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Análise Funcional: Definição e Aplicação na Terapia Analítico-Comportamental .
Functional Analysis: Definition and Application in Behavior-Analytic Therapy.
2
Simone Neno
Universidade Federal do Pará
Resumo
Abstract
This paper reviews some uses of the concept of functional analysis in behavior analysis and
behavior therapy, emphasizing its relation to the causal mode of selection by consequences. It
proposes that a clinical application of functional analysis consistent with the behavior-analytic
explanatory system would be based on: a) selectionism as a causal model and functionalism as the
principle for analysis; b) externalism as analytical orientation; c) the complexity, variability, and
idiosyncrasy of behavioral relations; d) the pragmatic criteria for defining the intervention level; e)
the distinction between assessment scope and intervention scope.
Key words: functional analysis; behavior analysis; behavior therapy; behavior-analytic therapy.
1
Este artigo reproduz parte da Dissertação de Mestrado apresentada pela autora ao Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa
do Comportamento, Universidade Federal do Pará (Brasil), sob orientação do Prof. Dr. Emmanuel Zagury Tourinho
2
Endereço para correspondência: Rua Aristides Lobo, 884, Apto.100. Reduto. 66.053-020, Belém, Pará, Brasil. E-mail:
sneno@amazon.com.br
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Simone Neno
A análise funcional tem sido mencionada como Análise Funcional e Behaviorismo Radical
o tipo de recurso explicativo de que se serve a
análise do comportamento (e.g. Skinner, A análise de relações funcionais representa
1953/1965) e também como estratégia (e.g., um modelo de interpretação e investigação
dos fenômenos naturais que estará presente
Owens & Ashcroft, 1982), ou método (e.g.,
no projeto skinneriano de constituição da
Hayes & Follette, 1992; Samson & McDonnell,
psicologia como ciência do comportamento.
1990) de intervenção em terapias compor-
Originalmente, o conceito foi empregado por
tamentais. Enquanto recurso explicativo, seu
Skinner com o sentido atribuído pelo físico
alcance pode não ser tão consensual, uma vez
Ernst Mach (1838-1916): identificação de
considerados aspectos diversos da
relações ordenadas entre eventos da natureza.
interpretação analítica-comportamental para
Na proposição do reflexo como unidade
as relações organismo-ambiente (cf.
básica de análise de uma ciência compor-
Micheletto, 2000). A ausência de consenso tamental, descrição e explicação científicas
sobre o que significa a análise funcional foram interpretadas como coincidindo com a
aparece de modo mais evidente na literatura especificação de relações ordenadas entre
de aplicação clínica, onde uma diversidade de (classes de) estímulos e respostas, portanto
definições para o termo tem sido referida (eg. requerendo a análise funcional (cf. Skinner,
Haynes & O'Brien, 1990) e a necessidade de 1931/1961a) i.
estudos conceituais a respeito sugerida (cf. A análise funcional promove a identificação
Sturmey, 1996). O presente trabalho tem como de relações de dependência entre eventos, ou
objetivos: (a) examinar o conceito de análise de “regularidades na relação entre variáveis
funcional no behaviorismo radical dependentes e independentes” (Chiesa, 1994,
skinneriano, assinalando alguns aspectos p.133), mas com respeito às quais o uso dos
controversos ou não inteiramente conceitos de causa e efeito não seria mais
equacionados nesse domínio; (b) revisar apropriado, uma vez que implicaria
algumas interpretações sobre o que significa suposições (metafísicas) além do alcance de
ii
empregar a análise funcional na terapia uma ciência (cf. Skinner, 1953/1965) .
comportamental; e (c) sugerir alguns aspectos A descrição de relações ordenadas entre
definidores de uma aplicação clínica da eventos encontra um modo de expressão na
análise funcional que esteja em acordo com o matemática. O reflexo, por exemplo, pode ser
sistema explicativo analítico-comporta- expresso pela equação “R = f (S)”, onde “R” é a
mental. resposta e “S” o estímulo (cf. Skinner,
1931/1961a). A relação especificada por
aquela equação é uma relação “funcional” no
sentido de que o primeiro termo (a resposta) é
i
Moore (1984) aponta que no livro Verbal Behavior, Skinner trata descrição e explicação como empreendimentos contínuos e não
isomórficos. A descrição envolveria a especificação topográfica e a explicação corresponderia à indicação das variáveis das quais o
comportamento sob análise é função. Pode-se dizer, no entanto, que ao identificar descrição com explicação (e.g. Skinner, 1931/1961a) a
preocupação de Skinner estaria em ressaltar que uma descrição “completa” do comportamento requer a indicação de relações
funcionais; de outro lado, a limitação da explicação àquelas descrições representaria a interdição de recursos explicativos que apelam a
eventos localizados num plano diferenciado daquele das relações ambiente-comportamento. Assim, a proposição de que descrição e
explicação são, para Skinner, esforços contínuos, está correta tanto quanto se observe que descrições topográficas são descrições parciais
do fenômeno comportamental e explicações comportamentais são aquelas que permanecem no nível das relações organismo-ambiente.
iiSkinner (1953/1965) falará destas implicações afirmando: “Os termos 'causa' e 'efeito' não são mais amplamente usados na ciência. Eles
têm sido associados a tantas teorias da estrutura e da operação do universo que podem significar mais do que os cientistas querem dizer.
Os termos que os substituem referem-se, porém, ao mesmo núcleo fatual. Uma 'causa' torna-se uma 'mudança numa variável
independente' e um efeito, 'uma mudança em uma variável dependente'. A antiga conexão causa-efeito torna-se uma 'relação funcional'.
Os novos termos não sugerem como uma causa produz seu efeito; eles meramente afirmam que eventos diferentes tendem a ocorrer
juntos em uma certa ordem. Isso é importante, mas não é crucial. Não há nenhum perigo particular no uso de 'causa' e 'efeito' em uma
discussão informal, se estivermos sempre prontos a substituí-los por suas contrapartidas mais exatas” (Skinner, 1953/1965, p.23).
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Análise Funcional: Definição e Aplicação na Terapia Analítico-Comportamental.
Esta ênfase não nega contribuições de dos diferentes níveis de variação e seleção
aspectos genéticos, biológicos, estende-se para além dos repertórios
bioquímicos, neurológicos e outros do
organismo. Ela simplesmente identifica comportamentais, alcançando também as
os tipos de relações causais buscadas pela próprias condições orgânicas e os eventos
ciência comportamental skinneriana; ela privados de cada um.
é a direção na qual os analistas do Micheletto (2000) sugere que com o conceito
comportamento procuram as relações
de operante e com o modelo de seleção por
que explicam seu objeto de estudos
(Chiesa, 1994, pp.114-115). conseqüências torna-se discutível se uma
A complexidade do fenômeno comporta- análise funcional pode/deve ater-se à
mental adquire amplo reconhecimento à identificação das variáveis atuais às quais o
medida que o comportamento humano torna- comportamento está funcionalmente
iii relacionado. Na medida em que o fenômeno
se o objeto central da análise skinneriana . É
sobre o homem que operam os três conjuntos comportamental passa a ser abordado não
de variáveis ambientais (filogenéticas, apenas do ponto de vista da relação presente
ontogenéticas e culturais), conjugando entre variáveis, mas, também, do modo como
determinações de modos únicos e gerando tais relações são produzidas e/ou mantidas,
uma variada gama de repertórios uma outra perspectiva de análise se instaura.
comportamentais. Micheletto (1995) aponta Micheletto (2000) deriva das afirmações de
que: Skinner sobre o assunto duas possibilidades: a
A variabilidade, ao nível humano, está primeira, de supor “que as conseqüências
associada a determinações múltiplas - a passadas não participam das relações
multiplicidade e variabilidade presentes funcionais. Sendo assim, o que eu posso falar
em cada nível de determinação se
potencializam ao se conjugarem os vários do comportamento não incorpora suas
níveis, tornando pouco prováveis características significativas” (p.120). A
semelhanças nas condições de segunda possibilidade é colocada nos
determinação do comportamento. Estas seguintes termos:
determinações se inter-relacionam, podemos (...) supor que as conseqüências
agindo juntas ou às vezes de forma passadas participam da análise funcional,
conflitante e produzindo também efeitos o que implicaria mudanças na noção de
múltiplos (Micheleto, 1995, p.167). relação funcional. Falta responder como
A variabilidade pode também ser abordada incorporar outras variáveis. Consi-
com os conceitos correspondentes aos derando uma diversidade de sentidos
produtos daqueles conjuntos de variáveis que que se pode atribuir a variáveis
ambientais - ambiente externo, ambiente
afetam o indivíduo: a filogênese produz o
interno, ambiente imediato, ambiente
organismo, a ontogênese produz a pessoa (ou relacionado à história passada, ambiente
iv
as pessoas, muitas vezes sob a mesma pele ) e genético, ambiente cultural ou social que
a cultura produz o self (conjunto de estados variáveis deveriam estar envolvidas na
internos observados) (cf. Skinner, 1989). Desse função? Como considerar na função
variáveis de complexidade tão diversa e
modo, o caráter idiossincrático do que resulta
iii
Micheletto (1995) sugere que tanto o interesse de Skinner pelo comportamento humano aumenta com o desenvolvimento de sua obra,
quanto o reconhecimento da complexidade do fenômeno comportamental assume maior dimensão com a elaboração do modelo de
seleção por conseqüências. Diz ela: “O foco do interesse no fazer do organismo se mantém, mas adquire um novo sentido e toma amplas
dimensões no decorrer [da] obra [de Skinner]; na fase final de sua obra seu interesse dirige-se principalmente para o fazer humano. Há
uma ampliação de seu objeto de estudo, ou seja, seu objeto abarca o comportamento humano em toda a sua complexidade” (p.154);
“Durante toda a sua obra, Skinner trabalha com o comportamento como objeto de estudo, mas a abrangência do que pode ser entendido
como comportamento se estende no desenvolvimento de sua ciência (...) Skinner mantém a suposição, do primeiro momento de sua
obra, de que o comportamento é determinado, mas apresenta uma noção de determinação muito ampliada. As determinações se tornam
múltiplas e variáveis na medida em que uma nova noção de determinação se desenvolve” (p.160).
iv
Diz Skinner (1989): “As contingências de reforçamento operante ... dão origem a repertórios chamados pessoas. Diferentes
contingências produzem diferentes pessoas, possivelmente sob a mesma pele, como mostram os exemplos clássicos de múltiplas
personalidades” (Skinner, 1989a, p.28).
sociais e biológicas, a indicação das variáveis funcionais alternativas para casos clínicos é
relacionadas envolve a explicação das funções infinita e mesmo o número de análises
de um fenômeno, ou “a forma da relação entre funcionais precisas (efetivas) para um caso
as variáveis especificadas” (p.182), o que particular é provavelmente muito grande”
conduz a uma indicação de causalidade. A (p.373). Hawkins faz os comentários acima no
psicologia conjugaria as duas perspectivas, na contexto de uma discussão sobre a validade,
medida em que se ocupa “tanto dos para os analistas do comportamento, de
sistemas nomotéticos de classificação e
determinantes do comportamento, quanto da
diagnóstico, particularmente o DSM (Manual
forma das relações entre tais determinantes e
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
o comportamento” (p.182).
Mentais APA, 1994), naquela ocasião em sua
Limitado à identificação de variáveis
terceira edição. O debate sobre a compa-
relacionadas ao fenômeno comportamental e
tibilidade de uma perspectiva funcional na
ao modo como essas relações se dão, o uso
avaliação e intervenção clínicas com sistemas
psicológico da análise funcional não
nomotéticos de classificação e diagnóstico
constituiria uma teoria, mas apenas “uma
será abordado adiante neste trabalho. Do
estratégia para a resolução de problemas”
ponto de vista da análise de Hawkins, o autor
(Owens e Ashcroft, 1982, p.188). Também não
apresenta argumentos contrários a uma tal
estaria comprometido com nenhuma
v compatibilidade, mas também indica a
“perspectiva teórica particular” (p.188),
existência de trabalhos favoráveis ao uso do
embora implique a adesão ao “paradigma
DSM por terapeutas comportamentais.
ABC”, a “investigação do comportamento (B),
Uma revisão mais sistemática dos usos da
seus antecedentes (A) e suas conseqüências
análise funcional na terapia comportamental é
(C)” (p.188).
apresentada por Haynes e O'Brien (1990). Os
Owens e Ashcroft (1982) também salientam
autores identificam, na literatura da terapia
que, enquanto estratégia, a análise funcional
comportamental, 11 definições diversas para a
aplica-se tanto a clientes individuais quanto
análise funcional: a) “uma especificação de
institucionais. No entanto, especificamente
comportamentos alvo” (p.653); b)
abordando seu uso clínico na avaliação e
“demonstrações de 'controle' através da
intervenção com clientes individuais,
manipulação de variáveis controladoras
ressaltam o caráter idiossincrático de seus
(causais) hipotetizadas (p.653); c)
produtos. “Na prática, é claro, é normal que a
“especificação de fatores controladores para
análise funcional seja altamente complexa e,
uma classe de problemas de comportamento,
como decorrência, específica àquele
em vez de para um caso individual” (p.654); d)
indivíduo” (p.183).
“identificação de fatores situacionais (setting
Hawkins (1986) também destaca o caráter
factors)” (p.654); e) “relações estímulo-
idiográfico da intervenção baseada na análise
resposta ou resposta-resposta” (p.654); f)
funcional. Diz ele que “as funções que se
“fatores motivacionais e de desenvol-
descobrirão em um caso individual serão
vimento” (p.654); g) “identificação de relações
únicas, individuais, ou idiográficas” (p.371).
funcionais potenciais, alternativas àquelas em
De forma semelhante, no interior de um
operação para um cliente” (p.654); h)
mesmo caso, dada a complexidade das redes
“previsões sobre o comportamento de um
de determinação de instâncias de
cliente” (p.654); i) “especificação de
comportamento, a pluralidade de análises
componentes da resposta” (p.654); j)
funcionais é possível. “O número de análises
v
Segundo Owens e Ashcroft (1982) a observação freudiana de que a “agorafobia pode servir à função de evitar situações que produzem
ansiedade pode claramente ser vista como constituindo uma análise funcional” (p.184), tanto quanto a análise comportamental de
Fester para a depressão.
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Análise Funcional: Definição e Aplicação na Terapia Analítico-Comportamental.
não nos leva longe, se nosso interesse está em análise funcional pode ser tomada como
entender seu comportamento a fim de ajudar produto no sentido de que já é uma
a mudá-lo” (p.272). proposição de relações, a partir de uma coleta
Um aspecto da interpretação de Cone (1997) e análise sistemática de dados do caso sob
que pode apontar para um modo mais amplo exame. Em qualquer das definições, a
de compreensão da intervenção compor- preocupação é com a identificação de relações
tamental está em sua proposição de que a ambiente-comportamento decorrentes da
análise funcional corresponde à etapa de teste história ambiental dos indivíduos e com o
das hipóteses explicativas para o problema planejamento de uma intervenção baseada
sob exame, sendo precedida por uma etapa de naquela identificação.
avaliação funcional, que inclui a coleta de Alguns autores tratam a análise funcional
informações e a formulação de hipóteses. A como dissociada de constrangimentos
contribuição não reside na introdução de teóricos particulares (e.g. Owens e Aschcroft,
novas expressões para designar as diferentes 1982; Samson e McDonnell, 1990) e mesmo
etapas do processo terapêutico, mas em como de uso não limitado à intervenção com
chamar atenção para o fato de que, enquanto clientes individuais (e.g. Owens e Ashcroft,
na etapa de testes da hipótese a intervenção do 1982; Sturmey, 1996). Se estas são
terapeuta atém-se a variáveis observáveis, nas possibilidades contidas numa noção ampla de
etapas de coleta de informações e formulação análise funcional, é também verdade que no
de hipóteses a referência a eventos remotos e interior de uma prática orientada por
não manipuláveis é possível (e eventualmente princípios analítico-comportamentais a
necessária). análise funcional assume características
particulares, que podem ser resumidas nos
1.3 Aplicação clínica da análise funcional: seguintes pontos tratados acima: a)
Aspectos definidores em acordo com o selecionismo como modelo causal e
sistema explicativo analítico-compor- funcionalismo como princípio de análise; b)
tamental. externalismo como recorte de análise; c)
complexidade, variabilidade, e caráter
Apesar de sua importância para a constituição idiossincrático das relações comportamentais;
do sistema explicativo analítico-compor- d) critério pragmático na definição do nível de
tamental, são poucas as obras nas quais o intervenção; e) distinção entre alcance da
modelo causal elaborado por Skinner é avaliação e alcance da intervenção. Estes
tratado detalhadamente (Moore, 1984). A pontos podem ser resumidamente definidos
lacuna talvez explique parcialmente a como a seguir.
diversidade de leituras relativas ao uso clínico a) selecionismo como modelo causal e
da análise funcional, ora referida como funcionalismo como princípio de análise.
estratégia (Owens e Ashcroft, 1982) ou A rejeição de modelos estruturalistas desde
método (Hayes e Follette, 1992; Samson e o princípio afasta a análise do comporta-
McDonnell, 1990) através do qual o analista mento de uma preocupação estrita com a
do comportamento reconstitui processos topografia comportamental. A posterior
comportamentais e a partir da qual planeja a adoção do modelo de seleção por
mudança, ora citada como produto de um tal conseqüências representa o reconheci-
processo (Haynes e O'Brien, 1990). O sentido mento da complexidade dos processos de
com que Haynes e O'Brien (1990) propõem a determinação dos comportamentos
análise funcional como produto é o mesmo humanos, ao mesmo tempo em que indica
contido na distinção de Cone (1997), entre a adoção de uma nova versão de
avaliação funcional e análise funcional. A funcionalismo (Micheletto, 1995), cuja
ênfase recai nas funções do compor- cia, a análise funcional e/ou a intervenção
tamento na produção de conseqüências por ela orientada são idiográficas
ambientais. A noção de função caracte- (Hawkins, 1986; Haynes e O'Brien, 1990;
rística de uma interpretação selecionista Owens e Ashcroft, 1982; Samson e
difere daquela presente na noção McDonnell, 1990; Sturmey, 1996), não são
matemática de função (Micheletto, 2000; possíveis generalizações amplas da
Owens e Ashcroft, 1982; Samson e intervenção (Owens e Ashcroft, 1982;
Samson e McDonnell) e a pluralidade de
McDonnell, 1990; Sturmey, 1996), sendo
análises funcionais é reconhecida como
essa última insuficiente para dar conta da
uma possibilidade mesmo no interior de
análise funcional psicológica, que se
um único caso (Hawkins, 1986), o que
interessa não apenas pela identificação de
contraria o apelo a uma formalização da
variáveis relacionadas, mas também pela
análise funcional que a torne replicável.
identificação das relações de causação e
d) critério pragmático na definição do nível
pelo modo como estas relações se
de intervenção. A análise funcional
constituem e se mantêm.
desenvolve-se dentro de limites que
b) externalismo como recorte de análise. Ao
atendem ao interesse pela solução de
interpretar o fenômeno comportamental
problemas comportamentais concretos (cf.
de uma perspectiva funcional, a análise do
Hayes e Follette, 1992; Haynes e O´Brien,
comportamento busca identificar relações
1990; Sturmey, 1996). É a preocupação com
do indivíduo com o ambiente que lhe é
o atendimento deste critério que leva
externo. O interesse por relações neste
Haynes e O´Brien (1990) a proporem uma
nível exclui o apelo a construtos hipotéticos
definição de análise funcional que a limita a
(Jones e Owens, 1992; McDonnell e
variáveis “controláveis” e Jones e Owens
Samson, 1992; Samson e McDonnell; 1990),
(1992) a fazerem restrições ao uso de
mas não a investigação dos eventos
“inobserváveis”. Este critério também está
privados (Sturmey, 1996), Ao contrário, a
presente na proposição de Sturmey (1996)
compreensão destes eventos requer sua
de que a análise aplicada do compor-
análise no contexto de relações do
tamento trabalha com a análise funcional
indivíduo com contingências sociais.
enquanto “análise descritiva compor-
Tampouco representa a negação da
tamental”, que envolve a identificação de
importância de variáveis biológicas no
relações atuais de tríplice contingência
fenômeno comportamental, mas apenas
(ainda que não envolva manipulação
limita o campo das relações das quais o
experimental). O caráter pragmático da
analista do comportamento se ocupa ao
análise funcional na terapia compor-
abordar o fenômeno comportamental
tamental vai sendo elaborado, então, de
(Moore, 1984).
modo entrelaçado e nem sempre coerente
c) complexidade, variabilidade, e caráter
com outros aspectos definidores da análise
idiossincrático das relações comporta-
e intervenção baseada neste modelo,
mentais. Da complexidade dos processos
requerendo um tratamento mais cuidado-
de determinação do comportamento
so. Em particular, torna-se necessário
humano resultam produtos variáveis e
diferenciar o interesse na solução dos
idiossincráticos. A variabilidade manifes-
problemas (do qual a análise funcional
ta-se inter e intra-sujeitos (Micheletto,
pertinente a um modelo de intervenção
1995) e são seus produtos idiossincráticos
analítico-comportamental efetivamente
os comportamentos em geral, condições
não se afasta e que pode ser atendido de
orgânicas e processos comportamentais
modos diversos) de princípios que supos-
privados (Skinner, 1989). Como decorrên-
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Análise Funcional: Definição e Aplicação na Terapia Analítico-Comportamental.
tamente são condição para sua realização. funcional nem sempre “explica” o
e) distinção entre alcance da avaliação e comportamento, uma vez que se atém ao
alcance da intervenção. Na análise que é manipulável, pode bem ser
funcional do fenômeno comportamental, considerada pertinente a uma etapa de
uma restrição às variáveis presentes pode teste de hipóteses e definição da
representar a não consideração dos intervenção (Cone, 1997). A diferenciação
processos amplos de determinação estabelecida por Samson e McDonnell
(Micheletto, 2000); de outro lado, a referên- (1990) entre força explicativa e capacidade
cia a todas as variáveis com as quais o preditiva das análises, salientando a
comportamento está historicamente necessidade de integração das duas, sugere
relacionado pode comprometer a precisamente o movimento necessário
instrumentalidade da análise para a entre uma avaliação que leve em conta os
solução do problema (Haynes e O'Brien, diferentes processos de determinação do
1990). Este aparente paradoxo pode ser comportamento e a necessidade de
equacionado por meio de uma delimitação da intervenção para a solução
diferenciação das etapas da intervenção concreta dos problemas. A dificuldade é
baseada na análise funcional (Cone, 1997). também detectada na concordância de
A referência a eventos inobserváveis Sturmey (1996) com a definição de Haynes
(Samson e McDonnell, 1990) e a eventos e O´Brien (1990), interpretada como
remotos e/ou não manipuláveis (Cone, correspondendo a excluir da análise
1997) é compatível e pode ser necessária relações entre variáveis que não podem ser
nas etapas de coleta de informações e modificadas, mas que também têm um
elaboração de hipóteses. Isto é, a rejeição do “alcance insignificante” (pp.10-11). Como
apelo a construtos hipotéticos não as categorias de disponibilidade para
desqualifica a proposição de Samson e manipulação e significância não são
McDonnell de que a análise funcional em coincidentes, a melhor solução parece ser a
algumas circunstâncias precisa levar em proposta por Cone (1997), de distinção do
conta fenômenos inobserváveis (porém alcance das análises nas diferentes etapas,
interpretados sob a ótica analítico- levando em conta a problematização de
comportamental), a exemplo da inclusão Micheletto (2000) sobre o que pode vir a se
de eventos privados (Sturmey, 1996)) no constituir em um modelo de análise
escopo da análise funcional. A proposição funcional pertinente, derivada de visão
de Haynes e O´Brien (1990) de que a análise selecionista do comportamento.
Referências
Skinner, B. F. (1989). The initiating self. Em Skinner, B. F. Recent Issues in the Analysis of Behavior
(pp.27-33). Columbus, Ohio: Merril.
Sturmey, P. S. (1996). Functional Analysis in Clinical Psychology. England, John Willey & Sons.
Tourinho, E. Z. & Neno, S. (2003). Effectiveness as truth criterion in behavior analysis. Behavior and
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