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PSICANÁLISE

Uma das principais correntes na história da psicologia é a teoria psicanalítica


de Sigmund Freud. Este sistema teórico é um modelo do desenvolvimento da
personalidade, uma filosofia da natureza humana e um método de psicoterapia.
Historicamente, a psicanálise constitui a primeira das três maiores escolas de
psicologia, sendo o behaviorismo a segunda, e a terceira, ou “terceira força”, a
psicologia humanista existencial. É importante reconhecer que Freud foi o
criador de uma abordagem psicodinâmica à psicologia, por lhe ter
proporcionado um novo modo de olhar e descobrir novos horizontes. Freud
estimulou uma grande soma de controvérsias, de atividade exploratória e de
pesquisa, e lançou os fundamentos sobre os quais se fixam muitos sistemas
posteriores.

De um ponto de vista histórico, as maiores contribuições da teoria psicanalítica são as


seguintes:

(1) A vida mental do indivíduo pode ser compreendida e é possível aplicar-se insights
sobre a natureza humana para aliviar certas formas de sofrimento.

(2) O comportamento humano é quase sempre governado por fatores inconscientes.

(3) O desenvolvimento durante a primeira infância tem um efeito profundo sobre o


funcionamento da pessoa adulta.

(4) Esta teoria produziu um sistema de referência significativo para a compreensão dos
meios através dos quais um indivíduo tenta enfrentar a ansiedade, postulando
mecanismos que servem, ao mesmo indivíduo, para evitar vir a ser dominado pela
ansiedade.

(5) A abordagem psicanalítica oferece recursos de decifração do inconsciente por meio


da análise dos sonhos, resistências e transferências.

Esse artigo bibliográfico, objetiva fornecer ao estudioso da psicopedagogia,


fundamentos teóricos básicos sobre a Psicanálise. Para isso recorreremos ao texto de
Gerald Corey(1983;p.25-33), Editado pela Campus, cidade do Rio de Janeiro, cujo
título é “Técnicas de Aconselhamento e Psicoterapia”. Também aqui recorreremos à
nossa vivência de ser psicólogo, pedagogo e educador especializado e especialista em
psicopedagogia, e outros referenciais teórico, além de Corey, nossa base.

2.CONCEITOS-CHAVES NA PSICANÁLISE

2.1. ESTRUTURA DA PERSONALIDADE


De acordo com a visão psicanalítica, a estrutura da personalidade consiste em três
sistemas: o id/isso, o ego/eu e o superego/supereu. Trata-se de nomes para processos
psicológicos, não devendo ser imaginados como termos-vida que, separadamente,
agenciem a personalidade: o processo desses três sistemas é dinâmico, complexo e
muito rico. O id/isso é o componente biológico (onde se localiza o inconsciente: outra
cena), o ego/eu é o componente psicológico (a consciência ou o que dela resta) e o
superego/supereu, o componente social (moralidade).

O id é o sistema original da personalidade. Ao nascer, a pessoa reduz-se ao id, puro


desejo instintivo. Este é a fonte primária da energia psíquica e a sede dos instintos.
Carece de organização, é cego, exigente e insistente. O id não pode tolerar tensão,
funcionando no sentido de liberar as tensões imediatamente e voltar a uma condição
homeostática (de equilíbrio interno). Regido pelo princípio do prazer, cujo objetivo é
reduzir a tensão, evitar a dor e obter prazer, o id é ilógico, amoral e impulsionado por
uma deliberação: satisfazer necessidades instintivas em conformidade com o princípio
do prazer. O id nunca sofre maturação, permanecendo, de modo metafórico como uma
criança mimada da personalidade do ser: não pensa; apenas deseja ou age. O id é
inconsciente.

O Ego (eu)

O ego entra em contato com o mundo exterior, a realidade. O ego é o executivo da


personalidade, aquele que comanda, controla e regulamenta. Metafóricamente funciona
como um “guarda de trânsito” para o id, o superego e o mundo exterior: sua tarefa
principal é a mediação entre os instintos e o meio circundante. O ego controla a
consciência e facilita o exercício a censura. Regido pelo princípio de realidade,
desenvolve o pensamento lógico e realista, e formula planos de ação para satisfazer as
necessidades. Qual a relação entre o ego e o id? O primeiro é a sede da inteligência e da
racionalidade, verificando e controlando os impulsos cegos do id. Enquanto o id
conhece apenas a realidade subjetiva, o ego distingue entre as imagens mentais e as
coisas no mundo exterior. Entretanto, o EU não é SENHOR de sua própria CASA, pois
a estrutura, isto é, o que segura a casa é o inconsciente. Mas , se o , é “terra onde
ninguém pisa”, como ele fica? Desprovido da certeza, e temeroso daquilo que não sente,
mas sabe que uma represa prestes a estourar. Assim não se pode falar do exercício de
ser senhor de nada.

O superego (supereu)

O superego é o setor moral, ou a instância jurídica da personalidade. Constitui o código


moral de uma pessoa, preocupando-se centralmente com o fato de uma ação ser boa ou
má, certa ou errada. Representa o ideal, mais do que o real, e luta não pelo prazer, mas
pela perfeição. Representa os valores e ideais tradicionais da sociedade, da cultura sob a
forma em que são transmitidos da sociedade pelos pais aos filhos. Funciona no sentido
de inibir os impulsos do id, de persuadir o ego a substituir os objetivos realistas pelos
morais e lutar pela perfeição. Assim, o superego, enquanto internalização dos padrões
dos pais e da sociedade, está relacionado com recompensas e punições psicológicas. As
recompensas são os sentimentos de orgulho e auto-estima; as punições são sentimentos
de culpa e de inferioridade.

O delinqüente juvenil tem excesso de ID/ISSO? Falta a ele a moralidade do


SUPEREGO/SUPEREU?

O delinqüente juvenil teria tanto SUPEREGO, que não suportando tamanha culpa, para
aliviar-se, cometeria delitos, para assim justificar tanta culpabilidade introjetada. Essa,
pelo menos, é uma das hipóteses levantadas pelos psicanalistas, a partir de suas práticas
clínicas.

2.2. VISÃO DA NATUREZA HUMANA

A visão freudiana a respeito da natureza humana é essencialmente pessimista,


determinista, mecanicista e reducionista. Segundo Freud, o homem é determinado por
forças irracionais, motivações inconscientes, necessidades e pulsões biológicas e
instintivas, e pôr eventos psicossexuais que se dão durante os primeiros cinco anos de
vida.

Os homens são vistos nos termos de sistemas de energia. Conforme o ponto de vista
freudiano ortodoxo, a dinâmica da personalidade consiste nos modos de distribuição da
energia psíquica entre id, ego e superego. Já que a energia é limitada, um sistema ganha
o controle sobre a energia disponível à custa dos outros dois sistemas. O comportamento
é determinado por essa energia psíquica.

Freud dava também ênfase ao papel dos instintos. Todos os instintos são inatos e
biológicos. Freud destacava os instintos sexuais e agressivos. Via todo o
comportamento humano como determinado pelo desejo de obter prazer e evitar a dor. O
homem possui tanto instintos de vida quanto instintos de morte; a vida não é mais do
que uma via indireta para a morte.

2.3. CONSCIÊNCIA E INCONSCIÊNCIA

Talvez a maior contribuição de Freud sejam os conceitos de inconsciente e de níveis de


consciência, que constituem as chaves para a compreensão do comportamento e dos
problemas da personalidade. O inconsciente não pode ser estudado diretamente; é
inferido do comportamento. Entre as evidências clínicas para postular-se o conceito de
inconsciente estão as seguintes:

(1) os sonhos, que são representações simbólicas de necessidades, desejos e conflitos


inconscientes;

(2) lapsos de língua e o esquecimento, por exemplo, de um nome familiar. Nesses casos
a pessoa troca nomes de alguém, faz um gesto psicomotor antagônico ao que desejava
etc., e esses “atos falhos””ou “lapsos” tem significados que a pessoa não sabe, e nem
sente. E mesmo que se diga a ela o significado, ela resistirá, e não irá escutar. Por isso
dissemos que interpretar assim-assim é “psicanálise selvagem”, pois a interpretação
surge ao longo do tratamento psicanalítico, e é referendado totalmente no estudo
minucioso do caso;

(3) a sugestão pós-hipnótica;

(4) material derivado por meio de técnicas de associação livre;

(5) material derivado pela aplicação de técnicas projetivas (testes psicológicos de


personalidade que obedecem uma “lei”: diante de estímulos confusos e ambíguos o
cliente “projeta”, “joga para fora” etc. muito de si-mesmo, do seu mais profundo ser, do
seu inconsciente etc. Assim, o cliente fala, por exemplo o que vê nas lâminas de
Rorschach, Zulliger, TAT etc., e o que ele vê, mas não sabe e nem sente, é que vê a si-
mesmo. Se o cliente é concida a desenhar e inventar histórias como o THP, o Machover,
o Teste Projetivo de Avaliação do Auto-Conceito de Pinel (1989) etc. , o cliente
desenha a si-mesmo etc.)

A consciência, para Freud, é uma fina camada de mente como um todo. À semelhança
da porção maior de um iceberg, que jaz abaixo da superfície da água, a maior parte da
mente existe sob a superfície da consciência. O inconsciente, residindo fora da
consciência, armazena todas as experiências, recordações e material reprimido.
Necessidades e motivações inacessíveis - isto é, fora da consciência – estão também
fora da esfera de controle. Freud acreditava que a maior área de funcionamento psíquico
existe no domínio fora-da-consciência. Em função disso, a intenção da terapia
psicanalítica é tornar consciente os motivos inconscientes, pois somente quando alguém
se torna consciente de suas motivações será capaz de escolha. É da maior importância
compreender o papel do inconsciente para aprender a essência do modelo psicanalítico
do comportamento. Embora fora da possibilidade de consciência, o inconsciente
influencia o comportamento. Os processos inconscientes são as raízes de todas as
formas de sintomas e comportamentos neuróticos. Dentro desta perspectiva, a “cura”
está baseada no desvelamento do sentido dos sintomas, das causas do comportamento e
do material reprimido que interfere no funcionamento saudável.

2.4. ANSIEDADE

A apreensão do conceito de ansiedade é também essencial para compreender-se a visão


psicanalítica da natureza humana. A ansiedade neurótica é um estado de tensão que nos
motiva a fazer algo. Sua função é alertar para o perigo iminente – isto é, avisar ao ego
que, caso não sejam tomadas medidas apropriadas, o perigo pode crescer a ponto de ele
ser derrubado. Quando o ego não consegue controlar a ansiedade usando de métodos
racionais e diretos, recorre então a outros, não realistas – a saber, ao tipo de
comportamento orientado para a defesa do ego (ver a seguir).

Há três espécies de ansiedade: com base na realidade, neurótica e moral. A ansiedade


com base na realidade é o medo do perigo proveniente do mundo exterior, sendo o nível
de ansiedade proporcional ao grau de ameaça real. A ansiedade é o medo de que os
instintos escapem ao controle e levem a pessoa a realizar algo que possa merecer
punição. A ansiedade moral é o medo da própria consciência. Um indivíduo cuja
consciência seja bem desenvolvida* tende a sentir-se culpado, quando faz algo contrário
ao seu código moral.

2.5.. MECANISMOS DE DEFESA DO EGO

Tendo em vista que os orientadores educacionais, psicólogos, profissionais da


psicopedagogia etc. trabalham com resistências e defesas de seus clientes, torna-se
essencial uma compreensão da natureza e funcionamento das defesas comuns do ego ou
eu. Os mecanismos de defesa do ego auxiliam o indivíduo a enfrentar a ansiedade e a
defender o ego quando atacado. Não são necessariamente patológicos e podem ter valor
adaptativo, se não chegarem a se tornar um estilo de vida tendente a evitar o confronto
com a realidade. As defesas usadas por um indivíduo dependem do seu nível de
desenvolvimento e do grau de ansiedade. Os mecanismos de defesa apresentam duas
características em comum: ou negam, ou distorcem a realidade, e operam em nível
inconsciente. A teoria de Freud é um modelo de redução de tensão, ou um sistema
homeostático.

Negação: defender-se da ansiedade “fechando os olhos” à existência da realidade


ameaçadora. A pessoa recusa-se a aceitar como fato algum aspecto da realidade que
provoca ansiedade. A ansiedade em relação à morte da pessoa amada manifesta-se,
muitas vezes, pela negação do fato da morte. Em situações trágicas, tais como a guerra e
outros desastres, as pessoas tendem a ficar cegas diante de realidades cuja aceitação
seria dolorosa demais.

Projeção: atribuir a outra pessoa aqueles traços que são inaceitáveis para o próprio ego.
O indivíduo vê nos outros as coisas que lhe desagradam e que não pode aceitar em si
mesmo. Assim, pode-se condenar os outros por seus “procedimentos pecaminosos” e
negar que se possua tais impulsos para o mal. Para evitar a dor decorrente do
reconhecimento, em si mesmo, de tendências julgadas imorais, a pessoa divorcia-se de
tal realidade.

Fixação: ficar “preso” a um dos estágios primitivos do desenvolvimento, porque dar o


próximo passo envolveria a expectativa de ansiedade. A criança superdependente
exemplifica a defesa por fixação; a ansiedade impede a criança de aprender a tornar-se
independente.

Racionalização: munir-se de “boas” razões para justificar o ego ferido; auto-engano, de


forma a que a realidade de algum desapontamento não seja tão penosa. Assim, quando
as pessoas não conseguem as posições que pretendiam em seu trabalho, muitas vezes
descobrem as mais variadas razões para se sentirem realmente contentes por não terem
alcançado aqueles postos. Ou, ainda, um rapaz, sendo abandonado pela namorada,
talvez acalme seu ego atingido persuadindo-se de que ela não valia tanto, afinal, e de
que estava já a ponto de descartar-se dela.
Sublimação: usar formas superiores e mais socialmente aceitáveis, para dar vazão aos
impulsos básicos. Por exemplo, os impulsos agressivos podem ser canalizados para
esportes competitivos, objeto de aprovação social, de modo que a pessoa encontre um
meio de expressar sentimentos agressivos e, como benefício adicional, seja
freqüentemente recompensada pelo sucesso alcançado nas competições.

Deslocamento: dirigir a energia para outro objeto ou pessoa, quando o objeto ou pessoa
original se encontra fora do alcance. O jovem que, cheio de ressentimento, gostaria de
atacar seus pais, atinge um alvo mais seguro: sua irmã menor (ou o gato, se ela não
estiver perto).

Repressão: esquecer conteúdos que são traumáticos ou ansiógenos; jogar a realidade


inaceitável no inconsciente, ou nunca tornar consciente o material conflitante. A
repressão, um dos conceitos freudianos mais importantes, é a base para muitas outras
defesas do ego e para perturbações neuróticas.

Formação reativa: comportar-se de modo diametralmente oposto aos desejos


inconscientes; quando sentimentos profundos são ameaçadores, o indivíduo usa a
cobertura do comportamento oposto para negar esses sentimentos. Por exemplo, devido
à culpa, a mãe que sente estar rejeitando seu filho pode caminhar para o comportamento
oposto da superproteção e do “amor em excesso”. Pessoas que são por demais
simpáticas e doces podem estar escondendo hostilidade reprimida e sentimentos
negativos.

3. DESENVOLVIMENTO HUMANO E SUA PERSONALIDADE

3.1. IMPORTÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO PRIMITIVO

Uma contribuição significativa do modelo psicanalítico é o delineamento dos estágios


do desenvolvimento psicossocial e psicossexual da pessoa, desde o nascimento até a
idade adulta. Isto proporciona, ao orientador, os instrumentos conceituais para
compreender tendências ocorrentes no desenvolvimento, padrões comportamentais
típicos esperados nos vários estágios do crescimento, o funcionamento normal e
anormal em termos pessoais e sociais, necessidades críticas e sua satisfação ou
frustração, origens do desenvolvimento defeituoso da personalidade, conducente a
problemas posteriores de ajustamento, e usos sadios/não-sadios dos mecanismos de
defesa do ego.

Em minha opinião, uma compreensão da visão psicanalítica sobre o desenvolvimento é


indispensável, caso o orientador pretenda trabalhar em profundidade com seus clientes.
Segundo minha experiência, os problemas mais típicos trazidos pelas pessoas, para o
aconselhamento, individual ou de grupo, são: (1) a incapacidade de confiar em si
mesmo e nos outros, o medo de amar e de estabelecer relações íntimas, a diminuição da
auto-estima; (2) a incapacidade de reconhecer e expressar sentimentos de hostilidade,
ressentimento, raiva e ódio, a negação do próprio poder como pessoa e a falta de
sentimentos de autonomia; (3) a incapacidade de aceitar plenamente a própria
sexualidade e os sentimentos sexuais, dificuldade de aceitar-se como homem ou mulher
e medo da sexualidade. De acordo com a visão psicanalítica freudiana, estas três áreas
do desenvolvimento pessoal e social (amar e confiar, lidar com sentimentos negativos e
desenvolvimento de uma aceitação positiva da sexualidade) são todas fundadas nos
cinco primeiros anos de vida. Este período do desenvolvimento constitui as fundações
sobre as quais é construído o desenvolvimento posterior da personalidade.

3.2. O PRIMEIRO ANO DE VIDA: A FASE ORAL

Freud postulou a teoria da sexualidade infantil. O fracasso da sociedade em reconhecer,


até então, os fenômenos da sexualidade infantil pode ser explicado por tabus culturais e
pela repressão feita, por todo indivíduo, sobre as experiências da infância e da meninice,
nesta área.

Do nascimento ao final do primeiro ano, o bebê experimenta a fase oral. Sugar o seio
materno satisfaz a necessidade de alimentação e de prazer. Sendo a boca e os lábios
zonas erógenas sensíveis durante este período, o bebê obtém prazer erótico ao mamar.

A voracidade e a possessividade podem desenvolver-se como resultantes de não se


conseguir alimento ou amor suficiente, durante os primeiros anos de vida. As coisas
materiais que a criança busca adquirir torna-se substitutivos para o que ela realmente
quer – ou seja, alimento e amor vindos da mãe. Problemas de personalidade posteriores,
procedentes da fase oral, representam o desenvolvimento de uma visão do mundo
baseada em desconfiança, medo de aproximar-se dos outros, rejeição do afeto, medo de
amar e confiar, rebaixamento da auto-estima, isolamento e fuga, incapacidade de
estabelecer e manter relações intensas.

O principal padrão de comportamento esperado na fase é a aquisição do sentido de


confiança – confiança nos outros, no mundo e em si mesmo. O amor é a melhor
proteção contra o medo, a insegurança e o sentimento de inadequação; as crianças que
são amadas pelos outros apresentam pouca dificuldade de se aceitarem a si mesmas.
Caso se sintam indesejadas, inaceitas e não amadas, torna-se, então, difícil a auto-
aceitação. As crianças rejeitadas aprendem a desconfiar do mundo; vêem-no como um
lugar ameaçador. O efeito da rejeição infantil é a tendência, na meninice, a ser medroso,
inseguro, necessitado de atenção, ciumento, agressivo, hostil e solitário.

3.3.. DO PRIMEIRO AO TERCEIRO ANO: A FASE ANAL

Assim como na fase oral é necessário que a pessoa tenha a vivência de uma
dependência sadia, confiança no mundo e aceitação do amor, também a fase anal é outro
marco no desenvolvimento individual. As tarefas a serem dominadas durante este
estágio são a aprendizagem da independência, do poder pessoal e da autonomia, assim
como aprender a reconhecer e lidar com os sentimentos negativos.
Começando no segundo e estendendo-se ao terceiro ano, a zona anal passa a ter uma
grande significação para a formação da personalidade. Neste período, as crianças
deparam continuamente com exigência dos pais, experimentam frustrações ao
manipularem objetos e explorarem seu ambiente, e são exigidas a terem controle sobre
seus esfíncteres. Iniciando-se o treinamento da higiene no decorrer do segundo ano,
passam as crianças por uma primeira experiência de disciplina. O método adotado nesse
treinamento e os sentimentos, atitudes e reações dos pais em relação à criança têm
efeitos de longo alcance sobre a formação de traços de personalidade. Muitas das
atitudes que as crianças aprendem acerca das funções de seu próprio corpo são
resultados diretos das atitudes de seus pais. Problemas posteriores, tais como a
compulsão, tem raízes na maneira dos pais criarem seus filhos durante esta fase.

No período anal do desenvolvimento, a criança certamente sentirá os chamados


sentimentos negativos, tais como a hostilidade, a destrutividade, o ressentimento, a
raiva, o ódio etc. É importante para as crianças aprenderem que estes sentimentos são
aceitáveis. Muitos clientes em terapia ainda não aprenderam a aceitar seu ressentimento
e ódio em relação àqueles que amam. Reprimiram tais sentimentos, quando crianças,
uma vez que lhes ensinaram, direta ou indiretamente, que os mesmos eram ruins e que a
aceitação dos pais seria retirada se expressassem algo dessa natureza. À medida que o
processo de repudiar sentimentos começa, inicia-se igualmente a incapacidade da
pessoa para aceitar muitos dos seus sentimentos reais.

É ainda importante para a criança, neste estágio, a aquisição do sentido do seu próprio
poder, de sua independência e autonomia. Se os pais fazem coisas demais por seus
filhos, realmente lhes ensinam que são incapazes de agirem por conta própria. A
mensagem transmitida é: “olha, deixe-me fazer isso e aquilo para você, porque você é
fraco demais e incompetente para fazer essas coisas sozinho”. Nesse momento, as
crianças precisam experimentar, cometer erros, sentir que ainda estão bem apesar dos
erros e reconhecer um pouco de seu poder como indivíduos separados e distintos.
Muitos clientes estão sendo atendidos justamente porque perderam contato com sua
capacidade para o poder, estando em luta por uma definição de quem são e do que são
capazes de fazer.

3.4.. DO TERCEIRO AO QUINTO ANO: A FASE FÁLICA

Vimos que, entre um e três anos, a criança abandona a posição infantil e caminha
ativamente no sentido de inscrever-se num lugar dentro do mundo. É um período em
que se desenvolvem rapidamente as capacidades para andar, falar, pensar e controlar os
esfíncteres. Enquanto começam a se desenvolver capacidades motoras e perceptuais
cada vez maiores, o mesmo se dá quanto às habilidades interpessoais. Progredindo a
criança de um período onde dominam relações passivo-receptivas até um período de
domínio ativo, monta-se o palco para o período de desenvolvimento psicossexual
seguinte: a fase fálica. Durante este período, a atividade sexual torna-se mais intensa,
estando o foco de atenção nos genitais – o pênis do menino e o clitóris da menina.

A masturbação acompanhada de fantasias sexuais é um complemento normal da


primeira infância. No período fálico, sua freqüência aumenta. As crianças tornam-se
curiosas a respeito de seus corpos; desejam explorá-los e descobrir as diferenças entre
os sexos. A experimentação infantil é comum e, como muitas das atitudes para com a
sexualidade têm origem no período fálico, a aceitação da sexualidade e o controle dos
impulsos sexuais tornam-se vitais neste momento. Trata-se de um período de
desenvolvimento da consciência, um momento de aprendizagem de padrões morais para
a criança. O endoutrinamento parental de padrões morais rígidos e não-realísticos
constitui-se em perigo crítico, podendo levar ao supercontrole do superego. Se os pais
ensinam aos filhos que todos os seus impulsos são maus, estes logo aprendem a sentir-
se culpados em relação a seus impulsos naturais, podendo transportar esses sentimentos
de culpa para a vida adulta e bloquear-se no que se refere a usufruir da intimidade dos
outros. Este tipo de endoutrinamento parental tem como conseqüência uma consciência
infantil – isto é, as crianças temem questionar ou pensar por si mesmas e aceitam
cegamente o endoutrinamento, sem discussão; seria difícil poder considerá-las
moralmente educadas, mas sim simplesmente amedrontadas. Entre outros efeitos,
acham-se a rigidez, conflitos graves, culpa, remorso, diminuição da auto-estima e auto-
acusação.

Durante esta fase, as crianças precisam aprender a aceitar seus sentimentos sexuais
como naturais e desenvolver um respeito sadio por seus corpos. Precisam de modelos
adequados para identificação do papel sexual. Nesta época, estão formando atitudes em
relação ao prazer físico, ao que é “certo” e “errado”, ao que é “masculino” e “feminino”.
Estão alcançando uma perspectiva sobre o modo pelo qual mulheres e homens se
relacionam entre si. E decidindo a respeito de como se sentem nos seus papéis de
meninos e meninas.

O período fático tem implicações significativas para o terapeuta que trabalha com
adultos. Muitos clientes nunca chegaram a uma conclusão quanto a seus sentimentos em
relação à sua própria sexualidade. Sentem-se, provavelmente, muito confusos no que se
refere à sua identificação sexual e lutam por aceitar seus sentimentos e comportamento
sexual. Julgo ser importante que os terapeutas dêem o devido reconhecimento às
experiências primitivas quando trabalham com clientes adultos. Não estou sugerindo
que aceitem o ponto de vista determinista segundo o qual as pessoas estão condenadas à
impotência ou à frigidez, se não tiverem dominado com sucesso as exigências de
desenvolvimento próprias à fase fálica. O que vejo como importante, porém, é a tomada
de consciência, pelos clientes, acerca de suas experiências infantis nessa área, talvez até
o revivê-las e reexperimentá-las em fantasia. Ao reviver acontecimentos e sentir de
novo muitos dos sentimentos enterrados, tornam-se cada vez mais conscientes de que
são capazes de inventar novos desenlaces para os dramas vivenciados quando eram
crianças. Assim, passam a conceber que, embora suas atitudes e seu comportamento
atuais sejam certamente modelados pelo passado, não estão fadados a permanecer como
vítimas desse tempo.

4. Conclusão

A psicanálise marca muito a sentir-pensar-agir psicopedagogia, prevalecendo entre os


assim profissionais da psicopedagogia conceitos como “inconsciente” , transferência
(amor, ódio ou desprezo que o cliente transfere do seu núcleo – lar para o setting/espaço
de atendimento psicopedagógico; sempre haverá transferência e o educador deverá
saber trabalhar esse importante aspecto do ser de cuidado no ofício pedagogo
interessado em psicopedagogia) e a contratransferência (amor, ódio ou desprezo que o
profissional pode manter, nutrir ou jogar contra o paciente, “caindo nos jogos de ser do
cliente/orientando/aluno; idealmente o educador deve fazer um assépcia para não cair
nesses jogos) e desejo (o desejo aqui, pode, didaticamente correspoder à motivação,
algo interno que impulsiona o ser a gostar ou não de algo, alguém... Entretanto esse
desejo deve ser “lido” dentro da psicanálise).

Entretanto a psicopedagogia recebe muitas influências, como a linguística; a


neuropsicologia; a pedagogia; a psicologia social e sócio-histórica brasileira e
internacional; psicologia do aconselhamento; psicoterapia; psicologia genética de Piaget
e seguidores; psicologia marxista de Vygotsky; a pedagogia de Paulo Freire e
seguidores; técnicas de mudanças comportamentais de Skinner e seguidores, sem
necessariamente utilizar-se do conceito filosófico de homem descrito pelo
Behaviorismo (o homem é uma tabula rasa, sem história, sem nada... Nele inscrevemos
o que quisermos, basta planejar, executar e avaliar programas de modificação
comportamental); a psicologia humanista de Carl Ransom Rogers e seguidores; a
psicologia existencial de Frankl, Sartre, Binswanger e Boss; a filosofia clínica e
psicologia do cuidado (de raiz existencial) descritos por Leonardo Boff; a psicanálise
marxista e outros, etc.

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