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ORGANIZAÇÕES
Autores1: Airton Perussatto, Cristina Campos, Josiane Fritz e Luis Antônio Silva.
Resumo
O processo de terceirização e subcontratação nas organizações é uma prática
utilizada em praticamente todos os setores que envolvem prestação de serviços e utilização de
mão-de-obra. Analisou-se a viabilidade de tal estratégia utilizada pelas organizações com a
intenção de verificar os pontos positivos e negativos dessa ação. O assunto em questão foi
analisado através de um estudo bibliográfico, em pesquisas realizadas na internet e em livros,
coletando as opiniões de diversos pensadores que teorizaram sobre a terceirização. Examinou-
se a terceirização em diversos aspectos fundamentais que vão desde a conceituação, seu
surgimento no Brasil, o aspecto legal, até setores onde se verifica com mais intensidade a
utilização desse método de administração, dentre eles, setores público, bancário, da
construção civil, automobilística e outros. Após leitura e análise do material coletado, pode-se
afirmar que a terceirização é uma estratégia viável do ponto de vista das empresas, as quais
diminuem custos, inibem mobilizações sindicais e podem dedicar-se a atividade-fim da
empresa, porém esse método (terceirização) pode gerar muitos prejuízos aos trabalhadores,
como perda de direitos já adquiridos por certas categorias, reduções de salários, dificuldades
em reivindicar direitos. Em suma, a terceirização é viável desde que aplicada com cautela,
pois ao mesmo tempo em que traz vantagens, projeta também a precarização do trabalho.
Palavras-chave
Terceirização, Setor público e privado, precarização do trabalho.
1. INTRODUÇÃO
Terceirização é um assunto bem complexo e explorar esse tema constitui um
verdadeiro desafio. Não se pretende com este estudo esgotar todas as possibilidades de
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Artigo elaborado em junho/2009 pelos acadêmicos do 5º semestre do curso de Administração de Empresa, da
UFSM/CESNORS, Airton Perussatto. E-mail: perussatto@hotmail.com, Cristina Campos. E-mail:
cris_campos_373@hotmail.com, Josiane Fritz. E-mail: josifritz@yahoo.com.br e Luis A. Silva. E-mail:
luisilva@mail.ufsm.br
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entendimento, pelo contrário, pretende-se fazer uma reflexão, uma amostra das diferentes
formas de contratação utilizadas pelas organizações.
Mesmo não sendo recente na história do Brasil. a adoção deste processo foi
intensificada e disseminada no âmbito da reestruturação produtiva que marcou os anos 90,
quando o tema ganhou destaque na agenda de governos, trabalhadores e empresários e tornou-
se objeto de inúmeras análises. Passado esse período, ainda que a terceirização tenha
assumido dimensões significativas, sendo utilizada como um dos principais instrumentos para
a precarização das relações de trabalho, a presença do tema no debate nacional diminuiu
gradativamente. Os efeitos negativos que a questão exerce sobre as condições de trabalho, em
vez de provocarem reflexão e discussão, incorporaram-se ao cotidiano das empresas. Essa
naturalização perversa das condições de trabalho precárias impõe a necessidade de retomada
da discussão.
O trabalho de pesquisa e análise aqui apresentado tem a pretensão de ampliar os
nossos conhecimentos e identificar as implicações, as dimensões e os aspectos da
terceirização. Este artigo está dividido em cinco partes:
A primeira aborda os termos e significados referente à definição de terceirização,
como se iniciou esse processo no Brasil e suas implicações no campo do direito do trabalho.
A segunda parte contextualiza o processo e analisa as razões da terceirização no
setor público, enfocando áreas específicas como limpeza pública, saúde e educação.
Abordamos também nessa parte o envolvimento das cooperativas de trabalhadores que agem
de forma legal na contratação de mão-de-obra, não criando vínculo empregatício com o
contratante.
Na terceira parte faz-se uma abordagem de como acontece a terceirização no setor
bancário, evidenciando tendências e preocupações.
Na quarta parte o estudo recai sobre a construção civil; faz-se uma avaliação da
diferença encontrada nesse setor para distinguir terceirização de subcontratação, pois é aqui
que se evidenciam diferenças entre uma e outra.
Na quinta e última parte, através de exemplos de fábricas da Volkswagen,
entende-se como acontece a terceirização de serviços no setor automobilístico. Analisa-se
também as características dos subcontratados e os pontos positivos e negativos dessa prática.
Por fim, tecemos considerações sobre a abrangência da terceirização nas
organizações; a necessidade básica de que a empresa contratante identifique sua atividade-
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fim; as vantagens dessa prática para as empresas envolvidas; os riscos que os empregados
correm ao serem submetidos a esse processo, entre outros.
2. METODOLOGIA
O trabalho a seguir é uma pesquisa descritiva, baseada na análise de referências
teóricas existentes na área. Descreve e registra as bibliografias sobre terceirização, analisa e
correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. Busca contribuir para o
conhecimento sobre o assunto, de forma a esclarecer os mesmos através de estudos existentes.
3. REFERENCIAL TEÓRICO
de-obra sem que a cooperativa esteja enquadrada na Lei 6.019/74, que admite essa
intermediação apenas por meio das empresas de trabalho temporário.
Em nosso país não há uma legislação específica que regule a terceirização. Dois
critérios orientam atualmente as decisões judiciais: a idoneidade financeira da empresa
contratada e o fato de algumas atividades serem bastante especializadas. Na prática esses
critérios têm possibilitado a terceirização da própria atividade-fim da empresa contradizendo
o Enunciado 331, que é ainda hoje a principal salvaguarda legal para evitar uma precarização
ainda maior das relações de trabalho.
Para dirimir quaisquer dúvidas o Tribunal Superior do Trabalho, em 17.12.93, editou
o Enunciado nº 331, que abrange também relações de terceirização no âmbito da
Administração Pública:
I- A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se
vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei n.
6.019, de 3.1.74).
II- A contratação de trabalhador, através de empresa interposta, não gera vínculo de
emprego com os órgãos da Administração Pública Direta, Indireta ou Fundacional (art. 37, II
da Constituição da República).
III- Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de
vigilância (Lei n. 7.102, de 20.6.83), de conservação e limpeza, bem como a de serviços
especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a
subordinação direta.
IV- O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica
na responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, inclusive
quanto aos órgãos da administração direta, das autarquias, das fundações públicas, das
empresas públicas e das sociedades de economia mista, desde que hajam participado da
relação processual e constem também do título executivo judicial (artigo 71 da Lei
n.8.666/93).
Sob a ótica do direito do trabalho, Mauricio Godinho Delgado (2003), define a
terceirização como "fenômeno pelo qual se dissocia a relação econômica de trabalho da
relação justrabalhista que lhe seria correspondente". Carmen Camino (2003), enfatiza que na
terceirização os elementos típicos da relação de emprego são analisados de modo mais
flexível, a fim de permitir a delegação de certas atividades da empresa a terceiros. Daí
dizermos que a terceirização integra o processo de "flexibilização do direito do trabalho".
Sérgio Pinto MARTINS (1996), doutrina que a terceirização só é válida se não existir relação
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O Prof. Aderson de MENEZES (1972, p. 350) diz que “os serviços públicos são o
conjunto de atividades e obras pelas quais o Estado atende aos interesses gerais, satisfazendo
às necessidades coletivas”.
Já o Prof. Diogo de Figueiredo Moreira NETO (1992b, p. 317/318) constrói seu
pensamento a respeito do tema afirmando que:
“Certos serviços, de tão importantes, se constituem num imperativo
para a própria sobrevivência do Estado, tais como os de defesa
nacional, o policial, o sanitário, o fiscal e o diplomático: atendem a
necessidades essenciais da coletividade, não lhe restando outra
alternativa que executá-los ele próprio; são os serviços essenciais ou
serviços públicos no sentido estrito.”
Não há que se confundir a propalada terceirização com a abominável e até
repugnante intermediação, o agenciamento de mão-de-obra (merchandage), esta ofensiva à lei
e à moral. Conforme preciosa construção formulada pelo Tribunal de Contas da União (Proc.
TC 4908/95) “a verdadeira terceirização é contratação de serviços e não locação de
trabalhadores.” O fornecimento de mão-de-obra nessas condições só encontra resguardo na
Lei nº 6.019 (trabalho temporário) e na Lei nº 7.102 (serviços de vigilância). O Tratado de
Versalhes (art. 467), ainda em 1917 consignava que o trabalho “não há que ser considerado
como mercadoria ou artigo de comércio”.
Terceirização de mão-de-obra é a mais genuína forma de terceirização ilícita, de que
já se falou e, com tais atributos, convertem-se esses ajustes em operações ilegais e
inconstitucionais. No entendimento do Juiz do trabalho da 3ª Vara do Trabalho de Jundiaí,
Jorge Luiz Souto Maior, a terceirização no fornecimento de mão-de-obra para a administração
pública é uma prática inconstitucional, pois fere a própria constituição que, em seu artigo 37,
preceitua que as tarefas pertinentes ao ente público devem ser precedidas, necessariamente, de
concurso público. Esclarece também que a própria constituição prevê a contratação de pessoal
para atender necessidades temporárias de excepcional interesse público, mas que para isso
também se exige um processo seletivo.
O que nos diz, a esta altura, a Profª. Maria Sylvia Zanella DI PIETRO, 1996, “O que
não é possível é a terceirização (como contrato de prestação ou locação de serviço) que tenha
por objeto determinado serviço público como um todo.”
De acordo com o que nos diz a Profª. DI PIETRO, essas pessoas contratadas não
podem exercer funções administrativas que impliquem decisões com efeitos jurídicos e sim
executar atividades estritamente materiais. Sendo essa prática uma forma encontrada para
burlar todo um capítulo da Constituição Federal, que vai do artigo 37 ao 41.
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também está afastada a terceirização do serviço de ensino como um todo, pela transferência, a
terceiros, de sua gestão operacional.”
modo imperativo nas operações onde até o tempo é controlado. No plano político-ideológico,
a terceirização é inevitável e necessária em virtude da competitividade.
No setor bancário, a terceirização iniciou-se nos anos 90 nas atividades de limpeza e
segurança, passando à tesouraria, retaguarda e compensação e expandindo-se para outras
atividades nos anos seguintes. Esse processo gerou desigualdades entres os funcionários
efetivos e os terceirizados, privando estes de certas vantagens e direitos adquiridos após anos
de lutas. As disparidades vão desde jornadas de trabalho, até salários, ajudas e participação
nos lucros, havendo com isso uma precarização do trabalho terceirizado. Essas diferenças não
são consequências desse processo, mas são sine qua non (indispensáveis).
As outras formas de trabalho (estagiários, temporários, ex-bancários, convocados)
são usadas pelas empresas de terceirização para burlarem as regras de relação de trabalho
assalariado. Os trabalhadores terceirizados não recebem qualificação adequada e trabalham
em ambientes precários, ficando vulneráveis às doenças ocupacionais. As mulheres, no
processo de terceirização, estão ocupando o maior número nas vagas em algumas atividades
com menor remuneração e não há mulheres na gerência (discriminação da mulher).
transportes, e maior disponibilidade de horário com trabalhos que podem ser realizados nos
finais de semana.
Mas, apesar dessas vantagens, a terceirização deve ser praticada com cautela. Uma
má gestão de terceirização pode implicar para as empresas um descontrole e desconhecimento
de sua mão-de-obra, a contratação involuntária de pessoas inadequadas, perdas financeiras em
ações trabalhistas movidas pelos empregados terceirizados, dentre outros problemas, como o
aumento do custo de controle dos serviços terceirizados, queda de qualidade dos serviços,
decadência do clima organizacional, perda de funcionários devido a alta rotatividade, entre
outros.
Dos aspectos citados acima, um forte ponto negativo do processo de terceirização é o
enfraquecimento dos sindicatos, ameaçando conquistas e direitos históricos. Direitos são
rebaixados (jornada de trabalho maior com menor remuneração). Hoje se pode dizer que
comparado aos anos 90, diminuiu em cerca de 50% o número de efetivos. A terceirização
implica então na degradação do trabalho assalariado, na intensificação da exploração,
aprofundando assim as desigualdades sociais.
Outro ponto, também importante, é a precarização do trabalho terceirizado. Há
estudos que indicam que trabalhadores terceirizados têm salários, benefícios e condições de
trabalho inferiores. É comum ocorrer situações em que a organização contrata uma firma para
gerir suas relações com o conjunto das empresas terceiras contratadas pela empresa
terceirizada (gerando o que é chamado de quarteirização).
Para MIOLA, 1996, a pretexto da ‘modernização’ e da ‘globalização’ tem-se
desenvolvido um verdadeiro desajuste na organização e no funcionamento do Estado. [...]
Elegeu-se o cerco aos servidores, o aniquilamento das suas remunerações e o
desmantelamento das carreiras como ‘prioridade’, sob justificativas as mais estapafúrdias.
Alega-se, dentre outros tantos ‘argumentos’, que o Estado ‘enxuto’ atende aos próprios
desejos da sociedade e, via de consequência, capacita-lhe a investir em áreas cuja cantilena
informa serem prioritárias. Como se possível fosse executar políticas públicas sem o professor
na sala de aula; sem o policial para a segurança; sem o agente do controle na avaliação dos
diferentes aspectos da gestão.
Apesar dos pontos negativos, no Brasil, setores importantes da economia adotam o
processo de terceirização como estratégia competitiva. Podemos citar como exemplos o setor
público, o serviço bancário, a construção civil, o setor automobilístico, entre outros, que
foram comentados no decorrer do nosso estudo.
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4. Conclusão
Hoje a terceirização é usada em larga escala nas organizações. O processo leva em
conta fatores de interesse, como a redução de custos, aumento da qualidade e principalmente
o foco na atividade-fim da organização e precisa estar em conformidade com os objetivos
estratégicos, os quais irão revelar em que pontos ela poderá alcançar resultados satisfatórios.
O princípio básico é que não se terceirize a sua atividade-fim. Sendo assim, uma
organização que desconhece a si mesma, em um processo de terceirização, corre sério risco de
perder sua identidade e principalmente o seu diferencial competitivo. Mesmo na atividade-
meio, só é permitido terceirizar quando não houver subordinação hierárquica, ou seja, locação
de mão-de-obra é ilegal.
Se para as empresas o processo de terceirização significa obter ganhos diversos,
como a redução nos custos e possibilidade de concentrar seus investimentos nas atividades
principais, para os trabalhadores, a história é diferente. Com a transferência de setores da
empresa principal para empresas prestadoras de serviços, os trabalhadores vêem-se sujeitos a
inúmeros riscos, como a perda do emprego, redução de salários e precarização das condições
de trabalho. No Brasil, em particular, onde a negociação coletiva ocorre segundo critérios
restritivos, especialmente aqueles referentes aos limites legais de organização e negociação
coletiva no âmbito das categorias profissionais, a terceirização representa um sério problema
aos trabalhadores.
Na prática, a terceirização tem promovido a precarização do trabalho humano. Todos
nós conhecemos as condições degradantes a que são submetidos os empregados terceirizados,
que acabam obedecendo a duplo poder de comando e ficam sujeitos a uma instabilidade de
emprego ainda maior – como se fosse possível – do que aquela enfrentada pelos empregados
com relação de emprego bilateral clássica.
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Bibliografia
CAMINO, Carmen. Direito individual do trabalho. 4a ed. Porto Alegre: Síntese, 2003.
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 2 ed., São Paulo, Ltr, 2003.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na Administração Pública. São Paulo: Atlas,
1996.
FARIA, Wadson Silva, A avaliação de processos jurídicos. Brasília. Ed. Revista dos
tribunais, 2001.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 21. ed. São Paulo: Malheiros,
1996.
MENEZES, Aderson de. Teoria Geral do Estado. Rio de Janeiro: Forense, 1972.
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MIOLA, Cezar. Tribunal de Contas - Controle Para a Cidadania. Passo Fundo, 1996.
RAMOS, Dora Maria de Oliveira. Terceirização na administração pública. São Paulo: LTr,
2001.
SOUZA, Leonardo Leocádio C., SANTOS, Ana Paula Silva dos. A subcontratação como
estratégia competitiva na construção civil. Disponível na Internet em
http://leoleocadio.googlepages.com/ArtigoTerceirizacaoSLADE2004l.pdf, consultado dia
01.04.09 às 15h e 50min.
Sites de apoio:
http://www.estudosdotrabalho.org/anais6seminariodotrabalho/anaterciasanches.pdf,
consultado dia 01.04.09 às 15h e 47min.