Neste nosso encontro, estudaremos algumas relevantes orientações
do Supremo Tribunal Federal sobre o mandado de segurança coletivo, remédio constitucional de natureza coletiva previsto no art. 5º, LXX, da Lei Maior.
Estabelece a Constituição Federal que o mandado de segurança
coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados.
Da promulgação da vigente Constituição até os dias atuais,
formaram-se, na doutrina e jurisprudência pátrias, algumas controvérsias sobre a aplicação do mandado de segurança coletivo entre nós.
Diante dessas controvérsias, coube à jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal firmar o seu entendimento a respeito, nos termos a seguir examinados.
Porém, antes de adentrarmos no estudo das orientações do Supremo
Tribunal Federal, peço vênia para uma breve consideração, que certamente será considerada desnecessária por quase todos os visitantes, mas, em se tratando de concurso público, ainda prefiro pecar pelo excesso.
Não devemos confundir o mandado de segurança individual (CF, art.
5º, LXIX) com o mandado de segurança coletivo (CF, art. 5º, LXX).
O mandado de segurança coletivo é aquele impetrado por uma
das entidades apontadas no inciso LXX do art. 5º da Constituição Federal (partido político, organização sindical, entidade de classe ou associação), na defesa dos interesses dos seus associados ou membros, e não aquele impetrado por um grupo de cidadãos, na defesa de seus próprios interesses.
Com efeito, se dez indivíduos têm um interesse comum e resolvem,
juntos, impetrar um único mandado de segurança para a defesa desse direito, não estaremos diante da impetração de um mandado de segurança coletivo. Nessa situação, teremos um mandado de segurança individual, com a formação de um litisconsorte ativo (pluralidade de sujeitos no pólo ativo da ação).
Passemos às orientações do Supremo Tribunal Federal.
1) EXIGÊNCIA DE CONSTITUIÇÃO E FUNCIONAMENTO
Estabelece a Constituição Federal que o mandado de segurança
coletivo poderá ser impetrado por “organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados”.
Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, essa
exigência de um ano de constituição e funcionamento destina-se apenas às associações, não se aplicando às entidades sindicais e entidades de classe.
2) DESNECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO EXPRESSA
Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, ao impetrar
um mandado de segurança coletivo, os legitimados do art. 5º, LXX, da Constituição Federal estão atuando como substitutos processuais, isto é, estão defendendo em nome próprio interesse alheio (interesse dos seus membros ou associados).
Nessa condição, de substitutos processuais, não se se exige a
autorização expressa e específica dos membros ou associados para a impetração do mandado de segurança coletivo, bastando para tal a autorização genérica constante dos estatutos da entidade.
3) INTERESSE DEFENDIDO PELAS ENTIDADES COLETIVAS
No caso da legitimação das organizações sindicais, entidades de
classe e associações, muito se discutiu a respeito da natureza do direito que poderia ser por elas defendido na via do mandado de segurança coletivo, formando-se, a respeito, duas correntes de pensamento.
A primeira corrente entendia que as entidades só poderiam defender
na via do mandado de segurança coletivo direito que fosse peculiar, exclusivo dos seus membros ou associados. Assim, o Sindicado dos Auditores-Fiscais da Receita Federal só poderia defender na via do mandado se segurança coletivo direito que fosse exclusivo, peculiar dos Auditores-Fiscais da Receita Federal (o pagamento de uma gratificação privativa dessa categoria, por exemplo). A segunda corrente entendia que as entidades poderiam defender na via do mandado de segurança coletivo direito da titularidade dos seus membros ou associados, independentemente de ser esse direito exclusivo (ou não). Assim, o sindicato dos Auditores-Fiscais da Receita Federal poderia defender na via do mandado de segurança coletivo direito pertencente aos Auditores-Fiscais da Receita Federal, ainda que esse direito pertencesse, também, a outras categorias (poderia, por exemplo, pleitear a restituição do desconto indevido de uma contribuição previdenciária incidente sobre a remuneração dos Auditores-Fiscais da Receita Federal, ainda que essa contribuição tivesse incidência sobre a remuneração de todos os servidores públicos federais).
Essa segunda orientação, segundo a qual não se exige que o direito
defendido seja exclusivo da classe, foi a firmada pelo Supremo Tribunal Federal.
Podemos, então, apresentar o seguinte exemplo, a respeito da
impugnação de matéria tributária: (a) a associação ou o sindicato poderá ajuizar mandado de segurança coletivo para afastar a incidência de determinado tributo, desde que esse tributo recaia sobre os associados ou filiados; (b) é irrelevante o fato de tal tributo atingir, também, outras classes de contribuintes, não associados, pois não se exige que o direito pleiteado seja peculiar, próprio, da classe; (c) evidentemente, caso tal tributo não onere os associados ou filiados, a associação e o sindicato não terão legitimidade para ajuizar o mandado de segurança coletivo, impugnando a sua exigência.
4) INTERESSE DEFENDIDO PELOS PARTIDOS POLÍTICOS
Em relação à legitimação dos partidos políticos com representação no
Congresso Nacional, também se formou controvérsia semelhante, a saber: alguns entendiam que os partidos políticos só podiam ajuizar mandado de segurança coletivo para defender interesse de seus integrantes, enquanto outros entendiam que o partido político poderia defender interesse da coletividade na via do mandado de segurança coletivo (e não somente de seus integrantes).
O Supremo Tribunal Federal firmou entendimento de que os partidos
políticos podem impugnar, em sede de mandado de segurança coletivo, qualquer ato público, e não somente aqueles relacioandos aos interesses de seus integrantes (RE 196184, rel. Min. Ellen Gracie).
Assim, se o partido entender que determinado direito difuso se
encontra ameaçado ou lesado por qualquer ato da administração, poderá fazer uso do mandado de segurança coletivo, que não se restringirá apenas aos assuntos relativos a direitos políticos e nem a seus próprios integrantes.
Entretanto, o partido político não tem legitimidade para propor
mandado de segurança coletivo contra exigência tributária, uma vez que o direito defendido deverá ser coletivo ou difuso, o que não ocorre no caso de majoração de tributo, que, segundo entendimento do STF, é “direito individualizado”, que deverá ser postulado em outras ações próprias.
Podemos, então, concluir que: (a) o partido político pode impetrar
mandado de segurança coletivo na defesa de qualquer interesse difuso, abrangendo, inclusive, pessoas não filiadas a ele; (b) porém, não poderá impetrar o mandado de segurança coletivo para impugnar exigência de tributo.
5) INTERESSE DE PARTE DA CATEGORIA
No caso da legitimação das organizações sindicais, entidades de
classe e associações, não se exige que o direito defendido na via do mandado de segurança coletivo pertença a todos os membros ou associados.
Assim, o Sindicado dos Auditores-Fiscais da Receita Federal, que
congrega Auditores-Fiscais ativos e aposentados, poderá impetrar um mandado de segurança para defender interesse exclusivo dos servidores em atividade, ou apenas de parte destes.
São essas as principais orientações do Supremo Tribunal Federal
sobre mandado de segurança coletivo que eu queria repassar a todos; valorizem essas informações, pois elas têm sido cobradas em concursos recentes, e certamente ainda aparecerão nos próximos.