito menos como exclusivamente agrícola.
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
13 E não só as indústrias, mas também os serviços, como é o caso das “sedes de campo” de
clubes sociais e esportivos, boates etc., para evitar as restrições de poluição sonora das zonas
urbanas.
170
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Velhos e novos mitos do rural brasileiro...
urbanos que habitam o meio rural ou que simplesmente o têm como uma
referência quase idílica de uma nova relação com a natureza. Isso por-
que um outro componente, cada vez mais importante no fortalecimento
dos espaços locais, têm sido as exigências e preocupações crescentes com
a gestão e a conservação dos recursos naturais. Aqui também a organi-
zação dos atores sociais pode impulsionar a participação e a implementa-
ção de planos de desenvolvimento local voltados aos seus interesses,
apesar de haver ainda muitas restrições quanto às formas de participa-
ção e representação, não só em razão de sua pouca mobilização, como
também da dificuldade de se ter todos os segmentos sociais devidamen-
te representados, diante da presença de impedimentos e vieses operacio-
nais vinculados às estruturas institucionais vigentes em nível local e à
dominação das decisões pelos grupos mais fortes.
GRÁFICO 1 – Evolução das rendas do trabalho principal das pessoas ocupadas no meio rural
brasileiro, segundo o ramo de atividade. Brasil, 1992-1999.
GRÁFICO 2 – Evolução das pessoas inativas e residentes no meio rural, segundo o ramo de
atividade. Brasil, 1981-1999.
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Referências bibliográficas
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7
A agricultura indiana na era da liberalização
John Harriss1
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A agricultura indiana na era da liberalização
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A agricultura indiana na era da liberalização
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A agricultura indiana na era da liberalização
interno bruto (em média, 0,3% do PIB) e é muito reduzido com relação a
países comparáveis (um quarto do de Sri Lanka, por exemplo).
O custo operacional do SDP deriva menos das transferências para os
consumidores que do pagamento de subsídios mediante preços mínimos
de apoio aos produtores de trigo e arroz, num contexto em que a demanda
é deficiente em razão da incapacidade da massa da população rural – os
marginais, os produtores semiproletarizados e o grande número de tra-
balhadores agrícolas assalariados sem-terra, que constituem 25-30% da
população rural – de pagar os cereais. Há alguns anos, uma análise
abrangente de Ashok Gulati demonstrou: 1. que a propagação regional
do subsídio ao input (pelo pagamento de fertilizantes subsidiados, a isen-
ção de tarifas de fornecimento de energia elétrica e o baixo nível dos
pagamentos da irrigação) é altamente desigual e tende a favorecer as re-
giões e plantações irrigadas; e 2. que há um nível mais elevado de incenti-
vos efetivos nas regiões com excedente do que nos Estados com déficit.
Ele se refere especificamente a Punjab-Haryana, e, como sugeriu Ashok
Mitra anos atrás, isso reflete as vantagens dos agricultores dessas regiões
no que toca à organização da ação coletiva. Atualmente, as disparidades
entre as regiões de high farming dos principais cereais de alto valor e o
resto estão se aprofundando ainda mais. Há uma espiral viciosa em fun-
cionamento. Os preços pagos aos agricultores pelo trigo e pelo arroz são
mais fortemente apoiados pelo Estado do que os outros preços agríco-
las. Aliás, o PMA do trigo e do arroz foi elevado para coincidir com os
preços internacionais e, posteriormente, quando estes caíram, foi nova-
mente elevado. Os custos desses cereais para os consumidores, entre os
quais naturalmente se incluem os trabalhadores agrícolas, também con-
tribuem com as contas de salários pagas pelos demais produtores. Por-
tanto, verifica-se uma tendência a abandonar as outras plantações em
favor do trigo e do arroz. Os agricultores com cultivos não-cereais, como
o de sementes oleaginosas, “têm enfrentado a dupla desvantagem de
preços mais baixos e custos mais altos ... o que levou a outra anomalia,
já que a região trocou as sementes oleaginosas pelos cereais (e), simul-
taneamente, o país passou a importar grandes quantidades de óleos co-
mestíveis enquanto os estoques de cereais atingiam patamares impossí-
veis de administrar” (Amartya Sen).
181
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
182
A agricultura indiana na era da liberalização
é (de fato) muito maior atualmente do que antes, com mais importa-
ções agrícolas atraindo taxas alfandegárias significativamente superio-
res ao máximo de 35% que incide sobre os produtos industriais, em con-
traste com o passado, quando se protegia muito mais a indústria que a
agricultura” (Amartya Sen). Mas, apesar das elevadas tarifas, ainda é
possível importar alguns produtos agrícolas por preços inferiores aos
exigidos para que produtores internos consigam equilibrar custo e ren-
da. Há uma crise, portanto, que se deve em parte às suposições excessi-
vamente otimistas acerca dos efeitos benéficos da OMC, quando, na prá-
tica, os acordos vigentes seguem preservando distorções favoráveis aos
países desenvolvidos. Mas o reverso da medalha tem a ver com a falta de
investimento público na agricultura e na infra-estrutura rural da Índia,
que trouxe as já mencionadas conseqüências: a desaceleração do merca-
do, a partir de 1990, em taxa de crescimento da produção por hectare da
maioria das plantações. “Como o custo de produção por unidade de output
do cultivo mostra uma relação fortemente inversa com as mudanças da
produção por hectare, esse resultado levou a um aumento do custo de
produção mais rápido do que antes, exigindo um crescimento maior do
output para manter a rede de retornos da agricultura” (Amartya Sen). A
estabilização dos preços e das rendas, na economia rural indiana, requer
mais investimento público produtivo na agricultura e medidas capazes
de aumentar a demanda efetiva das massas subnutridas.
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8
Um novo dilema para os países
em desenvolvimento
O comércio internacional de organismos
geneticamente modificados e as
negociações multilaterais
Simonetta Zarrilli1
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Um novo dilema para os países em desenvolvimento...
4 Ver Genetically altered rice: A tool against blindness. International Herald Tribune, 15-16 de
janeiro de 2000.
5 A modificação implica tirar os genes de uma bactéria do solo chamada Bacillus thringiensis e
torná-los parte da própria planta. As plantas de variedade Bt são tóxicas apenas para pra-
gas específicas.
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arroz mais protéicos, óleo de canola com alto teor de vitamina A, além
de frutas e legumes mais antioxidantes).6 Verifica-se um deslocamento
das características “agronômicas” da atual geração para as características
de “qualidade” da próxima, que visam a produtos alimentícios e rações
melhorados e especializados.
No entanto, há alguns riscos associados à biotecnologia (Stiwell, 1999).
188
Um novo dilema para os países em desenvolvimento...
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190
Um novo dilema para os países em desenvolvimento...
7 Esta seção se baseia em: James, C. “Preview. Global Review of Commercialized Transgenic
Crops: 1999”, International Service for the Acquisition of Agri-biotech Applications, ISAAA
Briefs, n.12, 1999.
191
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
8 Um número cada vez maior de produtores e varejistas decidiu não produzir nem estocar
produtos contendo OGMs – ou que não tenham certificado de ausência de OGM –, reagin-
do à preocupação crescente entre os consumidores. A Frito-Lay, a maior produtora de sal-
gadinhos do mundo, anunciou recentemente que deixaria de comprar milho e soja geneti-
camente modificados. Está seguindo os passos de diversas outras empresas de produtos
alimentícios, inclusive a Gerber e a H. J. Heinz, de alimento para bebês, as cadeias inglesas
Iceland e Sainsbury, a Asahi Breweries do Japão, a rede de supermercados Tesco (Reino
Unido) e a Migros (Suíça). A Nestlé, a maior indústria de produtos alimentícios do mun-
do, deixou de comprar qualquer cereal de semente geneticamente alterada para as opera-
ções européias. As redes de lanchonetes como a McDonald’s e a Burger King declaram a
intenção de abandonar os ingredientes GM. Ver “International: GMO politics”, Oxford
Analytica Brief, 13 de março de 2000: 3, e “Vade retro OGM”, L’Expansion, 2-15 de março
de 2000, n.616.
9 Ver Oxford Analytical Brief, nota 10.
192
Um novo dilema para os países em desenvolvimento...
A Comunidade Européia
193
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
13 A outra parte da legislação horizontal consiste numa Diretiva sobre o uso restrito de mi-
crorganismos geneticamente modificados que enfoca o processo de fabricação de MGM
(Council Directive 90/219/EEC, 23 de abril de 1990, OJ L 117, 8 de maio de 1990, p.1 ss.)
14 Para mais detalhes, consultar o site http://food.jrc.it/gmo, mantido pela Comissão Européia.
15 Se o país afetado decidir autorizar uma proposta de liberação, a Comissão apresenta o dossiê
aos demais países. Estes podem opor objeções justificadas. Na ausência delas, a autorida-
de competente do país onde se iniciou o procedimento de autorização dá o seu consenti-
mento para que o produto seja colocado no mercado. Sendo apresentadas objeções, as au-
toridades competentes dos Estados-membros devem procurar chegar a um acordo. Se não
conseguirem num prazo de sessenta dias, a Comissão tem de submeter uma minuta das
medidas propostas a um comitê composto de representantes dos Estados-membros. A Co-
missão pode propor que o OGM seja autorizado ou não, mas, até agora, sempre se mostrou
favorável a autorizar a liberação deliberada. Se o comitê não concordar com a minuta da
Comissão ou não emitir opinião, submetem-se as medidas propostas ao Conselho. As de-
cisões deste podem ser tomadas com maioria qualificada, mas, se não se chegar a um con-
senso dentro de três meses, compete à Comissão tomar a decisão final. Ver uma análise da
Diretiva 90/220 em Douma & Matthee (1999).
194
Um novo dilema para os países em desenvolvimento...
16 Comission Directive 97/35/EC, 18 de junho de 1997, OJ L 169, 27 de junho de 1997, p.73 ss.
17 EC Council, Common Position (EC) n.12/2000, adotada pelo Conselho no dia 9 de de-
zembro de 1999, OJ C 64, 6 de março de 2000, p.1 ss.
195
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18 Regulation (EC) n.258/97, 27 de janeiro de 1997, OH L 043, 14 de fevereiro de 1997, p.1 ss.
19 Conforme a Regulamentação, novos são os alimentos e ingredientes alimentares ainda não
utilizados no consumo humano em grau significativo no interior da Comunidade, particu-
larmente os que contêm ou derivam de OGMs.
196
Um novo dilema para os países em desenvolvimento...
20 A embalagem deve informar o consumidor final sobre: (a) toda e qualquer característica de
propriedade alimentar que faça que o novo alimento ou ingrediente não seja equivalente a
um alimento ou ingrediente já existente; (b) a presença, no novo alimento ou ingrediente,
de material que não esteja presente no produto alimentício similar existente e que possa
ter implicações para a saúde de certos segmentos da população; (c) a presença, no novo
alimento ou ingrediente, de material ausente num produto alimentício similar existente e
que suscite restrições éticas; e (d) a presença de um organismo geneticamente modificado
por técnicas de modificação genética, cuja lista não exaustiva é fixada pela Diretiva 90/
220EEC (Artigo 8).
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21 Ver Communication by the European Communities, White Paper on Food Security, COM (1999)
719 fim, 12 de janeiro de 2000.
22 Ver European Commission, Press Release, “Commission proposes de minimis threshold
and labelling rules for GMOs”, Bruxelas, 22 de outubro de 1999. Disponível em <http://
europa.eu.int/commdg03/press/ 1999/IP99783.htm>.
23 Commission Regulation (EC) n.50/2000, 10 de janeiro de 2000, OJ L 006, 11 de janeiro de
2000, p.15 ss. e Commission Regulation (EC) n.49/2000 de 10 de janeiro de 2000, OJ L
006, 11 de janeiro de 2000, p.13 ss.
198
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24 Commission of the European Communities, Proposal for a European Parliament and Council
Directive amending Directive 79/373/EEC on the marketing of compound feeding stuffs,
COM(1999) 744 fim, 2000/0015 (COD), 7 de janeiro de 2000.
25 Ver Genetic Modifications Issues (GM): GM Food Labelling (Site do United Kingdom
Cabinet Office Genetic Modification (GM) Issues, http://www.gm-info.gov.uk/1999/
gmfoodlabel.htm).
26 Ver “Europe sees potential in organic foods”, Reuters, 9 de março de 2000 e “L’euphorie de
l’agriculture verte”, Le Figaro, 2 de abril de 2000.
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O Japão
200
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Os Estados Unidos
201
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30 Os Estados em questão são: Delaware, Idaho, Illinois, Indiana, Iowa, Michigan, Missouri,
Nebraska, Nevada, Carolina do Norte, Dakota do Norte, Washington e Wisconsin.
202
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31 Ver “13 governors will promote genetically altered foods”, St. Louis Post-Dispatch, 3 de maio
de 2000.
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36 Ver WTO, Communication from Canada. The Development of a Voluntary Standard for
the Labelling of Foods Derived from Biotechnology, G/TBT/W/134, 23 de maio de 2000.
37 Ver “Le projet du Conseil fédéral sur les OGM court à la défaite” e “S’adapter au marché? Les
paysans prennent au mot les partisans du génie génétique”, Les Temps, 28 de abril de 2000.
38 Informação fornecida pela Agência Nacional de Ciência e Tecnologia da Tailândia.
39 WTO, G/TBT/Notif.004/49, 1º de fevereiro de 2000.
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Um novo dilema para os países em desenvolvimento...
As soluções multilaterais
40 Ver “Sri Lanka: Government bans genetically engineered foods”, South-North Development
Monitor, 14 de abril de 2000, e a informação fornecida pela Missão Permanente de Sri Lanka
em Genebra.
41 Ver “Trade: Mexico Senate approves transgenic product labelling”, Suns, 4 de abril de 2000.
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Um novo dilema para os países em desenvolvimento...
44 Segundo o Artigo 7.2 do Protocolo, os OVMs para a introdução intencional no meio ambien-
te são todos os OVMs não destinados para o uso direto como alimento ou ração, ou para o
processamento.
211
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determinar que é preciso aguardar uma autorização escrita tem 270 dias,
a partir da data da notificação, para decidir se aprova a importação (acres-
centando as condições que forem consideradas pertinentes), proíbe-a,
solicita informação adicional ou amplia o prazo de resposta. Essa decisão
também deve ser notificada ao sistema de troca de informações denomi-
nado Biosafety Clearing-House (com base na internet).45 O fato de o país
importador deixar de comunicar sua decisão não pressupõe consentimen-
to. Ele é obrigado a dar os motivos da decisão que tomar, a não ser em
caso de aprovação incondicional. As decisões devem se basear na evidên-
cia científica disponível e na avaliação de risco; todavia, os países impor-
tadores podem invocar as determinações do princípio da precaução. E
cabe ao exportador arcar com a responsabilidade financeira da avaliação
de risco, caso a exija o país importador.
Os OVMs destinados à liberação no meio ambiente virão acompa-
nhados de documentação que os identifique como OVMs, especifique suas
características relevantes, informe sobre o manuseio, o armazenamento,
o transporte e o uso seguros, e dê o nome e o endereço do importador e
do exportador. Também é necessária uma declaração de que o movimen-
to está em conformidade com as exigências do Protocolo. No futuro, a
Conferência das Partes do Protocolo avaliará a necessidade e as modali-
dades de desenvolvimento de padrões relativos aos procedimentos de
identificação, manuseio, embalagem e transporte.
Não obstante, o sistema AIA abrange apenas uma pequena porcen-
tagem dos OVMs comercializados, já que os destinados ao uso direto na
alimentação humana, na ração animal ou no processamento sujeitam-se
a um procedimento de notificação diferente e menos rigoroso. Quatro
tipos de OVMs ficam excluídos do sistema AIA: a maior parte dos produ-
tos farmacêuticos de emprego humano, os OVMs em trânsito, os desti-
nados a “uso restrito”46 e os que tenham sido declarados seguros numa
45 Será necessário encontrar meios alternativos para que os países ainda sem acesso pleno à
internet recebam a informação.
46 Conforme o Artigo 3(b) do Protocolo, “‘uso restrito’ significa qualquer operação empreen-
dida no interior de um prédio, de instalações ou de qualquer estrutura física, que envolva
organismos vivos modificados controlados por medidas específicas que lhe restrinjam efe-
tivamente o contato ou o impacto sobre o ambiente exterior”.
212
Um novo dilema para os países em desenvolvimento...
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
47 É interessante notar que, conforme o Acordo SPS, um país pode fundamentar suas medi-
das nas avaliações de risco feitas por outros países ou por organizações internacionais e
pode buscar informação adicional em outros países-membros ou na indústria.
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48 Ver United States Department of State, Office of the Spokesman, Fact Sheet, “The Cartagena
Protocol on Biosafety”, EUR312 16.2.2000.
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50 No caso da Gasolina (Os padrões dos Estados Unidos para a Gasolina Reformulada e a Convencional,
Decisão do Órgão de Apelação adotada em 20 de maio de 1996, WT/DS2/9), o Órgão de
Apelação citou o Artigo 3.2 do Entendimento Relativo às Normas e Procedimentos de So-
lução de Controvérsias, que exige que o panel e o Órgão de Apelação usem “as costumeiras
regras de interpretação” para interpretar as determinações dos Acordos da OMC. O Órgão
de Apelação vinculava o sistema jurídico da OMC ao resto da ordem jurídica internacional
e impunha ao panel e aos Membros da OMC a obrigação de interpretar os Acordos da OMC
conforme as costumeiras regras de interpretação do direito público internacional. No caso
do Camarão (a Proibição dos Estados Unidos da Importação de Certos Camarões e Produtos Derivados
de Camarão, Decisão do Órgão de Apelação adotada em 12 de outubro de 1998, WT/DS58/
AB/R), o Órgão de Apelação referiu-se a diversas convenções internacionais para interpre-
tar a expressão “recursos naturais”. Portanto, os tratados, as práticas, os costumes e os prin-
cípios gerais extra-OMC podem ser relevantes na interpretação das provisões da OMC e
podem exercer muita influência sobre a definição dos parâmetros e do conteúdo das obriga-
ções da OMC. Para uma discussão detalhada sobre esse tópico, ver Maceau (1999, p.87 ss).
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51 Ver “Barshefsky hints at considering possible biotech case Against EU”, Inside US Trade,
v.18, n.24, 16 de junho de 2000.
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52 EC Measure Concerning Meat and Meat Products (Hormones), Complaint by the United States,
WT/DS26/R, 18 de agosto de 1997; Complaint by Canada, WT/DS48/R, 18 de agosto de
1997.
53 É a seguinte a formulação do princípio de precaução contida no Princípio 15 da Declaração
do Rio de 1992: “Havendo ameaças de danos sérios ou irreversíveis, a falta de plena certe-
za científica não será usada como razão para adiar medidas eficazes para evitar a degrada-
ção ambiental”.
220
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56 Ver WTO, “Understanding the WTO Agreement on Sanitary and Phytosanitary (SPS)
Measures”, maio de 1998. (Disponível em <http://www.WTO.org/wto/goodbs/
spsund.htm>.)
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57 Regulation (EC) n.1139/98, 26 de maio de 1998, OJ L 159, 3 de junho de 1998, p.4 ss.
224
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
Antes de mais nada, não está claro se uma proibição de importação deve
ser encarada como regulamentação técnica. Em segundo lugar, não está
claro se os OGMs podem ser considerados diferentes dos produtos con-
vencionais ou se se trata de “produtos similares”. Ainda que várias consi-
derações levem à conclusão de que os produtos geneticamente modifi-
cados e os convencionais são dissimilares, não se chegou a um consenso
sobre a questão. A terceira opção consiste em invocar o Artigo 20 do GATT.
Nesse caso, o país que implementar a medida restritiva ao comércio é
obrigado a provar que esta não só é compatível com a exceção específica
invocada (parágrafos (b) e (g)), como também que está em conformida-
de com o texto introdutório do Artigo 20, isto é, que não constitui uma
discriminação injustificável ou arbitrária entre países nos quais prevale-
cem as mesmas condições nem uma restrição dissimulada ao comércio
internacional.
O reforço da proteção do direito de propriedade intelectual pode
tornar mais lucrativo o investimento da indústria de biotecnologia,63 de
modo que é possível argumentar que o Acordo TRIPS promove a adoção
dos OGMs no sistema alimentar. A questão da biotecnologia aplicada aos
produtos agrícolas e alimentícios relaciona-se com a de patentear vegetais
ou animais vivos, inclusive as invenções e variedades vegetais biotec-
nológicas. Tanto nos países desenvolvidos quanto nos subdesenvolvidos,
manifesta-se a preocupação com o impacto econômico, social, ambiental
e ético da patenteação da vida. Ademais, muitos governos do Terceiro
Mundo receiam que o controle da natureza e da distribuição de novas for-
mas de vida, por parte dos conglomerados transnacionais, venha a afetar
as perspectivas de desenvolvimento e segurança alimentar de seus países.
A patenteação da vida suscita cuidados com os direitos do consumidor,
com a conservação da biodiversidade, com a proteção ambiental, com a
sustentabilidade da agricultura, com os direitos dos indígenas, com a li-
berdade científica e acadêmica e, enfim, com o desenvolvimento econô-
mico de muitas nações subdesenvolvidas dependentes de novas
tecnologias. Ademais, resta saber até que ponto os detentores de paten-
tes e licenças assumirão a responsabilidade pelas eventuais conseqüências
adversas da aplicação da biotecnologia no meio ambiente e no bem-es-
tar humano.
228
Um novo dilema para os países em desenvolvimento...
64 Um sistema sui generis de proteção é uma forma alternativa única de proteção da proprieda-
de intelectual, destinada a ajustar-se ao contexto e às necessidades particulares de um país.
No caso das variedades vegetais, significa que os países podem criar normas próprias de
proteção às novas variedades vegetais com alguma forma de direito de propriedade inte-
lectual (DPI), contanto que tal proteção seja eficaz. O acordo não define os elementos de
um sistema eficaz.
65 Union Internationale pour la Protection des Obtentions Végétales (União Internacional
de Proteção das Novas Variedades Vegetais).
229
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
66 Ver Cullet Ph., “Protecting rights in plant varieties”, Center for International Development
at Harvard University, 1999. Disponível em <http://www.cid.harvard.edu/cidbiotech/
comments/comments56.htm>.
67 Ver, por exemplo, WTO, Submission from India, General Council – Preparations for the
1999 Ministerial Conference – Discussion on Paragraph 9a(iii) of the Geneva Ministerial
Declaration, WT/GC/W/151, 8 de março de 1999: “A questão da interface comércio e meio
ambiente é complexa e, na nossa avaliação, as provisões existentes na OMC são mais que
adequadas para lidar com as preocupações ambientais genuínas e bona fide. A verdadeira
solução do problema, se houver, está nas instituições internacionais que tratam dos acor-
dos ambientais multilaterais”.
230
Um novo dilema para os países em desenvolvimento...
68 WTO, Communication from the United States – Preparations for the 1999 Ministerial
Conference – Negotiations on Agriculture – Measures Affecting Trade in Agricultural
Biotechnology Products, WT/GC/W288, 4 de agosto de 1999.
231
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
69 WTO, Communication from Canada – Preparations for the 1999 Ministerial Conference –
Proposal for Establishment of a Working Party on Biotechnology in WTO, WT/GC/W/359,
12 de outubro de 1999.
70 WTO, Communication from Japan – Preparations for the 1999 Ministerial Conference –
Proposal of Japan on Genetically Modified Organisms (GMOs), WT/GC/W/365, 12 de
outubro de 1999.
232
Um novo dilema para os países em desenvolvimento...
233
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
234
Um novo dilema para os países em desenvolvimento...
71 Joint FAO/WHO Food Standard Programme, Report of the First Session of the Codex Ad Hoc
Intergovernmental Task Force on Foods Derived from Biotechnology, Chiba, Japão, 14-17 de março
de 2000, ALINOR 01/34. O relatório será examinado na 24ª Sessão da Comissão do Código
Alimentar (Genebra, 2-7 de julho de 2001).
72 Ver “FAO stresses potential of biotechnology but calls for caution”, FAO Press Release 00/17.
235
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
73 Ver “World needs GM crops, says UN food chief ”, Financial Times, 28 de junho de 2000.
236
Um novo dilema para os países em desenvolvimento...
As iniciativas da OCDE
74 Ver “The Codex Alimentarius Commission approves guidelines for organic food and sets
up taskforces on standards for derived from biotechnology, animal feeding and fruit juices”,
FAO Press Release, 99/41.
75 “A biotecnologia oferece grandes oportunidades, mas também representa desafios signifi-
cativos e suscitou o debate público sobre suas implicações. Os ministros enfatizaram a
importância de salvaguardar a saúde humana e meio ambiente e, ao mesmo tempo, permi-
tir que as pessoas desfrutem dos benefícios provindos dos avanços da biotecnologia. A
pesquisa científica é essencial ao processo. A OCDE deve continuar examinando as várias
dimensões da questão, inclusive a discussão no próximo encontro ministerial do CPCT
(Comitê de Política Científica e Tecnológica) e em outros foros” (Comunicado da reunião
do Conselho da OCDE em âmbito ministerial, parágrafo 9, maio de 1999). “Como o co-
mércio é cada vez mais global, é preciso lidar com as conseqüências dos desenvolvimentos
da biotecnologia em nível nacional e internacional e em todos os foros adequados. Nós
dependemos de uma abordagem com base científica e fundada em normas para tratar des-
sas questões” (Comunicado dos Chefes de Estado e de Governo do G8, parágrafo 11, Colô-
nia, junho de 1999).
237
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
O princípio de precaução
76 Ver Inter-Agency Network for Safety in Biotechnology (IANB), Safety in Biotechnology – IANB
Newsletter, n.1, 19 de abril de 2000, e OECD Work on Biotechnology and Other Aspects of Food
Safety, nota do secretário-geral, C(99) 148/REV4, 15 de novembro de 1999.
77 Na formulação da Declaração do Rio, o princípio tem diversos elementos. O limite para
desencadear o princípio é a existência de ameaças identificáveis de dano sério e irreversível.
Na existência de tais ameaças, os governos têm liberdade de tomar medidas custo-efetivas
preventivas. Também podem se recusar a tomar tais medidas, porém não alegando falta de
certeza científica. Ademais da referência a essas medidas, o Princípio 15 não estabelece
condições nem restrições para as medidas preventivas que o governo escolher.
78 Encontra-se uma análise recente do princípio de precaução em Ward, H., “Science and
Precaution in the Trading System”, Royal Institute of International Affairs e o International
Institute for Sustainable Development, 1999.
238
Um novo dilema para os países em desenvolvimento...
239
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
240
Um novo dilema para os países em desenvolvimento...
81 Ver “EC’s precautionary principle seeks proportionate, unbiased risk analysis”, International
Trade Reporter, v.17, n.6, 2 Feb. 2000.
82 WTO, Communication from the European Communities, Preparations for de 1999 Minis-
terial Conference – EC Approach to Trade and Environment in the New WTO Round, WT/
GC/W194, 1º de junho de 1999.
241
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
Conclusões
242
Um novo dilema para os países em desenvolvimento...
243
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
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Um novo dilema para os países em desenvolvimento...
Cenário 1
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
Cenário 2
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Um novo dilema para os países em desenvolvimento...
247
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
Referências bibliográficas
248
Parte III
Estado, integração regional
e desenvolvimento
9
O papel do Estado na economia:
um exame teórico sobre o caso chinês
Zhiyuan Cui1
251
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
252
O papel do Estado na economia...
2 Um exemplo simples demonstra a validade dessa afirmação: suponhamos que duas pes-
soas avaliem diferentemente uma unidade marginal de bem; a primeira a avalia em $5; a
segunda, em $4. Ora, se a que dá o menor valor vender uma parte desse bem à outra por
um preço qualquer entre $4 e $5, ambas se sairão bem. Assim, nenhuma alocação com ta-
xas marginais de substituição diferentes pode ser eficiente em termos de Pareto.
253
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
254
O papel do Estado na economia...
255
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
3 A atual crise da poupança e do crédito, nos Estados Unidos, é, em grande parte, causada
pela desregulamentação malfeita: a administração não foi capaz de perceber que a
desregulamentação de uma dimensão (como a da escolha de investimento da indústria em
poupança e empréstimos) pode exigir uma regulamentação mais rigorosa de outra (como
supervisionar a “segurança e a saúde” da poupança e dos empréstimos).
256
O papel do Estado na economia...
As corporações
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
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O papel do Estado na economia...
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
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O papel do Estado na economia...
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
A complementaridade eficiência-eqüidade
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O papel do Estado na economia...
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O papel do Estado na economia...
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
Continuação
1985 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998
Taxa de crescimento
da renda 7,9 1,8 2,0 5,9 3,2 5,0 5,3 9,0 4,6 3,5
Taxa de crescimento
do varejo rural 25,9 -2,11 7,39 7,37 -14,35 4,07 6,12 12,1 9,7 –
Varejo rural/
varejo social total 58,47 55 53,6 51,9 44,6 43,9 43,1 43,5 43 40
266
O papel do Estado na economia...
267
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
268
O papel do Estado na economia...
269
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
A condição política
Em outras palavras, para ser estatal, o Estado não pode estar nas mãos
de grupos de interesses especiais. Além disso,
270
O papel do Estado na economia...
271
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
A condição fiscal
272
O papel do Estado na economia...
Referências bibliográficas
273
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
274
10
A estratégia econômica global
da África do Sul
Faizal Ismail,
Peter Draper e
Xavier Carim1
Introdução
A estratégia econômica global da África do Sul precisa levar em conta
as condições políticas e econômicas nacionais e os imperativos de desen-
volvimento que o país enfrenta. Cabe-nos enfrentar os graves desafios
ao desenvolvimento legados pela opressão racial e por três décadas de
declínio econômico. Não se trata de uma simples obrigação moral coleti-
va. Isso deriva da convicção de que somente corrigindo as desigualdades
do passado é que será possível chegar à estabilidade social e política neces-
sária à realização do crescimento econômico sustentável e de uma socie-
dade genuinamente democrática e próspera.
A estratégia também precisa reagir à marginalização econômica a que
estão sujeitos os nossos vizinhos do sul da África e do continente africano.
275
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
276
A estratégia econômica global da África do Sul
A globalização
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
Metodologia
278
A estratégia econômica global da África do Sul
A África
A estratégia industrial
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280
A estratégia econômica global da África do Sul
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
O sul da África
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A estratégia econômica global da África do Sul
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
Desafios ao desenvolvimento
284
A estratégia econômica global da África do Sul
Países decisivos
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
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A estratégia econômica global da África do Sul
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
América Latina e da Ásia. Esse conceito tem se desenvolvido ainda mais com
as negociações FTA4 com a Nigéria e a Índia e com a formação do G-Sul.
O Mercosul é o alvo na América Latina. Nosso parceiro estratégico
principal na região é o Brasil, com o qual se iniciaram discussões sobre
futuros acordos comerciais. A Argentina e o Chile são mercados prioritários.
Na Ásia em desenvolvimento, a Índia é o nosso parceiro estratégico
principal. A China é um país estratégico na região, com o qual precisa-
mos construir vínculos mais fortes para que essa relação evolua para a
parceria estratégica. Também é possível que no futuro se iniciem discus-
sões com a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), na qual
a Indonésia e a Tailândia são países prioritários. Dado o seu peso na Asean
e as dimensões de seu mercado, a Indonésia pode vir a ser um país ou
um parceiro estratégico no futuro.
No Oriente Próximo, a Arábia Saudita é um país estratégico capaz
de se tornar um parceiro estratégico; o Irã, um país prioritário.
Os instrumentos
288
A estratégia econômica global da África do Sul
A estratégia multilateral
A necessidade de alianças
289
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
A abordagem estratégica
290
A estratégia econômica global da África do Sul
291
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
292
11
Periferias regionais e globalização:
o caminho para os Balcãs
Francisco de Oliveira1
293
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
294
Periferias regionais e globalização: o caminho para os Balcãs
295
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
296
Periferias regionais e globalização: o caminho para os Balcãs
297
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
298
Periferias regionais e globalização: o caminho para os Balcãs
299
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
300
12
As políticas macroeconômicas e o
entorno jurídico-institucional na indústria
maquiladora de exportações do México
e da América Central
Jorge Máttar
René A. Hernández1
1 Cepal, México.
301
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
302
As políticas macroeconômicas e o entorno jurídico-institucional...
303
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
por sua vez, incentivou o gasto de consumo motivado pela expansão e pela
liberalização financeira a partir de 1991. Adicionalmente, a política finan-
ceira de curto prazo promoveu, em 1994, a dolarização da dívida interna
por meio da substituição dos Cetes por Tesobonos; em razão do elevado
diferencial entre as taxas de lucro internas e externas, o sistema bancário
se converteu em um devedor líquido de moeda estrangeira (Ros, 1995).
A excessiva liquidez foi outro elemento que aprofundou a crise do
país. O crédito dos bancos comerciais, uma vez mais em mãos privadas
desde o início da década de 1990, expandiu-se rapidamente. Em um con-
texto de liberalização financeira e frouxa supervisão bancária, as expec-
tativas favoráveis de crescimento da economia, assim como as volumo-
sas injeções de capitais do começo dos anos 90, trouxeram consigo um
auge na demanda de crédito do setor privado, por mais que se mantives-
sem elevadas as taxas reais de juros. Justamente o saldo de crédito ban-
cário recebido pelas empresas e por particulares dobrou em termos reais
entre 1991 e 1994.2 O aumento do crédito veio acompanhado de incre-
mentos significativos no montante da carteira vencida consignada pelos
bancos, que passou de 2,3% do total da carteira de empréstimos, em 1990,
para 9,5% no fim de 1994 (OCDE, 1995).
Em 1995, a economia mexicana viveu a mais grave crise da história
moderna. O governo implementou um programa emergencial visando,
acima de tudo, ajustar rápida e profundamente o setor externo a fim de
suprir a brusca interrupção de influxos de capital estrangeiro. No marco
da grave crise do sistema bancário, de uma forte instabilidade cambial e
do risco de descontrole inflacionário, a economia sofreu uma contração
de 6,2%, em 1995, e a taxa de desemprego aberto elevou-se a 6,2% (3,7%
em 1994). A inflação ultrapassou os 50% e a redução de inserção real de
amplas camadas da população provocou uma forte queda da demanda
interna (14%). A pronta reação das exportações (que aumentaram 30%)
ao ajuste cambial (o peso teve uma desvalorização nominal de 47% e real
de 31%), assim como o acesso preferencial ao mercado norte-america-
no, graças ao Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta),
concorreram para evitar uma deterioração ainda maior do nível de ativi-
dade (Cepal, 1996).
2 Os incrementos anuais reais foram de 19% em 1991, 26% em 1992, 16% em 1993 e 36%
em 1994.
304
As políticas macroeconômicas e o entorno jurídico-institucional...
305
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
306
As políticas macroeconômicas e o entorno jurídico-institucional...
de países com que o México não tem acordo de livre comércio ou que,
presumivelmente, lançavam mão de práticas comerciais desleais. Podia
ter sido maior o declínio do PIB, em 1995 (ver a seção 3), não fosse o
considerável aumento das exportações, a maioria das quais destinada ao
mercado do Nafta.
A partir da realização do Acordo, o comércio internacional do México
vem se acelerando, especialmente as exportações; é o resultado das con-
dições favoráveis de acesso ao mercado dos Estados Unidos, embora não
se deva esquecer que a desvalorização real do peso, em 1995, impulsionou
extraordinariamente as vendas externas do país, o que prossegue até o
presente. Assim, o México tornou-se o segundo sócio comercial dos Es-
tados Unidos, com um intercâmbio de cerca de 250 bilhões de dólares
em 1999; o acesso preferencial dos produtos mexicanos aos Estados
Unidos (a tarifa média a eles aplicada caiu de 3,3%, em 1993, para 1,1%
em 1998) situa-o hoje como o terceiro fornecedor do mercado de impor-
tações norte-americanas, com uma cota de 10%, ficando atrás somente
do Canadá e do Japão. O comércio com o Canadá também vem se forta-
lecendo; o México é seu terceiro sócio comercial e o quarto fornecedor
de bens; embora o nível de comércio seja muito inferior ao que se tem
com os Estados Unidos.
A posição do México como plataforma de exportação para o mercado
dos Estados Unidos e do Canadá – a partir de condições de acesso prefe-
renciais com o TLC – tem atraído grandes volumes de investimento direto,
não só desses países como também da Europa Ocidental e do Japão. O
investimento estrangeiro direto manteve-se próximo de 4 bilhões de
dólares entre 1990 e 1993; evidentemente, a partir de 1994, os fluxos se
elevaram para cerca de 10 bilhões anuais, inclusive no período de 1994 a
1995, anos que se caracterizaram pela instabilidade econômica. Aproxi-
madamente 60% do investimento estrangeiro direto provêm dos outros
signatários do Nafta. Em 1999, prevê-se que o fluxo se manterá em tor-
no de 10 bilhões de dólares, o que tornará o México o principal receptor
de investimentos diretos da América Latina na década de 1990.
Desde que o acordo entrou em vigor, o emprego cresceu 10,1% no
Canadá, gerando 1,3 milhão de postos de trabalhos; no México, aumentou
22%, com o que se geraram 2,2 milhões de vagas; e nos Estados Unidos
307
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
6 Secofi (1999). Obviamente não é possível identificar o efeito claro do acordo sobre o em-
prego. Sem embargo, existe um consenso de que o impacto tenha sido positivo.
308
As políticas macroeconômicas e o entorno jurídico-institucional...
A política monetária
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As finanças públicas
310
As políticas macroeconômicas e o entorno jurídico-institucional...
O resgate financeiro
A blindagem financeira
311
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
312
As políticas macroeconômicas e o entorno jurídico-institucional...
8 Não se inclui a Nicarágua por esta apresentar média de inflação de três dígitos nos primei-
ros três anos da década.
313
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
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As políticas macroeconômicas e o entorno jurídico-institucional...
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
9 Ver Incae/CLACDS; HIID, Centroamérica en el Siglo XXI: Una agenda para la competitividad
y el desarrollo sostenible; bases para la discusión sobre el futuro de la región, 1999.
316
As políticas macroeconômicas e o entorno jurídico-institucional...
317
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
10 Nos cinco países que compõem o MCCA, as cifras de produção e emprego, maquila ou em-
prego da pequena e média empresas não se encontram adequadamente desagregadas e/ou
refletidas nas estatísticas oficiais.
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As políticas macroeconômicas e o entorno jurídico-institucional...
3 O contexto jurídico-institucional
da indústria maquiladora de exportação
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
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As políticas macroeconômicas e o entorno jurídico-institucional...
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
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As políticas macroeconômicas e o entorno jurídico-institucional...
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Brasil, México, África do Sul, Índia e China
Conclusões e perspectivas
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As políticas macroeconômicas e o entorno jurídico-institucional...
325
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
326
As políticas macroeconômicas e o entorno jurídico-institucional...
Referências bibliográficas
327
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
328
13
Transferência de tecnologia e a
integração positiva na economia global
Assad Omer1
Introdução
329
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
330
Transferência de tecnologia e a integração...
331
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
332
Transferência de tecnologia e a integração...
333
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
334
Transferência de tecnologia e a integração...
335
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
336
Transferência de tecnologia e a integração...
337
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
338
Transferência de tecnologia e a integração...
339
Brasil, México, África do Sul, Índia e China
Além da Fabricação
Referência bibliográfica
OMER, A. An overview of legislative changes. In: PATEL, S. J., ROFFE, P., YUSUF,
A. (Ed.) International Tecnology Transfer: The Origins and Aftermath of the
United Nations Negotiations on a Draft. 2001.
340
SOBRE O LIVRO
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 27 x 45 paicas
Tipologia: Iowan Old Style 10,5/14
Papel: Offset 75 g/m2 (miolo)
Cartão Supremo 250 g/m2 (capa)
1a edição: 2002
EQUIPE DE REALIZAÇÃO
Coordenação Geral
Sidnei Simonelli
Produção Gráfica
Anderson Nobara
Edição de Texto
Nelson Luís Barbosa (Assistente Editorial)
Carlos Villarruel (Preparação de Original)
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