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estudos

FEBRAFARMA

Eduardo Felipe Ohana

Comparativo
Internacional
de Preços de
Produtos
Farmacêuticos
em 2004
estudosFEBRAFARMA
A coleção "Estudos Febrafarma" é composta por uma
série de publicações que abordam temas da indústria
farmacêutica, de interesse do setor, da sociedade e do
governo. A série editada pela Federação Brasileira da
Indústria Farmacêutica – entidade que representa 267
fabricantes farmacêuticos – apresenta pesquisas,
estudos e teses, que tratam as questões mais atuais
do segmento com responsabilidade, desenvolvidas
por economistas, advogados e outros profissionais.
Esse é mais um passo para a Febrafarma estabelecer
um diálogo construtivo e permanente com a sociedade
e autoridades governamentais responsáveis pela área
de saúde, objetivando encontrar soluções para temas
de interesse da indústria farmacêutica.

www.febrafarma.org.br
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Eduardo Felipe Ohana

Comparativo
Internacional
de Preços de
Produtos
Farmacêuticos
em 2004
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Ohana, Eduardo Felipe


Comparativo internacional de preços de produtos
farmacêuticos em 2004/Eduardo Felipe Ohana --
São Paulo: Febrafarma - Federação Brasileira da
Indústria Farmacêutica, 2005. -- (Estudos Febrafarma)

Bibliografia.

1. Indústria farmacêutica - Controle de preços


2. Medicamentos - Preços - Método comparativo
3. Preços - Determinação I. Título. II. Série.

05-4989 CDD-615

Índices para catálogo sistemático:

1. Medicamentos: Controle de preços: Farmacologia 615

Fundação Biblioteca Nacional


índice

Sumário Executivo 4

I – Apresentação 7

II – Preço Médio ao Consumidor 9


Países Mais Baratos Não Oferecem Produtos de Preço Unitário Elevado 11
Análise dos Dados 12
Preços ao Consumidor: o Impacto da Renda e do Controle de Preços 12
Uma Estimativa da Interferência dos Governos 14
O Preço ao Consumidor com uma Amostra Controlada: a Interferência do
Governo em Medicamentos de Preço Mais Elevado 18
O Impacto da Desvalorização do Dólar em 2004: a Miragem do Aumento 21
Conclusão – Preço ao Consumidor 25

III – Preço de Disponibilidade – 2004 27


Os Preços de Disponibilidade Coletados 27
Os Preços de Disponibilidade com Amostra Ajustada para 20 Países 29
A Valorização Cambial Explicita os Problemas do Controle de Preços 31
Conclusão – Preço de Disponibilidade 35

Final – Comentários Gerais 36

Anexos 39
EDUARDO FELIPE OHANA

Sumário Executivo

ESTE RELATÓRIO analisa os preços dos medicamentos, no Brasil e em mais 29


países, levantados pelo IMS Health, para o ano de 2004. Os preços são classifi-
cados em preço ao consumidor – calculado pela relação entre faturamento e
quantidades consumidas – e preço de disponibilidade ou de comercialização,
que consiste simplesmente nos valores pelos quais os medicamentos são vendi-
dos, independentemente das quantidades. As informações apontam, ainda,
valores com e sem imposto de valor adicionado.
O Brasil apresentou o quinto menor preço ao consumidor sem imposto, no
conjunto de 30 países.
Houve aumento do preço ao consumidor, em dólares. Esse resultado decor-
re do enfraquecimento da moeda norte-americana. Na prática, o medicamento
encareceu para os agentes que transacionam em dólares, mas barateou-se (rela-
tivamente) para aqueles que lidam com a moeda brasileira.
A renda da sociedade é o fator que determina o acesso aos produtos de últi-
ma tecnologia e daí o nível de preços. Uma análise econométrica mostra que,
no Brasil e em alguns países, o Estado reprime os preços. O nível estimado de
repressão, no Brasil, é de 41% do que seria o preço livre, o que é conseguido
com a fórmula de controle de preços e a legislação para registro, especialmente
a Resolução nº 2/4, de 5/3/2004, da CMED.
A repressão dos preços, no Brasil, incide mais fortemente sobre os produtos
mais caros, ao contrário do que se passa na Europa. Com isso, o valor presente
do produto, no seu lançamento, é menor no Brasil, comparativamente à Europa,
o que pode ser entendido como um desestímulo adicional à modernização.
A volatilidade cambial fez o preço de disponibilidade do medicamento
nacional aumentar 13,3%, em 2004, quando medido em dólares. No mercado
doméstico, ao contrário, o poder de compra médio caiu 4,8%, de 2003 para
2004, comparando-se ao IPA-OG. O preço de disponibilidade brasileiro, em
2004, manteve-se no mesmo patamar de 2003, em relação à média mundial,
quando é compensado o efeito das variações na taxa de câmbio.
O preço do medicamento, no Brasil, não guarda qualquer relação com o
preço internacional. O Brasil constituiu uma autarquia para o preço relativo dos
medicamentos.

[ 4 ] estudosFEBRAFARMA
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

A volatilidade cambial explicitou o erro do conceito de compensação dos


ganhos cambiais, que consta da fórmula de correção de preços. Esse fator
impacta negativamente as expectativas do investidor, em função da perspectiva
cambial futura. Além da questão de expectativas, o erro do conceito de com-
pensação reside no fato de administrar, ao longo do tempo, sinais macroeconô-
micos que devem ser respeitados intempestivamente.
A aplicação do conceito erra, ademais, por não considerar a variação nos
preços internacionais dos insumos e por compensar integralmente os ganhos
das empresas (mesmo quando excepcionais), sem devolver a quantia tributada.
Não menos importante, há erro no conceito, uma vez que a regulação se pro-
põe a compensar o que não precisa ser compensado, esquecendo-se que a todo
movimento cambial para fora da taxa de equilíbrio corresponde um outro
movimento cambial em sentido oposto.
O grande problema da política de medicamentos, no Brasil, continua sendo
a filosofia da regulação, que, ao abandonar os princípios econômicos, em favor
de um objetivo social, introduz ineficiências que se constituem em custos
sociais não explicitados.

estudosFEBRAFARMA [ 5 ]
EDUARDO FELIPE OHANA

Eduardo Felipe Ohana

Agradeço a colaboração técnica de Luiz Antônio


Diório, gerente de economia da Febrafarma, de
Sidney Clark, do IMS Health, pelo importante
apoio no entendimento das informações, e de
Ciro Mortella, presidente-executivo da Febrafarma,
pelas explicações e informações fornecidas.
Como sempre, nenhum desses colaboradores é
responsável por eventuais inconsistências que
possam estar neste relatório.

[ 6 ] estudosFEBRAFARMA
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

I – Apresentação
A FEDERAÇÃO BRASILEIRA da Indústria Farmacêutica – Febrafarma implantou
a série de estudos sobre o comportamento dos preços dos produtos farmacêuticos,
no âmbito internacional, com base em informações levantadas pelo IMS para 30
países, distribuídos entre desenvolvidos e emergentes.1
Este é o terceiro relatório anual da série e analisa os preços para o ano de 2004.

A Amostra de Produtos

Formam a amostra deste levantamento do IMS, em 2004, 192 produtos,


distribuídos em 365 apresentações, que preenchem o seguinte critério:

a) Duzentos principais produtos do mercado farmacêutico mundial, em


termos de faturamento em 2004;

b) Duzentos principais produtos do mercado farmacêutico brasileiro, em


termos de faturamento em 2004;

c) Desses dois conjuntos, foram incluídos no estudo somente os produtos/


apresentações que são comercializados no Brasil e em pelo menos dois
países cujas economias são consideradas semelhantes à brasileira (países
semelhantes).2

Indicadores da Pesquisa IMS

O IMS levantou dois tipos de informações básicas:

a) Preço ao Consumidor: valor resultante da divisão do faturamento do setor


farmacêutico, em cada país, pelas unidades-padrão vendidas; 3

1
EUA, Áustria, Argentina, Suíça, Alemanha, Itália, Luxemburgo, Bélgica, Holanda, Noruega, Finlândia,
México, Venezuela, Peru, Reino Unido, Irlanda, Portugal, Uruguai, França, Espanha, África do Sul, Grécia,
Austrália, Equador, Turquia, Brasil, Chile, Colômbia, Nova Zelândia, Coréia.
2
São semelhantes: Argentina, Coréia, México e Turquia.
3
A unidade-padrão, um conceito desenvolvido e aplicado pelo IMS Health, compõe a unidade comercial que
resulta da conversão de caixas para comprimidos, quantidades de líquido para comprimido equivalente e,
assim, para outras apresentações.

estudosFEBRAFARMA [ 7 ]
EDUARDO FELIPE OHANA

b) Preço de Disponibilidade: preço de transação dos produtos – com e sem impos-


to de valor adicionado, com e sem margem de distribuição – em cada país.4

Resumidamente, são as seguintes as implicações técnicas do processo de


levantamento de informações discutidas em Ohana (2004)5:

a) Diferenças na composição das amostras, entre anos, não permitem que se


proceda a uma análise intertemporal. Para a comparação, são necessários
ajustes na amostra; 6

b) Os preços são convertidos para dólares norte-americanos pela taxa cambial


média. Assim, movimentos cambiais não homogêneos, como o ocorrido em
2004, afetam diferentemente os preços registrados em dólares, em cada país.

Objetivos deste Relatório

a) Analisar a posição relativa internacional dos preços brasileiros;

b) Acompanhar a evolução, desde o ano 2000, do comportamento relativo dos


preços brasileiros;

c) Analisar os fatores econômicos que influenciaram no comportamento dos


preços nacionais.

A seguir, apresenta-se o resultado sobre o preço ao consumidor em 2004


e sua evolução desde 2000. Na parte seguinte, os preços de mercado, aqui
denominados de Preço de Disponibilidade, são analisados, juntamente com
os fatores econômicos que os influenciaram. O relatório termina com os
comentários gerais.

4
O termo preço de disponibilidade – de fato o preço de comercialização – é empregado para diferenciá-lo do
preço ao consumidor. O preço de disponibilidade não é ponderado por quantidades, enquanto o preço ao con-
sumidor reflete as quantidades vendidas. Na prática, se houvesse um produto não comercializado ao longo do
ano, ele não influenciaria o preço ao consumidor, mas estaria retratado – por estar disponível em mercado –
na comparação de preços de comercialização entre países.
5
OHANA, E. F. Comparativo Internacional de Preços de Produtos Farmacêuticos. Estudos Febrafarma. São
Paulo: Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica, 2004.
6
O procedimento do IMS não poderia ser diferente. Caso a amostra fosse a mesma entre anos, perder-se-iam
as informações sobre a substituição de medicamentos, bem como sobre novos produtos.

[ 8 ] estudosFEBRAFARMA
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

II – Preço Médio ao Consumidor

Descrição dos Dados

O estudo publicado sobre os preços em 2003 apontou em resumo que:

a) o Brasil era o quinto país mais barato da amostra – com o preço de US$ 0,13
por unidade-padrão, sem imposto de valor adicionado –, acima somente de
Colômbia, Chile, Uruguai e Coréia;

b) o preço brasileiro apresentava tendência de queda, desde 2000, quando


comparado com aqueles da Coréia e do México, apontando perda de rentabilidade
frente a esses dois países, principais concorrentes na atração de capital estrangeiro.

Em 2004: o Brasil foi o quinto país mais barato

O levantamento de informações para o ano de 2004 revela que o Brasil


continua sendo o quinto país mais barato – com o preço, sem imposto, de
US$ 0,15 –, superando a Colômbia, Chile, Uruguai e Coréia. Com imposto, da
mesma forma, é o quinto mais barato, com preço por unidade-padrão de US$ 0,18.

Gráfico 1
Preço ao Consumidor Médio – 2004 – US$/UP
(com Imposto de V. A.)
0,82

0,82

0,62

0,57

0,56

0,55

0,54

0,51

0,49

0,48

0,48

0,41
0,41

0,39

0,39

0,37

0,33

0,31

0,30

0,28

0,28

0,26

0,21

0,18
0,18

0,18

0,16

0,15

0,13

0,10
EUA

ÁUSTRIA

SUÍÇA

LUXEMBURGO

ITÁLIA

BÉLGICA

ALEMANHA

FINLÂNDIA

HOLANDA

NORUEGA

IRLANDA

PORTUGAL

INGLATERRA

FRANÇA

GRÉCIA

ESPANHA

MÉXICO

ÁFRICA DO SUL

AUSTRÁLIA

VENEZUELA

PERU

TURQUIA

ARGENTINA

EQUADOR

BRASIL

NOVA ZELÂNDIA

CHILE

URUGUAI

COLÔMBIA

CORÉIA

estudosFEBRAFARMA [ 9 ]
EUA 0,77

ÁUSTRIA 0,68

SUÍÇA 0,61

LUXEMBURGO 0,55

0,000
0,100
0,200
0,300
0,400
0,500
0,600
0,700
0,800
BÉLGICA 0,52

ITÁLIA 0,51

IRLANDA 0,48

[ 10 ] estudosFEBRAFARMA
FINLÂNDIA 0,47
EDUARDO FELIPE OHANA

2000
HOLANDA 0,47

ALEMANHA 0,46

NORUEGA 0,39

PORTUGAL 0,37

Brasil/EUA
FRANÇA 0,37

2001
GRÉCIA 0,36

ESPANHA 0,36

INGLATERRA 0,35

MÉXICO 0,33

Gráfico 3
Gráfico 2

2002
AUSTRÁLIA 0,30

VENEZUELA 0,28

ÁFRICA DO SUL 0,28

Brasil/México
(com Imposto de V. A.)

PERU 0,23

2003
TURQUIA 0,23

EQUADOR 0,18

ARGENTINA 0,17

NOVA ZELÂNDIA 0,16


Preço ao Consumidor Médio – 2004 – US$/UP

Evolução Comparativa dos Preços Brasileiros em %

2004
BRASIL 0,15

CHILE 0,14

Brasil Média
URUGUAI 0,13

COLOMBIA 0,13

CORÉIA 0,10
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

O gráfico 2 mostra que, em 2004, o preço ao consumidor no Brasil se esta-


bilizou no patamar de 20% em relação ao líder (EUA), no de 40% da média
mundial e no de 45% do preço do México – devido à dinâmica do preço naque-
le país, principal concorrente na atração de capital na América Latina. Essa esta-
bilização é fortuita, não resiste a mudanças no mercado de câmbio e tampouco
no ritmo inflacionário doméstico, uma vez que a regulação nacional limita,
exatamente, a influência desses dois fatores, como se discute abaixo na seção
“Análise dos Dados” e na parte III, sobre os preços de disponibilidade.

Países Mais Baratos Não Oferecem Produtos de Preço Unitário Elevado

O critério amostral não exige que cada produto/apresentação seja comer-


cializado em todos os países. Disso resulta um viés de barateamento naqueles
mercados em que a oferta de produtos mais caros é incompleta.
Esse é o caso de Colômbia, Chile, Uruguai e Coréia. Das 365 apresentações
de produtos levantadas, a Colômbia não oferece 108 (29,6%); o Chile 134
(36,7%); a Coréia 174 (47,7%); e o Uruguai 196 (53,7%). Na amostra, o México
é o país menos ausente, com 60 apresentações inexistentes. O Brasil, por cons-
trução, registra todas as 365 apresentações dos produtos.
O quadro abaixo apresenta a oferta dos 10 medicamentos mais caros da
amostra, nos países em que o preço ao consumidor é inferior ao do Brasil:

Quadro 1
Oferta dos 10 Medicamentos Mais Caros da Amostra nos Países de Menor Preço
(Em US$ – Preço-fábrica)
BRAZIL KOREA R COLOMBIA CHILE URUGUAY
RETAIL &C RETAIL RETAIL RETAIL
YEAR 04 YEAR 04 YEAR 04 YEAR 04 YEAR 04
USD USD USD USD USD MNF
Medicamentos – US$ MNF SHP MNF SHP PUB SHP MNF SHP SHP
REMICADE – FQD INF DRY BOTTLE – 0100MG 392 - sim - -
TEMODAL S-PL – ACA CAPSULES – 0250MG 350 sim - - -
LUPRON – GPB VIAL DRY RET – 11.2MG 343 - sim sim -
CAMPTOSAR – FQC INFUS.VIA/BOT. – 0100MG 337 - sim - -
VIRAFERON PEG – FPB VIAL DRY – 0100Y 265 - - - -
VIRAFERON PEG – FPB VIAL DRY – 0080Y 190 - - - -
VIRAFERON PEG – FPB VIAL DRY – 0120Y 145 - - - -
ZOLADEX – GNB PF SYR DRY RET – 3.60MG 105 - sim sim -
TEMODAL S-PL – ACA CAPSULES – 0100MG 104 sim - sim -
GENOTROPIN – FPB VIAL DRY – 0016IU 86 - sim - -
Fonte: IMS

estudosFEBRAFARMA [ 11 ]
EDUARDO FELIPE OHANA

Esse quadro sugere que o Brasil é, no mínimo, o quinto mais barato,


podendo ser o de menor preço absoluto.7

Análise dos Dados


Preços ao Consumidor: o Impacto da Renda e do Controle de Preços

A estrutura de oferta, em qualquer setor, depende essencialmente da renda


da sociedade, embora fatores como hábito de consumo e legislação tenham algu-
ma influência. No caso dos medicamentos, a condição da renda é determinante,
a exemplo do que se passa com qualquer produto intensivo em tecnologia.
A renda determina o acesso da população a produtos modernos. Nos países
mais ricos, a freqüência desses medicamentos na cesta de consumo da popula-
ção é maior. Com isso, o preço ao consumidor calculado é mais elevado.
Essa relação pode ser vista no quadro 2, que divide a escala dos preços ao con-
sumidor (sem imposto) em quartis. No primeiro quartil, estão os países que se
enquadram no segmento superior dos preços.8

Quadro 2
Distribuição dos Países por Quartis de Preços ao Consumidor – Sem Imposto

1º Quartil 2º Quartil 3º Quartil 4º Quartil


Faixa de Preço Faixa de Preço Faixa de Preço Faixa de Preço
US$ US$ US$ US$
0,77 a 0,58 0,57 a 0,38 0,37 a 0,19 0,19 a 0,0
EUA Luxemburgo França Equador
Áustria Bélgica Portugal Argentina
Suíça Itália Espanha Nova Zelândia
Irlanda Grécia Brasil
Finlândia Inglaterra Chile
Holanda México Uruguai
Alemanha Austrália Colômbia
Noruega Venezuela Coréia
África do Sul
Turquia
Peru
Fonte: Levantamento IMS
7
A amostra que controlasse as "ausências" não incluiria, por causa do Uruguai, os 10 produtos mais caros,
por exemplo. O impacto, naturalmente, sobre o ordenamento dos países dependeria do tamanho do mercado
desses produtos mais caros, em cada país.
8
O primeiro quartil inclui os preços que vão desde o mais caro até aquele 25% abaixo. No segundo quartil,
estão os preços que são 75% do mais caro até 50% do mais caro. E assim para os dois quartis seguintes.

[ 12 ] estudosFEBRAFARMA
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

Os quartis apresentam os seguintes valores para PIB per capita e para o


preço médio ao consumidor:

Quadro 3
Características dos Quartis: PIB per Capita e Preço Médio

US$
1º Quartil 2º Quartil 3º Quartil 4º Quartil

Média PIB per Média PIB per Média PIB per Média PIB per
de Preço Capita Médio de Preço Capita Médio de Preço Capita Médio de Preço Capita Médio

0,69 35120 0,48 30255 0,31 12225 0,15 5739


Fonte: Banco Mundial e Levantamento IMS

Os quadros (2) e (3) mostram que:

a) Menor PIB vem acompanhado de menor preço;

b) Alguns países – especialmente França, Inglaterra, Austrália e Coréia – estão


deslocados, vale dizer, a faixa de preço não corresponde à faixa de PIB.

Para medir essa relação entre o PIB per capita e o preço ao consumidor,
ajustou-se uma equação, com mínimos quadrados ordinários, explicando o
comportamento do preço em função da renda, controlando-se para a interfe-
rência do governo – a mais comum é o controle de preços –, mediante uma
variável dummy para os países deslocados.9
O exercício econométrico resultou na seguinte equação para os preços
médios ao consumidor:10

Preço do país = 0,219 + 0,00000936 . (PIB per capita) – 0,123 . Dummy.

Com R2 de 0,73 e estatística F de 36,7, para 30 observações.

9
Foram estimadas várias formas funcionais, mas principalmente a colocação da dummy. Os países que rece-
beram a variável "interferência" , cujo resultado do ajuste foi o melhor, foram: Noruega, Inglaterra, França,
Austrália, Nova Zelândia, Uruguai, Chile, Brasil e Colômbia. A Coréia é um resultado atípico, nenhuma
forma funcional consegue explicar seu comportamento. Os resultados dos ajustes estão no anexo.
10
Além do modelo apresentado, foi testada a variável distribuição de renda (coeficiente de Gini) para expli-
car o preço. A variável não foi significativa, exceto quando a amostra foi partida para incluir somente os paí-
ses em desenvolvimento. Mesmo nesse caso, a qualidade do ajuste foi inferior à utilizada.

estudosFEBRAFARMA [ 13 ]
EDUARDO FELIPE OHANA

Disso se conclui:

a) A renda do país determina o tamanho do mercado e o acesso aos produtos


modernos. Daí, fica determinado o preço médio ao consumidor.

b) A variável interferência – com coeficiente negativo – indica que há a presença


de algum elemento deslocando os preços para baixo, nos países apontados.

A equação revela que 73% da variação de preço, entre países, depende da


diferença no PIB per capita e, em alguns, da interferência do governo. O coefi-
ciente para a renda indica que para cada US$ 1 de aumento no PIB per capita,
o preço médio ao consumidor tende a se elevar em 9 milionésimos de dólar. O
preço do medicamento não aumenta na mesma proporção do aumento do PIB
per capita, diferentemente do que postula a Circular nº 2/4, de 5/3/2004, da
CMED, ao defender o ajuste de preço de medicamento novo com base na dife-
rença relativa entre PIBs per capita (ver análise a seguir).

Uma Estimativa da Interferência dos Governos

A equação estimada reproduz os preços observados de forma estatistica-


mente aceitável. Ao se manter essa equação, a supressão do efeito interferência
sobre um país específico permite calcular qual seria o preço livre ao consumi-
dor. Mais concretamente, estimar o efeito do controle de preços. O quadro a
seguir mostra, para os países que sofrem interferência, os preços coletados pelo
IMS, o preço estimado pela equação e o preço que vigoraria, não fosse a inter-
ferência (controle de preço).

[ 14 ] estudosFEBRAFARMA
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

Quadro 4
Países Que Sofrem Interferência:
Preço Observado – Preço Estimado – Preço sem Interferência

US$
Países Preço Coletado Preço Estimado Preço Estimado Grau de
pela Equação Se Não Houvesse Repressão dos
Interferência Preços11
(em %)
Noruega 0,39 0,50 0,62 19
Inglaterra 0,35 0,36 0,48 25
França 0,37 0,35 0,44 20
Austrália 0,30 0,30 0,42 29
N. Zelândia 0,16 0,24 0,36 33
Colômbia 0,13 0,11 0,23 52
Uruguai 0,13 0,13 0,25 48
Chile 0,14 0,13 0,25 48
Brasil 0,15 0,14 0,24 41
Fonte: IMS e equação estimada
Cálculo: Grau de Repressão = [1- (Preço estimado/Preço estimado sem interferência)]

A simulação do quadro 4 mostra que a regulação que menos distorce os


preços é a européia.12 Os preços franceses estão reprimidos em 20% (ou deve-
riam ser 24% maiores), enquanto na Inglaterra a repressão é de 25% e na
Noruega 19%. As demais distorções merecem um estudo detalhado, uma vez
que as magnitudes são aberrantes para um mercado homogêneo e globalizado.
No caso do Brasil, não há dúvida. A regulação, que vai desde as exigências
para registro até as diversas fórmulas utilizadas para o controle de preços, con-
duz a esse resultado.13
Como mencionado na nota de rodapé nº 13, os produtos novos têm preços
máximos para registro parametrizados, inclusive, pelos praticados na Austrália,
cujo fator de distorção é da ordem de 29%. Ou seja, na prática, essa regulação
11
O efeito interferência é calculado em relação ao valor estimado, e não pelo valor observado, para não incluir
como efeito interferência a parte correspondente ao erro estatístico da estimativa.
12
Na Europa, os Estados participam do custo de aquisição do medicamento.
13
A Resolução CMED nº 2/4, de 5 de março de 2004, entre outras condições para registro de medicamentos,
estabelece que, para os produtos novos, o preço-fábrica proposto pela empresa não poderá ser superior ao
menor PF praticado para o mesmo produto nos países relacionados no inciso VII do § 2º do art. 4º, agregan-
do-se os impostos incidentes, conforme o caso. Esses países são Austrália, Canadá, Espanha, Estados Unidos,
França, Grécia, Itália, Nova Zelândia, Portugal; e o preço-fábrica é o praticado no país de origem do produto.
O preço fabricante é acompanhado da devida comprovação da fonte. Na mesma Resolução nº 2, o artigo 5º do
anexo autoriza a CMED a aplicar um redutor sobre os preços dos produtos novos, com a seguinte redação: "O
CAP, de que trata o parágrafo anterior, é definido como a razão entre o Índice do Produto Interno Bruto – PIB
per capita do Brasil e o Índice do PIB per capita do país que apresentou o menor preço".

estudosFEBRAFARMA [ 15 ]
EDUARDO FELIPE OHANA

confere uma repressão de preço à vista (de 29%), com a repressão adicional sendo
praticada pela fórmula de ajuste de preços, cuja meta, em 2004, era de 41%.14
Como a parametrização dos preços de registro implica uma distorção infe-
rior àquela praticada domesticamente, as empresas podem ver no lançamento
de novos produtos, apesar da regulação, uma oportunidade de aumentar a mar-
gem de comercialização.15
Se a essa obviedade financeira se acrescenta uma outra, de que alguma
margem de comercialização (por vender no Brasil) é melhor do que nenhuma
margem (por ficar fora do mercado), as empresas têm um estímulo de proceder,
de forma continuada, o lançamento de novos produtos, mesmo sabendo que as
margens sofrerão redução, ao longo do tempo, de forma mais rápida do que
aquela ditada pelo mercado livre. Certamente, há um ponto de perda de margem
a partir do qual a marca é negociada no mercado, para empresas que não lançam
produtos e/ou tenham estrutura de custo mais apropriada, uma vez que nesse
segmento de produtos amortizados os gastos com propaganda são menores.
Contudo, esse processo depende da relação custo-benefício (receitas e des-
pesas) do novo produto. Esse é o lado escuro da informação, vale dizer, não se
conhece a quantidade de produtos que deixam de ser lançados e/ou têm lança-
mentos postergados.
A informação de que, na amostra levantada pelo IMS, o Uruguai não
comercializa nenhum dos 10 produtos mais modernos, sendo que este país tra-
balha com uma distorção de preços estimada em 48%, em relação ao que seria
o preço livre, é um indicador desse tipo de problema.
Em 2004, os 20 maiores laboratórios do mundo lançaram, no México, 60 novos
produtos, com faturamento anual de US$ 139,1 milhões, enquanto, no Brasil,
foram lançados somente 34 produtos, com faturamento de US$ 3,7 milhões. Dos
medicamentos aqui lançados, 21 haviam sido introduzidos no mercado mexicano
anteriormente, com uma defasagem de tempo, em média, de 17 meses.16
O desabastecimento do mercado interno de produtos modernos, mesmo
que temporário, é um problema que extrapola os interesses das empresas,
para se constituir em um custo para a sociedade, na forma de absenteísmo ao
trabalho, perda de eficiência nos tratamentos e, por conseqüência, maior custo
fiscal para a saúde pública.
14
O termo meta não pretende implicar um planejamento detalhado e com conhecimento, por parte dos
reguladores. De fato, o objetivo parece ser o de quanto mais barato, melhor.
15
Se a empresa trabalha com um portfólio cuja margem é deslocada, em média, 41%, trabalhar com um
produto com menor repressão (no caso de 29%) é um bom negócio, de curto prazo.
16
Somente 13 produtos, dos 34 lançados no Brasil (38%), eram novos para o Brasil e para o México.
Ao contrário, dos 60 produtos lançados no México, 32 eram novos em ambos os mercados (53%).
Fonte: IMS Health

[ 16 ] estudosFEBRAFARMA
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

A regulação se comporta com base nas informações que consegue ver (há
produtos novos sendo lançados) e desconsidera as que não vê (os cancelamen-
tos que gerou).
Além dessa ineficiência estrutural, um dos grandes problemas do controle
de preços é como sair dele, para evitar distorções inadministráveis, sem provo-
car uma explosão inflacionária.
Ao se medir o grau de repressão dos preços domésticos, pela relação entre
o índice de preços no atacado – IPA para produtos farmacêuticos e o IPA geral,
adotando-se como referência de não intervenção a média dos anos de 1997 e
1998, por ser um período de preços livres, a magnitude da repressão em março
de 2005 era de 58%.17
Nesse cenário, a política de regulação decidiu liberar os preços dos produ-
tos amortizados (aqueles com maior concorrência no mercado interno). Como
esperado, esses preços tendem a convergir para um nível de preço relativo mais
elevado, com aceleração inflacionária, no curto prazo. Por definição, o que é
esperado não surpreende. O que surpreende é a reação do órgão regulador
perante o fato esperado, tentando mostrar com essa experiência que, sem
repressão, a inflação dos preços dos medicamentos seria insuportável.
A liberação de preços dos amortizados aumenta o valor presente do produ-
to novo, cálculo que influencia a decisão de lançamento. Por outro lado, man-
ter a repressão dos amortizados implica agravar o desestímulo à modernização.
Essa é a escolha do regulador.
No âmbito econômico, a prática de repressão de preços (que, como ficou
claro, não é exclusiva do Brasil) implica minimizar o pagamento da parte refe-
rente à recuperação de investimentos em pesquisa, em geral feitos por empresas
estrangeiras, no exterior. Essa questão pode se tornar um contencioso interna-
cional, a partir de pressões populares nos países em que, sem controle de preço,
a sociedade acaba pagando pela carona das economias menos desenvolvidas.
A regulação de preço acarreta um custo desconhecido para a sociedade, sem
benefício claro, uma vez que não explica o acesso a medicamentos. O controle
de preço e a regulação acessória têm uma perspectiva pouco confortável. O grau
de repressão está elevado, a margem líquida do setor caiu de 9,6% em 1998 para
0,5% em 2003, a rentabilidade do capital próprio, na mesma comparação,
diminuiu de 18,7% para 1,2% e o fluxo de modernização mostra-se defasado.

17
Esse é o grau de repressão na ponta do período, contra um valor de referência. O grau estimado na regressão
diz respeito à repressão dentro do ano de 2004, sem relação a uma referência. Uma eventual liberalização dos
preços levaria a uma correção, pode-se esperar, da ordem de 41%, não de 58%, uma vez que na base de refe-
rência (média 1997-98) deve haver algum "overshooting", por se tratar de um período de descompressão.

estudosFEBRAFARMA [ 17 ]
EDUARDO FELIPE OHANA

A tradição das políticas nacionais de controle tem um roteiro tentativo de


sobrevivência:

a) redução da carga tributária, com alguma apropriação pelos produtores (a


exemplo do que se fez com a indústria automobilística, nos acordos de
cavalheiros, em 1992 e 1993, para tentar um tabelamento branco, mesmo
com os preços já liberados);

b) linhas de crédito subsidiadas (de efeito reduzido, reconhecidamente incon-


sistentes);

c) liberações localizadas, em segmentos de "menor risco inflacionário" (isso já


foi feito, é o procedimento mais consistente).

Quando esse roteiro se mostrar insuficiente, a regulação terá dois caminhos:


mudar o padrão do controle, o que significa reduzir substantivamente o grau de
repressão, e aumentar a escala de operação do setor produtor, mediante progra-
ma oficial de compras. A questão é o tempo. Quanto mais grave for a distorção,
mais complexa será a forma de correção.18/19

O Preço ao Consumidor com uma Amostra Controlada: a Interferência do


Governo em Medicamentos de Preço Mais Elevado

A amostra de produtos utilizada no cálculo do preço ao consumidor foi


restringida para incluir somente produtos comercializados em pelo menos 20
países. Desse procedimento resultou um conjunto de 35 produtos.20
A nova amostra provou-se mais intensiva em produtos mais caros, o que fez
elevar o preço médio ao consumidor para todos os países, como apresenta o
quadro a seguir:

18
Sobre acesso a medicamentos: em 2003, quando a renda nacional não cresceu, as quantidades vendidas de
medicamentos caíram 7,2%. Em 2004, com o PIB crescendo mais de 5%, as quantidades vendidas aumen-
taram 10,3%.
19
Sobre indicadores econômicos da indústria farmacêutica: Romano, L.A.N et alii - Análise de Desempenho
Econômico-Financeiro do Setor Farmacêutico no Brasil 1998 a 2003. Estudos Febrafarma. Febrafarma. São
Paulo. 2005.
20
Quando se definiu a amostra para incluir somente os produtos comercializados em todos os países, o núme-
ro de elementos caiu para 8, considerado insuficiente.

[ 18 ] estudosFEBRAFARMA
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

Quadro 5
Preço ao Consumidor Sem Imposto – 2004

US$21
Preço ao Consumidor Preço ao Consumidor
sem Imposto sem Imposto
Amostra Completa Amostra com 35 Produtos
Estados Unidos 0,77 2,96
Áustria 0,68 1,93
Suíça 0,61 1,60
Luxemburgo 0,55 1,33
Itália 0,51 0,98
Bélgica 0,52 1,42
Alemanha 0,46 1,33
Finlândia 0,47 1,39
Holanda 0,47 1,35
Noruega 0,39 1,27
Irlanda 0,48 1,73
Portugal 0,37 0,83
Reino Unido 0,35 1,43
França 0,37 1,57
Grécia 0,36 0,92
Espanha 0,36 0,91
México 0,33 0,69
África do Sul 0,27 1,42
Austrália 0,30 1,22
Venezuela 0,28 0,72
Peru 0,23 0,54
Turquia 0,23 0,52
Argentina 0,17 0,15
Equador 0,18 0,48
Brasil 0,15 0,39
Nova Zelândia 0,16 0,67
Chile 0,14 0,30
Uruguai 0,13 0,29
Colômbia 0,13 0,40
Coréia 0,10 0,65
Fonte: Levantamentos IMS

21
Os preços são por unidade-padrão de medicamento

estudosFEBRAFARMA [ 19 ]
EDUARDO FELIPE OHANA

Com a nova amostra, foi ajustada a mesma equação explicativa dos preços.
Inicialmente, a equação simples de preço contra o PIB per capita permitiu iden-
tificar os países cujas estimativas sofriam um desvio de mais de 30% do valor
coletado. A esses países foi aplicada uma dummy para efeito de interferência (do
governo).
O resultado do ajuste econométrico: Amostra Controlada – Produtos em 20
países ou mais:

Preço = 0,6411 + 0,0000316 . PIB – 0,5036. dummy

R2 = 0,74 e Estatística F = 37,9.

O ajuste mostra que:

a) Os produtos mais caros não sofrem interferência do Estado na França,


Inglaterra e Austrália. Aparentemente, esses países atuam sobre medica-
mentos de maior uso popular, o que não distorce o estímulo à inovação;

b) Em contraposição, a Coréia (antes fora de qualquer ajuste) e Luxemburgo


parecem ter alguma política de "barateamento" para os produtos mais
caros;

c) Os países sul-americanos, ao contrário dos europeus, são mais restritivos


em relação aos preços dos medicamentos mais caros.

Quadro 6
Países que Sofrem Interferência: Amostra com 35 Produtos
(Produtos Mais Caros)
US$
Preço Preço Estimado Preço Estimado Grau de Repressão
Coletado com Ajuste se Não Houvesse nos Preços
para Interferência Interferência %
Luxemburgo 1,33 1,58 2,08 24,0%
Noruega 1,27 1,51 2,01 24,9%
Nova Zelândia 0,67 0,62 1,13 45,1%
Coréia 0,65 0,51 1,02 50,0%
Chile 0,30 0,27 0,78 65,4%
Uruguai 0,29 0,26 0,76 65,8%
Argentina 0,15 0,26 0,76 65,8%
Colômbia 0,40 0,19 0,69 72,5%
Brasil 0,39 0,27 0,73 63,0%

[ 20 ] estudosFEBRAFARMA
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

O Brasil – assim como os países do quadro 6 – segue a política de reprimir


com maior intensidade os produtos de maior valor específico, o que equivale a
um desestímulo maior, na margem, para a modernização.22
Certamente, essa estratégia relaciona-se aos produtos com patente, de
forma a evitar a “contribuição” dos países na recuperação dos investimentos
em pesquisa. Essa postura segue o entendimento de que a inovação tecnológi-
ca ocorre no exterior e que provavelmente não ocorrerá domesticamente. De
concreto, essa política procura garantir que jamais o desenvolvimento de novas
moléculas venha a ocorrer no Brasil, ou em quaisquer dos países apontados no
quadro 6.

O Impacto da Desvalorização do Dólar em 2004: a Miragem do Aumento

Em 2004, a moeda norte-americana sofreu perda de poder de compra fren-


te ao Direito Especial de Saque (numerário do FMI) de, na média do ano, 5,5%.
Em relação ao euro, essa perda média foi de 9,7% e frente ao real de 5%.
Nesse ambiente de volatilidade cambial, a metodologia do IMS para a con-
versão de moedas, que é baseada na taxa média de câmbio, pode causar um des-
vio em relação à taxa média verdadeira, uma vez que a média é calculada a par-
tir do valor observado ao final de cada trimestre.23
Dessa forma, há dois problemas relacionados com a taxa de câmbio: a) a
forma de cálculo da taxa de câmbio encarece (por efeito cotação) o medicamen-
to, em dólares; b) a desvalorização do dólar, mesmo sem erro no valor da taxa
de câmbio, faz com que o preço do medicamento se eleve, comparativamente
ao valor do ano anterior.
Com base em taxas médias de câmbio, obtidas nos EUA e em alguns ban-
cos centrais de países sul-americanos, procedeu-se ao ajuste dos preços médios
ao consumidor, para levar em conta os dois efeitos.24
22
Se a repressão média é de 41% e a repressão sobre os mais caros é de 63%, alguns produtos menos caros
(amortizados) trabalham com margem sem repressão. Não reprimir é sempre positivo, sob o ponto de vista
dos estímulos de mercado, mas a estrutura de repressão crescente com a modernidade do produto é o que há
de mais ineficiente.
23
A média é sempre influenciada pelos extremos e tão mais influente quanto menor o número de elementos
do cálculo. Se a taxa de câmbio (US$/moeda local) fosse constante, o procedimento seria neutro. Como, ao
longo de 2004, os dados registraram mais dólares por moeda local, o procedimento tende a ampliar esse valor,
vale dizer, magnificar a valorização da moeda local, significando que o preço em dólares do medicamento é
maior do que o fato.
24
Os valores da taxa cambial foram obtidos no Federal Reserve of Saint Louis e nos bancos centrais do Chile,
Peru, Colômbia, Argentina, Uruguai e Venezuela.

estudosFEBRAFARMA [ 21 ]
EDUARDO FELIPE OHANA

Como resultado, os preços, em dólares, exceto para os EUA, foram reduzidos,


em média, 7%, com a maior redução cabendo à Nova Zelândia (-12,6%) e aos
países do euro (-9,6%). A Áustria deixa de ter preço equivalente ao dos EUA, que
voltam a liderar sozinhos a escala de preços (com imposto).
O preço brasileiro, com imposto, reduz-se de US$ 0,18 para US$ 0,1697,
ficando abaixo do preço do Equador (antes, com preço igual). Essencialmente,
a ordem dos países não se altera.
Embora a forma correta de se comparar preços seja pela taxa de câmbio de
mercado (independentemente do movimento cambial), a análise intertemporal
não pode desconsiderar a desvalorização do dólar. De acordo com os dados
originais do levantamento, o preço nacional teria aumentado 12,3% (de US$
0,1603 em 2003 para US$ 0,18 em 2004), enquanto, saneados os efeitos
cambiais, o preço teria aumentado 5,8% (de US$ 0,1603 para US$ 0,1697).
O aumento de 5,8% deve ser entendido da seguinte forma: trata-se da varia-
ção do preço, em real, convertido para dólares, na hipótese de a moeda norte-
americana não se ter desvalorizado nominalmente, vale dizer, que o dólar com-
prasse o mesmo montante nominal de reais tanto em 2003 como em 2004.
Contudo, o real sofreu um processo inflacionário, assim como a economia
norte-americana. Em condições normais, o real deveria ter-se desvalorizado na
diferença das duas taxas de inflação. A isso se chama taxa de paridade. Se a con-
dição normal de mercado tivesse prevalecido, a moeda norte-americana deve-
ria comprar, em 2004, 5,2% a mais de reais do que comprou em 2003. Este é o
montante que explica, a grosso modo, o aumento de preço dos medicamentos
nacionais, quando medido em dólares.
Em outras palavras, o aumento do preço nominal dos medicamentos, em
2004, é um resultado que decorre do cenário cambial no mundo. Em âmbito
doméstico, a inflação média do setor farmacêutico, em 2004, foi de 5,1%,
enquanto a inflação geral (medida pelo IPA-OG) foi de 10,5%. O medicamen-
to, em 2004, compra mais dólares do que comprava em 2003, mas compra
menos produtos nacionais do que comprava nos 12 meses anteriores. Essa é a
miragem causada pelo efeito cambial.

[ 22 ] estudosFEBRAFARMA
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

Quadro 7
Preços ao Consumidor: Corrigidos pelo Efeito Cambial e Coletados

2004 – Corrigido pelo Câmbio 2004 – Levantamento IMS


US$
c/imp s/imp c/imp s/imp

EUA 0,8202 0,7702 0,82 0,77


Áustria 0,7414 0,6148 0,82 0,68
Suíça 0,5681 0,5589 0,62 0,61
Luxemburgo 0,5153 0,4972 0,57 0,55
Itália 0,5063 0,4611 0,56 0,51
Bélgica 0,4972 0,4701 0,55 0,52
Alemanha 0,4882 0,4159 0,54 0,46
Finlândia 0,4611 0,4249 0,51 0,47
Noruega 0,4524 0,3675 0,48 0,39
Holanda 0,4430 0,4249 0,49 0,47
Irlanda 0,4340 0,4340 0,48 0,48
Portugal 0,3707 0,3345 0,41 0,37
Reino Unido 0,3637 0,3105 0,41 0,35
França 0,3526 0,3345 0,39 0,37
Grécia 0,3526 0,3255 0,39 0,36
México 0,3448 0,3448 0,33 0,33
Espanha 0,3345 0,3255 0,37 0,36
Peru 0,3249 0,3249 0,28 0,23
Venezuela 0,2798 0,2298 0,30 0,30
Austrália 0,2658 0,2315 0,28 0,28
África do Sul 0,2558 0,2558 0,31 0,27
Turquia 0,2478 0,2192 0,26 0,23
Argentina 0,2129 0,1724 0,21 0,17
Equador 0,1800 0,1800 0,18 0,18
Brasil 0,1697 0,1414 0,18 0,15
Nova Zelândia 0,1572 0,1397 0,18 0,16
Uruguai 0,1509 0,1307 0,15 0,13
Chile 0,1400 0,1225 0,16 0,14
Colômbia 0,1175 0,1175 0,13 0,13
Coréia 0,0943 0,943 0,10 0,10
Fonte: IMS

estudosFEBRAFARMA [ 23 ]
EDUARDO FELIPE OHANA

Quadro 8
Preços ao Consumidor: Valores do Levantamento do IMS – 2000 a 2004

US$
2004 2003 2002 2001 2000
c/imp s/imp c/imp s/imp c/imp s/imp c/imp s/imp c/imp s/imp

Estados Unidos 0,82 0,77 0,74 0,69 0,65 0,61 0,66 0,62 0,59 0,55

Áustria 0,82 0,68 0,71 0,59 0,56 0,47 0,50 0,41 0,49 0,41

Suíça 0,62 0,61 0,54 0,53 0,44 0,43 0,38 0,37 0,36 0,35

Luxemburgo 0,57 0,55 0,48 0,47 0,38 0,37 0,34 0,33 0,31 0,30

Itália 0,56 0,51 0,47 0,43 0,38 0,35 0,35 0,32 0,33 0,30

Bélgica 0,55 0,52 0,46 0,43 0,37 0,35 0,33 0,31 0,31 0,30

Alemanha 0,54 0,46 0,53 0,45 0,42 0,36 0,37 0,32 0,35 0,30

Finlândia 0,51 0,47 0,43 0,40 0,36 0,33 0,30 0,28 0,29 0,27

Holanda 0,49 0,47 0,45 0,43 0,35 0,33 0,31 0,30 0,30 0,28

Noruega 0,48 0,39 0,43 0,35 0,38 0,31 0,31 0,25 0,30 0,24

Irlanda 0,48 0,48 0,40 0,40 0,30 0,30 0,25 0,25 0,23 0,23

Portugal 0,41 0,37 0,34 0,31 0,28 0,25 0,25 0,22 0,24 0,22

Reino Unido 0,41 0,35 0,35 0,29 0,29 0,25 0,26 0,22 0,26 0,22

França 0,39 0,37 0,32 0,31 0,26 0,25 0,23 0,22 0,23 0,22

Grécia 0,39 0,36 0,31 0,29 0,23 0,21 0,20 0,19 0,19 0,17

Espanha 0,37 0,36 0,33 0,31 0,25 0,24 0,22 0,21 0,21 0,20

México 0,33 0,33 0,30 0,30 0,30 0,30 0,29 0,29 0,24 0,24

África do Sul 0,31 0,27 0,30 0,26 0,18 0,16 0,20 0,18 0,23 0,20

Austrália 0,30 0,30 0,24 0,24 0,19 0,19 0,17 0,17 0,17 0,17

Venezuela 0,28 0,28 0,27 0,27 0,26 0,26 0,29 0,29 0,26 0,26

Peru 0,28 0,23 0,26 0,22 0,26 0,22 0,27 0,23 0,26 0,22

Turquia 0,26 0,23 0,26 0,22 0,20 0,17 0,17 0,14 0,19 0,17

Argentina 0,21 0,17 0,20 0,16 0,18 0,15 0,40 0,32 0,40 0,33

Equador 0,18 0,18 0,17 0,17 0,18 0,18 0,17 0,17 0,12 0,12

Brasil 0,18 0,15 0,16 0,13 0,15 0,13 0,16 0,13 0,19 0,16

Nova Zelândia 0,18 0,16 0,16 0,14 0,12 0,11 0,11 0,10 0,13 0,11

Chile 0,16 0,14 0,14 0,12 0,13 0,11 0,13 0,11 0,15 0,12

Uruguai 0,15 0,13 0,15 0,13 0,18 0,16 0,24 0,21 0,27 0,24

Colômbia 0,13 0,13 0,11 0,11 0,12 0,12 0,12 0,12 0,11 0,11

Coréia 0,10 0,10 0,08 0,08 0,07 0,07 0,06 0,06 0,06 0,06

Fonte: IMS

[ 24 ] estudosFEBRAFARMA
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

Conclusão – Preço ao Consumidor

1) O aumento do preço ao consumidor sem imposto, em 2004, é resultado do


enfraquecimento da moeda norte-americana. Na prática, uma unidade-
padrão de medicamento compra mais dólares em 2004 do que comprava
em 2003, mas compra menos produtos nacionais (vidro, plástico, papel e
outros) que comprava no ano anterior. O medicamento encareceu para os
agentes que transacionam em dólares, mas barateou-se (relativamente)
para aqueles que lidam com a moeda brasileira.

2) O Brasil apresentou o quinto menor preço ao consumidor sem imposto, no


conjunto de 30 países, embora os mercados onde os menores preços são
observados apresentem oferta incompleta de produtos (os produtos mais
caros estão ausentes).

3) O preço ao consumidor depende da modernidade dos produtos transacionados.


A renda da sociedade é o fator que determina o acesso aos produtos de última
tecnologia. Por essa razão, sociedades mais desenvolvidas apresentam maiores
preços ao consumidor. A questão é por que tais sociedades pagam preços mais
caros, se poderiam reduzir, como faz o Brasil, as margens de comercialização.
Certamente, conseguiram entender que os custos de ações como essa não são
triviais, a exemplo da diferença no número de produtos novos lançados no
México e no Brasil, em 2004.

4) O controle de preços está presente, inclusive, em países europeus, mas com três
marcantes diferenças: a) a repressão aos preços é significativamente inferior
àquela observada no Brasil; b) a repressão aos preços na Europa tem caracterís-
tica de política fiscal para contenção de despesas com ressarcimento. A compra
(ou ressarcimento) de medicamentos pelo Estado garante escala de operação
para as empresas (uma troca de margem por volume), o que minimiza as dis-
torções sobre os estímulos à modernização. No Brasil, e nos países pesquisados
da América do Sul, a repressão tem, da mesma forma, característica fiscal, só que
de tributação disfarçada; c) na Europa, há indícios de que a repressão aos preços
incide mais fortemente nos produtos amortizados, ou seja, após algum tempo
de lançamento. Com isso, o valor presente do produto é maior do que no caso
de a repressão ser aplicada no período inaugural do produto. Vale dizer, o deses-
tímulo, na margem, à inovação é menor. No Brasil, é exatamente ao contrário.

estudosFEBRAFARMA [ 25 ]
EDUARDO FELIPE OHANA

5) A repressão mais intensa aos produtos modernos (mais caros), no Brasil,


como mostrado pela análise de regressão, sugere tratar-se de um instru-
mento para escapar ao pagamento da parte de recuperação dos investimen-
tos nas novas tecnologias, em geral feitos por empresas estrangeiras. De
certa forma, é a eterna luta por “almoço grátis”.25 Todo almoço grátis tem
seus contratempos. Nesse caso, há um conjunto de informações não perce-
bidas pela regulação, na forma de cancelamento e/ou postergação de lança-
mento de novos produtos, que constituem o custo social da regulação, ou o
contratempo do almoço grátis.

6) O controle de preço tem, no Brasil e nos países sul-americanos pesquisados,


a característica exclusiva de política social, cuja implementação é transferida
para o setor privado, diferentemente do que se passa na Europa (onde a
característica fiscal está presente). O mais grave é que, tendo a natureza
social, não cabem na regulação os preceitos econômicos de defesa da concor-
rência e de estímulo à oferta, questões que justificam, quando é o caso, a pre-
sença do Estado. Imperfeições na regulação provocam distorções em outras
práticas – que vão desde o não lançamento de produtos e a redução de inves-
timentos até as complicações nas áreas de preço de transferência e seguran-
ça dos produtos –, questões que extrapolam as preocupações deste relatório,
mas que, aparentemente, seguem ignoradas por uma regulação estreita.26

25
“Almoço grátis”: termo atribuído ao novelista Robert A. Heinlein e popularizado pelo economista Milton
Friedman, prêmio Nobel em 1976, para simbolizar que não há benefícios sem custos correlatos.
26
Muito comum o argumento contra produtos patenteados: “O Brasil não pode permitir que medicamentos
patenteados sejam transacionados a preços abusivos”. Inicialmente, não há, em economia, tal conceito de
preço abusivo. A Lei 8884/94 prevê, nada obstante, sanções à fixação de preços abusivos. Entre 1997 e 1998,
quando vigorou a liberdade de preços, o Cade julgou 35 casos de abusividade de preços, contra o setor farma-
cêutico. Todos foram considerados improcedentes. Em segundo lugar, o Brasil é signatário de um acordo inter-
nacional sobre patentes, contudo a repressão o torna, de fato, parcialmente signatário. Em terceiro lugar, é
sempre possível negociar – perante um business plan – as condições de lançamento, vale dizer, caso a caso,
em função da relevância do produto. Em quarto lugar, quando um produto patenteado não é lançado e/ou
comercializado no país, seu preço é infinito. Este, para os que gostam do termo, pode receber o carimbo de
preço abusivo.

[ 26 ] estudosFEBRAFARMA
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

III – Preço de Disponibilidade – 2004


CONVENCIONOU-SE, neste relatório, denominar de preço de disponibilida-
de os preços de comercialização – na porta da fábrica e no balcão – coletados
pelo IMS, no âmbito dos 30 países, obedecidos os critérios amostrais.

Como explicado, a amostra levantada pelo IMS, a cada ano, é justificada-


mente evolutiva, com um conjunto diferente de produtos/apresentações. Assim,
a comparação intertemporal fica prejudicada, bem como a própria comparação
estática entre países, uma vez que a disponibilidade não é homogênea. Para
minimizar esse viés, a análise também trabalha com um subgrupo de produtos
presentes em pelo menos 20 países.27

1) Os Preços de Disponibilidade Coletados

Os 192 produtos constantes da amostra, com 365 apresentações, compõem


o seguinte quadro descritivo, para o Brasil.

Quadro 9
Evolução do Preço ao Público (Balcão) – com e sem Imposto de Valor Adicionado
não Permite a Comparação entre Anos

US$
Ano Preço Brasil Preço em Posição Relativa do
Médio Todos os Países Preço Brasileiro na
Médio Média Mundial*
S/IVA C/IVA S/IVA C/IVA S/IVA C/IVA
2000 10,34 21,44 12,70 21,47 89% 105%
2001 14,77 30,62 16,84 29,32 75% 85%
2002 15,16 31,44 18,01 31,76 64% 79%
2003 10,52 17,47 12,80 19,80 69% 74%
2004 15,00 17,70 17,45 19,04 73% 79,8%
Fonte: IMS
* - A posição relativa é calculada mediante a média da posição relativa de cada medicamento e apresenta-
ção. Portanto, não é a relação entre preços médios do Brasil e do mercado internacional.28

27
Esse subgrupo resolve a heterogeneidade de oferta, entre países, dentro do ano. A questão intertemporal é
de mais difícil solução. Se a opção fosse trabalhar com uma amostra constante desde 2000, os anos seguintes
registrariam o efeito depreciação do medicamento ultrapassado, criando um viés de redução ao longo do
tempo. O subgrupo funciona como uma "proxy" para a cesta constante, sem o efeito depreciação. No caso, se
houver um viés, será de elevação dos preços ao longo do tempo.
28
Ou seja, o cálculo é ∑ (xi / yi) / n, o que é diferente de ∑ (xi) / ∑ (yi).

estudosFEBRAFARMA [ 27 ]
EDUARDO FELIPE OHANA

O quadro 9 não permite a comparação entre anos, porque, como mencio-


nado, trata-se de cestas heterogêneas de produtos.
No que se refere ao preço-fábrica (sem quadro), a posição brasileira, em
relação à média mundial, foi de 69% sem imposto e de 74,6% com imposto de
valor adicionado.

O Comportamento dos Preços de Disponibilidade no Brasil: a Amostra Completa

A análise comportamental dos preços nacionais mostra que a correlação


com a média dos preços mundiais é de 17%, significando que os preços domés-
ticos são desatrelados dos internacionais, como se medicamento não fosse um
bem comercializável. A correlação entre preço nacional e o número de países
em que cada produto é comercializado é de -8%, apontando que tampouco
existe qualquer relação entre o preço doméstico e a propagação do medicamen-
to no mundo, o que poderia ser entendido como um indicador de amortização
do produto.29
Isso significa que o Brasil constituiu uma autarquia de preços de medica-
mentos, vale dizer, temos nossos próprios preços relativos, independentes do
mundo. Dessa forma, o barateamento relativo poderia levar o Brasil a ser um
centro exportador, exceto no caso de as matrizes dos principais laboratórios
apresentarem uma estrutura de custo, no exterior, mais favorável (ganhos de
escala). Nessa hipótese, haveria um componente de estímulo para a substituição
da produção doméstica por importações de produtos acabados.
O quadro 9 deve ser visto como informativo para cada ano. Em 2004, o
valor do medicamento disponível no mercado brasileiro – perante aquele con-
junto específico de produtos – comprava somente 73% do mesmo medicamen-
to disponível, no mercado mundial, quando os impostos eram descontados.
Comparando-se com preços na porta da fábrica, o produto nacional comprava
somente 69% do mesmo produto.
Para suavizar o problema de incomparabilidade intertemporal, a cesta de
produtos é ajustada para incluir somente aqueles medicamentos vendidos em,
pelo menos, 20 países.

29
O sinal negativo da correlação segue o esperado. O preço, no Brasil, tende a ser menor quando aumenta o
número de países em que o medicamento é comercializado.

[ 28 ] estudosFEBRAFARMA
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

2) Os Preços de Disponibilidade com Amostra Ajustada para 20 Países

Esse procedimento não resultou numa cesta de produtos homogênea, em rela-


ção à de 2003. As distorções continuaram significativas, com os preços médios, no
Brasil e no mundo, sendo mais do que dobrados, em relação ao ano anterior.
Para sanar o problema, a amostra de 2004 foi ajustada, mantendo o mesmo
critério de produtos vendidos em pelo menos 20 países, contudo reproduzindo
a mesma cesta de 2003. O número de itens da amostra (apresentações de medi-
camentos) caiu de 176 para 154.

Quadro 10
Evolução do Preço de Disponibilidade com Amostra Ajustada
Preço-fábrica
(Permite Comparação Intertemporal)
US$
Ano Preço Brasil Preço em Todos os Posição Relativa do
Médio Países Médio Preço Brasileiro na
Média Mundial*
S/IVA C/IVA S/IVA C/IVA S/IVA C/IVA
2000 2,20 4,32 2,68 4,50 89% 109%
2001 1,39 2,87 2,39 4,00 69% 85%
2002 1,34 2,77 2,66 4,40 62% 77%
2003 1,26 2,10 2,40 3,72 62% 67%
2004 2,02 2,38 3,05 3,35 65% 71%
Fonte: IMS
* Ver nota do quadro 9

O quadro 10 mostra um aumento generalizado dos preços dos medicamen-


tos, em dólares, em 2004.30
No caso brasileiro, o ajuste para esse efeito deve levar em conta a taxa de
câmbio efetiva média (pelo IPA-DI), como calculado pelo Banco Central, com
valorização de 5%. Tal ajuste, aplicado para o preço-fábrica com imposto, mos-
tra que a posição relativa cai de 71% para 68%, portanto no mesmo patamar de
2003. Para o preço-fábrica sem imposto, a posição cai de 65% para 62%, ou seja,
a mesma posição do ano anterior (ver o gráfico 4).
A leitura da informação do quadro 10 indica que o preço de disponibilidade,
no Brasil, medido em dólares, aumentou em relação aos preços internacionais, na

30
Enfraquecimento da moeda norte-americana.

estudosFEBRAFARMA [ 29 ]
EDUARDO FELIPE OHANA

comparação de 2004 contra 2003. Os medicamentos compram 3% a mais no


exterior, em 2004, segundo o preço-fábrica sem imposto.
O ajuste pela taxa de câmbio efetiva, por outro lado, revela que a melhora
relativa dos preços não decorreu da variação no mercado doméstico, mas da
dança nas cotações de moedas.

Gráfico 4
Preço de Disponibilidade - Amostra Ajustada
Preço-fábrica de Medicamentos Vendidos em pelo Menos 20 Países
Posição Relativa do Brasil na Média Mundial
(Permite Comparação Intertemporal)
Porcentagem da Média Mundial

120 109
100 89 85 77
80 Sem IVA
69 62 62 67 65 71
60 Com IVA
40
20
0
2000 2001 2002 2003 2004

Fonte: IMS

Gráfico 5
Preço de Disponibilidade
Preço-fábrica de Medicamentos Vendidos em pelo Menos 20 Países
Posição Relativa do Brasil na Média Mundial
Preços Brasileiros Corrigidos pela Taxa Efetiva de Câmbio em 2004
Porcentagem da Média Mundial

120 109
100 89 85 77 Sem IVA
80 69 62 62 67 62 68
60 Com IVA
40
20
0
2000 2001 2002 2003 2004
Fonte: IMS

[ 30 ] estudosFEBRAFARMA
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

A Valorização Cambial Explicita os Problemas do Controle de Preços

A) A Origem do Problema

No âmbito doméstico, o preço dos medicamentos perdeu poder de


compra em 2004. A comparação dos salários – mínimo legal e dos ocupados no
setor privado – com o preço dos medicamentos mostra a ascensão do poder de
compra dos salários.31

Gráfico 6
Medicamentos: Poder de Compra dos Salários Nacionais
Salários Mínimo Legal e dos Ocupados no Setor Privado Frente aos Preços
dos Medicamentos
Preço-fábrica com Imposto
150
141,0 140,7

124,2
120
Quantidades de Medicamento-padrão

106,6 103,6
90

60 Salário Mínimo/
Preço de
Medicamentos
35,6 36,3
Rendimento
30 25,6 Médio dos
24,1 Ocupados/Preço
18,6
de Medicamento
0
2000 2001 2002 2003 2004
Fonte: IMS e IPEA/IPEADATA

O gráfico 6 indica que a quantidade comprada de medicamento pelo salá-


rio mínimo legal aumentou 95%, entre 2000 e 2004. Em 2004, o aumento foi de
2%. O salário do pessoal ocupado ampliou o poder de compra de medicamen-
tos em 32%, desde 2000. Em 2004, houve estabilização.

31
A média dos salários nominais mensais foi convertida para dólares pela taxa média anual de compra do
Banco Central.

estudosFEBRAFARMA [ 31 ]
EDUARDO FELIPE OHANA

O impacto dos demais componentes domésticos de custos – responsáveis


por algo entre 60% e 70% da estrutura produtiva – tem sido negativo e conti-
nua negativo, conforme o gráfico 7.

Gráfico 7
Preço Relativo dos Medicamentos:
Estrutura interna de Custos

120
Índice de Preço Relativo dos Medicamentos

100

80

60

40

20

0
2000 2001 2002 2003 2004

Medicamento/Papel Medicamento/Combustível
Medicamento/Plástico

Fonte: IPEA/IPEADATA

O gráfico 7 aponta a tendência de perda de poder doméstico de aquisição


de insumos (perda de margem de comercialização), desde 2000. Em 2004,
houve estabilização da perda em relação ao insumo papel e queda acentuada
frente aos plásticos. A posição em relação aos combustíveis decorre da política
de administração de preços naquele setor, guiada pela valorização cambial.32
Em paralelo, o aumento do poder de compra dos medicamentos, no exte-
rior, implica a redução nos custos de importação e melhoria no valor dos ativos
em dólar, com reflexos positivos na contabilidade em moeda estrangeira.

32
Por exemplo, desde o final de 2002, o preço do gás está congelado pela Petrobras.

[ 32 ] estudosFEBRAFARMA
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

Em termos da estrutura de rentabilidade da indústria, o ano de 2004 con-


templa, portanto, um perde-ganha, com duas características muito distintas. Os
ganhos sobre os componentes importados foram eventuais e resultantes de
movimentos de mercado. As perdas continuam seguindo uma tendência histó-
rica, o que revela a existência de um elemento estrutural (não eventual).
Esse quadro adquire complexidade exatamente por causa da política de
controle de preços. A valorização cambial gera registros na fórmula de correção
de preços. Tais registros de ganhos cambiais compõem uma conta corrente, que
é efetivada (cobrada ou descontada) na data de reajuste de preço.33

B) O Problema: Vários Equívocos

Para o controle se tornar prático, a regulação trabalha com a parametriza-


ção dos custos importados, contabilizando somente a variação da taxa nominal
de câmbio, enquanto, de fato, nada garante que o preço internacional dos insu-
mos não venha a variar em sentido oposto ao da taxa cambial. De fato, os pre-
ços internacionais sofreram majoração em dólar. De acordo com o quadro 10,
o aumento médio foi de 27%.34
Além dessa parcialidade na compensação, aquilo que a regulação denomina
de lucro excepcional é tributado. Portanto, a fórmula de correção dos preços, ao
determinar a devolução do lucro excepcional, promove a devolução acrescida da
parte do tributo paga. Prática e conceitualmente, há devolução em excesso.
Aplicada sobre a volatilidade cambial, a devolução, para ser neutra, exige
que a estrutura de custo permaneça constante, entre um cenário e outro, que a
estrutura de vendas seja a mesma, que os preços relativos não se deteriorem e
que a parte tributária seja compensada. Ou seja, esse instrumento, ademais de
tudo, gera distorções sobre as quais não tem o menor conhecimento.
Sob a perspectiva exclusivamente empresarial, a prática de acompanhamen-
to defasado dos movimentos cambiais acaba gerando um viés negativo contra a

33
A fórmula de reajuste acumula os percentuais de valorização cambial (de acordo com o parâmetro para cus-
tos de importação), ao longo do período em que se processa a valorização e debita esse valor somente quando
ocorre uma desvalorização. Ou seja, enquanto não há desvalorização, os registros de valorização seguem sendo
contabilizados, sem afetar o reajuste de preço. Tem a estrutura de uma bomba relógio.
34
A base dessa regulação se prende à tese do lucro extraordinário (windfall profit), gerado por eventos aleató-
rios. Quando esse tema é tratado, a compensação é discutida para setores oligopolizados (como petróleo) que
têm um preço internacional de referência, sendo a compensação aplicada quando as vantagens são circunstan-
ciais, isto é, claramente transitórias. De toda forma, esse mecanismo não é estruturado para a volatilidade cam-
bial, uma vez que a todo movimento da taxa de câmbio para fora do equilíbrio corresponde uma expectativa
(um movimento futuro) em sentido oposto, de tal sorte que, no longo prazo, as perdas e ganhos se compensam.

estudosFEBRAFARMA [ 33 ]
EDUARDO FELIPE OHANA

rentabilidade. Quando há abundância de divisas e a taxa cambial se valoriza, a


concorrência doméstica entre laboratórios provoca a redução de preços, por
meio de descontos para a rede de comercialização. A concorrência não permite
que a valorização seja integralmente internalizada nas empresas. Ao contrário,
com a desvalorização e os preços domésticos contidos, há perda de margem.
Dependendo da magnitude da volatilidade, o instrumento de devolução pode
representar uma forma significativa de descapitalização.
Não menos importante, a fórmula de controle gera, no presente, uma ten-
são nas expectativas a respeito da intensidade da desvalorização futura. Com
uma data de corte a partir de fevereiro de 2006, há probabilidade de se ter um
reajuste de preço descontado pela valorização passada, que vigorará ao longo do
período em que se espera a desvalorização.
Visto com antecipação, o problema não se restringe ao que irá de fato ocor-
rer. O conflito extrapola a questão, porque os agentes formam suas expectativas
e elas influenciam as ações no presente. Quando a expectativa de desvalorização
aumenta, iniciam-se os efeitos negativos sobre o preço dos ativos.
Do ângulo macroeconômico, há, da mesma forma, erro na regulação.
Quando a taxa de câmbio (R$/US$) se desvaloriza, o mercado está informando
aos residentes que devem substituir comercializáveis por não comercializáveis,
naquele momento. Mas a fórmula da regulação passa ao largo desse sinal eco-
nômico e transfere, como se tivesse poder para tanto, a escassez de divisas para
uma data futura, quando autoriza a majoração de preços. Isso é feito em razão
de o regulador só enxergar a relação empresa-consumidor. Com tal procedi-
mento, os sinais macroeconômicos não chegam ao mercado e ficam restritos
aos balancetes das empresas.
Em suma, se o controle de preços deve ser criticado pelas distorções econô-
micas que acarreta, o segmento que se preocupa com a questão cambial é, pelas
razões expostas, incompreensível, e a natureza das justificativas, ainda mais: a)
compensar desvios de preços, embora estes se autocompensem ao longo dos
ciclos cambiais (toda valorização implica a expectativa de desvalorização); b)
garantir o repasse, ao consumidor, da valorização cambial, mesmo sabendo dos
descontos praticados pelos laboratórios; e c) proteger o consumidor do ônus
cambial, em desrespeito aos sinais macroeconômicos de uma desvalorização.
Se essa regra fosse aplicada a todos os setores, no caso de uma desvaloriza-
ção, as empresas iriam à falência e o país se veria diante de uma crise cambial.
De certa forma, o que ocorreu no Plano Cruzado.35
35
Os mais pragmáticos podem ter razão ao acreditarem que algum “jeitinho” será sempre dado. O proble-
ma é que a economia do jeitinho, à luz da percepção internacional, deteriora as perspectivas do investidor, no
longo prazo. Na economia do jeitinho, tudo é possível. O debate sobre regra e discrição é antigo na literatura
econômica e não é sem propósito.

[ 34 ] estudosFEBRAFARMA
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

Conclusão – Preço de Disponibilidade

1. O preço de disponibilidade brasileiro manteve-se no mesmo patamar de


2003, em relação à média mundial, quando é compensado o efeito das
variações na taxa de câmbio.

2. A volatilidade cambial fez o preço do medicamento nacional aumentar


13,3%, quando medido em dólares. No mercado doméstico, ao contrário, o
poder de compra médio caiu 4,8%, comparando-se ao IPA-OG.

3. O preço do medicamento, no Brasil, não guarda qualquer relação com o


preço internacional. O Brasil constituiu uma autarquia para o preço relati-
vo dos medicamentos.

4. A volatilidade da moeda norte-americana, no planeta, foi o destaque na


explicação dos movimentos dos preços.

5. Essa volatilidade explicitou o erro do conceito de compensação dos ganhos cam-


biais, que estrutura a fórmula de correção de preços. O fator impacta negativa-
mente as expectativas do investidor, em função da perspectiva cambial futura.

6. Além da questão de expectativas, o erro do conceito de compensação


reside no fato de administrar, ao longo do tempo, sinais macroeconômicos
que devem ser respeitados intempestivamente.

7. A aplicação do conceito erra, ademais, por não considerar a variação nos


preços internacionais dos insumos e por compensar integralmente os ganhos
das empresas (mesmo que excepcionais), sem devolver a quantia tributada.

8. Não menos importante, há erro no conceito por que a regulação se propõe


a compensar o que não precisa ser compensado, esquecendo-se de que a
todo movimento cambial para fora da taxa de equilíbrio corresponde um
outro movimento cambial em sentido oposto.

9. Ao compensar o que não precisa ser compensado, interfere desneces-


sariamente no investimento, não devolvendo a arrecadação tributária, não
observando os preços internacionais dos insumos e, com isso, criando incer-
tezas adicionais sobre o valor dos ativos, associadas ao cenário cambial.

estudosFEBRAFARMA [ 35 ]
EDUARDO FELIPE OHANA

Final – Comentários Gerais


O GRANDE IMBRÓGLIO da política de medicamentos é a inconsistência
estrutural de trabalhar com um só instrumento e objetivos múltiplos. O con-
trole de preços alcança um só propósito: impedir que o preço seja aquele que
o mercado aceitaria. De outra forma, que as margens de comercialização
sejam menores.
Na ausência de outros instrumentos, como a compra oficial em escala, a
estruturação consistente de seguros privados, uma política de saúde intensi-
va em prevenção e um quadro jurídico mais confiável (patentes, pesquisa,
mão-de-obra etc), os resultados negativos são conseqüências esperadas.
A título de comparação, a população mexicana é 56% da população bra-
sileira e sua renda per capita é 2,3 vezes a nacional. Em termos de magnitu-
de, o fluxo de transações econômicas, no México, poder-se-ia estimar, supe-
ra o nacional em 29%. O mercado de medicamentos, naquele país, supera o
brasileiro em 28%. Ou seja, as magnitudes são consistentes. O que destoa
desse quadro é o fato de, em 2004, ter havido o lançamento de 60 novos pro-
dutos no México e de somente 34 no Brasil.
Resultados como esse representam custos opacos para a sociedade brasi-
leira, seja em termos de oportunidades perdidas de negócio, seja em relação
a um maior custo para a saúde pública, vis-à-vis o potencial de moderniza-
ção dos medicamentos, além de outras perdas.
Essa obviedade deve ser explicitada: a política de controle de preços só
gera um dos resultados pretendidos por qualquer regulador, o preço contro-
lado. Inevitavelmente, outros resultados pretendidos são prejudicados.
A regulação, cujo adjetivo deveria ser econômica, adquiriu nova classi-
ficação: social. Embora, rigorosamente, não exista tal tipo de regulação, na
prática sua manifestação ocorre mediante o abandono dos critérios econô-
micos (defesa da concorrência, correção de externalidades e estímulo à
produção) e o cortejo de termos como “abusivo”, “excessivo”, “razoável” e
“aceitável”, que passam a nortear medidas que, acima de tudo, precisam ser
operacionais.
Uma vez abandonados os cânones da regulação econômica, a preferência
do regulador predomina e, nesse âmbito, surgem os excessos de burocracia,
as exigências sem mérito e os descontroles administrativos dos processos.
O mecanismo de compensação da variação cambial é um exemplo do
caráter social da regulação. Parece razoável exigir que o produtor devolva o

[ 36 ] estudosFEBRAFARMA
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

ganho excepcional que auferiu com a taxa cambial, negligenciando todos os


problemas que isso implica. Contudo, como o controle de preços não pode
deixar de definir normas para a desvalorização, torna-se impositivo, na per-
cepção do regulador, que haja simetria de controle (compensar a valorização
cambial, também).
O equívoco não está só na simetria, que tenta corrigir o que não precisa
e interfere com os sinais macroeconômicos, mas reside, principalmente, no
conceito do controle, que, por ter uma natureza social, busca o lucro "justo"
ou “razoável”. Essa busca não pode prescindir da planilha de custo, ao passo
que a regulação econômica, menos ineficiente, adotaria os preços relativos
como parâmetros.
A indústria farmacêutica é um dos principais pólos de desenvolvimento
tecnológico do mundo. Pesquisas tecnológicas são, por diversas razões, rela-
tivamente caras, logo alguns benefícios associados podem não ser compatí-
veis com o nível de renda de algumas sociedades. Isso quer dizer que há,
como em qualquer mercado, um contínuo de possibilidades de contrato
entre a sociedade e o setor produtor. Especificamente, negociam-se margens,
volume e qualidade do produto. Os números do exercício econométrico mos-
tram que os europeus limitam as margens em montante inferior ao que
fazem os sul-americanos e oferecem volume de transação. Disso, pode-se
esperar que a qualidade do produto disponível seja superior. Os sul-america-
nos, ao reprimirem as margens e não oferecerem volume (escala), optam por
um espectro menor de produtos, tanto no presente quanto na perspectiva de
modernização futura.
É muito improvável, tanto na indústria farmacêutica, como em outros
segmentos, que economias mais pobres consigam criar uma relação exclusi-
va entre margem-volume-qualidade.36 No ensino básico de economia, apren-
de-se que a escolha do preço implica a escolha das quantidades. Não é possí-
vel escolher, de forma independente, preço e quantidade.
A regulação de medicamentos, no Brasil, escolhe a variável preço (o que
fixa as margens). O nível de renda determina as quantidades. Por conseqüên-
cia, a qualidade é residual (quantidade de produtos novos).
A política de menor preço possível para os medicamentos alcançou
êxito, sob a exclusiva ótica desse objetivo. O Brasil é o quinto país mais
36
Margem privada, a menor possível; volume de transação, aquele socialmente necessário e qualidade, a ideal
constituíam o sonho das economias centralmente planificadas. Na prática, a margem era a ideal (nenhuma);
o volume de transação, aquele que o Estado dizia ser o socialmente necessário (filas) e a qualidade, só no mer-
cado paralelo (contrabando).

estudosFEBRAFARMA [ 37 ]
EDUARDO FELIPE OHANA

barato, num conjunto de 30, com rendas média e superior. É preciso, con-
tudo, explicitar que não há almoço grátis e que o contratempo desse suces-
so não é irrelevante.
Trabalhos como este, de cunho analítico, da Febrafarma, procuram con-
tribuir para o debate, colaborando com a sociedade no aperfeiçoamento da
abordagem à linha de contrato, com o propósito de eliminar ineficiências,
sem prejuízo de outros benefícios, visto que a regulação não é um jogo de
soma zero.
Consideradas a importância da matéria e as dificuldades práticas, é fun-
damental ampliar a interlocução técnica entre os agentes envolvidos, a partir
do que se acelera o conhecimento e se minimizam as perdas de todos.

[ 38 ] estudosFEBRAFARMA
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

Anexos

Os 30 países incluídos no estudo

Desenvolvidos
Eua
Suíça
Reino Unido
Áustria
Alemanha
Itália
França
Espanha
Portugal
Nova Zelândia
Noruega
Holanda
Irlanda
Luxemburgo
Finlândia
Bélgica
Austrália
Grécia
Emergentes
Brasil
México *
Turquia *
Coréia do Sul *
Argentina *
Peru
Colômbia
Venexuela
Uruguai
Equador
Chile
África do Sul
* Países semelhantes

estudosFEBRAFARMA [ 39 ]
EDUARDO FELIPE OHANA

Taxas de Câmbio e Impostos Utilizados no Estudo

País 2000 2001 2002 2003 2004 Valor Imposto


Argentina 1,000580 1,000830 0,365420 0,359587 0,338903 21%
Australia 0,581675 0,517875 0,543662 0,651780 0,733299 0,00%
Austria 0,922960 0,896690 0,944480 1,130410 1,251721 20,00%
Belgium 0,922960 0,896690 0,946980 1,130410 1,251721 6%
Brazil 0,546560 0,428880 0,354840 0,361550 0,344270 18%
Chile 0,031577 0,099025 0,001454 0,001449 0,001653 17,50%
Colombia 0,000479 0,000759 0,000403 0,000350 0,000385 0,00%
Equador 0,000040 0,000040 0,000040 0,000040 0,000040 0,00%
Finland 0,922962 0,896690 0,944480 1,130410 1,251721 8%
France 0,142415 0,142005 0,156555 1,130410 1,251721 5,5% non-reimbursed,
2,1% reimbursed prds
Germany 0,922960 0,896690 0,944480 1,130410 1,251721 16%
Greece 0,934820 0,896690 0,944480 1,310410 1,251721 8%
Ireland 0,922960 0,896690 0,094448 1,130410 1,251721 0% (VAT at 21% applies only to
non-orl medicines)
Italy 0,940460 0,896690 0,944470 1,130410 1,251721 9,10%
Korea 0,000884 0,000770 0,000800 0,000835 0,000889 0,00%
Luxemburg 0,922960 0,896690 0,944470 1,130410 1,251721 3%
Mexico 0,105620 0,107120 0,103740 0,092779 0,088641 0,00%
Netherlands 0,922960 0,896690 0,944470 1,130410 1,251721 6%
New Zeland 0,456590 0,420980 0,463960 0,582070 0,666733 12,50%
Norway 0,114883 0,111010 0,130340 0,141380 0,149876 23%
Peru 0,286849 0,285289 0,284454 0,287530 0,294868 18%
Portugal 0,922960 0,896690 0,944480 1,130410 1,251721 5% for ethical & 16% for
OTC products
South Africa 0,144460 0,117494 0,095450 0,133065 0,160823 14% with no exceptions
Spain 0,922960 0,896690 0,944480 1,130410 1,251721 4%
Switzerland 0,592340 0,583660 0,643790 0,740130 0,811260 2,30%
Turkey 0,000002 0,000001 0,000001 0,000001 0,000001 15%
U.K 1,529297 1,441660 1,501800 1,633800 1,842808 17,5% (Medicines provided under
the National Health Service are
axempt from VAT)
Uruguay 0,086950 0,075990 0,050900 0,037210 0,035305 14%
USA 1,000000 1,000000 1,000000 1,000000 1,000000 5 - 9%
Venezuela 0,001471 0,001382 0,000911 0,000522 0,000521 0,00%

Nota: A taxa de câmbio é a média de cada ano


Fonte: Dresdner Bank

[ 40 ] estudosFEBRAFARMA
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

Metodologia de
Cálculo de Preço Médio
ao Consumidor por País

O estudo contempla o canal farmácia, ou seja, vendas efetuadas por ataca-


distas para o canal varejista.

O preço médio do mercado farmacêutico de um país é calculado com base


na fórmula:

Preço médio = Faturamento total dos produtos farmacêuticos (US$) no


país/Standard Units (SU) vendidas no país.

Notas:
- Preço médio calculado para o ano fechado
- Preço médio calculado com impostos (VAT) e sem impostos
- Standard Units é a unidade comercial de venda convertida para uma unidade-padrão / denominador
comum (ex: caixas convertidas para comprimidos)

estudosFEBRAFARMA [ 41 ]
EDUARDO FELIPE OHANA

Metodologia do Estudo
Índice de Preço da Apresentação
Exemplo Viagra – ABC Film-CTD Tabs – 0050Mg

ÍNDICE BRASIL VS “MUNDO”

Média do preço nos 30 países incluídos no estudo = US$ 6,58 / SU


Preço no Brasil = US$ 4,34 / SU
Índice Brasil vs. 30 países = 0,66 ($4,34 / $6,58) – Preço BR 34% menor

ÍNDICE BRASIL VS “PAÍSES SEMELHANTES”

Média preço Brasil + 5 “Semelhantes” = US$ 6,26 / SU


Preço no Brasil = US$ 4,34 / SU
Índice Brasil vs. 5 “Semelhantes” = 0,69 ($4,34 / $6,26) – Preço BR 31% menor

Nota: SU = Standard Units – preço convertido para unidade “menor”


(ex. convertidos para US$ por comprimido)

[ 42 ] estudosFEBRAFARMA
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

Resultados Econométricos

Dependent Variable: PRECO


Method: Least Squares
Date: 05/07/05 Time: 18:17
Sample: 1 30
Included observations: 30

Variable Coefficient Std. Error t-Statistic Prob.


PIB 1.02E-05 1.46E-06 6,983118 0,0000
C 0,171061 0,032383 5,282414 0,0000
R-squared 0,635245 Mean dependent var 0,350667
Adjusted R-squared 0,622218 S.D. dependent var 0,175341
S.E. of regression 0,107771 Akaike info criterion -1,553270
Sum squared resid 0,325210 Schwarz criterion -1,459857
Log likelihood 25,29905 F-statistic 48,76394
Durbin-Watson stat 2,104962 Prob(F-statistic) 0,000000

Dependent Variable: PRECO


Method: Least Squares
Date: 05/07/05 Time: 18:21
Sample: 1 30
Included observations: 30

Variable Coefficient Std. Error t-Statistic Prob.


PIB 1.06E-05 1.40E-06 7,541987 0,0000
Dummy -0,100949 0,050629 -1,993907 0,0564
C 0,181479 0,031229 5,811300 0,0000
R-squared 0,682061 Mean dependent var 0,350667
Adjusted R-squared 0,658510 S.D. dependent var 0,175341
S.E. of regression 0,102464 Akaike info criterion -1,623968
Sum squared resid 0,283470 Schwarz criterion -1,483849
Log likelihood 27,35953 F-statistic 28,96097
Durbin-Watson stat 1,856258 Prob(F-statistic) 0,000000

estudosFEBRAFARMA [ 43 ]
EDUARDO FELIPE OHANA

Dependent Variable: PRECO


Method: Least Squares
Date: 05/10/05 Time: 21:55
Sample: 1 30
Included observations: 30

Variable Coefficient Std. Error t-Statistic Prob.


PIB 1.09E-05 2.26E-06 4,809645 0,0001
GINI 0,001123 0,002931 0,383014 0,7047
C 0,115047 0,149899 0,767493 0,4494
R-squared 0,637217 Mean dependent var 0,350667
Adjusted R-squared 0,610344 S.D. dependent var 0,175341
S.E. of regression 0,109452 Akaike info criterion -1,492022
Sum squared resid 0,323453 Schwarz criterion -1,351902
Log likelihood 25,38033 F-statistic 23,71228
Durbin-Watson stat 2,084869 Prob(F-statistic) 0,000001

Mais dummies

Dependent Variable: PRECO


Method: Least Squares
Date: 05/07/05 Time: 18:47
Sample: 1 30
Included observations: 30

Variable Coefficient Std. Error t-Statistic Prob.


PIB 9.36E-06 1.31E-06 7,157192 0,0000
DUMMY -0,123480 0,039789 -3,103409 0,0045
C 0,218982 0,032249 6,790302 0,0000
R-squared 0,731148 Mean dependent var 0,350667
Adjusted R-squared 0,711233 S.D. dependent var 0,175341
S.E. of regression 0,094223 Akaike info criterion -1,791665
Sum squared resid 0,239705 Schwarz criterion -1,651546
Log likelihood 29,87498 F-statistic 36,71342
Durbin-Watson stat 1,890907 Prob(F-statistic) 0,000000

[ 44 ] estudosFEBRAFARMA
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

Com Gini para países em desenvolvimento

Dependent Variable: PRECO


Method: Least Squares
Date: 05/10/05 Time: 22:16
Sample: 1 16
Included observations: 16

Variable Coefficient Std. Error t-Statistic Prob.


PIB 1.28E-05 5.18E-06 2,466893 0,0297
GINI 0,005241 0,002969 1,764983 0,1030
DUMMY -0,137363 0,038813 -3,539108 0,0041
C -0,059628 0,162595 -0,366728 0,7202
R-squared 0,591097 Mean dependent var 0,224375
Adjusted R-squared 0,488871 S.D. dependent var 0,092878
S.E. of regression 0,066401 Akaike info criterion -2,373883
Sum squared resid 0,052910 Schwarz criterion -2,180736
Log likelihood 22,99107 F-statistic 5,782261
Durbin-Watson stat 3,184756 Prob(F-statistic) 0,011040

Spain
New Zealand
Greece
Korea, Rep.
Portugal
Mexico
Chile
Uruguay
Argentina
Venezuela, RB
Turkey
South Africa
Brazil
Peru
Ecuador
Colombia

estudosFEBRAFARMA [ 45 ]
EDUARDO FELIPE OHANA

Amostra Ajustada

Dependent Variable: PRECO


Method: Least Squares
Date: 05/10/05 Time: 13:55
Sample: 1 30
Included observations: 30

Variable Coefficient Std. Error t-Statistic Prob.


PIB 3.39E-05 5.35E-06 6,343002 0,0000
C 0,449068 0,118556 3,787827 0,0007
R-squared 0,589645 Mean dependent var 1,046333
Adjusted R-squared 0,574990 S.D. dependent var 0,605210
S.E. of regression 0,394553 Akaike info criterion 1,042216
Sum squared resid 4,358826 Schwarz criterion 1,135629
Log likelihood -13,63324 F-statistic 40,23367
Durbin-Watson stat 1,620949 Prob(F-statistic) 0,000001

Dependent Variable: PRECO


Method: Least Squares
Date: 05/10/05 Time: 14:07
Sample: 1 30
Included observations: 30

Variable Coefficient Std. Error t-Statistic Prob.


PIB 2.95E-05 4.93E-06 5,983349 0,0000
DUMMY -0,456985 0,149904 -3,048524 0,0051
C 0,649731 0,123192 5,274135 0,0000
R-squared 0,694723 Mean dependent var 1,046333
Adjusted R-squared 0,672110 S.D. dependent var 0,605210
S.E. of regression 0,346554 Akaike info criterion 0,813081
Sum squared resid 3,242683 Schwarz criterion 0,953200
Log likelihood -9,196210 F-statistic 30,72212
Durbin-Watson stat 1,913215 Prob(F-statistic) 0,000000

[ 46 ] estudosFEBRAFARMA
COMPARATIVO INTERNACIONAL DE PREÇOS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM 2004

Dummy para desvio da equação 1 maior do que 30%.

Dependent Variable: PRECO


Method: Least Squares
Date: 05/10/05 Time: 14:37
Sample: 1 30
Included observations: 30

Variable Coefficient Std. Error t-Statistic Prob.


PIB 3.16E-05 4.40E-06 7,183934 0,0000
DUMMY -0,503614 0,129277 -3,895616 0,0006
C 0,641103 0,108449 5,911550 0,0000
R-squared 0,737300 Mean dependent var 1,046333
Adjusted R-squared 0,717841 S.D. dependent var 0,605210
S.E. of regression 0,321479 Akaike info criterion 0,662872
Sum squared resid 2,790421 Schwarz criterion 0,802992
Log likelihood -6,943082 F-statistic 37,88949
Durbin-Watson stat 2,175406 Prob(F-statistic) 0,000000

estudosFEBRAFARMA [ 47 ]
estudos FEBRAFARMA

Eduardo Felipe Ohana


Economista formado pela
Comparativo
Universidade de Brasília,
intitulado Master of Philosophy
Internacional de
pela George Washington Preços de Produtos
University, EUA.
Foi técnico de pesquisa e Farmacêuticos
planejamento do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada em 2004
(IPEA); secretário adjunto de
Este relatório analisa os preços dos
política econômica do
medicamentos, no Brasil e em mais 29 países,
Ministério da Fazenda em
levantados pelo IMS Health, para o ano de 2004.
1993; consultor do Banco
Os resultados revelam que o País apresentou o
Mundial para Angola
quinto menor preço ao consumidor. Houve
(1994/1995); funcionário da
aumento nos preços internacionais dos produtos
Comissão Econômica para a
em dólares, o que pode ser atribuído à
América Latina da ONU
desvalorização da moeda norte-americana, no
(1995/1996); chefe da
mundo. No Brasil, não foi diferente, exceto pelo
Assessoria Econômica da
fato de os medicamentos terem ficado
Presidência da Câmara dos
relativamente mais baratos no mercado
Deputados (2001/2002);
doméstico. Os preços tornaram-se mais caros
conselheiro do Conselho para os agentes que transacionam em dólares e
Consultivo da Anatel baratearam-se (relativamente) para aqueles que
(2002/2005). Hoje atua como lidam com a moeda brasileira. O documento
consultor econômico para ainda mostra que, em alguns países, ocorreu
diversas empresas e entidades. uma repressão dos preços por parte do Estado.
Por aqui, essa política incidiu mais fortemente
sobre os produtos mais caros, ao contrário do
que se passa na Europa. O autor também
pondera que o valor do lançamento dos produtos
é menor no Brasil, que insiste em ignorar o preço
relativo dos medicamentos que prevalece no
mundo; propõe, ainda, a discussão sobre a
filosofia de regulação que vigora no País.

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