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Capítulo IX

A Paz na Vida do Cristão


Alejandro G. Frank

Introdução
No capítulo anterior vimos que existe uma correspondência entre as bem-aventuranças que
antecedem e precedem àquela destacada em Mateus 5.6 – a fome e sede pela justiça de Deus.
Assim sendo, vimos que a humildade e a misericórdia se correspondem, o lamento e a pureza
do coração também e, por último, temos uma nova bem-aventurança, a qual tem uma
correspondência com a terceira que é a mansidão. Esta nova bem-aventurança é a seguinte:

“Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.” (Mateus 5.9)

Aqui está representado outro aspecto exterior das características espirituais do crente. Esta
nova bem-aventurança é outro dos resultados do que primeiro acontece com o crente no seu
interior, quando considera a sua posição diante de Deus e entende a sua miséria e necessidade
da graça do Altíssimo. Esta bem-aventurança possui uma correspondência com aquela citada
em Mateus 5.5: a mansidão. Temos dito que o manso é aquele que considera a sua situação
diante do Senhor e, portanto, renuncia a seu ego, entendendo que nada é e, que, portanto,
nada do que digam a seu respeito é tão ruim como para que ele se ofenda. Também, vimos
que é aquele que aceita sem rebeldia os mandamentos de Deus e os aplica na sua vida. Pois
bem, agora o Senhor está colocando a outra parte dessa bem-aventurança, pois o Senhor
menciona a componente ativa do caráter cristão: a busca pela paz.

Esta mensagem pode ter parecido muito estranha e desprezível para os judeus que esperavam
o Messias, principalmente para aqueles que viram no inicio do ministério de Jesus a
possibilidade de ser aquele que libertaria ao povo judeu do império romano. Esta mensagem
nada tinha a ver com a esperança que a maioria do povo esperava. Por isso, não é de se
estranhar que tenham rejeitado ao Senhor Jesus e desprezado seu ministério. O que poderia
ter de agradável escutar ao Messias dizer que no seu reino, seus servos são mansos,
suportando as injustiças dos seus inimigos e, além disso, são buscadores e instauradores da
paz? Em uma oportunidade o Senhor até disse para os judeus que o Seu Reino não era desta
terra, pois senão as legiões de anjos iriam lutar por ele, mas aqui, agora, ele tinha vindo a
trazer uma paz diferente, não por meios bélicos, mas através da sua Palavra. Ele disse: “Deixo-
vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo” (João 14.27). Era uma paz
diferente. O mundo não espera essa paz, eles esperam paz e harmonia nesta terra, como o
fizeram os judeus. Eles esperam valer-se de organizações internacionais, de forças armadas de
algum país, ou de acordos e tratados de “paz”. Mas o Senhor disse que a paz dele era diferente
e, portanto, a busca pela paz dos seus discípulos também é diferente. Não é uma paz
inconstante, não é uma paz exterior, não é uma paz a qualquer preço nem por conveniência.
Sua paz é diferente. Você sabe no que consiste essa paz e o que significa ser um pacificador?
Como podemos sê-lo? É isto o que estudaremos a seguir.

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O que significa ser um pacificador


Muitas pessoas tomam as bem-aventuranças num sentido meramente moral e acreditam que
as bem-aventuranças podem, por si mesmas, trazer uma sociedade em equilíbrio. Este tipo de
pessoas coloca às bem-aventuranças como um alvo e não como o resultado de uma pessoa
que foi regenerada pelo Espírito Santo. Assim sendo, eles acham que a paz pode ser alcançada
neste mundo se apenas vivêssemos as bem-aventuranças. Isto é verdade, mas o problema é
que o homem caído não pode vive-las sem, primeiro, ter acontecido uma obra regeneradora
do Espírito Santo. No sentido da bem-aventurança em consideração, é verdade que se todas as
pessoas fossem verdadeiros cristãos alcançaríamos a paz mundial, mas o próprio Senhor Jesus
disse que isto não aconteceria. Ele descreve os finais dos tempos, em Mateus 24,
precisamente como tempos muito difíceis onde o estado de paz mundial cada vez seria pior,
havendo guerras e rumores de guerras por todas partes e que nação se levantaria contra
nação, pais contra filhos, e assim por diante. Assim sendo, podemos concluir que aqui não se
trata da busca da paz mundial no sentido político, pois o próprio Senhor nos disse que isto não
aconteceria. Embora este deveria ser também um desejo do crente, pois não há em nós como
cristãos um agrado com esses acontecimentos, não é isso o que esta bem-aventurança tem
por finalidade. Por conseguinte, não se trata aqui do crente buscar ser um prêmio Nobel da
paz. Sabemos que a paz mundial somente poderia ser estabelecida por meio da conversão de
todos os homens a Cristo, pois somente assim o mal deixaria de reinar.

Por outro lado, há pessoas que acham ser pacificadoras por buscar a paz “a qualquer preço”.
Há pessoas que diriam: eu sou um pacificador, pois dou qualquer coisa para evitar conflitos.
Porém, este tipo de pessoas parecem ser homens sem convicções, pois são aqueles que
aceitam rebaixar seus próprios ideais a troca de uma mal chamada “paz”. Neste tipo de
pensamento podemos colocar ao movimento ecumênico, que busca a paz entre todas as
denominações cristãs, ou ao diálogo inter-religioso, que busca a cooperação entre o
cristianismo, islamismo e judaísmo. Mas isto é impossível para quem conhece a verdadeira
doutrina do Senhor Jesus. Os apóstolos exortaram muito nas suas epístolas a combater contra
os falsos ensinamentos e, portanto, não podemos estabelecer laços de irmandade com linhas
que tenham ensinamentos contrários à verdade essencial do Evangelho. Portanto, um
pacificador não é aquele que abre mão das verdades bíblicas reveladas na sua vida para
estabelecer uma cooperação e paz com outras denominações que não tem a essência do
Evangelho ou, muito pior ainda, com outras religiões não-cristãs. Também não é um
pacificador aquele que cala as doutrinas verdadeiras na sua própria igreja para não ter que
confrontar algum irmão que está em pecado ou para não ter uma discussão com alguém que
não compreende alguma verdade bíblia. Embora tenhamos que fazer tudo com amor,
paciência e misericórdia, outro princípio do crente é que ele é uma pessoa firme na verdade.

Uma terceira questão é que há pessoas que acham que são pacificadoras porque não reagem
às injustiças recebidas, mas suportam todos os sofrimentos. Embora isto seja importante bom,
é apenas o primeiro passo de sermos pacificadores. Na verdade, isso significa ser manso e não
pacificador. Precisamos ser mansos, pois é uma das características do crente descrita nas bem-
aventuranças. Contudo, aqui o Senhor nos chama para irmos mais longe ainda. Há aqui um
caráter progressivo que vai mais longe. Ele quer que nos coloquemos em ação. Assim sendo,
podemos dizer que um pacificador é aquele que busca “ativamente a paz”. É aquele que luta

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para que essa paz seja instaurada, “é um homem que deseja paz e está disposto a fazer tudo
quanto for necessário para que essa paz seja instaurada e mantida”1. O que prima nesta bem-
aventurança é a componente ativa, da mesma maneira que no caso da misericórdia, é algo que
o crente “faz” e não algo que ele “deixa de fazer”.

Até aqui temos visto algumas interpretações erradas e a forma correta, ativa de encarar este
assunto. Contudo, ainda não vimos o significado da paz que estamos tratando aqui. A seguir,
vamos ver três significados desta bem-aventurança e suas implicações.

A- O pacificador como alguém que tem a paz


O ponto de partida é que devemos entender que o pacificador, no contexto desta bem-
aventurança, é aquele que já conhece a paz e, como consequência, busca disseminá-la ou, em
alguns casos, restabelecê-la. Por este motivo o mundo não pode alcançar a paz, pois o mundo
não conhece a verdadeira paz. Lembram-se do verso que lemos no inicio? “Deixo-vos a paz, a
minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo” (João 14.27). A paz que o crente tem é
a paz de Cristo. É o resultado de ter experimentado todas as outras bem-aventuranças que
vimos nos capítulos anteriores. Somente depois e ter buscado e alcançado a justiça de Deus,
depois de ter um coração puro é que o crente pode gozar da paz de Cristo. Como diz em
Romanos 5.1: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor
Jesus Cristo”. Nós temos paz porque sabemos que fomos reconciliados com Deus. Sabemos
que não seremos condenados no dia do juízo final. Sabemos que gozamos de uma vida eterna,
que seremos consolados e que nenhuma dor haverá nunca mais. Sabemos que temos o
Espírito Santo que nos consola. Sabemos que até as provações e dificuldades da vida são meios
que Deus usa para nosso bem, para nos moldar à imagem de Cristo, para sermos
amadurecidos. Sabemos que ressuscitaremos e que há esperança em uma vida depois da
morte. Todas estas coisas o mundo não sabe, eles não têm paz porque não têm estas
promessas. Mas o Senhor nos deu essas promessas e portanto temos a sua paz. É por isso que
podemos também ser pacificadores, pois nós mesmos conhecemos a verdadeira paz, ela não é
teórica para nós, mas está presente de uma forma viva nas nossas vidas.

Considere o seguinte texto, em Tiago 4.1-4:

“De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres
que militam na vossa carne? Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis
obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis,
porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres. Infiéis, não compreendeis que a
amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo
constitui-se inimigo de Deus.”

Este texto tem a resposta do por que das guerras e da falta de paz no mundo: é por causa da
maldade do coração do homem, pela inimizade que o homem tem com Deus. Deus não dá
ouvido aos seus inimigos, àqueles que vão contra a vontade de Deus. Por isso o mundo não
pode trazer paz, mas o crente sim, ele pode anunciar a paz, pois ele a experimenta de uma
forma totalmente diferente à falsa paz do mundo. É por isso que podemos trazer a mensagem
de paz.

1
“Estudos no sermão do monte” (D.M.Lloyd-Jones). Editora Fiel.

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B- O pacificador e a mensagem da paz


Conforme a bem-aventurança, ser pacificador não significa ter apenas alcançado a paz do
Senhor, mas significa que é alguém que também compartilha essa paz com os outros. Ser
pacificador significa compartilhar a mensagem da paz. Essa paz tem a ver com a mensagem do
Evangelho, da salvação em Cristo e da reconciliação com Deus. Como diz em Romanos 10.15:
“E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos
que anunciam coisas boas!”. Outras traduções dizem: “dos que anunciam a paz”2. Neste texto
Paulo refere-se a Isaías 52.7: “Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as
boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a
Sião: O teu Deus reina!”. Estes são os pacificadores, os que anunciam o Evangelho (boas novas
ou boas notícias) da paz de Deus com os homens.

Portanto, como pacificadores, depois de termos entendido a nossa situação diante de Deus,
termos alcançado a sua misericórdia, depois de nos lamentarmos pela situação do mundo
inteiro e sentirmos misericórdia e compaixão, não deveríamos ficar apenas aí. Temos que ir em
frente, anunciando que há esperança, que há salvação e que os homens podem alcançar a paz
que tanto buscam por outros meios. Um pacificador se preocupa por anunciar estas coisas. Ele
propaga a paz através do Evangelho. Vejam como é diferente esta atitude em contraste com o
mundo. O mundo busca estabelecer a paz por meios humanos, criando organismos, realizando
ações sociais, etc., enquanto que o crente busca trazer paz por meio da pregação do Evangelho
para que as pessoas se convertam a Cristo. Há uma diferença total nesta atitude, pois estamos
apontando à solução da raiz de todos os problemas, que é o mau que habita no coração do
homem e não na situação política desta ou daquela nação.

O mesmo acontece em termos mais pessoais para cada um de nós. Antes de nos
preocuparmos com resolver situações e problemas específicos de disputas entre pessoas
temos que olhar a situação desde a perspectiva da paz de Cristo. “Seja a paz de Cristo o árbitro
em vosso coração” (Colossenses 3.15). O primeiro que temos que pensar é: está a paz de
Cristo no coração das pessoas envolvidas no conflito? Quando tratamos a mansidão apenas
não reagíamos às ações negativas de uma pessoa. Mas agora devemos nos perguntar: está a
paz de Cristo no coração dessa pessoa? Se a pessoa não tiver a paz de Cristo, se ela não está
reconciliada com Deus, a nossa preocupação principal não deve ser apenas resolver o
problema, mas trazer a paz definitiva na vida dessa pessoa, através da mensagem do
Evangelho. As minhas ações, a forma que me comportarei diante de tal situação devem estar
enfocadas em anunciar a paz de Cristo, as boas novas da salvação. Assim sendo, a mansidão
será o inicio, atitudes de bem são o que segue, até a pessoa enxergar que há algo diferente em
nós e se interessar por isso. Então, devemos seguir as indicações de Pedro (1.Pedro 3.15b):
“estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança
que há em vós”. Por tanto, não devemos olhar tanto para a atitude negativa que uma pessoa
tem em relação a nós e devemos olhar mais ao estado dessa pessoa diante de Deus, isso tem
que nos levar a nos lamentar por ela, a termos misericórdia dela e a anunciar as boas novas da
paz que ela pode encontrar em Cristo. Se não conseguimos agir desta maneira dificilmente
seremos verdadeiros pacificadores.

2
Por exemplo na verão espanhola de Reina-Valera 1960 e na versão alemã de Lutero.

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C- O pacificador e as atitudes de paz


Uma vez que temos a paz de Cristo, que anunciamos aos outros essa paz pode ser alcançada
através do arrependimento de pecados e da fé em Jesus como Salvador e Senhor, ainda há
mais um passo na vida de um pacificador. Este novo passo refere-se às atitudes diárias de paz
que um pacificador deve ter. Paulo nos fala algo à respeito em Romanos 12.18-21:

“se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens; não vos vingueis a
vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a
vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor. Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-
lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas
sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.”

Paulo diz que em nós está o buscarmos e em esforçarmos para alcançar a paz, “no que
depender de vós”, embora não sempre seja possível estabelecer a paz. O pacificador não é
aquele que sempre tem paz com todos os homens, mas no que depender dele, ele estará em
paz com todos. Às vezes isto não é possível, porque o pacificador não abre mão das verdades
cristãs, embora outros não gostem disso, assim como não abre mão dos seus valores e da sua
consciência diante do Senhor. Pedro e João foram ameaçados pelos judeus para não seguir
falando as verdades do evangelho, pois isto estava causando distúrbios e alvoroço no meio do
povo. Mas eles disseram: “não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (Atos
4.20). Eles foram açoitados e ameaçados, mas não calaram. Isto não os levou à paz, neste caso
não havia lugar para a “paz a qualquer preço”.

Mas até onde irmos com a paz? A resposta é: “quanto depender de vós”. Aqui não há um
limite temporal ou emocional, mas há um esforço contínuo da parte do pacificador, embora
nem sempre ele consiga concretizar seu propósito. Neste sentido gostaria colocar um exemplo
do qual tenho aprendido muito na minha adolescência. Conheço uma senhora crente no
Senhor que morava do lado da casa do seu irmão. Seu irmão teve uma filha doente e a esposa
do irmão ficou grandemente amargurada por isso. Nela começou a crescer uma espécie de dor
por seu estado e uma grande inveja por esta senhora cristã a qual tinha um filho, quase da
mesma idade, que a criança doente. A mulher amargurada começou a rejeitar sua cunhada, a
senhora crente, a tal ponto de evitar o cumprimento cada vez que esta passava pela frente da
sua casa. Imaginem a situação de duas vizinhas, parentes e em inimizade. Esta senhora tinha
uma grande dor pela situação, mas nunca deixou de ter atitudes de paz. Cada vez que passava
cumprimentava, mesmo sabendo que a outra mulher voltaria as costas e entraria para sua
casa. Além disso, a mulher amargurada sempre tinha alguma reclamação em relação ao
condomínio, aos que a senhora crente atendia mansamente. Eu vi pessoalmente esta mulher
cortando uma árvore enorme de sua casa porque soltava folhas durante os dias de vento no
pátio da vizinha amargurada, o que fazia que aquela mulher se indignasse por ter folhas no seu
pátio. Em várias ocasiões a mulher crente tentou se reconciliar, inclusive foi pedir perdão sem
mesmo saber bem o que ela tinha feito de errado. Aproximadamente uns 15 anos passaram
com atitudes de mansidão e paz. Eu era adolescente e nunca entendia a essa mulher, achava
que ela tinha que ir na justiça, que tinha que fazer valer os seus direitos, mas ela estava
vivendo as bem-aventuranças. Até que um dia veio a paz tão anelada. A mulher amargurada
cedeu e aceitou uma reconciliação com muitas ressalvas. Contudo, eu vi a mulher cristã feliz,
porque tinha ganhado um inimigo. Até hoje vejo à mulher crente “pisando sobre ovos” com

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aquela mulher para não perder uma paz alcançada que é extremamente delicada, que
facilmente pode se quebrar. Contudo ela faz seu esforço, faz visitas frequentes à casa dessa
mulher e tenta dar atenções para que essa mulher não tenha oportunidade de criar novas
brigas. Eu tenho aprendido muito com observar esse caso. Acho que isto reflete muito bem o
que Paulo está ensinando no trecho de Romanos que lemos anteriormente. “quanto depender
de vós” pode significar até 15 anos, como no exemplo que contei, ou pode significar inclusive
toda uma vida na tentativa de estabelecer a paz.

As implicações de sermos pacificadores


Tendo visto o que significa sermos pacificadores, agora veremos algumas implicações práticas
desta bem-aventurança. Como disse Lloyd-Jones, é na prática que realmente se vê quem é ou
não um pacificador. A seguir, passo a destacar algumas ideias do comportamento de um
pacificador.

Em primeiro lugar, ser um pacificador significa que aprendemos a não falar o que não
devemos3. “Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar”
(Tiago 1.19) porque “no muito falar não falta transgressão, mas o que modera os lábios é
prudente” (Provérbios 10.19). Então, ser pacificador é saber quando calar. É não replicar
quando nossas palavras podem ser fortes ou rudes. Além disso, é não espalhar fofocas e não
repetir informações que sabemos que podem prejudicar a outrem. Neste sentido, muitas
vezes deveremos calar e não contar para alguém algo que possa incitá-lo a ficar irado com uma
pessoa ou com alguma situação. É saber como e quando falar o que corresponde para
edificação das pessoas. Para sermos pacificadores primeiro devemos saber segurar a nossa
língua, mas o passo seguinte é também pensar. Precisamos pensar, arraçoar sobre a situação
para pensar como ela pode ser resolvida pacificamente. Muitas pessoas não conseguem ser
pacificadores porque agem no impulso, falam o primeiro que pensam, agem assim como
sentiram no primeiro impulso e, depois, lamentam as consequências (se não forem orgulhosos
demais para nem reconhecer a situação resultante). O pacificador é alguém que pensa. O
pacificador não segue aquele pensamento popular de dizer o que se pensa sem medir as
consequências. As pessoas que pensam desta maneira dizem: o importante é ser autêntico.
Mas o pacificador não age assim. Para ele o importante é que a paz de Cristo reine nos
corações de todos. Então se as palavras podem levar alguém a perder essa paz, ou afastar
alguém do caminho que o levaria a encontrar essa paz, o pacificador calará. Isto não significa
não falar as verdades bíblicas, mas saber quando, em que momento e sob que estado de
ânimo das pessoas. Há momentos que é melhor calar e esperar uma hora mais oportuna para
repreender ou exortar. Em alguns casos, a água pode apagar um fogo, mas em outras pode
piorá-lo. Assim também é com as palavras de exortação ou repreensão.

Em segundo lugar, se formos pacificadores as nossas atitudes devem ser de paz. Neste sentido,
um aspecto cultural de nossa região deve ser eliminado de nós. Existe um estereótipo de
pessoas da nossa região que são desafiadoras, indignadas, grossas, confrontadoras,
prepotentes. Podemos dizer que são o tipo de pessoas que sempre estão com “a faca na mão”.
São pessoas que falam tudo “na lata” como dizemos aqui. Não tem consideração se suas
palavras podem machucar, não falam com sensibilidade, parecem rudes e arrogantes. E o pior

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D.M.Lloyd-Jones. Estudos no Sermão do Monte. Editora Fiel.

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que muitas vezes isto pode ser visto como um motivo de orgulho cultural. No meu país isto é
uma característica cultural muito forte. A amabilidade e gentileza é carente em algumas
determinadas regiões. É claro que não todos são assim, é um dos estereótipos. Mas essa forma
de ser longe está das características de um pacificador. Vejam como Paulo instrui aos
colossenses:

“Agora, porém, despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira, indignação, maldade,


maledicência, linguagem obscena do vosso falar. [...] Revesti-vos, pois, como eleitos de
Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de
mansidão, de longanimidade.” (Colossenses 3.8,13)

Em base a esse texto, podemos concluir que um pacificador deve infundir paz com sua mera
presença. Não deveria parecer estressado nem passar esse estresse ao ambiente no qual ele
está, não deve mostrar traços de indignação nem de irritação. Um pacificador se mostra
bondoso, pronto para responder com amor, pronto para ter um falar com bondade e não com
atitude de confrontação. As pessoas devem sentir que a paz de Cristo está habitando no
pacificador.

Outro aspecto é que o pacificador não se envolve em brigas, mas sempre ajuda a resolvê-las.
Se formos pacificadores, as pessoas deveriam nos ver como uma referência de paz, que pode
ser chamado para lidar no meio de um conflito com a paz de Cristo. “Seja a paz de Cristo o
árbitro em vosso coração” (Colossenses 3.15). Se alguém vem nos contar indignado alguma
briga que teve com outra pessoa, como respondemos? Apaziguamos o conflito ou nos
condoemos com a pessoa fazendo-a sentir que está nos seus direitos de ficar assim? Incitamos
a pessoa para buscar a reconciliação e a paz ou a buscar seus legítimos direitos, embora isso
possa causar sérios conflitos e prejuízos para alguém? E se nós estivermos no meio de um
conflito, somos capazes de sermos insistentes na busca da reconciliação, ou largamos tudo
facilmente acreditando que já fizemos tudo o possível para estarmos em paz? Considere o
seguinte e guarde-o no seu coração: neste mundo há muitas pessoas profundamente
arrependidas por terem discutido com alguém do qual não se despediram com uma frase de
amor, sendo a última vez que viram essa pessoa antes dessa pessoa morrer. São histórias
repetitivas de casais, pais e filhos, amigos. Pessoas que se lamentam para toda a vida o fato de
não terem dito um “eu te amo” antes de se despedir. Não sabiam que nunca mais iriam vê-las,
não souberam ser pacificadores. “Não se ponha o sol sobre a vossa ira” (Efésios 4.26) disse
Paulo. Não vá dormir sem resolver os conflitos, não se despida de alguém sem resolver um
conflito, perdoe e seja perdoado, aja como um verdadeiro pacificador!

Finalmente, se formos pacificadores, deveríamos anunciar a mensagem de paz do Evangelho.


Como é o nosso testemunho evangelístico? Temos nos preocupado em que outras pessoas
possam chagar a estarem em paz com Deus? Quanto nós oramos e quanto trabalhamos para
isso? Se formos pacificadores deveríamos nos valer de todos os meios disponíveis para
anunciarmos a paz. Em primeiro lugar através da pregação, pois “a fé vem pela pregação, e a
pregação, pela palavra de Cristo” (Romanos 10.17). Quanto nós pregamos acerca do
Evangelho aos que ainda não estão em paz com Deus? Além disso, o nosso testemunho de
vida muito diz, “porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer
a ignorância dos insensatos” (1.Pedro 2.15). Mas, além disso, hoje em dia temos muitos mais

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meios, como nossos perfis nas redes sociais, e-mails, e muitas outras meios eletrônicos de
compartilhar a mensagem de paz.

Considerações Finais
Finalmente, precisamos ainda considerar as promessas que traz consigo esta bem-
aventurança. “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”.
Como cristãos e pacificadores, já hoje temos o privilégio de sermos chamados filhos de Deus.
O mundo todo é criação de Deus, mas nós fomos adotados como filhos. Considere as seguintes
promessas que são descritas em Romanos 8.10-17:

“Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porque não
recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas
recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. O próprio Espírito
testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos
também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos,
também com ele seremos glorificados.”

A nossa esperança está em que, como filhos de Deus, somos co-herdeiros com o Filho de Deus,
Jesus Cristo. Nós seremos glorificados com Ele, partilharemos da mesma herança nos céus. E
ainda seremos semelhantes a Ele, perfeitos, sem nenhum pecado, sem manchas nem rugas.
Oh que grandiosa esperança de sabermos que o Pai nos receberá na glória como filhos
amados! Mas para isso, já hoje devemos viver como filhos, como pacificadores, igual que o
Filho de Deus, que deu sua vida para reconciliar o mundo com Deus, assim também nós, como
filhos de Deus somos embaixadores da paz, para anunciarmos a reconciliação de Deus com o
mundo, para chamarmos as almas ao arrependimento e à fé em Cristo como salvador e
Senhor. Que grande dia será aquele que estaremos reunidos todos como família de Deus no
banquete celestial! Que grande festa haverá lá! Eu quero estar lá, não quero perder esse
grande encontro com meus irmãos e com meu Pai. Minha oração é para que você também
tenha esse desejo no seu coração e viva estas bem-aventurança como testemunha de vida da
obra do Espírito Santo na sua vida.

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