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São Paulo
Novembro / 2010
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM
DIREITO
Informações Biográficas
John Rawls, em sua obra “Uma Teoria da Justiça”, busca explicar a justiça com
viés social, para uma democracia constitucional. Vivendo em uma sociedade
que se denomina democrática, só consegue perceber a justiça quando não há
diferenças sociais. Aqui, o justo deve ser priorizado em relação ao bem.
John Rawls anuncia em vários momentos da obra que sua formulação é uma
alternativa à teoria utilitarista que dominou, segundo o autor, por longo
tempo a tradição anglo-saxã do pensamento político, a qual pode ser
representada, em sua forma clássica, por Henry Sidgwick.
Tendo isto em vista, Rawls se preocupa com aqueles que não atingem a média
da sociedade, resgatando a dignidade do homem, independentemente de sua
utilidade para a comunidade. Apresenta questionamento a respeito da situação
daqueles que não atingem a média da sociedade, por serem desprovidos de
oportunidade. Busca uma forma de coordenar a felicidade da maioria, sem abrir
mão da felicidade da minoria, originando uma discussão sobre a extensão da
felicidade aos grupos minoritários, sobre o respeito à diversidade, o pluralismo, a
democracia e a dignidade da pessoa humana.
O véu da ignorância
Este “véu da ignorância” serve para encobrir as condições sociais que estes
contratantes terão na sociedade futura, mas não lhes tira o discernimento, ou
seja, visa garantir a isenção das escolhas dos participantes, ou, nas palavras
de Josué Möller, dá garantia de equidade na deliberação, uma vez que “ficam
privados de todas as informações que criam disparidades entre homens e
permitem que se orientem por seus preconceitos ou com vistas a obterem
vantagens pessoais.”1 A ideia é que os preconceitos, inclinações etc. fiquem
eliminados, para evitar disparidades entre os homens na origem.
1
Möller, p. 48.
2
Rawls, p. 147.
3
Rawls, p. 13.
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As pessoas também são vistas como racionais (aqui racional é visto como
diferente de razoável), uma vez que podem se utilizar da razão necessária
para a cooperação social, a saber: a capacidade de serem razoáveis (aquilo
que pode ser razoavelmente aceito no contrato social, havendo reciprocidade)
e a capacidade de serem racionais (o que determina que os indivíduos
desejam realizar suas faculdades morais e implementar o avanço de suas
concepções particulares de bem). Por fim, os indivíduos são vistos como livres
e iguais. Livres porque acreditam que podem intervir nas instituições sociais
comuns; e iguais porque podem determinar e avaliar os termos equitativos
que compõem o contrato social.
A lista de bens básicos compõe aquilo que Rawls entende ser imprescindível
para a manutenção de uma vida humana digna. Visam a satisfazer os desejos
e expectativas essenciais dos cidadãos, de modo racional, e criar condições
que possibilitem aos homens a realização de planos particulares de vida que
atendam às exigências feitas pelas faculdades da razão (racionalidade e
razoabilidade).
4
Möller, p. 54.
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Assim John Rawls concebe o Estado como uma organização com vias de garantir
aos seus cidadãos uma ordem social justa.
“Tal sociedade está marcada por duas características básicas: a) por uma
identidade de interesses, que decorre da possibilidade de que todos tenham uma
vida melhor do que se dependessem de seus próprios esforços individuais; e b)
por um conflito de interesses, pois os seus membros visam a uma distribuição
dos benefícios cooperativos que atenda a seus objetivos individuais.”7
Este princípio exige que certos tipos de regras, aquelas que definem as
liberdades mais básicas, se apliquem igualmente a todos, e permitam a mais
abrangente liberdade compatível com uma igual liberdade a todos.
Por sua vez, o princípio das desigualdades se compõe de duas partes, sendo
que a primeira delas afirma que as diferenças sociais e econômicas (distribuição
de renda e riquezas) são justas apenas se resultam em benefícios
compensatórios para cada um, e a segunda parte traz a ideia de que as posições
de autoridade e responsabilidade devem estar acessíveis a todos. Com este
segundo princípio, pretende-se buscar a justiça ainda que subsistam situações de
desigualdade. Isto porque o autor entende que as desigualdades são injustas
apenas se não trouxerem benefícios a todos.
Nas notas de Josué Möller, “o segundo princípio de justiça, que pode ser
denominado como princípio das desigualdades sociais e econômicas, diz respeito
aos interesses materiais dos indivíduos e destina-se a orientar (dirigir) a alocação
dos bens básicos (primários), sociais e econômicos – os poderes, as prerrogativas
(vantagens sociais), a riqueza, a renda, e os encargos –, de forma a fomentar a
cooperação social e preservar a igualdade democrática”8.
8
Möller, p. 72.
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E tal adequação defendida por Rawls não compreende uma distribuição de bens
fundada em padrão valorativo ou comparativo capaz de conferir regularidade à
realocação (igualdade simples ou simétrica), porque a Teoria vê nisto uma
distribuição injusta, por não levar em conta os resultados das escolhas de rumo e
projeto de vida de cada cidadão, ou seja, as particularidades dos indivíduos.
É neste ponto que o autor incorpora à sua Teoria a liberdade de mercado, desde
que fique configurada a igualdade de oportunidade (primeira parte do segundo
princípio), de modo que a qualquer indivíduo fique assegurada a possibilidade de
atingir posições sociais privilegiadas. Tal princípio “tem por fim neutralizar ou
mitigar a influência dos fatores eticamente arbitrários para evitar que as
expectativas de cidadãos que possuam as mesmas habilidades sejam afetadas
pela classe social a que pertencem, isto é, por efeitos cumulativos de
distribuições anteriores.”9
Para tanto, deve ser adotada uma redistribuição periódica desses bens com
vistas a reequilibrar satisfatoriamente o contexto social e favorecer as
expectativas dos menos favorecidos. Assim, o pior resultado seria superior aos
piores resultados da situação anterior à redistribuição.
Com isso, ter-se-á a satisfação da prioridade daqueles que estão na pior situação,
o que nos leva a um mínimo social aceitável, além de elevar a auto-estima dos
desafortunados.
9
Möller, pp. 74-75.
10
Möller, p. 76.
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Conclusão
Bibliografia
MÖLLER, Josué Emilio. A Justiça como Eqüidade em John Rawls. Porto Alegre:
Sergio Antonio Fabris Editor, 2006.
12
Vieira, p. 14.
13
Vieira, p. 9.