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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRÁTICA
REGISTRADO(A) SOB N°

ACÓRDÃO i uni liiii uni uni um uni mil um mi nu


*03354944*
Vistos, relatados e discutidos estes autos de
Apelação n° 990.10.178109-3, da Comarca de São
Bernardo do Campo, em que é apelante PREFEITURA
MUNICIPAL DE SAO BERNARDO DO CAMPO sendo apelado
DAGOBERTO ANTÔNIO PRANDINI JÚNIOR.

ACORDAM, em 18* Câmara de Direito Público do


Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte
decisão: "POR MAIORIA DE VOTOS, SUSPENDERAM O
JULGAMENTO, COM REMESSA AO E. ÓRGÃO ESPECIAL, VENCIDO
O 2 o JUIZ QUE DECLARA.", de conformidade com o voto
do(a) Relator(a), que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos


Desembargadores CARLOS GIARUSSO SANTOS (Presidente) e
FRANCISCO OLAVO.

São Paulo, 02 de dezembro de 2010.

OSVALDO CAPRARO
RELATOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTON 0 : 12.051
APELAÇÃO CÍVEL N° 990.10.178109-3
COMARCA: SÃO BERNARDO DO CAMPO
APELANTE: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO BERNARDO DO CAMPO
APELADO: DAGOBERTO ANTÔNIO PRANDINI JÚNIOR

APELAÇÃO - Exceção de pré-executividade - Crédito de


natureza não tributária - MULTAS P/ INFRAÇÃO À LEGISLAÇÃO
DE TRÂNSITO - FATRAN - Apesar do disposto no art. 134 da Lei
n° 9.503/97 (CTB), inviável a responsabilização do antigo
proprietário do veículo, em face do que consta do documento
oficial de transferência e da vinculação da administração
pública - Suspensão do julgamento com a remessa ao C.
Órgão Especial.

A r. sentença de fls. 76/79, c o m relatório que se


adota e aclarada às fls. 88/89, julgou extinta a Execução Fiscal
relativa à cobrança de multas de trânsito, sem resolução do mérito,
c o m fulcro no art. 267, VI, do Código de Processo Civil, condenando
a exequente ao pagamento das custas, despesas processuais e
verba honorária arbitrada em R$380,00.

Apela a Municipalidade de São Bernardo do


Campo objetivando a reforma do julgado (fls. 91/103). Sustenta, em
linhas gerais e com base em precedentes jurisprudenciais: a) o
descumprimento dos artigos 134 e 123, §1° do Código de Trânsito
Brasileiro, porquanto não há nos autos documento comprobatório da
comunicação da venda do veículo junto a o Órgão de Trânsito
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competente, daí porque da legitimidade de parte passiva do


executado; b) a solidariedade passiva do proprietário pretérito e do
adquirente pelas penalidades impostas ao veículo até a data da
comunicação da alienação, nos termos do art. 264 do Código Civil e
art. 134 d o C.T.B.; c) excessivo valor da verba honorária pela
desproporção entre o montante fixado e a complexidade d a causa.

O Município de São Bernardo d o C a m p o ingressou


c o m os embargos de declaração d e fls. 81/86, que foram rejeitados
pela decisão de fls. 88/89.

Regularmente intimado o excipiente deixou


transcorrer "in albis" o prazo para apresentar contra-razões de
apelação, conforme faz certo a certidão de fl. 104 verso.

É o relatório.

O Município de São Bernardo do Campo ingressou


c o m execução fiscal contra Dagoberto Antônio Pradini Júnior,
objetivando receber o crédito no valor de R$ 3.979,52 de natureza
não tributária, MULTAS ?l INFRAÇÃO À LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO -
FATRAN, conforme fazem certo a inicial e as certidões de dívida ativa
que se encontra às fls. 02/48 dos autos principais em apenso.
A teor das Certidões de Dívida Ativa as multas por
infração de trânsito foram aplicadas entre os exercícios de 2002 a
2004.

O apelante alegou em suas razões de apelação:

"A inscrição do débito em


dívida ativa proveniente de multas de trânsito é
efetuada de acordo com g» d«dos relativos à

Apelação Cível n°990.10.178109-3 - Voto n° 12.051


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propriedade do veículo automotor, os quais


correspondem às informações fornecidas pelos
interessados e fornecidas pelo Departamento
Estadual de Trânsito - DETRAN.

Conforme informação
fornecida pelo próprio apelado, o veículo foi
alienado. No entanto, não há nos autos
documento que comprove a comunicação da
venda ao Órgão competente".

Ocorre que, o apelado Dagoberto Antônio Prandini


Jr. ingressara em 07 de fevereiro de 2007 com ação de execução de
obrigação de fazer com pedido de tutela antecipada contra Flávia
Guilherme, na qual alegou que "vendeu à ré e 10/08/2000 o veículo
marca GM, modelo Corsa Wind 1994/1994, placa BVY-6727-SP.,
conforme comprova inclusa declaração firmada na mesma data e
com firma reconhecida".
Na r. sentença reproduzida às fls. 69/62, o MM. Juiz
sustentou:
"É incontroversa a efetivação do
negócio, o que basta para surgir a obrigação no
sentido de regularizar a titularidade do bem nos
cadastros do Departamento de Trânsito.
Poderia o autor pleitear, a título
de danos materiais, a importância
correspondente às multas contraídas pela
requerida, pois não pode o Juízo exonerá-lo do

Apelação Cível n°990.10.178109-3 - Voto n° 12.051


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respectivo pagamento, à revelia da credora


(Fazenda) que não figura no polo passivo.
A narrativa da petição inicial,
porém, não é nesse sentido, limitando-se o autor a
formular singelo pedido de perdas e danos. A
revelia torna incontroversos apenas os fatos
descritos na exordial e a petição de fls. 03/04 não
descreve qualquer prejuízo concreto que autorize
a condenação em perdas e danos.
Posto isto, julgo parcialmente
procedente a presente ação, tornando definitiva
a tutela antecipada a fl. 18, cientificando-se o
órgão de trânsito competente a respeito da
presente decisão".

Portanto, não eximiu o apelado do pagamento das


multas por infração de trânsito.
Tal sentença foi proferida em 29 de junho de 2.007
e transitou em julgado em 26/07/2007 conforme faz certo a cópia da
certidão de fl. 63.
Entretanto, na sentença proferida nestes autos o
MM. Juiz sustentou:
"Ao contrário do que sustenta a
exeqüente, há, nos autos, documentos que
comprovem, de forma satisfatória, que o
executado alienou o veículo em data pretérita as
infrações de trânsito.

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O fato de não ter sido feita a


comunicação da alienação ao departamento de
trânsito não torna o executado solidariamente
responsável pelo pagamento da multa, estando
plenamente descaracterizada a situação de
solidariedade prevista no artigo 134 do Código
Nacional de Trânsito.
A decisão prolatada em juízo
comprova de modo satisfatório que o executado
alienou o veículo, fazendo com que o mesmo não
possa ser responsabilizado pelos débitos em
cobrança, que são posteriores às datas das
infrações.
Pelo exposto e por todo o mais
que dos autos consta, tenho o executado como
parte ilegítima para responder aos termos da
presente execução fiscal, desconstituindo o título
executivo que embasa a inicial, julgando o feito
contra ele extinto, sem julgamento do mérito, nos
termos do artigo 267, inciso VI, do Código de
Processo Civil".

Dispõe o artigo 134 da Lei n° 9.503/97 (Código de


Trânsito Brasileiro):
"No caso de transferência de
propriedade, o proprietário antigo deverá
encaminhar ao órgão executivo de trânsito do
Estado dentro de um prazo de trinta dias, cópia

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autenticada do comprovante de transferência de


propriedade, devidamente assinado e datado,
sob pena de ter que se responsabilizar
solidariamente pelas penalidades impostas e suas
reincidências até a data da comunicação".
O Des. Carlos Alberto Giarusso Lopes Santos ao
relatar o Agravo de Instrumento n° 990.10.045272-0, deixou
consignado em seu voto n° 9696:
"Ocorre que, apesar da referida
norma estender ao alienante do veículo a
responsabilidade pelo pagamento de multas de
trânsito, até que haja a comunicação da venda,
a referida regra viola o princípio da
intranscendência - art. 5o, XLV, da CF.
É que as sanções impostas em
decorrência de infrações administrativas, como
ocorre com as infrações penais, não podem
passar da pessoa do infrator, por determinação
expressa do art. 5o, XLV, da CF.
Por outras palavras, "O postulado
da intranscedência impede que sanções e
restrições de ordem jurídica superem a dimensão
estritamente pessoal do infrator" (STF - Tribunal
Pleno - AC 1033 AGR-QO - rei. Min. Celso de
Mello, j. 25/05/2006).

Apelação Cível n°990.10.178109-3 - Voto n° 12.051


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Entretanto, no Certificado de Registro de Veículos


para efeito de Autorização para Transferência de Veículo na parte
final consta:
"Atenção:
a) O vendedor se isenta de qualquer
responsabilidade administrativa civil ou
criminal a partir da data acima, cabendo ao
comprador a imediata transferência de
registro do veículo para o seu nome.
b) A transferência de registro poderá ser
comunicada pelo vendedor, remetendo
cópia deste documento ao DETRAN, após
devidamente preenchido e firmado.

É certo que tal advertência não pode prevalecer


sobre o disposto no artigo 134 do Código de Trânsito Brasileiro,
contudo, tratando-se de um documento público seu conteúdo não
pode ser desconsiderado, mormente, para a grande maioria dos
proprietários de veículos.
A propósito sustentou, ainda, o Des. Carlos Alberto
Giarusso Lopes Santos no mesmo voto suso mencionado:
"Assim, além da violação do
princípio da intranscendência, deve-se
reconhecer que a determinação administrativa
constante do documento de transferência do
veículo vincula a Administração Pública e, em
termos práticos, provocou o descumprimento da
regra do art. 134 da Lei n° 9.503/97, o que não

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pode ser imputado ao executado, em respeito


aos princípios da boa-fé, da lealdade, da
presunção de legitimidade dos atos
administrativos e da segurança jurídica".
Ante o exposto, em face do reconhecimento da
inconstitucionalidade do artigo 134 da Lei n° 9.503/97, determina-se a
suspensão do julgamento para a submissão da questão ao Colendo
Órgão Especial deste Tribunal, nos termos do artigo 97 da
Constituição Federal c.c. o artigo 481 do Código de Processo Civil.

OSVALDO CAPRARO
Relator

Apelação Cível n°990.10.178109-3 - Voto n° 12.051


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18a Câmara de Direito Público

Apelação sem Revisão n° 990.10.178109-3

Voto n° 4100

DECLARAÇÃO DE VOTO VENCIDO

Comarca : SÃO BERNARDO DO CAMPO - I a VARA DA


FAZENDA PÚBLICA
(Proc. 564.01.2004.549738-0/000000-000)
Apelante : PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO
BERNARDO DO CAMPO
Apelado : DAGOBERTO ANTÔNIO PRANDINI JÚNIOR

Adotado o relatório do voto proferido pelo eminente


Desembargador Relator, Dr. Osvaldo Capraro, e respeitado seu
convencimento, ouso divergir, com a vênia de S. Exa., por não
considerar inconstitucional o art. 134 do CTB.

O art. 134 do CTB estabelece que:

No caso de transferência de propriedade, o


proprietário antigo deverá encaminhar ao
órgão executivo de trânsito do Estado dentro
de um prazo de 30 (trinta) dias, cópia
autenticada do comprovante de transferência
de propriedade, devidamente assinado e
datado, sob pena de ter quesse responsabilizar

Fls. 1

J
v
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Voto n° 4100

solidariamente pelas penalidades impostas e


suas reincidências até a data da comunicação.

Arnaldo Rizzardo, em sua obra "Comentários ao Código


de Trânsito Brasileiro", ed. Revista dos Tribunais, 7a ed., 2008, p. 314,
analisa assim o referido artigo:
A obrigatoriedade de comunicação ao órgão de trânsito
impõe-se para fins não apenas de atualização de cadastros, mas
especialmente para firmar a responsabilidade pelas cominações por
infrações. Segundo o texto da lei, unicamente as penalidades (multas)
serão exigidas do antigo proprietário. Nada consta no tocante ao
imposto. Entrementes, uma vez formalizada a comunicação, com a
decorrente averbação perante o registro, a exigibilidade ocorrerá
junto ao adquirente, a menos que prove este não corresponder à
realidade a transferência.
Inclusive no pertinente à responsabilidade civil por
danos causados pelo veículo restará definida com aquela
providência: o adquirente responderá pelo ressarcimento. Se bem
que, nesta parte, mesmo que omitida a medida, e uma vez bem
provada a transferência, a indenização recairá no comprador ou
adquirente. A omissão de registro não implica invalidade do negócio.
Implica somente maior discussão quanto à credibilidade do
documento, em relação a terceiros, como vastamente vêm afirmando
a doutrina e a jurisprudência. Salienta-se que a regra tem efeitos mais
administrativos, não podendo dirimir questões de responsabilidade
civil.

Ressalta-se que a solidariedade prevista no referido artigo


é limitada pelo disposto no § 7o do art. 257 do CTB, que assim dispõe:

Fls. 2 \
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Voto n° 4100

Não sendo imediata a identificação do infrator, o


proprietário do veículo terá quinze dias de prazo, após a notificação
da autuação, para apresentá-lo, na forma em que dispuser o
CONTRAN, ao fim do qual, não o fazendo, será considerado
responsável pela infração.

Ora, sem a devida comunicação da alienação do veículo,


como o órgão de trânsito poderá saber da transferência da propriedade,
nos casos em que o adquirente deixou de providenciar a alteração do
registro (art. 123, § Io, do CTB)?

Entendo, pois, que referido dispositivo legal não viola o


princípio da pessoalidade da pena (intranscendência), previsto no art.
5o, XLV, da Constituição Federal, em que pese o mesmo estender ao
antigo proprietário a corresponsabilidade pelo valor (interpretação
restritiva da norma) da multa imposta, decorrente da infração de
trânsito cometida, após a alienação do veículo, por terceiro não
identificado, pois a partir da data da comprovação ao órgão de trânsito
- por qualquer meio admitido em direito, ainda que feita após o prazo
lá estipulado -, da transferência do veículo, desfaz-se a solidariedade
do alienante, passando a ser do adquirente a responsabilidade
exclusiva pela penalidade aplicada.

Fls.3
\A \ /
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A respeito do tema, vale a pena a transcrição do voto


condutor proferido no REsp 965.847/PR, Relatora Ministra Eliana
Calmon, 2a Turma do STJ, v.u., DJe 14.3.2008:

ADMINISTRATIVO - INFRAÇÃO DE TRÂNSITO -


ALIENAÇÃO DO VEÍCULO - RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA DO ALIENANTE (ART. 134 DO CÓDIGO
DE TRÂNSITO).
1. Na interpretação do problemático art. 134 do Código
de Trânsito deve-se compreender que a solidariedade
imposta ao antigo proprietário, antes de realizar no
Detran a transferência, é mitigada.
2. Alienado veículo automotor sem que se faça o
registro, ou ao menos a comunicação da venda,
estabelece-se, entre o novo e o antigo proprietário,
vinculo de solidariedade pelas infrações cometidas, só
afastadas quando é o Detran comunicado da alienação,
com a indicação do nome e endereço do novo
adquirente.
3. Não havendo dúvidas, in casu, de que as infrações
não foram cometidas no período em que tinha o
recorrido a propriedade do veículo, não deve ele sofrer
qualquer tipo de sanção.
4. Recurso especial provido.

(...)
A questão posta para análise diz respeito à possibilidade de se imputar
ao antigo proprietário de veículo automotor as infrações cometidas após ter sido feita a
alienação do veículo, embora não oficializada a venda, por falta do registro perante o
órgão competente ou, ao menos, a informação, ignorando o Detran, inteiramente, a
mudança de propriedade.
Assim agindo, deixou o recorrido de atender ao disposto no art. 134 do
Código de Trânsito Brasileiro, não sendo demais transcrevê-lo:
(...)
O dispositivo transcrito tem ensejado interpretações as mais diversas,
refletindo-se as discussões em indagações quanto à natureza jurídica da obrigação
imputada. Há, inclusive, os mais extremados, para os quais é o artigo em análise
inconstitucional, em razão de ofender o princípio da pessoalidade da pena. Afirmam,
ainda, que o dispositivo também vulnera os princípios gerais que regdm a
responsabilidade civil, como a imputação da responsabilidade sem nexo de causalidade^
entre a conduta do antigo proprietário e a infração praticada pelo nò^o adquirente.

Fls. 4
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Voto n° 4100

Entendo que a questão deve ser examinada em outra direção, porque


pode a lei, e só ela, criar a responsabilidade solidária para alcançar pessoas que nada
têm a ver, sob o prisma jurídico, com o causador do dano, como o fez em relação às
infrações de trânsito, prevendo o art. 257, caput, do CTB:
Art. 257. As penalidades serão impostas ao condutor, ao proprietário do
veículo, ao embarcador e ao transportador, salvo os casos de descumprimento de
obrigações e deveres impostos a pessoas físicas ou jurídicas expressamente mencionados
neste Código.
O proprietário somente é responsável pela infração cometida pelo
condutor, embarcador e transportador, se o real infrator não for identificado. E o que
dispõe o $ 7":
C)
Verifica-se, pelo artigo transcrito, que o proprietário não responde
solidariamente, em caráter absoluto, pelas infrações praticadas pelo adquirente, tendo
sido mitigada a responsabilidade solidária. Somente quando não for identificado o
infrator, é que o proprietário é responsabilizado pelas infrações cometidas após a
alienação do veículo, mesmo sem a sua participação. O que o faz responsável ê, em
verdade, a não-comunicação da transferência ao Detran, assumindo a culpa, pela
desídia do seu proceder.
Assim, o art. 134 do CTB deve ser interpretado como norma de
imposição de solidariedade limitada, ou seja, só há responsabilidade do antigo
proprietário, na hipótese de não ser identificado o novo adquirente, o real infrator.
Essa interpretação vem em beneficio do antigo proprietário, de tal forma
que, uma vez comunicado o órgão de trânsito a transferência da propriedade, fica a
Administração compelida a fazer as anotações nos registros do veículo, para efeito de
intimar o novo proprietário, mesmo quando ele deixou de providenciar a transferência de
registro, na forma do art. 123, § 1", do mesmo Código.
Sem essa regra, ou seja, sem que a Administração fosse obrigada a
realizar a anotação, estaria o antigo proprietário sem mecanismo para se livrar da
responsabilidade em relação ao bem que não mais lhe pertence.
Para a Administração, enquanto não houver a comunicação prevista no
art. 134 do CTB ou a expedição do novo certificado de registro, a titularidade da
propriedade será de quem consta no registro antigo. Desse modo, qualquer infração
deverá ser comunicada ao proprietário que consta na sua base de dados.
Verifica-se, por tudo que foi dito, que a comunicação não é ato
constitutivo da transferência da propriedade, serve apenas para declarar que houve
alienação.
Portanto, a expressão "sob pena de ter que se responsabilizar" (art.
134) só existe "até a data da comunicação ".
Não havendo dúvidas, in casu, de que as infrações não foram cometidas
no período em que tinha o recorrido a propriedade do veículo, não deve ele sofrer
qualquer tipo de sanção. .
Com essas considerações, dou provimento ao recurso especial. \
Fica invertido o ônus sucumbencial. \ )(
E o voto. \ /
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Apelação sem Revisão n° 990.10.178109-3

Voto n° 4100

Além disso, a advertência contida no DUT não prevalece


sobre o art. 134 do CTB, tampouco tem o condão de isentar o
primitivo proprietário do seu dever de comunicar a transmissão da
propriedade do veículo, porque ninguém se escusa de cumprir a lei,
alegando que não a conhece (art. 3o da LICC).

Ante o exposto, pelo meu voto, não conhecia do


recurso.

\
\
FRANCISCO OLAVO
2o Juiz

Fls.6

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