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Sumário
1.Introdução..............................................................................................................................5
2. Histórico...............................................................................................................................5
2.1 Juizados Especiais Criminais.............................................................................................5
2.2 Juizados Especiais Federais...............................................................................................7
2.2.1 Conceito..........................................................................................................................7
2.2.2 Objetivos dos Juizados Especiais Federais.....................................................................8
2.2.3 Origens históricas dos Juizados Especiais Federais........................................................8
3. Princípios orientadores dos Juizados Especiais Criminais...................................................8
3.1 Princípio da oralidade.........................................................................................................9
3.2 Princípio da informalidade................................................................................................10
3.3 Princípio da simplicidade..................................................................................................10
3.4 Princípio da economia processual.....................................................................................10
3.5 Princípio da imediação......................................................................................................11
3.6 Princípio da concentração dos atos....................................................................................11
3.7 Princípio da identidade física do juiz.................................................................................12
3.8 Princípio da celeridade.......................................................................................................12
4. Competência dos Juizados Especiais Criminais..................................................................13
5. Aspectos da fase preliminar do procedimento dos Juizados Especiais Criminais...............15
5.1 Introdução..........................................................................................................................15
5.2 O termo circunstanciado....................................................................................................16
5.3 O termo circunstanciado e a autoridade policial................................................................16
5.4 Juizados Especiais Criminais e atos de investigação.........................................................17
5.5 Prisão em flagrante e fiança segundo o artigo 69 da Lei n. 9.099/95................................18
5.6 Designação da audiência preliminar..................................................................................19
5.7 Fases da audiência preliminar............................................................................................19
6. O instituto da conciliação nos Juizados Especiais Criminais..............................................20
6.1 A composição dos danos civis na tentativa de conciliação...............................................20
6.2 Conciliadores nos Juizados Especiais Criminais...............................................................21
7. Composição dos danos civis................................................................................................22
7.1 Composição e homologação..............................................................................................22
7.1.1 Realização da conciliação...............................................................................................22
7.1.2 Termo de homologação..................................................................................................22
7.1.3 Homologação da composição dos danos civis...............................................................22
7.1.4 Decisão que constitui título executivo...........................................................................23
7.2 Renúncia ao direito de queixa e representação.................................................................23
7.3 Composição e ação pública condicionada........................................................................24
8 O instituto da transação nos Juizados Especiais Criminais................................................25
9 Do procedimento sumaríssimo...........................................................................................30
9.1 Introdução........................................................................................................................30
9.2 A audiência de instrução e julgamento............................................................................30
9.3 A sentença........................................................................................................................31
9.4 A execução......................................................................................................................31
10 O sistema recursal nos Juizados Especiais Criminais.......................................................32
10.1 Da apelação....................................................................................................................32
10.2 Do recurso em sentido estrito........................................................................................34
10.3 Dos embargos infringentes............................................................................................35
10.4 Do recurso especial........................................................................................................35
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1. Introdução
Com certeza, a Lei n. 9.099/95, na data de sua entrada em vigência, possuía um grande
número de objetivos práticos, entre eles, a agilização da justiça penal, através da introdução de
dispositivos inovadores no ordenamento penal e processual penal.
Produziu-se a oportunidade de consenso em crimes antes da ação penal pública
incondicionada, lançando-se as bases para uma justiça consensual, que afasta o Estado de
conflitos que poderiam ser resolvidos unicamente entre os envolvidos.
É facultada às partes a opção por uma composição, antes que o Estado-administração,
representado pelo Ministério Público, requeira a punição ao Estado-juiz.
Esta opção legislativa é uma tendência mundial, presente na legislação de vários países,
como Itália, Portugal e Estados Unidos.
É correto afirmar que a Lei n. 9.099/95 realmente inovou em matéria processual penal, com
a introdução de institutos como a composição de danos (acordo civil), a transação penal e a
suspensão condicional do processo, também denominado de sursis processual.
Entretanto, esta inovação teve seus limites, pois, segundo Ernani Almeida (Almeida, p.42,
1.996) :
" A nova legislação, contudo, não alterou o sistema acusatório vigente, em que cabe às
partes (Ministério Público na ação penal pública e o ofendido na ação penal privada) provocar
a prestação jurisdicional, e ao juiz, que não pode proceder sem a iniciativa das partes,
pronunciar-se sobre o pedido do autor, observando seus limites e não podendo decidir sobre o
que não foi solicitado. Também preservou o postulado constitucional de que o Ministério
Público é o titular exclusivo da ação penal pública, nos termos do art. 129, inciso I da
Constituição Federal".
Encerra a presente introdução a opinião breve, porém sincera de Damásio de Jesus (De
Jesus, p.15, 1.995) sobre o direito penal brasileiro com um todo e os Juizados Especiais
Criminais, em especial :
" O direito penal brasileiro mostra-se em fase de concordata, andando na contramão da
História. Está provado que a criação de novos tipos penais, a supressão de garantias
processuais, o agravamento das penas e o endurecimento do regime penitenciário não
reduzem a criminalidade (...) os três projetos (referindo-se a projetos de reforma penal e
processual penal), incursionam no rumo da 'Corrente da Lei e Ordem', se transformados em
lei, certamente vão colher os fracassos de seus princípios. Além de não conseguir baixar a
criminalidade a índices razoáveis, vão contribuir para a balbúrdia já existente em nossa
legislação penal, aumentando a sensação popular da impunidade, o descrédito na Justiça
Criminal e o grave problema penitenciário.
A Lei n. 9.099/95, instituindo os Juizados Especiais Criminais veio em boa hora,
consistindo numa luz no fundo do túnel a indicar a possibilidade de um futuro promissor".
2. Histórico
dos valores e princípios do Código de 1.941, forjado em pleno momento político de exceção :
o Estado Novo.
Esta ânsia por alterações estruturais no Processo Penal, solidificou-se no Anteprojeto de
Código de Processo Penal de Frederico Marques, apresentado ao Ministério da Justiça em
1.970.
Entre estas alterações, para Grinover (2.005) estavam :
•as resultantes do fato da falência da "...idéia de que o Estado possa e deva perseguir
penalmente toda e qualquer infração, sem admitir-se, em hipótese alguma, certa dose de
disponibilidade da ação penal pública";
•a percepção de que : "...a solução das controvérsias penais em certas infrações,
principalmente quando de pequena monta, poderia ser atingida pelo modo consensual";
•a constatação das vantagens do procedimento oral, que "...quando praticado em sua
verdadeira essência : a concentração, a imediação e a identidade física do juiz, conduzem à
melhor apreciação das provas e à formação de um convencimento efetivamente baseado no
material probatório colhido e na argumentação das partes.Percebeu-se também que a
celeridade acompanha a oralidade, levando à desburocratização e simplificação da Justiça";
•o avanço das idéias de "...participação popular na administração da Justiça, em respeito ao
princípio democrático do envolvimento do corpo social na solução das lides, que também
serve para quebrar o sistema fechado e piramidal da administração da Justiça, exclusivamente
feita pelos órgãos estatais";
•a sedimentação das tendências doutrinárias que pregavam "...a revitalização das vias
conciliatórias, pela possibilidade, nelas inerente, de alcançar uma solução que não visasse
apenas decidir sobre o conflito, de modo autoritativo, mas que se preocupasse com a lide
social, mais ampla do que aquelas levadas aos tribunais, permitindo chegar mais perto da
pacificação social";
•a redefinição da "...função do juiz, que se tornaria um elemento de transformação, deixando
de ser apenas um solucionador de controvérsias, em seu papel de ditar o direito, para assumir
as vestes de um verdadeiro mediador de conflitos";
•o desgaste da imagem do Poder Judiciário, que "...devia ser resgatada, consentindo-lhe
dedicar-se prioritariamente às infrações penais mais graves, que realmente estão a exigir toda
sua atenção";
•a atenção, "...a preocupação com a vítima, até então pouco valorizada, senão esquecida, pelo
sistema penal-processual, quando, na verdade, em sua satisfação (civil ou penal) se
concentram os anseios da sociedade";
•o consenso, a convergência de inúmeras tendências doutrinárias defensoras da
"...deformalização do processo, tornando-o mais simples, mais rápido, mais eficiente, mais
democrático, mais próximo da sociedade e da deformalização das controvérsias, tratando-as,
sempre que possível, pelos meios alternativos que permitam ou evitar ou encurtar o processo,
como a conciliação".
Como resultado direto de alguns dos fatores acima, o já citado Anteprojeto José Frederico
Marques, em seu art. 84, previa a proposta, pelo Ministério Público, do pagamento de multa
que, aceita pelo acusado, levaria à extinção da punibilidade, por perempção.
E, posteriormente, em 1.981, o Substitutivo ao Projeto de Código de Processo Penal
(D.O.U. 27/05/1.981), originado no trabalho do Professor Frederico Marques, previa que o
processo se extinguiria sem julgamento de mérito, quando o acusado, primário, concordasse
no pagamento de multa a ser fixada pelo juiz.
Um fato relevante à esta explanação, ocorreria poucos anos depois, em 7 de novembro de
1.984, com a Lei n. 7.244, que inseria na legislação brasileira o tratamento das pequenas
7
2.2.1 Conceito
Deste modo, Ferreira (2.005), enuncia os objetivos dos Juizados Especiais Federais :
" Os Juizados Federais foram instituídos com a finalidade de proferir decisões finais a
serem alcançadas e efetivadas de modo mais célere, principalmente a favor daqueles que
necessitam desta justiça, e desafogar o Superior Tribunal de Justiça e os Tribunais Regionais
Federais, que poderão examinar, mais rapidamente, as ações de maior repercussão social e
complexidade".
Prosseguindo, Glayciele Ferreira (2.005), expõem um dos escopos dos Juizados Especiais
Federais, comparando-os com os Juizados Especiais Cíveis e Criminais regulados pela Lei n.
9.099/95 :
" A Lei n. 9.099/95 trata de um procedimento de solução das lides entre particulares
(pessoas físicas, jurídicas (...)), e não poderia o legislador prever a sua aplicação no âmbito
federal sem fazer tal reserva legal expressa, visto que a Lei n. 10.259/01 trata da resolução de
conflitos diversos, entre particulares e a Administração Pública Federal, autárquica e
fundacional; e vários preceitos aplicáveis aos Juizados Especiais Estaduais não se adequam
aos Juizados Especiais Federais, motivo pelo qual a aplicação subsidiária da Lei n.9.099/95 à
Lei n. 10.259/01 deve respeitar este requisito de compatibilidade".
De acordo com o artigo segundo da Lei n. 9.099/95 são princípios dos Juizados Especiais:
oralidade, informalidade, simplicidade e economia processual, a fim de ser alcançada a
celeridade desejada pelo jurisdicionado.
À estes princípios, Tourinho Neto (p.65, 2.002) acrescenta os princípios da imediação,
identidade física do juiz e celeridade.
9
O legislador, atento ao princípio da oralidade, dispôs, quanto aos Juizados Especiais, que: a
composição dos danos civis será homologada pelo juiz mediante sentença irrecorrível (art. 74
da Lei n. 9.099/95); só os atos exclusivamente essenciais serão objeto de registro escrito (art.
65,§ 3.°, da Lei n. 9.099/95); nenhum ato será adiado (art.80 da Lei n. 9.099/95); todas as
provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento (art. 81, § 1.°, da Lei n.
9.099/95); a sentença será proferida em audiência (art 81, § 2.°, da Lei n. 9.099/95); somente
será admitido recurso de sentença definitiva, salvo nos casos do art. 4.° (art.5.° da Lei n.
10.259/01).
Cinco elementos constituem as linhas mestras da oralidade, como explica Canuto Mendes
de Almeida (p.25, 1.973) :
•a predominância da palavra falada;
•a imediatidade da relação do juiz com as partes e com os meios produtores da certeza;
•a identidade física do órgão judicante em todo o decorrer da lide;
•a concentração da causa no tempo;
•a irrecorribilidade das interlocutórias.
Observa-se, pois, que o Juizado Especial, é, realmente, regido pelo princípio da oralidade.
O juiz deve estar atento à audiência, não pode desviar o pensamento, sob pena de deixar
escapar dados importantes para o julgamento. Como diz Pedro Henrique Demercian (p.48,
1.999) : "Ele deve estar presente na audiência de corpo e espírito (...)".
Malatesta (p.326, 1.996) enfatiza o princípio da oralidade, quando da tomada de
depoimentos das testemunhas, dizendo :
" Com o exame direto e oral do testemunho, o juiz, que tem sob os seus olhos os vários
elementos do julgamento, pode descobrir onde a testemunha foi deficiente por omissão ou
inexatidão, e reparar por meio de oportunas interrogações. Quando tenha, ao contrário, de
julgar segundo testemunhos reduzidos a escritos por outrem, ainda que por um oficial público,
existirá sempre a possibilidade de um auto não completamente fiel, por ter desprezado
qualquer parte do depoimento oral ou subtendido. Além disto, o juiz dos debates, confiando na
redação escrita dos testemunhos, priva-se daquela grande luz que surge da conduta pessoal da
10
Para Moacyr Amaral Santos (p.68, 1.997) o objetivo do princípio da economia processual é
obter o "máximo resultado com o mínimo emprego possível de atividades processuais".
E Tourinho Neto (p.69, 2.002) acrescenta :
" A diminuição de fases e de atos processuais leva à rapidez, economia de tempo, logo,
economia de custos. (...) Enfim, no Juizado Especial busca-se, sobretudo, com aplicação
destes princípios, a reparação dos danos sofridos pela vítima e aplicação da pena não privativa
de liberdade. É o que está previsto no art.62 da Lei n. 9.099/95. E isso é conseguido com o
11
Em relação a este princípio, Tourinho Neto (p.72, 2.002) emite o seguinte comentário :
" Nas férias forenses e nos feriados, o andamento dos feitos não sofrerá solução de
continuidade, conforme determina o art. 64 da Lei n. 9.099/95: " Os atos processuais serão
públicos e poderão realizar-se em horário noturno em qualquer dia da semana, conforme
dispuserem as normas de organização judiciária". Não há distinção entre atos dos Juizados e
das Turmas Recursais. O Juizado Especial pode, portanto, funcionar em qualquer dia da
semana, de domingo a domingo, e a qualquer hora, seja durante o dia, seja durante a noite.
O Código de Processo Penal, art. 797, faculta que os atos do processo, excetuadas as
sessões de julgamento, possam ser praticados em período de férias, em domingos e dias
13
feriados. Faz, portanto, distinção. Comentando este artigo, disse Eduardo Espínola Filho
(p.75, 1.976) :
" Somente em relação a sessões de tribunal, de primeira ou segunda instância, vigora a
proibição de convocação para domingo ou feriado; ainda assim, o julgamento iniciado em dia
útil pode prolongar-se pelo dia, ou pelos dias seguintes, a despeito da superveniência de
domingo ou feriado. Regra que, na prática, só interessa ao funcionamento do júri. Bem se
percebe que, apenas excepcionalmente, é admissível o funcionamento do juízo em domingos e
feriados, e a fantasia ou capricho do magistrado, mesmo apegando-se ao acúmulo de serviço,
muito mal impressionariam, sujeitando os outros a trabalhar nestes dias de repouso semanal".
A celeridade é decorrente, também, de não haver inquérito policial, do rito ser por demais
simples, da adoção dos princípios da oralidade, da imediatidade e da identificação física do
juiz.
Todos os ordenamentos jurídicos buscam a celeridade dos processos. Eugênio Florian
(p.247-248, 1.933) explica a instrução sumaríssima no direito italiano:
" El criterio inspirador de esta forma de instrucción es la oportunidad de proveer con un
procedimiento rápido e breve al juicio de los delitos cuyas pruebas sean tan evidentes que
hagan innecesaria la instrucción. Su característica es que se pasa directamente de las
investigaciones preliminares a los debates. El código vigente ha colocado esta forma de
instrucción en la parte que trata del juicio oral y como juicio directo (giudizio diretttissimo)
(art.502 ss)".
Conta também como é o "juicio inmediato para los delitos cometidos durante las vistas, en
el caso de que éstos se puedam enjuiciar inmediatamente. En realidad de lo que aqui se trata
es de un juicio sin instrucción previa (arts. 435-436)".
Não esquecer que a celeridade não pode atropelar os princípios constitucionais que
protegem os acusados.
A obediência a estes princípios permite a democratização da administração da Justiça".
consideradas infrações de menor potencial ofensivo, haja vista sua não-inclusão na Lei dos
Juizados Especiais Federais decorrer da incompetência constitucional de a Justiça Federal
julgar qualquer contravenção penal (art. 109, IV, da CF). Assim, a competência ratione
materiae, dos Juizados Especiais Criminais Estaduais abrangerá as seguintes infrações :
•crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 anos, ainda que submetidos a
procedimento especial;
•contravenções penais.
De acordo com o art.94 da Lei n. 10.741, de 1.° de outubro de 2.003, os crimes previstos
no Estatuto do Idoso, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 anos, também
serão submetidos ao procedimento previsto na Lei n. 9.099/95. Há entendimento segundo o
qual não será possível a transação penal para estes crimes, pois a eles se aplicam tão-somente
as disposições acerca do procedimento sumário.
Além dessas hipóteses, a Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1.997, estabeleceu, em seu
art.291, parágrafo único, que se aplicam as crimes de trânsito de lesão corporal culposa
(punido com pena privativa de liberdade de detenção, de 6 meses a 2 anos), de embriaguez ao
volante (punido com pena privativa de liberdade de detenção de 6 meses a 3 anos) e de
participação em competição não autorizada (punido com pena privativa de liberdade de
detenção, de 6 meses a 2 anos) o disposto nos arts. 74, 76 e 78 da Lei n. 9.099/95. Atualmente,
com a nova definição de infração penal de menor potencial ofensivo, ressalvado o crime de
embriaguez ao volante e a hipótese de incidência de causa de aumento de pena, os outros
delitos previstos no dispositivo sujeitam-se ao procedimento sumaríssimo, com a aplicação de
todos os institutos regulados na Lei n. 9.099/95.
A Lei dos Juizados, entretanto, prevê duas causas de modificação de competência que, se
verificadas, importarão no encaminhamento do feito à Justiça Comum, para a adoção do
procedimento previsto em lei. São elas:
•o fato de não ter sido o acusado encontrado para ser citado, uma vez que não se admite a
citação por edital nos Juizados;
•a complexidade ou as circunstâncias do caso impossibilitarem a adoção do rito sumaríssimo.
Cumpre destacar que, para a fixação da pena máxima cominada à infração penal, deverão
ser computadas as causas de aumento e de diminuição da pena. Assim, em caso de tentativa,
toma-se o máximo de pena cominada e o mínimo da redução resultante da tentativa,
atingindo-se, por meio dessa operação, a pena máxima prevista para o crime tentado".
Fonte : Juizado Especial Criminal. Marino Pazzaglini Filho [et al]. São Paulo: Atlas,1.999
5.1 Introdução
Sobre este tema, Pazzaglini filho (p.38, 1.999) explica que o artigo 69 da Lei n. 9.099/95
“...aboliu, como regra, o inquérito policial para apuração de infrações de menor potencial
ofensivo. Houve sua substituição por um termo circunstanciado”.
A autoridade policial, ao tomar conhecimento de sua prática, em vez de instaurar inquérito
policial, deverá elaborar termo circunstanciado sobre a ocorrência, com os dados necessários
acerca do fato criminoso e sua autoria para que o Ministério Público possa formar sua opinio
delicti.
Dessa forma, e em regra, inexistindo o inquérito policial para as infrações penais de menor
potencial ofensivo, será inadmissível o indiciamento do autor da infração penal. Nesse
sentido, decidiu o Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo:
" Nas hipóteses de incidência da Lei n. 9.099 de 1.995 (art.61), não cabe à autoridade
policial instaurar algum inquérito ou procedimento assemelhado, nem preceder ao
indiciamento e identificação do acusado, mas sim tão somente fazer lavrar e encaminhar ao
juízo competente o termo circunstanciado, além das demais providências de que fala o art.69
da referida lei" (HC n. 1.028.223/3, 2.a Câm, Rel.Juiz Érix Ferreira, j. 15-8-96, v.u.)."
Por isso, do termo circunstanciado deverá, conforme o caso, constar :
•qualificação e endereço residencial e do trabalho do autor do fato e da vítima;
•a narrativa do fato e suas circunstâncias, especificando-se data, hora e local de sua ocorrência
e as versões, em síntese, das partes envolvidas;
•a relação dos instrumentos da infração e dos bens apreendidos;
•o rol de testemunhas, com qualificação e indicação dos endereços em que poderão ser
localizadas, e a súmula do que presenciaram;
•a lista dos exames periciais requisitados;
•croqui, na hipótese de acidente de trânsito;
•outros dados que a autoridade policial entender relevantes sobre o fato;
•assinatura das pessoas presentes à lavratura do termo.
Por outro lado, lavrado o termo, este será encaminhado imediatamente ao Juizado Especial
Criminal, juntamente, em sendo possível, com o autor do fato e a vítima.
17
fundamentos da ação penal por seu titular que é o Ministério Público. E a polícia militar tem
como mister o policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública.
Havendo, após a lavratura do termo circunstanciado e encaminhamento dos envolvidos ao
Juizado, necessidade de maiores diligências, ou mesmo de requisições periciais, o Ministério
Público encaminhará os autos à autoridade da polícia judiciária, requisitando o que necessário
for, em consonância com o disposto no art.144, § 4.° da Constituição Federal".
Ao comentar a regra do parágrafo único do art. 69 da Lei 9.099/95, disse Pazzaglini (p.41,
1.999) :
" Segundo ela, nas infrações de menor potencial ofensivo não será mais formalizada a
prisão em flagrante delito, nem será imposta fiança, desde que o autor do fato seja
encaminhado, ato contínuo à lavratura do termo circunstanciado, ao Juizado Especial
Criminal ou assuma o compromisso de ali comparecer no dia e hora designados.
Na verdade, em tais infrações, poderá ocorrer, como nos demais delitos, a prisão em
flagrante delito, configurando-se as situações previstas no art.302 do CPP, que poderá ser
realizada por policiais civis, por policiais militares ou por qualquer do povo (art.301 do CPP),
os quais deverão apresentar o autor do delito à Delegacia de Polícia da circunscrição policial
onde ele ocorreu.
Na presença do delegado de polícia, se o autor do fato puder ser levado imediatamente ao
Juizado Especial Criminal ou assumir o compromisso de se apresentar perante este, não será
lavrado auto de prisão em flagrante, mas, tão-somente, o termo circunstanciado, onde deverá
ser mencionado tal acontecimento.
Assim, a contrário senso, deverá ser autuado o autor da infração quando, em sendo
impossível sua condução imediata ao Juizado Especial Criminal, negar-se a comparecer
posteriormente ao Juizado Especial Criminal.
No caso de apresentação imediata do autor do fato ao Juizado ou do compromisso por ele
assumido de comparecer na data aprazada, haverá, na verdade, a suspensão dos efeitos da
detenção, com implícita concessão de liberdade provisória sem fiança.
Por outro lado, se conduzido, de imediato, com o termo circunstanciado, o autor do fato ao
Juizado Especial Criminal e verificar o Promotor de Justiça que este não caracteriza infração
de menor potencial ofensivo, deverá ser aquele reconduzido à Delegacia de Polícia para a
lavratura do flagrante.
No entanto, quando o autor do fato quebrar o compromisso de comparecer ao Juizado na
data designada, descabe providência desse teor, devendo o Magistrado remeter as peças
existentes ao Juízo comum, onde será dada vista ao representante do Ministério Público para
adoção das medidas cabíveis (arquivamento, instauração de inquérito policial, ou, se houver
elementos, oferecimento de denúncia escrita, observando-se o rito comum previsto para sua
persecução penal).
Registre-se, ainda, que no caso de prisão em flagrante pela prática de vadiagem ou
mendicância (arts. 59 e 60 da Lei das Contravenções Penais), aplica-se a presente lei, não
incidindo, na hipótese de comparecimento de seu autor ao Juizado Especial Criminal, o
disposto no inciso II do art.323 do CPP, que veda, nos dois casos, a concessão de fiança.
Igualmente não haverá aplicação deste dispositivo, configurando-se infração de menor
potencial ofensivo e havendo o cumprimento da obrigação de ir apresentar-se ao Juizado
Especial Criminal, nas hipóteses previstas nos incisos III aa V do art. 323 do CPP".
5.6 Designação da audiência preliminar
19
Assim, Pazzaglini (p.42, 1.999), expõem as características dos dispositivos tratados nos
artigos 70 e 71 da Lei n. 9.099/95 :
" Estando presentes, na ocasião de entrega do termo circunstanciado na Secretaria do
Juizado Especial Criminal, o autor do fato e a vítima, poderá ser realizada, se possível em face
da agenda ou dos dados constantes daquele, a juízo do Promotor de Justiça, a audiência
preliminar. Verificada a impossibilidade de sua imediata realização, será ela designada para
data próxima, já saindo intimadas as partes.
O autor do fato, ademais, também deverá ser cientificado que precisa comparecer
acompanhado de advogado à audiência preliminar, com advertência de que, em sua falta, ser-
lhe-á designado defensor público (art.68).
Por outro lado, se, no momento da entrega do termo à Secretaria do Juizado Especial
Criminal, constatar-se que está ausente qualquer dos envolvidos, impossibilitada, por isso, a
realização de audiência preliminar, sairá cientificado quem compareceu e aquela
providenciará a intimação dos demais na forma do art.67 e 68.
Ademais, se não for o autor do fato, mas outra pessoa a responsável civil pela reparação dos
danos, deverá ser providenciada também sua intimação. Assim, no caso de colisão de ônibus
com outro veículo, resultando do embate danos físicos e materiais nos ocupantes deste, deverá
ser intimado, além do motorista daquele, o representante legal da empresa do ônibus causador
do sinistro."
A audiência preliminar começa a ser tratada no art.72 da Lei n. 9.099/95. Ela ocorre
anteriormente ao procedimento sumaríssimo da mesma lei, procedimento este que tem sua
instauração dependente do que foi decidido na audiência preliminar.
De acordo com Pazzaglini (p.43, 1.999) :
" A audiência preliminar, que se destina à tentativa de conciliação (gênero) civil e penal
(espécies), compõe-se de três fases :
•composição dos danos civis;
•transação penal; e
•oferecimento oral de denúncia.
De acordo com Mirabete (p.75, 1.996), desta forma se realiza a composição dos danos na
conciliação :
" Na conciliação, a composição dos danos pode ocorrer entre o autor do fato e a vítima,
entre o representante legal do autor do fato e o ofendido, entre o responsável civil e a vítima,
entre o responsável civil e o representante legal do ofendido. À vítima ou a seu representante
legal é permitido escolher entre as propostas do autor do fato e do responsável civil."
Fonte : Juizado Especial Criminal. Marino Pazzaglini Filho [et al]. São Paulo: Atlas,1.999
§ 4.° Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o juiz
aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo
registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.
§ 5.° Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no artigo 82
desta lei.
§ 6.° A imposição da sanção de que trata o § 4.° deste artigo não constará de certidão de
antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos
civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cívil".
Segundo Martins (1.996), tão logo entrou em vigência o instituto da transação disposto na
Lei n. 9.099/95, surgiu acalorada polêmica doutrinária, pois para entendimento de muitos, este
tipo de transação seria inconstitucional, pois a aceitação de proposta feita pelo Ministério
Público, por importar em apenação, equivaleria a pena sem processo :
Em relação a isto, posicionou-se Martins (1.996, p.14):
" É, sem sombra de dúvidas um argumento consistente, na medida em que defende ponto
de vista de se tratar de um contra-senso a irrogação de uma reprimenda sem a prévia
existência de uma ação penal, com a formação de culpa, ou mesmo de uma acusação
devidamente formalizada. Como conseqüência, alguém sofreria sanção penal, sem haver o
reconhecimento formal da prática de uma infração penal, que dizer de sua responsabilidade
criminal.
Com efeito, cuida-se de situação que parece, em uma rápida análise, colidir com princípios
de direito penal e processual penal, na forma assentada nos normativos respectivos.
Porém, trata-se de uma previsão nova, inspirada em experimentos aplicados e com sucesso
em outros países, dentre eles os Estados Unidos da América e Itália, tudo com o desiderato de
se resolver com rapidez e eficiência os fatos pretensamente criminosos, sem que ocorra um
gravame efetivamente sério.
Ademais, não se pode esquecer que os Juizados Especiais foram previstos pela Constituição
Federal de 1.998, que previu expressamente em seu art.98, inciso I, que tratariam das causas
cíveis de menor complexidade e das infrações penais de menor potencial ofensivo, permitida
a transação.
Verifica-se da leitura do texto constitucional, a inexistência de qualquer restrição à forma e
alcance da transação, não se podendo negar à lei infra-constitucional que regule a matéria de
maneira ampla.
Inclusive a argumentação de que a inconstitucionalidade estaria oculta, ante a perspectiva
de conversão em pena privativa de liberdade, conforme possibilitava o art. 85, não mais
remanesce, em razão dele se reportar aos termos previstos em lei.
Diante da alteração determinada pela Lei n. 9.268, de 1.° de abril de 1.996, que deu nova
redação ao artigo 51 do Código Penal, vedando a conversão da pena pecuniária em detenção,
impossível que ocorra a transmudação de apenação a reprimenda diversa da privativa de
liberdade, a quem restou beneficiado com a transação penal".
Definindo resumidamente a transação penal, pode-se afirmar que ela consiste basicamente
em concessões mútuas às partes (infrator e Ministério Público), autorizado que foi pelo
dispositivo constitucional do art.98, inciso I. Ela é decorrente do princípio da oportunidade da
propositura da ação penal, que confere ao seu titular, o Ministério Público, a faculdade de
dispor da ação penal, isto é, de não promovê-la, sob determinadas condições.
Este instrumento novo de política criminal faculta o Ministério Público que, entendendo
convenientemente ou oportuna a resolução rápida do litígio penal, propor ao autor da infração
de menor potencial ofensivo a aplicação sem denúncia ou instauração de processo, de pena
não privativa de liberdade.
Sendo assim, só ao Ministério Público cabe o oferecimento da proposta de transação, posto
que estamos tratando de crimes de ação penal pública condicionada à representação (eis que
27
superada a fase de conciliação, tendo havido a representação por parte do ofendido). É o que
determina o art. 129, inciso I da Constituição Federal, que estabelece ao Ministério Público a
titularidade para o exercício da ação penal pública.
Exclui-se aqui, os casos de ação penal privada. Grinover (p.122, 2.005), destaca:
" A lei só cuida da proposta de aplicação da pena com relação à ação penal pública,
condicionada ou não. Exclui-se das primeiras linhas do art.76 a previsão da transação penal
proposta pelo titular da queixa-crime. E certamente, numa visão mais tradicional do papel da
vítima no processo penal, poder-se-ia afirmar não ter ela interesse na pena. De modo que,
frustrada a tentativa de reparação de danos, somente abrem-se-lhes duas alternativas:
apresentar queixa, para o exercício da ação penal, como substituto processual; ou quedar-se
inerte, não dando margem à persecução penal".
Antes do oferecimento da proposta de transação, incumbe serem observados alguns
requisitos, como a inexistência de anterior condenação irrecorrível à pena privativa de
liberdade, a inocorrência do mesmo benefício nos cinco anos anteriores à proposta e estarem
os requisitos subjetivos relativos a antecedentes, conduta social e personalidade, motivação e
circunstâncias do fato, a indicar que ela é suficiente e adequada ao caso concreto (art.76, §
2.°, incisos I, II e III, respectivamente).
Percebe-se também, que não previu o legislador a participação da vítima, que se encerra na
fase de conciliação e não havendo esta, cabe-lhe tão somente, o direito de representação,
sendo que os rumos do fato serão dados pelo Promotor de Justiça.
Discorre quanto a isto Grinover (p.133, 2.005) :
" O ofendido não tem qualquer interferência na tentativa de transação penal. A lei é
expressa, ao considerar apenas a vontade do Ministério Público e do autuado, tanto no
parágrafo 4.°, como no .° do artigo 76. E ainda que se adote a linha moderna que entende
ter o ofendido interesse à repressão penal (...), não se pode chegar ao ponto de fazer
prevalecer sua vontade sobre a do Ministério Público, único titular da ação penal pública, de
quem a vítima pode ser simples assistente."
Ressaltamos, ainda, que poderá ser assistente do Ministério Público, se ação penal houver,
eis que, aceita a proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, a ação
penal propriamente sequer inicia.
Contudo, é certo que ao infrator é dado o direito de aceitar a proposta ou não. A ele, é lícito
tentar provar sua inocência ou qualquer excludente no curso da ação penal vindoura. Portanto,
a transação, como o próprio nome diz, é opcional, adequando-se a um modelo consensual de
justiça.
Como a proposta do Ministério Público é técnica, podendo impor ao infrator uma pena não
restritiva de liberdade, é fundamental a presença do advogado, acompanhando e orientando o
infrator acerca da necessidade, oportunidade ou conveniência da aceitação da proposta de
transação.
Contudo, pode ocorrer que, por razões diversas, haja divergência entre a vontade do
infrator e a vontade de seu defensor (constituído ou nomeado) uma vez que existem muitos
aspectos subjetivos a serem considerados, normalmente, a respeito do teor do conteúdo da
proposta formulada pelo Promotor de Justiça. Pode ocorrer que a proposta seja mais gravosa
ou onerosa que uma sentença condenatória, por exemplo.
O entendimento corrente, nestas situações, inclusive adotado pela comissão encarregada de
interpretar a lei, instituída pela Escola Nacional da Magistratura, é a que nesta hipótese e na
hipótese da proposta de suspensão condicional do processo, prevalecerá a vontade do infrator
ou denunciado, neste último caso.
Entretanto, tal entendimento não é pacífico, sob o argumento de que o profissional de
direito é quem melhor pode avaliar o alcance e as conseqüências da transação, do que o
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próprio infrator, que além de leigo, está em condição de desvantagem, pois se não aceitar a
proposta, será processado.
salutar mencionar que aplica-se subsidiariamente as normas de processo penal, onde,
nestes casos, prevalece a vontade do denunciado, como na hipótese em que o mesmo, já
condenado, pessoalmente, desiste do recurso.
Foi objeto de polêmica e grande controvérsia, a questão de ser possível o Ministério
Público abster-se de formular proposta de transação ou se, caso não o fizesse, poderia o juiz
tomar a iniciativa.
A matéria está agora pacificada.
Preenchidos os requisitos do art. 76, ao Ministério Público é dado propor a transação penal.
Porém, cuida-se de um poder-dever, visto que a lei instituiu um direito subjetivo ao
infrator, o qual não lhe poderá ser negado sem justificativa, ou seja, não fica arbítrio do
Promotor de Justiça. É necessário lembrar que foi abraçado pela lei o que já chamamos de
princípio da oportunidade regrado.Assim, preenchidos os requisitos de lei, a proposta
necessariamente terá de ser apresentada.
Porém, mesmo que não o faça, ainda assim, não é dado ao juiz substituir o Ministério
Público naquilo que é de sua competência, apresentando proposição, não tendo competência
para obrigá-lo a tanto.
Certo que o Promotor de Justiça, ao não apresentar proposta de transação, terá de fazê-lo
fundamentalmente, pois é direito subjetivo do infrator saber qual o raciocínio desenvolvido
pelo Ministério Público para não negar-lhe o direito disposto no art. 76.
Assim ensina Lopes (1.995, p. 345) :
" Não pode, contudo, aplicar ex officio pena não privativa de liberdade, devendo submeter
sua desconformidade, por analogia ao disposto no art. 28 do Código de Processo Penal, ao
Procurador Geral de Justiça. Isso porquê não se trata formalmente de rejeição de denúncia por
descompasso com os requisitos do art. 41 daquele diploma, o que deixaria sem recurso o
Promotor de Justiça, salvo se partisse para a apelação prevista no art.76, § 5.°, embora ali se
diga que tal recurso caberá contra a decisão que acolher a proposta do Ministério Público
aceita pelo autor da infração".
Ainda na hipótese de não ser formulada a proposta, mas sim oferecida a denúncia oral,
tendo esta sido recebida pelo juiz, caberá ao infrator o direito de impetrar habeas corpus
perante a Turma Recursal, pois lhe teria sido negado o direito a proposta, que é determinação
legal e constitucional.
No que se refere aos termos ou conteúdo da proposta, será ela consistente em aplicação
imediata de pena restritiva de direitos ou multa, a ser precisamente especificada, posto que
não se admite proposta genérica.
Como parâmetro, entre outros, deverá ser tomado o disposto no art. 59 do Código Penal,
vez que o Promotor de Justiça na escolha da sanção penal a ser proposta, tem
discricionariedade ampla. Contudo, a fixação não poderá ser aleatória.
Por isto, ensina a seguinte lição Pazzaglini (1.999, p.48) :
" A opção entre a pena restritiva de direitos e multa deve atender às finalidades sociais da
pena, aos fatores referentes à infração praticada (tais como : motivo, circunstâncias e
conseqüências) e a seu autor (antecedentes, conduta social, personalidade, reparação do dano
à vítima).
Com respeito à pena restritiva de direito, a escolha está limitada àquelas elencadas no art.
43 do Código Penal, ou seja, prestação se serviços à comunidade, interdição temporária de
direitos e limitações de fim de semana, observadas as normas definidoras destas (arts. 46-48
do Código Penal). E os critérios já mencionados podem também nortear sua seleção.
A pena restritiva de direitos, no sistema do Código Penal, é sempre fixada em substituição à
pena privativa de liberdade, isto é, primeiro o juiz fixa a pena privativa de liberdade e depois a
29
substitui pela pena restritiva de direitos. Sua duração, inclusive, é a mesma da pena privativa
de liberdade a ser substituída (art.55 do CP).
Para a elaboração da proposta, o Promotor de Justiça deverá realizar a mesma operação
mental, tendo em vista a pena privativa de liberdade prevista para a infração penal, se for o
caso.
Na fixação da pena pecuniária, por sua vez, quanto ao número de dias-multa procede-se da
mesma forma da eleição da pena restritiva de direitos; no tocante à determinação do valor de
cada dia-multa, deve ser este ajustado em função da sua situação econômica do autor da
infração".
O critério de proporcionalidade é fundamental para a fixação da proposta, normalmente
leva-se em consideração a condição econômica do infrator, para não se correr o risco de
produzir igualdade entre desiguais, ou seja, entre dois infratores que praticaram o mesmo tipo
penal, mas com condições econômicas diametralmente opostas, não poderá ser formulada
idêntica proposta.
Feita e aceita a proposta, cabe ao juiz a sua homologação. Em sendo acolhida a transação
aceita, ele aplicará a pena decorrente do acordo, que não importará em reincidência, não
constará de certidão de antecedentes criminais e não terá efeitos civis, impedindo apenas a
nova concessão do benefício pelo prazo de cinco anos, também não havendo condenação em
custas.
Nesta fase, deverá o juiz analisar a legalidade da proposta, bem como se houve válida
aceitação por parte do autor do fato e seu defensor. Desta forma, verificará se estão presentes
os requisitos legais, os pressupostos para a efetuação da proposta e para a realização da
transação. Não estando presentes, o juiz não homologará a proposta aceita.
Quanto ao exame do mérito da proposta, este se encontra dentro do poder discricionário do
Promotor de Justiça. Contudo, como a lei adota o princípio da oportunidade regrada, poderá o
juiz, caso discorde dos termos em que foi elaborada a proposta, em relação a seu mérito,
utilizar, subsidiariamente ou por analogia, o disposto no art. 28 do Código de Processo Penal,
remetendo as peças ao Procurador Geral de Justiça, para que este modifique a proposta
apresentada pelo Ministério Público, designando outro Promotor de Justiça para realizá-la. No
entanto, se o órgão do Ministério Público insistir na proposta, deverá o juiz homologar o
acordo efetuado.
Pode ocorrer também, a existência de mais de um autor do fato, ou seja, um concurso de
agentes na infração.
Neste caso, poderá a transação ser efetuada com apenas um dos autores, não havendo óbice
legal para tanto, desde que, por certo, a proposta e a negativa de proposta sejam devidamente
fundamentadas. Acontecendo isso, aquele que transacionou poderá ser arrolado como
testemunha no processo que venha a ser instaurado contra os restantes".
30
9 Do procedimento sumaríssimo
9.1 Introdução
9.3 A sentença
Sobre a sentença nos Juizados Especiais Criminais, comenta Bonfim (p.65, 2.005) :
" Após os debates orais, deverá o juiz proferir sentença, que mencionará os elementos de
convicção em que se baseou o julgador, dispensado, contudo, o relatório (art.81, § .°). A
sentença será proferida em audiência.
Apesar de prescindir do relatório, a sentença conterá necessariamente fundamentação e
dispositivo, sob pena de nulidade. Os princípios que informam o rito sumaríssimo não
autorizam o juiz a julgar segundo sua íntima convicção. Permanece intangível o princípio da
persuasão racional, assegurando às partes o conhecimento dos motivos que levaram o juiz a
determinada conclusão. A necessidade de fundamentação garante às partes, em última análise,
o acesso ao duplo grau de jurisdição.
Da sentença condenatória ou absolutória, bem como da sentença que homologa a transação
penal, caberá apelação.
Da decisão proferida por turma recursal poderá ser interposto recurso extraordinário para o
STF, mas não recurso para o STJ (Súmula 640 do STF)".
9.4 A execução
Ao comentar a execução nos Juizados Especiais Criminais, disse Bonfim (p.66, 2.005) :
" A competência para a execução das sentenças proferidas no Juizado será estabelecida de
acordo com a sanção penal imposta.
Assim, dispõe o art.86 que, se a pena de multa for a única aplicada, seu cumprimento far-
se-á mediante pagamento na Secretaria do Juizado. O pagamento de multa extingue a
punibilidade, desde que seja a única pena aplicada. Neste caso, a condenação não constará dos
registros criminais, exceto para fins de requisições judiciais (para a instrução de outros feitos
criminais).
Por força da nova redação do art.51 do CP, a pena de multa não poderá, em hipótese
alguma, ser convertida em pena privativa de liberdade na hipótese de não-pagamento.
Inaplicável, portanto, a primeira parte do art.85 da Lei dos Juizados. No que tange à
conversão da pena de multa em restritiva de direitos no caso de não-pagamento, não poderá
também ser realizada, por não haver previsão legal dos termos da substituição ou dos
parâmetros a serem utilizados nessa conversão.
Aplicam-se em relação ao cumprimento da pena de multa as disposições previstas no
Código Penal e na Lei de Execução Penal, no que respeito às modalidades de pagamento
permitidas.
Quando o sentenciado frustrar o pagamento da multa, há que distinguir duas situações:
32
•Se a pena de multa tiver sido aplicada em transação penal, há quem entenda que deverá ela
ser executada como dívida de valor. Em sentido oposto, defendem outros que o não-
cumprimento do acordo penal autoriza o Ministério Público a retomar a ação penal,
oferecendo denúncia contra o autor da infração penal;
•Se a pena de multa tiver sido imposta em sentença condenatória, será considerada dívida de
valor, com a aplicação das normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública.
Quanto ao órgão competente para executá-la, há controvérsias: entendem que compete ao
Ministério Público proceder à execução, enquanto outros defendem a legitimidade dos
procuradores da Fazenda para a cobrança, pois a competência passaria às Varas da Fazenda
Federal.
Será, contudo, processada perante o órgão competente, nos termos da lei, a execução :
•das penas privativas de liberdade, aplicadas em sentença condenatória;
•das penas restritivas de direitos, impostas em transação penal ou sentença condenatória;
•das penas de multa, quando cumuladas com pena restritiva de liberdade ou restritiva de
direitos.
O órgão competente para a execução é fixado nos dispositivos da Lei de Execução Penal e
nas leis de organização judiciária".
Segundo José Olindo Gil Barbosa (p.3, 1.996) este tema assim pode ser tratado :
" Tanto na parte cível como na parte criminal, a Lei n. 9.099/95 previu apenas dois recursos
- se os embargos declaratórios puderem ser admitidos como tal - visando com isso obter a
maior celeridade possível no julgamento de suas causas, a fim de que a prestação jurisdicional
fosse dada de maneira mais veloz e com uma maior efetividade possível.
Na parte criminal, especificamente, o único recurso previsto, além dos embargos
declaratórios, foi o da apelação. Não obstante a previsão desse único recurso, alguns autores
defendem a tese da possibilidade de vários outros não previstos na lei".
10.1 Da apelação
De acordo com José Olindo Gil Barbosa (p.4, 1.996) : " (...) a apelação poderá ser
interposta contra a decisão do juiz monocrático que rejeitar a queixa ou a denúncia, bem como
da sentença absolutória ou condenatória (art. 82), e da que homologa a transação penal (art.
76, §5º).
O julgamento desse recurso, segundo o mesmo art. 82, poderá ser feito por turmas
compostas de três juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, as chamadas turmas
recursais. Poderá porque é uma faculdade dos Estados a criação e instalação dessas turmas.
Nesse caso, enquanto e se não criadas as citadas turmas, o julgamento da apelação será feita
pelos tribunais de justiça. Sobre isso leciona Maurício Antônio Ribeiro Lopes (p.370-371,
1.995) :
"Qual o sentido da colocação verbal poderá? Chamo a atenção para leitura do art. 41, §2º
desta lei em que o legislador foi mais categórico ao dispor que o recurso será julgado por uma
33
turma composta de por três Juízes togados, em exercício no primeiro grau de jurisdição,
reunidos na sede do Juizado.
O emprego da expressão poderá neste artigo, a meu ver indica que a legislação estadual
regulamentadora do Juizado poderá definir a competência recursal ao órgão indicado na Lei
9.099, mas também poderá atribuí-la aos Tribunais já constituídos".
Ada Pellegrini Grinover (p.162, 2.005), ao discorrer sobre essa mesma possibilidade,
ensina-nos o seguinte:
"Como já se observou, a Lei n. 9.099/95, com amparo no art. 98, I, da Constituição, abriu a
possibilidade de julgamento das apelações contra decisões proferidas pelos Juizados Especiais
por turmas recursais integradas por três juízes em exercício em primeiro grau de jurisdição.
Atende-se, com isso, à garantia do duplo grau de jurisdição, sem comprometimento dos
princípios de simplicidade, celeridade e economia processual, que devem informar a atividade
jurisdicional relacionada às pequenas infrações penais.
Trata-se, no entanto, como se vê tanto no texto legal como no constitucional, de mera
faculdade atribuída ao legislador local. Assim, podem os Estados omitir ou adiar a criação
dessas turmas e, nessa situação, todos os recursos relativos às causas de competência dos
Juizados continuarão a ser julgados pelos tribunais existentes".
Atualmente, praticamente todos os Estados já estão com as suas turmas recursais
devidamente criadas. E teria que assim ser. Se todos os recursos continuassem a serem
julgados pelos tribunais de nada adiantariam a simplicidade e celeridade do juízo
monocrático, se a causa estancasse com a burocracia e o enorme volume de processos nos
tribunais na fila para serem julgados. Seria, não resta dúvida, um contra-senso.
O parágrafo 1.º, do art. 82 preceitua que a interposição da apelação deverá ser interposta no
prazo de dez dias, a contar da intimação. Nisso houve uma inovação, posto que o Código de
Processo Penal (art. 593), prevê tão somente cinco dias para a interposição desse recurso. Mas
como? A Lei n. 9.099/95 não veio para oferecer uma maior celeridade nos processos e, ao
invés de diminuir o prazo apelatório, simplesmente dobra esse mesmo prazo? O que pode
parecer um pouco estranho não verdade não o é. Ocorre que, ao contrário do Código de
Processo Penal, em que as razões da apelação poderão ser apresentadas em até oito dias após a
manifestação do apelo, na lex nova elas têm, obrigatoriamente, que acompanhar o pedido de
recurso e, com isso, como se vê, acaba por abreviar substancialmente esse prazo.
As contra-razões da apelação, obviamente, deverão ser apresentadas, também, no prazo de
dez dias.
A lei não previu a participação do Ministério Público quando do julgamento da apelação
pelas turmas recursais. Quanto a isso, a princípio, uma pequena controvérsia surgiu. Entendia
uma corrente que, como não havia a previsão legal, o parecer ministerial seria dispensável.
Outra advogava a tese de que a presença do Ministério Público nas turmas recursais, na figura
de procurador ou promotor de justiça, se fazia imprescindível sob pena de nulidade dos
julgamentos proferidos.
É importante salientar que a omissão da Lei dos Juizados Especiais tem sido ressaltada por
múltiplos doutrinadores que se debruçaram sobre a matéria, a grande maioria entendendo ser
imperativa a oitiva do Ministério Público antes das decisões proferidas pelas Turmas
Recursais.
No entendimento de Ada Pellegrini Grinover (p.165, 2.005), por exemplo, a manifestação
ministerial antes dos recursos é obrigatória. Vejamos:
"Ainda que a lei comentada seja omissa nesse particular, é obrigatória a manifestação da
Procuradoria Geral de Justiça sobre a apelação (art. 610, caput, CPP). Nos Estados em que
forem instaladas as turmas recursais será conveniente que junto às mesmas funcione um
Procurador de Justiça, ou seja especialmente designado promotor em exercício no Juizado,
com essa atribuição, evitando-se com isso maior demora na tramitação do recurso".
34
Acerca da possibilidade deste recurso nos Juizados Especiais Criminais, assim ensina José
Olindo Gil Barbosa (p.6, 1.996) :
" O recurso em sentido estrito, mecanismo de reforma de decisão judicial (despacho ou
sentença) nos casos do art. 581, do Código de Processo Penal, tem, a nosso ver, completa
aplicação aos casos da Lei dos Juizados Especiais, com exceção, é claro, do inciso I, em que o
juiz decide por não receber a denúncia ou a queixa, visto que para essa hipótese a lei já previu
a apelação.
Maurício Antônio Ribeiro Lopes (p.369, 1.995), ao comentar a admissibilidade desse tipo
de recurso no ordenamento jurídico dos Juizados Especiais, concluiu por considerá-lo como
cabível. Vejamos o que ele doutrina:
"As demais hipóteses de cabimento de recurso em sentido estrito, previstas taxativamente
no art. 581 do Código de Processo Penal, tem perfeita aplicação contra sentença, decisão ou
despacho, nos casos pertinentes à matéria afeta à competência do Juizado ou em que as
circunstâncias do agente o habilitem a ser parte em processo instaurado perante o Juizado, o
que afasta os casos previstos em diversos incisos do art. 581 do Código de Processo Penal."
Ada Pellegrini Grinover (p.158, 2.005), por sua vez, advoga também no sentido de que é
perfeitamente admissível o recurso em sentido estrito, embora não expressamente previsto na
Lei dos Juizados Especiais. In verbis:
"Pense-se nos diversos casos em que o CPP prevê o recurso em sentido estrito (salvo, é
evidente o do art. 581, I, para o qual é agora expressamente admitida a apelação): o juiz, no
procedimento sumaríssimo, conclui pela incompetência (art. 581, II) ou decreta extinta a
punibilidade (art.581, VIII), etc. Seriam tais decisões irrecorríveis?
Não temos dúvida em afirmar que nessas situações o referido recurso continua a ser cabível
e deve ser julgado pelas mesmas turmas recursais. Essa conclusão decorre do próprio sistema,
pois o art. 98, I, da Constituição permite o julgamento de recursos (sem limitação) pelas
mencionadas turmas, ao passo que a própria Lei 9.099/95 prevê a aplicação subsidiária do
CPP, quando as respectivas disposições não forem incompatíveis."
As nossas cortes de justiça, do mesmo modo, têm adotado essa mesma linha de
entendimento da doutrina. Vejamos:
recurso em sentido estrito está a celeridade do julgamento, pois independe de revisão, o que se
mostra compatível com os critérios inspiradores da lei dos juizados especiais, além de ser
idônea a analogia com o inciso XVI, do art. 581 do CPP. (TACRIMSP - RSE 1.024.921 - 11ª
C. - Rel. Juiz Renato Nalini - J. 12.08.1996).
Assim, como já dissemos, o recurso em sentido estrito, é aplicável na Lei dos Juizados
Especiais".
Em relação aos embargos infringentes,disserta José Olindo Gil Barbosa (p.8, 1.996) :
" Os embargos infringentes são um tipo de recurso, com previsão no parágrafo único, do
art. 609 do Código de Processo Penal, no capítulo V, do Título II, Livro III, que trata do
processo e do julgamento dos recursos em sentido estrito e das apelações, nos tribunais de
apelação.
Entendem alguns autores, dentre eles Ada Pellegrini Grinover (p.158, p.2.005), que eles não
são admissíveis após a instalação das turmas recursais, posto que, em assim ocorrendo, não se
tratará de julgamento em tribunais, conforme previsão do Código de Processo Penal e sim em
turmas de recursos, que são órgãos diferentes. Outros, porém, entendem que os embargos
infringentes são sim cabíveis no Juizado Especial Criminal. Argumenta essa corrente, dentro
da qual advoga o eminente mestre José Barcelos de Souza (p.217, 1.997) que o procedimento
previsto na Lei dos Juizados Especiais é como um tipo de procedimento especial já previsto
no CPP, que difere dos demais, apenas em virtude ser previsto em lei especial. Articula ele o
seguinte:
" Desse modo, cabem os embargos infringentes, no prazo estabelecido no Código e com a
característica de recurso privativo da defesa. Descaberiam se houvesse disposição da lei
especial em contrário, e então os Juizados Especiais seriam uma justiça de segunda classe e,
pior que isso, uma justiça perversa ao impedir que um réu condenado por dois votos, mas
absolvido por um terceiro voto, não pudesse embargar o acórdão, especialmente quando a
divergência fosse unicamente sobre matéria de prova, a impedir um recurso a Tribunal
Superior. O anseio de rapidez não poderia sacrificar a própria finalidade da justiça. Não
seria por aí.
Uma outra objeção tem sido feita ao cabimento dos embargos infringentes, especificamente
quando a apelação (ou o recurso em sentido estrito) tiver sido julgada por Turma do próprio
juizado, e não por Tribunal de segundo grau, sendo certo que onde não houver Turma
julgadora os recursos continuam pertencendo aos tribunais competentes.
A apelação criminal, com efeito, poderá ser julgada (art. 82 da Lei 9.099/95) pelas turmas,
enquanto o recurso cível será julgado por elas (como dispõe o art. 41, § 1º, da mesma lei)."
Entendemos, contudo, que a lei é muito clara. O Código de Processo Penal estabelece que
os embargos infringentes serão julgados por tribunais e não por turmas recursais. Assim,
comungando do mesmo pensamento de Ada Pellegrini Grinover, entendemos que os embargos
infringentes para julgamento por turmas recursais não são admissíveis".
Sobre este recurso, José Olindo Gil Barbosa (p.9, 1.996) explica que ...
36
" O Recurso Especial é uma modalidade de apelo jurídico, previsto no art. 105, III, alíneas
a, b e c, da Constituição Federal, com o fim precípuo de julgar as causas decididas, em única
ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios.
Aqui seguiremos a mesma linha adotada quando tratamos dos embargos infringentes. Ora,
como se vê, trata-se de recurso contra decisões de tribunais e não de turmas recursais.
Portanto, não é também cabível o Recurso Especial contra decisões proferidas nas turmas
recusais dos Juizados Especiais. Esse nosso pensamento é defendido por Ada Pellegrini
Grinover (p.159, 2.005). Assevera ela:
"...o recurso especial para o STJ pressupõe a existência de uma decisão proferida, em única
ou última instância, por um tribunal e as referidas turmas recursais seguramente não o são."
Ademais, o Superior Tribunal de Justiça, não tem conhecido de Recurso Especial interposto
contra decisão de Turma Recursal. Várias têm sido as decisões nesse sentido. Vejamos:
" No direito nacional, o Recurso Extraordinário é revelado como recurso propriamente dito
e edificado imediatamente no interesse de ordem pública em ver imperar o comando e a exata
aplicação da Constituição, bem como da lei federal. Tem, portanto, uma natureza político.
Antes de mais nada, é de bom alvitre que olhemos o que estabelece o art. 102, III, a, b e c,
da Constituição Federal:
"Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição,
cabendo-lhe:
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância,
quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição".
Nota-se aí, agora, que não há a exigência de que as decisões contra as quais se queira
interpor o Recurso Extraordinário, sejam proferidas por tribunais, mas tão somente
decorrentes de causas decididas em única ou última instância, o que, evidentemente, se
enquadram as Turmas Recursais dos Juizados Especiais. Há, portanto, a possibilidade de
Recurso Extraordinário nos casos especificamente admitidos, vez que no Supremo Tribunal
Federal firmou-se orientação, diante do texto do art. 102, III, da Constituição Federal de 1988,
que, em princípio, cabe Recurso Extraordinário de decisões, em instância única, de tribunais
ou Juízos, desde que nelas se debata demanda constitucional, até mesmo em se versando de
Juizados Especiais Cíveis e Criminais".
Disserta assim, sobre este tema, José Olindo Gil Barbosa (p.11, 1.996) :
" O Habeas Corpus, bem como o Mandado de Segurança, mesmo não sendo considerados
recursos propriamente ditos, mas ações constitucionais, encerram conseqüências de recursos,
para desconstituir atos, e a Revisão, que também não pode ser acatada como um recurso, mas
uma ação com previsão na lei adjetiva penal com a mesma conseqüência, são perfeitamente
aceitáveis relativamente a atos decorrentes dos Juizados Especiais Criminais.
A festejada Ada Pellegrini Grinover (p.160, 2.005), é bastante convincente ao discorrer
sobre essa possibilidade :
" É induvidosa a admissibilidade desses remédios no sistema comentado: o habeas corpus
constitui garantia do direito de liberdade, assegurada pela Constituição (art. 5º, LXVIII), e não
seria viável sua restrição pelo legislador ordinário; quanto à revisão, a própria Lei 9.099/95
deixou implícita sua recepção, ao excluir expressamente a rescisória nas pequenas causas civis
(art. 59), sem semelhante disposição na parte criminal; finalmente, o mandado de segurança,
também possui dignidade constitucional e, como tal, sempre pode ser utilizado para reparar
ilegalidades não abrangidas pela proteção do habeas corpus ou habeas data (art. 5º, LXIX,
CF/88), inclusive aquelas decorrentes do ato jurisdicional, quando o recurso previsto na lei
processual não tenha efeito suspensivo."
Com relação à competência para o julgamento do habeas corpus, quando a autoridade
apontada como coatora for um Juiz de primeiro grau, é o Tribunal de Justiça ou de Alçada,
haja vista que os Colégios Recursais unicamente têm competência para o julgamento de
recursos.
Ocorrendo, entretanto, coação dimanada de um Colégio Recursal, que é um órgão de
segundo grau, a competência escapa da alçada do Tribunal Estadual, pousando nas mãos do
38
Ao comentar este tema, disse José Olindo Gil Barbosa (p.12, 1.996) :
" A decisão emanada do órgão judicial, seja ele monocrático ou colegiado, deve se
apresentar de maneira clara, precisa, sem oferecer margens para interpretações dúbias. No
entanto, nem sempre essa decisão se apresenta assim tão cristalina, havendo casos em que ela
se apresenta obscura, contraditória, omissa e dúbia. Quando isso ocorre, o ordenamento
jurídico oferece um mecanismo a fim de, ao ser corrigida, a decisão não venha causar prejuízo
às partes.
Assim é que, a Lei dos Juizados Especiais, como acontece com os diversos códigos
processuais, previu, no seu art. 83, a possibilidade de a parte, no prazo de cinco dias, contados
da data em que tomou ciência da decisão, dissipar qualquer dúvida ou resolver pontos que
tenham sido omitidos na mesma, por intermédio dos Embargos de Declaração.
Eles podem ser opostos por escrito ou oralmente, sendo que, nesse último caso, eles
deverão ser reduzidos a termo, com dedução dos pontos em que a decisão é dúbia, obscura,
contraditória ou omissa".
10.8 Considerações finais sobre o sistema recursal nos Juizados Especiais Criminais
Assim, José Olindo Gil Barbosa (p.13, 1.996) , expõem suas considerações finais sobre o
sistema recursal nos Juizados Especiais Criminais :
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" Embora a Lei dos Juizados Especiais Criminais tenha previsto um único recurso, a
apelação, visto que os embargos declaratórios, por muitos autores, não são considerados como
recursos, há a possibilidade de muitos outros previstos no Código de Processo Penal, como na
própria Constituição Federal.
Desde que haja uma previsão de recurso no ordenamento jurídico, não precisamente na Lei
9.099/95, que não entre em confronto com a Carta Magna, há a possibilidade de reforma de
decisões em sede dos Juizados Especiais. Mesmo assim não poderia deixar de ser. Todos têm
direito de ver uma decisão, que por vezes modifica por inteiro a vida de uma pessoa, tanto
familiar como socialmente, ser revista por um órgão judicante teoricamente com maior
experiência. É uma garantia constitucional, mesmo que venha a sacrificar o princípio da
celeridade ou outros mais, incluídos na Lei dos Juizados Especiais.
Importante salientar, também, que embora sejam muitas as possibilidades de se reverter
uma decisão judicial em sede de Juizados Especiais, o certo é que o princípio da celeridade,
sem se falar nos outros, se faz cada mais presente nos seus julgamentos. Ainda há muito que
se repensar no tocante à Lei n. 9.099/95 no sentido de aperfeiçoá-la, contudo ela veio para
ficar como uma Justiça da Era Moderna.
Para analisar a atuação dos Juizados Especiais (e aqui estendo minha reflexão à esfera
penal), precisamos saber, entre outras coisas, que carga de trabalho vêm eles tendo; de que
matérias tratam mais comumente; qual tem sido a conseqüência das tentativas de solução
consensual, tanto no cível como no crime; qual o percentual das sentenças recorridas, e qual o
dos recursos providos".
11. Conclusão
unificação do Projeto Michel Temer, de âmbito penal com o Projeto Nelson Jobim, de âmbito
civil.
Sem um estudo estatístico, provido da adequada metodologia científica, é impossível
afirmar se a Lei dos Juizados atingiu seus objetivos como o de descongestionar as Varas
Criminais comuns, liberando a estrutura judiciária para os casos considerados de maior
gravidade.
Sem instrumentos que possam aferir os efeitos da Lei n. 9.099/95 na Justiça Catarinense,
por exemplo, limita-se o autor do trabalho a analisar seu conteúdo, afirmando que a
conciliação entre a vítima e o autor do fato, a substituição do princípio da obrigatoriedade pelo
da oportunidade regrada para o Ministério Público, a discricionariedade regulada e a
suspensão condicional do processo (art.89), são institutos, sem dúvida, inovadores no
ordenamento jurídico brasileiro.
O irônico de tudo isto é que a modernizante Lei n. 9.099 de 1.995 tem seus princípios
estruturais de celeridade, oralidade, informalidade e economia processual extraídos da
Consolidação das Leis Trabalhistas de primeiro de maio de 1.943, que por sua vez, "importou-
os" da Carta del Lavoro, italiana, aprovada no Grande Conselho Fascista de 1.927.
Antes tarde do que nunca.
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