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Os princípios, a efetividade e a força dos juízes

(Artigo elaborado em outubro/2004)


Euler Jansen*

Várias são as definições de princípios que permeiam o Direito e as diversas ciências,


mas encontramos na filosofia de Descartes uma que nos satisfez imensamente: Princípios são
“cada uma das proposições diretivas ou características a que se subordina o desenvolvimento
de uma ciência”.
Para o campo jurídico, essa definição cai como uma luva, pois sobre a orientação dos
princípios, se desenvolve o campo jurídico.
O nosso sistema normativo é um composto de princípios e regras. Essa interação é
interessante à medida que os princípios, que têm alta generalidade, fecham possíveis brechas
deixadas pelas regras, que têm sua expressão gráfica na lei. Não há que se questionar, assim, a
normatividade dos princípios, sua coercitividade, que permite a derrubada de leis expressas
que estejam em confronto, respeitada obviamente a hierarquia das normas, pois terá o
princípio a mesma força da lei onde se encontra respaldado.
À época dos princípios implícitos, eles tinham a sua existência e, principalmente, sua
força normativa questionadas, pois sua compreensão derivava da observação de tendências
legais.
“Para mim não há dúvida: os princípios gerais são normas como todas as outras. (...) Para
sustentar que os princípios gerais são normas, os argumentos são dois, e ambos válidos: antes de
mais nada, se são normas aquelas das quais os princípios gerais são extraídos, através de um
procedimento de generalização sucessiva, não se vê por que não devam ser normas também eles:
se abstraio da espécie animal obtenho sempre animais, e não flores ou estrelas. Em segundo
lugar, a função para qual são extraídos e empregados é a mesma cumprida por todas as normas,
isto é, a função de regular um caso. E com que finalidade são extraídos em caso de lacuna? Para
regular um comportamento não-regulamentado: mas então servem ao mesmo escopo que servem
as normas. E por que não deveriam ser normas?” (BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento
Jurídico. 7. ed. Brasília: Unb, 1996, p. 159)
Os princípios são a base da doutrina dos chamados pós-positivitas. Eles consideram que
o direito natural se encontra positivado, através dos princípios que estão na lei, de forma
expressa ou implícita. Não podemos negar que a nossa Constituição Federal é um terreno
fértil para o desenvolvimento dessa idéia, pois abraça uma grande variedade de princípios que
passaram a ter força constitucional.
Os positivistas – preocupados com a insegurança decorrente de um sistema normativo
altamente maleável à interpretação – estão aflitos e sabem que não há escapatória. Os
princípios não estão somente integrando o ordenamento jurídico, mas o estão reconfigurando.
Como efeito dessa tarefa, a doutrina tem denotado um crescimento do arbítrio judicial,
permitido pela própria legislação, a exemplo do nosso novo Código Civil. Essa tendência não
é apenas brasileira, é mundial e acreditamos ser decorrente de uma preocupação generalizada
com a efetividade da prestação jurisdicional.
O Princípio da Efetividade prega que o processo realize eficientemente e
tempestivamente o fim específico do processo, a tutela do direito material. Não basta que os
magistrados findem com um processo, deliberando sobre a pretensão nele esboçada. É preciso
que o detentor do direito material declarado. Carnelutti, há muito, asseverava que “sendo
praticamente possível, o processo deve dar a quem tem um direito tudo aquilo e exatamente
aquilo que ele tem direito de obter”. A moderna concepção de efetividade insiste na

*
Euler Paulo de Moura Jansen é Juiz de Direito da 3ª Vara de Bayeux-PB, professor da ESMA-PB
de Direito Processual Penal e Técnica de Elaboração de Decisões Cíveis, professor da FESMIP-PB
nos módulos de Princípios do Processo Penal e de Sentença Criminal, especialista latu sensu em
Direito Processual Civil (PUC-RS) e em Gestão Jurisdicional de Meios e de Fins (UNIPÊ-PB) e
autor do livro “Manual de Sentença Criminal” - Editora Renovar-RJ em 2006.
necessidade de providências com as quais o titular do direito material sofra minimamente os
efeitos do inadimplmento e nessa tentativa o processo tem sofrido mudanças legislativas.
Visível a presença das diversas modalidades de tutelas de urgências nesse sentido, as
alterações no sistema recursal e no pior dos algozes, o procedimento executório.
Esses poderes exigem uma contraprestação que os magistrados têm ciência desde os
primeiros dias no exercício da função (ou seria melhor tratá-la por “celibato”?) é o
comprometimento não com a lei, mas, acima dela, com a sociedade e, em última análise, com
cada um dos jurisdicionados.
Dentre os elementos dessa aliança em prol do ideal de justiça, encontramos a segurança
na decisão (qualidade) e a celeridade. Esses são valores diametralmente opostos, mas,
sabendo que in medio stat virtus, cabe-nos equalizá-los para perseguir uma justiça efetiva,
rápida e eficaz.
“(...) o que se quer é um juiz consciente de seu papel e da repercussão social de seus atos, capaz
de, mediante a interpretação dos textos das leis, criar Direito e fazer Justiça, tudo em nome da
sociedade da qual também faz parte” (BERBERI, Marco Antonio Lima. Os princípios na teoria
do direito. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 03.).
As responsabilidades do magistrado aumentam em proporção maior que os poderes que
lhe são outorgados pela lei, ao passo que a própria sociedade demanda cada vez mais seus
serviços. Portanto, não nos resta tempo para o ufanismo com o poder. Devemos revestir-nos
com a couraça da dignidade e encarar esse poder que nos foi concedido tantos pelas normas
quantos pelos princípios como uma arma na busca da concretização do mister, a pacificação
social.
“Da dignidade do juiz depende a dignidade do direito. O direito valerá, em um país e em um
momento histórico determinados o que valem os juízes como homens. O dia em que os juízes
tiverem medo, nenhum cidadão poderá dormir tranqüilo” (COUTURE, Eduardo J. Introdução ao
estudo do processo civil: discursos, ensaios e conferências. Trad. Hiltomar Martins Oliveira. Belo
Horizonte: Editora Líder, 2003, p. 57).

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