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DAL COL
Título Original: ARRET - O DIÁRIO DA VIAGEM
Registrado na Fundação Biblioteca Nacional sob nº 224.272
ISBN nº 85-901892-1-X
Código de barras nº 9788590189213
OBSERVAÇÕES:
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AO MESTRE, COM CARINHO
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J. A. DAL COL
ARRET
O AMANHÃ DA TERRA
O PASSADO DO PLANETA
ÍNDICE
DEDICATÓRIA
INTRODUÇÃO
O APARECIMENTO DE OLINTHO
A profecia do Homem do Cavalo Branco
O país de Olintho antes da sua ascensão
A chegada de Olintho ao governo
As primeiras ações
A reforma agrária e as agrovilas
Outras das principais realizações
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Os novos NTCA e a preparação para o trabalho
As atividades das juntas de governo
O início dos trabalhos nos NTCA
A construção e ocupação das habitações familiares
A mudança de mentalidade
DEDICATÓRIA
INTRODUÇÃO
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Visão geral
Nos anos anteriores àquele grande acontecimento, a situação geral dos
povos que viviam nos diversos países daquele planeta não era diferente do atual
padrão terrestre. Lá também havia diferenças sócio-econômicas entre os povos que
viviam nos países mais desenvolvidos, emergentes e subdesenvolvidos, bem como,
entre os habitantes desses países. Se comparados ao nível de costumes, rendas e
de comportamento social, a maioria dos habitantes do planeta tinha um modo de
vida semelhante àquele vigente nos países mais desenvolvidos da Terra nos idos
de 1960. De maneira geral, a população vivia tranqüila e segura, pois os crimes e
delitos rotineiros na atualidade terrestre constituíam um fato incomum em Arret.
Lá não havia o crime organizado, a máfia, o narcotráfico e a grande
maioria dos delitos comuns em nosso planeta, pois as legislações e costumes
sociais arretianos tinham forte fundamento religioso, como acontece em alguns
países do nosso globo. As transgressões legais eram encaradas como um “pecado
grave” e punidas com severidade. Na maioria dos casos, os condenados não
tinham o direito de recorrer às cortes superiores e eram punidos imediatamente.
Além da severidade das leis, a população tinha um alto grau de consciência
religiosa e uma visão quase fanática daquilo que as religiões terrestres denominam
como “pecado”.
Em razão da consciência religiosa e do menor grau de desigualdade
social entre os países arretianos, uma significativa parcela da população tinha um
bom nível de qualidade de vida e um razoável grau de atividades culturais e de
lazer, centradas nas práticas esportivas, na música, nas danças folclóricas e de
salão, além de passeios e viagens turísticas nos fins-de-semana ou nas férias. A
seguir, serão detalhados os principais aspectos do planeta e da sociedade arretiana
da época.
Raças e preconceitos
Havia quatro raças bem definidas e uma quinta composta por
cruzamentos delas. A mais representativa tinha a pele morena clara, cabelos
escuros e olhos predominantemente castanhos. Era seguida por uma raça de pele
bem clara, com cabelos quase sempre loiros ou ruivos e olhos verdes ou azuis. O
terceiro lugar era ocupado por uma raça amarela e alta, como os nossos chineses.
A quarta apresentava um tipo de pele semelhante à dos mulatos brasileiros, com
cabelos encaracolados ou crespos e olhos escuros. Os mestiços eram mais
parecidos com os atuais habitantes do planeta. Em Arret nunca existiu escravidão
como aqui conhecemos e o chamado trabalho forçado estava restrito a prisioneiros
de guerra ou a delinqüentes abrigados em colônias agrícolas. Os membros das
duas primeiras raças conviviam em harmonia e sem preconceitos entre si, pois
freqüentavam os mesmos locais de lazer e se casavam livremente. Quase toda a
riqueza e poder econômico estavam concentrados nas mãos dessas duas raças, as
quais controlavam os grandes negócios e atividades do planeta.
Seus membros desprezavam os componentes das raças amarela e
mulata que, por sua vez, demonstravam preconceitos raciais entre si. Os mestiços
eram aceitos pelas demais raças e não eram preconceituosos. Seus membros eram
espalhados por quase todos os países e formavam um povo bonito, alegre e festivo,
sem apego a radicalismos religiosos e sociais. Ao contrário do padrão terrestre, as
cinco raças arretianas não viviam isoladas ou mais concentradas em alguns países
ou regiões do planeta. Apesar de haver maior nível de concentração em bairros,
cidades e até em alguns países, lá era possível encontrar grupos representativos de
todas elas em quase todos os locais, pois Arret era mais globalizado que a
atualidade terrestre.
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Formas de governo
Nos seis continentes equatoriais, em uma pequena parte do continente
polar norte e em inúmeras ilhas de grande porte, havia uns 450 países e territórios
independentes. Cerca de 250 deles adotavam um regime democrático com eleições
em todos os níveis executivos e legislativos. Uma parte dos países democráticos
adotava um regime semelhante ao nosso parlamentarismo, com um primeiro
ministro e sem a figura do presidente da república. Mais de uma centena de países
eram monarquias parlamentaristas compostas por um rei e por um primeiro
ministro. Os demais tinham governos totalitários, controlados por um ditador ou por
uma junta militar.
Com pequenas variações, os países tinham um governo federativo,
governos estaduais ou provinciais e, nos maiores, governos municipais. O direito ao
voto não era obrigatório, era conquistado aos 21 anos e somente por pessoas com
certo grau de instrução, ou nível de renda, ou por aqueles que pertenciam à classe
empresarial. Quase todos os países democráticos tinham eleições majoritárias e
legislativas semelhantes ao padrão terrestre e com apenas um turno, onde os mais
votados eram os eleitos. As monarquias e governos totalitários indicavam os
demais níveis do executivo e nesses países havia apenas eleições legislativas ou
para o primeiro ministro.
Relações internacionais
Havia um certo padrão nas relações entre os países em função da força
que representava a ONU arretiana, criada cerca de 150 anos antes da grande
transição e formada por representantes de todas os países e territórios
independentes. Ela atuava como um poder legislativo e judiciário a nível global, pois
sua amplitude operacional abarcava os mais variados setores da sociedade
planetária. Suas propostas eram aprovadas ou rejeitadas em assembléia e cada
membro tinha um voto de valor variável, definido através de uma fórmula que
levava em conta a população, o nível de atividades econômicas e vários
indicadores sociais. Se algum país não seguisse suas recomendações, ficava
sujeito a vários tipos de sansões econômicas, incluindo o bloqueio do acesso aos
satélites de comunicação geridos por aquele poderoso organismo.
Apesar desse rigor, ela agia com neutralidade e não interferia nos
princípios de soberania de seus membros, inclusive nos casos das freqüentes
guerras entre eles, quando procurava evitar ou abreviar os conflitos por meios
diplomáticos, sem aplicar sansões diretas, a menos que a contenda prejudicasse
outros países não envolvidos. Apesar dos arretianos nunca terem se envolvido em
guerras do tipo mundial e nunca terem produzido armas de destruição em massa ou
bombas de alto poder destrutivo, eles eram um povo altamente belicoso e sempre
havia países em guerra pelos mais diversos motivos. Além de expansão territorial e
econômica, o maior provocador de conflitos eram as questões religiosas,
semelhantes àquelas que ocorrem em alguns países da Terra.
As guerras, apesar de sempre existirem em todos os continentes
arretianos, ocorriam com maior freqüência em dois deles, um dos quais era o
campeão em número de conflitos. A maioria dos países que formavam esses
continentes era governada por dinastias reais, ditadores, ou juntas militares e seus
habitantes apresentavam um alto grau de fanatismo religioso. Apesar das guerras
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entre muitos deles, as relações entre a maioria dos países eram intensas ao nível
de comércio exterior, intercâmbio de tecnologias e exploração espacial, pois em
quatro continentes havia um mercado comum muito ativo, iniciado na quinta década
anterior à grande transição.
Agricultura
Como toda a população era vegetariana, a agricultura ocupava uma
porção significativa do solo e era bem distribuída por todo o planeta. Havia uma
grande quantidade de pequenas propriedades familiares que praticavam uma
agricultura orgânica bastante diversificada e voltada para a produção de verduras,
legumes e frutas. Também criavam peixes que faziam parte da dieta alimentar de
uma parcela significativa da população. Havia grandes propriedades voltadas para
a monocultura de alguns tipos de cereais, onde utilizavam máquinas sofisticadas e
projetadas para os mais variados tipos de serviços.
Os agricultores formavam uma classe com bom nível de renda e muito
respeitada pelos habitantes das zonas urbanas, que não os viam com “matutos ou
caipiras”. Eles tinham um modo de vida bastante confortável, pois dispunham de
muitas das facilidades encontradas nas cidades, como a energia elétrica, a telefonia
e a televisão. A eletrificação rural era quase toda oriunda da energia solar, cujo uso
era bastante difundido em todo o planeta, inclusive nas zonas urbanas. O
associativismo era uma realidade em quase todos os países e os agricultores,
especialmente os familiares, se reuniam em grandes cooperativas que
desempenhavam diversas funções e forneciam apoio técnico em todas as fases do
processo produtivo, além de recolher, armazenar e comercializar a produção e
distribuir os lucros aos seus associados. Essas cooperativas também mantinham
escolas, postos de saúde, clubes recreativos, colônias de férias e outras atividades
em conjunto com os poderes públicos.
Indústria
Todos os países contavam com parques industriais significativos,
diferenciados pelo menor ou maior desenvolvimento tecnológico de seus
equipamentos e produtos. Como regra geral, os países eram auto-suficientes
quanto as suas necessidades básicas e isso ocorria em função das constantes
guerras que envolviam muitos deles, durante as quais não podiam depender de
suprimento externo. Os países mais desenvolvidos tinham indústrias altamente
robotizadas e produziam todos os tipos de bens, especialmente os de alta
tecnologia, como os eletrônicos, aviões e outros. Nos mais pobres, suas indústrias
se limitavam à produção dos bens de consumo básico, máquinas e ferramentas
utilizadas pela suas respectivas populações.
Ao contrário daquilo que acontece na Terra, a produção industrial
primava pela qualidade e durabilidade dos bens produzidos. Os produtos
descartáveis ou de baixa duração, limitavam-se àqueles que tinham esse tipo de
vocação, como barbeadores, copos descartáveis e escovas dentais. Em função do
grande mercado comum que vigorava em quatro dos seis continentes, a produção
industrial seguia padrões rígidos de qualidade e a competitividade era baseada na
versatilidade, utilidade e durabilidade de cada produto, onde o preço era objeto de
uma criteriosa análise de custo e benefício por parte dos consumidores. A
sociedade arretiana não era dada a modismos, mesmo com relação a roupas e
aparelhos eletrônicos. Os novos modelos eram lançados somente quando
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apresentavam aperfeiçoamentos significativos ou uma utilidade real que atendesse
uma nova necessidade daquela exigente e conservadora sociedade de consumo.
Era comum um modelo de veículo permanecer inalterado durante anos ou décadas,
a exemplo daquilo que presenciamos com relação a alguns veículos produzidos em
nosso país nas décadas passadas.
Educação e cultura
A ONU arretiana também estabelecia um padrão educacional mínimo e
todos os países mantinham um sistema com cursos gratuitos até o equivalente à
nossa oitava série, quando os alunos dominavam a língua pátria, a matemática e
outras matérias básicas, além de uma forte noção de direitos, deveres e cidadania.
Os professores eram bem preparados, exigentes e respeitados pelos alunos, pelos
pais e pela sociedade em geral. Quase todos os países ofereciam uma educação
básica de qualidade e o nível de analfabetismo era insignificante em todo o planeta.
Muitos países estendiam o ensino gratuito ao nível seguinte e ofereciam vários
cursos profissionalizantes de nível médio. Alguns mantinham a gratuidade nos
cursos de graduação e para acesso a eles não havia vestibulares, pois os alunos
eram selecionados a partir de notas médias obtidas nos cursos públicos inferiores.
Como as vagas não eram suficientes para todos, somente os mais esforçados e
bem preparados podiam estudar em universidades públicas.
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Porém, em todos os países havia escolas básicas, de nível médio e
universidades particulares voltadas para as classes mais abastadas, as quais
também eram freqüentadas por alunos das classes sociais inferiores que recorriam
a financiamentos governamentais, renovados a cada ano, desde que os alunos
fossem aprovados. Os pagamentos eram exigidos a partir do segundo ano após o
término do curso de graduação, em parcelas mensais e com descontos
proporcionais à média das notas obtidas. Em todas as escolas havia avaliações
periódicas e ao final de cada ano letivo. Os certificados de conclusão especificavam
as notas obtidas em cada matéria e as médias gerais para acesso aos níveis
superiores e para obtenção de descontos, no caso de financiamento
governamental. As notas e as médias também eram consideradas para acesso ao
mercado de trabalho e esse costume obrigava os alunos a serem aplicados,
disciplinados e altamente competitivos.
Quase toda a população tinha um leque variado de atividades culturais
que se confundiam com as de lazer, descritas mais abaixo. A música era uma das
principais paixões dos arretianos de todas as classes sociais e apresentava
gêneros semelhantes àqueles que existiam na Terra nos idos de 1960. Porém, em
todos os países havia uma predileção por músicas de três tipos básicos: clássico,
romântico e regional. Os arretianos também apreciavam a dança em grandes
salões onde predominavam as canções românticas ao estilo das grandes
orquestras dos anos 50 a 70 do nosso século passado. As televisões apresentavam
noticias, filmes e muitos programas musicais e de variedades. O cinema era muito
ativo em variados gêneros, predominando as produções referentes a feitos bélicos
daquela época ou do passado arretiano, além de filmes religiosos. O teatro, com
peças cômicas, românticas, dramáticas, musicais ou religiosas, era bastante
elitizado e voltado para as camadas mais abastadas.
Transportes
A maioria das cidades arretianas tinha três ou mais séculos de idade e
ruas estreitas nas áreas centrais que dificultavam e até impediam o tráfego de
veículos particulares, os quais, geralmente, eram impedidos de circular nessas
áreas. Naquelas onde o tráfego era liberado, esses veículos pagavam pedágios
caros e acessíveis apenas às classes mais abastadas. Nas cidades mais novas e,
principalmente naquelas construídas segundo o padrão definido pela ONU arretiana
nos 100 anos anteriores à grande transição, havia total liberdade de circulação, com
prioridade para os veículos coletivos da eficiente rede de transportes públicos. Em
muitas cidades antigas de médio ou grande porte e em quase todas as novas, havia
uma rede de trens subterrâneos e aéreos de grande velocidade e totalmente
integrados aos demais veículos de transporte coletivo.
A maior parte dos carros particulares era de pequeno porte,
acomodavam de dois a cinco passageiros e eram movidos por motores elétricos
acionados por eficientes baterias, cuja autonomia média era superior a 100
quilômetros. Elas eram recarregadas, tanto pela energia elétrica convencional,
como por sofisticadas e eficientes células fotovoltaicas que formavam uma boa
parte da carenagem desses veículos. Muitos deles tinham três rodas e
acomodações para dois a três passageiros, substituindo as nossas motocicletas
que lá não existiam. De maneira geral, a frota de veículos particulares era
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proporcionalmente menor que a terrestre e concentrada nos países desenvolvidos
ou emergentes. Porém, todas as famílias tinham um ou mais triciclos com um a
quatro assentos e respectivos pedais, pois os arretianos não utilizavam bicicletas de
duas rodas.
Os veículos particulares e outros de maior porte, incluindo as máquinas
agrícolas, tinham motores a explosão e utilizavam diversos tipos de combustíveis
provenientes de óleos fósseis ou vegetais, além de alguns tipos de gases, incluindo
o hidrogênio, o qual era direcionado, prioritariamente, ao transporte de cargas e de
passageiros. Quanto ao transporte aéreo, contavam com uma grande frota de
aviões de diversos tamanhos, com formato tubular ou elíptico. Havia pequenos
aviões com hélices acionadas por motores a explosão e outros movidos a jato. Os
maiores utilizavam propulsores a jato e muitos atingiam velocidades superiores à do
som. Esses supersônicos guardavam alguma semelhança com o “Concord” e o
ônibus espacial americano. Como fruto das atividades espaciais que atingiram
grande desenvolvimento nos anos anteriores à grande transição, alguns países
estavam testando protótipos de aviões sem asas que se sustentavam e se
deslocavam através de um novo princípio, semelhante àquele utilizado pelas naves
arretianas da atualidade.
Para realizar viagens turísticas a pequenas localidades ou a áreas
florestais, os arretianos também utilizavam helicópteros de diversos portes
oferecidos por várias locadoras, pois a habilitação para pilotar pequenos aviões e
helicópteros era tão comum em Arret, como a habilitação de motociclista na Terra.
Como muitos motoristas também pilotavam pequenas aeronaves, havia muitas
companhias que alugavam esses aparelhos, com as mesmas facilidades que aqui
alugamos carros. Os transportes marítimos intercontinentais eram voltados para
cargas, limitando o transporte de passageiros ao turismo costeiro, realizado por
navios de vários portes. Quase todos os arretianos das classes mais abastadas
possuíam lanchas ou iates em alguma das inúmeras marinas existentes em todas
as localidades turísticas marítimas ou fluviais. Como acontecia com os carros e
aviões, nesses locais havia locadoras que ofereciam lanchas e outros
equipamentos para a prática de esportes aquáticos, os quais eram uma paixão
entre os arretianos de todas as classes sociais.
Comunicações
A rede de comunicações era suportada por satélites interligados que
cobriam todo o planeta e era operada, administrada, mantida e aprimorada pela
ONU arretiana desde os cinqüenta anos anteriores à grande transição. As tarifas
eram calculadas para cobrir os custos com uma pequena margem de lucro, pois a
exploração desses serviços era a principal fonte de recursos para manter a
estrutura operacional daquele poderoso organismo e seus inúmeros programas
sociais a nível planetário. Em cada país foi criada uma empresa estatal ou privada
para operar uma concessão que incluía a transmissão de voz, dados e imagens. No
decorrer dos vinte anos seguintes, todos os países abandonaram a telefonia fixa
que existia no planeta há quase dois séculos e implantaram um sistema móvel sem
restrições de áreas, regiões ou países.
Com isso todos os arretianos passaram a ter acesso a um serviço
telefônico abrangente, de boa qualidade e a baixo custo, pois era acessível aos
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usuários de todas as classes sociais. Os serviços eram pré-pagos através de
cartões com tarja magnética, os quais eram vendidos em todos os
estabelecimentos comerciais e podiam ser inseridos em qualquer telefone. Com
essas facilidades e o baixo custo dos serviços, quase todos os habitantes tinham
um telefone móvel desde a infância e seu número era mantido por toda a sua vida,
como uma espécie de identidade pessoal.
Mais de um terço das famílias do planeta e todas as empresas também
dispunham das mesmas facilidades para comunicação entre seus computadores
através de uma rede semelhante à nossa Internet, implantada e utilizada de
maneira crescente desde os 45 anos anteriores à grande transição. A ONU
arretiana era o provedor principal e em cada país havia um provedor secundário
que era a mesma empresa estatal ou privada que detinha a concessão de telefonia.
A ligação do computador ao provedor era realizada com a mesma tecnologia da
telefonia móvel. Apesar de resolver uma grande variedade problemas sem sair de
casa ou do local de trabalho, a Internet arretiana não era tão abrangente e aberta
como a nossa. Nela não havia “sites” de pornografia ou de assuntos banais e nem
vírus que danificavam programas de computadores.
O rádio foi implantado no planeta com a telefonia fixa e havia uma
grande quantidade de emissoras presentes em quase todas as pequenas cidades
do planeta. Como na Terra, o rádio sempre teve grande aceitação junto aos
arretianos, mesmo após o surgimento da televisão e da rede de computadores. A
televisão funcionava somente com canais por assinatura e, além daqueles com
programação variada, havia canais especializados em notícias de interesse geral,
esportes, documentários, filmes, programas religiosos e atividades governamentais.
Em cada país, a ONU arretiana fornecia concessões para funcionamento de até
três canais com o mesmo tipo de programação, segundo critérios por ela definidos.
Quase todos os arretianos tinham um ou mais aparelhos de televisão e as taxas de
assinatura eram bastante acessíveis, pois havia pacotes para atender todas as
faixas de renda, inclusive, para acesso a canais de outros países.
Além da rede de computadores, do rádio e da televisão, em cada país
havia uma quantidade maior ou menor de jornais, revistas e periódicos adquiridos
por assinatura, ou em livrarias e estabelecimentos comerciais. Somente as grandes
cidades dispunham de jornais diários e tanto eles, como as revistas e periódicos,
podiam ser acessados pela Internet arretiana. Lá não havia bancas de jornal como
aqui conhecemos e sim muitas livrarias que vendiam uma infinidade de livros sobre
os mais variados assuntos, predominando os religiosos. Todos os livros também
podiam ser adquiridos em versão eletrônica através da rede de computadores e
podiam ser lidos em computadores convencionais ou em equipamentos portáteis
que simulavam um livro, armazenavam dezenas ou centenas deles e permitiam
diversas interações com o texto.
Tecnologia
A nível geral, a tecnologia arretiana era bem superior à terrestre do final
do século vinte e somente com relação a alguns produtos eletrônicos populares
havia alguma semelhança com os seus similares terrestres de alta tecnologia e
ainda pouco acessíveis ao grande público. Na informática, produziam sofisticados
computadores de grande porte e pessoais, extremamente compactos, possantes e
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de baixo custo, pois já dominavam uma tecnologia com alto índice de
miniaturalização que, entre nós, ainda encontra-se em estágio inicial de pesquisa e
é conhecida como nanotecnologia. Ao nível de software aplicativo, havia uma
infinidade de programas educacionais e outros que controlavam, executavam ou
auxiliavam na execução das mais variadas atividades. Os programas educacionais
abrangiam todos os ramos do conhecimento e, além de excelentes recursos
gráficos, utilizavam avançados conceitos de inteligência artificial, eram bastante
amigáveis, obedeciam a comandos de voz e dispensavam, em muitos casos, o uso
de outros dispositivos de entrada de dados.
A tecnologia estava presente em outros ramos da ciência e era bastante
utilizada na medicina. Além de sofisticados aparelhos de análise e diagnóstico,
realizavam implantes de alguns órgãos mecânicos de alta eficiência, como era o
caso do coração. Também dominavam o código genético contido no DNA humano e
preparavam medicamentos e vacinas, de uso genérico ou personalizado para
combater as mais diferentes enfermidades, pois lá não havia nenhuma doença
incurável. Apesar dos arretianos não praticarem a clonagem humana, em função
das fortes pressões religiosas, eles produziam clones de vários animais e tinham
completo domínio da genética vegetal. Nesse ramo da ciência, combinavam
espécies, criavam novas variedades mais resistentes e aumentavam ou diminuíam
seus teores de vitaminas, proteínas e outros princípios ativos. Nessa mesma linha,
produziam uma grande variedade de sementes geneticamente modificadas.
Na área espacial dominavam uma tecnologia de propulsão, sustentação
e deslocamento que não utilizava foguetes e guardava alguma semelhança com
aquela utilizada pelas naves arretianas da atualidade. Essa tecnologia permitia
longas viagens e com isso, já haviam enviado missões tripuladas a dois planetas
vizinhos. Também realizavam vôos regulares às suas três luas, onde mantinham
bases de estudo e pesquisa, especialmente na maior, que dispunha de atmosfera
respirável, vida animal e vegetal. Os arretianos já haviam detectado a existência de
vida inteligente em dois planetas do seu sistema estelar e estavam se preparando
para enviar missões tripuladas quando sobreveio a grande transição.
Urbanismo e habitações
Cerca de sessenta por cento da população vivia em áreas urbanas e
poucas cidades tinham mais de 500 mil habitantes. A grande maioria abrigava uma
população inferior a 50 mil. Dentre as maiores, algumas ultrapassavam a casa dos
cinco milhões e a maioria delas tinha uma população situada entre um e três
milhões de habitantes. Todas as cidades implantadas ou ampliadas nos 100 anos
anteriores à grande transição obedeceram a um novo padrão urbano definido pela
ONU arretiana e apresentavam baixo nível de adensamento populacional. Seus
habitantes residiam em casas térreas ou assobradadas de madeira, construídas em
terrenos fartamente arborizados, com um mínimo de vinte metros de frente e
cinqüenta de fundo. Dez desses terrenos formavam uma quadra e elas eram
divididas por alamedas com muitas árvores e flores. Um conjunto variável de
quadras residenciais, comerciais e de serviços formava um bairro e estes, uma área
de expansão urbana ou uma nova cidade.
Mesmo sem os variados contrastes que observamos em nosso planeta,
Arret também apresentava vários modelos urbanos. Havia uma grande quantidade
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de cidades planejadas e construídas segundo o padrão definido pela ONU
arretiana, o qual lembrava o plano piloto de Brasília. Esse padrão era utilizado para
criar novas cidades ou para expandir as já existentes. Por outro lado havia cidades
e povoados antigos que apresentavam ruas estreitas e edificações de todos os
tipos, tamanhos e formatos. Nas áreas centrais das médias e grandes cidades
havia muitos prédios suportados por colunas metálicas e paredes que utilizavam
materiais leves e a madeira, tanto ao natural, como em placas industrializadas. Eles
eram destinados a atividades comerciais ou de serviços e apresentavam diversos
tamanhos, formatos e alturas. Em Arret não havia favelas e quase toda a população
urbana residia em casas próprias. O percentual de desabrigados e daqueles que
moravam em condições precárias era insignificante e somente sensível em algumas
regiões interioranas dos países mais pobres. Toda a população rural morava em
casas próprias ou naquelas oferecidas pelos proprietários das terras aos seus
trabalhadores.
Esportes e lazer
Em função do menor grau de desigualdades sociais entre os diversos
povos, havia um razoável leque de atividades de lazer à disposição de uma
significativa parcela da população. Essas atividades estavam relacionadas com as
práticas esportivas, a televisão, o cinema, o teatro, a música, as danças folclóricas
e de salão, além de passeios e viagens turísticas de fins-de-semana ou de férias.
Porém, como também acontece em nosso planeta, somente as classes mais
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abastadas tinham acesso a pacotes, equipamentos e tipos diferenciados de
entretenimentos. Esse seleto grupo freqüentava os melhores hotéis e centros de
lazer do planeta, além de ter acesso a espetáculos culturais e esportivos somente
ao alcance das elites. Tirando essa pequena parcela de privilegiados, a maior parte
da população tinha várias opções de lazer, tanto culturais, como esportivas. O
restante tinha um leque de opções restritas à televisão, cinemas, espetáculos
musicais populares, esportes de massa e balneários públicos.
Apesar dos arretianos daquela época terem mais opções de lazer que a
humanidade terrestre, havia um maior nível de racismo e de elitismo das estruturas
turísticas de quase todos os países. Havia uma nítida separação entre as duas
raças dominantes e as demais. Além desse problema racial, em muitos países
também havia separações entre os seguidores das principais correntes religiosas,
parecendo torcidas organizadas que não se juntavam em um mesmo local. Outro
fator que restringia as atividades de lazer era motivado pela política de férias e de
descanso semanal adotada em vários países.
De maneira geral, as opções de lazer não se afastavam muito do atual
padrão terrestre, apesar de sua maior socialização. Havia grandes e luxuosas
estruturas nos mais diversos pontos do planeta, incluindo algumas localizadas na
lua que tinha atmosfera respirável. Havia praias e balneários marítimos e fluviais em
quase todos os países, além de uma grande rede de teatros, cinemas, salões de
bailes, restaurantes, museus e locais específicos para as mais variadas práticas
esportivas. Muitos dos esportes de massa da época eram semelhantes aos nossos
e igualmente competitivos. Alguns eram muito violentos e guardavam alguma
semelhança com as nossas lutas marciais e antigos combates de gladiadores, ou
entre cavaleiros medievais. Na maioria das modalidades esportivas, os atletas e
suas torcidas apresentavam um elevado grau de fanatismo e de animosidade com
relação aos seus adversários. Apesar da grande variedade, os esportes com maior
número de adeptos eram os aquáticos, predominando a natação e o mergulho
praticado por todas as classes sociais.
Religião
Com raras exceções localizadas em poucos países, a religião era
praticada com alto grau de fanatismo e muita intransigência, tanto entre as diversas
correntes religiosas, como com relação a falhas de comportamento dos seus
membros. Os cultos e cerimônias religiosas eram realizados em edificações
próprias, geralmente grandes e luxuosas, com uma arquitetura mais ou menos
padronizada e correspondente a cada uma das cinco corrente religiosas principais e
suas vertentes mais significativas. Quase todos os dirigentes e membros das
diversas correntes tinham uma visão diferenciada da Lei Divina, de Deus, dos seus
Messias planetários e de seus vários mensageiros.
Muitos países também utilizavam textos de seus livros sagrados como lei
civil e penal, os quais definiam os diversos tipos delitos, ou de “pecados”. Muitos
deles eram considerados como transgressões graves e, além de “serem cobrados
após a morte”, também eram pagos em vida com o desprezo da sociedade e outros
inconvenientes mais graves, como a mutilação de órgãos e a pena de morte. Com
poucas exceções, os arretianos apresentavam um alto grau de animosidade e uma
grande dureza de coração com relação àqueles que não praticavam o seu credo
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religioso. Esses povos apresentavam um comportamento semelhante àquele que
envolve os judeus e os palestinos sem, contudo, envolver o nível de atentados e de
violência que esses povos praticam.
Em Arret havia cinco grandes correntes religiosas com inúmeras
ramificações e, em sua maioria, elas eram antagônicas e concorrentes entre si.
Uma delas era semelhante ao nosso Cristianismo, pois havia sido criada após a
última aparição de Ahelohim, o Messias planetário, como o nosso Jesus. Apesar de
seguir o mesmo livro sagrado, essa corrente apresentava duas vertentes básicas,
uma com poucas subdivisões e outra com uma infinidade de denominações,
semelhante aos nossos Evangélicos. Nos cinqüenta anos anteriores à grande
transição, essa vertente apresentou um grande crescimento, tanto ao nível de
adeptos, como de denominações e de templos. Esse processo sofreu uma grande
aceleração em função do novo sistema de comunicações implantado pela ONU
arretiana, quando quase todos os habitantes passaram a contar com um ou mais
aparelhos de televisão em suas casas.
Com isso, os “evangélicos” arretianos multiplicaram suas denominações
e construíram tantas igrejas nos mais diversos recantos do planeta, sendo difícil
encontrar uma pequena cidade que não tivesse 5 a 10 delas, de denominações
diferentes e concorrentes entre si. As discussões entre seus membros eram
acirradas e, em algumas delas existia tamanho grau de fanatismo, que seus
adeptos praticavam muitas barbaridades em nome de Deus e de Ahelohim.
Algumas dessas denominações formavam grandes impérios econômicos e
possuíam igrejas em quase todos os países, além de estações de rádio, canais de
televisão, jornais, revistas e portais na Internet, dominando completamente a rede
de comunicações necessárias à expansão de suas atividades. Algumas das mais
poderosas estavam também inseridas no sistema financeiro, como acionistas
minoritários ou majoritários de bancos e outras entidades desse sistema.
O APARECIMENTO DE OLINTHO
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Mas, no fim de tudo, vai aparecer um homem franco, sincero e leal que, montado
em seu cavalo branco e com sua poderosa espada, dará uma nova dimensão e
personalidade nos destinos do Brasil, corrigindo injustiças e fazendo voltar a
confiança e a esperança no futuro do Brasil.
Será combatido e criticado por seu temperamento e atitudes, mas ele contará
com a proteção de Forças Supremas que habitam o Cosmos e o Brasil será,
verdadeiramente, o coração do mundo. Apesar de crises e ameaças internas e
externas, que irão aparecer, ele será sempre o fiel da balança pela sua fé e
esperança no destino do Brasil a ele confiado.
Não pretendemos e nem nos atrevemos a interpretar o texto dessa
profecia. Porém, para enquadrá-la e validá-la como tal, vamos tecer alguns
comentários sobre alguns personagens e situações facilmente identificáveis na
primeira metade do texto produzido em 23/12/1952 e, portanto, cerca de 20 meses
antes do primeiro acontecimento:
O líder operário que teve morte violenta, pois cometeu suicídio, ou foi
assassinado como muitos defendem, foi o presidente Getúlio Vargas, do Partido
Trabalhista Brasileiro, ocorrida em 24/08/1954.
Os momentos difíceis começaram com revoltas na Marinha e na Aeronáutica e
continuaram com os ataques da UDN liderada por Carlos Lacerda, no sentido de
invalidar as eleições, necessitando da firmeza do Marechal Lott para controlar a
rebeldia de alguns militares influentes e garantir a posse do novo presidente
eleito, o JK.
O homem da terra do Mártir Tiradentes foi Juscelino Kubitschek de Oliveira, um
mineiro conhecido como JK. Ele instituiu o plano de metas, construiu muitas
estradas e hidrelétricas, implantou a industria automobilística e edificou Brasília
em três anos e meio, a cidade jardim tal qual o Éden, diferente de todas as
outras, para onde transferiu a capital do Brasil e nela passou a faixa presidencial
para o seu sucessor.
Jânio Quadros substituiu Juscelino, causou muitas polêmicas, como a proibição
do uso de biquínis, e renunciou ao seu mandato, abrindo o caminho para a
implantação do regime militar em março de 1964, citado no texto como “o
período crítico”.
O homem de patriotismo, vindo também da terra de Tiradentes foi Tancredo
Neves. A campanha das “diretas já”, encabeçada por ele e por vários outros
líderes políticos, culminou com a sua eleição indireta e encerrou o longo ciclo de
governos militares.
Então, muita coisa nova começou a acontecer. Tancredo Neves foi eleito e não
tomou posse em razão de uma estranha doença que o acometeu nos dias
anteriores, quando gozava de perfeita saúde, deixando o país em grande
ansiedade e com medo de um retrocesso. Faleceu após algumas semanas de
sofrimento pessoal e de toda a nação, de quem recebeu um enterro digno de um
herói. O vice José Sarney assumiu e logo implantou o Plano Cruzado, uma das
iniciativas que mais mobilizou e, em seguida, mais decepcionou a população
brasileira, pois a inflação disparou e todos perderam a noção do valor do dinheiro
e dos seus bens.
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José Sarney foi substituído por um homem desconhecido e criado pelos meios
de comunicação de massa, cuja campanha de baseou no combate ao dragão da
inflação, à corrupção e aos “marajás”.
Fernando Collor também criou grandes novidades, como o seqüestro da
poupança popular, suas camisetas com mensagens dominicais, demonstrações
de juventude e esportividade, além de abrir as portas de sua intimidade
palaciana e pessoal. Ele tornou-se o primeiro presidentes a ser deposto pela
mobilização popular dos “caras pintadas” e motivou o início de um ciclo
crescente de CPI’s sobre a corrupção.
As coisas novas ou incomuns continuaram acontecendo. Novamente o vice-
presidente assumiu. Itamar Franco criou o Plano Real e escolheu um sociólogo
para implantá-lo, quando tudo estava definido e ajustado pelos ministros da
fazenda que o antecederam. Com isso, Fernando Henrique conseguiu eleger-se
presidente e, depois de negociar com o congresso a aprovação da reeleição
para cargos executivos, assumiu seu segundo mandato em meio a uma grande
crise do sistema financeiro internacional, o qual nos motivou a escrever um livro
sobre a profecia do “Homem do Cavalo Branco”, conforme está registrado em
Arret - O Diário da Viagem.
É interessante observar que a primeira metade do texto, até a frase “irão
derrubar a viga mestra da confusão”, não requer interpretação, pois não apresenta
dificuldades para identificação dos personagens, situação no tempo e
acontecimentos correlatos. Porém, a partir da frase seguinte o texto apresenta
sérias dificuldades para interpretação. Assim como o longo período do regime
militar é referenciado apenas como “o período crítico”, a frase “então muita coisa
nova vai acontecer” parece também abarcar um longo período de tempo que inclui
os parágrafos seguintes e a seguir comentados, até o aparecimento do “homem
franco, sincero e leal”.
Muitos homens, mulheres e crianças já sofreram e continuam sofrendo as
conseqüências justas e injustas dos erros provocados pelos governos anteriores
e pela própria situação internacional. A distância entre ricos e pobres vem
aumentado a cada ano e a qualidade da educação e da saúde vem piorado,
assim como, vem aumentado o número de desempregados e daqueles que
vivem abaixo da linha da pobreza.
É difícil afirmar que, após os anos de chumbo do regime militar, o regime foi
“combatido e até abalado”, principalmente, se a frase for analisada pela ótica
convencional. Porém, se analisada de uma maneira ampla e sob a ótica do
“então, muita coisa nova vai acontecer”, a frase pode ser interpretada de uma
maneira válida.
Assim como o terrorismo e as guerrilhas representam alto nível de insegurança
para a população e, conseqüentemente, para a nação, o crime organizado, o
narcotráfico, as invasões lideradas pelos movimentos dos sem-terras e sem-teto
representam situações semelhantes e até mais graves que o terrorismo e as
guerrilhas dos anos de chumbo, pois todos que vivem no campo ou nas cidades
estão sujeitos às suas ações.
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Juntamente com a criminalidade crescente e suas variadas facetas
representadas por roubos, assaltos e seqüestros associados ao narcotráfico que
provoca o desencaminhamento, a morte de tantos jovens, a insegurança e a
desestabilização de muitas famílias pode ser interpretada como um combate e
abalo do regime, pois as famílias formam a base da sociedade de um país.
Durante os longos anos do regime militar não ocorreram tantas mortes e
seqüestros como nos últimos anos de reinado do crime organizado e do
narcotráfico, cuja atuação, abrangência e poder aumenta a cada ano. Algumas
autoridades e repórteres já associaram o fato a um poder paralelo a ser
combatido como se fosse uma guerrilha urbana, inclusive, defendendo a
convocação das forças armadas, como já aconteceu em alguns estados do
nosso país.
Porém, não é difícil constatar que o Brasil está se tornando um país respeitado
pelas grandes nações e que a maioria dos homens que governaram nosso país,
ou foram o esteio da situação até o final do período ditatorial, já foram
”chamados a prestar contas a Deus”.
Apesar de que sempre estiveram em atividade, os elementos da natureza estão
começando a agir de maneira crescente, abrangente e inusitada em todos os
locais do planeta. São cada vez mais freqüentes as notícias sobre ondas de
calor em locais normalmente frios, enchentes em locais predominantemente
secos ou a situação inversa, além de ressacas, furações, maremotos, quebras
de safras agrícolas e populações famintas, “não só no Brasil, mas também no
mundo”.
Mesmo com esses indicadores de anormalidade, ainda não é prudente acreditar
que até o final do ano de 1999, o “sol, as enchentes e o frio já criaram fome e
desespero, não só no Brasil, mas também no mundo”.
Cremos que estamos atravessando esse período e, por essas e outras razões
podemos afirmar que até o advento do presidente Fernando Henrique Cardoso,
nenhum dos governantes anteriores, incluindo ele mesmo, representaram ou
eram o “Homem do Cavalo Branco”. Ainda não chegamos “no final de tudo”, ou
no fundo do poço.
Durante os quatro anos que restam ao seu governo, ou ao do seu sucessor,
essa situação poderá se consolidar e abrir caminho para o aparecimento do
homem que “dará uma nova personalidade nos destinos do Brasil, corrigindo
injustiças e fazendo voltar a confiança e a esperança no futuro do Brasil”.
Além daquilo que a profecia descreve sobre o seu personagem central,
existem poucas informações orais ou escritas sobre esse ser extraordinário.
Resumimos abaixo aquelas que conseguimos acessar ao longo dos últimos vinte e
quatro anos. Elas foram obtidas em livros canalizados, como aqueles ditados por
Ramatis, ou através de outras mensagens espirituais, além de inúmeras conversas
com dezenas de pessoas e sensitivos que tinham alguma informação a respeito.
Registraremos apenas aquelas que atenderam a um critério de concordância geral.
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Trata-se de um ser de elevada hierarquia espiritual que atua nas linhas do poder
e da justiça, especialmente, a da justiça, pois ele é um arcanjo dessa linha.
Ele não pertence à hierarquia espiritual da Terra e já dirigiu mundos com
governo planetário, como o arretiano.
Seu advento será precedido por um crescente interesse pelas questões de
justiça e punições de crimes de diversas naturezas, especialmente, os de
corrupção ativa e passiva.
Sua chegada ao governo se dará por caminhos diferentes dos padrões até então
vigentes, podendo ser através de um “golpe de estado”, ou pela eleição ou
indicação de alguém que não apresenta as condições usuais que elegeram seus
antecessores.
Ele se tornará um líder interno e externo, muito querido pelo povo brasileiro,
especialmente pelos mais humildes.
Sua missão é preparar o Brasil e o povo brasileiro para a transição planetária,
exemplificando, para os demais países da Terra um novo padrão de governo
centrado na justiça social e na fraternidade.
Apesar das dificuldades para análise e interpretação da parte final da
profecia, sua primeira parte é surpreendente e nos obriga a raciocinar a respeito
das suas possibilidades e significados ainda ocultos. Em última análise, é alentador
saber que poderemos ter um presidente “franco, sincero e leal” que “dará uma nova
dimensão e personalidade nos destinos do Brasil, corrigindo injustiças e fazendo
voltar a confiança e a esperança no futuro”. Somente por essas razões, vale à pena
acreditar que, mesmo que o Brasil e o mundo cheguem ao fundo do poço, existe a
esperança de um futuro melhor. Considerando que Olintho é o provável “Homem do
Cavalo branco” e que, assim sendo, os destinos do Brasil será colocado em suas
competentes mãos pelas “Forças Supremas que habitam o Cosmos”, é importante
conhecer uma parte do trabalho que ele realizou em Arret durante os três anos
anteriores à grande transição, durante ela e nos dez anos seguintes, onde foi o “fiel
da balança” junto a todos os povos daquele planeta.
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Ao nível de economia, o país de Olintho era um dos emergentes e tinha
um PIB e uma renda per-cápita acima da média dos seus pares. Porém, esses
indicadores estavam muito abaixo daqueles vigentes nos países mais
desenvolvidos. A esperança do povo estava bastante abalada e os níveis de
desemprego e empobrecimento das classes sociais eram altos e crescentes. A
chamada classe média havia desaparecido e os pequenos empresários, que
sempre foram os responsáveis pelos empregos de uma grande parcela da
população, estavam em situação muito difícil, tanto pelo baixo nível e instabilidade
da atividade econômica, como pelo alto nível dos impostos e taxas governamentais.
Muitos já haviam fechado suas portas nos dez anos anteriores e boa parte daqueles
que restaram estavam prestes a fazer o mesmo.
A corrupção era muito grande em todos os níveis e a impunidade dos
políticos e das classes dominantes revoltava a população que nada podia fazer, a
não ser participar de greves e manifestações de protesto pela situação em que o
país se encontrava. Apesar de praticar um regime democrático com eleições gerais
em todos os níveis executivos, legislativos e judiciários, esses poderes eram
controlados por grandes e velhas oligarquias que se alternavam e se protegiam
mutuamente. Além de manter uma polícia militar a nível municipal, o país tinha um
razoável contingente de forças armadas, apesar de contar com mais de 100 anos
de paz e sem conflitos bélicos com países vizinhos ou distantes. Além daquilo que
está registrado a respeito do modo de vida no período anterior à grande transição,
esse era o cenário básico daquele país, no período anterior ao advento de Olintho.
Tudo começou cerca de quatro anos antes daquele grande
acontecimento, em um período de grandes dificuldades que o país atravessava,
aumentadas pela atuação de um governo incompetente e corrupto que, desde o
seu início, elevou os gastos, aumentou os impostos e diminuiu os investimentos
governamentais, especialmente nas áreas de infra-estrutura, educação e saúde. Os
constantes erros a nível interno e a falta de agressividade na política externa
acarretou uma sensível diminuição das exportações e das reservas cambiais,
elevando a dívida externa, o desemprego e a inflação a um patamar muito alto.
Toda a economia estava abalada, estagnada e extremamente frágil, com alto e
crescente descrédito internacional.
O governo, que vinha demonstrado grande insensibilidade política,
econômica e social, tomou uma série de medidas impopulares e injustas para
reverter a situação, recorrendo a um novo aumento de impostos e taxas para
compensar a queda na arrecadação decorrente da diminuição da atividade
econômica, além de elevar os juros e bloquear parte significativa das contas
bancárias e aplicações de pessoas físicas e empresas. Essas medidas revoltaram a
população e desencadearam os acontecimentos que levaram Olintho ao poder,
semelhantes aqueles que culminaram com a derrubada do governo Collor.
O povo, já cansado, desesperançado e sem horizontes, iniciou algumas
manifestações de protesto por iniciativa de alguns segmentos organizados,
apoiados por donas de casa, desempregados e estudantes. Em poucas semanas
esses protestos pacíficos, representados por passeatas e concentrações, se
estenderam por todas as cidades do país e foram engrossados com greves de
vários segmentos bastante representativos e importantes, tanto das classes
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operárias, como das patronais. Essa união acabou gerando um movimento de
grandes proporções, com intensa, crescente e organizada participação popular.
Logo que surgiram as primeiras greves, começaram as negociações
entre o governo e os líderes dos diversos segmentos. Em função da intransigência
governamental, os resultados não foram satisfatórios e o movimento se alastrou
com inúmeras outras greves que começaram a paralisar o país. Para tentar reverter
a situação, o governo federativo convocou os governantes estaduais e decidiram
intervir no movimento mediante o uso da força, assim que os governadores
comunicassem a decisão aos respectivos prefeitos. As forças armadas foram
acionadas para intervir, prender os responsáveis e terminar com o movimento, em
conjunto com as polícias militares presentes em todos os municípios.
Porém, ao invés de cumprirem as determinações, os comandantes e
seus subordinados, todos com pais, irmãos, filhos, parentes e amigos engajados no
movimento, acabaram se juntando ao povo e fizeram uma revolução sem
derramamento de sangue. Em poucos dias derrubaram os três níveis de governo,
exceto os de algumas pequenas e médias cidades que não se opuseram aos
reclamos populares. Também suspenderam os direitos políticos, fecharem todas as
câmaras legislativas e as cortes de justiça superiores, incluindo várias cortes
básicas das médias e grandes cidades que se opuseram ao movimento popular.
Como o país estava sob lei marcial, prenderam todos os governantes e uma grande
quantidade de membros do legislativo e do judiciário, sabidamente corruptos pela
população que se irmanou com as forças militares.
Nos dias seguintes àquele “golpe militar popular” foram criadas juntas
provisórias para gerir temporariamente os três níveis de governo, formadas por
membros das forças armadas e pessoas notáveis da sociedade civil. Havia igual
número de civis e de militares com patentes ou experiências profissionais
compatíveis com cada esfera de governo. Essas juntas foram formadas por 7 a 14
membros a nível municipal, 14 a 21 no estadual e 28 no governo federativo. Todas
tinham um coordenador eleito pelos respectivos membros e a maioria das decisões
foi tomada por maioria simples. As juntas foram criadas para governar durante um
período de três meses, considerado como suficiente para tomar diversas medidas
saneadoras, sentir os anseios da população, definir os próximos passos e marcar
uma nova eleição geral.
Todas as ações empreendidas durante esses três meses foram
realizadas com total transparência, com amplos e constantes comunicados à
população e embasadas em levantamentos de opinião, pois o principal objetivo era
anular atos de corrupção e permitir o rápido restabelecimento e desenvolvimento
das atividades industriais, comerciais e de serviços. Durante esse período
prenderam todas as pessoas notoriamente conhecidas por seus atos ilícitos ou
sobre as quais as forças armadas e as polícias militares tinham informações
seguras sobre atos de corrupção. Todos foram recolhidos em quartéis, navios
militares ou prisões especiais e foram julgados e condenados sumariamente por
tribunais mistos, compostos por juízes militares e civis.
Como as máquinas estatais dos três níveis de governo estavam
inchadas, inoperantes e com muitos funcionários com altos salários, fizeram cortes
drásticos que reduziram significativamente a folha de pagamento e várias outras
despesas. Isso permitiu diminuir as alíquotas de vários impostos e taxas, além de
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eliminar alguns tributos polêmicos criados pelo governo deposto e pelos anteriores.
Como havia muitos problemas que demandavam estudos mais profundos e
demorados, foram criados diversos grupos de trabalhos para propor soluções nos
meses seguintes. No final desses três meses foram tomadas as principais ações
saneadoras e as pesquisas de opinião indicavam que a população estava satisfeita
com os resultados alcançados e com muita esperança em relação às conclusões
dos estudos em andamento. Com base nessas expectativas, o processo foi
ampliado por mais seis meses e todas as juntas provisórias foram reestruturadas e
denominadas como juntas de transição.
Seus componentes foram ampliados e a junta federativa passou a contar
com 49 membros. As juntas estaduais com 21 a 35, conforme o porte e nível de
atividades econômicas de cada estado. As grandes cidades passaram a ser
governadas por 21 membros, as médias por 14 e as pequenas por 7. O poder
legislativo continuou suspenso e o judiciário voltou à normalidade, com uma nova
composição em todos os níveis. Também ficou acertado que, no final dos seis
meses, a população seria consultada sobre a manutenção daquela forma de
governo com os ajustes que seriam propostos nos meses seguintes, incluindo o
restabelecimento do pode legislativo.
Nos primeiros dias de atuação das novas juntas de transição, foram
libertados todos os presos não acusados por crimes de corrupção, estelionato,
morte, assalto e outros de natureza semelhante, pois aquele país era um dos
poucos que não aplicava penas de morte ou de mutilação física. Fizeram o mesmo
como todos que tinham cumprido dois terços de suas penas originais, sob
promessa de regeneração e integração à sociedade. As ações saneadoras foram
intensificadas e nos meses seguintes julgaram e prenderam uma grande
quantidade de políticos, policiais, membros das forças armadas, religiosos e
pessoas comuns que foram acusadas de corrupção, enriquecimento ilícito e outros
crimes. Os que estavam sob suspeita foram impedidos de deixar o país até o
término das investigações. Além das informações e provas coletadas pelas
autoridades, a população foi convocada para fazer denuncias fundamentadas sobre
crimes e atividades ilícitas de qualquer cidadão.
Elas foram coletadas através da Internet e de urnas colocadas em
estabelecimentos comerciais, permitindo que toda a população participasse. Com
base no número de denuncias imputadas a cada suspeito, as autoridades foram
investigando, obtendo provas materiais e prendendo essas pessoas. Os dossiês
gerados embasavam o indiciamento e a acusação dos suspeitos em julgamentos
sumários, nos mesmos moldes praticados pelas juntas provisórias. O principal
objetivo desses julgamentos era punir exemplarmente os casos de corrupção e de
enriquecimento ilícito. Com isso, durante os quatro primeiros meses de atuação das
juntas de transição, todos os acusados foram julgados, punidos e tiveram seus bens
ilícitos revertidos aos cofres públicos. Quando não havia provas suficientes o réu
era inocentado ou tinha seu julgamento adiado para coleta de novas provas,
quando poderia ser inocentado se a dúvida persistisse.
Além do intenso trabalho de combate à corrupção, os serviços supérfluos
foram suspensos em todos os níveis de governo e as diversas equipes de trabalho
se concentraram em cortar gastos, racionalizar e agilizar as máquinas
administrativas, o que acarretou uma substancial redução do funcionalismo público.
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Todos que não desempenhavam suas funções a contento foram dispensados,
assim como aqueles que executavam atividades eliminadas ou simplificadas, pois
naquele país, como em todos os demais, não havia estabilidade para funcionários
públicos. As leis trabalhistas seguiam um padrão da ONU arretiana e eram válidas
para todos os tipos de funcionários e não previa tantos direitos como a sua similar
brasileira.
As reduções de impostos e taxas realizadas nos três primeiros meses,
somadas à racionalização das estruturas e serviços governamentais, à grande
quantidade de bens ilícitos revertidos aos cofres públicos e à moralização que
passou a vigorar naquele país, permitiram novas e substanciais reduções nas
alíquotas de todos os tributos e seu agrupamento em um leque bastante reduzido
que abrangeu os três níveis de governo. Com isso e com a simplificação da
burocracia, todos passaram a pagar um valor justo que, ao mesmo tempo em que
permitiu a expansão da economia e a geração de novos postos de trabalho no setor
privado, possibilitou ao governo dos três níveis reativar e implantar novos projetos
em todas as suas áreas de atuação.
As primeiras ações
Olintho deu continuidade aos projetos desencadeados pela junta de
transição e três deles tinham alta prioridade e mereceram especial atenção durante
o seu primeiro ano de governo, pois completavam ações iniciadas anteriormente. O
primeiro foi o projeto de racionalização da estrutura do governo federativo e dos
demais, objetivando a redução da máquina estatal e de seus custos até a base da
pirâmide e, principalmente, a sua agilidade e objetividade. Esse projeto envolveu
um grande conjunto de simplificações legislativas e gerou muitos benefícios para as
empresas e para a população. O segundo criou uma série de incentivos e canalizou
um grande volume de recursos para o desenvolvimento das atividades produtivas,
geração de empregos e expansão das exportações, privilegiando o setor agrícola.
O terceiro englobava uma série de ações de curto e médio prazo, voltadas para a
melhoria da qualidade de vida da população, especialmente da mais carente.
Esse projeto, além das ações próprias dos três níveis de governo, contou
com a parceria e a colaboração de empresários, entidades religiosas, filantrópicas e
de uma parcela significativa da população de melhor poder aquisitivo, quando foram
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reformados e ampliados inúmeros centros de lazer urbanos, como parques e
equipamentos voltados para atividades esportivas e culturais. Para ser concluído
em um tempo maior, Olintho começou a reestruturar os sistemas de assistência
médica, de previdência social, de educação e habitação, privilegiando as pequenas
cidades e a zona rural, além de iniciar um novo projeto de reforma agrária baseado
em agrovilas. No início do segundo semestre do seu governo ocorreram as eleições
para as câmaras legislativas que passaram a funcionar em novos moldes, sem
espírito de corpo, negociações para obter governabilidade e outros aspectos que
prejudicavam a máquina governamental e a sociedade como um todo.
Quando essas câmaras começaram a funcionar, definiram um projeto de
reestruturação do poder judiciário e de simplificação e consolidação de toda a
legislação então existente. O objetivo era permitir que qualquer caso fosse julgado
com a rapidez alcançada durante os primeiros meses de funcionamento das juntas
provisórias, para que a demora e a impunidade deixasse de ser a principal causa da
criminalidade e da corrupção. Vale ressaltar que as questões de justiça eram a
principal marca da personalidade de Olintho e que elas lhe custaram críticas
internas e externas durante o seu primeiro ano de governo.
Isso aconteceu em decorrência da maneira rápida e sumária com que as
cortes judiciais vinham agindo desde o advento das juntas provisórias e também
pela extinção das câmaras legislativas estaduais e federais. Apesar de não existir
torturas ou desrespeito aos diretos humanos, vários países e diversos organismos
internacionais acabaram criticando e associando o governo de Olintho a um regime
totalitário, pois seu governo ainda mantinha uma infinidade de pessoas corruptas
que eram qualificadas por esses organismos como “presos políticos”. Ele também
sofreu a desaprovação de uma pequena e influente parcela da população interna
que se sentiu prejudicada pelas diversas ações iniciadas pelas juntas e continuadas
em seu governo, especialmente aquelas voltadas para a melhoria das condições de
vida da população mais pobre e diminuição das desigualdades sociais.
No final do primeiro ano, quando todos os grandes e pequenos corruptos
estavam julgados, condenados e seus bens ilícitos bloqueados ou revertidos aos
cofres públicos, uma nova legislação permitiu que qualquer preso fosse transferido
para outro país que o aceitasse para lá viver em liberdade. Esses condenados
podiam vender ou levar seus bens de direito e permaneceriam fora do país até o
final do cumprimento de suas penas originais. Essa legislação calou as críticas
internas e, principalmente, as externas, pois muitos países que criticavam o
governo de Olintho foram os primeiros a recusar os vistos de entrada para esses
delinqüentes, justificando a decisão com os mais variados pontos-de-vista. Mesmo
assim, muitos ganharam a liberdade e o mesmo aconteceu com vários condenados
por outros crimes. Com isso, muitas penitenciárias foram desativadas e as novas
admissões diminuíam a cada dia, à medida que melhorava as condições sociais, a
qualidade de vida da população e aumentava a confiança do povo no governo.
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Em seguida definiram os tipos de culturas, piscicultura, agroindústrias e
outras atividades que seriam desenvolvidas em cada agrovila, bem como, o
tamanho das glebas individuais ou coletivas, as necessidades de assistência
técnica e de suporte governamental para garantir a sustentabilidade, a rentabilidade
e a continuidade operacional de cada uma delas. Para isso, levaram em
consideração diversos fatores, como o tipo de terra propícia para cada atividade
agrícola, os recursos hídricos necessários para irrigação, a topografia e o clima
predominante. Considerando todas essas particularidades, o tamanho das glebas
individuais necessárias para garantir a sustentabilidade de cada família variava
entre 4 e 16 hectares, conforme o tipo de agrovila e seu modelo operacional.
Em paralelo a esses estudos, fizeram um completo levantamento das
áreas propícias pertencentes aos três níveis de governo. Esse levantamento foi
realizado rapidamente em razão de já possuírem informações geo-referenciadas
sobre as áreas de propriedade pública ou privada, as quais eram constantemente
atualizadas por diversos procedimentos, incluindo mapeamentos realizados por
satélites. Esses dados eram utilizados para cobrança de impostos, avaliação de
queimadas, desmatamentos, ocupação das áreas e outras finalidades. Logo que os
levantamentos foram concluídos, todas as terras pertencentes aos estados e aos
municípios foram transferidas para o governo federal e colocadas à disposição do
programa de assentamentos.
Também em paralelo, definiram os modelos dos diversos tipos de
núcleos habitacionais e de serviços comunitários para comportar de 50 a 200
famílias e os critérios para inscrição e seleção dos interessados. Enquanto as
inscrições eram realizadas, processadas e os interessados informados,
selecionados e treinados para viver e produzir em cada tipo de agrovila que
escolheram, foram definidas e demarcadas milhares delas de diversos tamanhos,
voltadas para os mais diferentes tipos de atividades, como fruticultura, horticultura,
piscicultura e extrativismo, todas associadas a agroindústrias voltadas para o
processamento local da produção e agregação de valor ao processo produtivo. O
esquema de demarcação das agrovilas foi planejado para ser concluído antes do
final da fase de treinamento dos interessados, de maneira a permitir que cada
família escolhesse também o local específico do tipo de agrovila, com base em uma
planta detalhada de cada uma delas.
Assim que as famílias concluíram a fase de treinamento e cada agrovila
escolhida atingiu seu limite populacional mínimo, seus futuros moradores foram
imediatamente transferidos para elas e lá encontraram o local preparado para armar
as barracas, bem como, a serraria e a marcenaria em condições de operação e
uma grande quantidade de toras secas e em processo de secagem. Assim que se
instalaram e receberam a complementação do treinamento inicial, começaram o
processo de corte das toras, preparação das madeiras e construção das
residências. Quando elas foram concluídas e ocupadas, todos iniciaram duas
frentes de trabalho, em dias ou períodos alternados, conforme o que foi decidido
pelo conselho representativo dos moradores de cada agrovila. Uma delas foi
dedicada às construções de uso coletivo e a outra aos trabalhos nas glebas
individuais ou coletivas, para torná-las produtivas no menor tempo possível.
Como já registramos, as casas e as glebas não foram doadas aos
assentados. Todos estavam sujeitos a uma taxa que variava entre dez e vinte por
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cento da renda bruta de cada família, conforme o tipo de agrovila. Esse valor, além
de cobrir a manutenção dos serviços, a assistência técnica e a utilização dos
equipamentos comunitários, tinha uma parte correspondente ao aluguel da casa e
da gleba por um período de três anos. Aquela referente à gleba foi calculada
criteriosamente e levava em conta a qualidade planimétrica, acesso, fertilidade do
solo, disponibilidade de água e outros fatores normalmente associados ao valor
justo de qualquer propriedade agrícola.
Após o período de três anos de trabalho efetivo na agrovila e criação das
condições de sustentabilidade familiar, os moradores tinham opção de compra, ou a
possibilidade de transferência para outra agrovila do mesmo ou de outro tipo de
atividade. Também podiam pedir a transferência para outra agrovila, ou desistir a
qualquer tempo e por qualquer motivo, assim como estavam sujeitos a serem
excluídos do programa de assentamentos se não cumprissem as metas
estabelecidas para a agrovila onde residiam, ou viessem a criar problemas para os
demais assentados, ou deixassem de cumprir com suas obrigações financeiras sem
motivo justo. Em caso de compra, o pagamento era parcelado em vários anos, de
maneira a não comprometer mais que vinte por cento da renda familiar, sendo que
o maior nível de produção barateava o valor das parcelas. A venda da moradia e da
gleba a terceiros só era permitida no final dos pagamentos, quando o assentado
recebia o título de propriedade.
O programa de assentamentos extrapolou todos os objetivos iniciais,
pois assentou todos os sem-terras originários da zona rural, extinguiu o fluxo
migratório para os centros urbanos e desconcentrou todas as cidades,
especialmente as grandes, pois uns vinte por cento da população urbana se
transferiu para as agrovilas antes do início da grande transição. Apesar da grande
procura, houve terras para todos os interessados em função de algumas iniciativas
tomadas pelo governo com a antecedência necessária. No país de Olintho, as
áreas improdutivas eram taxadas com alíquotas que aumentavam conforme fossem
maiores os tamanhos das glebas. As áreas produtivas também eram taxadas de
maneira significativa e esses tributos geravam problemas e reclamações de todos
proprietários de terras. Além disso, muitos deles tinham recorrido a financiamentos
no passado e suas dívidas, em alguns casos, eram superiores ao valor de suas
terras.
Logo que as primeiras agrovilas foram implantadas com grande sucesso
e seus moradores começaram a obter bons resultados produtivos, a quantidade de
inscrições dos sem-terras urbanos aumentou consideravelmente e superou todas
as expectativas iniciais mais otimistas. Com isso, o governo certificou-se que as
terras disponíveis não seriam suficientes para atender todos os interessados.
Olintho, que era muito perspicaz e um administrador brilhante que adorava
desafios, logo encontrou uma solução simples e prática para solucionar o problema,
como era o seu estilo de resolver tudo pelo caminho de menor resistência. Ele
convocou algumas reuniões com os órgãos representativos dos proprietários de
terras e com os maiores latifundiários do país, dentre os quais se encontravam
também os maiores devedores de financiamentos agrícolas.
Nessas reuniões foram expostas as linhas gerais da proposta de
utilização de terras particulares para continuidade do programa de assentamentos,
conforme características gerais abaixo resumidas.
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Os devedores teriam seus financiamentos recalculados para apuração do saldo
referente ao montante do empréstimo original, cujo valor seria convertido em
quantidades de uma cesta de bens, produtos e insumos agrícolas vigentes na
época da contratação de cada empréstimo e transformadas em um valor atual da
mesma cesta.
O novo valor seria refinanciado com taxas menores, em parcelas e prazos
condizentes com a capacidade real de desembolso de cada devedor, de maneira
a não comprometer o seu processo produtivo e inviabilizar o pagamento da
dívida.
Caso ocorresse uma retração econômica do setor correspondente a cada um, a
dívida poderia ser novamente refinanciada em prazos maiores e em parcelas
menores.
Os devedores podiam optar por quitar a dívida com uma parte de suas terras
improdutivas, a preços de mercado.
No caso dos proprietários que não tinham dívidas, ou quando elas eram
inferiores ao valor das terras que viessem a transferir para o programa de
assentamentos, o governo pagaria o seu valor de mercado em parcelas
trimestrais, acrescidas das mesmas taxas utilizadas no refinanciamento das
dívidas.
Para todos que transferissem glebas para o programa de assentamentos, seriam
concedidas reduções crescentes nos tributos sobre as áreas remanescentes,
conforme a quantidade transferida. O governo concederia isenção total se ela
representasse 75 por cento da área original.
Os valores das taxas incidentes sobre as áreas remanescentes também seriam
convertidos em quantidades da mesma cesta de bens, produtos e insumos
agrícolas utilizada no refinanciamento das dívidas e, na medida que a produção
aumentasse e o valor da cesta fosse reduzido, as dívidas e os impostos seriam
igualmente reduzidos.
Adicionalmente, todos os proprietários também se beneficiariam com escolas,
postos médicos, assistência técnica e outros benefícios concedidos aos
assentados.
A proposta teve grandes repercussões positivas, tanto entre os
proprietários de terras, como entre os inscritos e aqueles que pretendiam se
inscrever no programa de assentamento. Nos meses seguintes foram definidos
todos os detalhes daquela grande operação, renegociadas todas as dívidas e
cadastradas todas as áreas vendidas ou transferidas ao governo em troca de
dívidas. A resposta dos proprietários também ultrapassou as expectativas mais
otimistas, pois a quase totalidade dos devedores preferiu quitar suas dívidas e
muitos proprietários não endividados colocou parte de suas áreas originais à
disposição do programa de assentamentos.
Somente aquelas transferidas em troca de dívidas foram suficientes para
atender, com grandes sobras, todos os inscritos até aquela data. Juntamente com
as áreas adquiridas de proprietários não endividados, criaram reservas suficientes
39
para triplicar a quantidade de inscrições. Nos seis meses seguintes, o governo
assentou uma grande quantidade de famílias oriundas de centros urbanos que suas
populações diminuíram visivelmente. Com isso foram liberadas inúmeras casas que
logo foram compradas ou alugadas por pessoas que moravam em áreas mais
adensadas e esse fato evitou muitas mortes e ferimentos quando ocorreu a grande
transição.
Outro fato importante foi o novo tipo de relacionamento criado entre os
antigos proprietários de terras e os sem-terras, pois nasceu entre eles uma nova e
grande camaradagem. Os assentados passaram a ver essas pessoas como amigos
e benfeitores, tanto pelo bom relacionamento que cultivaram, como pelo fato da
maioria deles terem disponibilizado as terras que permitiram a implantação dos
assentamentos. Do outro lado, os proprietários viam os assentados como pessoas
ordeiras e interessadas nas suas novas atividades e também como as responsáveis
por tê-los livrado de suas dívidas. Além disso, também se beneficiaram com a
assistência técnica, escolas, postos de saúde, clubes sociais e várias outras coisas
implantadas nas agrovilas próximas. Enfim, as duas partes juntaram o útil com o
agradável.
Enquanto os grandes proprietários continuaram se dedicando à
produção extensiva de grãos, as agrovilas começaram a produzir peixes, hortaliças,
legumes, frutas, mel e seus derivados, artesanatos e vários outros produtos. Muitas
que estavam localizadas em áreas florestais também produziam móveis e madeiras
serradas para consumo nos centros urbanos e para exportação. Com isso, deixou-
se de exportar toras brutas e iniciou-se um projeto de manejo sustentável das
florestas, onde também coletavam folhas, ervas e raízes medicinais, além de
resinas, essências e frutos silvestres de grande aceitação no mercado interno e
externo.
Todas essas atividades estavam em pleno andamento antes do final do
segundo ano do governo de Olintho e seu país se transformou no maior produtor e
exportador de alimentos, remédios naturais, peixes de água doce, madeiras
serradas e móveis do planeta. Além disso, quase todos os assentamentos tinham
uma parte de sua renda proveniente da exploração do turismo, pois o interesse
pelas agrovilas contagiou a população urbana daquele país e extrapolou suas
fronteiras, levando outros governos a implantar um projeto semelhante. O sucesso
do programa de reforma agrária e o excelente nível de qualidade de vida alcançado
pelos assentados motivaram outros moradores dos centros a se fixarem no campo,
seguindo os passos de seus antigos amigos, vizinhos ou colegas de trabalho.
Quando sobreveio a grande transição, o país de Olintho foi aquele que
menos danos sofreu em todos os sentidos, pois além de ter uma população
bastante dispersa geograficamente, tinha a melhor e mais bem aparelhada
estrutura de produção agrícola do planeta. Muitos desses assentamentos foram
posteriormente utilizados como núcleos de trabalho comunitário e seus habitantes
já estavam treinados e preparados para a nova etapa que se iniciou em todo o
planeta. Foi por essas razões que relatamos esse projeto com mais detalhes que os
seguintes.
40
Outras das principais realizações
Nos três anos de seu governo Olintho atacou e resolveu, no todo ou em
parte, vários outros problemas que afligiam a população. A mesma situação que
ocorria com os agricultores que contraíram empréstimos também afetava aqueles
que adquiriram imóveis financiados. Além do alto valor das prestações e da queda
do poder aquisitivo dos salários, o saldo devedor era, em muitos casos, superior ao
valor de mercado dos imóveis. Muitos daqueles que se transferiram para as
agrovilas no início do programa de assentamentos, preferiram alugar seus imóveis
por um valor menor que as prestações do financiamento, pois teriam que pagar
para vender o imóvel ou doá-lo a alguém que assumisse a dívida. Olintho resolveu
o problema de maneira semelhante àquela aplicada aos proprietários de terras e
estendeu idênticos benefícios a todos aqueles que financiaram a aquisição de bens
duráveis utilizados como ferramentas de trabalho, como máquinas, veículos e
outros equipamentos.
Na educação foi realizada uma completa reforma do ensino público,
precedida por uma reestruturação do plano de cargos e salários do magistério,
restabelecendo a auto-estima dos professores que, juntamente com o ensino
público, foram relegados a um plano secundário pelos governos anteriores. O
ensino pré-escolar ficou a cargo dos municípios, o de primeiro grau com os estados
e os de segundo e terceiro graus com o governo federal. Esse esquema começou a
vigorar a partir do segundo ano do governo de Olintho e provocou o fechamento de
muitas escolas particulares, pois a população, mesmo das classes mais abastadas,
começou a matricular seus filhos na rede pública em razão da confiança no
governo, da qualidade do programa e dos novos conceitos de ensino.
A pré-escola foi dividida em três níveis de faixas etárias, compreendidas
entre um e seis anos, onde as crianças permaneciam na escola em período
integral. No primeiro nível as prioridades eram o lazer, a alimentação, a saúde, o
desenvolvimento motor e o relacionamento social. O segundo nível mantinha as
prioridades anteriores e introduzia a alfabetização, os conceitos religiosos
ecumênicos e a detecção de tendências vocacionais. O terceiro nível aprofundava
os conceitos anteriores, introduzia noções de cidadania, concluía a alfabetização e
definia as tendências vocacionais básicas, permitindo um melhor direcionamento
dos estudos seguintes. O modelo pedagógico empregado nesses três níveis podia
ser resumido em “aprender brincando”, com grande ênfase no trabalho em grupo e
no relacionamento social, além de respeitar a autenticidade, a espontaneidade e o
modo de ser das crianças de cada faixa etária, as quais adoravam freqüentar essas
escolas.
A etapa seguinte, correspondente ao primeiro grau, foi dividida em dois
períodos de quatro anos. Um era voltado para crianças de sete a dez anos e outro
para adolescentes de onze a quatorze anos. O primeiro período foi implantado no
início do terceiro ano do governo de Olintho, também em período integral. Ele foi
dividido em cursos voltados para atender alunos com tendências vocacionais
focadas nas áreas de ciências exatas, humanas, biomédicas, sociais e artes em
geral. Todos os cursos tinham um currículo padrão que incluía matérias como a
matemática básica, conhecimentos de geografia e história, língua pátria, uma língua
genérica como o esperanto, relações sociais, cidadania e conceitos legais,
41
religiosidade ecumênica, ética e moral. Além delas, cada curso tinha outras
matérias peculiares ao tipo de tendência vocacional a que se destinavam. As
avaliações do aprendizado eram feitas durante as aulas e se os alunos fossem
aplicados, ficavam dispensados das provas escritas periódicas e de final de ano
letivo. As matérias peculiares de cada curso também tinham avaliações voltadas
para confirmar ou reorientar as tendências vocacionais.
O segundo período de quatro anos não chegou a ser implantado em
decorrência da grande transição. Ele seguia padrões semelhantes ao do período
anterior e era composto por vários cursos em cada área vocacional, de maneira a
permitir uma avaliação criteriosa das tendências de cada aluno. Tomando como
exemplo a área de ciências exatas, ela foi dividida em áreas como a engenharia e
esta, em cada um de seus cursos básicos, como civil, eletrônica, agronômica,
química e mecânica. Nos dois últimos anos, depois de optar pelo tipo específico de
carreira, o aluno teria uma grande concentração de matérias a respeito do curso
escolhido, permitindo definir com precisão a continuidade dos seus estudos no
segundo e no terceiro grau. O objetivo da reforma do ensino era formar cidadãos
responsáveis e socialmente adaptados para trabalhar nas áreas em que
demonstravam maior interesse, aptidão e prazer pessoal. Com isso, a sociedade
contaria com pessoas melhores, mais produtivas e felizes, pois trabalhariam naquilo
que mais gostavam.
A área de saúde passou por uma completa remodelação, em
continuidade aos trabalhos iniciados pela primeira junta de governo. No início do
seu governo, Olintho tomou uma série de providências para recuperar todos os
equipamentos inoperantes dos hospitais e postos de saúde, além de reforçar sua
estrutura funcional e disponibilizar materiais e medicamentos necessários para
aumentar e melhorar a qualidade do atendimento. Muitos hospitais e prontos
socorros foram ampliados, reformados e reaparelhados, enquanto outros foram
construídos em regiões carentes. Como já estava previsto no projeto das agrovilas,
todas contavam com postos de saúde bem equipados e em condições de resolver
os principais problemas de seus moradores.
Os convênios médicos foram reestruturados e muitos deles deixaram de
existir, pois a saúde passou a ser encarada como um direito de cada cidadão e não
como um negócio lucrativo. Todos os médicos e outros profissionais da área de
saúde governamental passaram a dedicar três a quatro horas diárias para visitas e
atendimento em escolas e nas residências, auxiliados por estudantes dos últimos
anos dos cursos de enfermagem e de medicina. Essa iniciativa detectou e corrigiu,
em conjunto com os hospitais, um grande número de problemas. No decorrer do
terceiro ano do governo de Olintho, o nível de saúde da população melhorou
bastante, não só em decorrência do novo modelo de saúde, mas também em
função da melhoria da qualidade de vida e da alimentação da população. O nível de
renda também aumentou significativamente, ao mesmo tempo em que as grandes
safras agrícolas e o desenvolvimento da produção industrial baratearam os custos
da cesta básica e de muitos outros produtos.
O grande conjunto de ações colocadas em prática pelo governo de
Olintho desde os seus primeiros dias apresentava quatro características
predominantes: eram simples, econômicas, rápidas e eficientes, destoando, de
maneira positiva, de tudo que acontecia anteriormente. Além de ser um estrategista
42
e administrador brilhante, Olintho era um incansável trabalhador que não temia
desafios, além de ser intolerante com qualquer tipo de injustiça. Por outro lado, era
extremamente paternal e generoso com relação a todas as questões voltadas para
a melhoria da qualidade de vida e felicidade do seu povo, especialmente dos mais
humildes. Se, no seu primeiro ano de governo prevaleceu o seu lado justiceiro e
intransigente, o segundo evidenciou o grande estadista que era. Quando seus
projetos desenvolvimentistas e sociais começaram a apresentar bons resultados e
as agrovilas se multiplicaram e superam as expectativas iniciais, todos os seus
detratores internos e externos se calaram, pois suas iniciativas chamaram a
atenção da imprensa internacional e começaram a ser sistematicamente
divulgadas, com grande destaque positivo.
Olintho, que já era admirado pelo seu povo, começou a ser também
respeitado externamente, tanto pelos governantes, como pelas populações de
vários países de todos os níveis de desenvolvimento e formas de governo. Com
isso, aumentaram os convites para visitas oficiais a essas nações e muitos
governantes visitaram o seu país e começaram a imitar seus métodos e a seguir o
seu exemplo de retidão, justiça e dignidade. Até os dias que antecederam a grande
transição, ele transformou, para melhor, todos os aspectos produtivos e sociais do
seu país. O povo ficou muito mais fraterno, mais tolerante, menos egoísta e,
principalmente, mais respeitador da lei e da ordem.
A população, especialmente a rural, se aproximou bastante do conceito
da irmandade universal e da paternidade divina, um tema que Olintho nunca
deixava de citar em muitos dos seus discursos. Como se já tivesse conhecimento
da iminência da grande transição, nos seis meses anteriores à sua ocorrência e de
maneira crescente, ele sempre reservava um espaço em seus pronunciamentos
para transmitir orientações gerais à população e a esperança em um futuro ainda
melhor. Apesar de não fazer nenhuma associação direta com aquele grande
acontecimento, suas orientações facilitaram bastante os trabalhos realizados
durante e após aqueles dias que modificaram o planeta, como relataremos a seguir.
43
filhas que passaram naquele exame de seleção que também é esperado para
ocorrer em nosso planeta em um futuro próximo.
Esse exame é um pré-requisito para que os planetas de nível primário
sejam elevados a um patamar superior, onde o sofrimento desaparece para dar
lugar à fraternidade, à irmandade e à felicidade. Como qualquer exame, a transição
planetária é incômoda e causa sofrimentos maiores ou menores a todos os
habitantes do planeta. O grau de intensidade transformadora, ou de limpeza da
estrutura planetária cristalizada e arcaica, é inversamente proporcional ao grau de
conscientização dos seus habitantes com relação aos postulados da paternidade
divina e da irmandade de todos os seres, ou em outras palavras, com relação ao
“ama o próximo como a si mesmo”, ou ao “não faças aos outros o que não queres
que façam para ti”. Quanto maior o nível de consciência da humanidade do planeta
a esse respeito, menos dolorida será a transformação.
A evolução, ou o progresso, é um caminho natural em todos os reinos da
natureza e áreas do conhecimento humano. Apesar de obrigatória, pode ser
conquistada pelo amor ou pela dor. Infelizmente, a maioria dos habitantes dos
planetas em situação semelhante a Arret da época e à Terra da atualidade,
preferem o caminho da dor. Talvez seja por essa razão que esse tipo de
acontecimento está exaustivamente alertado e previsto nos Evangelhos do Novo
Testamento, no texto do Apocalipse, em livros sagrados de outras religiões, em
diversas profecias registradas ao longo dos séculos e em inúmeros outros textos e
artigos publicados nos últimos anos.
Conforme afirmamos acima, a transição planetária é um exame de
seleção e, como tal, deve ser encarado com o mesmo empenho, esperança,
naturalidade e também com os mesmos receios com que qualquer estudante
encara o exame vestibular que abrirá as portas da faculdade e do curso para o qual
se preparou ao longo de vários anos de estudos. Vale ressaltar que esse processo
de preparação é intensificado durante o período pré-vestibular, onde o candidato é
muito exigido para enfrentar o grande dia com maiores chances de sucesso. O que
importa e conta no final, não é o custo, o desgaste e o sacrifício exigido na
preparação para o exame vestibular. O que realmente importa e compensa
qualquer sacrifício é o fato de ser aprovado e poder iniciar uma nova etapa da sua
vida. No caso do exame planetário acontece a mesma coisa e, do ponto-de-vista
espiritual, não é importante sobreviver ou morrer, pois todos morreremos um dia. O
que realmente importa é passar no exame de seleção e adquirir o direito de receber
o prêmio pelos vários milênios de estudos, sofrimentos, lutas, desgastes e
aprendizados.
Quando o aluno enfrenta o exame vestibular com maior preparo e
conhecimento a respeito das matérias e das regras de aprovação, suas chances de
sucesso são maiores e seu sofrimento menor. Este livro foi escrito com o objetivo
de fornecer uma idéia das matérias, do tipo de exame de seleção e do possível
cenário da nova escola que aguarda os aprovados no vestibular que será realizado
em nosso planeta nos próximos anos ou décadas, no dia e na hora que é apenas
do conhecimento do Pai Celestial, para não alarmar seus filhos e filhas. É com esse
enfoque que as descrições sobre a grande transição ocorrida em Arret devem ser
encaradas. Devem ser vistas como um gabarito de um processo de seleção
anterior, o qual servirá de guia para uma profunda reflexão sobre a vida que
44
levamos e sobre os rumos que damos a ela, sobretudo, se estiver voltada apenas
para a conquista de objetivos materiais, uma matéria dispensável, pois não será
exigida para seleção da humanidade planetária.
A matéria que será exigida é muito simples de ser compreendida, pois o
Pai Celestial não exigiria uma que não estivesse ao alcance de todas as pessoas,
mesmo daquelas que nunca freqüentaram escolas, ou que vivem isoladas nos mais
diversos recantos do planeta. Essa matéria é o amor incondicional e dela será
exigido apenas um grau de conhecimento compatível com o estágio evolutivo da
humanidade que vive em um planeta de nível primário, como é o caso da Terra.
Será semelhante a uma prova de matemática voltada para avaliar apenas o
conhecimento de suas quatro operações básicas. O Pai Celestial exigirá apenas
que o coração de cada pessoa seja um terreno fértil para germinar a semente da
paternidade divina, cuja árvore produzirá os frutos da irmandade e da fraternidade
entre os povos, independente de cor, raça, credo religioso ou posição social, pois
todos são frutos da mesma árvore e reconhecidos como tal, independente de seu
tamanho, formato, composições peculiares de suas cores, ramo, altura ou local
específico da copa onde se desenvolveram.
Reiterando aquilo que registramos acima, as descrições sobre a grande
transição arretiana devem ser vistas como um guia, ou um gabarito do exame
vestibular que se avizinha e que abrirá as portas de uma nova escola e de um novo
modo de vida mais justo, fraterno e feliz. Por isso, procuramos descrevê-las com a
maior fidelidade possível que pudemos captar dos documentários assistidos em
Arret, conforme está registrado no Diário da Viagem. Muitas passagens podem
chocar os leitores e leitoras, mas não poderiam ser omitidas ou apresentadas de
maneira diferente, pois descaracterizariam aquele impressionante acontecimento,
cujo grau saneador dos quatro elementos da natureza atingiu o máximo que a
mente humana pode conceber.
Apesar das descrições sobre a grande transição enfocarem as horas da
sua ocorrência de maior intensidade, ela se iniciou de maneira suave e quase
imperceptível no decorrer dos vinte e cinco anos que a antecederam. À medida que
o tempo avançava, o processo começou a se intensificar e apresentar um crescente
aumento na quantidade, variedade, abrangência e poder destrutivo dos quatro
elementos da natureza que, gradativamente, atuaram em todos os continentes. Nos
meses anteriores, quase todos os países foram atingidos por um ou por vários
deles, de diversos graus de intensidade, os quais ceifaram a vida de milhões de
arretianos e causaram diversos graus de destruição em instalações físicas, na flora
e na fauna.
Nos anos e meses finais, todos os tipos de representações das mais
variadas correntes e tendências religiosas e filosóficas tiveram a oportunidade de se
manifestar. Todas elas cumpriram o papel de levar as palavras de seus messias,
profetas e mestres a todos os recantos do planeta. As editoras publicaram milhares
de livros contendo profecias e informações a respeito da transição planetária,
incluindo os escritos atribuídos a Ahelohim e a centenas de profetas e videntes que
passaram pelo planeta.
Ao longo desse período e em continuação a uma longa série de guerras
e revoluções, os conflitos se intensificaram em regiões onde sempre existiram e
começaram em alguns lugares onde não eram comuns. Poucos países escaparam
45
dos efeitos de algum tipo de guerra entre eles ou de uma revolução interna para
derrubar o governo, como aconteceu no país de Olintho. O conceito de família se
desestruturou nos países mais desenvolvidos, causando a diminuição dos
casamentos e o aumento das separações conjugais. Apesar de limitados a poucos
países e em nível bem inferior ao terrestre, esses fatores e outros modificaram as
relações entre pais e filhos, criando uma juventude contestadora, a exemplo do
movimento hippie de 1960.
A imprensa escrita, falada e televisionada nunca deixou de apresentar e
comentar esses acontecimentos, além de dar grande destaque àqueles causados
pela crescente ação dos elementos da natureza em todas as partes do planeta.
Mesmo assim, a comunidade científica e a maioria da população não acreditaram
na eminência daquele acontecimento. Quando os procedimentos da grande
transição foram iniciados, todos foram pegos de surpresa e sem a menor idéia do
que estava realmente acontecendo. Os diversos povos imaginavam que estavam
envolvidos em um acontecimento local, como muitos que ocorreram nos meses e
anos anteriores. Finalmente, vale ressaltar que, apesar da visão planetária daquele
grande acontecimento e de muitos dos trabalhos realizados pelos espaciais, os
relatos priorizam aquilo que aconteceu no país de Olintho e no continente onde ele
se situava.
52
sobrevivência e no interior das naves onde foram abrigados os governantes e
outras autoridades.
Critérios utilizados
A razão de dividir as três horas principais da grande transição em fases
distintas teve dois motivos básicos. O primeiro decorreu da crescente abrangência,
variedade, combinação e grau de intensidade destrutiva dos quatro elementos da
natureza. O segundo, do critério adotado pela Hierarquia Espiritual Arretiana, que
priorizou o resgate das pessoas que necessitavam de menor exposição aos
acontecimentos. Começaram por aquelas que escolheram o caminho do amor e
conquistaram níveis mais elevados de consciência espiritual ao longo de suas vidas
e, por essa razão, alguns foram resgatados antes do início dos acontecimentos,
como foi descrito anteriormente. Gradativamente foram resgatando aquelas que
60
priorizaram a conquista de objetivos materiais em suas vidas e escolheram o
caminho da dor. Essas pessoas necessitavam vivenciar os acontecimentos em
diversos graus de intensidade para que pudessem, pela dor própria e pelo amor e
carinho que receberam quando foram resgatadas, tratadas e abrigadas, despertar
para uma realidade e um modo de vida diferente daquele que praticavam.
Em função das informações que detinham sobre cada habitante, os
responsáveis pela Hierarquia Espiritual Arretiana previam o desencarne de dois
terços da população do planeta, totalizando quase sete bilhões de pessoas. Dentre
os que pereceram havia uma grande maioria de pessoas reprovadas no exame de
seleção e uma minoria de seres missionários e outros com bom nível evolutivo que
já estavam aprovados quando nasceram no planeta. Essas pessoas, pelos bons
trabalhos que realizaram nas vidas, décadas e anos anteriores, retornaram ao plano
espiritual porque foram poupadas de realizar os trabalhos de reconstrução e
normalização da vida planetária. Por outro lado, dentre os sobreviventes havia uma
grande maioria de pessoas que obtiveram as notas necessárias para aprovação e
uma parte que estavam ligeiramente abaixo da “nota mínima”. A essas pessoas foi
dada uma última oportunidade para obter a aprovação através da dor, da perda, da
renuncia e de outros aceleradores evolutivos que vivenciaram durante a grande
transição e no restante de suas vidas. Conforme o comportamento que
assumissem, poderiam ser aprovadas ou reprovadas.
Como regra geral, todos que foram resgatados após o início dos
acontecimentos necessitavam de um choque menor ou maior, conforme o nível de
conscientização ou de desenvolvimento espiritual de cada um, ou em outras
palavras, conforme a nota obtida no exame de seleção. Os mais conscientes foram
resgatados antecipadamente ou após a primeira hora do início dos acontecimentos.
Os demais, nas horas e dias seguintes. Independentes do sofrimento a que foram
submetidos, todos receberam apenas a dose mínima do remédio necessário. Como
toda regra tem exceções, entre os regatados havia pessoas de excelente nível
espiritual cujos espíritos preferiram permanecer com seus familiares, parentes ou
amigos que precisavam receber choques de diversos tipos. Esses seres
renunciaram a direitos conquistados em anos, décadas ou vidas anteriores para dar
um exemplo e com isso, ajudar outras pessoas a conquistar ou consolidar seus
diretos de ingressar na nova escola planetária. Elas assim agiram por amor aos
seus irmãos cósmicos e ao Pai celestial que, nesses casos, permitia que Seu filho
ou filha passasse por sofrimentos desnecessários.
Em função da complexidade das avaliações individuais, coube aos
responsáveis pela Hierarquia Espiritual Arretiana a análise e a definição da situação
e do destino final de cada habitante. Foram eles que tomaram as providências
necessárias para manter as pessoas vivas ou não, sem ou com ferimentos de
diversas gravidades, livres para serem resgatadas rapidamente ou presas aos
escombros em profundidades variáveis. Muitos desses resgates foram feitos nos
dias seguintes à grande transição e deram muito trabalho aos espaciais e
voluntários. Também coube à Hierarquia Espiritual Arretiana transferir para outros
planetas de expiação e de provas todas as pessoas que pereceram durante os
acontecimentos e foram reprovadas no exame de seleção. Ao comando da frota de
apoio a Arret coube efetuar os resgates conforme os critérios definidos pelos
mentores do planeta. Para isso realizaram gigantescas operações para resgatar os
61
sobreviventes, sanear o planeta e permitir a sustentabilidade, continuidade e
desenvolvimento da nova sociedade planetária, conforme será descrito a seguir.
71
A maioria das 600 milhões de pessoas resgatadas nos escombros
apresentava ferimentos de todos os tipos e gravidades e, mesmo com os recursos
da avançada medicina dos espaciais, muitos não resistiram e acabaram falecendo
nas horas e dias seguintes. Vale ressaltar que os hospitais das naves tinham
recursos para manter a vida e restaurar a integridade física de qualquer paciente,
pois podiam até substituir partes ou um corpo completo que estivesse danificado
por qualquer tipo de ferimento. Porém, esses recursos não podiam ser utilizados
naquela ocasião sem interferir com a Lei e a Justiça Divina, a causa primária de
todos os acontecimentos da grande transição. Dos quase 500 milhões que
sobreviveram, a maioria apresentou recuperação total, apesar de que muitos
sofreram perdas físicas, representadas por pernas, braços, pés ou mãos.
Antes do início da grande transição, Arret contava com 10,2 bilhões de
habitantes e, durante as três horas em que os elementos da natureza mostraram
todos os seus poderes destrutivos, ou saneadores, pereceram imediatamente,
cerca de 4,5 bilhões de pessoas. Nas horas e dias seguintes, até o final do quinto
dia, quando a operação de resgate nos escombros foi encerrada, entre os
cadáveres que foram recolhidos pelas naves cargueiras, somados àqueles que não
resistiram aos ferimentos e permaneceram soterrados sob os escombros, mais
aqueles que morreram nos hospitais das grandes naves, pereceram outros 2,3
bilhões, totalizando cerca de 6,8 bilhões de habitantes. Mesmo com todos os
esforços empreendidos por uma grande equipe de espaciais de várias procedências
estelares e voluntários arretianos auxiliados por milhões de naves de todos os tipos
e tamanhos, conseguiram resgatar e manter com vida cerca de 3,4 bilhões de
pessoas, pois esse era o número definido pelos responsáveis pela Hierarquia
Espiritual Arretiana e independia dos esforços e da vontade de trabalho dessa
grande e maravilhosa equipe. Apesar do esquema inicial prever revezamentos a
cada seis horas, todos os grupos se empenharam por mais de 12 horas seguidas,
tomando apenas sucos e dispondo de poucas horas para higiene pessoal,
alimentação e descanso.
Os resgates realizados nos escombros somente foram possíveis em
função da boa vontade de todos os envolvidos e, principalmente, pelos avançados
recursos tecnológicos que tinham à disposição. Esses recursos evitaram muitos
acidentes graves durante os desmoronamentos que afetaram todas as equipes que
trabalhavam nas áreas centrais dos grandes centros urbanos. Mesmo utilizando
flutuadores de acionamento automático, roupas especiais e equipamentos de
proteção individual, uns 200 mil voluntários e 50 mil espaciais sofreram ferimentos
de maior gravidade. Muitos deles não morreram porque, nesses casos, os médicos
espaciais podiam utilizar todos os recursos da avançada medicina que praticavam,
incluindo a substituição parcial ou total do corpo original por clones perfeitos. A fase
mais intensa e perigosa dos trabalhos ocorreu durante os três dias de escuridão
total que se seguiu aos acontecimentos. A única claridade fora dos locais
iluminados pelas naves ficou por conta dos incêndios que se alastraram pelas áreas
florestais e periferias das grandes cidades, geralmente constituídas por casas de
madeiras.
72
As atividades nos núcleos de sobrevivência
Assim que todos os sobreviventes foram acomodados nos 733.000
núcleos de sobrevivência iniciais e naqueles que foram posteriormente montados
nos pequenos agrupamentos urbanos e rurais, foi estabelecida uma rotina de total
recolhimento até a manhã do oitavo dia após a grande transição. Durante esses
dias e noites, todos ficaram confinados nos iglus, pois as condições climáticas eram
bastante adversas. Somente saíam durante o tempo necessário para abastecer os
recipientes térmicos com água quente ou fria, tomar banho ou para fazer
necessidades fisiológicas. Os poucos segundos que gastavam no trajeto
representavam um grande desconforto, pois o frio era intenso e o ar irrespirável.
Além dessas necessidades, a movimentação estava restrita ao recebimento de
parentes e amigos que se encontravam em tratamento médico nas grandes naves e
às visitas que os sobreviventes faziam entre si, incrementado bastante os
relacionamentos, a união e a fraternidade entre eles. Também conversavam muito
através do intercomunicador de voz e imagem que havia em todos os iglus.
Além da nave de apoio que permaneceu fixa em cada um dos 733.000
núcleos de sobrevivência, as três naves que chegaram posteriormente utilizaram
boa parte do dia visitando os sobreviventes abrigados nos pequenos agrupamentos
urbanos e rurais das proximidades, independente dos chamados ocasionais que
recebiam. Durante esses deslocamentos, elas realizaram um completo
levantamento das condições gerais da região sob sua responsabilidade, registrando
com alto grau de precisão, uma grande quantidade de alimentos e materiais para
recolhimento e aproveitamento posterior. Esses levantamentos foram realizados
sem o pouso das naves, pois elas possuíam sofisticados equipamentos de
rastreamento e análise da qualidade e quantidade de alimentos e materiais,
semelhantes aos analisadores de sinais vitais humanos.
Como primeira prioridade, procuraram alimentos de todos os tipos nos
escombros de silos, depósitos e supermercados. Também registraram plantações
com alimentos não danificados ou contaminados pelas condições atmosféricas
bastante adversas daqueles dias. Como segunda prioridade, procuraram utilidades
domésticas, materiais de higiene, limpeza e diversos materiais de construção, além
de uma infinidade de itens e coisas necessárias à nova realidade planetária, como
mudas, sementes, fertilizantes, árvores secas ou mortas, fiações elétricas, metais e
outras matérias primas recicláveis. À medida que levantavam esses dados eles
eram transmitidos com as respectivas coordenadas de localização, para a nave do
comando regional da operação de recolhimento de alimentos e outros materiais que
seria desencadeada na madrugada do oitavo dia.
74
A preservação da flora e da fauna
Apesar do frio rigoroso e dos grandes incêndios florestais que ocorreram
em várias regiões, não houve extinção de espécies e variedades da flora arretiana,
pois aquelas que foram bastante castigadas em algumas regiões, sobreviveram em
outras. Além disso, os espaciais recolheram uma grande quantidade de mudas e
sementes durante os dias e noites que antecederam a grande transição, as quais
foram suficientes para repovoar seus antigos ambientes. Eles deram especial
atenção às flores, não só pela sua beleza, com pela sua delicadeza e baixa
resistência aos poluentes, ao frio e ao calor. Idêntica atenção foi destinada às
árvores frutíferas cultivadas ou silvestres. Delas recolheram mudas e sementes em
maior quantidade e ainda adotaram um esquema especial para garantir a
sobrevivência de uma infinidade de espécies adultas e produtivas. Em todas as
áreas florestais e locais mais isolados, colocaram bilhares de proteções naquelas
que pretendiam preservar, constituídas por uma capa de um material flexível e
resistente ao frio e ao calor. Posteriormente, a retirada dessas proteções constituiu
uma das primeiras atividades realizadas pelos sobreviventes.
Todos os pássaros seriam exterminados pelas adversidades climáticas
se os espaciais não tivessem tomado duas providência básicas. A primeira foi
realizada durante as noites e dias anteriores à grande transição e objetivou a
captura de uma grande quantidade de aves representativas de quase todas as
espécies e variedades que viviam no planeta. Para facilitar o trabalho, utilizaram
meios de atração e raios transportadores, como aqueles empregados nos resgates
de sobreviventes. Essas aves foram colocadas em viveiros no interior das naves e
assim que as condições atmosféricas voltaram à normalidade, foram soltas nas
regiões e florestas menos afetadas e apropriadas a cada uma delas, a fim de
garantir a alimentação e a continuidade de cada espécie. A segunda foi realizada
nas proximidades dos locais destinados à implantação dos núcleos de
sobrevivência, quando capturaram uma grande quantidade de pássaros e os
colocaram em viveiros dentro de barracas apropriadas, onde foram monitoradas,
alimentadas e soltas posteriormente.
Os animais foram objeto de uma operação especial e bastante
trabalhosa que envolveu um grande número de naves e de espaciais em função de
dois aspectos básicos. Um deles dizia respeito ao porte mais ou menos avantajado
dessas espécies e o outro à necessidade de celas ou viveiros individuais para
muitas delas. Essa operação foi iniciada alguns dias antes do início dos
acontecimentos, priorizando a coleta de animais que viviam mais isolados. Todos
foram mantidos, cuidados e tratados em grandes naves adaptadas para essa
finalidade, lembrando a Arca de Noé. Eles também foram soltos a partir do sétimo
dia em seu ambiente natural. Os peixes e animais marinhos não corriam riscos de
extinção e por isso permaneceram em seus habitats naturais. Porém, preservaram,
em suas naves, várias espécies de peixes de água doce, de tanques ou represas.
Quanto aos répteis, aranhas, escorpiões e insetos de todos os tipos, não tomaram
nenhuma providência especial, pois estava prevista a extinção imediata de quase
todos eles. Alguns ainda sobreviveram por vários anos e foram extintos
gradativamente até o ano 70 depois da grande transição, quando a aura planetária
foi totalmente saneada e purificada.
75
O recolhimento de cadáveres humanos
Essa grande operação foi realizada em diversas frentes durante as horas
e dias seguintes à grande transição e envolveu uma grande quantidade de naves e
de espaciais. Seu objetivo foi o recolhimento de cadáveres humanos que estavam
boiando ou submersos nas águas dos rios ou dos mares, ou se encontravam sobre
o solo, ou sob os escombros, ou soterrados próximos da sua superfície em todos os
locais do planeta. Aqueles que estavam soterrados abaixo de dois metros não
foram recolhidos, pois não apresentavam riscos para os sobreviventes. Em todas as
médias e grandes cidades havia milhares e até milhões de cadáveres que
começariam a entrar em decomposição logo que o frio intenso fosse amenizado,
entre o quarto e o sétimo dia seguinte à grande transição. Apesar de não existirem
núcleos de sobrevivência em suas proximidades, a putrefação desses corpos
representava diversos problemas potenciais, além do aspecto tétrico de sua
decomposição.
Conforme registramos anteriormente, durante os trabalhos das equipes
de resgate nos escombros, havia naves cargueiras recolhendo os cadáveres
através de raios transportadores. No interior dessas naves, aqueles que portavam
documentos e podiam ser identificados, foram acondicionados em urnas funerárias
especiais, iguais àquelas utilizadas durante o atendimento às pequenas cidades e
agrupamentos rurais. Seus documentos foram cadastrados em um banco de dados
para consulta futura, contendo o nome, idade, sexo, cidade e setor de procedência
do corpo, além do local de destino do mesmo. Também emitiram uma etiqueta para
identificação de um pacote lacrado e fixado na urna, contendo todos os documentos
e outros pertences encontrados com o cadáver. Depois de identificadas, as urnas
foram colocadas em um compartimento próprio da nave e separadas por local de
destino. Quando não era possível a identificação, o cadáver era colocado em uma
urna flexível que não utilizava a injeção de gás embalsamante e não adquiria
rigidez. Essas urnas foram colocadas em um outro compartimento da nave, pois
cada tipo teve uma destinação ou sepultamento diferente, conforme será detalhado
mais abaixo.
Outra frente de trabalho recolheu as urnas que estavam abrigadas nas
barracas montadas nas pequenas cidades e agrupamentos rurais. Todas elas
tinham identificação e depois de cadastradas no banco de dados, se juntaram às
demais do mesmo tipo e foram igualmente separadas por local de destino. Em meio
a essas frentes, outras naves cargueiras recolheram os cadáveres que se
encontravam nas áreas rurais ou nas águas e praias dos rios e dos mares. O
recolhimento desses cadáveres em todo o planeta foi realizado em duas etapas por
naves que tinham um determinado setor ou região sob sua responsabilidade. A
primeira foi iniciada após as três horas principais de atuação dos elementos da
natureza, quando essas naves começaram a recolher todos os cadáveres que
estavam na superfície do solo ou dos escombros e podiam ser atingidos e
“puxados” pelos raios transportadores. A segunda etapa teve início após a liberação
das naves que participaram da operação de resgate nos escombros das pequenas
médias e grandes cidades. Essas naves realizaram o mesmo tipo de trabalho e com
a mesma tecnologia de desmaterialização voltada para a liberação de cadáveres
que estavam presos ou soterrados próximos à superfície do solo, a fim de permitir o
seu recolhimento pelas demais naves cargueiras.
76
Conforme elas recolhiam os cadáveres, procediam da mesma maneira
anteriormente citada quanto àqueles que tinham documentos de identificação ou
não. Assim que elas completavam sua lotação, ou os trabalhos eram encerrados
em cada setor ou região, os espaciais iniciavam a fase de destinação ou de
sepultamento dos corpos. Todas as urnas identificadas foram colocadas nas
proximidades de um centro urbano de médio ou grande porte existente na região de
origem dos corpos, em áreas correspondentes a cada cidade, setor ou local de
procedência dos mesmos. Esse trabalho foi realizado no solo e as urnas foram
abrigadas em barraca idênticas àquelas instaladas nas pequenas cidades e
agrupamentos rurais. Com isso e com as informações contidas nos bancos de
dados, os parentes e amigos puderam sepultar ou dar um destino mais adequado
aos entes queridos quando o planeta voltou à normalidade.
As urnas sem identificação foram colocadas em fendas secas já
existentes ou abertas pelos terremotos nas proximidades dos centros urbanos ou
da região de procedência dos corpos. Esses trabalhos foram realizados sem pouso,
pois as urnas foram depositadas através de raios transportadores, uma ao lado da
outra, em uma superfície previamente nivelada pelas naves cargueiras que
descarregaram os entulhos pulverizados recolhidos durante a operação de resgate
nos escombros. Em seguida, as urnas foram cobertas com uma camada de
entulhos pulverizados com dois metros de espessura, sob o qual depositaram um
novo conjunto de urnas. Esse procedimento foi repetido até quando as urnas
atingiram o nível de quatro a cinco metros abaixo da superfície do solo, quando a
fenda foi preenchida com terra fértil recolhida nas proximidades. No final dessa
operação, encheram muitas dessas fendas e, além de fornecer a melhor sepultura
possível nas condições em que o planeta se encontrava, os espaciais evitaram a
contaminação do ar, riscos de epidemias e uma visão futura bastante tétrica,
representada por uma grande quantidade de esqueletos ao ar livre.
78
encontrava. Cada carrinho era carregado com produtos pertencentes a um mesmo
grupo básico, como sabonetes, compotas de frutas, detergentes ou cremes dentais.
Quando o espacial identificava o grupo básico no teclado de controle e
liberava o carrinho com carga total ou parcial, ele se dirigia automaticamente à nave
cargueira e estacionava no setor correspondente ao seu grupo de produtos. Lá,
outros espaciais descarregavam e liberavam os carrinhos para retorno ao local de
coleta. Em seguida classificavam os produtos por tipo específico e os
acondicionavam em embalagens com quantidades padronizadas. Por último,
registravam esses dados no computador da nave através de comando de voz e
acondicionavam as embalagens em containeres específicos. Quando a carga da
nave atingia seu limite, os containeres eram descarregados em grandes depósitos
que os espaciais instalaram nos dias anteriores em ilhas e outros locais inabitados
do planeta.
Conforme cada equipe concluía o recolhimento e o transporte dos
alimentos, utilidades domésticas e materiais de higiene e limpeza que havia em
cada setor, iniciava o recolhimento dos materiais de construção, como fios, ferros,
tintas, tubulações e conexões, dentre outros, bem como, de mudas de árvores
frutíferas e ornamentais, sementes de todos os tipos, ferramentas manuais,
fertilizantes agrícolas, triciclos e veículos elétricos. Essa segunda fase obedeceu à
mesma estratégia e procedimentos utilizados na primeira, com algumas diferenças.
O recolhimento de materiais e itens de maior porte foi realizado através de
plataformas flutuantes e outros equipamentos especiais, como os raios
transportadores que transferiam os materiais mais pesados ou volumosos
diretamente para o interior das naves cargueiras.
As duas fases apresentaram expressivos resultados quantitativos e
qualitativos, superando as expectativas iniciais. A maioria dos alimentos básicos
estava em excelentes condições e suas quantidades foram suficientes para atender
os sobreviventes durante mais de três meses. No caso dos demais alimentos, como
doces, molhos e biscoitos, suas quantidades foram suficientes para suprir as
necessidades durante um tempo maior. Quanto às utilidades domésticas
representadas por panelas, pratos garfos e outros itens semelhantes, resgataram
um conjunto significativo e suficiente para atender quase todos os sobreviventes.
Os materiais de higiene e limpeza, incluindo toalhas e tecidos para cama, mesa e
banho, permitiram atender todas as necessidades iniciais. Com relação aos
diversos tipos de materiais de construção, muitos itens atenderam todas as
necessidades de instalação dos novos núcleos de trabalho.
O recolhimento dos insumos agrícolas também surpreendeu, pois
obtiveram uma grande quantidade de sementes de cereais, hortaliças, flores e
espécies florestais com excelente grau de conservação, além de uma alta
tonelagem de compostos e fertilizantes agrícolas. Como havia grandes viveiros de
mudas abrigadas em estufas nas periferias de muitas cidades, quase todas
estavam em boas condições para plantio. Aquelas que sofreram com o frio intenso
foram recuperadas pelos espaciais e totalmente aproveitadas. Quanto aos triciclos,
foram recolhidos cerca de 2 bilhões deles em boas condições e outros tantos
parcialmente danificados. Também recolheram mais de 100 milhões de veículos
elétricos movidos a energia solar que estavam operacionais ou apresentavam boas
79
condições para recuperação, além de uma quantidade três vezes maior com
diversos problemas causados pelos elementos da natureza.
82
O REINÍCIO DAS ATIVIDADES PLANETÁRIAS
87
tarde do décimo primeiro dia foram resolvidos todos os problemas e após o jantar
foram divulgadas as listas de destino.
A quase totalidade dos sobreviventes tomou a decisão com grande
confiança e otimismo. Mesmo aqueles que pertenciam a grupos mais reticentes,
localizados em alguns países do planeta, acabaram concordando com as propostas
apresentadas pelos espaciais, pois não havia alternativa que não fosse o
isolamento, como ocorreu com algumas famílias ou pessoas que viviam em
pequenos agrupamentos rurais e optaram por continuar em suas terras. Esses
casos representaram menos de um por cento do total de sobreviventes e os
espaciais respeitaram suas decisões. Além disso, prometeram fornecer todo o
suporte possível para facilitar o trabalho e a adaptação ao novo ambiente sem
estradas, comunicações e locais para ressuprimento. Mesmo assim, essas pessoas
enfrentaram grandes dificuldades e todas acabaram se transferindo para algum
NTCA nas semanas, meses ou anos seguintes.
Na manhã do décimo segundo dia foi iniciada a grande operação de
transferência dos sobreviventes para os NTCA. Essa operação foi considerada
como a mais importante de todas, pois ela deu início ao novo modo de vida que iria
se desenvolver no planeta. Esse era o objetivo principal dos acontecimentos que
desencadearam a grande transição. A operação de transferência dos sobreviventes
envolveu milhões de naves de pequeno e médio porte, além de um número
significativo de naves cargueiras e outras que, nos dias anteriores, realizaram
trabalhos de demarcação e preparação das áreas para instalação dos iglus de seus
moradores. Os trabalhos foram iniciados com o desligamento das tubulações de
água que serviam os iglus e dos ganchos que os prendiam ao solo, pois foram
transportados como se encontravam. À medida que eles foram soltos e identificado,
foram agrupados por local de destino e transportados pelas naves cargueiras. Em
seguida os buracos dos sanitários e banheiros foram fechados e os sobreviventes
embarcados e transportados para o local escolhido.
Conforme os grupos chegavam a cada NTCA, iniciavam os mesmos
procedimentos adotados para montagem dos núcleos de sobrevivência e no meio
da tarde, todos os sobreviventes estavam abrigados nos locais que escolheram,
nos mesmos iglus que utilizaram nos dias anteriores. Com isso, toda a população
que restou em Arret estava distribuída pelo planeta em quase 3,5 milhões de NTCA,
com uma média de mil pessoas de todas as idades em cada um deles. Cerca de 24
milhões de pessoas permaneceram em quase 2 milhões de pequenos núcleos
rurais, pois não desejavam abandonar suas terras. Em cada NTCA havia uma nave
de apoio e uma nave cargueira estacionadas, fazendo parte integrante da nova
comunidade. A noite daquele dia foi destinada a orações ecumênicas, fogueiras e
confraternizações em todos os NTCA.
O dia seguinte foi destinado para que todos descansassem e
conhecessem os arredores da região e seus locais de lazer, representados por
montanhas, rios, cachoeiras e lagoas, pois após o jantar haveria uma nova reunião
com os espaciais. Naquele dia todos se transformaram em crianças felizes e se
divertiram muitos nos locais de lazer assinalados nas plantas que todos receberam
durante o processo de escolha. Após o almoço, os mais jovens voltaram a esses
locais e os mais velhos se reuniram em grupos para conversar a respeito das
próximas ações, a partir daquilo que cada um entendeu a respeito das informações
88
transmitidas pelos espaciais. Apesar das diferenças de enfoque de cada grupo a
respeito dos trabalhos necessários para construir as edificações e alcançar a auto-
suficiência alimentar, pois a maioria não tinha a menor experiência nesses
assuntos, todos concordavam que só conseguiriam atingir os objetivos com a união
e a boa vontade de todos os membros do NTCA, incluindo os jovens e as crianças,
cujo conjunto representava a metade da população sobrevivente.
93
materiais de construção e vários outros itens que eram colocados à disposição dos
moradores sem controles, alardes, solenidades ou discursos.
No decorrer do primeiro mês foram concluídas as seguintes atividades
principais nos NTCA do país de Olintho. Na maioria dos demais, os trabalhos ainda
se estenderam por até três semanas.
Captação, armazenamento de água potável e sua canalização até os locais das
edificações coletivas, da horta e do viveiro de mudas.
Preparação dos canteiros da horta coletiva e sua semeadura direta ou para
replante.
Construção do viveiro de mudas e plantio de milhares de sementes de árvores
frutíferas e ornamentais em embalagens para replante futuro
Preparação das áreas destinadas a pomares e plantio de muitas mudas de
árvores frutíferas recolhidas em diversos viveiros e locais do planeta.
Preparação e plantio de todas as áreas destinadas ao cultivo de cereais.
Construção do depósito de alimentos e de artigos de higiene e limpeza, das
cozinhas, restaurantes coletivos e de 2 dos 4 almoxarifados de materiais de
trabalho, incluindo suas instalações elétricas, hidráulicas, pintura, equipamentos
e mobiliário.
Os sistemas de iluminação eram alimentados por energia “solar” captada
por painéis fotovoltaicos e armazenada em baterias de alta capacidade e
durabilidade. Os fogões funcionavam com energia elétrica fornecida por geradores
especiais e silenciosos, alimentados por qualquer tipo de matéria de origem vegetal
ou mineral, como madeiras ou pedras. Nas cozinhas de cada restaurante foi
instalado um conservador de alimentos e, no depósito de alimentos, uma grande
câmara de conservação. O princípio de conservação desses equipamentos não era
baseado no frio, e sim em um tipo de raio ou campo de força que mantinha os
alimentos durante semanas ou meses nas mesmas condições em que foi
armazenado, sem alterar seu aspecto inicial. Nos restaurantes instalaram sistemas
de aquecimento de água utilizando o calor do “sol” arretiano e aquele gerado pelos
fogões. Esse sistema produzia água em ponto de fervura e alimentava torneiras e
expositores de alimentos quentes de auto-serviço.
Quando os depósitos de alimentos foram concluídos, eles foram
abastecidos com legumes, frutas e cereais originários de Arret e dos planetas de
origem dos espaciais. Esses alimentos permitiram a inauguração dos restaurantes e
que os moradores voltassem a ter uma alimentação variada e semelhante àquela a
que estavam acostumados antes da grande transição. Até aquele momento os
sobreviventes ingeriam uma dieta balanceada e pouco variada que, apesar de
altamente nutritiva e saudável, vinha causando um nível crescente de desinteresse
nas crianças e em muitos jovens e adultos. No país de Olintho os restaurantes
entraram em operação no oitavo dia do segundo mês, exatamente um mês depois
que os sobreviventes puderam sair livremente dos iglus instalados nos núcleos de
sobrevivência. As mulheres definiram todas as tarefas necessárias e concluíram
que um quarto delas seria suficiente para executar as tarefas que envolviam o
94
preparo de três refeições diárias. Com isso organizaram um esquema de rodízio
onde cada grupo trabalhava um dia nos restaurantes e três em outras atividades.
Assim como aconteceu no país de Olintho, à medida que os depósitos
de alimentos e os restaurantes comunitários dos NTCA dos demais países foram
concluídos, suas inaugurações ocorreram em um jantar seguido por diversas
festividades, conforme os costumes de cada povo. Geralmente, após o jantar do dia
seguinte, os espaciais sempre realizavam uma reunião com os moradores, a fim de
definir os critérios para ocupação das moradias que seriam construídas em seguida.
Na maioria dos núcleos o assunto foi discutido e definido em uma única reunião e
nos demais em duas a três delas. No geral, chegaram a duas conclusões básicas e
na quase totalidade dos NTCA seus moradores resolveram realizar um sorteio
prévio, concluir todas as moradias, mobiliá-las, e ocupá-las conjuntamente. Uma
minoria resolveu destiná-las através de sorteios, assim cada moradia fosse
construída e mobiliada. Os NTCA que optaram pela segunda modalidade foram
aqueles com maiores percentuais de descontentes e também os que mais
demoraram para construir todas as residências.
Para iniciar essas edificações, as frentes de trabalho anteriores foram
divididas em grupos especializados em um tipo específico de atividade, permitindo
que cada um trabalhasse naquela onde melhor se adaptou durante a construção
das edificações coletivas. Com isso a produtividade aumentou substancialmente em
todos os NTCA, exceto em uma minoria que não seguiu a estratégia adotada no
país de Olintho. A maioria desses núcleos foram aqueles que definiram o critério de
entrega das moradias por sorteio e também aqueles onde havia grande
concentração de pessoas problemáticas, em sua maioria, oriundas de seitas ou
correntes religiosas fanáticas. De maneira geral, reclamavam da inexistência de
templos nos NTCA, da inexistência de horários para manifestações religiosas, do
desconforto dos iglus, da comida padronizada e dos trabalhos que precisavam
executar, além de várias outras querelas.
O início do segundo mês da nova era arretiana também foi marcante em
termos de mudança de hábitos religiosos, pois quase todos os sobreviventes
começaram a realizar orações e agradecimentos coletivos nos novos restaurantes,
em lugares abertos, sob a sombra das árvores, sob a luz das estrelas, ou sempre
que se reuniam para comemorar o término de algum trabalho e os bons resultados
alcançados pelo NTCA. Seus moradores não mais defendiam conceitos
separatistas ou falavam em nome de suas antigas denominações religiosas. Eles
começaram a demonstrar uma religiosidade sem dogmas e centrada na irmandade
universal e na paternidade divina. Foram nessas reuniões que muitos moradores
começaram a solicitar palestras dos espaciais sobre os conceitos religiosos
vigentes em seus planetas de origem, pois já havia intimidade e um grande
companheirismo entre eles. Apesar dos NTCA ainda estarem isolados e sem vias
de comunicações entre eles, os espaciais falavam uma linguagem comum, pois a
base da Lei Divina era a mesma em todos os seus planetas de origem.
Essas palestras geravam uma energia positiva que contagiava todos os
sobreviventes e, na maioria delas ocorriam alguns fenômenos durante ou após as
preleções dos espaciais, como uma suave luminosidade que os envolvia, um
perfume que era sentido por todos, ou visões em alguns e sonhos em outros. Os
amigos das estrelas evitavam tocar em temas polêmicos, mas às vezes suas
95
resposta a perguntas contrariavam crenças de uma parcela menor ou maior dos
moradores, pois os espaciais não desconversavam e não mentiam em hipótese
alguma. Mesmo assim, suas palestras e respostas a perguntas não geravam
discussões ou problemas, pois falavam com profundo conhecimento a respeito de
qualquer tema e com a autoridade e força moral advinda do exemplo de irmandade
e fraternidade que deram durante a grande transição e davam em todos os
momentos. Essas palestras sempre provocavam profundas reflexões em muitos
moradores e, gradativamente, a maioria deles começou a entender, aceitar e
praticar com naturalidade os novos conceitos religiosos transmitidos pelos amigos
das estrelas.
Durante o segundo mês os moradores de todos os NTCA deram
prosseguimento a uma série de atividades iniciadas no mês anterior, começaram a
construir as moradias individuais e concluíram alguns trabalhos, a exemplo dos
abaixo descritos.
Praças em torno dos restaurantes, incluindo a instalação de equipamentos de
lazer para crianças.
Os demais almoxarifados de materiais de trabalho e oficinas.
Abertura de ruas de acesso aos terrenos dos setores residenciais e das estradas
e caminhos nas áreas agrícolas.
Abertura dos buracos para fixação dos pilares de sustentação das residências.
Canalização da água potável nos terrenos de todos os setores residenciais.
Canalização dos esgotos e instalação das fossas sépticas e sumidouros das
moradias.
Cerca de 20 % das habitações individuais, com instalações elétricas, hidráulicas
e pintura, incluindo o mobiliário padrão.
Replante das hortaliças semeadas com essa finalidade no mês anterior.
No decorrer do segundo mês a vida dos moradores entrou em ritmo de
normalidade, bem ao contrário do que aconteceu no mês anterior, onde tudo era
uma grande novidade. Após a inauguração das praças, os moradores passaram a
utilizá-las freqüentemente para conversas e confraternizações após o jantar, as
quais sempre contavam com a presença dos espaciais residentes nas naves
alocadas em cada NTCA. Às vezes os amigos das estrelas eram solicitados a falar
sobre seus planetas de origem e outras vezes se integravam como participantes
comuns das conversas, confraternizações e brincadeiras que os sobreviventes
realizavam, estreitando os laços de companheirismo e de amizade entre eles.
Nesse período ocorreram muitas cenas hilariantes envolvendo os espaciais e as
mulheres que trabalhavam nas cozinhas. Elas adoravam preparar guloseimas e
presenteá-las aos amigos das estrelas como forma de agradecimento por tudo que
eles tinham feito e continuavam fazendo. Algumas não eram apropriadas à dieta
alimentar a que estavam acostumados e, como eram atenciosos e educados, não
se negavam a experimentá-las. Com isso, muitos deles foram acometidos por
problemas digestivos e intestinais, mesmo ingerindo guloseimas e quitutes
96
preparados com ingredientes de origem vegetal, pois os arretianos não comiam
carnes de animais desde os duzentos anos anteriores à grande transição.
No final do segundo mês havia poucos doentes retidos para tratamento
nas naves e a quase todas as famílias estavam novamente recompostas com todos
os membros que sobreviveram à grande transição. Nesse período eram comuns as
brincadeiras e conversas entre os casais a respeito da continência sexual a que
estavam submetidos, motivada pelas grandes dificuldades que uma gravidez
representava naqueles momentos e pela inexistência de contraceptivos de qualquer
tipo. Mesmo no caso das esposas que não corriam risco de gravidez, havia grandes
dificuldades para o relacionamento sexual nos iglus ou em outros lugares, pois o
movimento de pessoas no NTCA era intenso. Apesar de muitos casais aguardarem
com certa ansiedade a mudança para as novas casas, os costumes sexuais
passaram por uma mudança radical naquele curto período. Quase todos deixaram
de priorizar o relacionamento físico, estreitaram os laços de amizade e começaram
a dar mais atenção a um tipo de relacionamento amoroso baseado no carinho e na
afinidade espiritual.
Durante o terceiro mês os trabalhos seguiram um padrão semelhante ao
do mês anterior, com grande concentração de esforços na construção das
residências, no desenvolvimento da horta e do pomar. No país de Olintho, todos os
NTCA concluíram a construção das residências no final daquele mês e deixaram
seus iglus para residir em uma habitação funcional e confortável. Como vinha
acontecendo desde o mês anterior e de maneira crescente, quase todos os NTCA
começaram a produzir uma razoável quantidade e variedade de verduras e legumes
em suas hortas, fazendo com que os sobreviventes voltassem a consumir alimentos
que não experimentavam desde o início da grande transição.
A estratégia utilizada para construção das residências no país de Olintho
foi adotada por diversas outras juntas de governo e com isso, concluíram suas
habitações no decorrer do quarto mês. Foram raros os núcleos que optaram pelo
sorteio e ocupação das residências conforme eram concluídas, que terminaram
todas elas durante o quarto mês. A maioria somente conseguiu atingir esse objetivo
no decorrer do sexto mês. Todos os NTCA que concluíram suas residências
começaram a utilizar uma parte da mão-de-obra liberada para ampliar e melhorar
suas áreas de lazer. Os projetos para essas áreas eram particularizados em função
das inúmeras variações de tipos e disposições de atrativos naturais existentes em
cada núcleo. Naqueles em que havia maior variedade de atrativos, os projetos
individuais eram mais simples e de execução mais rápida. Quando acontecia o
contrário, os projetos eram mais sofisticados e de execução mais demorada,
variando entre um e seis meses.
No decorrer do quinto mês, aumentou substancialmente a oferta de
verduras e legumes produzidos pelas hortas e muitos NTCA também já eram auto-
suficientes em termos de cereais. O sexto mês foi marcado por intensa atividade
em diversas frentes e encerrou o primeiro ciclo do novo modo de vida arretiano,
calcado no trabalho cooperativo e comunitário. Além da melhoria dos locais de
lazer, foram iniciados os trabalhos de ajardinamento das residências e dos
canteiros das ruas, onde foram plantadas muitas árvores ornamentais. As calçadas
começaram a ser recobertas com placas de pedras planas de diversas cores e
tamanhos, separadas por filetes de grama que formavam desenhos harmoniosos.
97
Esses trabalhos de decoração, juntamente com o colorido das
edificações, começaram a transformar os NTCA em locais agradáveis, funcionais e
muito bonitos, contrastando radicalmente com o cenário das cidades anteriores à
grande transição. No final do sexto mês, a horta coletiva estava em franca produção
e com ressuprimento contínuo. Em termos de verduras e legumes, todos os NTCA
eram auto-suficientes e dispunham de quase todas as variedades existentes no
planeta. Com relação aos cereais não ocorreu a mesma coisa, mas a safra global
foi suficiente para atender todos as necessidades do planeta. Obedecendo aos
critérios definidos pelas juntas de governo, os países realizaram trocas de
excedentes ou receberam produtos doados por outros. Muitas áreas produtoras de
frutas já estavam recuperadas dos danos causados pela grande transição e
estavam começando a produzi-las novamente, aumentando gradativamente a
participação desses produtos na dieta da população. Além dos pomares
recuperados, a maioria das mudas de árvores frutíferas produzidas pelos NTCA
estavam plantadas em lugares definitivos, juntamente com aquelas recebidas
inicialmente.
A mudança de clima ocorrida no planeta criou uma única estação, uma
mistura de outono e primavera. O novo regime de chuvas noturnas, leves e
contínuas, facilitou o desenvolvimento da agricultura e eliminou as necessidades de
irrigações. Também houve uma sensível diminuição de pragas e doenças nas
hortas e nos pomares, tornando as perspectivas para os próximos meses e anos
muito animadoras, não só pela melhoria das condições de cultivo, como também
pela maior disponibilidade de mão-de-obra liberada a partir do término das
residências. Para concluir essa primeira fase do novo modo de vida arretiano, é
importante ressaltar dois aspectos que muito contribuíram para firmar as bases da
irmandade planetária, os quais foram a pedra de toque e o embrião de todas as
grandes transformações que ocorreram nos anos seguintes. Um deles envolveu a
construção das habitações familiares e o outro, uma mudança de mentalidade que
decorreu de uma nova visão de vida, tanto individual, como coletiva. Os dois
tópicos, apesar de intimamente ligados, serão relatados a seguir, em itens distintos.
Camas solteiro com duas gavetas e de casal com quatro, ambas com baú na
cabeceira. Em cada quarto havia uma cama de casal no centro, ou duas de
solteiro nas laterais.
Colchões de espuma de alta densidade que foram resgatados durante as
operações específicas ou fabricados pelos espaciais nas indústrias instaladas
nos continentes polares.
Sofás para duas e para quatro pessoas, com estrutura de madeira e almofadas
de espuma.
Mesa de sala e cadeiras para 4 a 10 ocupantes.
Mesa de cozinha com 6 cadeiras, independente do tamanho da residência, além
de armário na pia e armário vertical de tamanho compatível com cada tipo de
residência.
Armários de banheiro, sendo um menor com espelho sobre o lavatório e outro
maior para artigos diversos.
Bancos de madeira com encostos instalados na varanda, com 4 a 12 lugares.
Apesar das residências serem padronizadas e cada setor ser formado
por habitações de um mesmo tipo ou tamanho, seu conjunto e suas cores externas
bastante variadas deixavam cada setor e o próprio NTCA com um aspecto
harmonioso, alegre, bonito e organizado, especialmente depois que concluíram o
ajardinamento das residências, as calçadas e o plantio de árvores nos canteiros das
ruas. Com isso, os NTCA se tornaram muito diferentes das antigas cidades
arretianas que apresentavam casas e prédios de todos os tipos e tamanhos, redes
elétricas e várias outras coisas que as tornavam parecidas com o atual padrão
terrestre.
101
A mudança de mentalidade
O conforto que os habitantes dos NTCA experimentaram nas novas
habitações, a fartura e a qualidade dos alimentos por eles produzidos, as diversões
coletivas nas ainda precárias estruturas de lazer e a satisfação por terem realizado
tantas coisas que nunca fizeram antes e em tão pouco tempo, dentre outros fatores
simples e importantes, redobrou a confiança no futuro e o apreço que a grande
maioria nutria pelos amigos das estrelas desde os dias da grande transição. Além
da constante e desinteressada dedicação, eles sempre cumpriam o que prometiam
e nenhum arretiano jamais se sentiu enganado por eles em nenhum momento.
Mesmo a decrescente minoria que ainda criticava o novo modo de vida e também
não confiava plenamente nos espaciais, não encontrava motivos lógicos ou
objetivos para justificar qualquer coisa contra eles junto à grande maioria.
Além disso, o relacionamento cordial e respeitoso que mantinham com
os sobreviventes, sem a mínima demonstração do poder e da supremacia
tecnológica e espiritual que todos os sobreviventes sabiam que eles detinham,
creditava aos espaciais um respeito e uma autoridade moral que os capacitava
como conselheiros nas mais diversas questões individuais, familiares ou coletivas.
Por essas razões eles foram requisitados, de maneira crescente, para fazer
preleções diversas, especialmente sobre os mais variados aspectos da Lei Divina.
De maneira didática, gradativa, objetiva e sem margens para contestações lógicas,
transmitiram os conceitos mais importantes e profundos sobre a realidade espiritual.
Essas preleções contribuíram decisivamente para acelerar e consolidar as drásticas
mudanças que ocorreram no comportamento social, afetivo e no pensamento
religioso da população, além de acelerar a materialização do ideal de irmandade e
fraternidade, pois a grande maioria começou a mudar radicalmente o seu modo de
pensar anterior e de encarar o seu novo modo de vida.
O que aconteceu naquele período foi o resultado de um longo processo
de maturação de idéias individuais e coletivas que finalizou com o advento da
grande transição. Os sobreviventes começaram a entender que o seu novo modo
de vida, apesar de simples, era muito melhor que aquele que vivenciaram
anteriormente como pessoas ricas ou pobres, famosas ou desconhecidas.
Começaram a entender o significado de uma coisa que buscaram sob as mais
diversas faces e somente a encontraram por breves momentos. Essas pessoas
começaram a sentir, vivenciar, praticar e entender a real natureza daquele
sentimento que denominavam como felicidade e entendiam que somente podiam
alcançá-la com riquezas e poderes materiais. Nessa nova fase de suas vidas, eles
não precisavam de carros, riquezas, títulos universitários e outras coisas que
diferenciavam as pessoas e pelas quais lutaram e se sacrificaram para atingir o
ponto onde supunham encontrar a felicidade e viam que, uma vez alcançado, o
ponto sempre se deslocava para um referencial mais alto que exigia novas lutas e
sacrifícios ainda maiores.
Nos NTCA, trabalhando como operários da construção civil, como
lavradores e outros ofícios, todos se sentiam iguais e felizes com as pequenas
coisas do dia-a-dia, como nunca experimentaram anteriormente. Ficavam felizes ao
contemplar a germinação das sementes na horta, em saborear os produtos
colhidos, ou durante o banho em uma cachoeira. Com isso, começaram a
questionar seus antigos valores e concluíram que a maioria das lutas que
102
empreenderam no passado foram em vão e na direção errada, pois raramente
experimentaram mais que algumas horas ou dias da tranqüilidade, segurança,
alegria e felicidade que vivenciaram desde os primeiros dias da grande transição,
especialmente durante a construção e após a ocupação das residências. Nos NTCA
não circulava dinheiro, não havia assaltos, assassinatos, patrões, empregados,
doutores, operários, pobres ou ricos. Todos eram sobreviventes de uma grande
catástrofe que destruiu a antiga estrutura planetária e ceifou a vida de dois terços
de sua população.
Todos estavam começando uma nova fase de suas vidas e uma nova
era planetária em harmonia com seus semelhantes, com a natureza e felizes como
as crianças, com as quais conviviam estreitamente e não mais em algumas horas
da noite e dos fins-de-semana, como acontecia anteriormente. Muitas vezes as
crianças trabalhavam em igualdade de condições com os adultos e até em
superioridade, a exemplo do que acontecia durante o plantio e colheita de verduras
e legumes na horta comunitária. Nessas atividades elas produziam mais que os
adultos em função da flexibilidade de seus corpos mais adaptados para trabalhos
ao nível do solo. Esses fatos e vários outros dominaram as conversas naqueles
dias do sexto mês e levaram os moradores a falar cada vez menos a respeito da
tragédia representada pela grande transição e a centrarem suas conversas nos
benefícios que ela representou, pelos bons frutos que produziu em um tempo tão
curto.
109
demais seguiram os mesmos padrões existentes nos NTCA, inclusive quanto aos
restaurantes comunitários.
Durante os meses que duraram as construções, todos os novos
industriários receberam treinamento teórico e prático no interior das naves e em
instalações congêneres que os espaciais mantinham em diversos locais do planeta.
Os primeiros NTCI foram concluídos no início do terceiro ano e tiveram sua
produção direcionada para a industrialização de alimentos, artigos de vestuário,
cama, mesa e banho, peças de madeiras e outros equipamentos para construção e
mobiliário, além de uma infinidade de ferramentas de trabalho e utilidades
domésticas. Assim que cada NTCI foi concluído e as residências ocupadas, os
espaciais iniciaram a instalação e os testes operacionais dos equipamentos
industriais, sempre auxiliados pelos novos operários. As fábricas entraram em
operação com total acompanhamento dos espaciais e, após algumas semanas,
quando os arretianos se sentiram seguros e dominaram a técnica de operação e de
manutenção dos equipamentos, a maioria dos amigos das estrelas se retiraram
para instalar novos NTCI, deixando um grupo de apoio em uma nave estacionada,
como ocorria em todos os NTCA. Em alguns locais, eles permaneceram por um
tempo maior e somente partiram quando a produção atingiu o nível máximo,
O processo de industrialização se estendeu até o final do décimo ano,
quando os excedentes de mão-de-obra agrícola permitiram a implantação de toda a
infra-estrutura necessária à auto-suficiência do planeta. Permaneceram ativas e
ainda operadas pelos espaciais, apenas as industrias básicas instaladas nos
continente polares e em algumas ilhas isoladas. Durante o segundo ano também
foram iniciados alguns movimentos para unificação de países, começando pelo
continente onde se localizava o país de Olintho. No final do terceiro ano, a metade
dos países daquele continente foram unificados e Olintho foi indicado como seu
governante. Em outros três continentes ocorreram unificações mais acanhadas,
mas o movimento continuou ativo e de maneira crescente. No início do quinto ano
todos os países do continente de Olintho foram unificados e ele foi eleito o primeiro
governante continental.
Uma das suas primeiras medidas foi construir um núcleo para abrigar a estrutura
habitacional e administrativa do novo governo. Ele foi rapidamente construído e
logo os membros do primeiro governo continental voltaram a viver no solo com suas
famílias. Essa iniciativa motivou outros coordenadores de juntas federativas e
daquelas formadas por grupos de países a tomarem iniciativa semelhante. A
competente administração de Olintho gerou um grande aumento na produção
agrícola e industrial do seu continente, a qual implicou em uma redução na jornada
de trabalho no decorrer do sexto ano, para não gerar excedentes não aproveitáveis
no restante do planeta. A jornada foi diminuída para dez horas diárias e incluiu o dia
de sábado no descanso semanal. Esses resultados influenciaram os demais países
de outros três continentes parcialmente unificados e os processos se intensificaram
com a criação do segundo governo continental no final do oitavo ano, elevando para
mais de 200 o número de países unificados em todo o planeta. Não fosse a sua
morte ocorrida no final do décimo ano, esse processo teria sido concluído em um
tempo bem menor que aquele que foi gasto.
110
A morte de Olintho
Ele faleceu em decorrência de um ataque cardíaco fulminante, às
vésperas de completar sessenta e quatro anos, durante uma visita de rotina a um
núcleo industrial. Olintho vinha sendo alertado pelos seus médicos para diminuir o
seu ritmo e horário de trabalho desde quando assumiu a presidência de seu país,
três anos antes da grande transição. Depois, os espaciais continuaram com a
mesma recomendação, pois não podiam interferir no seu livre arbítrio. Durante
quase quatorze anos ele trabalhou intensamente para melhorar a qualidade de vida
das populações que governou como um missionário. Ele nunca tirou férias e poucos
foram os fins de semana que aproveitou para descansar. Quando faleceu, era a
pessoa mais admirada e respeitada no planeta, incluindo os dirigentes e habitantes
dos países mais problemáticos. Por isso, ele era uma espécie de embaixador dos
amigos das estrelas e dos demais dirigentes juntos a esses povos. Ele também era
visto como uma espécie de pai, amigo ou irmão de todas as pessoas que viviam em
seu país de origem e no continente que governou durante mais de cinco anos.
Desde quando Olintho assumiu a presidência do seu país, no período
anterior à grande transição, ele sempre foi o exemplo de tudo que deu certo e
produziu os melhores resultados com o menor esforço e no menor tempo possível.
A notícia da sua morte paralisou o planeta, pois o comando a frota de apoio a Arret
divulgou o fato a todas as naves sediadas nos núcleos, como sempre acontecia
com notícias de interesse geral, a exemplo das deliberações da nova ONU,
unificações de países e uma série de outras novidades que sempre eram
divulgadas nos restaurantes coletivos e nas demais áreas sociais. Fazia quase uma
década que a grande maioria dos habitantes não tinha razões para tristezas, pois a
nova vida planetária apresentava um número crescente de fatos positivos que só
geravam alegrias e confiança em um futuro ainda melhor. A morte de Olintho
entristeceu todos os habitantes do planeta a população, pois foi sentida como a
perda um parente querido ou de um grande amigo. Como todos queriam prestar a
ele a sua última homenagem e não havia condições para tal, os espaciais
sortearam um morador de cada núcleo e o levaram à ilha de Agartha para, em
nome dos demais, prestar suas homenagens àquele grande homem.
Seu corpo foi preparado para suportar a longa homenagem que recebeu
no centro de convenções durante doze dias e noites, quando foi visitado por quase
4 milhões de pessoas. Os espaciais montaram telões nas praças que circundavam
os restaurantes coletivos, para que a população acompanhasse as homenagens
após o jantar. Também transmitiram a cerimônia que ocorreu no dia do seu
sepultamento quando todas as atividades planetárias foram paralisadas. Ele foi
enterrado em um local da ilha de Agartha onde atualmente é o centro de um jardim
localizado no lado direito da entrada principal do Palácio da Harmonia, a atual sede
do governo planetário. No jardim do lado esquerdo está enterrado o corpo de
Hórhium, o segundo governante do planeta, tido pelo povo arretiano como uma
nova manifestação de Olintho.
A cerimônia simples foi precedida por um emocionado discurso do
comandante da frota de apoio a Arret e foi presenciada por todos os coordenadores
das atuais e das primeiras juntas de governo criadas após a grande transição.
Olintho foi substituído por Nunzain um dos membros da sua junta de governo
continental e também um de seus maiores amigos e grande colaborador desde os
111
primeiros dias da grande transição, quando coordenou os esforços que levaram à
construção dos NTCA de seu país em tempo recorde. Ele também era um
trabalhador incansável, muito competente, querido e respeitado pelos povos do seu
continente. Nunzain era uma pessoa dotada de grande sabedoria e senso de
justiça, possuindo, de maneira geral, as qualidades básicas do seu grande amigo e
mestre Olintho.
114
planetário. Essas pessoas eram mais espiritualizadas e trabalhavam para o
desaparecimento das poucas barreiras ainda existentes.
Assim como aconteceu desde os dias seguintes à grande transição, os
governos continentais continuaram sendo apoiados pelos espaciais, especialmente
na área de transportes, pois suas naves e uma pequena quantidade de cabines de
teletransporte, representavam a única opção de carga ou para deslocamentos de
pessoas em distâncias superiores a 200 quilômetros. Desde o início do processo de
industrialização e com o crescente aumento das transferências de pessoas dos
núcleos agrícolas para os industriais, a população passou a deixar sua residência e
respectivos móveis para outros moradores e receber outra do mesmo padrão no
novo local. As atividades de lazer, apesar de intensas, continuavam sendo
praticadas somente nos finais de semana, o qual já incluía o sábado em todo o
planeta. O ritmo de trabalho ainda era intenso, em torno de 10 horas diárias, pois os
arretianos assumiram uma série de atividades ligadas à educação, saúde e
produção industrial. Desde a grande transição as férias anuais foram abolidas e
todos encaravam qualquer tipo de trabalho como mais uma atividade de lazer.
A população cresceu consideravelmente e, no final do ano 40, o planeta
já contava com quase 6 bilhões de habitantes, constituídos por muitas crianças e
jovens, o que motivou a construção ou ampliação de escolas dos três graus de
ensino. Em conseqüência, houve uma grande expansão nos núcleos então
existentes e muitos atingiram o seu plano de lotação inicial. Com isso, construíram
muitos outros, especialmente nos dois continentes polares, cujas terras eram
especialmente férteis. Nessa época os NTCA e NTCI deixaram de ser denominados
como tal e passaram a serem referenciados como cidades agrícolas ou industriais.
No final do ano 40, alguns estudantes que se destacavam nos diversos cursos de
graduação eram levados a outros planetas para complementar seus conhecimentos
e aprender novas tecnologias.
O período preparatório
Esse período de 9 anos foi de grande importância na história arretiana e
culminou com a instalação do governo planetário. Mais importante que esse
acontecimento foram as suas conseqüências, pois desencadeou outras coisas
altamente positivas que, em sua maioria, não faziam parte dos sonhos da
população e nem daqueles que trabalharam incansavelmente para implantar o
governo planetário. No início do ano 41, os dirigentes continentais e a quase
totalidade da população almejava a criação do governo planetário. O entendimento
de todos era que ele representaria muito mais que uma administração centralizada.
Entendiam que ele representaria, principalmente, a consolidação da irmandade, da
fraternidade e da igualdade entre todos os povos, pois na prática, já havia uma
certa centralização administrativa, em função do suporte que os espaciais
forneciam indistintamente aos povos de todos os continentes, dos procedimentos
padronizados definidas pela ONU, das fronteiras livres e do idioma único, dentre
várias outras coisas.
No início do ano 42, em continuidade ao processo de transferência de
tecnologia, os espaciais começaram a equipar a ONU e os governos continentais
115
com sofisticados computadores, sistemas integrados e banco de dados que antes
só existiam em suas naves. O banco de dados mantido e atualizado pelos espaciais
foi substancialmente ampliado a partir de um detalhado levantamento das
necessidades básicas da população, relacionadas com habitação, alimentação,
vestuário, saúde, educação e lazer, dentre outras consideradas como fundamentais
para o bem-estar, conforto e qualidade de vida, além de particularidades e
expectativas dos habitantes de cada continente. A finalidade desse banco de dados
era facilitar o planejamento das necessidades da população e tornar os governos
continentais independentes desse tipo de apoio dos amigos das estrelas. A
administração do sistema e do banco de dados ficou sob a responsabilidade da
ONU arretiana, sediada na ilha de Agartha, onde foram instalados os computadores
ou servidores principais. O acesso para consultas e atualização seletiva do banco
de dados foi descentralizado em diversos níveis, desde a administração continental
até os núcleos administrativos, operacionais e de serviços existentes em cada
cidade agrícola ou industrial. Esse grande e ramificado sistema foi o embrião da
nova Internet arretiana.
A ONU era um organismo muito respeitado em todo planeta desde a sua
criação e, com o passar do tempo adquiriu maior agilidade, poder e amplitude de
atuação, principalmente após sua última reestruturação ocorrida no ano 35. Ela
atuava como um organismo que definia critérios de conduta e padrões a nível geral
e, nesse aspecto, antecedeu o governo planetário. Sua estrutura colegiada e
flexível permitia avaliar assuntos específicos de cada continente sem perder a visão
da coletividade planetária e por essa razão suas deliberações eram sempre
acatadas e colocadas em prática, pois todos os seus membros agiam com o mais o
mais alto espírito público. Entre os anos 42 e 48, ela definiu regras e procedimentos
que motivaram os governos continentais a implantar os mais variados projetos
voltados para viabilizar o governo planetário. Com isso, todos os pequenos e
grandes problemas foram equacionados e resolvidos, incluindo soluções
particularizadas para atender reivindicações específicas de uma pequena parcela
da população concentrada no último e mais problemático dos continentes
unificados.
Nos seis meses finais do ano 48, os governantes continentais e suas
equipes intensificaram as reuniões com grupos de trabalho da ONU e, com a
assessoria dos amigos das estrelas, definiram o projeto básico para estruturação do
governo planetário, envolvendo sua forma de atuação e critérios para escolha do
presidente, ministros e demais membros. Os seis meses seguintes foram gastos em
reuniões informativas no centro de convenções da ilha de Agartha, envolvendo os
dirigentes continentais, regionais e municipais, todas, com milhares de
participantes. O objetivo dessas reuniões era levar o mesmo nível de informações a
todos e, ao mesmo tempo, detectar e resolver qualquer tipo de problema que ainda
não tivesse sido levantado e equacionado. No final, o projeto foi considerado como
aprovado, com as seguintes características principais.
A estrutura organizacional seguiria o padrão vigente na ONU e nos governos
continentais.
116
O governo planetário ficaria sediado em Agartha e utilizaria, além da estrutura do
centro de convenções, aquela utilizada pela ONU arretiana, a qual seria
desativada.
Os recursos humanos e materiais alocados nos governos continentais seriam
parcialmente aproveitados, pois a nova estrutura necessitava de menor
quantidade desses recursos.
Nos dias seguintes à eleição e posse do presidente e seus ministros, seriam
extintos todos os cargos incompatíveis com a nova estrutura e empossados
todos aqueles que dela fariam parte. Os demais iriam viver e trabalhar em
cidades agrícolas ou industriais de sua livre escolha.
Os sete dirigentes continentais, incluindo o coordenador geral da ONU seriam
candidatos natos à presidência do governo planetário. Os demais membros
seriam candidatos a ministro, de acordo com a área de atuação de cada um
deles.
O presidente e seus 21 ministros seriam escolhidos por votação secreta dos
dirigentes continentais e seus ministros. Também votariam, o coordenador geral
da ONU e os coordenadores dos seus 21 conselhos setoriais.
Como todos se conheciam muito bem, não haveria campanha e a escolha seria
realizada com base nos méritos individuais, no trabalho que realizaram e na
forma como aceitavam e cumpriam a Lei Divina.
O período de mandato seria até o final da vida de cada um, a menos que
renunciassem por vontade própria.
A eleição seria realizada no centro de convenções de Agartha e seria transmitida
para todo o planeta através de telões que os espaciais instalariam em cada
cidade.
O centro de convenções seria ocupado pelos eleitores, demais membros da
ONU e coordenadores regionais de cada continente. Os demais lugares seriam
ocupados por pessoas oriundas de todas as regiões do planeta, sorteadas em
quantidades proporcionais aos seus habitantes.
Finalmente, marcaram o dia da eleição para meados do ano 49, em um dia
equivalente a um sábado, às 8 horas da manhã.
Com isso foram satisfeitos os anseios da quase totalidade da população.
Porém, ainda restaram alguns problemas que envolviam uma pequena parcela da
população que rejeitava a idéia da irmandade planetária, se esquivava do trabalho
comunitário sempre que podia e exagerava na utilização dos bens distribuídos ou
retirados gratuitamente nos mercados públicos, sem nenhum tipo de controle.
Como essas pessoas pertenciam à geração anterior à transição e, nos últimos
anos, seu número foi drasticamente reduzido, os idealizadores do projeto chegaram
a um consenso que deveriam defini-lo sem critérios de exceção, dando a todos os
mesmos direitos e deveres, mesmo àqueles que não cumpriam com suas
obrigações sociais. Assim procederam, pois entendiam que a Lei Divina se
encarregaria de fazer o devido ajuste no tempo apropriado.
117
A eleição do primeiro governante do planeta
No dia e horário combinado, foi realizada a mais importante de todas as
reuniões já ocorridas na ilha de Agartha e seu centro de convenções, com
capacidade para 21.000 pessoas, estava completamente lotado. Nas praças e
outros locais de todas as cidades, em diversos horários do dia ou da noite, o
restante da população estava posicionada em frente aos telões montados pelos
amigos das estrelas, pois os sistemas de rádio e de televisão ainda não tinham sido
reativados. Para oferecer maior conforto àqueles que assistiram a cerimônia no
horário noturno, os espaciais suspenderam as chuvas que normalmente ocorriam
entre a meia noite e o início da manhã.
A reunião foi iniciada pelo comandante da frota estelar de apoio a Arret,
com um resumo de todos os trabalhos até então realizados para viabilizar o grande
acontecimento daquele dia. Em seguida, os governantes continentais fizeram
emocionados discursos embasados nos grandes postulados da Lei Divina e sua
relação com a criação do governo planetário. Todos enfatizaram o apoio e a
colaboração dos amigos das estrelas e, sob diversas óticas, citaram o exemplo de
trabalho impessoal, dedicação desinteressada e a contribuição decisiva que deram
para viabilizar a criação do governo planetário. Depois, o coordenador geral da
ONU, como responsável pelos trabalhos que levaram à elaboração e aprovação do
projeto de criação do governo planetário, fez um resumo dos critérios definidos, pois
toda a população conhecia seus detalhes. Em seguida, o comandante da frota de
apoio convocou os eleitores para dar início à votação.
Para esse grande momento, os espaciais montaram um telão no alto do
palco e algumas cabines com urnas eletrônicas. Inicialmente, o telão apresentava
as denominações dos cargos a serem votados e, no final da votação, os nomes dos
eleitos. Como havia poucos eleitores, o processo foi concluído rapidamente e,
assim que os nomes dos eleitos apareceram no telão, todos os presentes no
grande auditório começaram a bater palmas, a se abraçar e a comemorar com
grande emoção. Ninguém estava comemorando a vitória do “seu candidato”, pois
todos apresentavam um perfil inquestionável de competência, altruísmo, justiça,
impessoalidade e outras qualidades raras nos homens públicos do nosso planeta.
Todos estavam comemorando a vitória da irmandade planetária e o início de uma
nova fase da história arretiana. Por isso, a emoção foi muito grande e tomou conta
de todos.
Essa mesma reação ocorreu em todos os locais do planeta e ocasionou
um grande fenômeno que marcou indelevelmente aquele dia na mente da
população. No auge daqueles momentos de confraternização e de emoção, um
círculo de luz dourada começou a se formar na frente do palco e das pessoas que
nele estavam. O círculo se expandiu lentamente e no seu centro começou a
aparecer a figura de Ahelohim, com uns dois metros de altura, cada vez mais nítida.
Quando o auditório percebeu o que estava acontecendo, todos interromperam as
confraternizações e ficaram extasiados observando aquela impressionante visão. À
medida que aquele ser começou a se materializar, tornando-se sólido e palpável, o
círculo de luz foi diminuindo, sem desaparecer por completo.
Ahelohim, cuja figura típica era tão conhecida em Arret, como Jesus o é
na Terra, se dirigiu ao grande auditório sem utilizar o equipamento de som e foi
ouvido claramente nos mais diversos pontos daquele ambiente. Ele fez um discurso
118
que emocionou os habitantes do planeta e criou uma grande expectativa e
confiança no futuro. Começou dizendo que aquele dia marcava o final de um longo
ciclo evolutivo e de vidas permeadas por grandes lutas e sofrimentos que levaram
cada um a compreender e a praticar o mais simples, singelo e importante
mandamento do Pai Celestial, o qual esperou por longos milênios até que cada um
de seus filhos respeitasse e amasse seu irmão como a si mesmo e fizesse a ele o
mesmo que gostaria de receber.
Ahelohim enfatizou que o grau de compreensão, de aceitação, de
vivência e de exemplificação desse mandamento tinha o grande poder de
impulsionar o espírito humano na escala da evolução e de levá-lo mais rapidamente
e com menos sofrimento, ou mais demoradamente e com mais sofrimento, ao
primeiro degrau do reino divino, o reino angélico, o qual estava sendo conquistado
pela quase totalidade dos habitantes do planeta e por aqueles que permaneceram
na Hierarquia Espiritual Arretiana. Ele informou que o tempo necessário para
alcançar esse degrau após a individualização no reino humano, contava-se em
milhares de anos permeados por pequenas e grandes batalhas, geralmente, contra
si mesmo, até transmutar as características peculiares do ser humano, nas virtudes
que teciam, gradativamente, a veste branca e imaculada do ser angélico. Ahelohim
disse que essas batalhas e sofrimentos tinham o poder de lapidar a pedra bruta que
representa o espírito humano e transformá-la em uma jóia de rara beleza, tal qual
foi concebida pelo Pai Celestial.
Depois de uma longa pausa para observar a platéia, Ahelohim disse que
aquele dia marcava o início de um novo ciclo evolutivo, onde reinaria a irmandade,
a fraternidade e a felicidade baseada no amor de uns com os outros, pleno de
dádivas que o Pai Celestial guardava há longas eras para oferecer àqueles que já
se reconheciam como irmãos e, como conseqüência, O reconheciam com o Criador
e Pai de todos os seres. Ahelohim levantou suas mãos para o alto e depois as
estendeu na direção do auditório, emitindo uma luz amarelada que iluminou todo o
ambiente. Em seguida, voltou a falar sobre as dádivas do Pai Celestial e disse que
elas seriam distribuídas com grande abundância a partir daquele momento a todos
os Seus filhos e filhas que já se reconheciam como irmãos e a Deus, como o Pai, o
Criador, o Mantenedor e o Transformador de todos e de todas as formas animadas
e inanimadas, visíveis ou invisíveis.
Depois de repetir o gesto anterior, Ahelohim voltou-se para os eleitores e
eleitos e os observou longamente sem nada dizer. Todos estavam emocionados e
muitos choravam copiosamente. Ele voltou a repetir o gesto anterior e depois
abençoou os eleitos fazendo o sinal da cruz em suas testas. Em seguida, voltou-se
para a platéia e continuou seu discurso. Disse que as pessoas eleitas naquele dia
eram, como todos que ali estavam e representavam os demais habitantes do
planeta, os homens e mulheres de boa vontade que tinham uma missão de grandes
sacrifícios pela frente. Enfatizou que, se eles exercessem aquele sagrado mandato
por amor ao Pai Celestial e a seus irmãos arretianos e não se preocupassem com
honras, reconhecimentos e recompensas pessoais, seus pesados fardos não
passariam de uma leve pluma e nenhum reconhecimento que recebessem em vida
seria comparado àquele que receberiam quando retornassem ao mundo espiritual.
Após uma nova pausa, aquele ser maravilhoso prosseguiu dizendo que os
próximos governantes seriam indicados pelo Pai Celestial e que o futuro presidente
119
e seus ministros já estavam vivendo no planeta. Informou que todos iriam poder
identificá-los nos anos seguintes, pois, a partir daquele dia, começaria a ser aberto
o canal de ligação do mundo físico com o espiritual e todos que conquistaram o
primeiro degrau do reino divino teriam acesso gradativo a esse mundo e a um
grande conjunto de novas informações que permitiriam, além de reconhecer os
futuros governantes, acessar os registros das vidas e experiências passadas, tanto
a nível individual, como familiar ou coletivo. Todos começariam a nascer com essas
lembranças, uma vez que estavam livres dos efeitos das ações negativas que
acumularam ao longo das idades.
Novamente Ahelohim ficou em silêncio e, enquanto elevava seu rosto e
braços para o alto, seu corpo começou a emanar o mesmo brilho anterior. Em
seguida, abençoou os presentes com o sinal da cruz, voltou a elevar seu rosto e
braços para o alto e ficou imóvel. O brilho dourado foi aumentando de intensidade
até que tomou todo o grande auditório, enquanto seu corpo se transformava na
mesma luz que foi se apagando aos poucos até desaparecer e deixar um
indescritível perfume no ar. Logo que Ahelohim abençoou os presentes, aqueles
que estavam no grande auditório e a maioria daqueles que assistiam o
acontecimento pelos telões atingiram o estado de êxtase e tiveram maravilhosas
visões do mundo celestial e do futuro do planeta nas próximas décadas e séculos.
Quando essas pessoas voltaram a si, estavam maravilhadas com aquele
inesperado acontecimento e confraternizaram por horas seguidas em todos os
locais do planeta. A aparição e as palavras de Ahelohim provocou tamanho
entusiasmo na população que tudo foi superado e facilitado dali para frente. Alguns
dos problemas anteriormente detectados foram facilmente resolvidos e a maioria
deles nem chegou a se manifestar.
O primeiro presidente do governo planetário foi Thauro, o mesmo que
havia substituído Nunzain no governo do continente onde se localizava o país de
Olintho. Como seus antecessores, ele era muito querido e respeitado pelos
governantes continentais e pelo povo arretiano. Ele e seus ministros começaram a
trabalhar no dia seguinte nas instalações da ONU e durante a primeira semana
montaram toda a estrutura do governo planetário, quando todos os cargos foram
preenchidos e seus ocupantes empossados e instalados com suas famílias nos
novos locais de trabalho. Durante essa semana, todos aqueles que deixaram de
fazer parte da nova estrutura foram transferidos com suas famílias para as cidades
que escolheram, conforme o planejamento anteriormente realizado.
Na semana seguinte, a nova estrutura entrou em operação com o apoio
irrestrito dos seres espaciais, quando foram desencadeadas várias ações voltadas
para atingir um objetivo prioritário do novo governo. Ele estava voltado para a
otimização da estrutura produtiva e para o aumento da ofertas de vários itens e
serviços componentes do bloco de necessidades básicas, como habitação,
alimentação, vestuário, saúde, educação e lazer, para fazer frente ao aumento
populacional, já beirando os 7 bilhões, sem aumentar a carga de trabalho diária,
ainda de dez horas, com descanso semanal aos sábados e domingos, sem feriados
ou férias anuais. O primeiro feriado foi estabelecido para o ano seguinte, no
aniversário de instalação do governo planetário, o qual foi considerado como o dia
da confraternização de todos os povos, equivalente ao nosso primeiro de janeiro.
120
O PERÍODO DE CONSOLIDAÇÃO E DE MUDANÇAS
121
Quando ocorreu a grande transição, não desencarnaram somente os
repetentes. Morreu uma grande maioria deles e também um número significativo
daqueles que já nasceram graduados, ou que obtiveram as melhores notas no
exame de seleção. Da mesma forma, sobreviveram muitos daqueles que foram
aprovados e alguns que ficaram em “recuperação”, enquadrados em um artigo
especial da Lei Divina que concederia a eles o “certificado de aprovação”, caso se
esforçassem e modificassem sua maneira de pensar e de agir até o final de suas
vidas físicas. A esses espíritos foi dada a última oportunidade para assimilar os
conceitos básicos da matéria referida no início deste livro, além de contar com a
ajuda e o exemplo da maioria dos aprovados que passou a demonstrá-la e a
exemplificá-la nos atos práticos do dia-a-dia. Os alunos que ficaram em
“recuperação” tiveram anos ou décadas para assimilar essa matéria e praticá-la em
igualdade de condições com os sobreviventes. Muitos aproveitaram a oportunidade
e se livraram de repetir o curso primário em uma escola muito exigente e
desconfortável. Porém, uma parte não conseguiu, apesar de todos os exemplos e
ajudas que tiveram por quase sete décadas. Quando o processo de separação do
“joio do trigo” foi concluído, teve início um outro processo a nível espiritual, com
grandes reflexos no nível físico, o qual desencadeou uma nova era de mudanças
positivas e de grandes dádivas para todos.
No início da sétima década, com a conclusão dos desencarnes dos
alunos em “recuperação” e com o completo amadurecimento da geração nascida
após a grande transição, totalmente afinada com o padrão da nova humanidade
arretiana, foi completada a limpeza da aura planetária, tanto a nível físico, como
espiritual. Como conseqüência desse grande fato, muitas coisas novas e
maravilhosas começaram a acontecer nos dois planos. A nível físico foram
totalmente extintos os últimos insetos e répteis nocivos que ainda viviam em
algumas regiões isoladas do planeta. Com isso, as “pragas” agrícolas
desapareceram completamente, melhorando a saúde e a produtividade das hortas
e lavouras. A visão espiritual plena, que era um privilégio de poucos, passou a ser
um atributo de todos, incluindo as crianças com mais de 7 anos, completando um
processo anunciado no ano 49 por Ahelohim. Todos passaram a ter acesso total à
sua memória de vidas passadas e foi nesse período que a população identificou a
equipe do segundo governo planetário, conforme Ahelohim também havia previsto.
Essas habilidades, ou dons espirituais, tiveram um papel muito
importante na consolidação do comportamento do povo arretiano e motivou várias
mudanças, inclusive, no aspecto sexual, conforme será detalhado mais adiante.
Outra grande mudança ocorreu com relação à tecnologia. Os amigos das estrelas,
desde a época da grande transição, sempre forneceram todo o suporte necessário
à população, incluindo os únicos meios de transporte de longa distância e, apesar
de toda a dedicação que sempre demonstraram, suas naves continuaram a ser
fabricadas em seus planetas de origem e sempre foram operadas e mantidas por
eles. A partir do ano 70, eles começaram a transferir uma parte de sua avançada
tecnologia ao povo arretiano e começaram a construir as primeiras fábricas de
naves e de muitos outros bens de alta tecnologia, até então restrita a alguns itens
indispensáveis ao conforto básico da população. Naquele mesmo ano, os amigos
das estrelas começaram a construir as primeiras fábricas de componentes e as
montadoras de naves. Em paralelo, implantaram cursos de treinamento e
122
começaram a capacitar o pessoal nativo para assumir o processo produtivo, a
operação e a manutenção dessas naves.
O formato básico das naves da atualidade arretiana, suas medidas e
proporções, foi estabelecido naquela época e não sofreu alterações ao longo dos
séculos, a não ser quanto às divisões internas apropriadas a cada tipo de utilização,
ou com relação a aperfeiçoamentos, princípios de sustentação, de deslocamento e
de navegação interplanetária, pois as primeiras naves foram construídas para
operar dentro da atmosfera arretiana. Logo que a estrutura básica e o treinamento
do pessoal de produção foram concluídos, os arretianos começaram a construir
quatro tipos de naves e, como das vezes anteriores, os amigos das estrelas
supervisionaram e acompanharam todo o processo até o ponto onde os arretianos
se sentiram seguros e independentes. As quatro naves produzidas na época
correspondiam, respectivamente, aos tipos 4, 5, 6 e 7 da atualidade arretiana,
conforme está descrito no Diário da Viagem e abaixo resumido.
A maior delas media 24 metros de largura, 18 de altura, 72 de comprimento e era
voltada exclusivamente para o transporte de cargas.
O segundo tipo atendia tanto o transporte de carga como de passageiros e
media 12 metros de largura, 9 de altura e 36 de comprimento.
O terceiro media 8 metros de largura, 6 de altura, 24 de comprimento e era
voltado para o transporte de passageiros.
O último tipo media 2 metros de largura, 1,50 metros de altura e 6 metros de
comprimento. Essa pequena nave podia transportar até doze pessoas
confortavelmente sentadas, ou até 3 toneladas de carga. Pela sua versatilidade,
foi largamente utilizada como ambulância, transporte de passageiros e como
veículo de deslocamento dos membros do governo planetário, dentre várias
outra aplicações.
Até o final do ano 75 os arretianos construíram as naves necessárias e já
operavam toda a rede de transportes de cargas do planeta e, nos dois anos
seguintes, assumiram todo o transporte de passageiros, incluindo novas linhas
regulares para inúmeros novos locais de lazer que construíram. Com isso, os
arretianos começaram a realizar viagens turísticas aos mais diversos recantos do
planeta durante suas férias anuais. A partir do ano 70 foi dada alta prioridade para a
construção de novas cidades agrícolas e industriais nos continentes polares, os
quais ainda apresentavam uma densidade demográfica inferior à dos demais
continentes. Apesar de ainda distantes dos padrões da atualidade, essas cidades
foram construídas obedecendo a novos conceitos urbanos, em termos de espaços
públicos e privados, arruamento, ajardinamento e áreas de lazer. Até então, as
cidades ainda obedeciam ao mesmo projeto dos primeiros núcleos de trabalho
comunitário, especialmente, com relação à cozinha sem fogão e ao restaurante
coletivo.
Nas novas cidades, as residências passaram a contar com cozinhas
completas e funcionais, além de vários outros itens que aumentaram o conforto e a
qualidade de vida dos seus habitantes. Essas modificações partiram dos anseios da
população e foram, gradativamente, se estendendo a todos ao longo do tempo. A
população entendia que a melhoria no nível de conforto oferecido inicialmente a
alguns, seria um direito de todos no futuro. Também entendia que, se um novo
123
processo não fosse iniciado, todos continuariam na mesma situação. Além disso,
não era mais necessária a manutenção dos restaurantes coletivos, por duas razões
básicas.
Não havia mais necessidade de economizar alimentos ou mão-de-obra, pois a
produção aumentava constantemente, enquanto a carga de trabalho diminuía.
Também não havia mais necessidade da refeição coletiva como forma de
incentivar a convivência harmoniosa, pois o ideal de fraternidade já era uma
conquista de todos.
Essas novas cidades contavam com um centro de lazer e um grande
parque, como os parques do encontro existentes em todas as atuais cidades
arretianas. Os balneários e outros locais de lazer não urbanos, para uso nos fins de
semana e nas férias anuais, começaram a ser estruturados e construídos durante
esse período, como uma das conseqüências da nova estrutura de transportes de
passageiros. Durante os 20 anos seguintes, a estrutura do planeta passou por
grandes transformações positivas e todos os arretianos experimentaram uma nova
fase de grandes progressos em todas as áreas. A transição planetária tornou-se um
acontecimento histórico que passou a ser lembrado como uma benção divina que
motivou a transformação do planeta e o novo modo de vida do povo arretiano.
Thauro faleceu na metade do ano 96, depois de realizar um grandioso
trabalho desde os primeiros meses do seu governo. Ele, seus ministros e demais
colaboradores, seguiram à risca as palavras de Ahelohim e fizeram tudo o que foi
possível para incrementar a irmandade planetária e melhorar a qualidade de vida da
população. Não mediram esforços, fizeram enormes sacrifícios individuais e
exerceram seus mandatos por amor ao Pai Celestial e a seus irmãos de todos os
recantos do planeta, iniciando um processo que foi seguido e aprimorado pelos
demais governantes ao longo dos séculos. No início do ano 90, Thauro convidou
Hórhium e sua equipe principal para trabalhar com ele e seus ministros, dando
início a outro costume que foi seguido por todos os demais governantes. Desde os
20 anos anteriores, todos os arretianos sabiam que Hórhium seria o novo
governante e que ele era uma nova manifestação de Olintho, cuja figura singular
nunca foi esquecida pela população.
Thauro, que o tinha como mestre e como o exemplo que sempre seguiu,
foi obrigado a inverter os papéis durante os anos que o teve como colaborador e
dedicado discípulo, como Hórhium sempre fazia questão de frisar e de se colocar.
Thauro morreu tranqüilo e feliz, tanto pela consciência do dever cumprido, como por
saber quem era o seu substituto. Foi assim que a nova equipe de governo,
anunciada por Ahelohim, em meados do ano 49, deu continuidade aos trabalhos em
andamento e realizaram muitos outros. Hórhium era o mais velho de sua equipe de
ministros, pois estava com 61 anos, com a aparência de 40. Ele viveu 142 anos e
governou Arret durante quase 81, pois seu governo foi iniciado na metade do ano
96 e se estendeu até o final do ano 176. Naquela época, a idade média da
população já passava dos 120 e muitas pessoas viviam 130 anos ou mais, com
perfeita saúde e disposição. Essa longevidade decorria de uma alimentação
equilibrada e de excelente qualidade, do tipo de vida que levavam, bastante ativa e
feliz, além da avançada medicina transmitida pelos espaciais, que já atuava no
corpo vital e tinha um caráter eminentemente preventivo.
124
Além de dar continuidade aos trabalhos de Thauro, Hórhium utilizou os
três anos e meio que fechavam o primeiro século, para efetuar um novo e grande
levantamento de dados e planejar as atividades do seu governo. Como parte das
comemorações do primeiro centenário da grande transição ele e sua equipe
ofereceram ao povo uma nova versão da constituição planetária, editada no final do
ano 36. Como seu conteúdo permaneceu inalterado durante mais de 60 anos,
estava necessitando de uma revisão, pois a sociedade planetária passou por
profundas alterações durante esse período e muitos dos temas que tratava foram
definidos para acomodar situações particulares de alguns povos da época. A nova
versão foi substancialmente reduzida e escrita em linguagem simples e direta,
tornando ainda mais claros os principais postulados da Lei Divina. Ele continuou
titulado como “A Lei de Deus” e manteve o seu poder de resolver todos os
problemas e situações que envolviam a comunidade planetária. Esse extraordinário
livro, que também era a Bíblia que todos seguiam, sofreu pequenas alterações ao
longo dos séculos e permaneceu como livro de cabeceira do povo arretiano, lido
entendido e praticado por todos os habitantes com mais de 7 anos.
127
Hierarquia Espiritual Arretiana que estabeleceu um limite máximo de 14 bilhões de
habitantes para o planeta e um número ideal entre 12 e 13 bilhões.
Em decorrência desse fato, o governo realizou um novo projeto de
planejamento urbano e estabeleceu novos padrões quanto ao tamanho e estrutura
física das cidades agrícolas e industriais, incluindo os formatos e plantas das
residências e das edificações e equipamentos púbicos, como supermercados,
teatros, hospitais, parques e áreas de lazer urbanas. Também padronizou os tipos
de materiais básicos e de acabamento a serem utilizados, os quais permaneceram
estáveis ao longo dos séculos e são os mesmos que vigoram na atualidade do
planeta. De maneira semelhante ao que aconteceu no ano 70, a estratégia utilizada
para agilizar a transferência da população para as novas cidades, foi a de construí-
las em outros locais e transferir a população de 2 ou mais cidades antigas, pois
muitas das novas tinham capacidade para abrigar entre 12 e 18 mil habitantes,
representando o dobro ou o triplo da média daquelas estão existentes. Algumas
cidades voltadas para atividades industriais foram planejadas para abrigar uma
população maior, enquanto outras, dedicadas à agricultura extrativista, abrigavam
um número menor.
Até o ano 300, toda a população já morava nessas novas cidades, em
residências iguais ao padrão da atualidade, incluindo a piscina comunitária para as
quatro famílias que formavam uma quadra residencial. As cozinhas já contavam
com conservadores de alimentos e não tinham fogões, pois todos os produtos não
consumidos ao natural eram pré-cozidos e facilitavam o trabalho de preparação das
refeições. Os itens do mobiliário básico também foram modificados, mas ainda
estavam longe do padrão tecnológico da atualidade. Eram semelhantes aos bons e
confortáveis modelos terrestres vigentes no final do século 20. O sistema público de
transporte de passageiros e de cargas era muito eficiente, atendia todas as
necessidades da população e continuava operando com os mesmos tipos e
modelos de naves construídas após o ano 70.
Além disso, os habitantes passaram a contar com cabines de
teletransporte instaladas no ambiente da piscina comunitária, nos locais de
trabalho, nas escolas, hospitais e áreas de lazer, dentre outros locais públicos.
Essas cabines provocaram uma revolução nos meios de transporte e possibilitou
uma grande mobilidade e rapidez nos deslocamentos da população, pois qualquer
habitante podia ser teletransportado para qualquer local do planeta em menos de
30 segundos. O vestuário sofreu uma nova padronização e assemelhou-se ao
padrão vigente na atualidade do planeta, diferindo apenas quanto à tecnologia,
conforto térmico e resistência das fibras e tecidos que foram desenvolvidos nos
séculos seguintes. O terceiro século foi marcado pelo estabelecimento de novos
padrões que abarcaram todos os itens, materiais e equipamentos.
Para suportar a implantação do grande conjunto de mudanças ocorridas
naquele período, o horário de trabalho continuou sendo de 8 horas diárias, com dois
dias de descanso semanal e dois meses de férias anuais. Foi somente nos anos
finais daquele século que as férias anuais passaram para 3 meses, com quatro de
trabalho e um de descanso. A expectativa de vida média da população já chegava
aos 150 anos e todos eram conscientes do momento do retorno ao plano espiritual
e, como na atualidade arretiana, comandavam esse processo com bastante
naturalidade. Os compromisso familiares eram estabelecidos antes do nascimento e
128
as crianças eram consideradas como filhos de todos. O relacionamento amoroso
incluía o entrelaçamento energético, nos mesmos moldes da atualidade arretiana,
conforme está descrito no Diário da Viagem.
O século compreendido entre os anos 301 e 400 transcorreu sem
grandes novidades e a população se estabilizou perto de 11 bilhões de habitantes.
Aquele período foi caracterizado por uma grande estabilidade em todas as áreas e
por um grande incremento das atividades de lazer, cujo sistema passou a ser o
mais importante de todos. O lazer não era mais visto como uma forma de diversão
pura e simples, mas como meio de expansão dos relacionamentos e da irmandade
planetária, a nova tônica evolutiva da humanidade arretiana. Durante aquele século
houve um grande incremento nos relacionamentos entre os diversos povos, tanto
em função da expansão dos centros de lazer, como pelas facilidades de locomoção
geradas pelo sistema de transportes públicos e pelas cabines de teletransporte
instaladas em todas as residências nas duas primeiras décadas iniciais daquele
século e adquiridas através de horas extras. Elas ainda não faziam diagnósticos e
não estavam integradas ao sistema de saúde.
Em função da crescente disponibilidade de mão-de-obra ocorrida nos
anos seguintes, o governo planetário resolveu agilizar um trabalho que vinha sendo
lentamente realizado ao longo dos dois séculos anteriores, com o objetivo de
recuperar e reflorestar com espécies nativas originais, as áreas onde se
localizavam as grandes cidades e megalópoles existentes antes da grande
transição. De maneira geral, essas áreas estavam cobertas por uma vegetação
constituída por capins, árvores e arbustos de pequeno ou médio porte, formando
um bioma semelhante ao do Cerrado brasileiro. Também adotaram idênticas
providências em todas as áreas desérticas ou desmatadas no passado e com os
leitos de antigas estradas e acessos implantados antes e após a grande transição.
Juntamente com a recuperação dessas áreas, começaram a reestruturar os antigos
centros de lazer e a implantar outros dentro dos mesmos padrões da atualidade.
O sistema educacional foi reestruturado por volta do ano 350, quando
foram criados os grandes centros de ensino e pesquisa avançada existentes na
atualidade. Com isso a população atingiu um alto nível de escolaridade e um
grande número de arretianos começou a complementar seus estudos de terceiro
grau com cursos de especialização em planetas mais avançados. Nas duas
décadas finais daquele século, os arretianos já projetavam, construíam e operavam
seis dos sete tipos de naves existentes na atualidade. Elas ainda não construíam
naves para deslocamentos a outras estrelas, mas já visitavam todos os planetas do
seu sistema estelar e a mantinham colônias de estudos e pesquisas na maior de
suas três luas. No final daquele século as férias anuais chegavam a 4 meses, com
um mês de descanso a cada dois de trabalho e uma jornada de 8 horas diárias.
Entre os anos 401 e 500 houve um novo surto de desenvolvimento
tecnológico e industrial que beneficiou toda a comunidade planetária.
Desenvolveram uma infinidade de bens e produtos que substituíram seus similares
anteriores, além de várias novidades que passaram a integrar a lista de produtos
distribuídos gratuitamente, e outros para aquisição com trabalhos extras. Até a
metade daquele século, todas as naves passaram a contar com novos sistemas de
sustentação, deslocamento, navegação e proteção por campos de forças,
semelhantes ao da atualidade. A partir do ano 450, começaram a construir as
129
grandes naves do tipo 1 da atualidade arretiana, com 1.368 metros de
comprimento, 456 de largura e 342 de altura, destinadas a viagens pela Via Láctea,
iniciando a fase de contatos e apoio a outros povos. Com isso, passaram a integrar
o comando galáctico, em igualdade de condições com os espaciais que os
socorreram no passado. No mesmo período, começaram a construir duas outras
naves menores para viagens exploratórias e turísticas a planetas da nossa região
galáctica. A do tipo 2 tinha 456 metros de comprimento, 152 de largura e 114 de
altura. A do tipo 3 apresentava um comprimento de 144 metros, 48 de largura e 36
de altura. Com isso passaram a contar com os mesmos sete tipos de naves
existentes na atualidade do planeta.
No final daquele século, Arret apresentava um desenvolvimento
tecnológico semelhante ao da atualidade, diferindo apenas com relação a detalhes
e aperfeiçoamentos introduzidos posteriormente. Já havia veículos individuais para
todos os pretendentes, assim como, telões, computadores de alta capacidade e
telefones móveis integrados a uma nova rede de satélites administrados pela CIA, a
Central de Informações de Arret, que já atuava nos moldes da atualidade. As
cabines de teletransporte já faziam diagnósticos médicos e todas estavam
integradas a um eficiente e preventivo sistema de saúde. Com isso, as pessoas
viviam e trabalhavam com vigor juvenil até os 180 anos, pois desde a grande
transição a prática da aposentadoria foi abolida em todo o planeta. Todos passaram
a considerar o trabalho como uma atividade de lazer e queriam contribuir com suas
obrigações sociais enquanto vivessem e fossem úteis à sociedade planetária.
Com o aumento da expectativa de vida, a população teve um pequeno
incremento e chegou a ultrapassar a casa dos 11,5 bilhões de habitantes. As
opções de lazer nos fins de semana e nos períodos de férias foram ampliadas com
a construção de novos balneários marítimos e fluviais, além de núcleos turísticos
em áreas montanhosas e florestais. Também continuaram recuperando as áreas
degradadas e em muitas delas foram implantadas novas áreas de lazer. O horário
de trabalho diário e as férias anuais continuaram no mesmo padrão do século
anterior.
O período compreendido entre os anos 501 e 600 foi marcado por um
certo grau de estabilidade dos diversos sistemas planetários e pelo grande
incremento das viagens diplomáticas, de turismo e de intercâmbio com os povos
dos planetas que os socorreram no passado e a outros membros da confederação
galáctica. As embaixadas desses povos em Agartha e as contrapartidas em seus
planetas de origem já chegavam a 112, sendo 96 delas referentes aos povos que
participaram das operações anteriores e posteriores à grande transição. Por volta
do ano 510, os arretianos e suas naves começaram a participar de operações em
planetas que estavam prestes a passar ou que passaram pela sua grande
transição, quando tiveram a oportunidade de prestar o mesmo tipo de apoio que
receberam no passado.
Durante aquele século os arretianos embelezaram os centros de lazer já
existentes e construíram outros, cujos tipos até então não existiam, como as
colônias submarinas e as estações orbitais, dentro dos mesmos padrões da
atualidade. Como exemplo de embelezamento de balneários marítimos e fluviais,
introduziram equipamentos de iluminação aquática para permitir mergulhos e
observações noturnas. Por volta do ano 550, o mobiliário doméstico chegou ao
130
padrão da atualidade, incluindo as camas especiais que proporcionaram um grande
conforto durante o período de descanso do corpo. A maiorias das pequenas e
médias áreas degradadas já estavam recuperadas e os vestígios das grandes
cidades do passado tinham desaparecido completamente. O horário de trabalho
continuava sendo de oito horas diárias e o período de férias já era de 6 meses por
ano, sendo um de trabalho e um de descanso.
O século seguinte, iniciado no ano 601, foi marcado por um novo
processo de racionalização da produção, simplificação e aperfeiçoamento de um
grande conjunto de itens, com o objetivo de simplificar o seu conjunto e também
melhorar o nível de qualidade de vida de uma população que havia retomado seu
nível de crescimento e já ultrapassava a casa do 12 bilhões de habitantes. Em meio
ao planejamento do novo processo, um novo governante assumiu a gestão do
planeta no ano 642 e realizou um grandioso trabalho nas décadas seguintes. Esse
governante chamava-se Arcthuro e ainda era o presidente do governo planetário no
ano 722, correspondente a 1.999 do tempo da Terra e ao ano em que foi realizado
o levantamento de dados sobre o modo de vida do povo arretiano.
Para atingir o nível de produtividade, de modernidade e o elevado
padrão de vida da atualidade arretiana, Arcthuro e sua equipe realizaram uma
completa reformulação do sistema industrial, introduzindo novas máquinas e
equipamentos de alta tecnologia e elevado grau de robotização. Em maior ou
menor grau, todos os demais sistemas passaram por algum tipo de reformulação e
todos eles foram otimizados e aperfeiçoados, de maneira a manter o equilíbrio e a
harmonia do macrosistema planetário. Durante os 80 anos que já estava à frente do
governo planetário, Arcthuro transformou a vida arretiana no padrão descrito
resumidamente no Diário da Viagem e reduziu a carga de trabalho para 6 horas
diárias sem alterar o direito a 6 meses de férias anuais. Os resultados desse
grandioso trabalho constituem o terceiro volume que apresenta a atualidade
arretiana a partir de uma visão sistêmica bastante detalhada. Ele apresenta uma
visão geral do macrosistema planetário e descrições pormenorizadas de cada uma
dos seus doze sistemas institucionais, como o educacional, o de saúde e o de lazer,
além de descrever alguns sistemas não institucionais, como o familiar e o religioso.
Obrigado por ler este livro. Se gostou, esperamos que se junte aos
sonhadores e sonhadoras que propagam um ideal de vida semelhante ao arretiano.
Com isso ajudaremos a materializar o sonho representado pela vida, pela obra,
pelas palavras e pelo exemplo de Jesus.
Apesar dos direitos autorais deste livro estar devidamente protegido e
registrado na Fundação Biblioteca Nacional, conforme dados na página dois deste
livro, você pode ceder cópias a seus amigos e amigas, pois nosso maior desejo é
divulgar a mensagem nele contida.
BIOGRAFIA DO AUTOR
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J. A. Dal Col, batizado como José Aparecido Dal Col, nasceu em 23 de
Dezembro de 1948, às 15:13 hs em uma fazenda na cidade de Guarantã – SP.
Começou a trabalhar ainda jovem em várias atividades e empresas e, em 1967, já
morando na cidade de São Paulo, ingressou na antiga Companhia Telefônica
Brasileira, onde atuou como escriturário, encarregado, chefe de seção e analista de
sistemas. Casou-se em 1973 com Solange, com quem teve três filhos e adotou
outros dois.
Em 1978, graduou-se em administração com especialização em análise
de sistemas. De 1974 até 1988, desempenhou diversas funções de direção nas
áreas de sistemas da Manah, Votorantim, Prodam e bancos estrangeiros, como o
First Chicago e BNL. Em fins de 1988 montou sua empresa de consultoria na área
de sistemas e, em setembro de 1992 mudou-se para Alto Paraíso de Goiás, onde
montou um supermercado e adquiriu uma propriedade rural, o Santuário Vale
Dourado, uma área de 658 hectares, com muitas cachoeiras, rios e outras belezas
naturais.
Em 1999, depois de registrar a grande aventura arretiana, mudou-se com
sua esposa Solange para o Santuário Vale Dourado onde passaram a viver em
estreito contato com a natureza, obtendo a sustentabilidade através do Ecoturismo.
Em 2008, tendo como inspiração o modo de vida do povo arretiano, descrito neste
livro e em ARRET – O Diário da Viagem, definiram um projeto de Ecovila e
começaram a compartilhar o local com outras pessoas interessadas em praticar um
novo modo de vida em harmonia com a natureza e um novo estilo de convívio
social baseado na cooperação e no respeito à individualidade.
Novas pessoas estão se interessando, ajudando, ou se integrando ao
projeto da Ecovila como Sócio(a) Cotista e ela está se desenvolvendo conforme o
planejado.
Para outras informações acesse o site www.ecovilavaledourado.com
que detalha o projeto de ecoturismo e apresenta outras informações sobre a
Ecovila, incluindo o download de um folder eletrônico com detalhes da filosofia, do
projeto geral da Ecovila e como dela participar como Sócio(a) Cotista.
No site acima, caso você inda não o tenha lido, poderá fazer o download
gratuito de ARRET – O Diário da Viagem e de duas propostas referentes à Reforma
Política e à Reforma Agrária. Se quiser, também pode entrar em contato conosco
pelo e-mail ecovilavaledourado@gmail.com.
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