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Nesse contexto, o termo “globalização” ganha espaço nos debates e na mídia. Em-
bora não se refira a um fenômeno novo, surge para ressaltar alguns de seus aspectos
particularmente acentuados em nossa época. Medidas políticas ou econômicas, bem
como inovações tecnológicas, surgidas em um país ou em uma região, podem ter con-
sequências que afetarão a todos no planeta. Temos, em nossa história recente, alguns
exemplos, como o caso da “bolha” no mercado imobiliário americano, cujo colapso
atinge economias mundo afora. Crises econômicas que explodem no México ou na
Grécia desencadeiam a falência de negócios em outros locais, gerando o desemprego.
Este, por sua vez, leva ao crescimento da economia informal, mobilizando cada vez
mais adultos e crianças em um mercado de trabalho precário. Em um cenário como
esse, não bastam os discursos pela defesa da infância e da juventude: não se trata ape-
nas de legislar o direito à educação. O modo de produzir a vida material, as relações
econômicas e políticas vão imprimindo mudanças na cultura dos povos, nos modos de
se aprender, nos costumes, nos valores, na religiosidade e na moral.
[...] na produção social da própria vida, os homens contraem relações
determinadas, necessárias e independentes de sua vontade, relações de
produção estas que correspondem a uma etapa determinada de desen-
volvimento de suas forças produtivas materiais. A totalidade dessas rela-
ções de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real
sobre a qual se levanta uma superestrutura jurídica e política, e à qual
correspondem formas sociais determinadas de consciência. O modo de
produção da vida material condiciona o processo em geral de vida social,
político e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu
ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência.
(MARX, 1983, p. 24).
Esse ponto de vista nos coloca duas grandes questões no campo da educação: 1)
Se é o modo de produção da vida material que determina nossa organização social,
qual é o papel da escola na formação dos sujeitos que vivem historicamente esse pro-
cesso? 2) O que significa, para educadores e estudantes, viverem em um mundo que
revoluciona constantemente os modos de produção da vida, em relações espaços-
temporais transformadas pela tecnologia?
digna, com acesso aos bens materiais e culturais. Então, podemos dizer que nosso
desafio é, enquanto educadores, participar dessas mudanças com a intencionalidade
própria de nossa atuação, compromissada com uma cidadania que inclua a todos, sem
restrição de classe, raça, religião ou gênero. Portanto, é preciso ter claro qual projeto
histórico de sociedade pretendemos concretizar, a fim de que mobilizemos ações coe-
rentes com esse intuito, tanto dentro da escola como nos aparatos administrativos que
formulam e implementam políticas de educação.
Isso posto, e respeitadas outras contribuições, trazemos para esta Diretriz Curri-
cular as reflexões de LEV SEMYONOVICH VYGOTSKY que, tendo aplicado ao estudo da psico-
1 LEV SEMYONOVICH VYGOTSKY nasceu em Orsha, cidade da Bielo-Russia, a 5 de novembro de 1896 e morreu em
Moscou, em 1934. Realizou estudos em Direito, Medicina, Psicologia, Arte, Epistemologia, Educação e outras
áreas. Sua obra foi descoberta pelo Ocidente após os anos de 1960. Seus escritos Pensamento e Linguagem,
A Formação Social da Mente, Psicologia da Arte, Psicologia Pedagógica, Linguagem, Desenvolvimento
e Aprendizagem (escrito com seu colaborador A. R. LURIA) compõem um rico material de estudo sobre os
processos de desenvolvimento das funções psicológicas superiores.)
Uma falsa polêmica, que muitas vezes surge quando tratamos da oposição entre
uma educação “bancária” e uma educação libertadora, está relacionada ao modo como
devemos tratar os conteúdos de ensino na escola: priorizam-se conhecimentos e con-
ceitos que fazem parte do saber formalmente acumulado e sistematizado ou se prio-
riza o trabalho apenas com os temas relacionados às vivências imediatas dos alunos?
Os conteúdos têm ou não relação com a formação de sujeitos críticos e emancipados?
Mais uma vez, PAULO FREIRE nos ajuda a desfazer antagonismos. É claro que uma lista
de conteúdos que em nada contribua para a compreensão dos problemas reais, que
exigem soluções, vividos pelos alunos e seus professores, pode ser considerada uma
verdadeira perda de tempo na escola. Porém, não se compreende o mundo, não se
toma posições críticas sobre os problemas, não se imagina soluções para os mesmos
sem o estudo dos conceitos, percepções e teorias mais avançadas de cada época.
Como dissemos acima, a LDB define como principal objetivo do Ensino Funda-
mental a formação do cidadão, devendo fazê-lo mediante:
I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios
básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
II – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da
tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a socieda-
de;
III – o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a
aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e
valores;
IV – o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade
humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social.