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SÃO PAULO – SP
MAIO DE 2011
CRISTIANO MIGNANELLI DOS SANTOS
SÃO PAULO – SP
MAIO DE 2011
DISCURSO E ABUSO DE PODER
Este trabalho tem por escopo analisar de que maneira discursos podem reproduzir,
disseminar, exercer, e reforçar o poder. Mas, especificamente, a exposição está interessada
nas formas de abuso de poder via discursos. O abuso de poder é exercido por grupos e
instituições que detém os recursos sociais fundamentais e que por isso têm acesso
privilegiado ao discurso e aos meios de comunicação em massa. Resultando em uma
dominância social que gera desigualdade. Entretanto, este abuso de poder está ligado,
principalmente, em mecanismos manipulatórios de controle mental e social. Entender-se-á,
por fim, que os meios de controle mental e social são manifestados especialmente por
discursos. São com estes argumentos que o trabalho pretende introduzir e direcionar o leitor
à importância de estudos críticos por sobre discursos. Utilizando para a pretensão os
estudos do linguista Teun Van Dijk e de sua tríade analítica entre discurso, cognição e
sociedade.
RESUMEN
Este trabajo tiene como ámbito para analizar cómo los discursos se pueden
reproducir, difundir, hacer ejercicio, y aumentar su poder. Pero en concreto, la exposición
está interesado en las formas de abuso el poder a través de discursos.El abuso de poder es
ejercido por los grupos y las instituciones que administra los recursos sociales clave y por
eso tenemos un acceso privilegiado a los medios de discurso y de masas. Dando lugar a
una desigualdad que genera la dominación social.Sin embargo, este abuso de poder está
conectado principalmente con los mecanismos de control de la mente manipuladora y social.
Se entiende, por último, que los medios de control de la mente y se manifiestan sobre todo
por los discursos sociales.Son estos los argumentos que el documento tiene la intención de
presentar y dirigir al lector a la importancia de los estudios críticos sobre los discursos.
Usando el pretexto de los estudios de lingüista Teun van Dijk y su triada de análisis entre el
discurso, la cognición y la sociedad.
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 6
2. O QUE É DISCURSO? ............................................................................................................. 8
3. DISCURSO: UMA PRÁTICA SOCIAL .................................................................................... 12
4. ANÁLISE DO DISCURSO COMO ANÁLISE SOCIAL ............................................................ 16
5. PODER NO DISCURSO ......................................................................................................... 18
6. O TIPO DE PODER TRATADO NA ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA .............................. 20
7. PODER E ACESSO ................................................................................................................ 23
8. MANIPULAÇÃO ...................................................................................................................... 25
9. CONCLUSÃO.......................................................................................................................... 34
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................... 35
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1. INTRODUÇÃO
emergência implicadas nesta máxima que não se quer, senão, como alerta às
mentes despreocupadas. Nem se deve esquecer-se dos estudos de Hannah Arendt
no que concerne o totalitarismo. A pior de todas as ditaduras da história, segundo a
filósofa, é aquela de nosso tempo, pois, enquanto em outras épocas controlavam-se
corpos por meio da força, hoje, controlam-se mentes comumente sem o uso da
força. Ora, controlar mentes é controlar corpos, mas somente controle de corpos não
garante controle de mentes. Conquanto, a melhor forma de produzir, exercer e
reforçar esse controle deve ser por meio discursivo, de onde emergem as interações
sociais.
Todo o trabalho terá como respaldo os estudos críticos de discurso de Teun
Van Dijk. A preferência por este estudioso é justificada ao se perceber que o mesmo
escreveu um livro que trata exatamente sobre a temática deste trabalho: Discurso e
Poder. Mas, evidente que outros estudiosos do assunto serão citados quando
necessário.
Por fim, para inserir o leitor nos conceitos e contexto desta abordagem
multidisciplinar – Análise de Discurso Crítica – dedicar-se-á uma atenção ao
conceito de discurso, de abuso poder e de manipulação elucidando-os; além de
prestar-se a mesma atenção para outros temas da análise de discurso dos quais
servirão como respaldo as finalidades deste trabalho.
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2. O QUE É DISCURSO?
1
Considera-se para uma análise de discurso crítica não somente o discurso escrito ou falado, mas,
também, imagens. Hoje, a comunicação não se restringe apenas na escrita e na fala, a imagem é
uma forma de interação social, portanto, objeto de análise.
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2
Nota-se que na linguística textual, o texto, tem conotação Ampla (lato) e no da gramática textual tem
sentido estrito – em termos de extensão. Comumente estes sentidos se confundem com o conceito
de discurso.
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É pertinente para não confundir frase com enunciado uma pequena explicação. A primeira visa
apenas apresentar algo, a segunda, pretende estabelecer uma verdade por meio da enunciação –
atende aos objetivos sociais e comunicativos. Um enunciado segue duas leis discursivas, são elas: a
lei da informatividade, sempre deve passar uma informação nova; e a lei da exaustividade, a
informação deve ser passada e repassada com riqueza de dados.
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O contexto é a estância onde o discurso situa-se. Entende-se sua inserção numa dada situação
histórica, social, cultural e verbal. Decorre que uma análise do discurso tendo o contexto como
alicerce apresenta a identidade do autor do discurso (inserido numa dada cultura, numa dada classe
social, de dado sexo, de tal idade, em dada época) e aquém destina seu discurso. Antes que o
discurso seja pronunciado ele é um discurso interior e este é definido de acordo com a situação da
enunciação e pelo auditório, isto é, a pessoa discursa tendo sua expressão definida exteriormente
pelo contexto.
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Uma vez que o discurso é uma prática social torna-se crucial, então,
conhecermos como funciona tal sociedade de onde ele emerge, sobrevive e
dissemina-se. Porque, a sociedade é o espaço de ação do discurso.
Uma análise da sociedade nos revela quem detém o poder; quem são os
atores sociais que estão em jogo. Não obstante, se há uma análise crítica do
discurso, essencialmente, é porque existem abusos de poder exercidos por meios
discursivos. Abusos que culminam em desigualdade social, propagação e reforço de
ideologias dominantes em prol do controle das mentes de uma maioria.
Neste sentido, importa elucidar que características dados grupos de pessoas
precisam ter para serem considerados como poderosos.
Como Van Dijk (2010, p.23) destaca, não é necessário muito esforço para
situar os governos, os parlamentos, as agências estatais, a polícia, a mídia, os
militares, as grandes empresas, como também profissionais de diversos ramos como
médicos, jornalistas, advogados, professores, ou ainda papéis sociais, neste caso,
os pais, como sendo detentores de poder. Todos podem influenciar mentes; uns
milhões ou milhares, outros alguns.
Contudo, não é o poder de uma pessoa que interessa nesta análise, mas sim
o poder de uma posição social articulada pelo poder de uma grande organização.
Pois é a partir desta organização que se dá a análise social a fim de saber se há um
controle do discurso público; e se a resposta apresentar-se positiva bastará saber
como se dá esse controle.
Tomando um exemplo de Van Dijk para caracterizar este tipo de poder
manifestado por uma posição social, pode-se citar o professor. O “poder simbólico”
na educação influência, sobretudo, via professor e livros de didáticos. As mentes dos
estudantes são influenciadas por duas formas de aprendizagem: aquela que visa
contribuir para a formação critica dos estudantes, tem compromisso sério com o
conhecimento, e aquela que visa reprimir o senso crítico e propagar as ideologias de
grupos e organizações poderosas na sociedade. Só neste exemplo é possível notar
a pertinência de analises criticas do discurso, mesmo porque, os professores podem
propagar ideologias sem o saber, assim como autores e editores de livros didáticos
também.
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5. PODER NO DISCURSO
- As relações de poder dar-se na interação social – um grupo tem poder sobre outro,
e a ação deste grupo exerce controle sobre o outro, assim o exercício de poder
deste dominante resulta na limitação da liberdade social daquele dominado. Não
obstante, este tipo de poder é definido em termos do controle exercido por um grupo
ou organização sobre as ações e mentes de outro grupo, limitando suas ações e
influenciando seus conhecimentos atitudes ou ideologia;
- Grupos dominantes têm controle sobre outros grupos dominados, por controlar as
condições cognitivas deles – desejos, crenças e planos. O Poder social, ao contrário
do que pensam, é indireto e age pela “mente” das pessoas, por exemplo, controla
informações ou opiniões para executar ou planejar ações. Não há uso da força, mas
sim o uso dos meios de comunicação discursiva. Está dominância que caracteriza
uma forma de abuso de poder, ou seja, é um exercício moral e legalmente ilegítimo
de controle sobre os outros em benefício ou interesse de alguns, resultando em
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7. PODER E ACESSO
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Van Dijk (2010, p. 91) explica que “o acesso tem que ser analisado em termos de tópicos ou
referentes do discurso, ou seja, sobre quem se escreve e/ou se fala.”
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8. MANIPULAÇÃO
analise cognitiva pode esclarecer estes processos; e a analise social tem sua
pertinência por se tratar de interações sociais envolvidas com o poder,
especificamente, no caso, abuso de poder. (Van Dijk, 2010, p. 234).
Entretanto, o conceito de manipulação carece de analise para que nenhuma
dúvida fuja ao longo da exposição. E com esta intenção que Van Dijk faz uma
análise conceitual explicitando a manipulação nestes parâmetros:
materiais. Nesta concepção social a manipulação insere-se nas relações entre: pai e
filho – o pai está em posição de poder e autoridade; professor (posição institucional)
e aluno; políticos e eleitores; jornalista e receptores; líderes religiosos e seguidores.
O tipo de manipulação social estudada aqui é definido em sentido de
dominação social e de sua reprodução em práticas cotidianas, incluindo o discurso.
Assim, o interesse é na manipulação entre grupos e seus membros do que na
manipulação pessoal ou individual de atores sociais.
Já está óbvio que para haver uma manipulação certos grupos devem exercer
controle sobre os meios de reprodução discursivos e comunicativos (mídias de
massa), resultando, no final, em acesso privilegiado a estes recursos. Vê-se aí um
ciclo que vai do controle de recursos sociais à manipulação e dela para o reforço do
controle por sobre os recursos, diz-se, então, um ciclo de “adestramento do ser
humano”. Pelo poder se controla, e pelo controle se reforça o poder.
Não é difícil, por certo, concluir que “a manipulação é uma das práticas
sociais discursivas de grupos dominantes que servem à reprodução do seu poder”
(Van Dijk, 2010, p. 237).
Sendo a manipulação uma forma ilegítima de uso da persuasão6, esta forma
legitima acaba servindo a grupos dominantes. Pois, algumas vezes, para validar o
poder sem que haja resistência, a persuasão é utilizada, mesmo para demonstrar
uma preocupação com o público e com uma suposta verdade; do contrário, grupos
dominantes seriam visados exclusivamente como manipuladores, dificultando o
exercício e reforço de seu poder.
É possível enquadrar a manipulação como uma prática social ilegítima,
porque ela transgride normas sociais gerais. E é ilegítima, sobretudo, por trazer a
desigualdade social numa sociedade democrática: “ela serve aos interesses dos
grupos dos poderosos e seus falantes, e fere os interesses dos grupos e falantes
menos poderosos” (Van Dijk, 2010, p. 239). Antes isto tem grandes consequências
sociais do que meramente uma relação entre manipulador e manipulado. Por
conseguinte, a manipulação é uma forma discursiva de reprodução de poder dos
6
A diferença entre manipulação e persuasão consiste que nesta os interlocutores são livres para
acreditar ou agir como desejarem, têm direito a escolher ou não os argumentos daquele quer
persuadir, já naquela os receptores cabem apenas no papel de passividade. Na manipulação não são
apresentadas as implicâncias reais em jogo para que seja feita uma escolha. (Van Dijk, 2010, p.235).
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Analistas de discurso analisam, considerando modelos mentais pessoais e sociais, estas
representações com intuito de saber qual a ideologia que está por trás de um discurso, quais grupos
sociais são representados e como; por exemplo, em discursos pode-se analisar representações
pessoais quando nestas está sendo apresentado fatos ocorridos em experiências da própria vida do
discursador, de contrapartida, este mesmo discurso pode contém explicitação de cunho de grupos
sociais, tais quais do machista, do racista, do comunista, do positivista dentre outros. É preciso
compreender a ideologia que está em jogo.
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9. CONCLUSÃO