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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM


CEFIEL
Centro de Formação Continuada de Professores
Alfabetização e Linguagem
Rede Nacional de Formação Continuada de
Professores de Educação Básica

Formação do Léxico e Saber Lingüístico

José Horta Nunes*

A partir dos resultados de uma tese de doutorado1, vamos apresentar


uma reflexão acerca da formação de um léxico brasileiro, vista da perspectiva
da produção de saber lingüístico no Brasil desde o século XVI até o XIX.
Consideramos a produção de saber lingüístico como processo de
gramatização2 das línguas. A elaboração de dicionários está ligada a
transformações significativas na conjuntura histórica e lingüística. Examinamos
alguns momentos dessa produção levando em conta o papel de teorias,
conceitos e instituições envolvidos. Para isso fizemos uma leitura do dicionário
como um discurso (Mazière 1989), analisando enunciados lexicográficos em
um corpus constituído inicialmente de relatos de viajantes, e em seguida, de
dicionários bilíngües (português-tupi/tupi-português) e monolíngües
(português).

A questão da formação de um léxico brasileiro aparece mais fortemente


a partir da segunda metade do século XIX, acompanhando os movimentos
nacionalistas. Ela se assenta no final desse século, sobretudo com a noção de
“brasileirismo”. Conforme João Ribeiro, em 1989, brasileirismo “é a expressão
que damos a toda a casta de divergências notadas entre a linguagem
portuguesa e a falada geralmente no Brasil”3. Várias listas de brasileirismo
surgiram desde então, apresentadas como argumentos para legitimação do
português.

O que nos interessa ressaltar quanto à noção de brasileirismo é que ela


está ancorada na unidade da palavra e em uma visão do léxico como estoque
de termos, conjunto de itens a que são atribuídas significações. No momento

*
LABEURB/UNICAMP
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em que se propõe uma história da formação do léxico, a questão que emerge


para os defensores da língua nacional é: que palavras ou expressões
constituem brasileirismos? Quando e onde apareceram? O que significam?
Deste modo, Arthur Neiva (1940) aponta em Pigafetta, cronista da expedição
de Fernão de Magalhães, as primeiras manifestações de brasileirismos. A
primeira lista deles contaria com doze palavras recolhidas por esse viajante em
1519, entre as quais temos, por exemplo, “pindá” (anzol, gancho) e “ui”
(farinha). Esta concepção conduz a uma idéia do léxico como algo que vai se
“enriquecendo” desde os tempos da colonização, com o surgimento e a
incorporação dos brasileirismos.

Numa perspectiva que considera a história do saber lingüístico e os


processos discursivos de significação, um deslocamento se impõe. A formação
do léxico é vista não através da dimensão empírica da palavra, mas: a) através
dos processos de significação que conformam uma memória lexicográfica.
Deste modo, o que importa não é somente o aparecimento de palavras ou
expressões, mas o de processos discursivos: de nomeação, de enunciação, de
identificação, de definição, etc. b) através da produção de instrumentos
lexicográficos: listas de palavras, relatos com comentários enciclopédicos,
dicionários, considerados não somente como provedores de palavras e
significações, mas como discursos produzidos em condições históricas
específicas.

Considerado esse deslocamento, a história da formação do léxico não


corresponde a um processo linear, continuado, tal como se supõe com a
introdução progressiva dos brasileirismos ao nível abstrato da língua. Ela
decorre de vários estados da produção de saber lingüístico e das
transformações que eles sofreram ao longo dos processos históricos. Ela sofre
bloqueios, desvios, apagamentos, deslocamentos; constrói redes de memória e
filiações sócio-históricas.
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Em nossa análise, chegamos a alguns recortes que correspondem a


momentos distintos da lexicografia brasileira, em cada um dos quais
depreendemos diferentes condições de produção do saber lingüístico.

1. Relatos de Viajantes

Os inícios da formação de um léxico brasileiro podem ser apontados nos


primeiros relatos de viajantes. Com efeito, nesses relatos aparecem
comentários sobre os habitantes e as coisas do país, formando-se verbetes
organizados tematicamente. A primeira filiação que apontamos diz respeito
portanto a um saber de tipo enciclopédico, que ainda não está amarrado a uma
unidade de língua nacional. O que temos é o desencadeamento de processos
de referência, dos quais resulta uma espécie de sintonização da relação entre
palavras e coisas, incluindo-se aí mecanismos de nomeação, de tradução, de
identificação, que se inserem nas formas narrativas, descritivas e dialogais dos
relatos. Estes nódulos de formação lexical constituem unidades significativas,
encabeçadas por elementos seja em língua indígena, seja em português, como
em Cardim (Tratados da Terra e Gente do Brasil, 1583), que elabora uma lista
comentada de termos referentes a animais europeus.

Tal produção de saber está relacionada com as práticas colonizadoras


em várias instâncias. A partir da análise, explicitamos algumas posições de
sujeito lexicográfico, ou seja, lugares enunciativos, historicamente constituídos,
a partir dos quais se diz a significação lexical. Deste modo, temos, em
Caminha, uma voz que enuncia a partir do lugar da autoridade oficial, um lugar
que é falado pelas instituições (o reino, a marinha, a igreja). Na Carta (1500),
Caminha atribui ao “capitão”, autoridade da descoberta e da posse, a
colocação dos nomes na cena do achamento (“o capitão pôs nome o monte
pascoal”), e aos “marinheiros”, autoridades do mar, a dos nomes dos sinais de
terra (“eram muitas quantidades de ervas compridas a que os mareantes
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chamam Botelho e assim outras aves a que chamam fura buchos”). O sujeito
lexicográfico aparece ainda através de varias figuras: a) a do viajante
aventureiro, como em Hans Staden, que se representa nas situações de
contato em um conflito identitário envolvendo sujeito e coisas do país; b) a do
colono fazendeiro, como em Gabriel Soares de Sousa, que diz a significação a
partir da posição do proprietário de terra; c) a do naturalista, como em Jorge
Marcgrave, que introduz um discurso de processo natural em relação aos
elementos da fauna e flora.

Essas diversas posições determinam a constituição do léxico,


cristalizando relações de paráfrase, sinonímia, identificação, as quais
configurarão historicamente uma memória lexicográfica.

2. Dicionários Bilíngües na Época Colonial

Os dicionários bilíngües (português-tupi/tupi-português) elaborados por


missionários jesuítas, com finalidades catequéticas, desde a segunda metade
do século XVI, constituem os primeiros dicionários de língua, ordenados
alfabeticamente, feitos no Brasil. Eles são bastante peculiares quanto à
formulação dos verbetes. O Vocabulário na Língua Brasílica (VLB), manuscrito
anônimo português-tupi do século XVI-XVII, traz entradas com frases inteiras
(como esta: "Pancada, pelo sinal dela que fica na carne ou lugar aonde se
deu”), bem como verbetes que incluem reflexões gramaticais, comentários
sobre a adequação dos nomes às coisas e situações de conversação.
Questiona-se a significação a partir do ponto de vista de um tradutor-intérprete,
que coloca em cena locutores índios e europeus em situações de uso. A
nomenclatura é delimitada e orientada no sentido do discurso religioso, de
maneira que a cena catequética torna-se uma imagem enunciativa
organizadora de um modo de dizer a sociedade – a ser transformada – através
de dicionários.
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Com a expulsão dos jesuítas, em 1759, essa produção de bilíngües foi


interrompida. Mudam as condições de produção do saber lingüístico,
privilegiando-se o estabelecimento do português como língua obrigatória e
proibindo-se o uso do tupi nas escolas.

3. Dicionários Bilíngües na Época Imperial

No século XIX, a produção de bilíngües teve uma retomada com outros


objetivos práticos. O que estava então em jogo era a construção de uma
história do Brasil, distinta da de Portugal. Gonçalves Dias, membro do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), foi encarregado de elaborar uma
história das línguas indígenas e elegeu o tupi como “língua dos antepassados
brasileiros”. Seguiu-se então um trabalho de arquivo voltado para os
manuscritos deixados pelos jesuítas. Desse trabalho resultaram alguns
dicionários tupi-português/português-tupi, dentre os quais salientamos o
Dicionário da língua tupi chamada língua geral dos indígenas no Brasil (1858),
do próprio Gonçalves Dias. Essas obras se caracterizam por introduzirem no
interior dos verbetes uma narrativa histórica e interpretações etimológicas. O
tupi é posicionado como língua de origem, conformando-se a imagem do “tupi
antigo”. Percebe-se que enquanto os primeiros missionários apagaram a
dimensão histórica das línguas indígenas, os intelectuais do Império a
inseriram em uma visão evolucionista que tinha o tupi como origem primitiva e
o português como ponto de chegada. No verbete “peteca”, por exemplo, Dias
indica primeiramente a significação no tupi antigo (bater) e depois no português
(“Daqui vem chamar-se peteca a espécie de volante ou supapo feito de folha
de milho, que as crianças lançam ao ar com a palma da mão”).
Ao lado dos trabalhos comparatistas, dentre os quais podemos ressaltar a
obra de Martius, que reuniu em Glossaria Linguarum Brasiliensium (1863) uma
serie de vocabulários de língua indígenas, coletados tendo em vista a unidade
da palavra com fins de comparação, houve, como vimos, uma produção
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direcionada à formação de uma identidade nacional, fazendo a ligação do tupi


com o português. Percebe-se que esses dicionários tiveram uma função antes
edificante de uma simbologia da nação, do que didática, visto que somente o
português era admitido nas escolas.

4. Dicionários Monolíngües

A afirmação de que o português do Brasil resultaria de um


“enriquecimento” do português de Portugal leva muitas vezes a supor um bloco
lexical já pronto ao qual foram se ajuntando novos elementos para a formação
do léxico brasileiro. No entanto, parece-nos importante considerar a historia da
constituição dos dicionários monolíngües para compreendermos melhor essa
formação, evitando-se reproduzir a orientação ideológica que faz com que a
lexicografia brasileira seja interpretada no efeito de complementaridade. Além
disso, convém dar atenção a todos os domínios temáticos, e não apenas, como
muitas vezes se tem privilegiado, aos da fauna, flora e etnografia.

O aparecimento do primeiro dicionário monolíngüe do português


constitui um acontecimento importante, que provocou mudanças significativas
no modo de conceber o léxico. Podemos ter uma idéia dessas transformações
analisando-se a passagem discursiva que ocorre nessas circunstâncias. O
Dicionário da Língua Portuguesa, de A de Moraes e Silva (1789), primeiro
monolíngüe, constitui uma retomada do Vocabulário Português e Latino, de R.
Bluteau (1712), com supressões, transformações e acréscimos. Enquanto
alguns dicionários de língua nacional, a começar pelo Dicionário da Academia
Francesa (1694), se voltaram para a descrição sincrônica dos usos, a tradição
portuguesa manteve uma filiação direta com o dicionário de tipo enciclopédico,
como era o de Bluteau, que apresentava longos verbetes com essa
característica. Foi através da retomada que Moraes efetua de Bluteau que se
consolidou o enunciado definidor na lexicografia de língua portuguesa. A partir
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da análise de verbetes da letra P desses dicionários, chegamos aos seguintes


deslocamentos: passagem da propriedade natural do objeto para a matéria-
prima trabalhada, passagem do modo de fazer artesão à descrição técnica do
processo de fabricação, passagem do discurso religiosos ao discurso jurídico,
passagem do ponto de vista do produtor ao consumidor.

O primeiro monolíngüe representa uma consolidação da língua nacional


em Portugal e um passo importante para a gramatização do português
brasileiro. Com suas sucessivas reedições ao longo do século XIX,
desencadeou-se um jogo espetacular que fez com que as diferenças se
manifestassem mais decisivamente. Uma resposta à falta que autores
brasileiros indicavam nos dicionários portugueses veio através de uma
produção local, sobretudo a partir da segunda metade do século XIX:
dicionários de complementos, dicionários de regionalismos, dicionários de
termos técnicos, dicionários de brasileirismos. Estes últimos, surgidos ao final
do século, reuniram de certa forma toda a produção anterior que definia os
termos usados no Brasil, antes disseminada em listas e pequenos dicionários.
Evidencia-se com isso a diferenciação do léxico brasileiro com relação ao
léxico português, sendo que reafirma-se o efeito de complementaridade
mencionado mais acima – o qual persiste até hoje com a marcação dos
brasileirismos nos dicionários de língua portuguesa. Mas uma análise de um
conjunto de verbetes nos permitiu observar, através do estudo das formas de
definições, alguns processos discursivos em jogo. Por exemplo, no Dicionário
Brasileiro da Língua Portuguesa de Macedo Soares (1888), um dicionário de
brasileirismos, percebemos uma regularidade no uso de uma adjetivação
contrastiva no enunciado definidor. Essa adjetivação conduz a uma oposição
entre as elites e as camadas populares, oposição que aparece ao modo de
propriedades naturais dos objetos. Vejamos, por exemplo, a definição de
“brogúncios” (“pequena bagagem, pobre e reles, do viajante a pé, do
trabalhador de estrada, do garimpeiro, constando do surrão de roupa do
serviço, rede, marmita, etc.”). Nos verbetes vão se constituindo oposições entre
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o rico e o pobre, o limpo e o sujo, o bom e o ruim, o dia e a noite, as águas e a


seca. E essas oposições se desdobram, sobre as representações sociais:
gente boa, aceada/povo ruim, rústico; roupa fina, branca/roupa suja; poderoso,
influente/vadio; índio manso, domesticado, aldeiado/selvagem, grosseiro,
estúpido. Nota-se que esse discurso responde a um movimento republicano em
que se busca significar, na língua, o “povo brasileiro”, que passa então a figurar
desse modo nos dicionários4.

Essas diferentes faces da lexicografia brasileira, pelas quais passamos


rapidamente, mostram que a formação do léxico, quando se considera sua
historicidade e seus modos de constituição, não se resume a transformações
ao nível das palavras e expressões, nem à delimitação de determinados
domínios lexicais. Ela está ligada, de um lado, às políticas lingüísticas que
definem a produção de um saber lexicográfico (na relação com as instâncias de
um saber em uma formação social), e de outro, às próprias formas discursivas
através das quais esse saber se apresenta nos instrumentos lingüísticos.

Referências:

AUROUX, Sylvain. (1992), A Revolução Tecnológica da


Gramatização,Campinas Editora da Unicamp.

MAZIÈRE, Francine, (1989). “O Enunciado Definidor: Discurso e Sintaxe”, In


História e Sentido na Linguagem, Campinas, Pontes.

NEIVA, Arthur. (1940), Estudos da Língua Nacional, Companhia Editora


Nacional, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre.

NUNES, José Horta. (1996), Discurso e Instrumentos Lingüísticos no Brasil:


dos Relatos de Viajantes aos Primeiros Dicionários, tese de doutorado, IEL –
Unicamp, Campinas.
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ORLNDI, Eni Puccinelli. (1997) “O Estado, a Gramática, a Autoria” Relatos nº 4,


junho – 1997, DL – IEL – Unicamp.Campinas.

PINTO, Edith Pimentel. (978), O Português do Brasil, Livros Técnicos e


Científicos, Rio de Janeiro, Edusp, São Paulo, 1978.

1
J. Horta Nunes. Discurso e Instrumentos Lingüísticos no Brasil: dos Relatos de Viajantes aos
Primeiros Dicionários, tese de doutorado, IEL – Unicamp, Campinas.1996.
2
“Por gramatização deve-se entender o processo que conduz a descrever e a instrumentar
uma língua na base de duas tecnologias, que são ainda hoje os pilares do nosso saber
metalingüístico: a gramática e o dicionário”. (S. Auroux, A Revolução Tecnológica da
Gramatização Campinas, Editora da Unicamp. 1992, p.65).
3
Cf. E. P. Pinto, O português do Brasil, Livros Técnicos e Científicos, Rio de Janeiro, Edusp,
São Paulo, 1978.
4
Esse momento é também o do aquecimento das primeiras gramáticas do português do Brasil.
E. Orlandi mostra como a reprodução dessas gramáticas tem a ver com o estabelecimento da
República, quando se fortalecem as instituições, entre as quais a Escola, e língua e Estado se
conjugam em sua fundação (cf. E. Orlandi, “O Estado, a Gramática, a Autoria” Relatos nº 4,
junho – 1997, Campinas.

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