You are on page 1of 31

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE INHUMAS


CURSO REGULAR DE PEDAGOGIA

JULIANA FERREIRA ROQUE

O DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL E
SUA INFLUÊNCIA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR DA CRIANÇA

Inhumas
2008
2

JULIANA FERREIRA ROQUE

O DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL E
SUA INFLUÊNCIA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR DA CRIANÇA

Monografia apresentada como exigência final do


curso de licenciatura em Pedagogia, obrigatório
para a obtenção do título de Pedagoga
graduada, pela Universidade Estadual de Goiás
– UEG – unidade universitária de Inhumas, sob a
orientação do Prof. Ms. Osvaldo José Sobral.
.

Inhumas
2008
3

JULIANA FERREIRA ROQUE

O DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL E
SUA INFLUÊNCIA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR DA CRIANÇA

Monografia apresentada no Curso Regular de Pedagogia da Unidade


Universitária de Inhumas da Universidade Estadual de Goiás, para a obtenção do
grau de licenciada em Pedagogia, aprovada em ______ de ______ de _______,
pela Banca Examinadora constituída pelos seguintes professores:

_______________________________________
Prof. Ms. Osvaldo José Sobral - UEG
Presidente da Banca

________________________________________
Profª. Esp. Márcia Aparecida da Silva Meneses
4

Dedico este trabalho à


minha mãe, ao meu pai, ao meu
irmão, e ao meu avô, que sempre me
apoiaram em incentivaram a lutar
pelos meus sonhos.
5

Agradeço primeiramente a
Deus que me deu força e coragem
para lutar e correr atrás dos meus
sonhos, proporcionando tantas
alegrias e oportunidades.
À minha família que sempre
me apóia e incentiva em todas as
minhas escolhas.
As minhas amigas
Cleidiane, Huliana e Larissa que tanto
me ajudaram e torceram pelo meu
sucesso.
E, ao meu professor
orientador Osvaldo José Sobral, pela
dedicação, orientação e amizade.
6

“O progresso como o andar consegue-se


perdendo e ganhando o equilíbrio. É uma série
de erros. De erro em erro descobre-se toda a
verdade. [...] O falso é às vezes a verdade de
cabeça para baixo”. (Fala extraída do filme
Freud – Além da Alma (1962), com roteiro de
Wolfgang Reinhardt e Charles A. Kaufman).
7

RESUMO

ROQUE, Juliana Ferreira. O Desenvolvimento Psicossexual e sua Influência


na Educação Escolar da Criança. Monografia (Licenciatura em Pedagogia) –
Inhumas: Curso Regular de Pedagogia, Universidade Estadual de Goiás, 2008.
30f.

Este trabalho de conclusão de curso apresenta um estudo sobre a história pessoal de


Sigmund Freud e sua relação com a Educação. A monografia buscou investigar as possíveis
contribuições da teoria psicanalítica para a educação escolar. Os objetivos principais foram:
conhecer a vida e a obra de Freud, em especial, a criação da Psicanálise; identificar as fases do
desenvolvimento psicossexual e suas repercussões na personalidade, segundo a teoria
psicanalítica; e as manifestações dessas etapas sobre a aprendizagem escolar da criança. Para
tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica que se apropriou das obras de autores como
D’Andréa (1997), Kupfer (2001), Fadiman e Frager (1986), Hall e Lindzey (1984), dentre outros.
Finalmente, é possível considerar que Sigmund Freud através de seus estudos sobre a
sexualidade infantil, trouxe contribuições positivas para a educação.

Palavras-chave: Aprendizagem – Criança – Desenvolvimento – Educação – Psicanálise –


Sexualidade Infantil.
8

ABSTRACT

ROQUE, Juliana Ferreira. The psychosexual development and its influence


in Elementary Education of the Child. Paperwork (Master of Pedagogy) -
Inhumas: Regular Course of Pedagogy, University of Goiás, 2008. 30f.

This work of conclusion of course presents a study on the personal history of Sigmund
Freud and its relationship to education. The paper sought to investigate the possible contributions
of psychoanalytic theory for school education. Its main objectives were: to know the life and works
of Freud, in particular, the creation of Psychoanalysis, identifying the stages of psychosexual
development and its impact on personality, according to psychoanalytic theory, and the
manifestations of these steps on the learning of school children. For both, was performed a
literature search that was appropriated works of authors such as D'Andrea (1997), Kupfer (2001),
Fadiman and Fraga (1986), Hall and LINDZEY (1984), among others. Finally, you can consider
that Sigmund Freud through his studies on child sexuality, brought positive contributions to
education.

Key words: Learning - Children - Development - Education - Psychoanalysis - Child Sexuality.


9

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CC - Complexo de Castração
CE - Complexo de Édipo
EF - Ensino Fundamental
EI - Educação Infantil
PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais
10

SUMÁRIO

RESUMO...............................................................................................................06

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS.................................................................08

INTRODUÇÃO.......................................................................................................10

CAPÍTULO I

1. SIGMUND FREUD E A PSICANÁLISE.............................................................12

CAPÍTULO II

2. AS FASES PSICOSSEXUAIS DO DESENVOLVIMENTO DA


PERSONALIDADE.............................................................................................18

CAPÍTULO III

3. FREUD E A EDUCAÇÃO..................................................................................23

CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................29

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................30


11

INTRODUÇÃO

Ao se constatar as dificuldades encontradas pelos professores da


Educação Infantil (EI) e dos anos iniciais do Ensino Fundamental (EF), quando se
vêem frente a situações envolvendo a sexualidade infantil, buscou-se
compreender a sexualidade infantil apartir do entendimento da teoria psicanalítica
de Sigmund Freud.
Sigmund Freud foi um teórico que muito se destacou, pois foi o criador
da psicanálise e dedicou anos de estudos ao desenvolvimento psicológico do ser
humano. Para Freud a sexualidade ocorre desde o nascimento da criança. Em
sua teoria Freud explica que as experiências corporais vivenciadas pela criança
no início e no decorrer de sua vida são importantes para o desenvolvimento da
personalidade humana. Além disso, desenvolve o conceito de libido, como
energia dos instintos sexuais, descrevendo cinco fases do desenvolvimento do
psicossexual humano: oral, anal, fálica, de latência, e genital.
Espera-se que com o estudo da sexualidade, através da teoria de
Freud, trazer contribuições teóricas para o professor que possa fundamentar sua
prática pedagógica, auxiliando-o a formar sujeitos capazes de se desenvolver
como cidadãos, nos planos intelectual, físico, emocional e, também, sexual. Pois,
quanto evolui, o indivíduo se torna mais complexo e feliz.
Para Freud, a mola propulsora do desenvolvimento intelectual é sexual,
ou seja, a matéria que se alimenta a inteligência em seu trabalho investigativo é
sexual. Portanto, a criança não aprende sozinha. É preciso que haja um professor
para que o aprendizado se realize.
Enquanto os pais e a própria escola sentem medo de tratar de forma
espontânea e saudável os assuntos sobre a sexualidade, agindo como se as
crianças fossem seres assexuados, os meios de comunicação, em especial a TV,
lança modelos de comportamentos, os quais na maioria das vezes são
exagerados, expondo de forma agressiva a sexualidade do indivíduo.
Nesse intento, recorreu-se à pesquisa bibliográfica, que procurou na
obra de autores como Fadiman e Frager (1986), Hall e Lindzey (1984), D’Andrea
12

(2001), Bock, Furtado e Teixeira (2002), Kupfer (2001), dentre outros, analisar o
tema proposto. Para tanto, esta monografia foi discutida no formato de três
capítulos, conforme segue:

I. C
apítulo, fará uma breve discussão a respeito da vida e a obra de Freud, em
especial, a criação da Psicanálise;

II. C
apítulo, pretende relacionar as fases do desenvolvimento psicossexual,
considerado de suma importância no desenvolvimento da criança;

III. C
apítulo, apresenta as manifestações das etapas do desenvolvimento humano
na aprendizagem escolar, fazendo uma relação entre a psicanálise e a
educação, propondo uma reflexão aos professores a respeito de suas práticas
pedagógicas.
13

CAPÍTULO 1

SIGMUND FREUD E A PSICANÁLISE

Sigmund Freud nasceu no dia 6 de maio de 1856 em Freiberg na


Morávia (Tchecoslováquia). Os seus pais eram judeus. Quando tinha quatro anos
toda família mudou-se para Viena, onde Freud viveu quase todo resto de sua
vida. Somente saiu de Viena aos 82 anos, para morar em Londres, onde morreu,
em 23 de setembro de 1939, em conseqüência de um câncer na boca. (KUPFER,
2001, p.16).
Freud era o filho mais velho dos oitos filhos nascidos do segundo
casamento de seu pai. Era o filho mais querido de sua mãe, e desde cedo seus
pais esperavam que ele se tornasse um grande homem. Durante sua infância foi
um excelente aluno, apesar da limitada posição financeira de sua família. No
ginásio continuou seu excelente desempenho acadêmico. “Fui o primeiro de minha
turma durante sete anos e desfrutava ali de privilégios especiais, e quase nunca tive
de ser examinado em aula” (FREUD, 1925 apud FADIMAM; FRAGER, 1986, p. 3).
Em 1873 Freud decide entrar na Faculdade de Medicina da
Universidade de Viena, onde foi tratado como inferior e estranho por ser judeu,
porém isso fortaleceu sua capacidade de suportar críticas. Foi estudante de
Medicina durante oito anos, três a mais que o habitual, e especializou-se em
Psiquiatria. Trabalhou algum tempo em um laboratório de Fisiologia do Dr. Ernst
Brucke, um mestre venerado, que lhe inspirava respeito, e que o aconselhou a
abandonar a sua carreira de pesquisador, já que Freud precisava ganhar dinheiro
(FADIMAM; FRAGER, 1986, p. 3).
Saindo do laboratório, ingressou como aspirante no Hospital Geral de
Viena, onde trabalhou em várias especialidades, como era de costume entre os
médicos de início de carreira. Freud destaca a sala de Meynert, um especialista
em anatomia do cérebro. Contudo, as relações com Meynert foram cortadas
quando Freud começou, anos depois, a expor idéias contrárias àquelas em
vigência na Neuropatologia, ao afirmar, por exemplo, que a histeria não era um
mal exclusivamente feminino. (KUPFER, 2001, p. 24).
14

Freud fez algumas pesquisas com a cocaína, de início ficou


impressionado com suas propriedades, e experimentou várias vezes o seu efeito
que impede a fome, o sono, o cansaço e robustece o esforço intelectual. Ele
escreveu a respeito de seus possíveis usos para os distúrbios, tanto físicos como
mentais. Por pouco tempo foi um defensor do uso terapêutico da cocaína, mas ao
descobrir suas propriedades viciantes abandonou a pesquisa (FADIMAM;
FRAGER, 1986, p. 4).
Com apoio de Brucke, Freud obteve uma bolsa e foi para Paris
trabalhar com o francês Jean-Martin Charcot (1825-1893), um respeitado
psiquiatra que estudava a histeria e demonstrou que era possível induzir ou aliviar
sintomas histéricos com sugestão hipnótica, rompendo com o princípio de que o
pensamento e a consciência são os mesmos. Ele provou que a mente pode
pensar durante o sono, através da hipnose. Freud percebeu com as experiências
vividas, que a histeria era uma doença psíquica cuja gênese requeria uma
explicação psicológica. Esse trabalho aumentou o interesse de Freud pela
hipnose como instrumento terapêutico (FADIMAM; FRAGER, 1986, p. 4).
Freud volta para Viena e, com a cooperação do célebre e
experimentado médico austríaco Joseph Robert Breuer (1842-1925), descobre
que os sintomas de pacientes histéricos baseiam-se em cenas do seu passado,
que lhes causaram grande impressão, mas foram esquecidas. Tais “traumas”
requeriam o tratamento através da hipnose, que consistia em fazer os pacientes
se lembrarem e reproduzirem essas experiências. Depois de algumas
experiências que realizou, Freud achou que a hipnose não era tão efetiva quanto
esperava e, então, a abandona por completo e passa a encorajar seus pacientes
a falarem o que quer que pensassem, independente de seus sintomas (KUPFER,
2001, p. 26)
Freud e Breuer durante anos compartilharam interesses científicos e
escreveram uma obra conjunta, os Estudos Sobre a Histeria (1895). Entretanto,
Freud acreditava que a origem e a causa da histeria eram de natureza sexual e
Breuer não concordava. Sendo assim os dois foram se distanciando, até não ter
como manter a amizade por causa das desavenças teóricas (KUPFER, 2001, p.
26).
15

Em 1886, Freud abre seu consultório particular e casa-se com Martha


Bernays, de quem estava noivo há quatro anos, e com quem teve seis filhos –
Mathilde, 1887; Jean-Martin, 1889; Olivier, 1891; Ernst, 1892; Sophie, 1893;
Anna, 1895. Um deles, Martin Freud, escreveu uma memória intitulada Freud:
Homem e Pai, na qual descreve o pai como um homem reservado, porém,
amável, que trabalhava excessivamente por longas horas, mas que adorava ficar
com suas crianças durante as férias de verão. E, Anna Freud (1895-1982), que
seguiu a vocação do pai, e foi, também, uma psicanalista destacada,
particularmente no campo do estudo e tratamento de distúrbios emocionais
infantis e do desenvolvimento psicológico, tendo publicado as obras O Ego e os
Mecanismos de Defesa (1937) e Crianças em Família (1943).
Assim Freud desejava criar algo novo, gerar novos conhecimentos.
Para tanto, sabia que era necessário ocupar a posição de mestre de si mesmo,
porém, alguma coisa de natureza inconsciente, como a própria psicanálise
explica, o impedia. Esse impedimento era a relação com o seu pai. E, para
superar esse obstáculo Freud precisava de um analista e o encontrou na figura de
um novo mestre, o doutor Wilhelm Fliess que na realidade era um
otorrinolaringologista, que estava interessado em descobrir a relação entre certas
doenças e a sexualidade. (KUPFER, 2001, p. 26)
Fliess e Freud mantinham correspondência diária sobre idéias e
reflexões científicas. Com o tempo Freud passou a escrever cartas nas quais se
dedica a anotar e analisar seus próprios sonhos, remetendo-o à sua própria
infância, o que o auxiliou a determinar as raízes de suas próprias neuroses. Com
esta auto-análise Freud chega à conclusão de que os seus problemas eram
devidos a uma atração por sua mãe e a uma hostilidade ao seu pai, o Complexo
de Édipo, que se tornou o coração de sua teoria sobre a origem da neurose. Com
a superação de seus problemas, Freud pôde entender a relação entre seus
mestres e seu pai, admitindo para si, que ser o mestre de si mesmo não
significava ocupar o lugar do pai junto à sua mãe. Em uma de suas cartas
endereçadas a Fliess, em 20 de outubro de 1895, Freud descreve o seguinte:

Uma noite da semana passada, enquanto trabalhava com afinco,


atormentado com, exatamente a quantidade de dor que parece ser o
melhor estado para fazer meu cérebro funcionar, as barreiras levantaram-
16

se de súbito, o véu afastou-se e eu tive uma visão clara desde os detalhes


das neuroses até as condições que tornavam possível a consciência.
Tudo parecia ligar-se, o todo funcionava bem em conjunto, ter-se-ia a
impressão de que a coisa era de fato uma máquina e logo andaria por si
só... tudo isso estava perfeitamente claro e ainda está. Eu, é natural, não
sei como conter meu prazer. (FADIMAM; FRAGER, 1986, p. 6).

Com a superação de seus problemas, Freud passou a trabalhar


sozinho, desenvolvendo idéias que fundamentariam sua teoria psicanalítica e que
culminaram na publicação de sua primeira obra A Interpretação dos Sonhos
(1900), considerada por muitos o seu mais importante trabalho. Outros livros e
artigos de Freud logo chamaram a atenção de médicos e cientistas do mundo
inteiro e não demorou muito para que Freud ficasse rodeado de discípulos de
vários países. Entre estes discípulos estavam o inglês Alfred Ernest Jones, o
suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), o austríaco Alfred Adler (1870-1937), o
húngaro Sándor Ferenczi (1873-1933), o austríaco Otto Rank e o alemão Karl
Abraham, que possibilitaram a expansão do movimento psicanalítico (FADIMAM;
FRAGER, 1986, p. 5).
Freud passou a sua vida desenvolvendo e ampliando a psicanálise.
Para defender e controlar o movimento psicanalítico expulsou membros que
discordavam de suas opiniões e exigindo lealdade a sua própria posição. Alguns
discípulos abandonaram o grupo depois de algumas divergências teóricas com
Freud, que se sentia ameaçado por acreditar que com a introdução de novas
idéias estaria desvirtuando a psicanálise. (FADIMAM; FRAGER, 1986, p. 5)
À medida que o trabalho de Freud tornava-se mais acessível, as criticas
aumentavam. Pois ele foi uma figura que despertou em seus discípulos o mais
profundo fascínio (FADIMAM; FRAGER, 1986, p. 6).
Para Freud, em suas primeiras elaborações teóricas sobre o psiquismo,
a mente humana apresentava: o consciente, que é o sistema do aparelho
psíquico que recebe ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e as do
mundo interior; o pré-consciente, onde permanecem aqueles conteúdos
acessíveis à consciência, que mesmo não estando na consciência, neste
momento, podem estar no momento seguinte; e o inconsciente, que exprime o
“conjunto dos conteúdos não presentes no campo atual da consciência”
(LAPLANCHE; PONTALIS apud BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2002, p. 73), e é
17

constituído por conteúdos reprimidos, isto é, foram para o inconsciente.


Concepção que viria a ser modificada posteriormente.
Em suas pesquisas na clínica psiquiátrica, a respeito do que causava e
de como funcionavam as neuroses, Freud percebeu que na infância eram vividas
“as experiências de caráter traumático, reprimidos, que se configuravam como
origem dos sintomas atuais, e confirmava-se que as ocorrências deste período da
vida deixam marcas profundas na estruturação da pessoa” (BOCK, FURTADO;
TEIXEIRA, 2002, p. 74).
O indivíduo, nos primeiros anos de vida passa pelo processo de
desenvolvimento psicossexual, no qual a função sexual está ligada à
sobrevivência, e, portanto o prazer é encontrado no próprio corpo. O corpo é
erotizado, ou seja, as excitações sexuais estão localizadas em partes do corpo, e
há um desenvolvimento progressivo, no qual Freud postula as fases do
desenvolvimento sexual em: fase oral (a zona de erotização é a boca), fase anal
(a zona de erotização é o ânus), fase fálica (a zona de erotização é o órgão
sexual), em seguida vem um período de latência, quando ocorre um “intervalo” na
evolução da sexualidade. E, finalmente, na puberdade é atingida a última etapa, a
fase genital, quando o objeto de desejo não esta mais no próprio corpo, mas em
um objeto externo ao indivíduo, o outro.
Entre 1920 e 1923, Freud remodela a teoria do “aparelho psíquico” e
introduz os conceitos de id (é o sistema original da personalidade, constitui o
reservatório da energia psíquica, onde se localizam as pulsões: a de vida e a de
morte; e é regido pelo princípio do prazer.), de ego (o sistema que estabelece o
equilíbrio entre as exigências do id, é regido pelo princípio da realidade, que, com
o princípio do prazer, rege o funcionamento psíquico. Suas funções básicas são:
percepção, memória, sentimentos e pensamento) e de superego (é o
representante interno dos valores e ideais tradicionais da sociedade, transmitidos
pelos pais e reforçados pelo sistema de recompensas e castigos impostos à
criança, sua preocupação principal é decidir se alguma coisa é certa ou errada).
Sigmund Freud por intermédio da sua determinação, curiosidade e
vontade de contribuir de forma positiva com a Ciência, teve uma educação
clássica excelente, um contato apaixonante com seus mestres, a passagem
dessa paixão pelos mestres através de desavenças teóricas para conseguir
18

superar seus traumas e se tornar o mestre de si mesmo, com a criação da


psicanálise.
19

CAPÍTULO 2

AS FASES PSICOSSEXUAIS DO
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE

Desde o nascimento e ao longo de todo o desenvolvimento humano,


ocorrem mudanças marcantes nos desejos, e na realização destes. Freud
desenvolveu o conceito de libido que é uma fonte original de energia erótico-
afetiva que mobiliza o organismo na perseguição de seus objetivos, sofrendo
progressivas mudanças durante o desenvolvimento, em torno de zonas erógenas
corporais. Neste sentido, a libido pode ser compreendida como uma energia
impulsionada pelo desejo – ou a própria fonte do desejo – voltada para a
obtenção de prazer.
Freud descreve cinco fases do desenvolvimento psicossexual humano.
A primeira é denominada de Fase Oral, e é vivida no primeiro ano e meio de vida
do bebê, quando, ao nascer, ele perde a relação simbiótica que possuía com a
mãe, iniciando sua adaptação ao meio. Respirar marca o ponto inicial da
independência humana. Neste momento a pulsão e a libido estão localizadas na
boca, e por meio dela o bebê começa a provar e conhecer o mundo. É por esta
razão que a criança pequena tende a levar tudo o que pega à boca. Sendo que a
primeira e mais importante descoberta afetiva é o seio, assim a mãe se torna a
única fonte de satisfação do bebê.
Esse período, em que o bebê recebe muito afeto e proteção da mãe,
contribuirá para que ele perceba e diferencie a realidade externa e consiga
suportar as privações que surgirem no decorrer de seu desenvolvimento.
Quando uma criança suga o bico do seio materno, da mamadeira ou da
chupeta, nem sempre está saciando o instinto da fome. Nestas ocasiões, ela pode
estar satisfazendo as pulsões sexuais de vida – Eros (amor e autopreservação) –,
ou de morte – Thanatus (heteroagressividade e/ou autodestruição). No entanto,
muitas vezes, a criança pode estar satisfazendo, simultaneamente, os dois
instintos. Neste sentido, se neste período, tais instintos ou pulsões, forem
20

reprimidos1, isto pode ter conseqüências desastrosas. Reprimido o prazer oral,


pode-se reprimir, também, a função alimentar, o que poderá resultar futuramente,
em anorexia nervosa ou vômitos histéricos (Bulimia). A oralidade é um prazer
fundamental da vida humana.
A Fase Anal ocorre por volta do segundo ano de vida e se estende mais
ou menos até o terceiro ano de idade. Nesta fase a criança desloca sua pulsão
libidinal para as atividades anais. A região do ânus adquire importância em seu
desenvolvimento, iniciando o treino dos esfíncteres2. Após a digestão do alimento,
seu resíduo se acumula na parte final do trato intestinal, sendo posteriormente
expelido, quando a pressão sobre o esfíncter retal alcança certo nível, a expulsão
às vezes remove a fonte de desconforto e produz uma sensação de alívio,
associado ao prazer. A criança descobre que pode controlar as fezes que sai de
seu interior, oferecendo-as à mãe, ora como um presente, ora como algo
agressivo. É nesta fase que a criança começa a ter noção do uso do vaso
sanitário e de higiene corporal.
Nesta etapa, a criança inicia seu entendimento do que é permitido e do
que é proibido, porém, ainda, não consegue ter uma ética relacional. A criança
presta uma atenção especial à micção e à evacuação. O treinamento de ir ao
banheiro desperta um interesse natural pela autodescoberta. A obtenção do
controle fisiológico é ligada à percepção de que este controle é uma nova fonte de
prazer. Além disso, as crianças aprendem com rapidez que o crescente nível de
controle lhes traz atenção e elogios por parte de seus pais. O inverso, também, é
verdadeiro; o interesse dos pais no treinamento da higiene permite à criança
exigir atenção, tanto pelo controle bem sucedido, quanto pelos erros.

Parte da confusão que pode acompanhar a fase anal é a aparente


contradição entre o elogio e o reconhecimento, por um lado e, por outro, a
1
“[...] ‘repressão é a rejeição involuntária de um impulso sexual ou agressivo que se esforça por
penetrar ou penetrou no consciente’ e ‘o processo mental que resulta do conflito entre o princípio
do prazer e o princípio da realidade’, quando os impulsos e desejos determinados pelo instinto
estão em conflito com os padrões de conduta moral. Daí resulta que os conteúdos ativos, em
seu contínuo esforço de reingresso na consciência; essa luta determina uma grande parte do
comportamento pessoal e é a causa de sintomas neuróticos os mais diversos. [...] é um
mecanismo de defesa contra a ansiedade e a culpa geradas por impulsos sexuais ou agressivos
[...]” (CABRAL; NICK, 1989, p. 341, grifado no original).
2
“Designação comum a diversas estruturas musculares, anulares, existentes em diversos órgãos
ocos (bexiga, estômago, etc.), e que, ao relaxarem-se ou contraírem-se, regulam o trânsito de
matérias no interior desses órgãos” (FERREIRA, 1999, p. 804).
21

idéia de que ir ao banheiro é “sujo” e deveria ser guardado em segredo. A


criança não consegue compreender inicialmente que suas fezes e urina
não sejam apreciadas. As crianças pequenas gostam de observar suas
fezes na privada, na hora de dar a descarga, e com freqüência acenam e
dizem-lhes adeus. Não é raro uma criança oferecer como presente a seu
pai ou mãe parte de suas fezes. Tendo sido elogiada por produzi-las, a
criança pode surpreender-se ou confundir-se no caso de seus pais
reagirem ao presente com repugnância. Nenhuma área da vida
contemporânea é tão carregada de proibições e tabus como a área que
lida com o treinamento da higiene e comportamentos típicos da fase anal.
(FADIMAM; FRAGER, 1986, p.13-14, grifado no original).

Durante as fases psicossexuais inicias da criança (Oral e Anal) ocorre o


desenvolvimento de algumas características das estruturas de sua personalidade.
Quando o relacionamento com os pais são vivências determinantes e
fundamentais para seu desenvolvimento, para seu futuro. Por isso é muito
importante à família ter uma atitude positiva e de comunicação diante dessas
fases.
Depois deste período, Freud descreve a Fase Fálica que vai, mais ou
menos, dos três aos seis anos de vida. Nesta fase a erotização passa a ser
focalizada nos órgãos genitais. Este é o período em que a criança se dá conta de
seu pênis ou da falta de um. Freud tentou compreender as tensões que uma
criança vivencia quando sente excitação "sexual", isto é, o prazer a partir da
estimulação de áreas genitais. Esta excitação está ligada, na mente da criança, à
presença física próxima de seus pais. O desejo desse contato torna-se cada vez
mais difícil de ser satisfeito pela criança, ela luta pela intimidade que seus pais
compartilham entre si. Esta fase caracteriza-se pelo desejo da criança de ir para a
cama de seus pais e pelo ciúme da atenção que eles dão um ao outro, ao invés
de dar a ela. (FADIMAM; FRAGER, 1986, p.14).

O termo fálico, relativo ao pênis, usado para esta fase, provem do fato da
libido concentra-se nos órgãos genitais que passam a ser a zona erógena
predominante. O menino sente prazer pela manipulação do pênis e a
menina do seu análogo, o clitóris. É como se houvesse para ambos os
sexos apenas um órgão genital, o masculino. Assim, no início, o menino
conhece somente seu órgão sexual o qual supervaloriza e tende a atribuir
um pênis a qualquer objeto do mundo externo, seres vivos ou inanimados.
Nas meninas essa tendência é menos evidente, mas há dados atestados
que elas também atravessam um período fálico, embora de curta duração.
(D’ANDREA, 2001, p. 59).
22

Durante essa fase a criança tem curiosidades a respeito das diferenças


entre os sexos, a origem dos bebês e as atividades sexuais de seus pais. A
criança deseja ver os genitais das outras, bem como mostrar os seus.
Nesta etapa ocorre o Complexo de Édipo (CE) e o Complexo de
Castração (CC), quando os meninos focalizam o seu desejo e prazer na mãe e as
meninas no pai. É nesta fase, também, que a criança distingue a diferença dos
sexos, masculino e feminino, e, então, determina sua fixação pela pessoa mais
próxima do sexo oposto. O CE em meninos surge pelo desejo sexual pela mãe,
no qual vê o pai como ameaça e deseja se livrar dele, buscando, ainda, se
identificar com o ele. O CE é “derrubado” no menino pela ameaça da castração,
quando ele pensa que perderá seu pênis. A menina deseja possuir o pai e vê a
mãe como sua maior rival, percebendo que o pai tem especial afeição pela mãe,
ela, então, para merecer o amor do pai, procura se identificar com a mãe,
imitando-a, por exemplo, usando sapato de salto, batom e ocupando-se das
tarefas maternas. Na menina o CC ocorre quando ela descobre que não tem
pênis, acreditando-se castrada, e no menino é o medo de ser castrado, de ficar
sem seu pênis.
A Fase de Latência ocorre aproximadamente entre os sete e doze anos
de idade, quando a criança aprende muitas coisas, fatos novos, desenvolve o
pensamento, os diversos raciocínios e a curiosidade. Os seus desejos voltam-se
para o mundo externo, aumentando o seu interesse pela descoberta, o
conhecimento e o aprendizado escolar. A sexualidade nesse período encontra-se
“reprimida” e irá ressurgir durante a puberdade. As grandes conquistas desta
etapa esta nas realizações intelectuais e na socialização, já que é nesta fase que
a criança vai para a escola, e acaba tomando consciência do mundo a sua volta.
A Fase Genital se inicia com a puberdade, manifestando a atração
sexual, a socialização, as atividades de grupo, o interesse profissional, a
preparação para o casamento e a preocupação em construir família. Há uma
retomada dos impulsos sexuais, o adolescente passa a buscar, em pessoas fora
de seu grupo familiar, um objeto de amor.
A Adolescência é um período de mudanças no qual o jovem tem que
elaborar a perda do corpo infantil e dos pais da infância, além de adaptar-se à
nova imagem corporal, para que pouco a pouco possa assumir uma identidade de
23

sujeito adulto. Com as modificações provocadas pelas ações hormonais que


ocorrem no início da puberdade e o aparecimento dos caracteres sexuais
secundários (seios, formas arredondadas e menstruação nas meninas; pêlos,
músculos e voz mais grave nos meninos), a sexualidade volta a se concentrar na
região genital, propriamente dita. Neste estágio o adolescente passa a eleger seu
"objeto sexual" (um menino, uma menina ou ambos) e começa a estabelecer
vínculo com esse objeto. Tal vínculo sofre influência de características da sua
própria personalidade e das relações que esse adolescente estabeleceu ao longo
de sua vida com seus pais, seus irmãos e pessoas mais próximas. É nesta fase
que começam as definições e as dificuldades sexuais até a completa estruturação
do seu papel sexual, o qual levará à busca do prazer e ao encontro com o
parceiro ou a parceira.
É com a estabilidade dessas fases que a criança vai construir suas
concepções para o conhecimento de si mesma e do mundo a sua volta,
adaptando-se para conseguir enfrentar novas descobertas, ocorrendo assim a
estruturação psicossexual.
Os pais, avós, professores ou responsáveis pela educação da criança
devem ter conhecimento sobre o seu desenvolvimento sexual, desde o
nascimento, para que suas atitudes diante da sexualidade não prejudiquem a sua
evolução, mas, que consiga proporcionar à criança o equilíbrio emocional interno
e um bom relacionamento com o mundo que a cerca.
24

CAPÍTULO 3

FREUD E A EDUCAÇÃO

Para entender a sexualidade infantil, Freud estudou as perversões,


quando descobriu que na constituição da personalidade humana estão presentes
práticas de “natureza perversa”, que irão desaparecendo pela repressão,
submetendo-se ao domínio das práticas genitais, com vistas à procriação. O
exibicionismo, curiosidade dirigida aos órgãos genitais dos seus companheiros,
manipulação dos órgãos genitais, prazer de sucção, prazer ligado à defecação,
entre outros, configuram práticas perversas. As que permanecem no adulto são o
resultado dessas “perversões parciais infantis” que se recusaram a cair sob o
domínio da genitalidade. (KUPFER, 2001, p. 40).
A cada um desses aspectos perversos, presentes na sexualidade
infantil, Freud chama de “pulsões parciais”. Será uma pulsão dirigida ao próprio
corpo, que não buscará um outro corpo, como acontecerá por ocasião do
desenvolvimento da genitalidade. (KUPFER, 2001, p. 40).
As pulsões parciais possuem caráter errático; o objeto pelo qual se
satisfaz é indiferente e intercambiável, logo pode se seguir por caminhos
socialmente úteis. É passível de sublimação e para Freud a Educação terá papel
primordial nesse processo. (KUPFER, 2001, p. 41). Eis aí o ponto que interessa
ao educador.
Uma pulsão é dita sublimada quando se dirige a um alvo não-sexual
visando objetos socialmente valorizados. Nessa busca de um objeto pode haver
uma dessexualização, pois a energia libidinal continua a ser sexual, mas o objeto
não é mais. A antiga ânsia sexual, ainda, se faz presente, só que de um modo
mais brando, ou simplesmente prazeroso, justificando a busca e a persistência da
atividade sublimada. (KUPFER, 2001, p. 42).
As bases necessárias à sublimação são fornecidas pelas pulsões
sexuais parciais e, claramente, perversas. Uma ação educativa que “atacasse”
essas pulsões, não só fracassaria, mas, também, faria desaparecer a fonte de um
“bem” e que os educadores precisam ser informados de que “a tentativa de
25

supressão das pulsões parciais não só é inútil como pode gerar efeitos como a
neurose” (KUPFER, 2001, p. 43). Com essa informação os educadores poderão
construir métodos e modos de operação para dirigir de forma mais proveitosa tais
pulsões.
Freud afirma que a hostilidade da civilização, representada por uma
educação repressora, é semelhante à defesa que o “eu” levanta contra a pulsão
sexual, produzindo a neurose. A Educação exagera e produz efeitos semelhantes.
Em 1908, Freud declara o seguinte: “o educador é aquele que deve buscar, para
seu educando, o justo equilíbrio entre o prazer individual e as necessidades
sociais”, levando o educando a encontrar seu lugar no mundo. (KUPFER, 2001, p.
45).
Nesta época Freud era consultado a respeito da melhor maneira de
educar os filhos, e respondia que as crianças devem receber educação sexual,
assim que demonstrem interesse pela questão. Pais e professores deveriam ser
esclarecidos acerca da existência da sexualidade infantil. Freud observava nos
pais uma incompetência para esses assuntos e, por isso, não devem se ocupar
do esclarecimento sexual das crianças. Já foram crianças e se esqueceram da
sexualidade infantil; se esqueceram, é porque foram reprimidos e as forças que
reprimiram estão, ainda, atuando no sentido de não fazê-los lembrar.
Para o educador, também, a infância não é mais acessível, e por isso é
necessário que ele volte a ficar de bem com a criança que há dentro dele. Sendo
assim Freud afirma que: “Só se pode ser pedagogo aquele que se encontrar
capacitado para penetrar na alma infantil. Nós, os adultos, não compreendemos
nossa própria infância” (KUPFER, 2001, p. 48).
As crianças costumam ter suas próprias explicações a respeito de como
nascem os bebês, e essas explicações dependem do momento que se encontra o
seu desenvolvimento sexual. Porém, cabe aos educadores jamais esconderem a
verdade sobre a sexualidade. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN), a orientação sexual na escola deve ser entendida como:

um processo de intervenção pedagógica que tem como objetivo transmitir


informações e problematizar questões relacionadas à sexualidade,
incluindo posturas, crenças, tabus e valores a ela associadas. Tal
intervenção ocorre em âmbito coletivo, diferenciando-se de um trabalho
individual, de cunho psicoterapêutico e enfocando as dimensões
26

sociológica, psicológica e fisiológica da sexualidade. Diferencia-se também


da educação realizada pela família, pois possibilita a discussão de
diferentes pontos de vista associadas à sexualidade, sem a imposição de
determinados valores sobre outros. (BRASIL, 1997, p. 34).

O educador deve resgatar a criança que vive dentro dele, porém os


professores já esqueceram a infância e não são capazes de promover a
sublimação (inconsciente), ou seja, voltar a pensar como criança, mas pena que
ele já esqueceu de como era de fato essa criança.
A Educação exerce seu poder através da palavra. Seu discurso, dirigido
à consciência tenta estimular os indivíduos a se conduzirem em uma direção por
ela mesma determinada. Da palavra extrai seu poder de convencimento e de
submissão do ouvinte a ela. No entanto, a realidade do inconsciente ensina que a
palavra escapa ao falante. Ao falar, um educador poderá se perder e revelar-se
indo em uma direção contrária àquela que seu “eu” havia determinado. A palavra
é ao mesmo tempo lugar de poder e submissão, de força e de fraqueza, de
controle e de descontrole. Sendo assim Freud acredita que o domínio, a direção e
o controle, que estão na base de qualquer sistema pedagógico, jamais poderão
ser integralmente alcançados, chegando à conclusão decepcionante de que a
Psicanálise não serve de fundamento para a Pedagogia e não pode servir como
princípio organizador de um sistema ou de uma metodologia educacional.
(KUPFER, 2001, p. 59).
Com a criação da teoria do inconsciente, Freud possibilitou o
entendimento da formação dos traumas nas crianças, através de atendimentos
psicanalíticos, nos quais ele descobriu que o início das neuroses está na
repressão sexual sofrida pelos indivíduos ainda na fase infantil da vida. Daí a
importância de esclarecer as dúvidas das crianças a respeito da sexualidade,
porém, não é necessário um grande volume de informações, o importante é
conversar com as crianças numa linguagem que elas dominem e consigam
entender. Enfim, é necessário respeitar a criança como um ser humano em
desenvolvimento, cheios de capacidades, apesar de algumas limitações
características da idade.
Os educadores se deparam na sua prática com algumas manifestações
da sexualidade das crianças, a mais comum é a manipulação dos órgãos genitais,
que, durante as primeiras fases do desenvolvimento sexual infantil, como já foi
27

explicitado no capítulo anterior, acontece a descoberta do próprio corpo e a


exploração de suas múltiplas possibilidades e características que constitui seu
próprio mundo. A manipulação dos órgãos genitais proporciona uma intensa
experiência de prazer para a criança, ou seja, é uma exploração prazerosa de
sensações corporais, um fenômeno universal, inconsciente, inofensivo e deve ser
compreendido como uma descoberta do próprio corpo e suas sensações. Os
educadores devem estar atentos e sensibilizados para que o comportamento
“sexual”, nesta fase, seja encarado como espontâneo, tentando acompanhar
essas experiências corpóreas sem reprimi-las, mas, ao mesmo tempo,
supervisionando as explorações da criança em seu próprio corpo e o de outras
crianças, de forma a não provocar seqüelas corporais ou psíquicas. (NUNES;
SILVA, 2006, p. 77-78).
A curiosidade das crianças não se limita ao próprio corpo, elas desejam
saber como é o corpo das outras pessoas. Nesse sentido, os pais e os
educadores devem saber lidar com tal situação sem condenar a criança,
aproveitando o fato para responder às suas perguntas, sanando dúvidas e
curiosidades (ORTH, 1971, p. 36).

A curiosidade sexual na criança não é uma curiosidade especial, mas é


parte de sua curiosidade geral, de seu desejo positivo e fundamental de
conhecer o mundo, impulso esse que é a origem da curiosidade científica
que tanto nos envaidece. (ORTH, 1991, p. 29).

Para Freud, um momento capital e decisivo na vida do ser humano é o


momento da descoberta daquilo que ele chama de diferença sexual anatômica,
quando descobrem que o mundo é composto de homens e mulheres; em seres
com pênis e seres sem pênis. A descoberta da diferença sexual anatômica não
depende de sua observação, mas da passagem pelo CE quando a menina se
define como mulher e o menino como homem. Contudo, antes desta definição,
como, também, já foi discutido no capítulo dois, sentem que algo está faltando
para alguém. Alguém perdeu algo, assim como já havia perdido o seio, as fezes,
etc. Essa “angústia de castração” permite à criança o querer “saber”.
As primeiras investigações são sempre sexuais, segundo Freud, porque
a criança quer definir seu lugar no mundo, e esse lugar é um lugar sexual. Esse
28

lugar sexual a princípio é situado em relação aos pais, em relação ao que os pais
esperam que eles sejam. (KUPFER, 2001, p. 81).
Quando as investigações sexuais são reprimidas, não é a Educação a
maior responsável por isto, pois as crianças deixam de lado as questões sexuais
por uma necessidade própria e inerente à sua constituição. Não por ser feio, mas
porque precisam renunciar a um saber sobre a sexualidade, para daí proceder a
um deslocamento3 dos interesses sexuais para os não sexuais, desviando para
isso, a energia concentrada. Não deixam de perguntar por que a “força de pulsão”
continua estimulando estas crianças. Perguntam sobre outras coisas para poder
continuar pensando em questões fundamentais. (KUPFER, 2001, p. 82).
Pode-se dizer que, para Freud, a mola propulsora do desenvolvimento
intelectual é sexual, ou seja, a matéria que se alimenta a inteligência em seu
trabalho investigativo é sexual. Entretanto, a criança não aprende sozinha. É
preciso que haja um professor para que o aprendizado se realize. O ato de
ensinar pressupõe uma relação com outra pessoa, a que ensina. Aprender é
aprender com alguém. Não importa o conteúdo ensinado (se é completamente
verdadeiro ou não), o aluno acredita no professor. Graças a isso o professor está
revestido de uma importância especial e graças a ela, tem grande influência sobre
os alunos, virando assim um modelo a ser seguido e imitado. (KUPFER, 2001, p.
84).
O encontro da Psicanálise com a Educação é um desafio. A realidade
do inconsciente ensina que não se tem controle total sobre o que se diz e muito
menos sobre os efeitos das palavras de um falante sobre o outro, ouvinte. Por
isso, não se pode “aplicar” a Psicanálise. Por acreditar que o inconsciente
introduz em qualquer atividade humana, o imponderável, o imprevisto, o que
escapa à consciência humana, não há como criar uma metodologia pedagógico-
psicanalítica, pois, qualquer metodologia implica ordem, estabilidade e
previsibilidade. (KUPFER, 2001, p. 96).
O professor aprende que pode organizar seu saber, mas não tem
controle sobre os efeitos que produz sobre seus alunos. Fica sabendo que pode
ter uma noção, através de uma prova, por exemplo, daquilo que esta sendo

3
“Mecanismo de defesa caracterizado por: (1) transferência de emoções ou fantasias do objeto a
que estavam originalmente associadas para um substituto; (2) transferência da libido de uma
forma de expressão para outra.” (CABRAL; NICK, 1989, p. 86).
29

assimilado naquele instante pelo aluno, porém, não conhece as muitas


repercussões inconscientes de sua presença e de seus ensinamentos.
A Psicanálise pode transmitir ao educador uma ética, um modo de ver e
de entender a prática educativa, nada mais. A Pedagogia precisa reprimir para
ensinar. Precisa da energia libidinal sublimada e não sexualizada. O professor
pode ensinar, mas não esperar que os alunos mudem seus modos de pensar
subjetivos. Eles ouvirão o que lhes convier e jogarão fora o resto. O bom
professor aceitará isso sem desespero e sem tentar reprimir tais atividades, pois
desta maneira, no futuro, saberão pensar sozinhos. O encontro entre o que foi
ensinado e a subjetividade de cada um é que torna possível o pensamento
renovado, a criação e a geração de novos conhecimentos, tornando capaz de
“matar”, simbolicamente, o mestre para se tornar o mestre de si mesmo, esta é
uma lição que pode ser extraída da própria vida de Freud. (KUPFER, 2001, p. 98).
Enfim ao professor, cabe apenas, o esforço de organizar, articular e
tornar lógico seu campo de conhecimento e transmiti-lo aos seus alunos. E ao
aluno cabe desarticular, retalhar, ingerir e digerir tudo que vem ao encontro de
seu desejo e que lhe faz sentido, pela via única de transmissão aberta entre ele e
o professor, e que encontram eco nas profundezas de seu inconsciente.
30

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há mais de um século Sigmund Freud realizou uma descoberta


essencial sobre a “natureza” humana: existe uma sexualidade infantil e a forma
como a criança a vivencia na relação com suas “figuras parentais” é determinante
para a sua saúde mental adulta. E, a sociedade, ainda hoje, é cercada de
preconceitos e tabus sobre a sexualidade, e, por conseguinte, muitos indivíduos
concebem ou vivenciam as práticas sexuais com vergonha ou o sentimento de ter
cometido algum tipo de erro ou pecado.
Pode-se observar diante do tema pesquisado, que durante o
desenvolvimento da personalidade, o ser humano, em geral, é educado
sexualmente. Desde o nascimento a criança vai desenvolvendo sua percepção
por intermédio de carinhos, toques, gestos, olhares e palavras das pessoas com
as quais convive, vivenciando em seu corpo boas ou más sensações.
Uma vez entendida a sexualidade enquanto parte integrante da vida do
indivíduo constata-se que ela pode se manifestar em todos os espaços. Assim,
pode-se dizer que a escola, lugar onde quase todos os indivíduos circulam, não
poderia ser diferente. É na escola que as crianças aprendem a tornarem-se
cidadãos, e é, também, neste lugar que poderão aprender a lidar melhor com a
sexualidade. E, é, ainda, o local onde o professor deve saber lidar com todas as
situações que podem ocorrer.
Cabe ao professor, então, mediar de forma clara assuntos de interesse
dos alunos, em especial relacionados à sexualidade. Uma vez que a função da
escola como instituição é formar educandos críticos, capazes de se relacionar
consigo e com todos que o cercam.
Assim sendo, pode se perceber que os pais, a escola e o professor,
necessitam obter uma visão do desenvolvimento psicossexual, que possibilite
uma interferência eficaz e salutar no processo de desenvolvimento e
aprendizagem da criança, tornando-se, portanto, agentes socializadores que
respeitem a individualidade, a necessidade e o tempo para o aprendizado de cada
criança.
31

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARSA. Nova Enciclopédia Barsa. 6. ed. São Paulo: Barsa Planeta


Internacional, 2002.

BOCK, Ana M. B.; FURTADO, Odiar; TEIXEIRA, Maria de L. T. A Psicanálise. In:


______. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13. ed. São Paulo:
Saraiva, 2002, p. 70-84.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental.


Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversal e
ética. 2. ed. Brasília: DP&A, 1997, v. 8.

CABRAL, Álvaro; NICK, Eva. Dicionário Técnico de Psicologia. 9. ed. São


Paulo: Cultrix, 1989.

D’ANDREA, Flávio Fortes. O Desenvolvimento da Personalidade. Rio de


Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

FADIMAN, James, FRAGER, Robert. Teorias da Personalidade. São Paulo:


Harbra, 1986.

FERREIRA, Aurélio B. de H. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua


portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

HALL, Calvin S., LINDZEY, Gardner. Teorias da Personalidade. 18. ed. São
Paulo: E.P.U., 1984.

KUPFER, Maria Cristina. Freud e a Educação: O Mestre do Impossível. 3. ed.


São Paulo: Scipione, 2001.

NUNES, César; SILVA, Edna. A Educação Sexual da Criança: subsídios


teóricos e propostas práticas para uma abordagem da sexualidade para além da
transversalidade. 2. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2006.

ORTH, Edgar. Educação Sexual da Criança. 13. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
1971.

You might also like