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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL -


COMARCA DE PONTES E LACERDA- MT.

Processo nº.: 067.2010.035.901-6

BRASIL TELECOM S/A, Pessoa Jurídica de Direito Privado,


inscrita no CNPJ sob o n.º 76.535.764/0001-43, com sede a Rua Barão de Melgaço,
n.º 3209, Centro, Cuiabá-MT, nos autos do processo em epígrafe, que lhe move
GUSTAVO CARVALHO JUNIOR, vem, por seus advogados adiante assinados,
apresentar a seguinte

CONTESTAÇÃO,

aos pedidos autorais, o que faz consoante as razões de fato e os fundamentos de


direito a seguir aduzidos.

I - BREVE SÍNTESE DA DEMANDA

Aduz o reclamante que ao tentar sacar folhas de cheque, fora


impedido sob a alegação de restrição existente em seu nome, por dívida junto a
reclamada.

Informa que jamais contratara serviço da requerida, fato que motivou


o ingresso da presente reclamação.

Contudo, deixou a parte autora de esclarecer todas as circunstâncias


que envolveram o evento, equivocadamente, apontado como danoso.

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II - NO MÉRITO
DA VERDADE DOS FATOS

Cumpre esclarecer a este douto Juízo a realidade fática dos


acontecimentos que compõem a demanda que ora se apresenta, a fim de elidir as
acusações infundas feitas pela Autora contra a Ré, objetivando sua defesa e o livre
convencimento deste d. Jurisdicionado, exercendo assim seu direito à ampla defesa e
contraditório.

A questão posta à análise de Vossa Excelência é simples e, por isso


não deixa espaço para maiores divagações.

A parte autora assevera na exordial que sofreu constrangimento ao


constatar que seu nome foi incluído nos cadastros de proteção ao crédito em razão
de débito oriundo de um contrato telefônico que alega desconhecer.

No entanto, não nos demonstra de modo satisfatório a


inexistência de vínculo entre o autor e tal contrato telefônico tentando se
proteger de modo equivocado da inversão do ônus da prova, alegando
apenas de modo indireto e genérico que tais débitos são indevidos.

Observa-se que a autora após observar a negativação que alega


equivocadamente ser indevida, buscou o judiciário com intenção que
verificamos ser de apenas locupletar-se injustamente, apresentando a esse
respeitavel juizo alegações completamente superficiais e sem nenhum
fundamento satisfatorio em que o seu pedido possa se basear.

Trata-se de evidente artifício ardiloso com o intuito de induzir este


douto Juízo ao erro, indevidamente embasado na inversão do ônus probatório.
Todavia, o julgador possui o critério para determinar a inversão porbatória,
observando a verossimilhança das alegações autorais, que não há no caso em tela. A
falta de fundamento satisfatorio do caso em tela não cinge-se em uma suposta
deficiência técnica da petição inicial, mas no fato de que efetivamente não houve
qualquer tipo de dano sofrido pela parte autora referente aos fatos narrados
na exordial, uma vez que não resta demonstrado a inexistência do vinculo
juridico entre as partes e que também não houve nenhuma reclamação
realizada pela autora referente aos fatos narrados na exordial. Portanto, não há
qualquer persuasão nas alegações autorais que justifique a inversão do ônus
probatório, o que restará demonstrado no curso desta exposição.

Excelência, a verdade é que o serviço telefônico foi instalado após a


solicitação de contratação do serviço via “call center” por uma pessoa que se
apresentou como GUSTAVO CARVALHO JUNIOR. Como de praxe dessa

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Concessionária, tal instalação somente seria efetivada com a apresentação dos
documentos pessoais do titular.

Pois bem. No caso em tela, o terminal telefônico somente foi


instalado porque a pessoa quem recebeu o instalador apresentou os
documentos do titular da linha telefônica. Considerando a afirmação autoral de
que não reconhece a linha em questão, há que se concluir que as partes foram
vítimas de estelionato.

Ressalta-se, Vossa Excelência, que não é possível ao técnico da Ré


certificar-se da autenticidade dos documentos apresentados por ocasião da
instalação. Mesmo porque, os casos típicos de fraude não são planejados e
aplicados por um cidadão comum. Os golpes são implantados por quadrilhas
especializadas neste tipo de crime, contando com um sofisticado aparato de suporte,
inclusive utilizando-se de cédulas de documentos originais em branco, incluindo
apenas a fotografia do estelionatário e os dados da vítima. A falsificação é
praticamente perfeita, não havendo meios ordinários de constatá-la.

Insta salientar que esta Concessionária vem trabalhando


sistematicamente para evitar casos de instalações fraudulentas de terminais
telefônicos. Muito embora não tenha dispensado a contratação através da Central de
Atendimento ao Consumidor, posto que esta modalidade representa uma facilidade
e comodidade ao próprio usuário, tem adotado diversos procedimentos para
garantir a boa e legítima fruição do serviço prestado. Dentre eles, o monitoramento
do consumo; a pesquisa de histórico de fraudes no endereço e na rua a ser instalada;
a solicitação de telefone para contato, com pesquisa pormenorizada do terminal, etc.

Contudo, nenhum destes fatores foi identificado no caso em tela,


não havendo indícios claros de que a contratação em questão tenha sido
fraudulenta. Daí porque a questão foi tratada como simples atraso no pagamento
das faturas, sendo aplicada as sanções decorrentes da mora.

Resta salientar que não houve falta de cuidado desta Concessionária


na contratação do serviço, posto que o documento de identidade apresentado
por ocasião da instalação correspondia exatamente ao nome da
solicitante/titular da linha telefônica.

Portanto, não há qualquer persuasão nas alegações autorais que


justifique a inversão do ônus probatório, o que restará demonstrado no curso desta
exposição.

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Conclui-se que a reclamante pretende com a presente demanda
locupletar-se indevidamente, através do recebimento de indenização por danos
morais, os quais certamente nunca ocorreram, não tendo o mesmo qualquer direito.

Nesse passo, insta deixar consignado que não houve nenhum


infortúnio produzido pela empresa Ré a título de conduta ilícita, não podendo esta
ser responsabilizada in casu, eis que ausentes os elementos essenciais para que tal se
configure, quais sejam, conduta ilícita, nexo causal e dano.
Uma vez postos os fatos em seus devidos lugares, exsurge a
irretorquível ilação de que o Direito vem em socorro da Ré, conforme passamos a
demonstrar.

DO CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO

Os serviços de telefonia, dentre eles o STFC (Serviço Telefônico Fixo


Comutado), são disciplinados por normas específicas, sendo que a sua regulação,
nos termos da lei, se dá pela ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações.
Dentre essas normas, destaca-se o regulamento instituído pela Resolução n.º
426/2005, que dispõe:

“Art. 74. Contrato de prestação de serviço deve


corresponder ao contrato padrão de adesão celebrado entre a
prestadora e pessoa natural ou jurídica, que tem como
objetivo tornar disponível o STFC, em endereço indicado
pelo assinante, mediante o pagamento de tarifas ou preços,
no caso de plano de serviço na forma pós-pago, ou mediante
a aquisição de créditos, no caso de plano de serviço com
crédito pré-pago vinculado a terminal de assinante.”

É importante ressaltar que essa norma tem como um de seus


principais objetivos fomentar a universalização dos serviços telefônicos,
disponibilizando-os a toda a coletividade, dada a relevância e essencialidade de tais
serviços nos dias atuais.

Obviamente que, para a plena realização desse objetivo, fazia-se


necessária a simplificação dos procedimentos de habilitação e instalação de
linhas telefônicas, sob pena de se frustrar completamente a meta traçada pelo
Poder Público.

Daí a razão de o mencionado Regulamento de Serviços Telefônicos,


aprovado pela ANATEL, deixar à escolha das concessionárias e operadoras a
melhor forma de atendimento aos pedidos de habilitação de linhas

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telefônicas, impondo-se apenas que toda e qualquer escolha seja sempre norteada
pelos ditames de democratização do serviço de telecomunicação.

Sendo assim, com o fito de universalizar os referidos serviços, a


requerida, como todas as demais operadoras do serviço, adotou um procedimento
simplificado de habilitação de novas linhas telefônicas, que se inicia com o
pedido por parte do interessado, em que informa seus dados pessoais e o endereço
de instalação. Em seguida, as informações prestadas pelo interessado são
devidamente checadas junto a terceiros, bancos de dados e comércio e,
superada essa etapa, ocorre a liberação da ordem de serviço para a instalação da
linha telefônica.

Antes de executar o serviço no local, o técnico responsável


solicita a documentação original do pretenso assinante a fim de confirmar as
informações anteriormente fornecidas. Caso o titular não esteja presente no
local no momento da instalação, é solicitada a apresentação de
documentação original do indivíduo que o esteja representando; e também
que seja apresentada procuração emitida pelo titular, autorizando a
realização do serviço ou a exibição dos documentos originais do titular. Do
contrário, a execução do serviço é reagendada.

No presente caso, tal procedimento foi devidamente observado pela


ré, ressaltando-se que a instalação da linha telefônica em questão ocorreu somente
depois de a regularidade dos documentos ter sido criteriosamente verificada pela ré.

Portanto, é indubitável que a instalação da linha telefônica ocorreu de


forma regular, sendo evidente a boa-fé por parte da ré. Nos termos dos arts. 74 e
seguintes do Regulamento do STFC, estabeleceu-se um contrato entre as partes,
sendo certo que o cliente assumiu o compromisso de efetuar o pagamento mensal
como contrapartida à prestação do serviço.

DA CAUSA EXCLUDENTE DA RESPONSABILIDADE


CULPA DO CONSUMIDOR E DE TERCEIRO

Apenas em atenção ao princípio da eventualidade, caso este Juízo


entenda que haja provas suficientes de que houve contratação fraudulenta, há que se
tecer algumas considerações:

É cediço que o cidadão é responsável pela guarda e conservação


de seus documentos pessoais. Caso sejam extraviados ou roubados, tem o dever
legal de tomar as providências necessárias para evitar que o uso indevido

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destes documentos por terceiros venha a causar danos à sociedade. Portanto,
cabe a ele não só o direito de impedir a lesão ao seu nome ou patrimônio, mas
também o dever de evitar que outras pessoas físicas ou jurídicas venham a ser
vítimas de operações fraudulentas perpetradas por estelionatários.

Neste sentido, o Estado disponibiliza meios para que o cidadão


exerça este direito/obrigação. Através do tradicional registro de ocorrência policial
na própria Delegacia, onde a comunicação da ocorrência e a indicação dos
documentos extraviados podem ser feitas através do endereço eletrônico.

Tal contato também pode ser efetuado pessoalmente e um dos postos


de atendimento instalado em cada cidade ou mesmo através de chamada telefônica.
O mesmo serviço é oferecido pelo Serasa, que traz número gratuito para este
atendimento, 24 horas por dias, todos os dias da semana. Os dois órgãos
indicam detalhadamente todos os procedimentos que devem ser seguidos pelo
consumidor.

Insta salientar que os cadastros mantidos por estes órgãos são


imprescindíveis para as empresas, já que elas não têm acesso ao registro policial.
Este objetiva tão somente a apuração do autor do delito, não tendo o condão de
alertar à sociedade quanto ao ocorrido, função esta que é desempenhada pelos
cadastros de proteção ao crédito. Por esta razão são definidos pelo §4º do art. 43 do
C.D.C. como entidades de caráter público.

Ocorre que a parte autora não observou seu dever legal de


informar a ocorrência a estes órgãos. Certo é que, se houvesse efetuado a
comunicação, procedimento simples e sem qualquer custo, um terceiro de má-fé
não teria se utilizado de seus documentos para contratar uma linha telefônica em seu
nome.

Ora, a consulta a estes cadastros é um dos principais


procedimentos adotados por esta Concessionária para a efetivação da
instalação de uma linha telefônica, já que a maioria das contratações do serviço
de telefonia é solicitada através do “call center”. Daí a sua importância,
principalmente pela observância do dever legal de cuidado ao efetivar um
contrato.

Todavia, na ausência de qualquer irregularidade patente com a


documentação apresentada, não pode e sequer há motivos para a Ré negar a
contratação. Tal entendimento encontra respaldo na doutrina nacional, valendo citar
o ilustre Orlando Gomes:

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“A boa-fé nos contratos, a lealdade nas relaçõ es
sociais, a confiança qu e devem in spirar as
declarações de vontade e os co mp ortamentos
exigem a p roteção legal do s interesses
jurisformizados em razão da cren ça em u ma
situação aparente, que tomam todos co mo
verdad eira.” (Transfor mações Gerais do Direito
das Obrigações, Revista dos Tribunais, São Paulo)

Como se vê, ao deixar de comunicar o extravio de seus


documentos aos órgãos competentes, a parte autora contribuiu diretamente
para o evento objeto da presente ação. Discorrendo acerca da causa excludente
da responsabilidade, o Professor Sérgio Cavalieri Filho expõe que “fala-se em culpa
exclusiva da vítima quando a sua conduta se erige em causa direta e determinante do
evento, de modo a não ser possível apontar qualquer defeito no produto ou no
serviço como fato ensejador da sua ocorrência”1.

Não restam dúvidas de que a conduta omissiva da parte autora foi


o principal fato gerador da utilização indevida de seus documentos pessoais
para a prática do crime de estelionato por terceiros. Esta injustificada
negligência não acarretou apenas os supostos danos narrados na exordial, mas
também a lesão patrimonial da empresas que foram vítimas dos golpistas, dentre
elas a própria Ré. Se a esta não foi dado o direito de se proteger em razão da
omissão da parte autora, como pode ser condenada a reparar um dano a que não
deu causa?

Também não se pode desconsiderar que o evento decorreu de fato


doloso de terceiro, imprevisível (pelos motivos expostos acima) e, por isso,
inevitável por parte da Ré. Inclusive este fator é equiparado pela doutrina e pela
jurisprudência ao caso fortuito, que exclui o próprio nexo de causalidade.

A culpa exclusiva de terceiro como excludente da responsabilidade


civil, sob a ótica do Código de Defesa do Consumidor, ocorre quando se identifica
ter sido a conduta direta de terceiro a causadora do suposto dano alegado, o que
acarreta, inegavelmente, no afastamento do nexo de causalidade, exatamente o caso
dos autos. Cavalieri também ensina em sua obra “Programa de Responsabilidade
Civil” que:

“Terceiro, ainda na definição de Aguiar Dias (ob. Cit. V.


II/299), é qualquer pessoa além da vítima e o responsável,

1
Sérgio Cavalieri Filho. Programa de Responsabilidade Civil. Ed. Atlas. 8ª ed. p. 487.
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alguém que não tem nenhuma ligação com o causador do
dano e o lesado. Pois, não raro, acontece que o ato do
terceiro é a causa exclusiva do evento, afastando qualquer
relação de causalidade entre a conduta do autor aparente e a
vítima(...)Em tais casos, o fato de terceiro, segundo opinião
dominante, equipara-se ao caso fortuito ou força maior, por
ser uma causa estranha à conduta do agente aparente,
imprevisível e inevitável.”2

Logo, sem a relação de causalidade entre a conduta e o dano não há


lugar para a responsabilidade.

Destaca-se que esta Concessionária não pode ser punida pelo fato de
a linha ter sido requerida sem o suposto consentimento da parte autora. Isto porque
os documentos do assinante foram apresentados e não constava qualquer restrição
de extravio ou roubo nos cadastros do SPC e Serasa, afastando qualquer suspeita de
irregularidade na contratação.

Se por um lado há a discussão de que as empresas assumem o risco


do empreendimento ao se tornarem fornecedoras de bens e serviços, de outro é
lícito exigir que os consumidores adotem uma postura preventiva na defesa de seus
direitos. Do contrário, estar-se-á prestigiando uma conduta omissiva inicial do
consumidor. Inicial porque somente adotará uma postura ativa quando constatar a
utilização de seu nome em golpes na praça, acionando o Estado para obter
indenização a título de danos morais. O problema é que a demanda é ajuizada em
face da empresa que foi vítima direta da ação dos estelionatários e indiretamente da
omissão do próprio consumidor.

Em outras palavras, apesar da negligência do consumidor em


comunicar o extravio de seus documentos aos órgãos competentes, acaba
sendo indenizado pela empresa que acreditava estar agindo no exercício
regular de um direito. Repita-se, empresa esta que acabou sendo mais uma vítima
da omissão do próprio consumidor.

Corroborando toda a argumentação aqui desenvolvida, cabe


colacionar algumas decisões proferidas pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro, em que os julgadores tiveram a perspicácia de penetrar no âmago da
demanda e vislumbrar que o comportamento omissivo da parte autora influiu
sobremaneira para a ocorrência dos fatos narrados na exordial:

2
Idem anterior. P. 64/65.
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“1. Rito sumário. Ação de Indenização por danos morais.
Relação de consumo. - 2. Contrato de financiamento
firmado por terceiro com documentos do autor. - 3.
Falha do serviço não comprovada, não só diante da
desídia do consumidor, ao não comunicar o furto ou
perda de seus documentos, mas também e,
principalmente, pelos exigidos e exibidos pelo falsário
quando da contratação, inclusive prova de residência e
rendimentos, afastando possível responsabilidade do
banco réu, visto que, aparentemente, nada leva a
questionar a idoneidade da documentação apresentada.
Inteligência do art. 14, § 3º, da Lei 8078/90. - 4. Sentença de
improcedência que se mantém. Desprovimento do apelo.”3
(grifos nosso).

“Civil. Obrigação de fazer c/c desconstituição de débito e


indenizatória por danos morais. Cheques. Fato de terceiro.
Falsificação de documentos. Autor que só comunica o
furto de documentos meses após o ocorrido. Falha no
serviço. Negligência na verificação da documentação
apresentada. Inocorrência. Aplicabilidade dos incisos i e ii
do §3º do artigo 14 do cdc. Excludentes de
responsabilidade que se acolhem. Autor que já estava
negativado nos cadastros de proteção ao crédito. Dano
moral. Descabimento. Reforma da sentença para excluir a
condenação imposta a título de dano moral, cabendo suprir
omissão quanto à desconstituição dos débitos, pedido
implicitamente acolhido pela sentença recorrida, decisão que
agora, expressamente, se mantém. Improvimento do
primeiro recurso e provimento parcial do segundo apelo.”4

Portanto considerando que a conduta da Ré não contribuiu de forma


alguma para o desencadeamento dos supostos danos narrados na exordial, há que
ser aplicada a causa excludente da responsabilidade prevista no inciso II, §3º do art.

3
TJRJ - 2007.001.28405 - APELACAO DES. PAULO MAURICIO PEREIRA -
Julgamento: 19/06/2007 - NONA CAMARA CIVEL.
4
TJRJ - 2007.001.10147 - APELACAO - DES. CELSO FERREIRA FILHO -
Julgamento: 10/04/2007 - DECIMA QUINTA CAMARA CIVEL.
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14 do Código de Defesa do Consumidor, seja pela culpa exclusiva de terceiro, seja
pela culpa da própria parte autora.

DAS SANÇÕES DECORRENTES DA MORA


APLICAÇÃO DA RESOLUÇÃO Nº. 426/2005 DA ANATEL

A Constituição Federal prevê no inciso XI do seu artigo 21 que


compete à União explorar, mediante concessão, os serviços de
telecomunicações, nos termos da Lei que disporá sobre a organização dos
serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais.

A regulamentação veio com a Lei nº. 9.472/97 (Lei Geral das


Telecomunicações) que, além de dispor sobre a organização dos serviços de
telecomunicações, criou a ANATEL, agência responsável pela expedição de
normas sobre a prestação e fruição dos serviços de telecomunicações em
regime público (art. 19). A principal delas é a Resolução nº. 426 de 2005, que
instituiu o Regulamento do Serviço de Telefonia Fixa Comutada, em vigor
desde o dia 1º de janeiro de 2006, substituindo a Resolução nº. 85/1998, que
regulava a matéria até então.

Feito este breve prefácio, cumpre demonstrar que a parte autora, por
ser assinante de terminal telefônico, está obrigada ao pagamento mensal das
faturas representativas do seu consumo, sob pena de, não o fazendo, suportar
os consectários legais.

A contraprestação pecuniária pelos serviços recebidos é um dos


poucos deveres que os usuários têm para com as operadoras, conforme dispõem os
artigos 12 da Resolução nº 426/2005:

“Art. 12. Constituem deveres dos usuários:


...
III - efetuar o pagamento referente à prestação do
serviço contratado com prestadora de serviços de
telecomunicações, observadas as disposições deste
Regulamento”.

Este dispositivo segue o espírito da Lei Geral de Telecomunicações,


que dispõe no inciso VII do seu artigo 3º que o usuário tem direito a não ter o
serviço de telefonia suspenso, “salvo por débito decorrente de sua utilização ou por
descumprimento de condições contratuais”.

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Por conseguinte, é plenamente aplicável à hipótese dos autos, o
disposto nos artigos 100 a 104 da referida Resolução nº. 426/2005 da
ANATEL, que tratam da interrupção do serviço de telefonia em caso de
mora no pagamento das contas representativas do consumo.

São 03 (três) etapas a serem observadas. A primeira, consiste no


bloqueio parcial, que se opera depois de transcorrido o prazo de 30 (trinta)
dias sem pagamento. A linha telefônica permanece ativa para o recebimento e
bloqueada para a realização de chamadas, exceto as de emergência.

“Art. 100. A prestadora pode suspender o provimento do


serviço ao assinante que não honrar o pagamento de débito
diretamente decorrente da utilização da modalidade do
serviço prestado, após transcorridos 30 (trinta) dias de
inadimplência.”

Permanecendo a mora, após 60 (sessenta) dias de atraso, será


operado o bloqueio total. Nesta segunda etapa, o terminal telefônico não receberá
e nem realizará qualquer tipo de chamadas, salvo as de emergência, isto se houver
disponibilidade técnica, conforme preceitua o caput do art. 102, in verbis:

“Art. 102. A prestadora, após um período mínimo de 30


(trinta) dias de suspensão parcial do provimento do STFC,
permanecendo o assinante inadimplente, pode proceder à
suspensão total do provimento do STFC, inabilitando-o a
originar e receber chamadas, salvo originar chamadas aos
serviços públicos de emergência, observadas as restrições
técnicas.”

Com 90 (noventa) dias de atraso, a operadora está autorizada a


cancelar o serviço e promover a inclusão do nome do assinante nos cadastros
de proteção ao crédito. É o que dispõe o art. 104:

“Art. 104. Transcorridos 30 (trinta) dias de suspensão total


do provimento do serviço em determinada modalidade de
STFC, por inadimplência, a prestadora pode rescindir o
contrato de prestação de serviço, desde que notifique o
assinante por escrito.
§ 1º Rescindido o contrato de prestação de serviço, por
inadimplência, a prestadora pode incluir o registro de débito
em sistemas de proteção ao crédito, desde que notifique o
assinante por escrito.”

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Não se pode olvidar que a Ré faz constar nas contas de prestação
de serviço aviso expresso ao assinante de que há débito, possibilitando a este,
através deste comunicado, regularizar a sua situação. Ademais, também informa
expressamente todas as sanções passíveis em caso de mora no pagamento
das contas, inclusive a incidência de multa de 2% e juros de mora de 1% ao
mês. Estes comunicados também são efetuados através de chamadas eletrônicas,
orientando o usuário a contatar esta Concessionária através de chamada gratuita pela
central “10331”.

A simples leitura das normas regulamentares acima elencadas,


demonstra a lisura do atuar desta Concessionária. Vale dizer, estando o usuário
inadimplente, decerto a operadora não poderá ser obrigada a fornecer o serviço, e,
pode, por conseguinte, proceder à inclusão do nome do assinante recalcitrante nos
cadastros restritivos de crédito.

Não há, portanto, que se falar em reparação de danos por parte desta
Concessionária, que não responde pelo exercício legal de seu direito no
cumprimento de norma contratual, respaldada pela legislação vigente e sua
regulamentação. É este o entendimento que se colhe a jurisprudência do Egrégio
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro:

Súmula 83: “É lícita a interrupção do serviço pela


concessionária, em caso de inadimplemento do
usuário, após prévio aviso, na forma da lei.”

“Civil. Direito do consumidor. Inadimplemento.


Bloqueio de linha telefônica. Legitimidade do
procedimento. Indenização por danos morais
descabida. 1- A concessionária agiu no exercício
regular de seu direito, quando suspendeu parcial e
totalmente com o contrato de prestação de serviço
de telefonia fixa. 2- Houve a comunicação prévia do
consumidor sobre a suspensão total e parcial na
prestação de serviço, conforme se verifica das tarifas
anexadas nas páginas 09 à 11. 3- A concessionária
cumpriu integralmente com os requisitos estatuídos no
artigo 6° § 3° inciso II da Lei n° 8.987, bem como o
estabelecido nos artigos 100 e seguintes da Resolução
n° 85/98.4-O consumidor não honrou com o
adimplemento das tarifas, razão pela qual, houve o
rompimento do nexo causal, por força do disposto

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no artigo 14 § 3° inciso II do CDC.5-Por tais razões,
não deve subsistir a responsabilidade da concessionária
de arcar com a compensação por danos morais. 6-
Provimento apelo. Reforma integral da sentença de
primeira instância na forma do disposto no art.557, §1º-
A do CPC.”5 (grifos nosso).

Imperativo concluir que qualquer conseqüência que possa ter


advindo para a parte autora deriva de sua culpa exclusiva (art. 14, II, §3º do
Código de Defesa do Consumidor), em decorrência de sua inadimplência,
afastada qualquer possibilidade de responsabilização da Ré.

De todo o exposto, resta claro que não tem qualquer fundamento a


pretensão autoral, devendo seus pedidos ser julgados improcedentes.

IMPOSSIBILIDADE DE ANULAÇÃO DE DÉBITOS

Melhor sorte não há quanto ao pedido de cancelamento dos débitos


existentes no terminal telefônico em questão, vinculados ao CPF da parte autora.

Deve ser contestado o absurdo pedido autoral para que a Ré fosse


condenada a anular o débito existente na linha de titularidade autoral, segundo ela,
indevidamente cobrada, sob o argumento de não solicitou e não utilizou o serviço.

É indubitável que tal dívida foi originada por utilização da parte


Autora dos serviços prestados pela Ré, conforme conclui-se claramente pela
análise dos fatos supracitados.

Saliente-se que toda e qualquer cobrança da Ré sempre esteve


amparada pela lei e o que a estabelece a Resolução 426/2005, em seu artigo 74: “O
valor, a forma de medição e os critérios de cobrança dos serviços prestados serão estabelecidos nos
Planos de Serviço, conforme regulamentação específica”.

Ademais, o Sistema de Gestão de Qualidade do Faturamento


(S.G.Q.F.), que gera a conta telefônica, está em conformidade com a NBR
ISSO 9001:2000 e é certificado pela DNV (OCS-0010), organismo de
certificação homologado pelo INMETRO.

5
TJRJ - 2007.001.61357 – APELACAO - DES. CLEBER GHELFENSTEIN - Julgamento: 19/12/2007 -
DECIMA QUARTA CAMARA CIVEL. A Resolução citada no julgado foi revogada pela 425/2005 em
01/01/2006. No entanto, não houve alteração no teor dos dispositivos que tratam das sanções decorrentes da
mora.
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Portanto, se a origem do débito é incontestável, tendo esse sido
gerado pela utilização do serviço, não havendo qualquer tipo de
irregularidade que pudesse gerar cobrança indevida, a conclusão lógica é que
a cobrança do mesmo é totalmente lícita, não tendo nenhuma razoabilidade
o pedido de cancelamento da dívida.

Portanto, é totalmente absurdo e incabível o pleito autoral de


anulação do quantum devido pela parte Autora.

INEXISTÊNCIA DE DANOS MORAIS

Integra a pretensão autoral o pedido de condenação desta


Concessionária ao pagamento de indenização pelos supostos danos morais sofridos
em decorrência dos fatos narrados na exordial. Não obstante fundamentar esta
pretensão nos princípios e dispositivos instituídos pelo Código de Defesa do
Consumidor, certo é que a parte autora não trouxe aos autos elementos capazes de
comprovar os danos que alega ter experimentado ou mesmo delinear sua extensão.
Restringiu-se a narrar, de forma superficial, os fatos que supostamente teriam lhe
acarretado prejuízos.

O óbice intransponível para que obtenha sucesso em sua pretensão,


reside no fato de que a Ré não praticou qualquer ato de caráter ilícito, omissivo ou
comissivo, não feriu os preceitos ínsitos às relações de consumo.

Ao lecionar em sua obra Programa de Responsabilidade Civil a


respeito da configuração do dano moral, o festejado Professor Sérgio Cavalieri Filho
demonstrou preocupação com o risco de adentrarmos na fase de industrialização
deste instituto, onde o mais banal aborrecimento é apresentado ao Poder Judiciário
como fato ensejador de reparação. Por esta razão, procurou demonstrar em seu
estudo que o Magistrado deve adotar o bom-senso prático ao decidir acerca da
configuração do dano moral no caso concreto, ante a ausência de critérios objetivos.

Doutrina e jurisprudência são uníssonas ao entender que, à luz da


Constituição Federal, o dano moral nada mais é do que a agressão à dignidade
humana. Daí sua afirmação que “só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame,
sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento
psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero
dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano
moral”6.

6 Sérgio Cavalieri Filho, Programa de Responsabilidade Civil, 8ª Ed., Atlas, p. 83.


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Conclui que só se justifica a concessão de uma satisfação de ordem
pecuniária se o evento for capaz de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo,
posto que, do contrário, o instituto será definitivamente banalizado.

Este quadro já era facilmente perceptível nas ações de rito


sumaríssimo, onde, pelos mais triviais aborrecimentos, o consumidor objetiva
indenização a título de danos morais, alicerçando sua pretensão na suposta falha na
prestação do serviço. Por esta razão, seguindo o entendimento previamente
pacificado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, através da Súmula
75, os Juízes que compõem os Juizados Especiais Cíveis7 editaram o Enunciado nº.
14.4.3, que dispõe:

“14.4.3 - INADIMPLEMENTO CONTRATUAL


O inadimplemento contratual, por si só, não enseja
o dano moral, salvo se da infração advém
circunstância que atenta contra a dignidade da
parte”.

A fundamentação para que os Magistrados firmassem este


entendimento cinge-se no fato de que o mero inadimplemento contratual, mora
ou prejuízo econômico, por si só, não agridem a dignidade humana, exceto
quando os efeitos deste inadimplemento extrapolam os limites da razoabilidade.
Exceção esta que remete à observância das regras da boa prudência e bom-senso do
julgador.

No caso em tela, a parte autora pretende obter vantagem de ordem


pecuniária ao alegar que teria sofrido danos de ordem moral com a suposta falha na
prestação do serviço. Contudo, conforme lição acima reproduzida e a exposição da
verdade dos fatos, é facil constatar que o expediente adotado pela Ré não pode ser
considerado como agressão à dignidade humana, posto que não tem o condão de
interferir intensamente no comportamento psicológico do indivíduo.

Mesmo porque, a Ré observou as regras do Código de Defesa


do Consumidor, cumpriu os termos da oferta veiculada e do contrato
livremente pactuado entre as partes. Por conseguinte, atuou em exercício
regular de seu direito, não estando presente os requisitos para a reparação.

Ademais, insta salientar que as alegações formuladas na petição inicial


estão desacompanhadas de qualquer suporte probatório, desincumbindo-se a parte

7
Consolidação dos Enunciados Jurídicos Cíveis e Administrativos, publicado através do Aviso nº. 39 do
Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, veiculado no dia 03/09/2007.
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autora do ônus de provar os fatos constitutivos de seu direito, na forma do art. 333,
I do Código de Processo Civil, omissão esta que impede a prolação de provimento
jurisdicional tendente ao acolhimento da pretensão deduzida. Mesmo porque, para
delinear-se dano dessa espécie, cabe à parte autora a demonstração do nexo de
causalidade entre o defeito do serviço e a violação dos direitos da personalidade,
ainda que a responsabilidade desta Concessionária seja objetiva, por força do art. 22
do Código de Defesa do Consumidor. Em outras palavras, tanto a doutrina quanto
a jurisprudência reconhecem que a responsabilidade civil de natureza objetiva exige
a demonstração do nexo de causalidade e do dano sofrido, requisitos que não estão
presentes no caso sub oculi.

Com efeito, tem-se que o mero mal estar, os aborrecimentos normais


da vida cotidiana e os pequenos dissabores estão fora da esfera do dano moral, eis
que são fatos que não podem ser reconduzidos ao conceito de dano moral
indenizável. Vale dizer, o dano moral passível de ressarcimento somente ocorre,
repita-se, no caso de grave lesão a um dos direitos da personalidade em decorrência
da ação ou omissão de outrem. Portanto, não se encontram presentes quaisquer
elementos que possam legitimar a pretensão de recebimento de qualquer quantia a
título de reparação, pelo que confia na improcedência do pedido.

Somente em homenagem ao princípio da eventualidade, caso


esse MM. Juízo entenda presente o dever de indenizar, rechaça a Ré, desde
já, o quantum pretendido, o qual, se deferido, caracterizará locupletamento
ilícito da parte autora, devendo observar-se os princípios da razoabilidade,
proporcionalidade e vedação ao enriquecimento sem causa.

DA INVERSÃO DESCABIDA DO ÔNUS DA PROVA

Consta na exordial pedido para que seja invertido o ônus da prova.


No entanto, deixou de especificar para que fim entende deva ser concedida a
inversão. Simplesmente embasou seu pedido no artigo 6º, do CDC, sem fornecer
maiores explicações.

Ressalte-se, nesse passo, que o citado dispositivo não confere à parte


autora o direito de ver concedida à inversão do ônus da prova em qualquer situação
indistintamente.

Apenas a título ilustrativo, veja-se a doutrina de NELSON NERY


JÚNIOR e ANTONIO GIDI, que tratam do conceito, necessidade e finalidade da
inversão do ônus da prova, in verbis:

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“A hipossuficiência de que fala o Código não é
apenas a econômica, mas também a técnica, de
sorte que se o consumidor não tiver condições
técnicas ou econômicas para produzir a prova dos
fatos constitutivos de seu direito, poderá o juiz
inverter o ônus da prova a favor do consumidor
hipossuficiente” (grifamos – Nelson Nery Júnior,
Revista do Direito do Consumidor, vol.3, pág.55).

A inversão do ônus da prova em favor do consumidor somente se


legítima como forma de facilitar a defesa de seu direito em juízo. É imperativo, pois,
que, para facilitar a defesa do consumidor, seja necessária ou, pelo menos,
extremamente útil a inversão. O objetivo é, tão-só e exclusivamente, a facilitação da
defesa do seu direito, e não privilegiá-lo para vencer mais facilmente uma demanda,
em detrimento das garantias processuais do fornecedor-Réu.

Em suma, a inversão do ônus da prova pressupõe a dificuldade, pelo


requerente do benefício, de provar o fato constitutivo de seu direito. Não basta
alegar uma suposta hipossuficiência, deve-se especificar com relação a quais provas
ela se dá, bem como é imprescindível a demonstração da dificuldade para a
produção da prova em questão.

Nesse passo, deve-se consignar que a hipossuficiência se apresenta


como a vulnerabilidade não meramente econômica, mas técnica, processual e de
conhecimento das informações e fatos relevantes para o deslinde da lide. Não basta
somente a condição de consumidor para ser hipossuficiente e, por isso, ser
agraciado pela inversão da carga probatória. Esta prosaica idéia olvida as
circunstâncias em que o consumidor é detentor do conhecimento fático que seria
decisivo para a aplicação da Justiça.

No presente caso, as alegações da parte autora envolvem fatos


atrelados ao desenrolar da sua própria vida pessoal, de modo que apenas ela possui
o conhecimento necessário para demonstrá-las.

Conclui-se, assim, que no caso dos presentes autos, a parte autora


pede a inversão sem qualquer embasamento fático ou jurídico – tentando lograr
êxito em sua pretensão a qualquer custo –, motivo pelo qual, também, este
requerimento deve ser indeferido.

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Por derradeiro, mas não menos importante, há que se registrar que a
facilitação da defesa dos direitos do consumidor “N
NÃO PODE PERMITIR QUE
SE INSTALE NO JUDICIÁRIO A “DITADURA DO CONSUMIDOR”, ONDE
ELE LEVA SEMPRE TUDO O QUE PEDE MESMO QUANDO SEU DIREITO
ACHA-SE CADUCO, ALÉM DE NÃO SUFICIENTEMENTE PROVADO.”
(Rec. nº 175-7. 2a Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais –
Unânime. Rel. Juiz PAULO MAURÍCIO PEREIRA – Julg. 01/02/99). Leia-se, a
título de ilustração, a ementa abaixo destacada:

“Consumidor. Inversão do ônus da prova.


Princípio não absoluto. A inversão do ônus da
prova prevista no código de defesa do consumidor
– CDC (Lei 8.078/90) não constitui princípio
absoluto, não dispensando assim o autor da
produção de no mínimo, um princípio de prova do
fato alegado”. (TJRS. AP. Civ. 189217. Porto
Alegre. Rel. Des. LUIZ GONZAGA PILA
HOFMEISTER. J. 12.12.96).

IV – CONCLUSÃO

Ante ao exposto, considerando que a Ré não praticou nenhum ato


ilícito, omissivo ou comissivo e os fatos narrados na exordial não são passíveis de
ensejar condenação por danos morais, requer a V. Exa. seja o pedido julgado
totalmente improcedente.

Somente em atenção ao princípio da eventualidade, requer que


eventual condenação seja arbitrada em valores comedidos e razoáveis, devendo os
juros moratórios incidir a partir da citação (art. 406 do CC) e a correção
monetária contabilizada da data do julgado, na forma prevista nas Súmulas 97 do
TJRJ e 362 do Superior Tribunal de Justiça.

Protesta por todos os meios de prova em Direito admitidos,


notadamente prova documental suplementar, prova testemunhal e o depoimento
pessoal da parte autora, sob pena de confissão.

Outrossim, a juntada de procuração e substabelecimento


incluso, objetivando regularizar sua representação processual.

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Requer, ainda, para satisfação do art. 39, I do CPC, que as
intimações de seus patronos sejam realizadas na Av. Historiador Rubens de
Mendonça, n º 1894, sala 702, Bosque da Saúde, Cuiabá-MT, CEP.: 7805000;
devendo as futuras publicações serem feitas em nome do Dr. Alexandre
Miranda Lima, inscrito na OAB/ MT sob o nº 131.436, sob pena de nulidade.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Cuiabá-MT, 02 de dezembro de 2010.

Alcides Luiz Ferreira Marinalva de Matos Santana Eladio Miranda Lima


OAB/MT 5477 OAB/MT 13.002 OAB/MT 13.242-A

Alexandre Miranda Lima Denise Gomes Santana Maria Lucia Ferreira Teixeira
OAB/MT 13.241-A OAB/RJ 86.313 OAB/MT 3662

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