You are on page 1of 67

AUTOIMUNIDADE

Doença autoimune
Define-se como uma sequela patológica de uma resposta
autoimune

Esta resposta produz-se devido á rotura dos mecanismos


de tolerância que permitem ao organismo descriminar
entre o que lhe é e o que não lhe é próprio

A resposta imunológica dirigida aos componentes próprios


(auto-Ags) caracteriza-se pela presença de auto-Acs e
de células T auto-reactivas

Em termos práticos, a detecção de auto-Acs é relativa-


mente fácil de realizar e, em associação com a clínica,
constitui a base do diagnóstico das doenças autoimunes
AUTOIMUNIDADE
Doença autoimune
Mecanismos de rotura da tolerância

1. Activação policlonal de linfócitos B

2. Activação policlonal de linfócitos T

3. Mimetismo molecular

4. Exposição de Ag do “próprio”, normalmente indisponível


AUTOIMUNIDADE
Mecanismos de rotura da tolerância
1. Activação policlonal de linfócitos B
É possível que algumas doenças autoimunes, em que se
desconhece o auto-Ag, sejam devidas a respostas
atípicas provocadas por infecções bacterianas lentas

Também os vírus podem dar-lhes origem por vários meca-


nismos, como seja induzindo a produção de IFN-γ que,
ao provocar a expressão de HLA-II nas células que
habitualmente não o fazem, levam a uma auto-apre-
sentação antigénica e activação policlonal dos linfócitos
B anérgicos

É disso exemplo o LED, que pode ser inicialmente causado


por uma infecção bacteriana, com subsequente activa-
ção de muitas células B anérgicas e produção de Acs
que reconhecem muitos Ags do “próprio”
AUTOIMUNIDADE
Mecanismos de rotura da tolerância
2. Activação policlonal de linfócitos T
É um processo pelo qual os linfócitos T são activadas por
acção de um activador policlonal, tal como um superan-
tigénio

Superantigénios – são moléculas derivadas de bactérias e


de outros agentes patogénicos que se ligam às molécu-
las da classe II do MHC nas APC, mas em locais diferen-
tes daqueles em que os Ag processados se ligam

Desta forma, os superantigénios são apresentados aos


linfócitos T, na ausência do fenómeno de restrição,
activando vários clones destas células
AUTOIMUNIDADE
Mecanismos de rotura da tolerância
3. Mimetismo molecular
O mimetismo molecular ocorre quando estruturas seme-
lhantes são partilhadas por moléculas diferentes, como
sejam as sequências lineares de aminoácidos ou aspe-
ctos conformacionais entre microorganismo e hospedei-
ro

Quando um Ag estranho é muito semelhante a um Ag do


“próprio” há uma possível reactividade cruzada

É disso exemplo o que se observa na febre reumática em


que os Acs produzidos inicialmente contra os estrepto-
cocos podem reagir contra moléculas que se expressem
na superfície das células do coração, do que resulta a
lesão cardíaca
AUTOIMUNIDADE
Mecanismos de rotura da tolerância
4. Exposição de Ag do “próprio”
A lesão tissular directa ou a rotura por traumatismo ou
infecção das barreiras que protegem lugares privilegia-
dos, fazem com que os Ags previamente resguardados
se libertem ou fiquem expostos ao sistema imunitário
que os entende como Ags estranhos

É disso exemplo o que se observa na esclerose múltipla


em que a mielina, principal componente das células de
Schwann e dos oligodendrócitos, fica exposta sempre
que há lesão do nervo

Este, sujeito à acção dos Acs acaba por não se poder


reparar e ao ficar sem protecção vai fazer uma con-
dução anormal dos impulsos nervosos
AUTOIMUNIDADE
Doença autoimune
A associação de uma determinada doença autoimune com
um auto-Ac em particular, está mais baseada na evi-
dência estatística e epidemiológica do que com uma
relação de causa-efeito

Os auto-Acs podem não ser a causa da doença e inclusive


podem não contribuir para ela, mas podem ser marca-
dores de diagnóstico muito úteis

A especificação antigénica de alguns auto-Acs contribui


para a identificação de alguns subgrupos de doentes
que diferem no prognóstico e na resposta à terapêutica
AUTOIMUNIDADE
Doenças autoimunes

Podem ser multissistémicas ou específicas de órgão e ao


serem causadas por diferentes tipos de Ags, também são
diversas as alterações imunológicas que se observam

Nas primeiras encontramos vários auto-Acs com especifica-


ção contra moléculas nucleares ou citoplasmáticas e as
manifestações de doença tanto decorrem da acção dire-
cta desses auto-Acs como podem ser devidas à deposi-
ção de imunocomplexos (IMC)

As segundas caracterizam-se pela presença de auto-Acs


dirigidos, primariamente, contra um só órgão ou contra
órgãos relacionados entre si
AUTOIMUNIDADE
Doenças autoimunes
Embora apresentem um espectro clínico muito amplo,
todas possuem uma série de características comuns:

– Associação familiar, de carácter poligénico


– Curso clínico subagudo
– Preferência pelo sexo feminino
– Pico de incidência na puberdade e por volta dos 40/50 anos
– Manifestações clínicas sistémicas, mas não específicas de
órgão e manifestações clínicas próprias de órgão nas dele
específicas
– Infiltração de células mononucleadas nos tecidos afectados
– Associação com determinados Ags do sistema principal de
histocompatibilidade
– Somatório, frequente, de várias doenças autoimunes numa
mesma pessoa
AUTOIMUNIDADE
Doenças autoimunes
Diagnóstico laboratorial
Métodos para pesquisa de autoAcs:
– Imunoflorescência directa (IFD)
– Imunoflorescência indirecta (IFI)
– Contraimunoelecroforese (CIE)
– Imunoenzimoensaio (ELISA)
– Radioimunoensaio (RIA)
– Imunoblotting (Western-blot)

A pesquisa e titulação dos auto-anticorpos faz-se no soro


O título varia com o decurso e a evolução da doença, mas não é
obrigatório haver uma correlação entre a variação do título e a
actividade clínica da doença
AUTOIMUNIDADE
Imunofluorescência indirecta
É das técnicas de imunohistoquímica a mais usada porque
permite a despistagem de vários auto-Acs em simultâneo
e também a sua titulação
Nestes métodos, o substrato (Ag) é imobilizado numa fase
sólida, geralmente uma lâmina, e incubado com o soro
do doente
Após uma lavagem, os Acs do doente (geralmente IgG)
ligados especificamente, são detectados utilizando AC
anti-IgG
Um dos fluorocromos geralmente utilizado como conjugado
é o isotiocianato de fluoresceína (FITC) que provoca uma
fluorescência de cor verde-maçã
Com estas técnicas podem estabelecer-se padrões de fluo-
rescência
AUTOIMUNIDADE
Técnicas de Imunofluorescência
Substratos usados:
• Células epiteliais humanas (Hep2)*
• Células amnióticas humanas
• Cortes de órgãos de rato e murganho
– Rim
– Fígado
– Estômago
• Esófago de macaco
• Pâncreas de macaco
• Rim de macaco
AUTOIMUNIDADE
Técnicas de Imunofluorescência
Células epiteliais humanas (HEp-2)
• É o substrato mais comum e é uma linha celular que foi
originalmente isolada de um carcinoma da laringe
• São cultivadas “in vitro” directamente nas lâminas
• Características:
– Núcleo grande
– Grandes e múltiplos nucléolos
– Várias figuras mitóticas
– Grande diversidade de Ag nucleares e citoplasmáticos
– Uniformidade e homogeneidade da distribuição antigénica
de célula para célula
– Alta sensibilidade e especificidade
AUTOIMUNIDADE
Técnicas de Imunofluorescência
Células epiteliais humanas (HEp-2)
Padrões morfológicos observados:

• Homogéneo – fluorescência uniforme do núcleo inteiro,


ou seja, não são detectadas estruturas individuais
• Nucleolar – cora o nucléolo intensamente
• Nucleares – padrão homogéneo em concentração de
fluorescência na periferia nuclear
• Mosqueado – cora em grãos finos, o núcleo ou o cito-
plasma
• Centromérico – cora os pontos de contacto entre as
fibras e os cromossomas
AUTOIMUNIDADE
Evidência de núcleos e nucléolos em células HEp-2
AUTOIMUNIDADE
• Acs anti-nucleares (ANA)

São Acs inespecíficos de órgão já que os seus auto-Ags se


encontram em todas as células nucleadas
Os ANAs denominam-se de acordo com:
– A sua localização celular (centrómero, nucleolar)
– O seu padrão de fluorescência (mosqueado, homogéneo)
– O nome do doente em que pela primeira vez foram encon-
trados (Sm, Ro, La, Jo-1)
– Doenças que lhe estejam associadas (SSA, SSB)
– A molécula contra a qual reajam (U1snRNP, ADN)

Há mais de 50 tipos de Acs dirigidos contra outras tantas


estruturas moleculares do núcleo celular
AUTOIMUNIDADE
• ANA
(RNP, Sm, SSA, SSB, Scl70, Centrómero, Jo-1)
Títulos elevados em doenças do tecido conjuntivo
AUTOIMUNIDADE
• Acs anti-ADN
São de 2 tipos:
1. Os que reagem com sequências específicas de
nucleótidos do ADN de cadeia simples ou ssADN

Encontram-se em:
– Pessoas normais
– LED
– Artrite reumatóide
– Esclerodermia
– Síndrome de Sjögren
– Mononucleose infecciosa
– Hepatite crónica activa
– Cirrose biliar primária
– Glomerulonefrite crónica
AUTOIMUNIDADE
• Acs anti-ADN

2. Os dirigidos contra o dsADN ou ADN nativo e também


contra os ssADN

Os Acs anti-ADN (IgG) são marcadores biológicos do LED


porque há uma razão directa entre a sua presença e a
actividade clínica da doença e em que um aumento da
concentração de Acs contra dsADN precede a recidiva
para depois se reduzirem durante a exacerbação clínica
Por isso está indicada a monitorização a cada 6 semanas e
suspeita-se de crise quando eles aumentam de 25%
entre amostras
Quando o doente possui Acs IgM, tem menor risco para
afecção renal e se forem IgA apresenta manifestações
clínicas de vasculite, ↓C3, ↑VS, mas menos tendência
para nefrite ou artrite
AUTOIMUNIDADE
• Acs anti-ribonucleoproteínas
Também se designam de ENAs (Extractable nuclear antigens)

As partículas de ribonucleoproteínas são compostas por


uma ou mais moléculas de RNA que se associam com
uma ou mais proteínas
Do total de ribonucleoproteínas destacam-se 3 grupos:
(scRNP) - Ribonucleoproteínas citoplasmáticas de pequeno
tamanho, que incluem os RNA transcritos pela RNA
polimerase III
(snRNP) - Ribonucleoproteínas nucleares de pequeno
tamanho, que incluem os RNA transcritos pela RNA
polimerase II
(snoRNP) - Ribonucleoproteínas nucleolares de pequeno
tamanho, que incluem os RNA transcritos pela RNA
polimerase I
AUTOIMUNIDADE
1. Ac anti-Ro/SSA
O autoAg (Ro/SSA) é uma scRNP que contém pequenas
moléculas de RNA ricas em uridina (hYRNA) e uma só
proteína de 52, 54 ou 60KD, para quem a antigenici-
dade é mais dirigida
Encontram-se em:
• 70-90% de Síndrome de Sjögren primário
• 40-60% de LED
• 70-90% de lúpus cutâneo subagudo
• > 90% de crianças com lúpus neonatal
• E % discretas em:
– Artrite reumatóide
– Esclerose sistémica
– Polimiosite
– Cirrose biliar primária
AUTOIMUNIDADE
2. Ac anti-La/SSB
O autoAg (La/SSB), predominantemente nuclear, é uma
fosfoproteína que se une a pequenos RNA transcritos
pela RNA polimerase III, de entre os quais os RNA
citoplasmáticos (hYRNA) da ribonucleoproteína Ro
Isto deve explicar a frequente coexistência de anti-Ro/SSA
e anti-La/SSB no mesmo doente, como acontece em
mais de 95% das mães com filhos que desenvolvem
lúpus neonatal
Encontram-se em:
• 90% de SS primário
• 50% de SS secundário
• 6-15% de LED, associado a uma menor prevalência de
afecção renal
AUTOIMUNIDADE
3. Ac anti-UsnRNP

As partículas de ribonucleoproteína de pequeno tamanho


ricas em uracilo (UsnRNP) são formadas por polipépti-
dos e moléculas de RNA de pequeno tamanho com ura-
cilo abundante (UsnRNA) transcritas, em geral, pela
RNA polimerase II
Estão descritas mais de 10 UsnRNP, de que a U1snRNP e a
U2snRNP são as que clinicamente mais importam
Os Acs que se desenvolvem contra U1snRNP designam-se
simplesmente por Anti-RNP, são IgG do subtipo IgG1,
e podem penetrar nas células vivas e alcançar o núcleo
onde causam apoptose
Os Acs que se dirigem contra o núcleo proteico comum são
incluídos no termo Acs Anti-Sm
AUTOIMUNIDADE
3. Ac anti-UsnRNP
• Acs anti-Sm associam-se aos anti-RNP e encontram-se
em:
- 30% de LED, como critério de diagnóstico

• A presença isolada de anti-RNP em concentrações ele-


vadas identificam com:
– DMTC (doença mista do tecido conjuntivo) que apresenta
fenómeno de Raynaud, edema das mãos, esclerodactilia,
sinovites, miosites, doença pulmonar e hipomotilidade
esofágica
– 30-40% de LED, que cursa com fenómenos de Raynaud e
doença pulmonar intersticial e menos glomerulonefrite

• A presença de Acs antiU2snRNP encontra-se em:


– 15% de doentes com MCTD
– E frequência idêntica em doentes LED
AUTOIMUNIDADE
• Ac anti-topoisomerase I

O auto-Ag é a enzima nuclear topoisomerase-I (topo I) que


facilita a replicação do ADN e de que resulta o Ac Scl-70

São fundamentalmente das classes IgG e IgA e encontram-


se em 20-40% de doentes com esclerodermia difusa

São marcadores de doença e diversos estudos têm apontado


para uma elevada incidência de cancro na sua presença

A sua associação com DRB1*11, é um factor de risco para o


desenvolvimento de fibrose pulmonar nestes doentes
AUTOIMUNIDADE
• Acs anti-centrómero (ACA)
Os principais auto-Ags centroméricos são as proteínas:
– Cenp-A
– Cenp-B*
– Cenp-C, contra os quais se produzem os ACA,
principalmente da classe IgG, subtipo IgG1
A IFI é fundamental para a sua detecção uma vez que
apresenta padrão típico de células em divisão
Encontram-se em:
- Síndrome de CREST
- Esclerose cutânea limitada, com melhor prognóstico do
que a forma difusa de esclerodermia em que a sua pre-
sença é mais rara
Quase todos os doentes com ACA têm fenómeno de
Raynaud
AUTOIMUNIDADE
• Acs anti-centrómero
AUTOIMUNIDADE
• Ac anti-Jo1

Inclui-se nos ANAs uma vez que o Ag é um ENA, uma RNA


sintetase

Para a sua detecção são necessárias técnicas sensíveis, já


que a expressão de Ag é baixa

Encontra-se exclusivamente em doentes com miosite, pelo


que é marcador de diagnóstico
AUTOIMUNIDADE
• Ac anti-PCNA
(Proliferating cell nuclear antigen)

O auto-Ag é uma proteína auxiliar, a ADN polimerase γ

Embora com um padrão IFI característico a sua identifi-


cação exacta tem de ser feita por outras técnicas uma
vez que é marcador e diagnóstico do LED
AUTOIMUNIDADE
• Acs anti-nucleolares
Inclui um grupo heterogéneo de auto-Acs que se desenvol-
vem perante os principais AutoAgs:
– RNA polimerases I, II e III - participam na transcrição do
DNA
– Fibrilarina - intervém no processamento do RNA transcrito
pela RNA polimerase I
– Proteína Th (To) - faz parte de uma ribonucleoproteína
nucleolar
– Pm/Scl - presente na região granular do nucléolo tem
função desconhecida
Surgem especialmente em doentes com esclerodermia/
esclerose sistémica e em IFI ao produzirem 3 padrões
diferentes, podem definir 3 subgrupos de doentes
AUTOIMUNIDADE
• Acs contra estruturas do citoplasma
– Acs anti-citoplasma dos neutrófilos (ANCA)
– Acs anti-mitocôndria (AMA)
– Acs anti-músculo liso (ASMA)
– Acs anti-microssomas hepáticos e renais (LKM)
– Acs anti-ribossoma –
Dirigidos contra a proteína P0, apresentam-se unicamente em do-
entes com LED, numa % de 5-10 e associando-se a uma maior
incidência de afecção neurológica e hepática

– Acs anti-aparelho de Golgi


Encontram-se em:
• LED, SS, AR e doenças infecciosas
AUTOIMUNIDADE
Evidência de citoplasma em células HEp-2
AUTOIMUNIDADE
• Acs anti-citoplasma de neutrófilos (ANCA)
São um grupo muito heterogéneo de Auto-Acs, mais IgG e
menos IgA ou IgM, dirigidos contra várias proteínas dos
grânulos citoplasmáticos dos monócitos e dos GNs, pelo
que estão associados a patologias clinicamente muito di-
ferentes, mas de que sobressaem as relacionadas com:
– Vasculites de pequenos vasos
• Com gravidade e preferência pelo rim e pulmão
– Vasculites secundárias
• Infecções, conectivopatias, ds malignas, ↓C, HTA
– Doenças inflamatórias intestinais
• Colite ulcerosa, Doença de Crohn
– Hepatopatias autoimunes
• Cirrose biliar primária, hepatites autoimunes tipo 1 e 2
AUTOIMUNIDADE
• ANCA
Os principais Auto-Ags são:

– Nos grânulos primários:


• Proteinase 3 (PR3) → c-ANCA
• Mieloperoxidase (MOP)* → p-ANCA*
• Elastase*
• Catepsina G*
• Lisozima

– Nos grânulos secundários:


• Lactoferrina*
• lisozima
AUTOIMUNIDADE
• ANCA

Detectam-se por IFI sobre neutrófilos humanos fixados em


etanol e/ou formol com o que se diminui a interferência
dos ANA e se evidência a possível existência de padrão
atípico, quando os a-ANCA estão presentes, como acon-
tece em doenças intestinais inflamatórias

Métodos ELISA (imunoensaio em fase sólida) permitem a


posterior identificação dos diferentes Auto-Ags especí-
ficos
AUTOIMUNIDADE
c-ANCA (PR3)
Exibem um padrão granular citoplasmático

Apresentam mais de 90% de especificidade para o dia-


gnóstico da granulomatose de Wegener sendo que a
sensibilidade dependerá da fase de actividade em que
a doença se encontre
AUTOIMUNIDADE
p-ANCA (MOP)
Exibem um padrão peri-nuclear

Associam-se às vasculites sistémicas e às glomerulonefri-


tes necrosantes com aumentos nas fases activa e de
pré-recidiva
AUTOIMUNIDADE
• Acs anti-mitocôndria (AMA)
São frequentes, em títulos elevados, na cirrose biliar primá-
ria. Títulos mais baixos associam-se a outras doenças
hepáticas
O principal auto-Ag é o componente E2 do complexo piru-
vato-desidrogenase mitocondrial contra o qual se desen-
volvem auto-Acs M2
AUTOIMUNIDADE
• Acs anti-músculo liso (ASMA)
Em associação com os ANA são marcadores serológicos de
hepatite autoimune de tipo 1
São um grupo heterogéneo de auto-Acs contra Ags do cito-
esqueleto das células do músculo liso
Títulos baixos podem encontram-se tanto na população
normal como em infecções virais ou neoplasias
AUTOIMUNIDADE
• Acs anti-microssomas hepáticos e renais (LKM)
(LKM – Liver Kidney microssomal)

Estes auto-Acs são dirigidos contra Ags do retículo endoplas-


mático do hepatócito, que são na sua maioria proteínas da
superfamília de enzimas do citocromo p450

Os Acs contra LKM-1, dirigidos contra o citocromo P450IID6,


são marcadores da hepatite autoimune de tipo 2

Também podem surgir em cerca de 7% de doentes com


hepatite crónica activa a Vírus C
Os Acs contra LKM-2, detectaram-se em doentes com hepa-
tite induzida pelo ácido tienílico e os Acs contra LKM-3
estão presentes em 10-15% de doentes com hepatite
Delta
AUTOIMUNIDADE
• Doenças autoimunes não específicas de
órgão

– Lupus eritematoso disseminado


– Síndrome de Sjögren
– Esclerodermia
– Poliartrite reumatóide
– Sindroma de Sharp
– Poliomiosite
– Vasculites (microangiopatia e doença de Wegener)
AUTOIMUNIDADE
• Lupus eritematoso disseminado
Critérios de diagnóstico, revistos em 1982
1/11 – Eritema malar
2/11 – Lúpus discóide
3/11 – Fotossensibilidade
4/11 – Úlceras orais ou nasofaríngeas, em regra
indolores
5/11 – Artrites
6/11 – Serosites
7/11 – Afecção renal
8/11 – Alterações neurológicas
9/11 – Alterações hematológicas
10/11 – Alterações imunológicas
11/11 – ANAs
AUTOIMUNIDADE
• Lupus eritematoso disseminado
Painel de Auto-Acs contra:
• dsADN e/ou Sm - manifestações renais e de órgãos
• U1snRNP – fenómeno de Raynaud
• Ro/SSA, La/SSB – fotossensibilidade, Síndrome de
Sjögren secundário, lúpus cutâneo subagudo e lúpus
neonatal
• Centrómero e topoisomerase-I (Scl-70) – sintomas de
esclerodermia
• Fosfolípidos (cardiolipina) e β2-glicoproteína I – mani-
festações trombóticas e neurológicas
• rRNP – manifestações neurológicas
• Histonas – lúpus induzido por fármacos
AUTOIMUNIDADE
• Síndrome de Sjögren
Critérios de diagnóstico
• Sintomas oculares** – sensação de secura ocular de mais
de 3 meses de evolução, sensação recorrente de areia nos
olhos e utilização frequente de lágrimas artificiais
• Sintomas bucais** - sensação de secura de boca com
mais de 3 meses de evolução, tumefacção persistente ou
remitente das maiores glândulas salivares ou abundante
ingestão de líquidos às refeições
• Sinais oculares – objectivados por testes
• Histopatologia – demonstração da presença de focos de
células mononucleadas no tecido das glândulas salivares
• Afecção glandular salivar – demonstrada por cintigrafia,
sialografia ou fluxo salivar não estimulado
AUTOIMUNIDADE
• Síndrome de Sjögren

Painel de Auto-Acs contra:

• Ro/SSA
• La/SSB
• ANAs (≥ 1/320)
• Factor reumatóide (≥ 1/320)
AUTOIMUNIDADE
• Acs específicos de órgãos
Muitas das doenças autoimunes caracterizam-se pela pre-
sença de auto-Acs dirigidos contra determinados com-
ponentes de órgãos e tecidos
Alguns são-no contra componentes do sistema endócrino:
• glândulas tiroideia e paratiroideia
• pâncreas
• cápsulas SR
• ovário
• testículo
E outros reagem contra outros órgãos do corpo como:
• tracto GI
• sistema nervoso
• pele
• rim
• fígado
AUTOIMUNIDADE
• Acs contra glândula tiroideia
Os principais são os que se dirigem contra:
1. Peroxidade tiroideia (TPO)*
2. Tiroglobulina (TG)
– Tiroidite de Hashimoto*
– Doença de Graves
– Tiroidite subaguda
– Tiroidite idiopática
3. Receptor de TSH (TSHR)
– IgG inibidora de união à TSH
• Doença de Graves*
• Tiroidite de Hashimoto
• Hipotiroidismo idiopático
– IgG estimulante
• Doença de Graves
AUTOIMUNIDADE
1. Acs anti-peroxidade tiroideia (TPO)

– A TPO é a principal enzima de síntese das hormonas


tiroideias
– Os Acs são, predominantemente, de tipo IgG, sub-
classes IgG1 e IgG4 e pequenas concentrações de
tipo IgA
– Alguns Acs contra TPO reagem de forma cruzada
contra a TG
– São característicos da tiroidite de Hashimoto
– Podem também ser detectados no carcinoma da ti-
róide, tiroidite focal e em 20% de população sã
– Podem lesar as células tiroideias activando directa-
mente a cascata do complemento ou por citotoxici-
dade celular deles dependente
– A sua concentração está correlacionada com a fase
activa da doença
AUTOIMUNIDADE
2. Acs anti-tiroglobulina (TG)

Participam no início da doença que só se desenvolve


quando se produzem linfócitos T citotóxicos especí-
ficos, levando ao depósito de imunocomplexos na
glândula

Têm sido encontrados em outras endocrinopatias auto-


imunes como a anemia perniciosa (27%), doença de
Addison (28%) e DM (20%)

Títulos baixos podem encontrar-se em população sã:


mulheres (18%)
homens (3-6%)
AUTOIMUNIDADE
3. Acs contra o receptor de TSH

Uns inibem o funcionamento da tiróide (TSBAb) e encon-


tram-se em doentes com tiroidite atrófica e hipotiroi-
dismo severo
Outros estimulam-na (TSAb) e são a causa do hipertiroi-
dismo na doença de Graves-Basedow, em que apre-
sentam uma prevalência de 95%
A sua principal utilidade passa pelo diagnóstico, acompa-
nhamento do efeito terapêutico dos fármacos anti-
tiroideus e controlo da gravidez de mulheres com esta
doença, em que se pode observar um hipertiroidismo
fetal, por volta do 3º trimestre, devido à transferência
placentar passiva de TSAb
AUTOIMUNIDADE
• Acs anti-pancreáticos

Os principais são:

– Anti-células dos ilhéus (ICA)

– Anti-superfície das células dos ilhéus (ICSA)

– Anti-glutamato descarboxilase (GAD)

– Anti-insulina (IAA)
AUTOIMUNIDADE
1. Anti-células dos ilhéus (ICA)

– A sua acção está dirigida contra os ilhéus no seu


conjunto e não só contra as células β

– Surgem como resposta à lesão destas células pelos


linfócitos T

– Quanto > a prevalência de DM tipo1 na população,


> é o nº de pessoas sãs que apresentam ICA

– Os ICA 512 são úteis na detecção de pessoas em


risco de desenvolverem DM tipo 1
AUTOIMUNIDADE

2. Anti-superfície das células dos ilhéus (ICSA)

– Reagem contra Ags presentes na membrana plas-


mática das células β

– Inibem o transporte de glucose para o interior das


células dos ilhéus, pelo que comprometem a liber-
tação de insulina

– Levam à destruição das células β por citotoxicidade


de tipo celular ou por activação do Complemento

– Não se correlacionam bem com os ICA e têm técnica


laboratorial difícil
AUTOIMUNIDADE
3. Anti-glutamato descarboxilase (GAD)

– Na DM tipo 1 os Acs estão principalmente dirigidos


contra a isoforma GAD 65

– Quando estão presentes, servem para identificar os


diabéticos tipo 2 que podem desenvolver DM tipo 1

– Encontram-se de forma quase exclusiva em doentes


com ICA, porque a GAD representa um componente
do AG dos ICA
AUTOIMUNIDADE
4. Anti-insulina (IAA)

– Importam no diagnóstico precoce da DM tipo 1, nos


menores de 4 anos de idade, em que o seu valor
preditivo é muito alto

– Este valor aumenta se se encontram combinados


com outros Acs
AUTOIMUNIDADE
• Acs contra as suprarrenais

Doença de Addison autoimune

É devida à existência de Acs contra as proteínas da fracção


microssómica das células secretoras do córtex suprar-
renal
Não se conhece o papel patogénico destes Acs pelo que se
admite que eles possam ser mais a consequência do
que a causa da destruição endócrina, da responsabili-
dade dos linfócitos T
Surgem em 50% de doentes com insuficiência SR primária
Na mulher, a sua presença, para além de ser marcador de
doença de Addison pode também apontar para hipogo-
nadismo hipogonadotrófico
AUTOIMUNIDADE
• Acs contra os espermatozóides
A sua presença define a infertilidade imunológica e podem
formar-se tanto nos homens como nas mulheres
Se acontece nos homens, deve-se à perda de tolerância
imunológica
Se acontece nas mulheres, quer dizer que houve deposi-
ção de espermatozóides no tracto genital com uma
barreira epitelial comprometida, na cavidade peritoneal
ou no tracto GI
Encontram-se, no soro e nas secreções genitais, Acs de
tipo IgG e IgA, respectivamente
São mais comuns os que se desenvolvem contra glucopro-
teínas da membrana plasmática ou proteínas do acros-
soma do espermatozóide
AUTOIMUNIDADE
• Acs contra componentes do tracto GI

Os mais importantes são os Acs contra:

– Gliadina

– Reticulina

– Endomísio

– Transglutaminase tissular

– Células parietais gástricas

– Factor intrínseco
AUTOIMUNIDADE
1. Acs anti-gliadina (AAG)
A gliadina, fracção do glúten de trigo solúvel em álcool, é
uma mistura de cerca de 50 componentes que se
separam electroforeticamente em 4 grupos (α, β, γ, e
ω-gliadinas)
A gliadina-A é uma das α-gliadinas, que sendo muito rica
em glutamina e prolina se assemelha à proteína E1b
do Adenovírus 12, com quem tem reacções cruzadas,
sendo admissível pensar que este adenovírus poderá
actuar como desencadeante de doença celíaca
Os Acs podem ser da classe IgA e IgG (IgG1 e IgG3)
Úteis no diagnóstico e acompanhamento de doença celíaca
A dieta sem glúten faz baixar rapidamente a IgA e de for-
ma mais lenta a IgG
AUTOIMUNIDADE
2. Acs anti-reticulina (AAR)
Dos 5 tipos de AARs só os R1 são de interesse clínico e
têm por Ags, o colagénio tipo III e a fibronectina
Observam-se em doentes com doença celíaca, e têm uma
especificidade de 99-100% e uma sensibilidade de 60-
90%
Também se identificam na dermatite herpetiforme e na
doença de Crohn (20%), sendo os IgA os mais especí-
ficos
Tendem a desaparecer ao fim de vários meses sobre a
supressão do glúten na dieta
Se se associarem aos Acs anti-gliadina e anti-endomísio
fazem com que o valor preditivo positivo seja de 93%
quando os 3 são positivos e se negativos, o valor predi-
tivo negativo é de 100%
AUTOIMUNIDADE
3. Acs anti-endomísio (AAE) / (AAtTG)
O endomísio, que contém colagénio e reticulina, é uma
estrutura de suporte que cobre o conjunto de fibras
lisas e estriadas que se encontra no terço médio do
esófago
O principal e provavelmente único Ag é a transglutaminase
tissular que é uma enzima citoplasmática, dependente
do cálcio, que cataliza ligações cruzadas na fibronectina,
colagénios II, V e XI e no procolagénio
Os AAE de tipo IgA, positivos na dermatite herpetiforme,
podem surgir antes que a doença celíaca se torne
activa, correlacionam-se bem com o grau de atrofia
produzida nas vilosidades intestinais
Negativam ao fim de 1-12 meses depois de retirado o
glúten da dieta e são negativos na doença de Crohn e
no doente celíaco com deficiência em IgA
AUTOIMUNIDADE
5. Acs anti-células parietais gástricas (PCA)

O Ag contra o qual se desenvolvem é a H+/K+ ATPase


gástrica que se encontra unida á membrana das células
parietais gástricas e que tem uma função de bomba de
protões responsável pela secreção do ácido gástrico
Encontram-se em 55-90% de doentes com anemia perni-
ciosa, que é o estadio final da gastrite atrófica crónica
de tipo A, em que há uma perda selectiva de células
parietais e um infiltrado da submucosa por leucócitos e
plasmócitos com impedimento da produção de factor
intrínseco
Outros Acs podem desenvolver-se contra o pepsinogénio
secretado pelas células gástricas principais e, em 30%
de doentes com infecção por Helicobacter pylori, podem
encontrar-se Acs contra os canalículos das células parie-
tais
AUTOIMUNIDADE
• PCA
Estão presentes em 90% de doentes com gastrite atrófica
e anemia perniciosa
Em 40% de doentes da tiróide e títulos baixos em 10-15%
no idoso são
AUTOIMUNIDADE
6. Acs anti-factor intrínseco (IFA)

O factor intrínseco é uma glicoproteína, segregada exclusi-


vamente pelas células parietais gástricas, que se une à
cobalamina para, através de receptores, a introduzir nas
células do íleon de onde passa para o sangue
A sua falta leva á instalação de anemia perniciosa que é
mais comum em pessoas com mais de 40 anos, de pele
branca, olhos claros e grupo sanguíneo A
Os IFA são de tipo I e II e enquanto os primeiros competem
com a cobalamina para o local de união com o factor
intrínseco, os segundos parece que vão ocupar o local
que seria de união desta aos receptores no íleon
Os IFA são mais sensíveis e específicos que os PCA para o
diagnóstico de anemia perniciosa
AUTOIMUNIDADE
• Acs contra componentes do sistema nervoso
Os principais são os Acs contra:

• O receptor de acetilcolina
– Miastenia gravis
– Afecções do timo
• Proteínas neuronais (mielina)
– Esclerose múltipla
– Neurite optica idiopática
– Sindroma de Guillain-Barré
• Gangliósidos neuronais
– Neuropatias periféricas
AUTOIMUNIDADE
• Acs contra estruturas da pele
1 - Acs contra os desmosomas
Os desmosomas são moléculas que mantém a união entre
os queratócitos epidérmicos
São muito específicos de pênfigo vulgar e pênfigo foliáceo
2 - Acs contra a zona da membrana basal epidérmica
Dão origem a várias doenças ampolhosas da pele devido
ao ataque a estruturas que fazem a união entre a der-
me e a epiderme
3 - Acs contra a filagrina / queratina (AKA)
Têm uma sensibilidade diagnóstica de 40-55% para a
artrite reumatóide e uma especificidade superior ao
factor reumatóide
Um resultado negativo não exclui a doença
AUTOIMUNIDADE
• Acs contra estruturas do rim

Os que mais importam são os dirigidos contra a membrana


basal glomerular, constituída por colagénio tipo IV, la-
minina e proteoglicanos

São geralmente IgG (IgG1) e ocasionalmente de tipo IgA


ou IgM

Na rara doença de Goodpasture, que cursa com hemorra-


gias pulmonares e falência renal, há Acs contra as
membranas basais tanto alveolares como glomerulares

You might also like