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O ouvido humano é o órgão responsável pela nossa audição e pelo nosso equilíbrio.
A figura seguinte mostra como ele está dividido e quais as principais partes:
O ouvido externo
Um som após ter percorrido o ouvido externo já sofreu uma "equalização" significativa,
sobretudo na gama de freqüências entre os 1. 5 kHz e os 7 kHz, onde sofre um aumento
de 5 a 20 dB respectivamente. Embora uma parte desta alteração seja devido a reflexões
do tronco e a fenômenos de difração da cabeça, existem duas razões preponderantes
neste aumento: a ressonância do pavilhão auditivo na zona dos 5KHz e a ressonância do
canal auditivo e do tímpano perto dos 2,5 kHz (efeito semelhante ao que acontece em
alguns instrumentos musicais como o órgão com tubos fechados), ou seja o ouvido
externo provoca um aumento na sensibilidade auditiva entre os 2KHz e os 5KHz. Para
freqüências acima dos 6KHz existe uma acentuada variação na resposta em freqüência
em relação à localização da fonte sonora, ou seja o ouvido externo funciona como um
amplificador direcional, permitindo então localizar determinada fonte sonora consoante
a amplificação efetuada.
O ouvido médio
Outra das funções do ouvido médio é proteger o ouvido interno de sons com grande
intensidade ou mudanças súbitas de pressão através de dois conjuntos de músculos: um
que faz a contração do tímpano e outro que afasta o estribo da janela oval. Efetuando
uma diminuição de intensidade da onda sonora que pode alcançar entre os 15-30 dB e
que depende da freqüência, estes músculos permitem que nos seja perceptível a fala de
uma pessoa mesmo que nos encontremos num "background" sonoro com intensidades
sonoras elevadas na zona das freqüências baixas. Quer dizer então que este sistema de
proteção é mais eficaz para freqüências graves. A proteção efetuada por estes músculos
apresenta um latência de 30 a 40 milisegundos e a proteção total apenas ocorre após 150
milisegundos. Ou seja sons impulsivos como o disparo de uma pistola ou uma explosão
que são considerados como intensos (mais de 85 dB) não serão abafados por este
sistema de proteção. Como se sabe, exposições a sons de grande intensidade implicam
quase sempre perda de audição. Outro elemento do ouvido médio é a trompa de
Eustáquio que liga este à parte superior da garganta e faz com que a pressão no ouvido
médio seja igual à pressão atmosférica através de aberturas periódicas. Se a trompa de
Eustáquio efetuar uma abertura lenta ou não abrir como acontece quando ocorrem
súbitas mudanças na pressão exterior (ex: mudanças de altitude), logo o mecanismo de
transmissão das ondas sonoras sofre alterações. Nesse caso o som sofre uma perda
abaixo dos 1kHZ na ordem dos 20 dB.
O ouvido interno
Existem dois tipos de células auditivas: internas e externas. Em média o ser humano tem
3500 células auditivas internas e 12000 externas e cada uma destas células contem cerca
de 100 cílios, sendo que a sua estrutura e forma difere consoante o tipo de célula em que
os cílios se encontram. Estas células auditivas encontram-se por sua vez a um potencial
de –70 mV em relação a perilinfa e –150mV em relação à endolinfa, o que torna os
cílios mais sensíveis. 90 por cento da audição humana é devido às células sensoriais
internas.
Vamos então ver de que forma as ondas sonoras atuam nos cílios.
Quando o estribo vibra contra a janela oval, essa vibração é transmitida para o canal
vestibular por meio do fluído coclear, ou seja, da endolinfa. Toda essa vibração percorre
o canal vestibular e o canal timpânico encontrando depois a janela redonda. Qualquer
movimento efetuado pela janela oval devido a uma onda sonora vinda do ouvido médio
tem resposta na janela redonda. A membrana basilar é uma estrutura ressonante, ou seja,
determinadas zonas da membrana basilar têm uma resposta mais acentuada em uma
pequena gama de freqüências, fazendo com que ela se desloque mais. Perto da janela
oval os sons agudos sofrem o efeito de ressonância e apresentam uma maior amplitude,
isto aonde a membrana basilar se apresenta mais estreita e rígida. Por outro lado os sons
graves apresentam picos de pressão mais acentuados perto da janela redonda, no final
do canal timpânico, onde a membrana basilar é mais larga e frouxa.
Fig. 7 – Deslocamentos da membrana basilar em função da distância ao estribo para
várias freqüências
Quando a membrana basilar entra em ressonância provoca uma inclinação dos cílios, e
logo gera sinais elétricos que serão enviados para o cérebro. A ressonância da
membrana basilar ativa os cílios, o que resulta na depolarização ou hiperpolarização das
células auditivas, como mostra a figura a seguir.
O processamento de sinal no sistema auditivo pode ser dividido em duas partes: aquele
que é feito no sistema auditivo periférico, ou seja, nos ouvidos, e aquele que é feito no
cérebro. As fibras nervosas saem das células auditivas transportando os impulsos
nervosos e dando origem ao nervo auditivo (VIII nervo cranial). Este desloca-se através
da espinhal medula e leva o sinal nervoso até diferentes partes do cérebro tais como o
cerebelo, mesencéfalo, o tálamo e o lóbulo temporal do córtex. É possível então captar o
sinal elétrico que viaja desde a cóclea até ao cérebro, bem como a atividade cerebral
correspondente ao ato de ouvir. Cada uma dessas fibras nervosas responde dentro de
uma cerca gama de freqüências e de pressão, tendo então uma freqüência característica
em que a resposta é máxima. Uma única fibra não pode transcrever toda a diferença de
intensidades a que o ouvido está sujeito, sendo necessário um conjunto de fibras para
codificar os valores da intensidade sonora.
Existem várias teorias mais recentes acerca do modo em como o ouvido se apercebe da
freqüência de um som, sendo que a mais conhecida é a teoria da freqüência, descrita
anteriormente e baseada na ressonância da membrana basilar em diferentes sítios
dependente da freqüência.
Devido à larga gama de variações de pressões a que o ouvido reage é aconselhável usar
uma escala logarítmica, denominada a escala de Decibel (dB), em que se define como
referência um som com uma pressão sonora de 2X10-5 N/m2 sendo que este valor
assume o valor de 0 dB.
A percepção do nível sonoro é bastante simples. Quanto mais alto for o som maior é a
quantidade de cílios que se movem e, logo, mais células auditivas são "ativadas". Os
cílios só respondem ao som a partir de uma determinada intensidade sonora.
A percepção que um indivíduo tem da freqüência de um som puro denomina-se por tom.
Muitas vezes interliga-se a freqüência de um som ao tom que se ouve, ou seja,
determinada mudança na freqüência implica uma mudança semelhante no tom. Mas
além das ilusões ópticas, existem igualmente ilusões acústicas. A mais conhecida
denomina-se por escala de Shepard. A escala de Shepard dá ao ouvinte a impressão de
uma melodia que sobe continuamente, quando de fato isso não acontece! Ou seja uma
determinada mudança na freqüência não teve associada uma mudança semelhante no
tom. (Eu já ouvi esta escala e achei este fenômeno simplesmente fascinante. Para ouvir
uma amostra deste fenômeno,clique aqui.Lembre-se que o tom inicial é exatamente
igual ao tom final.). A discriminação do tom de um som é sempre subjetivo e varia de
pessoa para pessoa. De fato, para algumas pessoas, um som com uma freqüência
constante podem parecer percepções diferentes da altura do som consoante este se
apresenta pelo lado esquerdo ou direito (a este fenômeno chama-se "binaural
diplacusis").
Note-se então que o ouvido apresenta-se bastante insensível a sons graves e a tem a sua
sensibilidade máxima entre os 3500 e os 4000 Hz, perto da primeira zona de
ressonância que ocorre no ouvido externo. A segunda zona de ressonância ocorre perto
dos 13 kHz. A capacidade de distinguirmos a mínima alteração no tom de um som
depende da freqüência, da intensidade sonora, da duração do som, da velocidade da
alteração bem como do próprio treino auditivo do ouvinte. O ouvido humano é bastante
sensível a diferenças de freqüências entre dois sons. Em sons graves mudanças de
freqüência de 1 Hz podem ser detectadas. A diferença na freqüência das duas notas mais
graves do piano é de apenas 1,6 Hz. Aos 1000 Hz a maior parte das pessoas é capaz de
distinguir mudanças na freqüência com o valor de 3 Hz. Aos 100 Hz mudanças na
freqüência podem ser notas a partir dos 0,3 Hz. Ou seja, o ouvido é sensível não
propriamente a mudanças absolutas da freqüência, mas sim a uma razão entre a zona
que freqüências do som que se está ouvindo e da mudança efetuada. Estudos feitos por
Stevens (1935) verificou que sons puros, ou seja senoidais, de baixa freqüência, tendem
a parecer mais graves ao aumentarmos a intensidade destes, sendo essa impressão mais
acentuada por volta dos 150 Hz. Pelo contrário sons agudos tendem a parecer mais
agudos do que são na realidade, sendo que essa impressão é mais acentuada por volta
dos 8000 Hz. A figura seguinte mostra as diferenças de tom em função do nível de
pressão sonora (SPL) para sons puros entre as freqüências de 200 Hz e 6000 Hz em que
cada 100 centos corresponde a um semitom.
Fig. 12 – Mudanças de tom de sons puros em função com o SPL
Usando como fonte sonora não sons puros, mas instrumentos musicais, verificou-se que
a alteração de altura do som é mínima, da ordem dos 17 centos, quando a intensidade
sonora passa dos 65 dB até os 95 dB, sendo que a predominância de harmônicas abaixo
ou acima dos 1000 Hz têm um papel fundamental em "escolher" se a altura do som
desce ou sobe. Outro fenômeno de alteração de altura do som é igualmente observado
no decaimento do som com reverb elevado, como por exemplo em órgãos de igreja em
que se a altura do som parece aumentar quando o som decaí. No que respeita à duração
do som e a percepção da altura deste temos que ter em conta o princípio de incerteza
acústica dada por , em que é a incerteza na freqüência e a duração do
som. Em condições exemplares, K pode tomar o valor de 0,1. Se a duração do som for
menor que 25 ms, logo, a incerteza na freqüência é maior, ou seja, a altura do som
parece que varia mais. O ouvido tem mais facilidade em detectar alterações na altura do
som em sons puros do que em outros sons. Por exemplo, consideremos ruído centrado
nos 1500 Hz com largura de banda de 10 Hz e o som puro de 1500 Hz. Notou-se que
tem um valor seis vezes maior para o ruído em relação ao som puro, ou seja, o som
puro apresenta uma incerteza bem menos elevada freqüência.
Convém relembrar aqui que uma onda periódica pode ser decomposta nas suas
componentes parciais com freqüências f,2f,3f,4f,etc, e em que f é a freqüência
fundamental. Pode acontecer que a fundamental tenha menor amplitude do que as outras
harmônicas, como foi demonstrado por Seeback em meados do século XVIII.
Utilizando uma sirene e colocando-a dentro de um disco rotatório com fendas espaçadas
de igual modo, é possível ouvir a nota fundamental. Seeback notou que se duplicar o
número de fendas, o som que se ouve corresponde a uma oitava.
Fig. 13 – esquema das três sirenes diferentes usadas por Seebeck
Se o ouvido estiver ouvindo um som que contenha as harmônicas exatas, como por
exemplo um som que contenha as harmônicas parciais de 400, 600, 800, 1000 e 1200
Hz, então o ouvido identificará a altura do som como sendo a fundamental, ou seja neste
caso 200 Hz. Ou seja, o ouvido tem a capacidade de identificar a fundamental mesmo
que esta tenha uma intensidade fraca ou que não exista. Este efeito possibilita então que
seja possível ao ouvido humano reconhecer sons graves em alto-falantes de pequena
dimensão ou rádios portáteis, isto porque para sons complexos com a fundamental até
aos 200 Hz, a altura do som é reconhecida fundamentalmente usando a quarta e quinta
harmônica.
Estas harmônicas aurais foram observadas por Fletcher em 1929 sugerindo que a
O timbre é a característica do som que permite identificar dois sons como diferentes se
esses sons tiverem a mesma freqüência, intensidade e duração.
Helmholtz em 1877 descobriu que o que caracteriza o timbre da maior parte dos
instrumentos musicais é a série de harmônicas e concluiu que:
Abafamento
1 – sons puros com freqüências próximas abafam-se mais do que se tivessem afastados,
sendo que neste último caso pouco ou nenhum abafamento ocorre.
2 – um som puro abafa mais facilmente sons com freqüências altas do que baixas.
3 – quanto maior for a intensidade do som puro maior é a largura de banda que ele pode
abafar
5 - O abafamento de um som pode ser provocado por um som que tenha terminado
(entre 20 a 30 ms) antes deste começar ou por um som que comece um milisegundos
após (até 10 ms)
A figura seguinte demonstra a resposta da membrana basilar a dois sons puros em
quatro situações distintas.
Repare-se que em (a) as excitações produzidas pelos dois sons quase não se sobrepõem,
ou seja o abafamento é mínimo. Em (b) existe já um abafamento significativo por parte
do som B. Se este se tornar mais intenso então ele irá abafar quase completamente o
som de freqüência mais alta A (c). Por outro lado se verificarmos a situação contrária
em que A é mais intenso do que B como se mostra em (d) temos que o som A não abafa
completamente o som B, ou seja é mais fácil abafar um som de freqüência alta do que
baixa.
Fig. 16 – (a): abafamento usando um som puro de 400 Hz (b): abafamento usando um
ruído centrado em 410 Hz com uma largura de banda de 90 Hz
Em (a), no gráfico que se refere a um som puro de 400 Hz, podemos verificar por
exemplo que esse som tiver uma intensidade sonora de 60 dB então um outro som puro
a 500 Hz necessitaria de um aumento de 22 dB acima do limiar de audição para ser
ouvido. Na presença de um ruído com 60 dB centrado em 410 Hz e com uma largura de
banda de 90 Hz temos que o aumento acima necessário para se ouvir um som puro de
500 Hz é de 40 dB.
Fig. 17 – Funções do nível sonoro para um som puro de 1000 Hz parcialmente abafado
por ruído branco
Comparando a curva de ausência de ruído com as curvas em que existe ruído nota-se
que à medida que a intensidade de ruído aumenta que as curvas que caracterizam o nível
sonoro se tornam mais inclinadas
Localização espacial
Quando uma fonte sonora se encontra mais à esquerda ou mais à direita do ouvinte isso
implica que o som que chega a um dos ouvidos mais depressa do que o outro.
Consideremos a cabeça como uma esfera de raio r como mostra a figura seguinte:
A nossa cabeça, bem como as orelhas, o pavilhão auditivo, o canal auditivo e o tímpano
constituem um obstáculo ao som, causando difração e absorção do som e funcionando
como um filtro que depende da posição da fonte sonora relativa à cabeça e aos ouvidos.
Note-se que a diferença máxima de intensidade sonora é verificada não aos 90º mas sim
aos 60º com o valor de 7 dB. A precisão da localização encontra-se entre 1º e 2º, sendo
que esta também depende do ângulo de incidência. Neste caso foram utilizadas como
fontes sonoras ruído branco com a duração de 100 ms:
Constata-se que freqüências centrais de certas zonas do espectro impõem uma direção
aparente ao ouvido tal que:
Esta noção pode ser então criada artificialmente. Por exemplo o efeito de ter o som a ser
elevado pode ser recriado através de uma pré-acentuação na região dos 8 kHz.
Bibliografia
Livros:
Christian Hugonnet & Pierre Walder, "Stereophonic Sound Recording", 1995, John
Wiley & Sons.
Sites da internet:
http://www.neurophys.wisc.edu/~ychen/textbook/mid_ear.html
http://cips02.physik.uni-bonn.de/~scheller/index.html
http://sun.science.wayne.edu/~wpoff/cor/sen/hearing.html