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FILOSOFIA

GERAL
E JURÍDICA

INTRODUÇÃO a testabilidade de suas teorias. consiste em sua avaloratividade (ju-


1. Definição de Filosofia: é o resulta- ízos de fato, tomada de conhecimento
7. Distinção entre Filosofia do Direito, do objeto com o objetivo de informar),
do da atitude de pensar, crítica e me- Sociologia Jurídica e Teoria Geral do
todicamente o Ser. A Filosofia enten- por que deseja um conhecimento ob-
Direito: somente seremos capazes de jetivo da realidade, ou seja, renuncia a
de o Ser como sendo algo para o compreender qual o verdadeiro papel
qual o homem se volta tentando se pôr ante ela com uma atitude mora-
da Filosofia em relação ao fenômeno lista ou metafísica, finalística (segundo
apreende-lo. Nesse sentido o Ser é o jurídico, se soubermos distingui-la da
objeto da investigação filosófica. a qual a natureza deve ser compre-
Sociologia e Teoria Geral. De início, já endida como pré-ordenada por Deus
podemos aceitar, enquanto premissa de a certo fim) e a aceita como ela é se-
2. Definição de Filosofia do Direito: trabalho, que poderia ser considerado
é o resultado da atitude de pensar, gundo um critério de verdade, perfeita
ciência qualquer teoria acerca do “Ser” adequação entre aquilo que se diz do
crítica e metodicamente, o Direito. passível de refutação.
Nesse sentido o Ser, aqui, é o Direito. fato e este mesmo, comprovável atra-
Esse critério, que identifica a ciência, já vés da falseabilidade ou refutação.
a afasta da filosofia. Com efeito, os juí- Isso a diferencia do quê não é ciência,
3. Ontologia Jurídica: é a atitude de zos de fato ou valor dos quais se vale a
pensar, crítica e metodicamente, o ambiente dos juízos de valor (tomada
filosofia estão além da possibilidade de de posição frente à realidade, para in-
Direito, em sua totalidade, no que diz refutação através de testes empíricos. O
respeito a sua existência e relação fluenciar o outro). Explica-se, não se
mais das vezes diz-se que a filosofia vai julga. Assim, a escravidão é um insti-
com outros objetos Pergunta: o que além da ciência, ou melhor, chega onde
é o Direito? tuto jurídico que como tal deve ser es-
a ciência não ousa. O certo é que se aca- tudado, independente do juízo de valor
tarmos como correta a formulação supra que dele possa ser feito. Essa postura
4. Gnosiologia Jurídica: é a atitude acerca da ciência, poderíamos realmente
de pensar, crítica e metodicamente, impede o subjetivismo, o solipsismo, a
considerar como sendo domínio da filoso- possibilidade de alguém supor que é
acerca da possibilidade conhecer fia não somente os juízos de valor, para os
o objeto que é o Direito. Pergunta: mais correta sua perspectiva do que a
quais se requer persuasão que nos con- da maioria, a democrática.
como conhecemos o Direito? vença a aceita-los, ou mesmo juízos de O estudo científico do Direito é uma
fato para os quais é impossível a compro- tentativa de compreender e descrever
5. Epistemologia Jurídica: é a atitu- vação empírica. Analisar o Direito a partir
de de pensar, crítica e metodicamen- o fenômeno jurídico, assim como o es-
dessa perspectiva, como o faz a Filosofia tudo científico da Física é uma tentati-
te, acerca de possibilidade do co- e a Sociologia, é analisá-lo tomando-o
nhecimento científico do objeto que va de compreender e descrever o fe-
como algo externo a quem o analisa. nômeno da gravitação universal; neste
é o Direito. Pergunta: é possível um No universo da ciência, ou sociologia jurí-
estudo científico do Direito? sentido, o elemento preponderante
dica, o Direito surge como fato, não como dele é a norma jurídica que, para ser
valor (explicar o Direito, não julga-lo ou o tal, necessita prescrever, sancionar e
6. Distinção entre Filosofia e Ciên- Direito tal qual é, não como deveria ser).
cia: a ciência caracteriza-se quan- ser oriunda do Estado, diferenciando-
Nessa perspectiva o Direito é considerado se de outras que não têm esta última
do a atitude de pensar, crítica e como um conjunto de fatos, de fenôme-
metodicamente o Ser pressupõe a característica. Este estudo é externo
nos ou de dados sociais em tudo análo- ao fenômeno jurídico.
existência da construção de teorias gos àqueles do mundo natural; o jurista,
que possam ser submetidas a tes- Interpretar a norma jurídica correspon-
portanto, deve estudar o direito do mesmo de mesmo em nível de meramente
te segundo critérios de verdade ou modo que o cientista estuda a realidade,
falsidade quanto ao afirmado e sua cumpri-la, a aceitar as regras internas
isto é, abstendo-se absolutamente de for- do ordenamento jurídico, da mesma
relação com os fatos. Já a filosofia, mular juízos de valor.
para caracterizar-se, não pressupõe forma que os jogadores de xadrez
A característica fundamental da ciência

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aceitam as normas do jogo para pode- mento jurídico impõe: a moldura acerca ZETÉTICA E DOGMÁTICA
rem jogá-lo. Desrespeita-las significa ir da qual nos diz Kelsen. Tudo isso como
além do limite que a vontade popular na música, medicina ou física. Desapa- Há, segundo Tércio Sampaio Ferraz
– criador das regras do jogo – estabe- rece o subjetivismo e surge o respeito à Jr, duas possibilidades de proceder à
leceram e emitir juízo de valor onde norma que é uma decisão da maioria. investigação de um problema jurídico:
somente caberia juízo de fato. Signi- Devemos observar que o juízo de fato acentuando o enfoque dogmático ou
fica mudar as regras do jogo ao seu (que é um ato de conhecer), ao contrá- o enfoque zetético. Os dois enfoques
bel prazer, desrespeitando as regras rio do juízo de valor (que é uma posição não se excluem, estão correlaciona-
previamente estabelecidas, algo que a favor ou contra), é uma imposição do dos, mas o predomínio de um deles
somente é possível consensualmente ordenamento jurídico e este, por sua vez, revela conseqüências diferentes. O
ou através da imposição, como na po- determinação da soberania popular – prin- enfoque dogmático parte de uma solu-
lítica, através do voto ou da revolução. cípio da legalidade. A distinção entre juízo ção já dada e pressuposta (a lei), pre-
Não se trata de considerar-se que uma de fato e juízo de valor assumiu a função ocupa-se com o problema da ação, de
norma é justa por ser válida (Hobbes, de demarcação entre ciência e ideologia como agir diante de problemas jurídi-
Hegel – filosofia da identidade), mas, ou metafísica; no primeiro caso, quer-se cos que exigem decisões. O enfoque
sim, separar as duas definições como saber como o direito é (definições cientí- zetético parte de uma problematiza-
pertencendo a universos distintos. Na ficas, factuais, avalorativas, ontológicas), ção dos próprios dogmas e dos funda-
metáfora do jogo de xadrez, quem o no segundo, como foi ou deverá ser (julga- mentos do Direito, preocupa-se com o
observa com o olhar de cientista (pois se o direito passado e procura-se influir problema especulativo que envolve
a isso se dispôs, enquanto sociólogo, no vigente; as definições são ideológicas, questionamentos da ordem jurídica.
psicólogo, etc.), faz ciência. Um belo valorativas, deontológicas). As definições
paralelo pode ser traçado envolvendo valorativas, ideológicas, deontológicas 1. Dogmática Jurídica: no enfoque
o Direito e a Música: aquele que se (estudo dos princípios e fundamentos da dogmático, as premissas (normas
debruça sobre este fenômeno, o faz moral) caracterizam-se pelo fato de pos- jurídicas) são mantidas como dogmas
como historiador, psicólogo, ou soció- suírem uma estrutura teleológica, acham inatacáveis, são tidas como inques-
logo, até mesmo filósofo (quando esta- que o direito tem que ter uma determina- tionáveis. As premissas conduzem a
belece comparações entre a harmonia da finalidade. Permitem definir o direito ação e determinam as respostas, de
de um e a matemática, para lembrar em função da justiça, bem comum (Aris- tal modo que estas, mesmo quando
Platão), desde que externo a ele; no tóteles, Radbruch, São Tomás de Aquino, postas em dúvida em relação aos
entanto, enquanto músico, seu univer- Kant). problemas, não põem em perigo as
so é técnico e restrito ao contingente Já em relação à Teoria Geral do Direito, premissas donde foram deduzidas. O
de notas musicais possíveis e às re- poder-se-ia afirmar que seu objeto é o enfoque dogmático preocupa-se em
gras de composição. mesmo da Filosofia do Direito e da So- possibilitar uma decisão e orientar a
No caso do juspositivismo, o juízo de ciologia Jurídica, que é o olhar da ciência ação. A investigação dogmática incide
valor desaparece do universo jurídico sobre o fenômeno jurídico, circunscrito ou sobre um determinado ordenamento
enquanto fulcro (base, esteio) para limitado, por assim dizer, pelo Direito po- jurídico ou parte dele. Cuida da siste-
estudá-lo, analisa-lo, examina-lo. As- sitivado. Melhor dizendo: a teoria geral do matização das normas das diversas
sim, não se pode mais, enquanto ope- Direito estuda o Direito a partir do Direito. disciplinas que compõem o direito
radores do Direito, interpretar e aplicar positivo, tais como: Direito Constitucio-
DIREITOS E FILOSOFIA nal, Civil, Comercial, Penal, Tributário,
qualquer norma a partir de uma con-
cepção subjetiva de Justiça, Bondade, O Direito contém, ao mesmo tempo, as fi- Processual, Trabalhista etc. Essas dis-
Razoabilidade da qual lance mão o losofias da obediência e da revolta, serve ciplinas são regidas pelo princípio da
intérprete e aplicador. Interpreta-la e para expressar e produzir a aceitação da inegabilidade dos pontos de partida
aplica-la é algo técnico se desenvol- situação existente, mas aparece também (o dogma, a lei). O princípio da lega-
ve assim: 1) interpreta-se dando-lhe o como sustentação moral da indignação e lidade, inserido na Constituição Fe-
sentido necessário para que se saiba da rebelião. O Direito liberta, mas também deral, é uma premissa desse gênero,
acerca do que se está tratando (como oprime. O Direito, assim, pode ser visto uma vez que obriga o profissional do
quem lê um texto descompromissada- como uma prática virtuosa que serve ao Direito a pensar os problemas a partir
mente); 2) interpreta-se tecnicamente bom julgamento e que protege o cidadão da lei, conforme a lei, para além da lei,
(levando em consideração as normas do poder arbitrário, mas também pode ser mas nunca contra a lei.
que determinam como isso deve ser visto como um instrumento de controle e Assim, uma disciplina pode ser defi-
feito – princípio da legalidade), o que dominação. O Direito, enquanto objeto nida como dogmática na medida em
acentua o compromisso da interpre- de estudo e reflexão, pode ser abordado que considera certas premissas como
tação; e 3) a aplicação. Desaparece, a partir de uma perspectiva dogmática ou vinculantes para o estudo e decisão de
então, o juízo de valor, que é subjetivo, de uma perspectiva zetética. problemas jurídicos.
para aparecer a opção que o ordena- LINK ACADÊMICO 1
Para a dogmática, o sistema de nor-

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mas é um dado, o ponto de partida ao campo das investigações jurídicas, sob normas são um produto abstrato e as
de qualquer investigação, que os o nome de Filosofia do Direito, Sociologia regras de interpretação (dogmas que
profissionais do Direito aceitam e não Jurídica, Antropologia Jurídica, História do dizem como devem ser entendidas as
negam. O sistema de normas consti- Direito, Teoria Geral do Direito, possibili- normas) também o são. Tem-se, des-
tui uma espécie de limitação, com a tando a construção de novas formas ou se modo, uma dupla abstração, que
qual os profissionais do Direito podem fórmulas para a decisão de problemas consiste em isolar normas e regras
explorar diferentes combinações para ainda não incorporados totalmente pela dos seus condicionamentos zetéticos
a determinação operacional de com- dogmática jurídica. Sob o enfoque zeté- (filosóficos, sociológicos, antropológi-
portamentos jurídicos possíveis. Essa tico, as normas da Constituição Federal cos, econômicos, históricos, políticos).
limitação teórica pode conduzir a exa- e dos demais conjuntos normativos com- Essa dupla abstração gera o distancia-
geros, havendo quem faça do estudo portam pesquisas de ordem filosófica, his- mento progressivo do estudo do Direi-
do Direito um conhecimento muito tórica, sociológica, antropológica, política to da própria realidade social. É certo
restrito, legalista e cego para a reali- etc. Nessa perspectiva, o investigador que a dogmática depende do princí-
dade como um fenômeno cultural e preocupa-se em ampliar as dimensões pio da inegabilidade dos pontos de
social. Esse tipo de estudo, fechado e do fenômeno, sem se limitar aos proble- partida, mas não se reduz a ele. Ao
formalista, é implementado na maioria mas relativos às decisões dos conflitos. interpretar a norma, o profissional do
das faculdades de Direito e nos cursos Pode encaminhar sua investigação para Direito cria condições para se libertar
de especialização. Por isso mesmo, os fatores reais do poder que regem uma dos pontos de partida, uma vez que é
corre-se o risco de identificar teoria e comunidade ou sociedade, para a base possível extrair de uma mesma norma
tecnologia, ou seja, há uma tendência econômica e os reflexos na vida social e vários significados. O ato interpretativo
que consiste em identificar a Ciência política, para um levantamento dos valo- que acompanha a resposta ou decisão
do Direito como um tipo de produção res que orientam a ordem constitucional, dificilmente reproduz o sentido imedia-
técnica, destinada apenas a atender para uma crítica ideológica do atual está- to da norma, geralmente lhe confere
às necessidades do profissional (o ad- gio do sistema normativo. A investigação um sentido mais abrangente ou ad-
vogado, o promotor, o juiz, o procura- zetética não exerce exatamente um papel verso. A decisão ou resposta, embora
dor, o delegado) no desempenho ime- apaziguador, no sentido de conceder total possa parecer, não está enclausurada
diato de suas funções. Sob o império segurança à construção da ordem norma- totalmente nas normas. Nesse senti-
dessa premissa, o profissional do Di- tiva e à interpretação jurídica. Mais do que do, a dogmática jurídica, ao invés de
reito pode ficar alienado em relação à fornecer uma resposta para um determi- ser considerada uma prisão para o es-
condução do processo de construção nado tema, cuida da tarefa de problema- pírito, permite o aumento da liberdade
do próprio direito positivo, posto que tizá-lo. É o que ocorre com os temas ou no trato com a experiência normativa.
incapaz de provocar decisões novas e problemas enunciados de forma geral. Vale dizer, a dogmática jurídica não
criativas na esfera do Poder Judiciário. Exemplos: a questão da justiça, da liber- se exaure na afirmação do dogma
dade, do poder, da igualdade, dos direitos estabelecido, mas interpreta sua pró-
2. Zetética Jurídica: no enfoque ze- humanos e sociais. Assim ocorre também pria vinculação. Visto desse ângulo,
tético, as premissas (normas) ficam com os temas ou problemas enunciados percebe-se que o conhecimento dog-
abertas à dúvida, conservam o seu de forma mais específica, porque referen- mático dos profissionais do Direito,
caráter hipotético e problemático, per- tes a um conjunto de situações aparente- embora dependa de pontos de partida
manecem abertas à crítica e à criati- mente menos abrangentes e complexas. (os dogmas), gira em torno de incerte-
vidade. As premissas servem, de um Dentre estes últimos, podemos colocar, zas. Essas incertezas são justamen-
lado, para delimitar o horizonte dos por exemplo, os seguintes temas extra- te aquelas que, na sociedade, foram
problemas a serem tematizados e ídos do Direito Civil: mudança de sexo, aparentemente eliminadas (ou inicial-
decididos, e, ao mesmo tempo, para inseminação homóloga ou heteróloga, re- mente delimitadas) pelos dogmas. Por
ampliar esses horizontes. O enfoque produção “in vitro”, contrato de gestação, exemplo, diante da incerteza acerca
zetético revela-se como saber espe- relações homoafetivas, adoção por casal da possibilidade da união estável en-
culativo e, na maioria das vezes, sem do mesmo sexo, eutanásia, abandono clí- tre pessoas impedidas de se casar e o
compromissos imediatos com a ação. nico, guarda conjunta, contrato de união Poder Judiciário edita uma decisão re-
São zetéticas as investigações que estável etc. conhecendo a união estável entre pes-
têm como objeto o Direito no âmbito soas casadas, cabe ao saber dogmá-
da Filosofia, Sociologia, Antropologia, 3. Uma forma de conciliar zetética e tico retomar a incerteza primitiva, inda-
Política, História etc. Essas disciplinas, dogmática: numa investigação dogmá- gando, por exemplo: a) o que é união
embora não sejam especificamente ju- tica, as normas constituem pontos de estável; b) se é possível união estável
rídicas, admitem, na esfera de suas partida, que não podem ser negados. As entre pessoas do mesmo sexo; c) qual
preocupações, um espaço para o fe- normas são, contudo, expressas em pa- o período mínimo para se estabelecer
nômeno jurídico. À medida que esse lavras, e estas são sempre vagas e am- a existência de uma união estável; d)
espaço é aberto, elas se incorporam bíguas, fato que exige interpretação. As se a união estável repercute ou não na
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ordem da sucessão; e) se a definição numa certa medida, um especialista em A maioria dos estudantes não percebe
de união estável é estabelecida na lei questões zetéticas, posto que, muitas o Direito como saber que também ser-
ou se trata de uma construção dou- vezes, precisa enquadrar o tema sob a ve à luta social exigida pelo mundo em
trinária; f) qual o meio juridicamente perspectiva da Filosofia do Direito, da So- que vivemos; não percebe o Direito
aceito para estabelecer a existência ciologia Jurídica, da História do Direito, da como instrumento de mudança, mas
da união estável; g) se é possível o Ciência Política etc. O conhecimento na apenas como objeto de consumo que
pedido de reconhecimento de união área zetética permite ao profissional do se compra e vende.
estável; h) se o pedido deve ser enca- Direito fundamentar suas interpretações LINK ACADÊMICO 2
minhado pelo casal ou apenas por um jurídicas de forma mais convincente e per-
O JUSNATURALISMO
deles etc. Com isso, o profissional do suasiva. Nesse sentido, ao elaborar um
Direito retoma a incerteza primitiva, discurso ou uma peça processual sobre 1. Definição de Jusnaturalismo:
ampliando-a, mas de modo contro- temas polêmicos (união estável, reprodu- considera-se como sendo jusnaturalis-
lado, isto é, aumentando-a a um grau ção assistida, aborto, direito a herança, re- mo a escola jusfilosófica que defende
de suportabilidade social, de modo a produção “in vitro”, eutanásia, casamento e estuda a existência de um sistema
tornar passíveis de decisão eventuais entre parentes, abandono clínico de crian- de valores e princípios jurídicos ante-
problemas e conflitos. Para a dogmá- ças portadoras de deficiências, união en- riores e superiores ao Estado e Direito
tica jurídica, o tema ou fato da união tre pessoas do mesmo sexo, pesquisas Positivo, absolutos no tempo e espa-
estável (e de outros na esfera da famí- com células-tronco, clonagem, guarda ço, para os quais seriam fontes Deus,
lia, como guarda conjunta, reprodução compartilhada etc), o profissional do Di- a Razão, ou a Natureza.
assistida, aborto, união homossexual, reito faz uso de um ou de vários modelos
eutanásia, mudança de sexo, aban- zetéticos no sentido de persuadir o públi- 2. Era Arcaica: nesse período anterior
dono clínico de crianças portadoras co ao qual se dirige em relação à tese que ao surgimento do Estado e da escrita
de deficiência, clonagem, concepção defende. O público pode ser um juiz, uma o homem, em gens, fratrias, ou tribos
“in vitro”) representa um ponto de par- turma de desembargadores, uma platéia teria a sua vida em sociedade regula-
tida que exige respostas ou decisões de estudantes, de advogados, de médicos da através de normas sociais (costu-
jurídicas. Nesse sentido, podem-se etc. O enfoque zetético enxerga o Direito meiras, morais, religiosas, de poder),
apontar as relações do tema da união como algo inacabado, em processo de mas, não normas jurídicas vez que
estável (da guarda conjunta, da repro- construção, algo que não está pronto, mas estas são oriundas do Estado. A Jus-
dução assistida, da união homossexu- que está sendo constantemente construí- tiça seria entendida como intervenção
al, do aborto, da eutanásia, da mudan- do nas interações sociais. O Direito, como do Chefe (Líder, Patriarca, Rei, Basi-
ça de sexo etc) com o direito à vida, afirma Simone Goyard-Fabre, é uma obra leu), na qualidade de representante
o direito à propriedade, a dignidade para ser continuada e recomeçada sem- dos deuses, para assegurar a coesão
do ser humano, a liberdade de esco- pre, por um lado, jamais perdendo de vista social. Não há justiça no sentido que
lha, as condições de inserção social. as exigências intrínsecas que a animam conhecemos. Corresponde a Themis,
Para as disciplinas zetéticas, surgem e, por outro lado, ajustando-se às realida- na mitologia grega. Menções em Ho-
perguntas sobre as experiências histó- des mutáveis do mundo vivido. Ocorre, mero, Ilíada, e Hesíodo, Teogonia. Pe-
ricas que permitiram o surgimento dos porém, que a maioria das faculdades de ríodo correspondente à confusão en-
próprios temas. Se para a dogmática Direito não se preocupa com a formação tre lei natural e norma social, ou seja,
a noção de união estável é o ponto de teórica do profissional, mas apenas com monismo.
partida para uma construção teórica a sua formação técnica. Por esse motivo
com vistas à decisão dos conflitos, formam profissionais que não questionam 3. Era Antiga:
para a zetética o ponto de partida é a os pontos de partida (dogmas) e, com 3.1. Séculos XII a VIII A.C. (tempos
construção dessa mesma noção, que isso, as normas são consideradas con- relatados por Homero, paralelo com a
se apresenta como dado e como por- venientes, claras, unívocas, adequadas Bíblia, Antigo Testamento): a) comuni-
tadora de uma realidade objetiva. e irrepreensíveis. As disciplinas que po- dades gentílicas; b) família coletiva go-
deriam provocar o questionamento crítico vernada por patriarca; c) propriedade
4. Importância da Zetética: as disci- (Filosofia, Sociologia, Antropologia), não coletiva; d) período relatado na Ilíada
plinas zetéticas são tidas como auxilia- raras vezes, são reputadas pelos mestres e Odisséia; os deuses são guardiões
res da ciência jurídica “stricto sensu”. especialistas como perfumarias jurídicas. da Justiça (coesão social); Zeus dava
Esta, no último século, configurou-se A força semântica dessa expressão, alia- aos reis cetro e Justiça; a figura do rei
como um saber dogmático. É óbvio da ao tom jocoso, conquista corações e justo, escolhido pelos deuses, se for-
que o estudo do Direito não se reduz mentes, e é comum o estudante repetir talece como mito importante e será
a este saber. Assim, embora o profis- as palavras do Mestre sem um mínimo de retomada depois por Bossuet e Jean
sional do Direito seja um especialista reflexão. Sob a batuta dos especialistas, o Bodin; e) monismo ingênuo: caracte-
em questões dogmáticas, é, também, Direito configura-se como saber tecnológi- rístico da sociedade fechada; etapa
co que serve apenas para ganhar dinheiro. em que as distinções entre as leis na-
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turais e normativas ainda não foram surgimento da idéia de isonomia decorrer, como o caráter natural da sociedade
feitas; nenhuma distinção se faz entre por um processo oriundo da associação que vincula os homens entre si.
as sanções impostas pelo homem, se de idéias, da compensação satisfatória 4.1. A fórmula do dever: coube a
for quebrado um tabu normativo, e as em mecanismos de troca, seja de mer- Cícero conectar a moral dos deveres
desagradáveis experiências sofridas cadoria, seja para satisfazer uma perda com o Direito Romano. Para ele, o
no ambiente natural. decorrente de um atentado ao equilíbrio “honestum” é o único bem, motivo pelo
3.2. Séculos VIII a VI A.C: a) esface- entre as partes; essa instrumentalização qual a utilidade não pode contrapor-
lamento da propriedade coletiva; b) di- jurídica da isonomia foi resultante da se à honestidade. A estrutura básica
visão desigual da terra; c) surgimento compreensão, por parte daqueles que do dever encontra-se na fórmula que
da propriedade privada; d) dissolução não eram nobres, de que era necessário implica a identidade do honesto e do
da comunidade gentílica; e) surgimen- colocá-los também sobre o jugo da lei, ou útil: o que é honesto é útil e não há
to da Cidade-estado: segundo Popper, seja, tornar todos iguais debaixo de um só nada de útil que não seja honesto. A
em A Sociedade Aberta e seus Inimi- manto, para assegurar sua própria sobre- fórmula também aparece na forma de
gos, v. I, é notável a teoria de Platão vivência. d) a concepção da justiça como um juízo hipotético que exprime uma
de que o Estado é poder centraliza- obediência às leis é geral nos séculos. V relação entre um antecedente e um
do e organizado e se origina através e IV, conforme Antifonte; e) surgimento do conseqüente: se é honesto, então é
de uma conquista, onde é certo que dualismo crítico: com os sofistas, relativis- útil. A fórmula do dever serve para re-
a idéia de Estado enquanto poder mo jurídico (Protágoras – nada sei acer- solver conflitos entre o honesto e o útil.
centralizado e organizado sobrevive ca dos deuses; o homem é a medida de Ao dissociar a honestidade (ética) da
às críticas; f) convencionalismo ingê- todas as coisas), f) Protágoras: pois as utilidade (direito), os homens podem
nuo: os fatos regulares, tanto naturais coisas que pareciam justas e belas a uma perverter os pactos e acordos e, com
quanto normativos, são experimenta- cidade, o são também para ela, enquanto isso, afrontar a lei natural. A fórmula
dos como expressões de decisões de o creia tal; g) Cálicles: a lei é uma violên- ensina como tomar decisões justas e
homens semelhantes a deuses ou de- cia contra a natureza, onde o mais forte evitar que se confiram vantagens pes-
mônios, dos quais dependem; assim, manda no mais fraco; h) Hípias de Elis: soais em detrimento do honesto.
o ciclo das estações, ou as peculiari- a isonomia não é suficientemente iguali- 4.2. Dever e justiça: para Cícero, a
dades dos movimentos do sol, da lua tária, pois escravos e livres não respeitam justiça é uma virtude essencialmente
e dos planetas. a igualdade natural; i) Antifonte: se cada social, de modo que a sociedade dos
3.3. Séculos VI a IV A.C.: a) instabi- povo tem uma lei diferente para o mesmo homens deve se agrupar em torno
lidade política; b) surgimento da idéia fato, ela é relativa e depende do interesse; dela.
de Justiça no sentido de igualdade: Os j) Crítias (Sysifo): os deuses são astutas 4.2.1. Justiça em sentido amplo:
Trabalhos e os Dias, de Hesíodo; c) invenções do Poder para manipular os ho- consiste em dar a cada um o que é
em Hesíodo introduz-se pela primeira mens; l) Trasímaco da Calcedônia: o justo seu, incide sobre a distribuição dos
vez a idéia de Direito, a propósito da é mera convenção; m) Platão: a lei é justa bens e se liga à eqüidade e à libera-
luta pelos seus próprios direitos contra se for originada do Estado; n) o dualismo lidade.
as usurpações do seu irmão e a vena- crítico: n.1) os sofistas criam, no séc. VI 4.2.2 Justiça em sentido estrito:
lidade dos nobres; concepção de que a.C., o dualismo crítico; n.2) com os so- consiste no ato de julgar realizado
Dikè (significa concretamente o pro- fistas, relativismo jurídico (o homem é a por um homem honesto. A realiza-
cesso, a decisão e a pena) não deve medida de todas as coisas, Protágoras de ção da justiça, portanto, depende da
afastar-se de Themis (Zeus ampara a Abdera); Justiça é algo arbitrário; surge a qualidade moral do julgador. Um dos
Justiça, ainda que os juízes da terra a dissensão entre Natureza e Convenção; fundamentos da justiça é a boa-fé,
espezinhem; mais cedo ou mais tarde n.3) dualismo de fatos e decisões. assim considerados a firmeza moral
haverá a justiça divina; Antígona, de e o caráter incorruptível em palavras e
Sófocles); Hesíodo nos mostra prin- 4. Cícero: Cícero é um filósofo romano acordos. O homem que não mantém a
cipalmente em seu épico pessoal Os com vasta experiência jurídica. Além de palavra, que rompe ou não cumpre o
Erga que a peculiar estrutura política advogado, ocupou os cargos de pretor, contrato perde a fé e, com ela, a pró-
grega, onde o povo dispunha de uma senador e cônsul. A interligação entre ma- pria reputação. Há, segundo Cícero,
rara independência de espírito, per- téria filosófica e jurídica aparece ostensi- dois gêneros de injustiça: a) injustiça
mitiu a concretização de um ideal de vamente na sua obra, especialmente nos comissiva: resulta da prática de um
classe: o Direito escrito, que a todos tratados Da República e Das Leis e Dos ato injusto; e b) injustiça omissiva:
submete reis, nobres, povo, realizan- Deveres. Segundo Cícero, para conhecer resulta da omissão diante da prática
do a Justiça, fundamentalmente ali- o Direito, é preciso partir da filosofia, ou de um ato injusto. Essas injustiças são
cerçado na idéia de isonomia. seja, para descobrir as fontes da lei e do motivadas pelas paixões, em especial
Mas como surgiu essa idéia de iso- Direito, é necessário, antes de tudo, dis- a cobiça e o medo. Duas modalidades
nomia? Jaeger menciona que seria cutir e colocar em evidência os dons que de injustiça: a) menos grave: é aquela
possível acreditar na possibilidade do os homens recebem da natureza, assim que se pratica por alguma perturbação
5
de ânimo; b) mais grave: é aquela va) e é dominada pela palavra (discurso) e de Estado: protecionismo (o Estado
que se pratica de propósito e de modo pela busca dos critérios da decisão justa, enquanto agente econômico buscan-
premeditado. A injustiça dolosa pode sábia e prudente. Sob esse enfoque, o Di- do amealhar riqueza); d) sociedade de
ser praticada de dois modos: por frau- reito se articula como o exercício de uma ordens (estratos sociais): clero, nobre-
de ou por violência. A fraude é mais atividade ética, “prudentia”, virtude moral za e povo; e) expansão marítima (ca-
odiosa porque quem a perpetra se faz do equilíbrio e da ponderação nos atos de pitalismo comercial e mercantilismo);
passar por “homem honesto”. julgar, motivo pelo qual ganha relevância f) renascimento cultural: anticlerical e
4.3. Dever e contratos: Cícero reco- e recebe, entre os romanos, a qualificação antiescolástico; humanismo (homem
nhece a regra segundo a qual é preci- de “Jurisprudentia”. Conduzida pela ética, como centro do universo); g) refor-
so preservar os pactos e compromis- a ação de decidir visa sempre ao bem do ma religiosa; h) o Estado absolutista;
sos que, como dizem os pretores, não cidadão (bem moral) e ao bem da cidade i) surgimento do mundo colonial; j) o
foram estabelecidos pela força nem (bem político); não faz sentido, portanto, iluminismo; l) ambigüidade: burocracia
pelo mau dolo. Mas, naqueles casos no Direito Grego ou Romano, alguém de- feudal x dinamismo mercantil.
em que ações aparentemente dignas sejar (querer) o próprio mal, o mal da cida-
de um homem justo transformam-se de ou algo que não possa realizar. 2. Direito: fase absolutista.
no seu oposto, como, por exemplo, LINK ACADÊMICO 3 2.1. São Tomás de Aquino: a política
cumprir uma determinada promessa com conteúdo ético, vez que subme-
IDADE MÉDIA
que prejudica o favorecido, é justo, tida a valores ditados pela Igreja, que
segundo Cícero, evitá-las e não reali- 1. Alta Idade Média. estava acima do Estado (discurso do
zá-las. Considerando, diz ele, que as 1.1.Estado: esfacelamento do Estado Poder terreno da Igreja);
coisas mudam conforme a ocasião, o Romano. 2.2. Maquiavel: fim do poder políti-
dever também muda e nem sempre 1.2. Justiça: ressurgimento do monismo. co calcado em critérios não-políticos,
é o mesmo. Convém, pois, recorrer A Igreja ocupa o lugar que pertencia aos tais como Deus, a natureza física ou
aos fundamentos da justiça: primeiro, deuses mitológicos e vai adquirindo, aos a razão, veiculados pela Igreja; abre-
a ninguém prejudicar; depois, servir poucos, imenso poder espiritual e mate- se caminho para o surgimento da
à utilidade comum. Cícero coloca o rial. noção de soberania (“summa potes-
princípio da boa-fé como fundamen- 1.3. Lei: retorno às condições anteriores tas”), sumo poder ou poder supremo,
to último de todos os contratos. Assim, ao surgimento do Estado, com predomí- deixando de ser o soberano a pessoa
quando o pacto favorece em demasia nio da norma social costumeira. física do Rei e passando a ser o poder
ou prejudica uma das partes, deve ha- 1.4. Direito: surgimento do Direito Canô- político independente do religioso. A
ver uma flexibilização da “pacta sunt nico e manutenção do Direito Romano. soberania passa a ser do Estado que,
servanda”. Importância de Santo Agostinho e São obviamente, é aquele que o príncipe
4.4 Direito natural: Cícero estabelece Tomás de Aquino. representa. Estado forte, razões de
as características fundamentais do di- estado, separação entre política e mo-
reito natural: a) na base das leis posi- 2. Baixa Idade Média. ral (portanto entre Igreja e política), a
tivas há uma lei verdadeira de ordem 2.1. Estado: ressurgimento do Estado. política tal como é – não como deve
racional; b) essa lei corresponde às 2.2. Justiça: convencionalismo ingênuo. ser, desligamento do poder político de
exigências da natureza e à dignidade Tensão entre Igreja e Estado. Início do fundamentos não-políticos (Deus, a
natural dos homens; c) não está escri- rompimento da idéia de submissão do po- natureza física, a razão);
ta nos códigos, mas na natureza e na der terreno ao poder espiritual da Igreja, 2.3. Thomas Hobbes (1588, Malmes-
razão dos homens; d) sua autora é a esta entendida como representante de bury – 1679, Hardwick): a) primeira
razão universal, criadora do universo; Deus na terra. Pedro Abelardo, Guilherme teoria moderna do Estado e do Direito;
e) é uma lei universal que se estende de Ockham, Marsílio de Pádua e, no final, justificação do Estado Absoluto com
“erga omnes” no tempo e no espaço. Maquiavel. base no estado de natureza;
Essas características são reproduzi- LINK ACADÊMICO 4 b) iniciador do Jusnaturalismo mo-
das pela Escolástica e depois pelos derno, pois: b.1) criou um sistema
IDADE MODERNA
contratualistas e teóricos do direito de normas ou leis naturais deduzidas
racional, permanecendo nas teorias 1. Introdução histórica racionalmente da natureza humana;
jurídicas contemporâneas. 1.1. Início: 1492 (descoberta da América b.2) por que instaurou o individualis-
por Cristóvão Colombo); término: 1789 mo: sua teoria do Direito e do Estado
5. Síntese: filosofia e direito. Na An- (Revolução Francesa). se baseia na análise do homem como
tiguidade, o Direito (“jus”) é o resultado 5.1.2. Características históricas: a) de- indivíduo; b.3) por que sua teoria do
de uma atividade (ação) conduzida clínio do feudalismo; b) surgimento do Direito Natural e das leis naturais são
pela virtude. A ação pressupõe liberda- capitalismo comercial (ascensão da bur- premissas para o nascimento do Esta-
de para agir (jamais liberdade subjeti- guesia; esfacelamento do capitalismo do e do Direito Positivo;
agrário); c) mercantilismo como política c) iniciador do positivismo jurídico:
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c.1) a lei e o Direito somente existem justifica, não questiona, critica, coloca-se Francesa.
a partir da existência do Estado, pois contra; tudo quanto é razoável é real, e 3.1.1. John Locke: Locke é tido como
emanam da vontade do soberano: tudo quanto é real deve ser razoável; ou um dos grandes expoentes da teoria
Propriamente a lei é a palavra daquele seja, Real = Razão; nesse sentido, a his- do direito natural, que impõe à sobe-
que tem, por direito, mando sobre os tória é o desenvolvimento de algo real; se rania do Estado um limite externo.
outros; c.2) depura o conceito de Di- assim o é, deve ser racional. Assim, além da vontade do monarca
reito em sentido estrito do elemento ou da nação, há um direito inerente
ético, precedendo Austin e sua tese 3. Direito: Iluminismo e fase do liberalis- ao indivíduo em decorrência da pró-
de que as leis positivas não podem mo político. pria natureza do homem e, portanto,
jamais ser legalmente injustas; c.3) in- 3.1. John Locke (Wrington, Somer- independente da comunidade política.
sistência na tese de que o critério para setshire, 1632 – Oates, 1704): Ensaio Esse direito é o direito natural, que
identificar a norma era sua origem es- Sobre o Entendimento Humano; Dois preexiste ao Estado, e, logo, dele não
tatal; c.4) “Homo lupus homini”; c.5) Tratados sobre o Governo; Ensaio Sobre depende, motivo pelo qual o Estado
Pacto Social: Estado ou República ou o Direito Natural; Ensaio sobre o Governo tem o dever de reconhecê-lo e garanti-
Sociedade Civil: o soberano é o Esta- Civil: a) teórico do conhecimento: sen- lo integralmente. O direito natural
do (absolutismo monárquico); idéia de tou as bases da doutrina empirista, para constitui, assim, um limite à soberania
contrato social pela primeira vez; a qual todo conhecimento procede das do Estado.
2.4. Jacques Bossuet (1627 – 1704): sensações não possuindo o homem, ao 3.1.2. O estado natural: o ponto de
a autoridade do rei é sagrada, pois ele nascer, nenhuma idéia inata; a lei natural, partida da teoria de Locke é a afirma-
age como ministro de Deus na Terra e como regra moral fundamental, tampouco ção do estado natural, ou seja, o estado
rebelar-se contra ele é rebelar-se con- é inata e sua razão de ser a encontramos originário no qual os indivíduos vivem
tra Deus; Memórias para a educação no benefício que ela produz para a socie- conforme as leis naturais. O estado de
do delfim e Política segundo a sagrada dade; b) ao contrário de Hobbes, diz que natureza transforma-se, entretanto,
escritura; Direito divino dos reis. os homens estavam bem no estado de num estado de guerra, posto que não
2.5. Jean Bodin (1530-1596): a sobe- natureza, mas estavam expostos a certos há um poder superior aos indivíduos,
rania real não pode sofrer restrições inconvenientes que ameaçavam agravar- com poderes para decidir os conflitos.
nem submeter-se a ameaças, pois se e preferiram o estado de sociedade; A fórmula para sair do estado de guer-
ela emana das leis de Deus, sendo c) adaptação do Direito Natural medieval ra, no qual acaba por reinar somente
a primeira característica do príncipe aos tempos modernos: idéia de socieda- a força, é a construção do estado civil
soberano ter o poder de legislar sem de, pacto social, formação do Estado; d) por intermédio do contrato social. O
precisar de consentimento de quem o modelo teórico de Estado de Locke está estado de natureza caracteriza-se por
quer que seja; A República. imposto até os nossos dias, através da De- ser um estado de perfeita liberdade e
2.6. G. W. F. Hegel (1770-1831): a) A mocracia representativa e constitucional; igualdade entre os homens. Liberdade
Fenomenologia do Espírito; Elementos e) os homens possuem a vida, a liberdade no sentido de o homem poder regular
de Filosofia do Direito; b) Seguidor di- e a propriedade como direitos naturais; suas próprias ações nos limites da lei
reto de Heráclito, Platão e Aristóteles; Para preservar esses direitos, deixaram da natureza, sem pedir permissão ou
c) Com a reação das monarquias feu- o estado de natureza e estabeleceram depender da vontade de qualquer ou-
dais à Revolução Francesa, a Prússia um contrato entre si, criando o governo tro homem; igualdade no sentido de
achou-se na necessidade de elaborar e a sociedade civil; assim, os governos não haver subordinação ou sujeição
uma ideologia que lhe servisse de teriam por finalidade respeitar os direitos de uma pessoa em relação à outra.
contraponto e Hegel foi encarregado naturais e, caso não o fizessem, caberia 3.1.3. Lei da natureza: o estado de
de suprir essa carência; d) O Estado à sociedade civil o direito de rebelião natureza é regido por uma lei da na-
é a marcha de Deus pelo mundo...; O contra o governo tirânico; demolia-se o tureza que a todos obriga; essa lei de-
Estado é a Idéia Divina tal como existe sustentáculo do estado absolutista into- termina que nenhum ser humano deve
na Terra... e) Schopenhauer observa: cável e acima da sociedade civil, como o prejudicar o outro na vida, na saúde,
A filosofia, recém-trazida à fama por defendeu Maquiavel, Bossuet, Jean Bodin na liberdade ou nas posses. A execu-
Kant... logo se transformou um ins- e, principalmente Hobbes; f) Ao contrário ção dessa lei está nas mãos de todos
trumento de interesses; interesses do do que afirma Hobbes, os direitos naturais os homens, de modo que qualquer um
Estado, no alto; interesses pessoais, de cada ser humano no estado de natu- tem o direito de castigar os transgres-
embaixo...; Os governos fazem da reza não desaparecem com o surgimento sores da lei.
filosofia um meio de servir a seus in- do estado de sociedade e, ao contrário, No estado de natureza, portanto, to-
teresses de Estado...; f) Filosofia da tornam-se até mais fortes, e dessa forma, dos têm o poder executivo da lei da
identidade: serve para justificar a or- negava o absolutismo e propiciava o sur- natureza. Nessa situação, entretanto,
dem de coisas existentes, a doutrina gimento da democracia liberal individual há sempre o risco de parcialidade,
de que força é o Direito; observe-se: que serviria de referência para a Revolu- posto que os homens são juízes dos
ção Americana e, conseqüentemente, da próprios atos. Ademais, a inclinação
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para a vingança pode gerar excessos para toda legislação positiva; d) O direi- geral é a resultante dos interesses co-
na punição, seguindo-se daí a confu- to é, portanto, o conjunto das condições muns de todos os cidadãos. Somente
são e a desordem. A solução para o por meio das qual o arbítrio de um pode a vontade geral tem a possibilidade de
inconveniente do estado de natureza adequar-se ao arbítrio de outro de acordo dirigir as forças do Estado, segundo
é o governo civil. A saída do estado de com uma lei universal de liberdade. o fim de sua instituição, que é o bem
natureza para o estado civil depende comum. Soberania consiste no exercí-
do consentimento dos cidadãos, isto 4. Jean Jacques Rousseau: Rousseau é cio da vontade geral, que deve dirigir
é, do pacto social ao qual os homens o expoente da teoria da soberania popu- as forças do Estado sem resultar em
estão obrigados a aderir. Com o intuito lar, segundo a qual, para conter o poder, opressão para os indivíduos. A vontade
de conservar os direitos naturais fun- é necessária a participação de todos os geral, além de soberana e não opres-
damentais - a vida e a propriedade -, cidadãos. O poder, uma vez pertencente sora, tem ainda por finalidade vigiar os
os homens abandonam o estado de a todos, é como se não pertencesse to- atos do governo e refreá-los quando
natureza. Ao abandoná-lo, não renun- talmente a ninguém. A contenção do abu- atentatórios a ela própria. Como a von-
ciam, entretanto, aos direitos naturais; so do poder dá-se pela mudança do seu tade geral representa aquilo que há de
pelo contrário, querem-nos garantidos. titular, ou seja, o povo - titular do poder comum entre as vontades individuais,
O estado civil corresponde, então, à em substituição ao monarca - não pode quando o homem se conduz conforme
criação de uma autoridade, superior exercer o poder que lhe pertence contra a vontade geral, está se conduzindo
aos indivíduos, para a proteção dos di- si mesmo. conforme a sua própria vontade. A
reitos naturais fundamentais. Por essa 4.1. Estado natural: Rousseau toma soberania não é um convênio entre o
razão, Locke entende que a monar- como ponto de partida o estado natural, superior e o inferior, mas uma conven-
quia absoluta, que alguns consideram entendido como um estado de liberdade ção do corpo com cada um de seus
o único governo do mundo, é, de fato, no qual o homem é senhor de si mesmo, membros: convenção legítima porque
incompatível com a sociedade civil. Na sendo o único juiz dos meios apropriados é comum a todos; útil porque não leva
concepção de Locke, o poder é algo à sua conservação. No estado natural há em conta outro intento que não o bem
que exerce uma função social deter- uma desigualdade entre os homens, que geral. Quem se recusa a obedecer à
minada. O que se deve temer, acima consiste na diferença das idades, da saú- vontade geral a isto será constrangido
de tudo, é que o poder ultrapasse esta de, das forças corporais. Essa desigual- pelo corpo em conjunto, o que apenas
função, e que os cidadãos fiquem pri- dade permite a submissão do mais fraco significa que será forçado a ser livre.
vados de recursos contra ele. Está, pelo mais forte. O mais fraco cede à força, O pacto fundamental, ao invés de des-
portanto, no abuso de poder o maior não por um ato de vontade, mas por um truir a igualdade natural, substitui, ao
risco de ruína para o corpo político; ato de necessidade ou de prudência, que contrário, por uma igualdade moral e
pois esse abuso justificaria, inclusive, em nada difere do ato da vítima que cede legítima a desigualdade física que a
o direito de resistência. ao bandido que lhe aponta uma arma. Daí natureza pôde pôr entre os homens,
3.2. Jean Jacques Rousseau (1712- a necessidade de transformar a força em fazendo com que estes, conquanto
1778): a) O Contrato Social; b) Foi direito e a obediência em dever, que impli- possam ser desiguais em força ou em
pela livre vontade do homem que ele ca passar do estado de natureza para o talento, se tornem iguais por conven-
originou a sociedade humana e as estado civil.”Diz Rousseau” ção e por direito.
leis expressam essa vontade; c) O Diz Rousseau: o problema é encontrar
que a maioria decide é sempre justo uma forma de associação que defenda e 5. Emanuel Kant: em sua obra Meta-
no sentido político e torna-se absolu- proteja com toda a força comum a pessoa física dos Costumes, Kant examina a
tamente obrigatório para cada um dos e os bens de cada associado, e na qual doutrina do direito e da virtude e trata
cidadãos. cada um, embora unido a todos, possa da distinção entre direito e moral, o
3.3. Emanuel Kant (1724-1804): a) ainda obedecer somente a si próprio, per- que em regra constitui um problema
Fundamentos da metafísica dos costu- manecendo tão livre como antes. Este é preliminar da Filosofia do Direito.
mes; Crítica da razão prática; b) A dis- o problema fundamental cuja solução o 5.1. Distinção entre moralidade e
tinção entre legalidade (conformidade Contrato Social proporciona. Posto que legalidade: essa distinção toma como
ao dever) e moralidade (conformidade nenhum homem possui uma autoridade base a boa vontade. Boa vontade é
ao dever pelo dever) afasta o Direito natural sobre seu semelhante e que a aquela que não está determinada por
da Moral; c) Há no Direito uma parte força não produz nenhum direito, resta o atitude alguma e por cálculo interessa-
constituída por leis naturais: a ciência contrato social como base de toda autori- do algum, mas somente pelo respeito
do Direito, no sentido de conhecimen- dade legítima entre os homens. ao dever. Assim, tem-se moralidade
to do que é necessário e universal no 4.2. Vontade geral: para Rousseau, o quando a ação é cumprida por dever,
Direito é o conhecimento sistemático contrato social resulta numa vontade geral ou seja, a legislação moral é aquela
da doutrina do direito natural enquanto que deve ser obedecida por todos. A von- que não admite que uma ação possa
o jurista versado nessa última ciência tade geral não é a da maioria; a vontade ser cumprida segundo inclinação ou
deve fornecer os princípios imutáveis interesse. Tem-se legalidade quando
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a ação é cumprida em conformidade filosofia do direito de Kant influencia Hans distintos. Assim, ao considerar como
com o dever, mas segundo alguma in- Kelsen na elaboração da Teoria Pura do funções do Estado a legislativa, a exe-
clinação ou interesse. Kant dá o exem- Direito. cutiva e a judiciária, a teoria da sepa-
plo do comerciante que não abusa do LINK ACADÊMICO 5 ração dos poderes exige que exista
cliente ingênuo: se ele age assim, não um poder para cada função estatal e
IDADE CONTEMPORÂNEA
o faz porque este é o seu dever, mas que cada um dos poderes exerça uma
porque é de seu próprio interesse, a 1. Período histórico: da Revolução só função. Para esta teoria, apesar de
sua ação não é moral. Francesa (1789) aos nossos dias. independentes, esses poderes podem
5.2. Autonomia e Heteronomia: essa 1.1. Alemanha: controlar-se reciprocamente.
distinção também implica separar di- 1.1.1. A Escola Histórica do Direito: 1.1.3. Liberdade negativa: segundo
reito e moral. Autonomia é a qualidade a) dessacralização do Direito Natural Montesquieu, é possível exercer o po-
que a vontade tem de dar leis a si mes- na primeira metade do século XIX feita der deixando uma margem de liberda-
ma. A vontade moral é por excelência pelo historicismo; b) no campo filosófico- de aos cidadãos, ou então reduzir ou
uma vontade autônoma. Heteronomia jurídico o historicismo teve sua origem suprimir esta margem de liberdade.
é quando a vontade é determinada por através da Escola Histórica do Direito, Com base nesse critério, os governos
outra vontade. A vontade jurídica (es- cujo maior representante foi Savigny; c) distinguem-se em moderados e abso-
tatal ou do soberano) é por excelência Gustavo Hugo (Tratado do Direito Natural lutos. O governo moderado é aquele
uma vontade heterônoma. Pode-se como Filosofia do Direito Positivo, 1798) que garante a liberdade, ou seja, o di-
dizer que, quando a pessoa age con- faz a transição da filosofia jusnaturalista reito de fazer tudo aquilo que as leis
forme a sua vontade, encontra-se no para a juspositivista, pois evoca Montes- não proíbem ou não estar obrigado a
terreno da moralidade (autonomia); quieu, cuja obra, que é um estudo do di- praticar uma ação que a lei não orde-
quando age em obediência à lei do reito comparado – a experiência jurídica ne.
Estado, encontra-se no terreno da le- concreta de cada povo para conhecer-se Essa liberdade pode ser chamada ne-
galidade (heteronomia). o espírito das leis – rompe com a tra- gativa, porque consiste em um âmbito
5.3. Imperativos Categóricos e Im- dição racional-dedutiva e parte para a de ação no qual as leis não intervêm
perativos Hipotéticos: essa distinção empírico-indutiva. Hugo vai afirmar que o com ordens ou proibições próprias nas
também implica separar moral e direi- direito positivo é o direito posto pelo Es- quais nossa ação não está impedida
to. a) Categóricos: são os que pres- tado. d) sentido de variedade da história pelas leis, ou está livre de qualquer
crevem uma ação boa por si mesma, em decorrência da variedade do próprio interferência legislativa. Para Mon-
como, por exemplo: você não deve homem: não há o Homem; e) sentido do tesquieu a liberdade negativa só é
mentir, e são assim chamados porque irracional na história: escarnecem os his- possível naqueles regimes em que o
são declarados por meio de um juízo toricistas das concepções jusnaturalistas poder soberano não está concentrado
categórico. b) Hipotéticos: são aque- como a de que o Estado tenha surgido numa só pessoa, mas distribuído por
les que prescrevem uma ação boa após uma discussão racional e pondera- órgãos diferentes que se controlam re-
para alcançar um certo fim, como, por da que daria origem a uma organização ciprocamente. Essa teoria é, pois, uma
exemplo: se você quer evitar ser con- política que corrigisse os inconvenientes técnica posta a serviço da contenção
denado por falsidade, você não deve da natureza; f) pessimismo antropológico: do poder pelo próprio poder. Para que
mentir, e assim são chamados porque o homem é trágico, não há como melhorar não seja possível abusar do poder, é
são declarados por meio de um juízo a sociedade e o mundo; g) amor pelo pas- necessário que, segundo a disposição
hipotético. sado: recuperação do Direito anterior ao das coisas, o poder reprima o poder.
Definição de direito. Direito é o conjun- romano; h) sentido da tradição: o costume 1.2. França:
to das condições por meio das quais (“volksgeist”) prevalecendo sobre a norma a) o Código de Napoleão (1804); a
o arbítrio de um pode estar de acordo positiva, o que contraria a tradição surgida idéia de codificação surgiu em conse-
com o arbítrio de outro, segundo uma com o Estado absolutista; i) combate à qüência do iluminismo (século XVIII) e
lei universal de liberdade. Dessa defi- idéia de codificação, essência do jusnatu- sua crença na possibilidade de desco-
nição deriva a lei universal do direito, ralismo racionalista – sistema de normas berta, pela Razão, em leis universais
assim formulada: atue externamen- descobertas pela razão consagradas em válidas em todo o tempo e em todo o
te de maneira que o uso livre do teu um código posto pelo Estado, detentor da lugar (Jean Etienne Marie Portalis);
arbítrio possa estar de acordo com a soberania; debate Thibaut e Savigny. b) Escola de Exegese (1804 até fins
liberdade de qualquer outro segundo 1.1.2. Montesquieu: Montesquieu é o do século XIX) e a adoção do princípio
uma lei universal. A definição de di- expoente da teoria da separação dos da onipotência do legislador – dogma
reito não é extraída do direito positivo, poderes. Essa teoria impõe limites in- fundamental do positivismo jurídico;
posto que Kant define metafísica dos ternos ao poder estatal. Visa impedir que c) características da Escola de Exe-
costumes como o estudo das leis que o poder seja concentrado numa só pes- gese: c.1) inversão das relações tra-
regulam a conduta humana sob um soa, motivo pelo qual propõe que as fun- dicionais entre direito natural e direito
ponto de vista meramente racional. A ções estatais sejam atribuídas a órgãos positivo; c.2) concepção rigidamente
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estatal do Direito; c.3) interpretação da a) A perspectiva extrínseca e a intrínseca do que a da maioria, esta democrática;
lei fundada na vontade do legislador e, quanto ao ordenamento jurídico. g) o estudo científico do Direito é uma
depois, na vontade da lei; c.4) identifi- b) O positivismo: não à metafísica, sim ao tentativa de compreender e descre-
cação do Direito com a lei escrita; c.5) empírico. ver o fenômeno jurídico assim como
respeito pelo princípio da autoridade. c) O positivismo jurídico: o dado; a norma; o estudo científico da Física é uma
1.3. Inglaterra: o ordenamento jurídico. tentativa de compreender e descre-
a) John Austin (1790-1859) é cronolo- ver fenômenos tais como a gravitação
gicamente posterior à Escola Histórica 3. Características do juspositivismo: universal; nesse sentido o elemento
e à Escola de Exegese: a.1) A Deter- a) a Direito como fato, não como valor (ex- preponderante é a norma jurídica que,
minação do Campo da Jurisprudência, plicar o Direito, não julga-lo ou o Direito tal para ser tal, necessita prescrever, san-
1832; e A Filosofia do Direito Positivo qual é, não como deveria ser); cionar e ser oriunda do Estado, dife-
(“post-morten”); a.2) recusa em consi- b) o Direito é considerado como um con- renciando-se de outras que não têm
derar como direito propriamente dito o junto de fatos, de fenômenos ou de da- esta última característica; este estudo
direito natural; concepção de efetivida- dos sociais em tudo análogos àqueles do é externo ao fenômeno jurídico, como
de do direito existente nas várias so- mundo natural; o jurista, portanto, deve o é compreender e descrever uma par-
ciedades como o fundamento de sua estudar o direito do mesmo modo que o tida de xadrez entre dois contendores;
validade (indução-positivismo); direito cientista estuda a realidade natural, isto é, h) interpretar a norma jurídica cor-
tal qual ele é, e não como deveria ser abstendo-se absolutamente de formular responde, mesmo em nível de mera-
enquanto objeto da ciência do direito; juízos de valor; a validade do direito se mente cumpri-la, a aceitar as regras
a.3) afirmação de que a norma jurí- funda em critérios que concernem unica- internas do ordenamento jurídico, da
dica tem a estrutura de um comando mente à sua estrutura formal, ou seja, seu mesmo forma que os jogadores de
(concepção imperativista do Direito); aspecto exterior, prescindindo do seu con- xadrez aceitam as normas do jogo
a.4) afirmação de que o Direito é posto teúdo; a afirmação da validade de uma para poderem jogá-lo; desrespeitar
pelo soberano da comunidade política norma não implica também na afirmação as normas significa ir além do limite
independente – isto é – pelo Órgão Le- do seu valor; que a vontade popular – criador das
gislativo, em termos modernos (con- c) O positivismo jurídico nasce do intuito regras – estabeleceu e emitir juízo de
cepção estatal do Direito). de transformar o estudo do direito em algo valor onde somente caberiam juízos
idêntico ao das ciências físico-matemáti- de fato; significa mudar as regras do
O JUSPOSITIVISMO jogo ao seu bel prazer, desrespeitando
cas, ou seja, naturais;
1. Definição de Juspositivismo: con- d) A característica fundamental da ciência as regras previamente estabelecidas,
sidera-se como sendo juspositivismo consiste em sua avaloratividade (juízos algo que somente é possível consen-
a escola jusfilosófica que defende e de fato, tomada de conhecimento do ob- sualmente ou através da imposição,
estuda o Direito enquanto constituído jeto com o objetivo de informar), por que como na política, através do voto ou
única e exclusivamente por normas ju- deseja um conhecimento objetivo da rea- da revolução;
rídicas positivadas, afastando, portan- lidade, ou seja, renuncia a se pôr ante ela i) não se trata de considerar que uma
to, a possibilidade de sua análise em com uma atitude moralista ou metafísica, norma é justa por ser válida (Hobbes,
uma perspectiva metafísica. finalística (segundo a qual a natureza deve Hegel – filosofia da identidade), mas,
ser compreendida como pré-ordenada por sim, separar as duas definições como
2. Os Pontos Fundamentais do Jus- Deus a certo fim) e a aceita como ela é, pertencendo a universos distintos;
positivismo: segundo um critério de verdade, perfeita j) É direito o que vige como tal em uma
2.1. O positivismo jurídico enquanto adequação entre aquilo que se diz do fato sociedade, ou seja, aquelas normas
postura científica ante o Direito. e este mesmo, comprovável através da que são feitas valer por meio da força;
2.1.1. Juízo de fato x juízo de valor. falseabilidade; l) juízo de valor: avaliação subjetiva
2.1.2. O que é ciência; as regras da e) isso a diferencia do quê não é ciência, (como eu acho que é independen-
ciência. universo dos juízos de valor (tomada de te de como de fato é) da realidade;
2.1.3. Ciência do Direito: a Sociologia posição frente à realidade, para influen- enunciados, afirmações ou premissas
Jurídica. ciar o outro); sem possibilidade de corroboração
2.1.4. Ciência natural social e ciên- f) juízo de fato: o céu é rubro; juízo de va- empírica (critério de demarcação en-
cia humana. lor: o céu rubro é belo. Explicar, não julgar; tre ciência e não-ciência); filosofia do
a) Durkheim; assim a escravidão é um instituto jurídico Direito: investigação do fundamento,
b) Verdade real. que como tal deve ser estudado, indepen- da justificação, da legitimidade do Di-
2.1.5. Teoria Geral do Direito: da nor- dente do juízo de valor que dele possa ser reito; definições da Filosofia do Direito:
ma jurídica para a norma jurídica. feito; essa postura impede o subjetivismo, ideológicas, valorativas, deontológicas
a) A verdade formal. o solipsismo, a possibilidade de alguém (Aristóteles, São Tomás de Aquino,
2.1.6. A filosofia do Direito. supor que é mais correta sua perspectiva Radbruch, Kant);
m) juízo de fato: avaliação objetiva da
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realidade (a realidade como de fato necessário para que se saiba acerca do é o bem-estar social); em relação aos
ela é), independente de mim (conhe- que se está tratando (como quem lê um juízos de valor, eu os aceito se for per-
cer sem sujeito que conheça); defini- texto descompromissadamente); p.2) suadido a isto, vez que eles não são
ções da Sociologia Jurídica: factuais, interpreta-la tecnicamente (levando em verdadeiros ou falsos; ninguém pode
avalorativas, ontológicas (Marsílio de consideração as normas que determinam afirmar que um juízo de valor é certo
Pádua, Austin, Hobbes, Kelsen); deito como isso deve ser feito – princípio da le- ou errado, verdadeiro ou falso, bom
como fato, não como valor (explicar galidade), o que acentua o compromisso ou mal, no sentido de verdade ou fal-
o Direito, não julga-lo ou o Direito tal da interpretação; e p.3) a aplicação; de- sidade, ou seja, em si mesmo; aceitar
qual é, não como deveria ser); saparece, então, o juízo de valor, que é ou não um juízo de valor é questão de
n) metáfora do jogo de xadrez, quem o subjetivo, para aparecer a opção que o crença, de fé.
observa com o olhar de cientista (pois ordenamento jurídico impõe: a moldura
a isso se dispôs, enquanto sociólogo, acerca da qual nos diz Kelsen; tudo isso 4. A Escola formalista do Direito:
psicólogo, etc.), faz ciência. Assim o é como na música, medicina ou física; tendo como maior expressão o filósofo
em relação ao Direito: quem com ele q) observar que o juízo de fato (que é um Hans Kelsen, autor da Teoria Pura do
opera acatando, aceitando as regras ato de conhecer), ao contrário do juízo Direito, levou ao extremo a concepção
que o regem, age tecnicamente ao de valor (que é uma posição a favor ou de que é Direito o conjunto de normas
interpretá-las e aplica-las, como o fa- contra), é uma imposição do ordenamento jurídicas positivas, válidas e eficazes,
zem os músicos, que assim trabalham jurídico, este, por sua vez, determinação constitutivas de um determinado orde-
utilizando as notas musicais existentes da soberania popular - princípio da lega- namento jurídico no tempo e espaço.
e as técnicas de composição; com os lidade; Ponto fundamental de sua teoria é o
médicos, em relação aos remédios r) a distinção entre juízo de fato e juízo de pressuposto de exigência de validade
dos quais dispõem, ou mesmo os fí- valor assumiu a função de demarcação da norma jurídica para assegurar-se
sicos que se propõem, a partir das leis entre ciência e ideologia ou metafísica; sua existência.
que descrevem o comportamento do no primeiro caso, quer-se saber como o
mundo natural já identificadas e co- direito é (definições científicas, factuais, 5. Miguel Reale: propõe para a ciência
nhecidas, a elevar os foguetes ao céu; avalorativas, ontológicas), no segundo, jurídica, nos termos do culturalismo,
um belo paralelo pode ser traçado en- como foi ou deverá ser (julga-se o direito uma metodologia de caráter dialético,
volvendo o Direito e a Música: aquele passado e se procura influir no vigente; capaz de proporcionar ao teórico do
que se debruça sobre este fenômeno, as definições são ideológicas, valorativas, direito os instrumentos de análise do
o faz como historiador, psicólogo, ou deontológicas; fenômeno jurídico, visto como unidade
sociólogo, até mesmo filósofo (quan- s) definições valorativas, ideológicas, de- sintética de três dimensões: normati-
do estabelece comparações entre a ontológicas (estudo dos princípios e fun- va, fática e valorativa.
harmonia de um e a matemática, para damentos da moral): caracterizam-se pelo 5.1. Teoria tridimensional: a estru-
lembrar Platão), desde que externo a fato de possuírem uma estrutura teleológi- tura do direito é tridimensional porque
ele; no entanto, enquanto músico, seu ca, acham que o direito tem que ter uma a norma, que disciplina os comporta-
universo é técnico e restrito ao contin- determinada finalidade; permite definir o mentos individuais e coletivos, pressu-
gente de notas musicais possíveis e direito em função da justiça, bem comum põe uma dada situação de fato, referi-
às regras de composição; (Aristóteles, Radbruch, São Tomás de da a determinados valores. À medida
o) a ciência implica em desvendar a Aquino, Kant); que isso se coloca como um problema
realidade; t) o jusnaturalismo sustenta que a norma, para o jurista, surge a necessidade de
p) no caso do juspositivismo, o juízo para ser válida, deve ser justa. Aristóteles, esclarecer as relações entre fato, valor
de valor desaparece do universo jurídi- Hobbes, e Hegel sustentaram que se é e norma. Os elementos integrantes do
co enquanto fulcro (base, esteio) para válida, é justa; Direito – fato, valor e norma – estão
estudá-lo, analisa-lo, examina-lo; as- u) por que não uma abordagem valora- em permanente atração, uma vez que
sim, não se pode mais, enquanto ope- tiva do Direito, ou seja, uma teoria que o fato tende a realizar o valor mediante
rador do Direito, interpretar e aplicar admitisse como pressuposto, explicá-lo a norma. Por essa razão, a conexão
qualquer norma a partir de uma con- a partir do ângulo do valor, como por entre esses elementos é denominada
cepção subjetiva de Justiça, Bondade, exemplo, a teoria tridimensional do Di- dialética da implicação e da polarida-
Razoabilidade da qual lance mão o in- reito, de Miguel Reale, que o entende, de, ou simplesmente dialética da com-
térprete e aplicador; a opção por uma também, como sendo um valor? por que plementaridade. A correlação entre
norma qualquer, interpreta-la e aplica- tal abordagem é não-científica, calcada fato, valor e norma permite entender
la é algo técnico (no sentido que não em perspectivas subjetivistas, em juízos o Direito como um sistema aberto, de-
descreve a realidade natural – o objeto de valor; estes nada informam acerca da pendente de outros que o abrangem e
do qual cuida é cultural, uma ficção Realidade, significam apenas a opinião circunscrevem.
humana), que se desenvolve assim: pessoal de quem os emite (quem afirma,
p.1) interpreta-la dando-lhe o sentido por exemplo, que a finalidade do Direito 6. Hans Kelsen: é o principal teórico

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do positivismo jurídico. Sua obra Te- mativa do seu editor, que é conferida por O enunciado da norma é prescritivo
oria Pura do Direito busca conferir à outra norma, e assim sucessivamente, porque resulta de um ato de vontade.
ciência jurídica um método e objeto numa série finita que culmina na norma Nesse sentido, a norma é válida quan-
próprios, capazes de assegurar ao fundamental. Essa estrutura possibilita ao do emanada de uma autoridade com-
jurista o conhecimento científico do di- jurista organizar o sistema dinâmico de petente; ou inválida, em se tratando
reito. Para Kelsen, o objeto da ciência normas relacionando-as a partir de regras de uma autoridade incompetente. O
jurídica consiste em normas jurídicas e de competência, reguladoras da produção enunciado da proposição é descritivo
a tarefa do cientista do direito consiste normativa. A mesma estrutura permite or- porque resulta de um ato de conhe-
em descrever e sistematizar esse ob- ganizar o sistema estático, relacionando cimento do cientista do direito. Nesse
jeto mediante proposições. as normas a partir de seus conteúdos. As- sentido, a proposição é verdadeira
6.1. Neutralidade do cientista do sim, uma norma sempre se fundamenta quando o seu enunciado estiver em
direito: o conhecimento jurídico, para em uma outra, que lhe é superior, no que conformidade com a norma; ou falsa,
ser científico, deve ser neutro; não diz respeito tanto à competência quanto quando em desconformidade estiver.
cabe, pois, ao cientista do direito fazer ao conteúdo. 6.7. Interpretação autêntica e não-
julgamentos morais nem avaliações 6.4. Encadeamento de normas: uma autêntica: no que diz respeito à in-
políticas sobre as normas postas: se das tarefas fundamentais do jurista con- terpretação da norma jurídica, a teoria
elas são justas ou injustas, pertinentes siste em elaborar o encadeamento hierár- pura entende que, de uma mesma
ou impertinentes. No exercício da sua quico de normas, mediante proposições, norma, podem-se extrair diversos
atividade, o jurista deve afastar tanto tanto na perspectiva do sistema dinâmico significados. Por essa razão, a teo-
as dimensões axiológicas, que impli- quanto na do sistema estático. Nessa ria pura nega a possibilidade de uma
cam proferir juízos de valor a respeito estrutura, uma norma vale não porque é interpretação verdadeira, mas distin-
das normas, como as dimensões epis- justa, mas porque está em conformidade gue a interpretação autêntica da não-
temológicas, que implicam motivações com uma norma superior na qual se fun- autêntica. Interpretação não-autêntica
específicas de outras ciências, como damenta. Todo o universo normativo vale (doutrina) é a realizada pelo cientista
a sociologia e a psicologia. Essas si- e é legítimo em função dessa hierarquia do direito, que, mediante ato cogniti-
tuações comprometem a verdade das ou encadeamento lógico. vo, deve fixar os diversos significados
proposições que o cientista enuncia 6.5. O direito como ordem coativa: o possíveis da norma jurídica. A autênti-
sobre as normas. direito é uma ordem coativa, um conjun- ca (jurisprudência) é a realizada pelo
6.2. Norma hipotética fundamental: to de normas que prescrevem sanções. A órgão jurisdicional que, no exercício
para garantir a racionalidade da ordem conduta contrária à norma é considerada da competência jurídica, decide confli-
jurídica, encontra-se na teoria pura ilícita e a conduta em conformidade com a to com base em um ato de vontade,
a noção de norma hipotética funda- norma é considerada um dever jurídico. O que pode estar ou não em conformi-
mental no sentido de primeira norma Estado se confunde com o direito porque dade com um dos significados ofere-
transcendental. É uma norma suposta, nessa estrutura ele nada mais é do que cidos pela doutrina. Vale dizer, o juiz,
vale dizer, não é editada por um ato de o conjunto das normas que estabelecem quando decide, não realiza ato de
autoridade, não possui um conteúdo, competência e prescrevem sanções de conhecimento, mas manifesta sua
é uma exigência lógica, apenas uma uma forma organizada. vontade. Assim é porque a teoria pura
ficção que sustenta o fundamento de 6.6. Norma e proposição: a norma é um considera a sentença uma norma jurí-
validade da ordem jurídica, evitando dever-ser que confere ao comportamento dica individual, emanada de uma au-
uma regressão ao infinito ou a discus- humano um sentido prescritivo. Por esse toridade competente, que estabelece
são política sobre a legitimidade do motivo, a ciência jurídica é diferente das uma sanção. Enfim, na perspectiva da
poder originário. À norma hipotética outras ciências. Estas operam com o prin- teoria pura, o cientista do direito cuida
fundamental, que é suposta, segue- cípio da causalidade (dado A, é B), rela- de proposições normativas, e não de
se a primeira norma posta: o conjunto cionam fatos, sendo um causa e o outro fatos e valores.
normativo da Constituição Federal. efeito, atuam no mundo do ser (natureza).
O PÓS-POSITIVISMO
6.3. Sistema dinâmico e sistema A ciência jurídica atua no mundo do de-
estático: a primeira norma posta e ver ser (cultural), opera com o princípio 1. Crítica ao jusnaturalismo.
as demais que lhe sucedem derivam da imputação (dado A, deve ser B). Esse 1.1. Através de sua teoria das fon-
de atos de vontade do poder sobe- princípio prevê uma determinada sanção tes:
rano e esse poder deve garantir a (B) que deve ser imputada a uma conduta 1.1.1. Deus:
efetividade da ordem normativa. Vale considerada pelo direito como ilícita (A). O a) Deus é uma hipótese que não pode
dizer, a norma é válida se for editada cientista do direito estabelece, na proposi- ser testada;
pela autoridade competente e possua ção jurídica que descreve a norma jurídi- b) Pressupondo a existência de Deus,
um mínimo de eficácia. A validade da ca, ligações entre um antecedente (con- não há como saber qual dos seus in-
norma repousa na competência nor- duta ilícita) e um conseqüente (sanção). térpretes está correto: a Igreja Católi-

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ca, a Igreja Ortodoxa, a Igreja Anglica- 2.1.3. Através de sua ontologia funda- reito; não ter superado o fucionalismo.
na, os protestantes, os muçulmanos... mental (para o formalismo kelseniano, 3.4. A Retórica Jurídica e as Teorias
1.1.2. A Razão: sem o qual teremos um positivismo ca- da Argumentação:
a) Se a Razão for meramente instru- penga, como o de Bobbio): o ordenamen- 3.4.1. Chaïm Perelman, segunda
mental, então ela não cria nada no to jurídico instaurado pela Norma Hipotéti- metade do século XX:
sentido do que é certo ou errado, ape- ca Fundamental que não pode ser testada a) o Direito enquanto um campo da ar-
nas é a inteligência em processo (o de acordo com o método científico e se gumentação; o raciocínio dos advoga-
raciocínio); constitui numa verdade formal auto-evi- dos, juízes para a construção de uma
b) Se a Razão for a faculdade ou ca- dente que é pura metafísica. teoria da argumentação jurídica.
pacidade de perceber o Certo ou Erra- b) o raciocínio lógico-dedutivo como
do, estes estão fora (externos) a nós e 3. As escolas pós-positivistas: sendo do campo da ciência onde a
são algo-em-si-mesmo (Platão) e não 3.1. O Movimento do Direito Livre (Eu- conclusão é obrigatória se a premissa
construção nossa, o que seria impos- gen Ehrlich e Hermann Kantorowicz): maior e a menor forem verdadeiras; o
sível dado serem valores e, portanto, a) reação ao formalismo legalista; raciocínio retórico ou dialético (Aristó-
exatamente aquilo que nós construí- b) pluralismo jurídico; teles) como sendo o do plausível, o do
mos. c) pluralismo das fontes do Direito; razoável.
1.1.3. A natureza das coisas: d) ciência do Direito é sociológica; c) crítica: substitui o modelo lógico-de-
a) Físicas: das leis naturais não é e) afirmação da dogmática jurídica ape- dutivo de Kelsen pelo lógico-dialético;
possível inferir-se (falácia naturalista) nas como interpretação; não explica o direito, é apenas uma
convenções (valores); f) caráter criador do Direito através da fun- técnica de lidar com ele; não é uma
b) Sociais: o conhecimento não nos é ção judiciária implicando na crítica à lógica ciência.
dado pela sociedade (falácia naturalis- dedutiva; 3.5. Escola do Direito Alternativo:
ta), nós é que levamos o nosso conhe- g) fragilidade: não ter superado a depen- se constitui mais em um método para
cimento para a sociedade (qual socie- dência da noção de pluralismo jurídico; interpretar e aplicar a norma jurídica
dade, vez que impossível ser toda ela; não ter superado a noção de natureza das do que uma teoria acerca do Direito.
parte da sociedade, a elite que detém coisas enquanto fonte do direito. Recupera, nesse sentido, a discussão
o Poder). 3.2. O Realismo Jurídico Escandinavo histórica – início do século XX – susci-
(Alf Ross): tada pela Escola Científica do Direito,
2. Crítica ao juspositivismo: a) tentativa de desmascarar o caráter me- do qual são seus maiores represen-
2.1. Através de sua fonte primordial, tafísico dos conceitos jurídicos de caráter tantes Kantorowicz e Erhlich.
o Estado (não pode ser o ordenamen- dogmático tal qual o de validade (verda- 3.6. A Teoria Política do Direito:
to jurídico: cairíamos na antropoformi- des a priori); 3.6.1. A partir de uma crítica à teoria
zação): b) ênfase na eficácia. das fontes do Direito elaborada tanto
2.1.1. Quanto à produção na norma 3.3. O Realismo Jurídico Norte-ame- pelo jusnaturalismo quanto pelo jus-
jurídica através dos aparelhos do ricano (Oliver Holmes, Roscoe Pound, positivismo, elabora uma teoria acer-
Estado (processo legislativo): o Esta- Benjamin Cardozo): ca do fenômeno jurídico levando em
do é o “topos” onde a NJ é produzida, a) o importe reside na experiência juris- consideração que sua fonte ou causa
e, não, o Estado produz a NJ; a NJ é prudencial; material é, em última instância, o po-
produzida por um aparelho específico b) é direito aquilo que os juízes dizem que der político.
do Estado que está abrangido pelo é. 3.6.2. Diferencia-se da teoria marxis-
conceito de Governo, um dos três ele- c) o direito é um meio para o alcance de ta do Direito e do Estado por que não
mentos que o configuram (Território, metas sociais – daí a ênfase na função considera que o Poder Político seja
População e Governo); quem produz, social do Direito; uma concretização específica da luta
interpreta e aplica a NJ: o Poder do d) a questão da eficiência da norma jurí- de classes, ou seja, não necessaria-
qual é detentor certa parte da elite. dica – o juiz é quem decide qual a norma mente seria uma superestrutura ideo-
2.1.2. Quanto à recepção: aqui são jurídica a ser aplicada; no juspositivismo, lógica resultante de uma infra-estrutu-
outros aparelhos do Estado que rece- respeito à lei (princípio da legalidade); ex- ra material e econômica.
bem (conhecer) atos ou fatos aos quis ceção, raríssima: recepção; no realismo 3.6.3. A teoria política do Direito apon-
atribui a capacidade de serem fontes jurídico, recepção estimulada; a norma ta como causa do Poder Político as re-
produtoras da NJ; na verdade o que há tem que ser eficaz para ser válida; no jus- lações de domínio típicas de qualquer
é que instâncias do Poder que não di- positivismo, a norma tem que ser válida sociedade desde o aparecimento do
retamente o Legislativo resolve dobrar para ser eficaz. homem na face da terra.
o aparato legal estatal; essa decisão e) fragilidade: não ter superado o limite da
se manterá caso haja suficiente Poder compreensão do papel do juiz e da eficá- 4. Noberto Bobbio: nas palavras de
para tal. cia da NJ para chegar à causa real do Di- Norberto Bobbio, o direito natural é

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importante na modernidade por dois contrapõe a razão, que fornece o critério homem. Por conta desse paradigma,
motivos: a) primeiro, em virtude da da verdade: as idéias claras e distintas o mundo moderno é um mundo to-
eterna exigência da idéia de justiça, decorrentes da matemática e da geome- talmente racionalizado no sentido de
que transcende continuamente o direi- tria. Para o racionalismo, a razão não é estar submetido a um entendimento
to positivo e nos induz a tomar posição somente o instrumento para conhecer a calculador que, de certo modo, substi-
frente a ele para modificá-lo, aperfei- verdade, mas é a própria fonte donde ela tui ou usurpa o lugar da própria razão.
çoá-lo, adaptá-lo a novas necessi- deriva. Segue-se que, para o racionalis- O homem não domina suas paixões,
dades e novos valores; b) segundo mo, é do pensamento que é deduzida a apenas as reprime, mantendo-as inte-
porque contém um conjunto de princí- própria realidade. Essa concepção afas- riorizadas. Há, desse modo, uma dupla
pios bastante genéricos e flexíveis que ta o Direito Natural Greco-Romano, que dominação, posto que se estende tanto
podem adaptar-se continuamente ao toma como padrão a própria natureza. à natureza exterior (dominada, oprimi-
progresso histórico. Indubitavelmente, Sob a perspectiva do racionalismo, não da, explorada) quanto à natureza inte-
as teorias da soberania, ao introduzir faz sentido falar numa ordem ética que rior (reprimida, controlada). Esses dois
a concepção de estado de natureza, repousa na natureza e que é acessível à elementos de dominação se unem e
contribuem, decisivamente, para a fi- “recta ratio” humana. Com o racionalismo se solidificam na dominação institucio-
xação da idéia de um direito natural, a razão humana aparece como legislado- nalizada do homem sobre o homem. A
cujos atributos básicos são a universa- ra do universo; com isso, deixa de ter sen- época moderna encontra-se, sobretu-
lidade e a imutabilidade de certos prin- tido a concepção do homem que age em do, sob o signo da liberdade subjetiva,
cípios que transcendem a geografia e conformidade com a natureza e cresce do princípio da soberania e da razão
escapam à história e são dados e não em importância a concepção do homem calculadora.
postos por convenção, aos quais os que é o senhor e possuidor da natureza. LINK ACADÊMICO 6
homens têm acesso por meio da ra- Aparece a cisão entre o homem e a na-
zão, motivo pelo qual o direito natural tureza.
tem preeminência sobre o direito posi- Essa nova visão de mundo, como esclare-
tivo, posto que este se caracteriza pelo ce Boaventura de Souza Santos, enxerga
particularismo de sua localização no a natureza como uma coisa passiva, eter- A coleção Guia Acadêmico é o ponto de parti-
tempo e no espaço. É preciso esclare- na e reversível. A natureza aparece como da dos estudos das disciplinas dos cursos de
graduação, devendo ser complementada com o
cer, entretanto, que o estado de natu- um mecanismo cujos elementos podem material disponível nos Links e com a leitura de
reza, pensado pelos contratualistas, é ser desmontados e depois relacionados livros didáticos.
um estado de ficção. Isso permite de- sob a forma de leis; ela não tem qualquer Filosofia Geral e Jurídica – 1ª edição - 2009
senvolver a idéia de um direito natural outra qualidade ou dignidade que impeça
racional que se fundamenta na razão e o homem de desvendar os seus mistérios, Autor:
Honório de Medeiros, Bacharel em Ciências
não na natureza, como entendiam os desvendamento que não é contemplativo, Jurídicas e Sociais; Mestre em Direito de Es-
antigos. Vale dizer, a idéia básica do mas antes ativo, já que visa conhecer a na- tado; Professor de Filosofia do Direito da Uni-
direito natural racional está centrada tureza para dominá-la e controlá- la. Tudo versidade Potiguar - Unp; Assessor Jurídico
do Estado do Rio Grande do Norte; Advogado
no seguinte postulado: o Direito é uma isso tem como pressuposto uma razão hu- (Direito Público).
idéia que precede e transcende a ex- mana infalível, irrepreensível e, sobretudo,
A coleção Guia Acadêmico é uma publicação
periência; é um princípio de razão, o calculadora, que, a partir das idéias claras da Memes Tecnologia Educacional Ltda. São
produto de uma construção lógica, me- e distintas colhidas na matemática e na ge- Paulo-SP.
diante a qual a mente humana, partin- ometria, impõe a sua ordem à natureza e
Endereço eletrônico:
do de certas premissas gerais acerca estabilidade às relações humanas. Sob o www.memesjuridico.com.br
do princípio de justiça, deduz todas as império desse paradigma, a organização
verdades jurídicas particulares. O que social, ou seja, o planejamento e a ação Todos os direitos reservados. É terminantemen-
te proibida a reprodução total ou parcial desta
a razão estabelece como princípio de devem se submeter a um cálculo meticu- publicação, por qualquer meio ou processo, sem
justiça possui todos os caracteres do loso. O rigor científico fundado no rigor ma- a expressa autorização do autor e da editora. A
violação dos direitos autorais caracteriza crime,
verdadeiro Direito. O direito natural ra- temático é, como diz Boaventura de Sousa sem prejuízo das sanções civis cabíveis.
cional representa, pois, um arquétipo Santos, um rigor que quantifica e que, ao
ideal que, de um lado, fornece o crité- quantificar, desqualifica. É uma forma de
rio para a avaliação das instituições, e, rigor que, ao afirmar a personalidade do
de outro lado, constitui um modelo, ao cientista, destrói a personalidade da natu-
qual o direito positivo vigente deve se reza e esta aparece como um interlocutor
amoldar. O direito natural que advém terrivelmente estúpido. A racionalidade cal-
das teorias da soberania está ligado culadora alcança um estágio que enxerga
ao racionalismo moderno fundado por a natureza como um mero objeto que deve
Descartes. À natureza o racionalismo ser controlado, oprimido e explorado pelo

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