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1. Binómio cidade/campo
>Nas suas obras, Cesário caracteriza o campo como sendo uma realidade observada tão
rigorosamente e descrita tão minuciosamente como a própria cidade o havia sido: um campo
de que o trabalho e os trabalhadores são parte integrante, um campo útil onde o poeta se
identifica com o povo e de cujas actividades participa.
No contraste cidade/campo, Cesário revela-nos o seu amor ao rústico e ao natural, que celebra
por oposição a 1certo repúdio da perversidade e dos pseudovalores urbanos e industriais, a
que, no entanto, adere.
Por exemplo, no poema Num Bairro Moderno, começa por pintar a cidade de Lisboa, para
depois nos apresentar a sua invasão simbólica pelo campo.
Em o Sentimento dum Ocidental, a cidade é soturna, tudo sufoca e por contraste com esta
cidade reclusa, onde se reflecte a dor humana, surgem “as notas pastoris duma longínqua
flauta”, que recordam a alegria e a liberdade do campo.
Mas é em Nós que melhor Cesário se revela apaixonado pelo campo, elogiando-o por
oposição à cidade, onde há “um lívido flagelo, uma moléstia horrenda”. O campo apresenta-se
como “um salutar refúgio” onde a vegetação “pletórica, potente” e “os arvoredos fartos”
oferecem “as novidades todas”.
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3. Relacionamento estético coma imagética feminina
>A cidade surge associada à mulher fatal e à morte, enquanto o campo se une à imagem da
mulher angélica e da vida. Há uma sexualização da cidade e do campo que incorpora as
alegrias da morte e da vida.
Associada à cidade surge uma mulher que retracta os valores decadentes e a volência social.
A mulher fatal surge na poesia de Cesário Verde intensamente, incorporando um valor erótico
que simultaneamente desperta o desejo e arrasta para a morte. O poeta vê esse belo corpo belo
e iluminado, ao mesmo tempo que o fantasia pelo poder da sedução. Mas se, por um lado,
desse corpo de mulher irradia uma luz que o torna cada vez mais nítido e sensual, por outro
lado, há um pressentimento de fatalidade que lentamente o transforma em símbolo da morte.
Cesário frequentemente, dá-nos conta da voluptuosidade da mulher fascinante, mas acaba por
se sentir humilhado. Na vida social, encontra um paralelo entre as classes poderosas que,
como as burguesinhas ricas, o fascinam, e as classes oprimidas, que têm de se remeter à sua
baixa condição.