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Vol. II
victor Almeida
2008
Conto 1
voltava para sua cidade após três anos fora. As ruas por onde
bombas.
mesa em que sempre estava. O Café estava cheio, afinal era sexta-
Sobre o palco Rosário cantava com sua voz doce, trajava um longo
naquela mesma noite. Ela interpretava 'As Time Goes By' quando
Café e olhou para trás pela última vez viu a expressão de medo
seguiria para qualquer lugar. Volta, ela pediu, porém ele não
e Rosário era uma delas. Felizes são os homens, ele dizia ao vento.
-Qual o problema?
-Parece-me que é uma Guerra, uma Revolução, não sei ao
casa.
para o esgoto, salvara a sua vida aquela noite, pena não conhecer
aquele lugar antes, poderia ter salvo a vida de seu avô. Cidades
perguntou o avô.
perfurar o crânio.
empurrou.
-Deixe-me te carregar.
esquina.
conseguia enxergar onde estava ferido. Vá, estão cada vez mais
próximos.
cada vez mais rápido para que a dor do corpo me fizesse esquecer
a dor do coração.
tragédia que ocorria nas suas vizinhas. Ouviu o apito do trem, não
tinha mais para onde ir. Pensou ter visto algo se mexendo no
chão.
-Olá, tem alguém aí, perguntou.
-Sim.
Ele entrou.
-Espere e verá.
"porta" se abriu. Era pesada, difícil de ser movida, a luz vinda pela
caminho, quando sua visão voltou pode ver onde estava, era um
lugar inimaginável, um cinema construído no subsolo.Um
frente a uma grande tela branca, que parecia ser feita com alguma
desaparecesse.
inverno”, era uma história de amor, porém ele não chegou a ver o
final dormiu e em seu sonho seu avô lhe contava que ele havia
sonho e chegou até a pensar que aquela noite não havia sonhado.
depois, já havia perdido a noção das horas, não sonhei com nada,
onde você está?”. Fui em sua direção, a segurei com força e pedi
primeiros gritos.
-Você promete?
-Está bem.
-Dolores.
Ele a levou até o banheiro e ajudou a retirar a sujeira que
cobria seu rosto e seu cabelo, o sangue no vestido não viera dela,
parou.
-Articus, se vocês saírem, não poderão voltar para o
cinema.
se preocupe conosco.
explosão das bombas dispersa por toda a cidade, mas não era
estar?
sabemos.
difícil foi sair com ela, não podiam voltar para o cinema, então só
cidade vizinha.
Já havia passado da hora de eu ir embora, despedi-me da
cidade, não sabia se retornaria, talvez tenha sido por isso que ela
oposto ao que estava. Era Dolores, parecia mais velha, talvez fosse
uma moça apareceu, era a pequena Lívia, que desde aquela noite
miravam no barco.
partir.
perguntam.
-Depois os pegamos.
ficará sabendo.
“It's still the same old story, a fight for love and glory,
A case of do or die,
The world will always welcome lovers
As time goes by.”
Conto 2
tem ajuda para levantar-se, olha para a perna que sangra e olha
para o touro caído, foi um bravo guerreiro, podia ter me
meu nome o vencedor não sou eu e sim aquele que está ali caído,
humilhado.
guerreiros no passado.
-Se você fizer isso, sua carreira como toureiro estará acabada.
ele, o esperava.
-Não se envergonhe do que fez, disse a ele. Você fez o que era
-Qual o seu nome, ele perguntou em voz alta, mas ela estava
foram menos de três meses, por que aquela saudade? Houve tantas
outras, por que aquele aperto no coração? Era só o que ele queria
viver por dó, ao ver que ele nunca perdia a esperança, sua luta
virá hoje, não virá amanhã, então por que continua a retornar
meses e pergunta, por que você continua. Ele não a ouve, está
por que você continua, ela pergunta ao velho novamente, mas ele
não ouve ninguém. Como era esperado ela não veio, porém ele
para a rua. Com a ajuda de sua bengala caminhou por mais uns
impossível.
da menina, uma hora depois pediu que ela tocasse a música que
começaram a errar.
-Professor, ela disse com aquela voz doce. Não estou conseguindo
venha ensinar-me.
-Veja Laura tente abrir mais os dedos neste ponto, porém ela não
com sua música, aproximou-se e encostou seus lábios nos dele por
alguns instantes.
estivesse ocorrendo outra vez. E foi desta forma que Laura com
seu inocente amor de menina virando moça, proporcionou ao
festival era organizado para manter vivo uma das poucas tradições
visto.
No centro do salão uma máscara negra brilhava, todos os palhaços
máscara.
Fazia três meses que Juan não toureava, fora proibido por ter
de outrora. Uma dura pena para quem fora criado desde pequeno
na arena, um lugar dividido entre glórias e derrotas, medo e
imutável, olhava para todas as direções, até que percebeu que era
branca.
-Eu sei que és tu, tu sabes que sou eu, ela diz.
concertasse.
-Pensei que você não viria, disse Juan mancando ao encontro dela.
-Estava ansioso por te ver, por que me fez esperar tanto tempo?
-Para que nós sentíssemos saudades, foi muito nobre o que fez na
animal.
-Às vezes a vida faz de amigos inimigos e inimigos amigos, aquele
-Não, você se apaixonou pela fama que eu tinha, agora não passo
de um inválido.
aproxima-se e o abraça.
-Acho que isso é culpa minha disse em um tom irônico, ele riu.
muito tempo não se via nua, sentiu-se mais bonita do que nunca,
talvez apaixonar-se tivesse feito bem para ela, porém ela não era
mulher de paixões.
moça.
-Entendi.
Ela foi para a cozinha vestir o avental que usava de uniforme, o tal
-Foi com ele que aprendi a tourear, em sua juventude era bravo e
persistente.
-Para quem?
Ele a pegou pela mão e a levou para dentro da casa grande, tudo
altura com a imagem dos pais de Juan, sob ele um belo piano.
-O que acha deste piano, Dolores?
-Lindo.
nele.
-Não posso.
sua roupa ficava cada vez mais encharcada, era um carro capotado
Realmente por que no dia que se seguiu lá estava ele entre dois
apresentado à morte.
Durante o enterro podia ouvir-se conversas como:
Que pena, logo agora que eles haviam comprado aquela fazenda
homem ir.
“Juan,
sei que as coisas não acabaram bem entre nós, sei que foi culpa
Dolores.”
Era tudo o que dizia a carta, sem data, sem carimbo, apenas essas
agora sem nenhuma explicação recebe uma carta dela dizendo que
face, era uma foto em preto e branco, que tirara com Dolores
Ela não devia ter saído daquele jeito, era o que pensava. Juan
solto após tanto tempo, ela não tinha medo dele, afinal não
poderia fazer mais mal do que já havia feito, o problema era que
ele machucaria não só a ela, mas também a quem ela amava. Ele a
Olhou para o sofá, lá estava um homem que parecia ser alto, sua
no braço direito que era visível, pois vestia uma camisa regata.
serviços, passar três anos na prisão não é fácil, mas agora eu voltei
muito tempo.
resistia, tentava soltar-se dos braços dele. Jogou-a no sofá, ela não
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ouvido, se ela fez as malas aquele era o único local que ela poderia
ter ido.
parta. E por que o senhor tem tanta presa? Por que a mulher da
toureiro segurava a sua frente com uma das mãos tremulava com
enquanto são deixados para trás com suas vidas que continuarão
iguais sempre foram, eternamente. Há horas que simplesmente
envergonhe do que fez, disse a ela. Você fez o que era certo, o que
voz alta, mas ela está longe, não o ouve ou simplesmente não quer
responder.
Conto 3
pela rua naquele instante. Não era a primeira vez que ele sentia o
falar, trinta anos sem uma palavra dita ou não dita, muitas vezes
metapalavras.
céu está verde, mal sinal. Pobre criança, nunca ouvirá a voz do
mero humano. Nada pode ser perfeito. Nem eu, nem você, nem o
Picasso que não leu as regras, talvez cega seja a Arte, assim como
absolutamente puro.
onde é levado sem se cansar, uma vez deixou sua sombra, exausta,
espaço vazio. A foto era de uma mulher, não era sua esposa, já que
era solteiro, mas de um amor de juventude, cujo nome não
papel, carrega por que dava sorte (ao menos é o que dizem os
(jaziam sob cada cruz cor de limão três grandes amores, sete
suportável.
Conto 4
vida chegar, completavam vinte anos desde a última vez que ali
sentei e era a última vez que ali sentaria pelo resto da minha vida.
Há vinte anos viver era possível, meu universo podia ser resumido
pela calçada, fita-me com seus olhos tristes por ter tido que
de andar. Não chegou minha vez, será que chegará algum dia?
jogar bolas-de-gude.
braços do outro, não são dois, são um. Hoje, cinqüenta e sete anos